domingo, 16 de junho de 2013

Juizes "progressistas" ajudam companheiros a controlar a imprensa: Veja vs professor gaucho

Estou agora tomando conhecimento deste caso, sobre o qual vou me informar melhor, mas ele me parece indicativo, e representativo, das tendências atuais da mentalidade de certas autoridades brasileiras. Depois de anos de doutrinação anticapitalista, elas começam a colocar em prática seus ensinamentos distorcidos.
Paulo Roberto de Almeida

Posted: 16 Jun 2013 11:52 AM PDT
JOSÉ MARIA E SILVA

A condenação da revista “Veja”, em uma ação por danos morais movida por um professor gaúcho, pode significar uma espécie de “controle social” da imprensa por parte do próprio Judiciário

EPÍGRAFE

“O genuíno docente coibir-se-á de forçar, do alto da cátedra, a qualquer tomada de posição, quer de modo expresso, quer por sugestão – pois esta seria, sem dúvida, a forma mais desleal.”
Max Weber, “A Ciência como Vocação”

Era uma vez um humilde professor que sonhava com um mundo melhor e dividia esse sonho com todos os seus alunos. Quando entrava na sala de aula, ele se transformava inteiramente e, brandindo o giz diante da lousa, punha-se a descrever o trágico painel da história humana, mostrando que, ao longo dos séculos, os humildes nem sempre tiveram consolo, os mansos foram massacrados nas guerras e os muitos que têm fome e sede de justiça tornaram-se ainda mais sedentos e esfomeados devido à ganância e à crueldade de uns poucos.
Mas eis que um poderoso veículo de comunicação, talvez temendo o fim desse mundo desigual, mandou um repórter assistir à aula do visionário professor e, valendo-se de seu enorme poder, atacou, sem piedade, o docente indefeso. Distorcendo seus ensinamentos, sem levar em conta o contexto histórico, a grande revista, uma das maiores do mundo, tentou assassinar a reputação do mestre. Ela o acusou de doutrinar em vez de educar seus alunos, difamando-o diante de todo o País. Felizmente, a Justiça ouviu a súplica do humilde professor e, compadecendo-se dele, condenou a poderosa revista a indenizá-lo. E o visionário mestre lecionou feliz para sempre, dividindo com seus alunos o sonho de um mundo melhor.
Esse conto de fadas – relatado com deleite nas redes sociais de esquerda – inspira-se num fato real. A Editora Abril, que publica a revista “Veja”, e as jornalistas Mônica Weinberg e Camila Pereira foram condenadas pela 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a pagar uma indenização de R$ 80 mil – com juros e correção – ao professor Paulo Sérgio Fioravanti Jardim, que leciona história no Colégio Anchieta, um dos mais tradicionais de Porto Alegre. Para a Justiça, a reportagem “Prontos para o século XIX”, publicada por “Veja” em 20 de agosto de 2008, apresentou fatos “descontextualizados e distorcidos” ao mostrar o professor gaúcho como um exemplo de professor que quer “esquerdizar a cabeça das crianças”.
A condenação de “Veja” em primeira instância se deu em 31 de outubro do ano passado, em decisão da juíza Laura de Borba Maciel Fleck, da 13ª Vara Cível do Fórum Central de Porto Alegre. Além de ter que indenizar o professor, a revista também foi condenada a publicar a sentença. Mas não só a Editora Abril recorreu da decisão – também o professor Paulo Fioravanti não ficou satisfeito com a vitória obtida e bateu às portas do tribunal na tentativa de aumentar o valor de sua indenização, alegando que “Veja” é lida por cerca de 1 milhão de pessoas, o que justificaria o aumento. A corte gaúcha, em decisão publicada no início deste mês, manteve a mesma decisão de primeira instância.
Resposta do professor
A condenação da Editora Abril se sustenta no entendimento da juíza de que a inserção do professor na reportagem de “Veja” ocorreu sem levar em conta o contexto. Eis o que afirma a magistrada: “A informação buscada foi distorcida e manipulada, sendo colocada na reportagem de forma descontextualizada, objetivando unicamente corroborar a ideia lançada da ‘esquerdização do ensino’ que também seria praticada pelo demandante. A revista está pressupondo que os pais são omissos e não sabem o que os filhos estão aprendendo na escola. Da mesma forma, a publicação é agressiva ao afirmar que os professores levam mais a sério a doutrinação esquerdista do que o ensino das matérias em classe, induzindo o leitor a entender que o autor deve ser incluído como este tipo de profissional”.
Entretanto, o próprio professor, numa carta publicada na revista “Veja”, em 27 de agosto de 2008, faz críticas à revista e afirma: “A reportagem apresentou uma situação de uma aula minha no mínimo duvidosa. Um debate em uma turma de 5ª série foi descrito pela revista como um ‘jogral’, o que é bastante depreciativo, para não dizer outra coisa. Ora, a discussão era sobre o aumento da violência e sua relação com o desemprego. Nesse sentido, parece-me óbvio que a modernidade tecnológica colocou à margem do mundo do trabalho um grande número de pessoas que não estavam preparadas para enfrentar essa nova realidade. O que foi colocado aos alunos por mim tinha o objetivo de fazê-los questionar, caso fossem filhos de pais empresários, qual a contribuição desses pais no sentido de qualificar seus empregados para enfrentar essa nova realidade. Os alunos não levaram essa pergunta como tema de casa, obrigatoriamente. Foi apenas um debate em sala de aula”.
Releiam, por favor, o último trecho da carta do mestre. É quase uma confissão de culpa. Alunos de 5ª série têm 11 anos. Numa escola privada de elite podem ter até menos. É correto uma criança nessa idade ser desafiada a questionar a conduta profissional ou empresarial de seus pais? Os livros didáticos costumam ser cruéis com os patrões da Revolução Industrial. Inclusive em charges, que ressaltam sua maldade monstruosa oprimindo miseráveis trabalhadores. Desafiar uma criança a inserir nesse contexto o pai empresário é uma roleta russa ética. Um professor, na reunião de pais e mestres, pode e até deve (se for possível) dizer verdades indesejáveis à família do aluno, mas jamais deve terceirizar essa missão para a própria criança. Os advogados de “Veja” deviam ter evocado o Estatuto da Criança e do Adolescente em defesa da revista.
Ídolos de esquerda
Será que “Veja” foi mesmo agressiva ao afirmar que os professores priorizam a pregação de esquerda em detrimento do ensino? Os fatos arrolados por aquela histórica reportagem de 12 páginas – corroborada por uma pesquisa da CNT/Sensus, encomendada pela revista – comprovam que não. Para 50% dos próprios docentes ouvidos na pesquisa, o discurso do professor em sala de aula é “politicamente engajado”. Para 30% é “às vezes engajado”. Apenas 20% responderam que é neutro. Também pudera: perguntados sobre qual a missão da escola, 78% dos docentes responderam “formar cidadãos” contra apenas 8% que disseram “ensinar matérias”. E os dois principais ídolos dos professores são Paulo Freire (29%) e seu mestre Marx (10%), este último empatado com Gandhi.
A pesquisa também ouviu os estudantes sobre figuras históricas e atuais mais citadas nas aulas e qual o contexto (positivo, negativo ou neutro) em que ocorreu a citação. Che Guevara é o campeão de citações: 86% positivas, 14% neutras – nenhuma negativa. Um santo! Lênin não chega à santidade, mas goza de uma tranquila beatitude em sala de aula, com 65% de citações positivas, 26% neutras e apenas 9% negativas. É como se Lênin não tivesse no currículo a invenção dos campos de concentração (copiados posteriormente por Hitler) e o terror em massa, com mortes estabelecidas por cotas para cada região da União Soviética. Se os fatos cruéis perpetrados por Che e Lênin fossem relatados nos livros didáticos e comentados nas salas de aula, os dois estariam com Hitler dividindo o inferno no imaginário dos alunos.
 “Veja” também analisou os 130 livros e apostilas de história, geografia e português mais adotados em 2 mil escolas privadas do país. E constatou que cerca de 75% desse material didático trazia informações distorcidas por “miopias ideológicas” ou erros factuais, isso quando os dois tipos de problema não se acumulavam numa mesma obra. “Essas falhas atrapalham a compreensão lógica do mundo real e inculcam nos alunos uma visão hostil à economia de mercado e simpática ao comunismo, ideologia do século XIX, testada e reprovada na prática no século XX, e que no século XXI sobrevive apenas na Coreia do Norte, em Cuba e em salas de aula de escolas brasileiras” – sustenta a reportagem, antes de mostrar e criticar dezenas de trechos das obras em que fica evidente a doutrinação esquerdista.
Hegemonia de Foucault
