domingo, 3 de fevereiro de 2013

A crise financeira estudantil do capitalismo americano

Lenin, num de seus trabalhos de copia nao atribuida - neste caso de Hobson e de Rosa Luxemburgo - dizia que o imperialismo era o capitalismo chegado a sua fase madura, etapa superior do capitalismo monopolista, como ele dizia.
Num outro trabalho, ja fruto de sua genialidade politica (mas ele era economicamente estupido), ele dizia que o esquerdismo era a doenca infantil (ou juvenil) do socialismo, mas isso era para consagrar o monopolio da verdade no comite central do PCUS controlado por ele.
Pois bem, parece que chegamos 'a crise juvenil do capitalismo maduro, no proprio coracao do imperio.
A coisa anda feia do lado da bolha financeira estudantil. Nao se alegrem os antiamericanos de carteirinha: o Brasil tambem vai ter uma, dentro de mais algins poucos anos...
Paulo Roberto de Almeida

Estudantes podem provocar outra crise financeira nos EUA?
Desemprego entre jovens aumenta consideravelmente a dívida estudantil entre recém-formados
Revista Exame, 3 de fevereiro, 2013

Os Estados Unidos estão preocupados com o crescimento da crise dos empréstimos estudantis, operação que movimenta cerca de um trilhão de dólares no país.

Uma pesquisa realizada pela consultoria FICO mostra que estudantes que pegaram empréstimo representam hoje um risco muito maior de inadimplência do que aqueles que pegaram empréstimo há alguns anos. Além disso, o aumento do montante da dívida que os recém-formandos carregam agrava ainda mais a situação.

De acordo com a pesquisa, a taxa de inadimplência de empréstimos estudantis originados entre 2010 e 2012 aumentou em 22% em relação aos empréstimos originados entre 2005 e 2007. O valor médio da dívida dos empréstimos também vem crescendo rapidamente. Em 2005, o valor médio da dívida era de U$ 17. 233. Em sete anos esse valor subiu para U$ 27.253, um aumento de 58%.

A crise dos empréstimos estudantis já representa quase o dobro da crise dos empréstimos imobiliários.

Desemprego entre jovens aumenta a inadimplência

A taxa de desemprego nos Estados Unidos permanece alta, especialmente entre os jovens.

Uma pesquisa feita pela consultoria TransUnion aponta que mais da metade dos empréstimos estudantis estão sendo prorrogados, permitindo aos estudantes realizar o pagamento posteriormente. O problema é que, após o prazo de prorrogação (geralmente três anos), jovens recém-formados se deparam com um mercado de trabalho desanimador.

“As taxas de desemprego e subemprego entre recém formados – pessoas com menos de 25 anos – estão em cerca de 50%, maior patamar em mais de uma década”, diz Ezra Becker, vice-presidente da TransUnion.

Contudo, Becke não acredita que a crise dos empréstimos estudantis leve o país a uma catástrofe econômica, como fez a crise imobiliária. Segundo Becker, a dívida estudantil representa um segmento muito menor da economia do que a dívida hipotecária.

Fontes: Exame-Estudantes americanos podem gerar uma nova crise financeira?

Republica companheira: Petrobras dos Amigos Incorporated (e como...) - Reinaldo Azevedo

Existem companheiros dos companheiros, mercenários a soldo, ou simples simpatizantes da causa, que ficam indignados, e mandam comentários raivosos para este blog cada vez que eu posto uma matéria do seu (deles) jornalista odiado mais preferido. Quando a causa, ou o objeto, é propriamente político, ainda há espaço para certa subjetividade: afinal de contas, tem gente que acha que mesmo com toda essa roubalheira, com essa falta de ética, com essa podridão aceita como normal, os fins justificam os meios, ou seja, os objetivos são de elevar os pobres à condição de consumidores, dar condições aos "oprimidos" de ontem de aceder aos benefícios antes reservados à classe média, promover a igualdade, essas coisas.
Mas quando se trata de fatos, de evidências materiais, eu encontro poucas reações. Eles nunca conseguem responder a fatos, como estes que são expostos abaixo.
Será que já incorporam o padrão moral que é o exibido pelos seus dirigentes?: a gente rouba, a gente não faz, mas a gente tem uma excelente máquina de propaganda, apoiada por milhares de mercenários a soldo e por milhões de simpatizantes espalhados por ai? Deve ser isso...
Paulo Roberto de Almeida

Caso de Polícia – A Petrobras, a compra escandalosa de uma refinaria e um prejuízo bilionário para a estatal: Ministério Público decidiu investigar a lambança
REinaldo Azevedo, 3/02/2013

Vocês se lembram de um post publicado no dia 15 de dezembro intitulado “ESCÂNDALO BILIONÁRIO NA PETROBRAS – Resta, agora, saber se, ao fim da apuração, alguém vai para a cadeia! Ou: Quem privatizou a Petrobras mesmo?“ Mais ou menos? Ok. Recupero a história em 13 passos e avanço depois, porque já há novidades. Quem tem tudo na memória pode ir direito para o entretítulo “Voltei”.

1: Em janeiro de 2005, a empresa belga Astra Oil comprou uma refinaria americana chamada Pasadena Refining System Inc. por irrisórios US$ 42,5 milhões. Por que tão barata? Porque era considerada ultrapassada e pequena para os padrões americanos.

