segunda-feira, 16 de junho de 2014

Economia brasileira: Arminio Fraga analisa os problemas atuais

"O arrocho já está sendo feito pela inflação"
Entrevista Armínio FragaPor Claudia Safatle | Do Rio
Valor Pro, 
16/06/2014

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, alerta que "a semente do desemprego já está aí, pois infelizmente a economia não está crescendo". Para reduzir a inflação e evitar o desemprego será preciso, através de compromissos e ações críveis na área econômica, afetar as expectativas. "Faltam hoje transparência nas contas públicas e compromissos com a responsabilidade fiscal e com inflação na meta", disse ele em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Armínio, que está assessorando o candidato do PSDB, Aécio Neves (PSDB), à presidência da República, não é adepto do "tratamento de choque", seja para derrubar a inflação ou para recolocar a política fiscal no rumo de um superávit primário maior e melhor. O ritmo de queda da inflação em direção à meta de 4,5% terá que ser avaliado "à medida que fique claro o tamanho do atraso que existe em alguns preços". Na política fiscal, a primeira providência deve ser dar transparência aos dados. Acredita que hoje, se bem medido, o superávit primário é próximo a zero. "Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo. O país não está crescendo e, se não crescer, as frustrações vão aumentar", diz. Pois é o crescimento, mais do que as transferências de renda aos mais pobres, que vem reduzindo as desigualdades no país. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Como o sr. vê a performance da economia até o fim do ano?

Armínio Fraga: A economia está fraca, assustada e muito defensiva, com pouco investimento e pouca ousadia. A incerteza tem uma dimensão macroeconômica ligada ao baixo crescimento, à inflação alta e ao déficit em conta corrente; e uma dimensão mais micro, que afeta cada setor de uma maneira diferente. Mas, no geral, assusta, com raízes importantes no setor elétrico, de petróleo, que não são os únicos, mas são os principais. Esse quadro precisa ser abordado de maneira clara e isso não está acontecendo.

Valor: A ausência de investimentos decorre principalmente da queda da confiança do setor privado?

Armínio: Em última instância parte da conta acaba batendo sempre no governo. Há o lado mais macro e um outro que diz respeito às regras do jogo e à capacidade de execução do governo. Não é só um certo receio em relação à qualidade da regulação. O que a gente mais ouve é que tem verba, mas não tem projeto, ou o projeto é ruim ou está atrasado. São projetos muito grandes, complexos, que exigem ações paralelas e basta um tema ficar para trás que para tudo.

Valor: O Estado perdeu a capacidade de investir?

Armínio: Perdeu ou sei lá se tinha. O fato é que no momento não demonstra ter. O Brasil não investe não é de hoje. Só que na infraestrutura hoje as necessidades são gritantes. Talvez há 10 ou 20 anos, não fossem. O quadro foi se agravando. O governo, quem quer que seja o próximo presidente, terá que dar uma virada caprichada nessa área.

Valor: Fazendo o quê? Ampliando e melhorando as concessões?

Armínio : Em cada setor as regras, e como estão sendo aplicadas, vão ter que ser examinadas e, além disso, será preciso um esforço de coordenação no governo para que as coisas possam acontecer. O Brasil como um todo vai ter que mobilizar mais capital. Nossa taxa de poupança está quase tão baixa quanto os níveis dos nossos reservatórios. O Brasil já saiu de uma situação de fornecedor de poupança no exterior - com superávit em conta corrente - para a de usuário, importador de poupança, com déficit em conta corrente.

Valor: Um déficit em transações correntes de quase 4% do PIB é perigoso?

Armínio : Eu diria que não. Acredito que o país se arrumando vai haver aumento do investimento.

Valor: O ex-presidente Lula disse que é o caso de incentivar mais o consumo para estimular o crescimento. É possível ou esse é um processo que já se esgotou?

Armínio: A fase de crescimento acelerado do consumo pode ter ficado para trás porque o PIB não está crescendo, as famílias se endividaram bastante e os juros estão subindo. Mas há um espaço enorme para o consumo crescer. Só que a renda tem que crescer junto, o custo do capital tem que cair e os prazos têm que se alongar.