Não me lembro de nenhuma publicação, nem mesmo acadêmica, que tenha feito um rastreamento ideológico de obras didáticas com a abrangência com que “Veja” fez naquela histórica reportagem publicada há quase cinco anos. Estudos acadêmicos do gênero jamais se voltam para a análise da ideologia esquerdista embutida no material escolar – sua obsessão é denunciar os demônios da imaginação politicamente correta de sempre, como homofobia, racismo e neoliberalismo. Talvez o único erro da reportagem de “Veja” tenha sido “fulanizar” esse excelente trabalho de investigação pondo a foto dos dois professores que tiveram suas aulas analisadas: o gaúcho Paulo Sérgio Fioravanti Jardim, do Colégio Anchieta, e o goiano Marcio Santos, do Colégio Ateneu Dom Bosco.
Os docentes da escola básica costumam ser apenas aviõezinhos do tráfico ideológico – os laboratórios da droga comunista são as universidades. Para se ter uma ideia do comprometimento ideológico do ensino superior no Brasil, basta uma ligeira análise da base de dados oficial que reúne as teses e dissertações defendidas nas universidades brasileiras. Nesse acervo, é possível comparar a influência dos três grandes clássicos da sociologia nas pesquisas acadêmicas atuais: Marx desponta em primeiro lugar, com 649 referências; Max Weber vem muito atrás com 109; e o grande Émile Durkheim, fundador da sociológica acadêmica, aparece com apenas 66 referências. Para efeito de comparação, o filósofo liberal Adam Smith, autor do clássico “A Riqueza das Nações”, tem apenas 24 referências nessa base de dados.
Mas a influência da ideologia de esquerda na educação brasileira vai muito além. Com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, muitos acadêmicos marxistas passaram a disfarçar sua ideologia de esquerda por meio de substitutivos. Por isso, se forem contabilizados os muitos discípulos modernos de Marx presentes nas teses e dissertações defendidas nas universidades brasileiras, o esquerdismo há de se revelar praticamente totalitário. Apenas como amostragem, basta observar a influência nos mestrados e doutorados de três pensadores contemporâneos que têm como matriz a obra marxista: Michel Foucault – hoje hegemônico na educação, na psicologia e no direito – aparece com 839 referências no banco nacional de teses e dissertações; o pedagogo Paulo Freire, comparece com 676; e o sociólogo Pierre Bourdieu, com 437.
Uma tese sobre Vargas
Mas caso se contextualize ainda mais a reportagem de “Veja”, como quer a Justiça que a condenou, o que salta aos olhos é que o próprio professor Paulo Fioravanti não escapou à doutrinação marxista que grassa no ensino superior. É o que fica claro em sua dissertação de mestrado “Vozes e Notícias da Rua de Porto Alegre do Início dos Anos 50”, defendida em 2005 – três anos antes da reportagem – na PUC do Rio Grande do Sul. Nesse trabalho, ele conta que decidiu estudar a Era Vargas como forma de entender as privatizações das empresas estatais no governo Fernando Henrique Cardoso. “Aquelas empresas que, habitualmente, pronuncio em sala de aula – sou professor de História –, agora voltavam à tona em notícias e debates de jornais, na televisão e no rádio”, diz.
Como se vê, Fioravanti considera natural um professor de história falar “habitualmente” de empresas em sala de aula, como se esse presente efêmero, cambiante, do qual só se conhece a superfície que sai na imprensa, pudesse ser mais crucial para o aluno em formação do que a compreensão dos grandes eventos históricos do passado. É certo que o presente de todo historiador influencia o seu olhar sobre o passado que estuda, mas fazer disso uma profissão de fé é render-se à própria subjetividade, sacrificando o necessário distanciamento do objeto de pesquisa e fazendo justamente o contrário do que deve fazer um cientista. É essa falta de distanciamento crítico que faz o professor, em sua dissertação de mestrado, chamar as privatizações de “perda de soberania” e “desmonte da res publica”, indagando se não seria preciso convocar plebiscitos para decidir sobre a privatização das estatais.
Mas se essa linguagem ainda é insuficiente para caracterizar o professor Paulo Fioravanti como “esquerdista”, como afirmou “Veja”, o mesmo não se pode dizer deste trecho de sua tese, em que ele cita a crítica de um acadêmico às privatizações: “Conforme o sociólogo Ricardo Antunes, ‘aí estamos nós com um país sem telefonia, sem energia, sem siderurgia, sem telecomunicações próprias, completamente dependente de tecnologia e de capital forâneos’”. Pasmem: essa afirmação do notório marxista Ricardo Antunes, professor da Unicamp e militante do PSOL, foi dada à revista de esquerda “Caros Amigos”, em agosto de 2004, quando a plena democratização da telefonia no País já era um fato incontestável, impossível de obscurecer, salvo pela mais completa cegueira ideológica. Alguém que cita como autoridade intelectual um militante do PSOL não pode se queixar se alguém o chama de esquerdista.
Livre expressão em risco
Para a Justiça, “Veja” errou ao caracterizar o professor como esquerdista. Em sua decisão, a juíza afirmou: “Tenho que o conteúdo da matéria jornalística, além de ácido, áspero e duro, evidencia a prática ilícita contra a honra subjetiva do ofendido”. Notem que ela classifica o próprio conteúdo e não somente o tom como “ácido, áspero e duro”, o que revela, mais do que uma análise jurídica, uma discordância ideológica. E a magistrada vai além, afirmando, textualmente o que se segue, no trecho mais infeliz da sentença: “A reportagem, a partir do momento que qualifica o autor como esquerdista, com viés, de resto, pejorativo, sem a autorização do demandante, extrapola os limites da liberdade de imprensa” (grifo meu).
Observem que a juíza condena veementemente o fato de que “Veja” chamou o professor de “esquerdista” sem a sua autorização. Se esse entendimento se tornar jurisprudência (e corre-se esse risco, uma vez que foi referendado pela Corte), será a morte definitiva da liberdade de expressão no País. Não mais será possível a crítica intelectual, o confronto de ideias, nada. Toda vez que um articulista resolver chamar a filósofa Marilena Chauí de “esquerdista” terá antes de ligar para a USP e pedir autorização para ela própria, sob pena de ser condenado pela Justiça. Se o Judiciário brasileiro, cada vez mais canhoto, adotar mesmo essa jurisprudência, espero que ela não seja de mão única e quando um Olavo de Carvalho, um Reinaldo Azevedo, um Silas Malafaia ou eu mesmo formos chamados de “direitistas” e “homofóbicos”, sem nossa prévia autorização, que também sejamos indenizados.
Infelizmente, o momento não é de se fazer graça. Há um cerco à liberdade de expressão no Brasil. Talvez seja preciso contextualizar não só a aula do professor gaúcho (como já fiz, citando seu mestrado), mas também a própria decisão que lhe foi favorável. A juíza abre sua sentença de dez páginas com a seguinte epígrafe: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. E quem é o autor dessa frase que realça o argumento central da sentença a ponto de lhe servir de epígrafe? Pasmem: ninguém menos do que Paulo Freire, um pedagogo assumidamente marxista, citado na própria reportagem que critica a esquerdização do ensino e que estava sendo objeto do julgamento. É como se um magistrado, ao julgar uma ação civil pública em defesa do Estado laico, negasse a retirada dos crucifixos das repartições citando em epígrafe uma encíclica papal.
Controle social da mídia
Em sua sentença, a juíza começa fazendo uma douta reflexão sobre os possíveis conflitos entre os direitos fundamentais previstos na Constituição de 88 e observa que, o artigo 5º da Carta, em seu inciso XIV, assegura o direito à informação. Também reconhece que, para materializar esse direito, “é necessário que exista quem preste a informação”, no caso as empresas jornalísticas, que “possuem um papel fundamental no estado democrático de direito”. Mas a juíza ressalva que, no mesmo artigo 5º, inciso X, também está assegurado o direito à inviolabilidade da intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas. “Como se vê, estamos diante de aparente colisão de direitos fundamentais, sendo necessária a delimitação entre a liberdade de imprensa conjugada ao direito à informação e o direito à privacidade e à imagem”, sustenta.
Até aí, tudo bem. O problema é que a magistrada acrescenta: “A ilicitude somente está configurada quando há abuso no exercício do direito à liberdade de imprensa e quando a divulgação desborda das finalidades sociais a que se deve destinar”. Nesse ponto, sua afirmação entra no campo da subjetividade. Quem vai definir qual deve ser a finalidade social de cada artigo, cada reportagem, cada nota publicada na imprensa? Nas democracias, esse é um assunto que cabe exclusivamente ao tribunal do leitor – cabe somente a ele julgar e punir a publicação, exercendo o seu inalienável direito de não comprá-la nem lê-la, caso venha a discordar de sua linha editorial. Eu mesmo já fui assinante da “Caros Amigos”. Quando não mais suportei seu esquerdismo, exerci o meu direito de não renovar a assinatura. Ir além disso é flertar com a perigosa tese do “controle social” dos meios de comunicação, que não passa de censura disfarçada de democracia