2: ATENÇÃO PARA A MÁGICA – No ano seguinte, com aquele mico na mão, os belgas encontraram pela frente a generosidade brasileira e venderam 50% das ações para a Petrobras. Sabem por quanto? Por US$ 360 milhões! Vocês entenderam direitinho: aquilo que os belgas haviam comprado por US$ 22,5 milhões (a metade da refinaria velha) foi repassado aos “brasileiros bonzinhos” por US$ 360 milhões. 1500% de valorização em um aninho. A Astra sabia que não é todo dia que se encontram brasileiros tão generosos pela frente e comemorou: “Foi um triunfo financeiro acima de qualquer expectativa razoável”.

3: Um dado importante: o homem dos belgas que negociou com a Petrobras é Alberto Feilhaber, um brasileiro. Que bom! Mais do que isso: ele havia sido funcionário da Petrobras por 20 anos e se transferiu para o escritório da Astra nos EUA. Quem preparou o papelório para o negócio foi Nestor Cerveró, à frente da área internacional da Petrobras. Veja viu a documentação. Fica evidente o objetivo de privilegiar os belgas em detrimento dos interesses brasileiros. Cerveró é agora diretor financeiro da BR Distribuidora.

4: A Pasadena Refining System Inc., cuja metade a Petrobras comprou dos belgas a preço de ouro, vejam vocês!, não tinha capacidade para refinar o petróleo brasileiro, considerado pesado. Para tanto, seria preciso um investimento de mais US$ 1,5 bilhão! Belgas e brasileiros dividiriam a conta, a menos que…

5:… a menos que se desentendessem! Nesse caso, a Petrobras se comprometia a comprar a metade dos belgas — aos quais havia prometido uma remuneração de 6,9% ao ano, mesmo em um cenário de prejuízo!!!

6: E não é que o desentendimento aconteceu??? Sem acordo, os belgas decidiram executar o contrato e pediram pela sua parte, prestem atenção, outros US$ 700 milhões. Ulalá! Isso foi em 2008. Lembrem-se que a estrovenga inteira lhes havia custado apenas US$ 45 milhões! Já haviam passado metade do mico adiante por US$ 360 milhões e pediam mais US$ 700 milhões pela outra. Não é todo dia que aparecem ou otários ou malandros, certo?

7: É aí que entra a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela acusou o absurdo da operação e deu uma esculhambada em Gabrielli numa reunião. DEPOIS NUNCA MAIS TOCOU NO ASSUNTO.

8: A Petrobras se negou a pagar, e os belgas foram à Justiça americana, que leva a sério a máxima do “pacta sunt servanda”. Execute-se o contrato. A Petrobras teve de pagar, sim, em junho deste ano, não mais US$ 700 milhões, mas US$ 839 milhões!!!

9: Depois de tomar na cabeça, a Petrobras decidiu se livrar de uma refinaria velha, que, ademais, não serve para processar o petróleo brasileiro. Foi ao mercado. Recebeu uma única proposta, da multinacional americana Valero. O grupo topa pagar pela sucata toda US$ 180 milhões.

10: Isto mesmo: a Petrobras comprou metade da Pasadena em 2006 por US$ 365 milhões; foi obrigada pela Justiça a ficar com a outra metade por US$ 839 milhões e, agora, se quiser se livrar do prejuízo operacional continuado, terá de se contentar com US$ 180 milhões. Trata-se de um dos milagres da gestão Gabrielli: como transformar US$ 1,204bilhão em US$ 180 milhões; como reduzir um investimento à sua (quase) sétima parte.

11: Graça Foster, a atual presidente, não sabe o que fazer. Se realizar o negócio, e só tem uma proposta, terá de incorporar um espeto de mais de US$ 1 bilhão.

12: Diz o procurador do TCU Marinus Marsico: “Tudo indica que a Petrobras fez concessões atípicas à Astra. Isso aconteceu em pleno ano eleitoral”.

13: Dilma, reitero, botou Gabrielli pra correr. Mas nunca mais tocou no assunto.

Voltei [RA]
José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras e hoje ocupando uma secretaria no governo baiano, chegou a emitir uma nota dizendo que não havia nada de errado com a negociação, mas preferiu não explicar a mágica. Felizmente, o Ministério Público se interessou pelo assunto, segundo informa Danilo Fariello, no Globo. Leiam trechos. Encerro depois.

*
O Ministério Público Federal (MPF) deve abrir uma investigação criminal para apurar irregularidades no processo de aquisição, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, com base em indícios levantados por procuradores do MPF que atuam no Tribunal de Contas da União (TCU). Desde a compra da refinaria, a petrolífera investiu US$ 1,18 bilhão nesse negócio, apesar de ela não processar um só barril de petróleo brasileiro e de a estatal não conseguir obter um retorno significativo do investimento feito.

Em novembro, os procuradores solicitaram à Petrobras esclarecimentos sobre o processo de aquisição. Após um pedido da Petrobras de prorrogação de prazo para resposta, que foi aceito pelo órgão de controle, a estatal entregou cerca de 700 páginas com documentos, dos quais boa parte já foi analisada. Segundo uma fonte que teve acesso ao conteúdo entregue pela empresa ao TCU, durante o recesso de fim de ano, até agora não apareceram argumentos convincentes para justificar o investimento, tanto do ponto de vista financeiro quanto pelo aspecto estratégico.