Valor: Como sair de um quadro de pessimismo, com a economia patinando, e retomar o crescimento?

Armínio: Na área fiscal, por exemplo, primeiro com esforço de transparência para que não fiquem na dúvida sobre se há um truque novo, uma nova pedalada.

Valor: E, se ao dar transparência, a situação das contas públicas for mais complicada?

Armínio: A realidade é o que é. É preciso, para início de conversa, mostrá-la e discutir a resposta que se quer dar. Tem que trazer esse grau de segurança e trazer a inflação para a meta - não da noite para o dia, mas colocá-la em uma trajetória crível de queda. A inflação está há muitos anos lá em cima, apesar de reprimida.

Valor: Quando o candidato Eduardo Campos (PSB) falou em reduzir a meta de inflação para 3,5% em 2019, a presidente Dilma Rousseff reagiu dizendo que isso implicaria em aumento do desemprego para mais de 8%. O desemprego é inexorável nesse quadro?

Armínio: A semente do desemprego já está aí, pois infelizmente a economia não está crescendo. Para reduzir a inflação e evitar o desemprego será necessário afetar as expectativas. Falta hoje transparência nas contas públicas e compromissos com a responsabilidade fiscal e com inflação na meta. O ritmo de queda terá que ser avaliado à medida que fique claro o tamanho do atraso em alguns preços.

Valor: Há projeções de 7,5% de inflação para 2015. Mas isso vai depender de como vão ser as correções de preços represados, não?

Armínio: O mercado está com um número de consenso por aí, acima de 7%. Se fizer uma correção parcial evita-se esse primeiro choque, mas fica uma conta a ser paga ao longo do tempo. Atrasar não significa resolver. Eu ainda não tenho opinião formada. Apesar de eu estar assessorando o senador Aécio Neves (PSDB-MG), não estou pensando nisso agora. Acho que não está na hora.


Valor: Em entrevista a jornalistas estrangeiros, a presidente Dilma, perguntada sobre por que o país cresce tão pouco, respondeu: "Não sei". O senhor sabe?

Armínio: Olhando de maneira quase que contábil, o país está investindo muito pouco. Para crescer tem que investir e tem que investir bem. E para investir tem que ter poupança. Você pode até crescer durante um tempo usando poupança externa.

Valor: E essa poupança externa de R$ 85 bilhões, que é o déficit em transações correntes, não foi para investimento?

Armínio: Pelo visto, não.

Valor: E os mais de R$ 400 bilhões que o Tesouro Nacional repassou ao BNDES para financiar a expansão dos investimentos?

Armínio: Idem. Talvez, sem ele, o investimento tivesse sido mais baixo. O resultado final é uma taxa de investimento muito baixa em um país onde as necessidades são visíveis. A nossa educação não está melhorando na velocidade adequada. Esse é um investimento de longo prazo, mas é o melhor.

Valor: Isso ocorre porque a educação padece da falta de recursos?

Armínio: O Brasil investir 6% do PIB em educação não é igual à Alemanha investir 6% do PIB, pois lá o produto per capita é muito maior. Mas os especialistas acreditam que há problema também de gestão. Uma explicação sobre o baixo crescimento tem que incluir a educação. É verdade que a taxa de escolaridade aumentou nos últimos 25 anos. Há mais crianças na escola, mas muitos não terminam a escola primária ou saem analfabetos funcionais, o que é outra coisa chocante, e menos ainda terminam a escola secundária.

Valor: O economista francês Thomas Piketty, no livro "O capital no século XXI", trouxe o aumento da desigualdade para o centro do debate econômico internacional.

Armínio: O tema da pobreza e da desigualdade é antigo entre nós e levado a sério.

Valor: Como se faz crescimento mais distributivo? Com mais transferência de renda e mais educação?