Economia inflacionaria do Brasil: a gota d'agua que faltava para o descontentamento - Alexandre Versignassi (SuperInteressante)

Uma boa, aliás excelente, explicação, de Alexandre Versignassi, voltada para os jovens leitores de SuperInteressante (revista de que fui assinante durante vários anos, para meus filhos, e sempre me arrependi de ter interrompido, depois que eles foram para a universidade), sobre o descontentamento difuso entre os cidadãos brasileiros a respeito do desgoverno atual, não apenas em matéria de corrupção, superfaturamento, desvios de dinheiro público, enfim, essas coisas muito comuns no sistema político brasileiro (especialmente depois que os companheiros estão no poder), mas sobretudo em termos de gestão (a)normal da economia, o que acaba redundando em mais inflação e menos crescimento.
O autor, formado em economia, aprendeu bem as lições elementares do jogo econômico e as expõe com clareza nesta nota gentilmente enviada por um leitor fiel deste blog.
Não existe, obviamente, uma explicação única para as manifestações que ocorrem em diversas capitais do país, algumas contra aumento de passagem de transportes públicos, outras por descontentamento com a precariedade dos serviços públicos, em face da gastança política em obras supérfluas, que vão virar elefantes brancos.
Algumas manifestações são conduzidas por movimentos politicamente motivados -- como o dos idiotas do Passe Livre, que são apenas militantes do caos e da imbecilidade econômica -- outras são ativadas por razões eleitoreiras -- com destaque para os companheiros totalitários -- mas o fato é que há um sentimento difuso de mal estar na população, o que faz juntar pessoas do bem com os militantes do mal, uma combinação nem sempre desejável e bem vinda. Sobre isso se acrescenta a incompetência da polícia e sua raiva dos "pequenos burgueses" bem vestidos que saem às ruas com iPhones e gadgets que os policiais não conseguem comprar para si mesmos ou seus filhos.
Sobre tudo isso, e esta é a responsabilidade maior, se coloca a incompetência e a corrupção dos estratos dirigentes, que se acham no direito de gastar o dinheiro dos impostos com suas tramoias mal arquitetadas e mal conduzidas.
A inflação é apenas um efeito secundário da má gestão da economia, por incompetentes que se acreditam espertos.
O mais grave é a decadência moral do país, e o mal estar generalizado de se sentir num país sem lei e sem governo decente. Era a gota que faltava.
Parabéns ao Alexandre Versignassi.
Paulo Roberto de Almeida

A gota que faltava

Alexandre Versignassi 
SuperInteressante, 12 de junho de 2013
Para entender melhor o que está acontecendo na rua, imagine que você é o presidente de um um país fictício. Aí você acorda um dia e resolve construir um estádio. Uma “arena”.
O dinheiro que o seu país fictício tem na mão não dá conta da obra. Mas tudo bem. Você é o rei aqui. É só mandar imprimir uns 600 milhões de dinheiros que a arena sai.
Esses dinheiros vão para bancar os blocos de concreto e o salário dos pedreiros. Eles recebem o dinheiro novo e começam a construção. Mas também começam a gastar a grana que estão recebendo. E isso é bom: se os caras vão comprar vinho, a demanda pela bebida aumenta e os vinicultores do seu país ganham uma motivação para produzir mais bebida. Com eles plantando mais e fazendo mais vinho o PIB da sua nação fictícia cresce. Imprimir dinheiro para construir estádio às vezes pode ser uma boa mesmo.
Mas e se houver mais dinheiro no mercado do que a capacidade de os vinicultores produzirem mais vinho? Eles vão leiloar as garrafas. Não num leilão propriamente dito, mas aumentando o preço. O valor de uma garrafa de vinho não é o que ela custou para ser produzida, mas o máximo que as pessoas estão dispostas a pagar por ela. E se muita gente estiver com muito dinheiro na mão, essa disposição para gastar mais vai existir.
Agora que o preço do vinho aumentou e os vinicultores estão ganhando o dobro, o que acontece? Vamos dizer que um desses vinicultores resolve aproveitar o momento bom nos negócios e vai construir uma casa nova, lindona. E sai para comprar o material de construção.
Só tem uma coisa. Não foi só o vinicultor que ganhou mais dinheiro no seu país fictício. Foi todo mundo envolvido na construção do estádio e todo mundo que vendeu coisas para eles. Tem bastante gente na jogada com os bolsos mais cheios. E algumas dessas pessoas podem ter a idéia de ampliar as casas delas também. Natural.
Então as empresas de material de construção vão receber mais pedidos do que podem dar conta. Com vários clientes novos e sem ter como aumentar a produção do dia para a noite, o cara do material de construção vai fazer o que? Vai botar o preço lá em cima, porque não é besta.
Mas espera um pouco. Você não tinha mandado imprimir 600 milhões de dinheiros para fazer um estádio? Mas e agora, que ainda não fizeram nem metade das arquibancadas e o material de construção já ficou mais caro? Lembre-se que o concreto subiu justamente por causa do dinheiro novo que você mandou fazer.
Mas, caramba, você tem que terminar a arena. A Copa das Confederações Fictícias está logo ali… Então você dá a ordem: “Manda imprimir mais 1 bilhão e termina logo essa joça”. Nisso, os fabricantes de material e os funcionários deles saem para comprar vinho… E a remarcação de preços começa de novo. Para quem vende o material de construção, tudo continua basicamente na mesma. O vinho ficou mais caro, mas eles estão recebendo mais dinheiro direto da sua mão.
Mas para outros habitantes do seu país fictício a situação complicou. É o caso dos operários que estão levantado o estádio. O salário deles continua na mesma, mas agora eles têm de trabalhar mais horas para comprar a mesma quantidade de vinho.
O que você fez, na prática, foi roubar os peões. Ao imprimir mais moeda, você diminuiu o poder de compra dos caras. Inflação é um jeito de o governo bater as carteiras dos governados.
Foi mais ou menos o que aconteceu no mundo real. Primeiro, deixaram as impressoras de dinheiro ligadas no máximo. Só para dar uma ideia: em junho de 2010, havia R$ 124 bilhões em cédulas girando no país. Agora, são R$ 171 bilhões. Quase 40% a mais. Essa torrente de dinheiro teve vários destinatários. Um deles foram os deputados, que aumentaram o próprio salário de R$ 16.500 para de R$ 26.700 em 2010, criando um efeito cascata que estufou os contracheques de TODOS os políticos do país, já que o salário dos deputados federais baliza os dos estaduais e dos vereadores. Parece banal. E até é. Menos irrelevante, porém, foi outro recebedor dos reais novos que não paravam de sair das impressoras: o BNDES, que irrigou nossa economia com R$ 600 bilhões nos últimos 4 anos. Parte desse dinheiro se transformou em bônus de executivo. Os executivos saíram para comprar vinho… Inflação. Em palavras mais precisas, o poder de compra da maioria começou a diminuir. Foi como se algumas notas tivessem se desmaterializado das carteiras deles.
Algumas dessas carteiras, na verdade, sempre acabam mais ou menos protegidas. Quem pode mais tem mais acesso a aplicações que seguram melhor a bronca da inflação (fundos com taxas de administração baixas, CDBs que dão 100% do CDI…, depois falamos mais sobre isso). O ponto é que o pessoal dos andares de baixo é quem perde mais.
Isso deixa claro qual é o grande mal da inflação: ela aumenta a desigualdade. Não tem jeito. E esse tipo de cenário sempre foi o mais propício para revoltas. Revoltas que começam com aquela gota a mais que faz o barril transbordar. Os centavos a mais no ônibus foram essa gota.
Alexandre Versignassi
Editor da Superinteressante. Escreveu o livro Crash - Uma Breve História da Economia, finalista do Prêmio Jabuti 2012. Acredita que física, cerveja, biologia, pebolim e ciências econômicas são assuntos intercambiáveis. Aqui ele tenta provar essa tese. 