“Há várias decisões questionáveis, que podem levar o MPF a abrir um procedimento para verificar se há ocorrência de crime. Pode até pedir auxílio à Polícia Federal, uma vez que havia uma pessoa ligada à Petrobras que fazia parte da empresa belga (Astra Oil, de quem a estatal brasileira foi sócia na refinaria)”, disse a fonte.
(…)

Encerro [ RA]
Os números da operação são aqueles que vocês viram, nunca contestados pela Petrobras. Alguém tem alguma dúvida de que estamos diante de um óbvio caso de polícia?

Cronica de um desastre economico anunciado: Brasil recua - EditorialEstadao

O desastre da indústria
03 de fevereiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo

O grande tombo da indústria, principal componente do fiasco econômico do ano passado, está confirmado e medido oficialmente. A produção industrial diminuiu 2,7% em 2012, segundo informou na sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o primeiro resultado negativo desde o recuo de 7,4% registrado em 2009, quando se manifestaram plenamente, em todo o mundo, os efeitos recessivos do estouro da bolha financeira nos mercados de crédito americano e europeu. Mas a pior parte da notícia é outra. É preciso ir aos detalhes para encontrar o significado econômico da crise industrial brasileira e entender o estrago causado por erros políticos acumulados em muitos anos. Os números de 2012 servem tanto para um exame do passado quanto para uma avaliação dos problemas à frente. O mau desempenho em 2012 limita as possibilidades de crescimento do País em 2013 e nos anos seguintes e impõe desafios enormes ao governo e ao empresariado.

O recuo de 2,7% foi o resultado médio de todo o setor industrial. A produção da indústria extrativa diminuiu apenas 0,3%. A do setor manufatureiro encolheu 2,8%. É esse o canal mais importante de irradiação de tecnologia e de criação de empregos decentes.

É também o mais exposto à concorrência internacional. Quando se decompõe a atividade segundo as categorias de uso, aparece um quadro especialmente sombrio. A produção de bens de consumo diminuiu apenas 1%, porque o governo reduziu impostos sobre veículos e eletrodomésticos e, além disso, o emprego e o poder de compra das famílias permaneceram elevados. A demanda foi em parte suprida por importações competitivas e isso explica o resultado negativo da atividade interna.

Mas a fabricação de bens de capital encolheu 11,8%. Vale a pena, de novo, notar alguns detalhes. A produção de máquinas e equipamentos (nomenclatura do IBGE) recuou 3,6%. A de máquinas para escritório e equipamentos de informática recuou 12,7%. A de máquinas, aparelhos e materiais elétricos caiu 5,4%.

A queda de produção do setor de bens de capital é um péssimo prenúncio. O investimento, como qualquer outro uso de recursos, influencia o crescimento a curto prazo, mas seu efeito mais importante é outro.

O potencial de expansão da economia depende, a médio e a longo prazos, do valor investido em máquinas e equipamentos de vários tipos, em instalações de produção de bens e serviços e em infraestrutura (estradas, portos, armazéns, centrais elétricas, redes de transmissão e distribuição de energia e sistemas de comunicação).

No Brasil, o total do investimento desse tipo, também conhecido como formação bruta de capital fixo, continua inferior a 20% do PIB. Em outros países latino-americanos, está nas vizinhanças de 30%. Na Ásia, há taxas maiores e até próximas de 40%, financiadas principalmente por elevados níveis de poupança interna.

Também é muito importante o dinheiro investido em capital humano, isto é, o dinheiro aplicado nos vários tipos de educação e nos cuidados de saúde. Mas esses valores são raramente explicitados nas contas oficiais do investimento, assim como os recursos destinados à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos e processos.

Mas os resultados são facilmente observáveis no desempenho das empresas e das economias nacionais. Em todos esses itens o Brasil fica muito atrás da maior parte dos demais países. Também é preciso levar em conta, naturalmente, a qualidade do investimento, um item quase sempre negligenciado nas avaliações da atividade econômica brasileira. Muito dinheiro perdido em maus projetos e corrupção acaba incluído na conta de investimentos.

Economistas de várias instituições têm estimado em 3,5%, pouco mais ou menos, o potencial de crescimento econômico do Brasil. É um cálculo complicado e impreciso, mas um ponto é indiscutível: o potencial brasileiro, nesta altura, é muito menor que o de outros emergentes. Mas o governo insiste em políticas fracassadas, continuando a atribuir à crise externa e às ações de autoridades estrangeiras (a tal "guerra cambial", por exemplo) os males do Brasil.

The New York Times Book Review: um grande jornal sobre livros

Já tive assinatura, durante muito tempo, da versão impressa desse pequeno-grande jornal literário, e depois, numa fase recente, da versão digital dessa publicação político-literária, que não divulgava simples resenhas de livros, mas verdadeiros review-articles, modelo que adotei em minhas longas resenhas-analíticas de grande escopo, como gosto de fazer.
Sérgio Augusto esqueceu de mencionar alguns dos grandes colaboradores, não apenas para resenhas-artigos, mas para verdadeiros ensaios sobre os grandes problemas da vida internacional e americana, como por exemplo George Kennan, Irving Stone e vários outros.
Vou começar a comprar ocasionalmente o NYRBooks, para ver como anda esse velho guerreiro do mundo dos livros.
Desfrutem da história...
Paulo Roberto de Almeida

Meio século com os melhores autores

Com tiragem estabilizada em 143 mil exemplares, a americana 'The New York Review of Books' chega aos 50 anos como um dos mais influentes periódicos do mundo dedicados ao livro e ao debate de ideias