Armínio: Sim. Há duas frentes de trabalho que deveriam ser não ideológicas. Uma diz respeito ao lado da igualdade de oportunidade. Mesmo o mais liberal dos liberais tende a defender a igualdade de oportunidade. Claro que muitos liberais veem um papel para o governo na provisão da educação e da saúde pública e não necessariamente na produção. Vi isso em uma entrevista recente do Ricardo Paes de Barros [subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos], por exemplo. A provisão cabe ao governo na educação, saúde, segurança, um Judiciário decente, transporte público de qualidade. Essa é a base para uma sociedade onde as pessoas têm chances, onde o filho de uma pessoa pobre não está condenado a ser pobre. Isso é um desejo do Brasil, está na Constituição e o governo deveria estar entregando mais nessas áreas. Esse é um canal de resposta muito poderoso à questão colocada por Piketty.

Valor: Qual é a outra frente?

Armínio: Está na outra ponta, que é coibir o enriquecimento ilícito que vem da captura do Estado, da corrupção. Vi outro dia um dado muito interessante num texto da professora Rozane Siqueira, da UFPE. Ela calculou o coeficiente de Gini para o Brasil e para o Reino Unido, antes e depois de impostos e transferências. Normalmente, quando se faz essa conta, se usa a renda bruta das pessoas. Quando se calcula o coeficiente de Gini baseado na renda líquida, a melhora no Brasil é mínima e no Reino Unido é bem grande. Isso indica que, mesmo com todo o esforço do Estado, os resultados em termos distributivos são ainda modestos.

Valor: É possível aumentar o gasto social?

Armínio: Acredito que há bastante espaço para melhorar pela via do gasto limitando, por exemplo, o que o Gustavo Franco chama de 'bolsa empresário' e focando nas áreas que dão mais resultado, como educação e saúde pública. Resumindo, o uso do dinheiro público carece de mais justificativa. Está mal alocado e não é só má alocação produtiva, mas distributiva.

Valor: Empréstimos subsidiados são forma de concentrar riqueza?

Armínio: Sim, mas não acho que o BNDES não deva subsidiar. Não é disso que se trata. Recentemente fiz um artigo em parceria com o Marcos Lisboa defendendo transparência e critério. Acho que há espaço para subsídios, mas é preciso enxergar direito onde está a externalidade e a diferença entre o retorno social e o retorno privado. Tem que ser justificado, ter transparência e uma forma de se medir os resultados. Por alguns anos fui do conselho consultivo do Banco Mundial. Tudo o que o Banco Mundial faz tem que ser desenhado com objetivos claros e de forma que se possa medir os resultados.

Valor: A política industrial vem dando resultado?

Armínio: Não sei, não há dados disponíveis. Mas pelo crescimento baixo, suspeito que não.

Valor: Haveria algum problema mais estrutural que condene o país a crescer pouco?

Armínio: Ao contrário. O Brasil tem uma renda per capita de 20% da renda dos países mais ricos. É totalmente factível crescer 4%, 5% ao ano. Depende do mundo também, mas não há nada que se possa dizer que não, que isso é estrutural do Brasil. O que é estrutural? Você acha que as crianças do Brasil não são capazes de aprender?

Valor: Há anos os juros aqui são maiores que no resto do mundo...

Armínio: Isso vem desde o regime militar. A remuneração da caderneta de poupança pela inflação mais 6%, líquido de imposto, vem de lá. Alguém pensou que 6% real de juros era bom. Uma economia arrumada vai ter juros caindo para uma taxa mais normal. O juro é o que é. Não é fruto da vontade direta de ninguém, mas pode-se construir as condições para o país ter juros normais.

Valor: Para isso seria preciso ter um superávit primário maior?

Armínio: O superávit arrumado, bem medido, hoje está próximo de zero. Tem que ter superávit para estabilizar a dinâmica da dívida e tirar isso da cabeça das pessoas.

Valor: O superávit teria que voltar ao nível de 3% do PIB?

Armínio: Não sei. Depende de quanto o país tiver crescendo. Em um momento de populismo exacerbado, que está sendo a marca deste início de campanha, a política fiscal é uma tema bem delicado.

Valor: O governo tentou trabalhar com uma inflação de 6% ou um pouco mais..

Armínio: Os preços dos alimentos crescem a dois dígitos. As pessoas sabem que há preços congelados e que isso não dura muito. Esse filme todo mundo conhece e quem é novo e não conhece fala com os pais, com os avós. Quando vem o aumento é com juros e correção. Não adianta nada.