China: populacao das cidade vai aumentar em 250 milhoes de pessoas em15 anos

Voces leram bem: 250 milhões vão se mudar para as cidades nos próximos 15 a 18 anos.
Depois das invasões bárbaras na Europa, nunca tantas pessoas se deslocaram em tão pouco tempo...
Paulo Roberto de Almeida

Para todos os gráficos, tabelas e ilustrações, sugiro ler o original:

LEAVING THE LAND
China’s Great Uprooting: Moving 250 Million Into Cities
By IAN JOHNSON
The New York Times, JUNE 15, 2013

Articles in this series look at how China's government-driven effort to push the population to towns and cities is reshaping a nation that for millenniums has been defined by its rural life.

BEIJING — China is pushing ahead with a sweeping plan to move 250 million rural residents into newly constructed towns and cities over the next dozen years — a transformative event that could set off a new wave of growth or saddle the country with problems for generations to come.
The government, often by fiat, is replacing small rural homes with high-rises, paving over vast swaths of farmland and drastically altering the lives of rural dwellers. So large is the scale that the number of brand-new Chinese city dwellers will approach the total urban population of the United States — in a country already bursting with megacities.
This will decisively change the character of China, where the Communist Party insisted for decades that most peasants, even those working in cities, remain tied to their tiny plots of land to ensure political and economic stability. Now, the party has shifted priorities, mainly to find a new source of growth for a slowing economy that depends increasingly on a consuming class of city dwellers.
The shift is occurring so quickly, and the potential costs are so high, that some fear rural China is once again the site of radical social engineering. Over the past decades, the Communist Party has flip-flopped on peasants’ rights to use land: giving small plots to farm during 1950s land reform, collectivizing a few years later, restoring rights at the start of the reform era and now trying to obliterate small landholders.

Across China, bulldozers are leveling villages that date to long-ago dynasties. Towers now sprout skyward from dusty plains and verdant hillsides. New urban schools and hospitals offer modern services, but often at the expense of the torn-down temples and open-air theaters of the countryside.
“It’s a new world for us in the city,” said Tian Wei, 43, a former wheat farmer in the northern province of Hebei, who now works as a night watchman at a factory. “All my life I’ve worked with my hands in the fields; do I have the educational level to keep up with the city people?”
China has long been home to both some of the world’s tiniest villages and its most congested, polluted examples of urban sprawl. The ultimate goal of the government’s modernization plan is to fully integrate 70 percent of the country’s population, or roughly 900 million people, into city living by 2025. Currently, only half that number are.
The building frenzy is on display in places like Liaocheng, which grew up as an entrepôt for local wheat farmers in the North China Plain. It is now ringed by scores of 20-story towers housing now-landless farmers who have been thrust into city life. Many are giddy at their new lives — they received the apartments free, plus tens of thousands of dollars for their land — but others are uncertain about what they will do when the money runs out.
Aggressive state spending is planned on new roads, hospitals, schools, community centers — which could cost upward of $600 billion a year, according to economists’ estimates. In addition, vast sums will be needed to pay for the education, health care and pensions of the ex-farmers.
While the economic fortunes of many have improved in the mass move to cities, unemployment and other social woes have also followed the enormous dislocation. Some young people feel lucky to have jobs that pay survival wages of about $150 a month; others while away their days in pool halls and video-game arcades.
Top-down efforts to quickly transform entire societies have often come to grief, and urbanization has already proven one of the most wrenching changes in China’s 35 years of economic transition. Land disputes account for thousands of protests each year, including dozens of cases in recent years in which people have set themselves aflame rather than relocate.

The country’s new prime minister, Li Keqiang, indicated at his inaugural news conference in March that urbanization was one of his top priorities. He also cautioned, however, that it would require a series of accompanying legal changes “to overcome various problems in the course of urbanization.”
Some of these problems could include chronic urban unemployment if jobs are not available, and more protests from skeptical farmers unwilling to move. Instead of creating wealth, urbanization could result in a permanent underclass in big Chinese cities and the destruction of a rural culture and religion.
The government has been pledging a comprehensive urbanization plan for more than two years now. It was originally to have been presented at the National People’s Congress in March, but various concerns delayed that, according to people close to the government. Some of them include the challenge of financing the effort, of coordinating among the various ministries and of balancing the rights of farmers, whose land has increasingly been taken forcibly for urban projects.
These worries delayed a high-level conference to formalize the plan this month. The plan has now been delayed until the fall, government advisers say. Central leaders are said to be concerned that spending will lead to inflation and bad debt.
Such concerns may have been behind the call in a recent government report for farmers’ property rights to be protected. Released in March, the report said China must “guarantee farmers’ property rights and interests.” Land would remain owned by the state, though, so farmers would not have ownership rights even under the new blueprint.
On the ground, however, the new wave of urbanization is well under way. Almost every province has large-scale programs to move farmers into housing towers, with the farmers’ plots then given to corporations or municipalities to manage. Efforts have been made to improve the attractiveness of urban life, but the farmers caught up in the programs typically have no choice but to leave their land.
The broad trend began decades ago. In the early 1980s, about 80 percent of Chinese lived in the countryside versus 47 percent today, plus an additional 17 percent that works in cities but is classified as rural. The idea is to speed up this process and achieve an urbanized China much faster than would occur organically.
The primary motivation for the urbanization push is to change China’s economic structure, with growth based on domestic demand for products instead of relying so much on export. In theory, new urbanites mean vast new opportunities for construction companies, public transportation, utilities and appliance makers, and a break from the cycle of farmers consuming only what they produce. “If half of China’s population starts consuming, growth is inevitable,” said Li Xiangyang, vice director of the Institute of World Economics and Politics, part of a government research institute. “Right now they are living in rural areas where they do not consume.”
Skeptics say the government’s headlong rush to urbanize is driven by a vision of modernity that has failed elsewhere. In Brazil and Mexico, urbanization was also seen as a way to bolster economic growth. But among the results were the expansion of slums and of a stubborn unemployed underclass, according to experts.
“There’s this feeling that we have to modernize, we have to urbanize and this is our national-development strategy,” said Gao Yu, China country director for the Landesa Rural Development Institute, based in Seattle. Referring to the disastrous Maoist campaign to industrialize overnight, he added, “It’s almost like another Great Leap Forward.”

“In a lot of cases in China, urbanization is the process of local government driving farmers into buildings while grabbing their land,” said Li Dun, a professor of public policy at Tsinghua University in Beijing.
Farmers are often unwilling to leave the land because of the lack of job opportunities in the new towns. Working in a factory is sometimes an option, but most jobs are far from the newly built towns. And even if farmers do get jobs in factories, most lose them when they hit age 45 or 50, since employers generally want younger, nimbler workers.
“For old people like us, there’s nothing to do anymore,” said He Shifang, 45, a farmer from the city of Ankang in Shaanxi Province who was relocated from her family’s farm in the mountains. “Up in the mountains we worked all the time. We had pigs and chickens. Here we just sit around and people play mah-jongg.”

Some farmers who have given up their land say that when they come back home for good around this age, they have no farm to tend and thus no income. Most are still excluded from national pension plans, putting pressure on relatives to provide.
The coming urbanization plan would aim to solve this by giving farmers a permanent stream of income from the land they lost. Besides a flat payout when they moved, they would receive a form of shares in their former land that would pay the equivalent of dividends over a period of decades to make sure they did not end up indigent.
This has been tried experimentally, with mixed results. Outside the city of Chengdu, some farmers said they received nothing when their land was taken to build a road, leading to daily confrontations with construction crews and the police since the beginning of this year.
But south of Chengdu in Shuangliu County, farmers who gave up their land for an experimental strawberry farm run by a county-owned company said they receive an annual payment equivalent to the price of 2,000 pounds of grain plus the chance to earn about $8 a day working on the new plantation.
“I think it’s O.K., this deal,” said Huang Zifeng, 62, a farmer in the village of Paomageng who gave up his land to work on the plantation. “It’s more stable than farming your own land.”
Financing the investment needed to start such projects is a central sticking point. Chinese economists say that the cost does not have to be completely borne by the government — because once farmers start working in city jobs, they will start paying taxes and contributing to social welfare programs.