Sérgio Augusto
O Estado de S.Paulo, 01 de fevereiro de 2013

Decano. Robert Silvers: editor desde 63 - Fred Conrad/NYT
Fred Conrad/NYT
Decano. Robert Silvers: editor desde 1963
Greves podem contribuir para melhorar salários e condições de trabalho, podem até derrubar governos, mas só uma contribuiu de forma insofismável para o enriquecimento da cultura, nos últimos 50 anos. No inverno de 1962, os gráficos de Nova York cruzaram os braços durante 114 dias, prejudicando todos os jornais da cidade - e tirando de circulação os cadernos de livros do New York Times, do New York Herald Tribune e da revista semanal The Saturday Review. Sem ter onde divulgar seus caudalosos lançamentos de fim de ano, as editoras se prepararam para um Natal literalmente no vermelho.
A book review dominical do Times foi a ausência mais lastimada, notadamente pelos que nela publicavam resenhas e artigos. Mas, para um círculo de intelectuais de maior envergadura, ligados a revistas como Partisan Review, The Nation, Harper's e The New Republic, e com outro padrão de exigência, a greve dos gráficos caiu do céu. "Graças a ela, confirmamos nossa desconfiança de que a book review do Times não faz a menor falta", tripudiou Edmund Wilson.
Três anos antes, a ensaísta e escritora Elizabeth Hardwick, mulher do poeta Robert Lowell, atacara o declínio da crítica americana e o filistinismo dos suplementos literários, num artigo publicado na Harper's, então editada por um jovem de 30 anos chamado Robert Silvers. Nos primeiros dias da greve, num jantar para Lowell e Hardwick no apartamento do casal Jason e Barbara Epstein (ele vice-presidente da Random House, ela editora), em meio a lamúrias sobre o empobrecimento da crítica literária e manifestações de alívio pela desobrigação de ler jornais todas as manhãs, o poeta propôs a criação de uma publicação literária de alta qualidade, beneficiando-se da publicidade das editoras estancada pela greve. O germe da The New York Review of Books acabara de ser plantado.
Quem poderia editá-la? A escolha natural, Barbara Epstein, declinou, alegando a necessidade de um parceiro para dividir a faina editorial e administrativa. Pensou-se em Norman Podhoretz. Prestes a tornar-se editor-chefe da revista Commentary, ele preferiu não se arriscar. Outra graça recebida. Dali a algum tempo, Podhoretz tiraria a máscara liberal e se revelaria um dos intelectuais mais retrógrados e ressentidos de sua geração. E um péssimo profeta. "Esse projeto não vai dar certo", acrescentou ao seu refugo.
Afinal coeditado por Barbara e Bob Silvers, com Hardwick de conselheira editorial e Symour Chwast cuidando da paginação, o número zero da revista ficou pronto em poucas semanas. Custo operacional: US$ 4 mil, emprestados pelo Marine Midland Trust e avalizados por Jason Epstein. Deu para cobrir as despesas de papel e impressão; a redação não viu um centavo. Era uma aventura cujo sucesso interessava a todos os envolvidos por Silvers & cia. Rodado numa gráfica de Connecticut, impresso em papel jornal, com 47 páginas, o número inaugural chegou às bancas e livrarias em fevereiro de 1963. Custava 25 centavos de dólar e vendeu pouco menos da metade (43 mil exemplares) da tiragem inicial. Nada mau para uma publicação literária sem concessões e lançada na surdina.
Simples, sóbria e elegante, não tinha capa. Na primeira página, uma resenha de The Fire Next Time, de James Baldwin, assinada por F.W. Dupee. Nas páginas seguintes, dividindo espaço com três dezenas de anúncios (conforme Lowell previra, todas as editoras de livros compareceram), o primeiro time das letras americanas: Dwight Macdonald, Phillip Rahv (comentando Soljenitsyn), Mary McCarthy (elogiando Almoço Nu, de William Burroughs), W.H. Auden, Norman Mailer, Irving Howe, Susan Sontag (refletindo sobre os ensaios de Simone Weil), Gore Vidal, Alfred Kazin, William Styron, William Phillips (analisando Elias Canetti), Jules Feiffer, mais Epstein, Lowell, Hardwick e outros 30 craques do ramo.
Sucesso instantâneo. Mecenas fizeram fila para injetar recursos na revista. Ausente da estreia, Edmund Wilson foi seu primeiro grande entrevistado, no segundo número, publicado quatro meses depois. Quando saiu o terceiro, em setembro, já havia dinheiro em caixa e um novo escritório à disposição dos aventureiros. De lambujem, as geniais caricaturas de David Levine, que só deixaria de ilustrar a revista ao perder a visão, em 2007.
Peguei a NYRB já no quarto número, em minha primeira viagem a Nova York. Principal chamariz: O Grupo, de Mary McCarthy, resenhado por Mailer. Nem sequer de nome conhecia a revista. Meu alpiste, naquela época, eram a Esquire, a New Yorker e a Partisan Review. Viciei na hora, corri atrás das três edições anteriores e virei assinante permanente, mas não remido, infelizmente. Mas pago com gosto.