China issues different permits to urban and rural residents. Rural residents who move to cities without city permits do not have access to public services. If the Chinese government starts to provide services to migrants, spending is projected to go up by 1.5 trillion renminbi per year, or 2.5 percent of urban G.D.P. by 2025.

“Urbanization can launch a process of value creation,” said Xiang Songzuo, chief economist with the Agricultural Bank of China and a deputy director of the International Monetary Institute at Renmin University. “It should start a huge flow of revenues.”
Even if this is true, the government will still need significant resources to get the programs started. Currently, local governments have limited revenues and most rely on selling land to pay for expenses — an unsustainable practice in the long run. Banks are also increasingly unwilling to lend money to big infrastructure projects, Mr. Xiang said, because many banks are now listed companies and have to satisfy investors’ requirements.
“Local governments are already struggling to provide benefits to local people, so why would they want to extend this to migrant workers?” said Tom Miller, a Beijing-based author of a new book on urbanization in China, “China’s Urban Billion.” “It is essential for the central government to step in and provide funding for this.”
In theory, local governments could be allowed to issue bonds, but with no reliable system of rating or selling bonds, this is unlikely in the near term. Some localities, however, are already experimenting with programs to pay for at least the infrastructure by involving private investors or large state-owned enterprises that provide seed financing.
Most of the costs are borne by local governments. But they rely mostly on central government transfer payments or land sales, and without their own revenue streams they are unwilling to allow newly arrived rural residents to attend local schools or benefit from health care programs. This is reflected in the fact that China officially has a 53 percent rate of urbanization, but only about 35 percent of the population is in possession of an urban residency permit, or hukou. This is the document that permits a person to register in local schools or qualify for local medical programs.
The new blueprint to be unveiled this year is supposed to break this logjam by guaranteeing some central-government support for such programs, according to economists who advise the government. But the exact formulas are still unclear. Granting full urban benefits to 70 percent of the population by 2025 would mean doubling the rate of those in urban welfare programs.
“Urbanization is in China’s future, but China’s rural population lags behind in enjoying the benefits of economic development,” said Li Shuguang, professor at the China University of Political Science and Law. “The rural population deserves the same benefits and rights city folks enjoy.”

A version of this article appeared in print on June 16, 2013, on page A1 of the New York edition with the headline: China Embarking On Vast Program Of Urbanization. 

This day in History: Roosevelt New Deal, 1933 (New York Times)


On This Day: June 16, 1933

New York Times

On June 16, 1933, President Roosevelt opened his New Deal recovery program, signing bank, rail, and industry bills and initiating farm aid.

President Starts Recovery Program, Signs Bank, Rail and Industry Bills; Wheat Growers Will Get $150,000,000




Roosevelt Hails Goal



He Calls Recovery Act Most Sweeping Law in Nation's History



Johnson Administrator



Col. Sawyer Is Named to Direct Public Works, Eastman as Railway Coordinator



'Million Jobs' By Oct. 1



Employers Urged to Hire More Men With Government Stopping Unfair Competition


Special to The New York Times

RELATED HEADLINES
AIDS FARMERS THIS YEAR: Wheat Processing Tax, 30 Cents, to Take Effect Soon After July 1: Acreage Cuts in 1934-35: Payments to Growers on Production Allotments Will Also Include This Year's Crop: WILL PROTECT CONSUMERS: Wallace Promises No Undue Price Rises -- Will Give Decision on Cotton Today
Powers Granted to the President
OTHER HEADLINESCity to Sell Bonds Direct to Public; $50,000 for Staff:Interest Up to 5 1/2 % Provided in Scheme to Get Money and Reduce Bank Loans: Canvassers To Be Hired: All Kinds of Securities Will Be Offered--Outstanding Issues Drop Sharply: Berry Program Adopted: He Foresees Wide Market for Offerings--Long-Term Issue Is Likely--No Action on Taxes
Wide Work Spread Asked By Johnson:Recovery Chairman Urges Industry to Unite for Shorter Week, More Employes: And Pay To Meet Prices: Forced Down in Plane at Pittsburgh, He Addresses Coal Men by Radio
Treasury to Order $25,000,000 Work:Roberts and Farley Decide to Ask Bids at Once on More Federal Buildings: Projects Here Included: Vesey Street Plans Already Prepared--22 Sites Have Been Selected in This State
Harvard Defeats Yale Crew For Third Successive Year
Common Cold Laid To 2 Agents United:Vaccination Against Virus Instead of Bacteria Is Urged at Doctors' Meeting: Nerves Cut To Ease Pain: Whooping Cough Vaccine Is Upheld--Type 1 Pneumonia Serum Found Effective
Reich Asks Return of African Lands at London Parley: Also Seeks Other Territory, Presumably in Europe, for 'Works of Peace': Links Plan and Debts: Hugenberg Statement Is Held to Confirm Nazi Hints of Eastward Expansion Aim: Money Ratio Pact Ready: Stabilization Plan Is Likely to Go to Conference Next Week--Two Boards Start Work
Kidnappers Seize St. Paul Brewer: Hold William Hamm, 39, for $100,000 Ransom--Death Threat Made in Note: Sankey Linked to Gang: Fugitive in Bohn and Boettcher Abductions Is Identified as Sender of Missive
Wiley Requested Sea Duty; Policy on Air Officers to Go On
Roosevelt Takes Special Train for Boston To Embark on Vacation Voyage 'Down East'
Washington, June 16.--Assuming unprecedented peacetime control over the nation's economic life, President Roosevelt placed in operation today his sweeping program for recovery from the depression.
Within two hours he signed acts of Congress giving him control over industry, power to coordinate the railroads, and authority to start work on a $3,300,000,000 public works program, and then began the active administration of these and other major measures.
In signing the National Industrial Recovery Act the President declared that it was "the most important and far-reaching legislation ever enacted by the American Congress," and said that it "represents a supreme effort to stabilize for all time the many factors which make for the prosperity of the nation and the preservation of American standards."
The Glass-Steagall Banking Reform Act, which the President described as "the second most important banking legislation enacted in the history of the country"; the long- disputed Independent Offices Act, including the veterans legislation; the Deficiency Act, the Taxation Act, and the Farm Credits Act received the President's signature during the day.
Administrators Are Named
Turning to the administrative side of the industrial recovery program, the President appointed General Hugh S. Johnson, former soldier and manufacturer, as administrator of industry; made available $400,000,000 under the public works title for State roads, and allotted $238,000,000 to the Navy Department for laying down thirty-two new war vessels under the terms of the London treaty.
A special recovery board was named by Mr. Roosevelt to work with General Johnson. It consists of Secretary of Commerce Roper, chairman; Attorney General Cummings, Secretaries Wallace, Perkins and Ickes, Budget Director Douglas and Chairman March of the Federal Trade Commission.
General Johnson also will have an advisory council of business and labor leaders, the personnel of which has not yet been announced. Among those reported under consideration, however, are Myron C. Taylor, Alfred P. Sloan, Walter C. Teagle, Gerard Swope and Will Vereen.
Colonel Donald H. Sawyer was named temporary administrator of public works and was directed, with a special Cabinet board consisting of Secretary Ickes, chairman; Secretaries Wallace, Roper and Perkins, Assistant Secretary of the Treasury Robert, Colonel George R. Spaulding, and Budget Director Douglas, to submit to the President without delay the works on which construction can be undertaken promptly, and to outline a program for future work.
Eastman Rail Coordinator
Joseph B. Eastman, a member of the Interstate Commerce Commission, was appointed coordinator of railroads and was directed to begin his work at once. His most important immediate concern will be the railway wage scale negotiations, following which, savings by the reduction of duplicating facilities will be undertaken.
General Johnson conferred with the President late today and then left by airplane for Chicago to meet with leaders of the bituminous coal industry. He said that he would return late tomorrow night, and that he hoped to name a large group of men to aid him in perfecting trade codes. Most of the ten major industries, he said, had made rapid progress in this respect, and he hoped to see final agreements reached by the big trade associations within a very short time.
Expressing hope that unemployment would be decreased by at least 1,000,000 men by Oct. 1, President Roosevelt took an optimistic view of the industrial situation in a long statement on the Industrial Recovery Act. He called upon industry to cooperate by hiring more men to do existing work, at shortened working hours and a living wage.
Roosevelt Pledges Government Aid
The President said that the act was a challenge to industry and labor, and pledged the protection of the government to both against unfair practices, if they would assist in raising price levels, increasing wages and reducing work hours. He promised that "this is not a law to foment discord, and it will not be administered as such."
While the anti-trust laws will be relaxed by the new legislation, the public will be protected against the abuses which led to their enactment, the President promised in his statement. He said that they would still be enforced against "monopolies that restrain trade and price fixing which allows inordinate profits or unfairly high prices."
The whole spirit of the act, he declared, would be to protect industry that cooperates completely and endeavors to raise prices justly, and at the same time keeps up wages and shortens the working hours so as to increase employment.
Happy as He Signs Enactments
Mr. Roosevelt appeared to be in a happy frame of mind this morning as he affixed his signature to the new measures. The first he signed during the day was the Banking Reform Act, which was carried through perseveringly by Senator Glass of Virginia in the face of many obstacles.
As Senator Glass, accompanied by Senator Bulkley, Representative Steagall and others, appeared in the circular office of the President to be photographed during the ceremonies the President addressed Mr. Glass affectionately, saying:
"You old warrior! If it had not been for the veterans, Congress would have adjourned last Saturday and you would not have had your pet measure on the statute books."
Describing the measure as having had more lives than a cat, he declared it had been killed "fourteen times in this session," to be revived in the final days.
The President's Statement
Senators Wagner and Robinson of Arkansas and Representatives Doughton and Ragon were present at the signing of the Industrial Recovery Act. President Roosevelt's statement follows:
History probably will record the National Industrial Recovery Act as the most important and far-reaching legislation ever enacted by the American Congress. It represents a supreme effort to stabilize for all time the many factors which make for the prosperity of the nation and the preservation of American standards.
Its goal is the assurance of a reasonable profit to industry and living wages for labor, with the elimination of the piratical methods and practices which have not only harassed honest business but also contributed to the ills of labor.
While we are engaged in establishing new foundations for business which ultimately should open a return to work for large numbers of men, it is our hope through the so- called public works section of the law to speedily initiate a program of public construction that should early re-employ additional hundreds of thousands of men.
Obviously, if this project is to succeed, it demands the wholehearted cooperation of industry, labor and every citizen of the nation.
Many Pens as Souvenirs
Senator Dill and Representative Rayburn attended the ceremonies incident to the signing of the Railroad Control Act. The President used many pens in attaching his signatures, and each of the sponsors left with one of them as a souvenir.
The last of the bills was signed at 12:05 P.M., following which the President devoted two hours to seeing departing members of Congress and in discussion patronage. The seekers of patronage for their constituents were told that jobs such as postmasterships and deputy internal revenue collectorships would be filled without delay.
Late in the afternoon, before calling his last conference with the press prior to going on his vacation, the President signed the Independent Offices Appropriation Bill containing the veterans' allotment plan which caused the controversy in the closing days of the session of Congress, the Deficiency Bill with its appropriation for the public works section of the Recovery Act and several other measures. Among the acts signed to wipe the slate clean were those on taxes and farm credits.
The Taxation Act continues for an additional year the current levies on gasoline and on electric current, but provides that after Sept. 1 the electric power tax will be levied on power companies instead of consumers. Total revenue from this act is expected to be $165,000,000.
The Farm Credit Act establishes a new organization for the purpose of centralizing farm credit extensions. The amount of money to be at the disposal of the agency is indefinite, as into it is to be paid the remainder of the revolving fund of the Federal Farm Board. Its resources are estimated at $175,000,000.
Fatigued by the Session
The men who had sponsored the bills that became law today were happy, although most of them seemed tired and nerve-wracked by the turmoil through which they had passed in the closing days of Congress.
Senator Glass, who was co-author of the Federal Reserve Act, admitted that he had almost sent himself to the hospital in behalf of the banking reform legislation. He said that he would do it again, and declared he experienced a great thrill when the President signed it.
"The bank reforms provided in the act," Senator Glass said, "are almost as important to the banks and the public as the Federal Reserve Act itself. It supplements and strengthens the Federal Reserve Law."
The Glass-Steagall Act is directed toward a unified banking system, provides a limited deposit guarantee, requires divorcement of security affiliates from banks under government supervision, compels private bankers to give up either the deposit or security business, and requires stricter regulation of national banks.
Wagner Hails Recovery Act
Senator Wagner of New York, who helped frame the Industrial Recovery Act and direct its passage, hailed that law as the greatest achievement of the administration in an economic and industrial way.
"It will bring us on the road to recovery," he said. "Ultimately, if it is intelligently administered, as I know it will be, it will bring this country out of the depression."
The most far-reaching of the administration's legislation, the Recovery Act gives the President, through administrators, wide power to promote the self-regulation of industry under Federal supervision as a means of curtailing overproduction, improving wages, shortening hours of labor and, thereby increasing prices and employment. A bond issue of $3,300,000,000 is authorized to finance the construction of Federal, State and local public projects.
Representative Sam Rayburn of Texas, chairman of the House Interstate Commerce Committee, thought the Railroad Bill would go a long way toward affording financial aid to the carriers by permitting them to reduce expenses, under the supervision of the Federal coordinator, and through the repeal of the recapture clause.
"They will not be required to continue payments under the recapture clause, and will be returned about $14,000,000 in interest and payments already made," he said.




Front Page Image Provided by UMI

Economia: o Imperio decola outra vez (para desespero dos europeus, e de outros por ai...)

The New York Times, June 15, 2013

Even Pessimists Feel Optimistic Over Economy


For more than a decade, the economy has failed to grow the way it once did. Unemployment has not stayed this high, this long, since the 1930s.
But could the New Normal, as this long economic slog has been called, be growing old?
That is the surprising new view of a number of economists in academia and on Wall Street, who are now predicting something the United States has not experienced in years: healthier, more lasting growth.
The improving outlook is one reason the stock market has risen so sharply this year, even if street-level evidence for a turnaround, like strong job growth and income gains, has been scant so far.
A prominent convert to this emerging belief is Tyler Cowen, an economics professor at George Mason University near Washington and author of “The Great Stagnation,” a 2011 best seller, who has gone from doomsayer to a decidedly more optimistic perspective.
He is not predicting an imminent resurgence. Like most academic economists, Mr. Cowen focuses on the next quarter-century rather than the next quarter. But new technologies like artificial intelligence and online education, increased domestic energy production and slowing growth in the cost of health care have prompted Mr. Cowen to reappraise the country’s prospects.
“It’s better than it looked,” Mr. Cowen said. “Technological progress comes in batches and it’s just a little more rapid than it looked two years ago.” His next book, “Average Is Over: Powering America Beyond the Age of the Great Stagnation,” is due out in September.
Certainly, there are significant headwinds that will not abate anytime soon, including an aging population, government austerity, the worst income inequality in nearly a century and more than four million long-term unemployed workers.
These and other forces prompted some leading economists, led by Robert J. Gordon of Northwestern, to conclude not long ago that the arc of American economic growth for centuries was over, to be replaced by decades of stagnation. Productivity might grow steadily, Professor Gordon argued, but the benefits will not flow to most Americans.
Other analysts are challenging that perspective, which they said was colored, in part, by the severe downturn that hit the global economy more than five years ago. And some of them now see a brighter outlook right around the corner, not just far into the future.
Two widely followed economic forecasters, Morgan Stanley and IHS Global Insight, have both increased their estimates for growth in recent days.
“It’s been a long time coming,” said Nariman Behravesh, chief economist at IHS. “There is more optimism about the U.S. and in particular about the second half of this year and 2014. Three months ago, we wouldn’t have come to that same conclusion.”
Indeed, a number of forecasters are now predicting that the expansion, which began in 2009 and has remained subpar ever since, might prove to be far more durable than the typical five-to-six-year growth cycle, in part because of the absence of the traditional boom, then bust pattern.
The optimistic view is hardly universal and there have been premature proclamations of better days before, most famously the “green shoots” spotted by Ben S. Bernanke, the chairman of the Federal Reserve, in 2009.
Whether or not the economy is poised to grow faster in the months ahead will be the central question when Federal Reserve policy makers meet this week, with more volatility expected on Wall Street as traders look for any sign the Fed is ready to taper back its huge stimulus efforts.
Whatever the Fed’s conclusion, many analysts insist the more upbeat view is justified this time.
In particular, Mr. Behravesh and other economists said, the economy has shown greater resilience than expected in the face of tax increases and spending cuts in Washington. As the impact from this fiscal tightening eases, the overall growth rate should pick up.
Mr. Behravesh now expects the annual growth rate to rise to 2.9 percent in 2014 and 3.5 percent in 2015. If he’s right, it would mark the fastest annual growth since 2005, when the economy expanded by 3.1 percent. It is also well above the 2 percent rise in output the economy has averaged over the last three years.
The nonpartisan Congressional Budget Office also sees relatively fast growth of 3.4 percent next year, and 3.6 percent between 2015 and 2018.
A few other private economists are even more bullish. Jim Glassman, senior economist at JP Morgan Chase’s commercial bank, estimates the economy could expand by 4 percent in both 2014 and 2015. If that were to come to pass, it would be the strongest back-to-back annual growth since the late 1990s.
“I think 2014 will be the real deal,” Mr. Glassman said. “If we get to that level, which I feel pretty confident about, economists will say it’s about time.”
Mr. Cowen, who is also an occasional contributor to the Sunday Business section of The New York Times, is more skeptical about a short-term takeoff, focusing instead on what he sees as a brightening, longer-term picture of the United States economy.
The recent surge in domestic oil and gas production signals “the start of a new era of cheap energy,” he said, while less expensive online education programs could open the door to millions of people who have been priced out of more traditional academics.
At the same time, Mr. Cowen said, he now expects subtler improvements in the country’s economic well-being that will not necessarily be reflected in statistics like gross domestic product, but will be significant nonetheless.
For example, slower growth in the cost of health care will be a boon for the government and businesses, but will actually subtract from reported economic activity. “It’s like the music industry,” he said. “Revenues are lower at record companies but the experience for listeners is better.”
Martin Neil Baily, a senior fellow at the Brookings Institution and a former chairman of the Council of Economic Advisers under President Clinton, said he has always been skeptical of Professor Gordon’s long-term view but has recently become more hopeful about the short-term as well.
“I don’t buy the historical wave theory,” he said. “He’s right that there are headwinds like slowing population growth but the tech revolution is still very much happening.”
In terms of the immediate future, “I thought there was a distinct possibility that spending cuts and tax increases might stall the economy,” he said. “I’m more optimistic now because we seem to be weathering it. There is a sense that we are going to get through this.”
The current debate has turned out to be one of the most important ones in years among economists, who half-jokingly refer to their field as the dismal science. Some well-known experts challenge the new optimists. J. Bradford DeLong, an economics professor at University of California at Berkeley, sees few signs of a rebound, adding that Washington’s austerity policies only “dig the hole we are in deeper.” The percentage of workers in the labor force remains at lows not seen for a quarter-century.
“The great stagnation will end for a lot of people but not everyone,” Mr. Cowen said. “I think there will be great breakthroughs but the distribution of those gains will go to owners of capital and intellectual property.”
How big will these breakthroughs really be? That issue is crucial for Professor Gordon of Northwestern, arguably the most influential pessimist among academic economists today.
While computers and the Internet hold revolutionary possibilities, he said, they will not affect living standards or productivity the way the innovations of the last 150 years did, citing developments like railroads, electrification, indoor plumbing and the like.
“Electronics has already had its revolution with the Internet, the personal computer and e-commerce,” he said. “Advances in the future will doubtlessly be impressive, but the real impact of the electronic revolutions has already occurred.”
Whether pessimists or optimists, economists do not have a great track record of predicting the future. Many feared the Great Depression might return after World War II ended, only to see the economy boom in the postwar era. Similarly, few foresaw the financial crisis of 2008 or the depth of the most recent recession.
Mr. Bernanke said that the near-term outlook remains murky but nonetheless put himself firmly in the optimists’ camp in a commencement speech last month at Bard College at Simon’s Rock in Massachusetts.
Acknowledging Mr. Gordon’s point that living standards have not advanced since the 1960s the way they did in the previous 50-year period, he nevertheless echoed Mr. Cowen’s newfound optimism about innovation.