Seu prestígio estendeu-se até aqui, nos anos 1970, graças sobretudo a Paulo Francis, à turma do Pasquim e ao semanário Opinião, que com frequência traduzia seus longos ensaios. Das imitações que inspirou mundo afora, apenas uma, a London Review of Books, é consanguínea.
Em seus 50 anos de vida, a NYRB mudou o panorama cultural da América e a imprensa que o observa e investiga. Até a book review do Times teve de se reciclar para diminuir o abismo entre as duas publicações, embora permaneçam dissemelhantes na periodicidade, na abrangência temática, no espaço e na margem de liberdade concedidos aos colaboradores.
A NYRB, que só sai 20 vezes ao ano, é muito mais que uma publicação literária de indisputável qualidade, é um fórum de debates sobre livros, ideias, tendências e fatos da atualidade, de leitura obrigatória. Além de resenhas e ensaios, investe em grandes reportagens e coberturas internacionais com a assinatura de "repórteres" tão distintos quanto Mary McCarthy (despachada para o Vietnã), Graham Greene (direto do Panamá do general Torrijos), Susan Sontag (Sarajevo), Joan Didion (El Salvador) e V.S. Naipaul (Argentina e Congo), Hardwick (Brasil, durante a ditadura militar). A chama nunca se apagou. O escândalo de Abu Ghraib explodiu nas páginas da revista, esmiuçado por Mark Danner, em outubro de 2004.
Inevitavelmente politizada, mas sem antolhos ideológicos, a NYRB surgiu numa época tumultuosa, a nove meses do assassinato de Kennedy, e depois encarou a guerra no Vietnã, a campanha pelos direitos civis, Maio de 68, os Documentos do Pentágono (que antes de serem entregues ao New York Times estiveram malocados numa gaveta de Silvers, amigo de confiança de Daniel Ellsberg), Watergate, inúmeras guerras, revoluções e golpes de estado, o degelo terminal do comunismo soviético, o ataque às torres gêmeas, o desgoverno Bush, a crise financeira de 2008, a eleição de Obama.
Às vezes mais à esquerda, notadamente quando abrigou articulistas como Noam Chomsky, Alexander Cockburn, Andrew Kopkind e Eric Hobsbawm, esteve quase sempre do lado certo. Seu período mais, digamos, engajado foi na segunda metade dos anos 1960, auge das denúncias contra a C.I.A., o conflito no Sudeste Asiático e os intelectuais chapa-branca.
Na edição de 24 de agosto de 1967, a provocação suprema: na capa, o diagrama de um coquetel Molotov. Mais "radical chic", impossível. A concorrência, liderada pelos trombas da Commentary, quase exigiu a intervenção da Anistia Internacional. "Ela é o inimigo", proclamou Midge Decter. Mas ninguém deu ouvidos à sra. Podhoretz. Nem seu marido, o grão-rabino da intelligentsia kosher, tinha o poder de fogo de um Moshe Dayan.
Quando da invasão do Iraque, enquanto a New Yorker e falcões enrustidos da imprensa mainstream davam um voto de confiança ao intervencionismo bushista, Silvers montou às pressas um manifesto contra, assinado por todos os escritores, poetas, acadêmicos, pensadores e jornalistas que conseguiu alcançar por telefone. Tony Judt, por exemplo, foi acordado às 3 da madrugada, em Londres.
Conheci Silvers num almoço na casa de Fernando Gasparian, publisher do Opinião. Alto, formal, bem-humorado e bem-falante, com ligeiro (e postiço) sotaque britânico; raciocínio relâmpago, curiosidade oceânica. Praticamente me repetiu de viva voz o editorial do primeiro número da revista, a que só se refere como "paper" (jornal). Não pretendia apenas preencher um buraco no mercado editorial nem cobrir todos os livros lançados, mas valorizar a excelência e abrir um novo espaço para a reflexão. Deu detalhes sobre seu modus operandi, como distribuía os livros a serem resenhados, seduzia os colaboradores e, com a ajuda de Barbara Epstein, submetia o material editorial ao mais rigoroso copidesque. Textos que não tivessem clareza, elegância, consistência e escorregassem em jargão e clichês iam direto para o lixo.
Até hoje é assim. Silvers, agora um vigoroso senhor de 88 anos, perdeu suas parceiras originais (Barbara morreu em 2006 e Hardwick, no ano seguinte) mas, de algum tempo amparado por perfeccionistas de outra geração, não baixou seu nível de exigência. A empresa, comprada por Rea Hederman em 1984, cresceu, passou a editar livros, mas nas decisões editoriais ainda é Silvers quem apita. A joia da coroa, com uma tiragem estabilizada em 143 mil exemplares, já chegou ao mundo digital, com blogueiros à altura de suas tradições analógicas: Robert Darnton, Anthony Grafton, Charles Simic e Tim Parks, entre outros.
Quem irá suceder a Silvers? Cinco nomes já surgiram na bolsa de apostas: Louis Menand (também assíduo colaborador da New Yorker), Daniel Mendelsohn (muito ligado a Silvers), Mark Danner (que conhece bem a engrenagem da revista), Michael Shea (que já foi sênior editor) e Alex Star (ex-editor da book review do Times). Todos desconversam. Até porque veneram o velho Bob.
Edições da NYRB: páginas marcadas pela excelência Marcos de Paula/Estadão