“Both humanity’s capacity to innovate and the incentives to innovate,” he said, “are greater today than at any other time in history.”

Fukuyama: um dos mais importantes pensadores da política da atualidade


Ao falar do Ocidente, mais especificamente sobre a Europa, Francis Fukuyama destaca a importância da lei para a legitimação do Estado.
por Fabio S. Cardoso (05/06/2013)
Professor na Universidade Anhembi Morumbi. Colabora com o jornal literárioRascunho, entre outros
“As origens da ordem política: Dos tempos pré-humanos até a Revolução Francesa”, de Francis Fukuyama

As origens da ordem política
Francis Fukuyama (trad. Nivaldo Montingelli Jr.)
Rocco, 2013, 592 páginas

Funciona assim: se, num debate sobre conceitos em política, um dos interlocutores ousar mencionar o nome do cientista político norte-americano Francis Fukuyama, estará automaticamente desautorizado a argumentar. Para certos comentaristas e soi-disant analistas, o nome de Fukuyama não apenas está ultrapassado (posto que é considerado apenas um ideólogo do final da década 1980), como também é um dos falcões do temido pensamento conservador da direita norte-americana, um grupo que deve ser estigmatizado, solapado e, se possível, esquecido. Numa variação desse raciocínio tacanho, há quem diga que as ideias de Fukuyama podem ser sintetizadas a partir de seu ensaio mais célebre, “O fim da história?”, publicado em 1989 e que seria, anos depois, um livro de sucesso. Para quem não leu, o texto de Fukuyama decretava a vitória da democracia liberal perante o fracasso do socialismo real – e, com efeito, o autor jamais seria perdoado pela provocação do título de seu ensaio.
Pois então, anos depois, Fukuyama está de volta com outro livro de sucesso na praça, desta vezAs origens da ordem política, editado no Brasil pela Rocco. Ao longo de quase 600 páginas, o pensador liberal estabelece uma reflexão sobre a política, tomando como referência as ideias de outro pensador odiado pelas esquerdas mundo afora: Samuel Huntington, que, em 1968, assinou o artigo “Political order in changing societies”. Fukuyama acreditou que era possível rever as ideias de seu mentor e se propôs a estabelecer uma longa e caudalosa análise sobre como a política ainda importa. Para desespero dos detratores que sequer leem seus livros, a obra, se não é incontestável, desafia o senso comum ao avaliar a influência da política desde sempre na vida em sociedade.
Para tanto, o autor divide sua análise em dois tomos. E, com efeito, o que temos em mãos é a primeira parte de sua análise, que vai dos tempos pré-humanos à Revolução Francesa. Amparado em vasta bibliografia, o autor é hábil ao pincelar os momentos decisivos que lhe servem de base para investigar e comentar como se organizava a política em outros tempos, que nos parecem ao mesmo tempo distantes e desconectados para com a nossa realidade. Com isso, nas palavras de Fukuyama: “O objetivo deste livro é preencher alguns hiatos desta amnésia histórica com um relato de onde vieram as instituições políticas fundamentais das sociedades que hoje as dão como certas. As três categorias de instituições em questão são as que acabamos de descrever: O Estado; O Estado de Direito; Governo responsável”.
Nota-se, desde o início, que o autor é um defensor entusiasmado daquilo que ele classifica, desde há muito em sua obra, da ideia de uma democracia liberal. O leitor menos afeito aos conceitos de ciência política pode vislumbrar o seguinte paralelo: é o tipo de democracia achincalhada por determinados governantes da América Latina, posto que tal modelo político-econômico geraria lucro, riqueza e benefícios apenas à elite. No Brasil, quem sustenta esse tipo de modelo está condenado a ser visto como direitista e reacionário alinhado ao sistema. Não espanta que o Brasil tenha despencado em recente avaliação do índice de competitividade.
De volta ao livro, se nas primeiras páginas Fukuyama dedica um espaço considerável para elaborar uma análise do sistema internacional contemporâneo, logo adiante o autor propõe uma espécie de revisão da ordem política mundial antes mesmo da ideia de Estado-Nação ser a pedra de toque da política internacional. Com isso, é eficaz ao explicar de que maneira os principais atores do sistema mundial se desenvolveram, observando, de quebra, a sua constituição do ponto de vista histórico. É assim que se compreende, por exemplo, os meandros do Império Chines à época da dinastia Han, conforme se observa nas palavras do autor: “Qin Shi Huangdi estendeu as instituições de seu Estado natal para toda a China, criando assim não apenas um Estado, mas aquela que viria a se tornar, sob seus sucessores da dinastia Han, uma cultura de elite chinesa unificada”.
De igual modo, Fukuyama apresenta as características elementares do complexo sistema de castas indiano. Nesse capítulo, o autor dialoga com Durkheim e Max Weber, ao destacar a influência da religião para a compreensão da vida econômica. É singular, nesse sentido, a explicação concedida sobre os meandros políticos daquela localidade:
(…)na Índia não foram as elites que detinham o poder coercivo e econômico que acabaram no topo, e sim aquelas que detinham poder ritual. Mesmo se uma pessoa acreditasse que as causas materiais tinham prioridade, ainda precisaria responder à pergunta de por que os xátrias e os vaisas – os guerreiros e mercadores – concordavam em se subordinar aos brâmanes, dando-lhes não apenas terras e recursos econômicos, mas também o controle de aspectos íntimos de sua vida pessoal.
Ao falar do Ocidente, mais especificamente sobre a Europa, o cientista político destaca a importância da lei para a legitimação do Estado – a princípio, baseado numa autoridade religiosa; e depois como um conjunto de regras fundamentadas num amplo consenso social a respeito de valores básicos. Fukuyama, então, chega ao que pode ser considerado o postulado elementar da legitimidade do Estado no Ocidente, a saber: “O primado da lei é um componente distinto da ordem política que impõe limitações ao poder de um Estado”. Em linhas gerais, é essa característica que transforma determinadas experiências políticas – como a Bolívia de Evo Morales ou a Venezuela chavista – em regimes que destoam desse projeto que busca a legitimidade respeitando as regras do jogo, uma vez que é sabido que as lideranças destes países alteraram as respectivas cartas constitucionais para se perpetuarem no poder de forma indefinida. Em outras palavras, se é verdade que não podem ser chamadas diretamente de ditaduras, é possível situá-las conforme a afirmação de Fukuyama ainda no início do livro: “A incapacidade de cumprir as promessas de democracia representa aquele que talvez seja o maior desafio à legitimidade desses sistemas políticos”.
Ainda observando o processo político no Ocidente, Francis Fukuyama analisa, para desespero de Marilena Chauí, a influência da burguesia (ou, nos termos de hoje, classe média) para o estabelecimento da emancipação política na Inglaterra, anotando precisamente o período anterior à Revolução Gloriosa: “A classe média teve papel fundamental no parlamento e ganhou um substancial poder econômico e político antes da Guerra Civil e da Revolução Gloriosa. Representou um forte contrapeso aos grandes lordes e ao rei em suas lutas pelo poder”. Eis aí, talvez, uma pista de por que seus anseios e expectativas assustem tanto os que desejam se perpetuar nos cargos, ontem e hoje…
No entanto, ao tratar da Revolução Gloriosa, Fukuyama reavalia também a alteração do ideário político no tocante à já mencionada questão da legitimidade. O pensador norte-americano comenta que John Locke, em contraponto a Thomas Hobbes, reavaliou o papel do Estado em relação ao indivíduo, uma vez que o autor de Dois tratados sobre o governo civil asseverou que os súditos poderiam, sim, substituir um monarca que se tornasse tirano por violar os direitos naturais. Em síntese, Fukuyama assinala que “a Revolução Gloriosa não foi feita para que um governante ou conjunto de elites tomasse o controle do Estado e suas rendas de outro, mas para definir o princípio sobre o qual seriam escolhidos todos os governantes subsequentes”.
Entre as muitas coisas que se aprende a partir da leitura de As origens da ordem política, é correto destacar que o autor não mudou de ideia sobre o que disse no final dos anos 80, exatamente porque ainda segue como um notável defensor e entusiasta do modelo da democracia liberal. Assim, embora fustigado por seus detratores, Fukuyama se mostra um pensador atento e bastante eficaz na elaboração e na exposição de seus argumentos. Este livro, por isso, é obra que serve de referência e também de guia de leitura (e entendimento) do contexto político contemporâneo. Aguardemos a segunda parte.

Enquanto o Imperio espiona o mundo inteiro, um outro imperio espiona algumas pessoas do mundo...

Cada um na medida da sua justa proporção, ou de sua agenda política...

Espionagem no porto
Disfarçados de portuários, quatro agentes da Abin - o serviço secreto do governo - foram presos sob suspeita de bisbilhotar a vida do governador Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência da República
Hugo Marques e Rodrigo Rangel
Revista Veja, 15/06/2013

Abin em ação para coletar informações que pudessem ser utilizadas contra a campanha presidencial do governador de Pernambuco

É colossal o esforço do governo para impedir que decolem as candidaturas presidenciais do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da ex-senadora Marina Silva (sem partido). Nos últimos meses, a presidente Dilma Rousseff reacomodou no ministério caciques partidários que ela havia demitido após denúncias de corrupção, loteou cargos de peso entre legendas desgarradas da base aliada e pressionou governadores do próprio PSB a minar os planos de Campos. Sob a orientação do ex-presidente Lula, Dilma trabalha para Montar a maior coligação eleitoral da historia e, assim, impedir que eventuais rivais tenham com quem se aliar. A maior parte dessa estratégia é posta em pratica a luz do dia, como a volta dos “faxinados” PR e PDT a Esplanada, mas ha também uma face clandestina na ofensiva governista, com direito a espionagem perpetrada por agentes do estado. Um dos alvos dessa ação foi justamente Eduardo Campos, considerado pelo PT um estorvo à reeleição de Dilma pela capacidade de dividir com ela os votos dos eleitores do Nordeste, região que foi fundamental para assegurar a vitória da presidente em 2010.
0 Porto de Suape, no Recife, carro- chefe do processo de industrialização de Pernambuco, serviu de arena para o até agora mais arrojado movimento envolvendo essa disputa pré-eleitoral. No dia 11 de abril, a Policia Militar deteve quatro espiões da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que fingiam trabalhar no local, mas há semanas se dedicavam a colher informações que pudessem ser usadas contra Campos. A Secretaria de Segurança Pública estadual já monitorava os agentes travestidos de portuários fazia algum tempo. Disfarçados, eles estavam no estacionamento do porto quando foram abordados por seguranças. Apresentaram documentos de identidade e se disseram operários. Acionada logo depois, a PM entrou em cena. Diante dos policiais, os espiões admitiram que eram agentes da Abin, que estavam cumprindo uma missão sigilosa e pediram que não fossem feitos registros oficiais da detenção. 0 incidente foi documentado em um relatório de uma página, numa folha de papel sem timbre, arquivada no Gabinete Militar do governador. Contrariado com a espionagem, Eduardo Campos ligou para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Jose Elito Siqueira, a quem o serviço secreto do governo está subordinado.
Em uma reunião com aliados do PPS, o governador contou que o general garantiu que não houve espionagem de cunho político, ou de viés eleitoral, mas apenas um trabalho rotineiro. “Nos fazemos apenas monitoramento de cenários para a presidenta”. ponderou o chefe do GSI. Apesar da gravidade do incidente, o caso foi dado como encerrado pelos dois lados. Poucas pessoas souberam da história. A elas, Campos explicou que não queria tornar público o episódio para não “atritar” ainda mais a relação com o Palácio do Planalto nem causar um rompimento entre as partes. Mas houve desdobramentos. “Tive de prender quatro agentes da Abin que estavam me monitorando”. Revelou Eduardo Campos. E ainda desabafou: “Isso é coisa de quem não gosta de democracia, de um governo policialesco”. Pediu aos aliados que o assunto fosse mantido em segredo. “Não tenho nada a dizer sobre isso”, desculpou-se na semana passada o deputado Roberto Freire, presidente da legenda, que estava presente a reunião.

Os agentes detidos no Porto de Suape trabalham na superintendência da Abin em Pernambuco. São eles: Mario Ricardo Dias de Santana, Nilton de Oliveira Cunha Junior, Renato Carvalho Raposo de Melo e Edmilson Monteiro da Silva. No dia da detenção, usavam um Palio (JCG-1781) e um Peugeot (KHI-1941). A placa do Pálio é fria, não existe. Já a do Peugeot é registrada em nome da própria Abin. Na semana passada, o agente sênior Mario Santana se aposentou. Nilton Junior e Renato de Melo davam expediente normalmente na superintendência. Já Edmilson Silva, na quinta-feira, estava escalado para o plantão noturno. Nada mais natural. Edmilson Silva tem uma dupla jornada de trabalho. Além de espião, é vereador, eleito pelo PV, no município de Jaboatão dos Guararapes. Vive, portanto, urna situação curiosa. Durante o dia, como vereador, é um defensor das liberdades. Às escuras, como araponga, une-se aos colegas de repartição para violá-las. “Fui ao Porto de Suape algumas vezes apenas para visitar amigos”, disse a VEJA o agente-vereador.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...