Brasil frustrado no FMI: paga o preco de escolhas erradas...

Qualquer observador mais atento, que não fosse toldado por preconceitos ideológicos primários, como certos "desenvolvimentistas de botequim", sabia que o principal obstáculo para uma reforma verdadeira das instituições de Bretton Woods era a sobre-representação europeia, desproporcional em relação a seu peso econômico na atual economia mundial.
Por isso, na última escolha para o Diretor Gerente do FMI, depois do escândalo do fauno Dominique Strauss-Khan, teria sido importante o Brasil apoiar um nome comprometido com as reformas, que poderia ter sido qualquer um menos um europeu. Havia, por exemplo, o ex-presidente do Banco Central mexicano, muito próximo dos americanos, todos eles interessados em repartir o poder excessivo hoje detido pelos europeus nas duas irmãs de Bretton Woods.
E quem o Brasil escolhe apoiar?
A candidata francesa, se autoenganando com o fato de ela ter prometido "reformas" na instituição. Bem, nos últimos três anos, o FMI só fez apoiar os processos de ajuste na Eurioa, sendo muito mais concessivo, leniente e bondoso com os caloteiros europeus do que havia sido, nos anos 1980 e 1990 com os latinos e outros países periféricos.
Por que o Brasil apoiou um europeu só os companheiros ideológicos da Fazenda podem explicar, mas o preço está descrito abaixo.
Paulo Roberto de Almeida   


Valor Econômico – Brics permanecem sem novas cotas no FMI
Por Assis Moreira | De Genebra, 2/02/2013
Em junho do ano passado, os cinco países que formam os Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - anunciaram que contribuiriam com US$ 75 bilhões para reforçar o caixa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a chamada muralha anti-crise. Mas os líderes dos emergentes condicionaram a liberação do dinheiro a que todas as reformas acertadas no G-20, em 2010, fossem implementadas no tempo previsto, para lhes dar mais poder de decisão na instituição monetária mais importante do mundo e refletir a nova realidade econômica global.
Desde então, as duas reformas prometidas fracassaram. Ontem, por causa da resistência dos europeus, o FMI constatou o fiasco na tentativa de completar a revisão da fórmula de cotas para redistribuir o poder de decisão a partir de 2014. Desde 2011, a reforma estava praticamente bloqueada. Em reunião na quarta, a diretoria-executiva do FMI só conseguiu aprovar um documento com vagas orientações futuras. A tentativa agora é para a revisão da fórmula estar pronta antes da próxima reforma geral de cotas, programada para até janeiro de 2014. Mas as dúvidas se acumulam sobre isso.
Em outubro passado, por falta de ratificação pelo Congresso dos EUA, não pôde entrar em vigor a reforma de 2010 aumentando as cotas para os emergentes. Por ela, o Brasil passará a estar entre os dez maiores em cotas e poder de voto no Fundo. E as cadeiras dos países que formam os Brics juntas representarão 15,47% e passarão a deter direito de veto nas principais decisões se atuarem de forma coordenada. Mas vão ter de esperar.
Nesse cenário, o dinheiro anunciado pelos Brics para o FMI tende a demorar. Somente a China assinou o contrato com o Fundo, mas não colocou à disposição os US$ 43 bilhões prometidos. Brasil, Rússia e Índia, cada um com US$ 10 bilhões, sequer concluíram as negociações dos contratos, assim como a África do Sul, que ofereceu US$ 2 bilhões.
Ilustrando a impaciência dos emergentes, o diretor-executivo para Brasil e outros dez países na diretoria do Fundo, Paulo Nogueira Batista Júnior, voltou a advertir que países subrepresentados no FMI podem se distanciar da instituição caso a reforma permaneça bloqueada ou ocorra em ritmo lento demais. "Eles [emergentes] vão continuar a se apoiar na segurança dada por suas próprias reservas internacionais e intensificar esforços para contribuir e reformar acordos regionais e outros acordos financeiros", afirmou Nogueira Batista, que diz opinar em caráter pessoal.
A briga no FMI parece perdida em complexidades técnicas, mas é essencialmente política, sobre a repartição de poder para refletir a mudança na economia global. E deve ser tema da reunião dos líderes dos Brics em março, na África do Sul. No caso da reforma das quotas de 2010, pode entrar em vigor desde que o Congresso dos EUA a ratifique. Mas o confronto entre a Casa Branca e o Congresso e uma agenda carregada com o limite da dívida americana e questões fiscais tumultuam o processo.
Quanto à revisão da fórmula das cotas, a dificuldade é causada pela obstrução do bloco europeu, que perderá poder em favor de emergentes. Os europeus divergem muito entre si, mas no âmbito do G-20 e no FMI sabem somar forças. A coordenação mais estreita que existe no FMI e no G 20 é entre os europeus, segundo Nogueira Batista. Para ele, o problema fundamental na governança do FMI é a "evidente super-representaçao da Europa". Aponta, primeiro, uma grande diferença entre o peso da Europa no poder de voto no FMI e seu peso na economia mundial. A parte da União Europeia no PIB global, medido em PPC (Paridade de Poder de Compra), é de 20% e está caindo. Em contrapartida, os membros da UE tem quase um terço do poder de voto no Fundo.
Além disso, nota que a Europa tem número desproporcional de cadeiras (8 das 24) no conselho-executivo do Comitê Financeiro e Monetário Internacional (IMFC, na sigla em inglês). Chega a nove, quando a Espanha junta seu poder de voto com México e Venezuela. Recentes mudanças anunciadas nas cadeiras na Europa são "cosméticas", já que basicamente melhora a posição de emergentes membros da UE, como República Checa, Polônia e Hungria. Para completar, a Europa mantém a posição de diretor-geral do FMI, com a francesa Cristine Lagarde.
Aplicando a atual fórmula, as quotas e poder de voto de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul deveriam diminuir. Todos os países Brics, com exceção da China, estão super-representados.
Para o futuro, o staff do Fundo sugeriu uma fórmula que dá peso a novas variáveis, como abertura financeira e contribuição financeira para o Fundo. Vários países reclamam de lacunas, com a proposta produzindo resultados que não refletem suas posições relativas na economia global, incluindo a crescente importância dos emergentes e dos países em desenvolvimento.
O Brasil defende que a fórmula seja baseada numa mistura de variáveis do PIB, com maior peso para a Paridade de Poder de Compra. A futura quota (2,316%) e poder de voto (2,218%) pela reforma de 2010, quando implementada, ainda ficarão bem abaixo da participação média do Brasil no PIB mundial (2,654%) no período de referência 2006-2008. Para os brasileiros, se o PIB passar a receber maior peso na fórmula, como o país defende, o Brasil ganhará novos aumentos relativos de quotas na próxima revisão em janeiro de 2014. A diretoria do FMI aponta apoio considerável para manter as reservas internacionais com seu peso atual.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Projeto Resgate - Fontes holandesas para a historia do Brasil

Olá,
Acabei de assinar esta petição -- Não deixe o Projeto Resgate parar!

Você quer se juntar a mim?

Clique aqui para saber mais e assinar: http://www.avaaz.org/po/petition/Nao_deixe_o_Projeto_Resgate_parar/?knoVzdb

Participei de uma das vertentes do projeto Resgate, quando me encontrava na Embaixada em Washington, efetuando o levantamento dos arquivos americanos sobre o Brasil (livro disponível em meu site, neste link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/66GuiaArquivos2010.html).
Acredito que o projeto deva ter continuidade, cobrindo o maior número possível de fontes documentais e de arquivos de originais interessando à história do Brasil.

Muito obrigado,
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Paulo R. de Almeida
pralmeida@me.com
www.pralmeida.org
diplomatizzando.blogspot.com
Por que isto é importante

O Projeto Resgate de Documentação Barão do Rio Branco cataloga, descreve e digitaliza documentos históricos relacionados ao período colonial do Brasil. Esses documentos estão em diversos países europeus, principalmente Portugal, Espanha e Holanda. Durante os seus cinco anos de existência, muita documentação histórica já foi descrita e colocada à disposição de pesquisadores e interessados brasileiros e estrangeiros. Para uma descrição geral do material já catalogado pelo Projeto Resgate, ver http://bndigital.bn.br/redememoria/conresgate.html.

Porém ainda há muito material a ser descrito e descoberto, como mostram os resultados do Projeto Resgate na Holanda. Aliás, os resultados do Projeto Resgate na Holanda são publicados em catálogos bilingues que compõe a série Mauritiana, atualmente com quatro volumes já publicados e  o quinto em preparação para publicação em breve. Trata-se de uma documentação de dificil acesso a brasileiros não só por estarem na Holanda, mas devido ao idioma. Os catálogos bilingues e as reproduções digitais ou em microfilme rompem com essa barreira, tornando tal documentação acessível a brasileiros.

A documentação descrita e ainda não descrita têm servido de base para teses de mestrado e doutoramento e publicações de interessados, dentro e fora do Brasil, como o livro eletronico "O Siara na Rota dos Neerlandeses", disponível em http://www.bookess.com/read/14473-o-siara-na-rota-dos-neerlandeses/. O editor do livro é um brasileiro interessado no assunto.
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Obrigado por assinar minha petição: Não deixe o Projeto Resgate parar!!

Toda pessoa que se junta a esta campanha aumenta nossa força de ação. Por favor, separe um minuto para compartilhar este link com todos que você conhece:

http://www.avaaz.org/po/petition/Nao_deixe_o_Projeto_Resgate_parar/?tnoVzdb

Vamos fazer a mudança juntos,
Lucia

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Aqui está a petição para encaminhar para seus amigos:

Não deixe o Projeto Resgate parar!

O Projeto Resgate de Documentação Barão do Rio Branco cataloga, descreve e digitaliza documentos históricos relacionados ao período colonial do Brasil. Esses documentos estão em diversos países europeus, principalmente Portugal, Espanha e Holanda. Durante os seus cinco anos de existência, muita documentação histórica já foi descrita e colocada à disposição de pesquisadores e interessados brasileiros e estrangeiros. Para uma descrição geral do material já catalogado pelo Projeto Resgate, ver http://bndigital.bn.br/redememoria/conresgate.html.

Porém ainda há muito material a ser descrito e descoberto, como mostram os resultados do Projeto Resgate na Holanda. Aliás, os resultados do Projeto Resgate na Holanda são publicados em catálogos bilingues que compõe a série Mauritiana, atualmente com quatro volumes já publicados e o quinto em preparação para publicação em breve. Trata-se de uma documentação de dificil acesso a brasileiros não só por estarem na Holanda, mas devido ao idioma. Os catálogos bilingues e as reproduções digitais ou em microfilme rompem com essa barreira, tornando tal documentação acessível a brasileiros.

A documentação descrita e ainda não descrita têm servido de base para teses de mestrado e doutoramento e publicações de interessados, dentro e fora do Brasil, como o livro eletronico "O Siara na Rota dos Neerlandeses", disponível em http://www.bookess.com/read/14473-o-siara-na-rota-dos-neerlandeses/. O editor do livro é um brasileiro interessado no assunto.

http://www.avaaz.org/po/petition/Nao_deixe_o_Projeto_Resgate_parar/?tnoVzdb

Enviado pela Avaaz em nome da petição de Lucia

Brasil: o fascismo corporativo da Receita Federal (Valor)

Regra de exportação respinga em disputa tributária da Vale

impostos
A alíquota total vigente no Brasil é de 34%, sendo 25% de IR e 14% de CSLL, mas a maior parte das empresas tem descontos por diferentes tipos de benefício fiscal.
A mudança nas regras de tributação para exportação de commodities entre empresas do mesmo grupo econômico, que entrou em vigor neste ano, pode ter desdobramentos para uma das maiores disputas tributárias do país, que é aquela travada entre a Vale e a Receita Federal.
A nova norma, trazida pela Lei 12.715 e regulamentada na virada do ano pela Instrução Normativa 1.312, não afeta a disputa judicial do passado sobre o pagamento de imposto sobre o lucro de controladas no exterior, que por enquanto se refere aos resultados de 1996 a 2008 e está atualmente no Supremo Tribunal Federal (STF). Somente essa causa soma R$ 30,2 bilhões, sendo R$ 11,9 bilhões em principal e R$ 18,3 bilhões em multa e juros.
Mas pode elevar a alíquota efetiva de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) da Vale para lucros que sejam apurados a partir de 2013, reduzindo o valor que pode ser motivo de disputa daqui para frente.
Há chance também de a regra também ter alguma influência num possível acordo que estaria sendo discutido entre a empresa e o Fisco em relação à tributação referente aos exercícios de 2009 a 2012, que ainda não foi motivo de autuação. Nas últimas manifestações públicas, executivos da Vale prometeram novidades sobre o caso ainda no primeiro semestre.
Para valores já em disputa judicial só seria possível se negociar um acordo se houvesse um novo “Refis”, com anistia de multa e juros, por exemplo.
Um analista ouvido pelo Valor disse que já mudou, de 18% para 25%, a alíquota efetiva de IR e CSLL que usa em suas projeções para a mineradora, sendo que para o longo prazo adota um índice de 29%. A alíquota total vigente no Brasil é de 34%, sendo 25% de IR e 14% de CSLL, mas a maior parte das empresas tem descontos por diferentes tipos de benefício fiscal.
Procurada, a Vale disse que está analisando a regra em conjunto com outras mineradoras e com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e que ainda “não há conclusão”. O Ibram também foi procurado, mas não se manifestou.
A nova regra limita bastante um planejamento tributário bastante comumente usado por exportadoras – lembrando que a norma vale não apenas para minério de ferro, como também para petróleo, alumínio, soja, carnes, açúcar, algodão, café e suco de laranja, entre outros produtos.
Nesse modelo, vende-se o produto para uma empresa do mesmo grupo econômico com sede no exterior pelo menor preço possível dentro das regras, reduzindo o lucro tributável no Brasil. A partir desse outro país, que precisa ter alíquota menor que 34%, o produto é revendido ao destino final.
“A lei e o próprio sistema permitiam que assim fosse feito”, diz Eliete Ribeiro, diretora da área de preço de transferência da KPMG no Brasil. “O que o Fisco quer é trazer para o Brasil a fatia da receita que antes ficava fora”, explica.
Se o lucro de controladas no exterior for menor, a discussão sobre esse ponto pode se tornar menos relevante para resultados futuros, embora persista.
A nova norma de preço de transferência (jargão usado para tratar de negócios envolvendo empresas do mesmo grupo em diferentes países) diz que as exportações de commodities devem obrigatoriamente ter como referência (para fins tributários) as cotações em bolsas ou preços captados por determinados institutos de pesquisa.
A regra anterior já permitia que fosse usado o preço de bolsa. Mas trazia como regra geral o uso do custo de produção mais uma margem fixa de 15%, ou o preço de revenda no destino, menos uma margem de 15% para vendas no atacado, ou de 30% no caso de venda direta ao varejo, explica Ana Carolina Monguilod, advogada do Levy & Salomão. Era possível também o uso do preço de venda do produto no mercado interno.
“As normas baseadas em percentuais, que continuam valendo para outros produtos, funcionam para o bem e para o mal. Às vezes elas prejudicam as empresas e às vezes elas ajudam os contribuintes”, afirma Ana Carolina. Na prática, a companhia que tivesse margem efetiva acima dos 15% arbitrados pelo Fisco podia ter vantagem pelo modelo antigo.
A especialista entende que a mudança nos preços de transferência tem ligação com a questão do lucro de controladas no exterior, embora não encerre a questão, que envolve também a validade de acordos internacionais para se evitar bitributação. “Essa é uma discussão mais ampla, que não se limita a esse ponto do planejamento”, afirma a advogada.
No caso de minério de ferro, a diferença entre o modelo de margem fixa de 15% e de cotação internacional pode significar um preço de transferência subindo da casa de US$ 50 por tonelada para algo em torno de US$ 100 por tonelada, sendo que o custo de produção estaria pouco acima de US$ 40 a tonelada – ou seja, a margem bruta saltaria de US$ 10 para US$ 60.
Segundo um analista, com base na expectativa da nova lei, a Vale já teria revisto ao longo de 2012 suas práticas de preço de transferência, o que tenderia a diminuir o impacto da nova regra nos números deste ano. Mas como a conta de impostos é afetada por inúmeras adições e exclusões, é difícil identificar essa diferença no balanço.

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