Valor: É possível retomar um processo de desinflação?

Armínio: Tem que ter uma sequência. Primeiro, chegar a uma situação de preços normais, não tabelados, não reprimidos, levar essa inflação para a meta e, depois, decidir o que fazer. Acho que a meta deveria cair um pouco e lentamente...

Valor: Então, primeiro vai piorar para depois melhorar?

Armínio: Vamos ter que tirar o remédio do paciente, que está dopado.

Valor: No Brasil períodos eleitorais ainda costumam ter algum estresse nos mercados. O sr. acha que desta vez vai se repetir especulação com taxa de câmbio, juros, algo como o senhor viveu no Banco Central na eleição de 2002?

Armínio: Torço para que não, mas acho que sim.

Valor: Em 2002 o dólar chegou a R$ 4 e a inflação subiu às alturas. Seria algo semelhante?

Armínio: Não tanto. Ali foi um caso mais extremo onde a incerteza era imensa porque tinha uma versão escrita do que se pretendia fazer, que era o programa do PT. O PT evoluiu e o Lula rasgou o programa.

Valor: O PT diz que a campanha de Aécio Neves (PSDB) está cometendo 'sincericídio' ao apontar os problemas da economia e indicar que pode haver medidas amargas. Isso não assusta o eleitor?

Armínio: 'Sincericídio', acho que não. É um pouco de 'honesticídio', isso sim. Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo. O país não está crescendo e, se não crescer, as frustrações vão aumentar. Estudiosos como o Ricardo Paes de Barros e o Marcelo Neri [ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos] têm escrito e dito ao longo dos anos que um percentual alto da queda da pobreza e da redução da desigualdade veio do crescimento. Do crescimento. Não é do programa distributivo, do Bolsa Família. Você está falando com alguém que não tem vergonha de dizer que é um liberal com coração. É importante o país crescer e é importante gastar melhor, sim.

Valor: O governo sempre gasta mal?

Armínio: Acho que o Brasil teria que gastar muito melhor do que gasta. E isso não é questionado porque tudo que o PT fala vira dogma da esquerda. Falta honestidade, isso é o que falta. Vamos lá olhar. Faz essa conta do índice de Gini e veja o que está acontecendo. Alguma coisa não está dando certo, com todos os esforços do Fernando Henrique, do Lula e de todo mundo, e isso os próprios pesquisadores do país nessa área têm dito, antes de irem para o governo. Há menos de seis meses, na apresentação que o Marcelo Neri fez com a ministra Tereza Campello, estava lá: o crescimento é importante e acho que o governo deveria gastar melhor, muito melhor, o precioso dinheiro público. Uma parte desse dinheiro vai para os pobres sim, mas não é tão grande.

"A nossa educação não está melhorando na velocidade adequada. Esse é um investimento de longo prazo, mas é o melhor"

Valor: O sr. acha que gastar mal o dinheiro público tem a ver com a estrutura de governabilidade que se montou, em que cada pedaço da administração pública tem que ir para cada partido da base aliada?

Armínio: Acho que sim. O Marcos Mendes aborda isso no livro "Por que o Brasil Cresce Pouco". A resposta direta é que o Brasil não está investindo o suficiente e o que investe não parece ser de boa qualidade. Isso tem a ver com capital físico, capital intelectual, capital humano mais básico. Aí é que nós somos devedores. Porque o Estado não gera essa resposta? Acho que é uma combinação de ideologia com incompetência. Uma parte disso vem de uma certa falta de transparência, por que as pessoas não enxergam direito para onde o dinheiro está indo. A proposta da transparência é a base e daí vêm as respostas. Quer fazer subsídio? Dê transparência, ponha no orçamento e explique. O orçamento existe para forçar essa discussão. Quando se começa a ter orçamentos paralelos, fica difícil obter as respostas corretas.

Valor: Como reduzir os aportes de recursos do Tesouro ao BNDES, que de 2009 para cá triplicaram?

Armínio: Gradualmente. Não sei para que nível ele deve voltar e acho que essa é uma discussão mais ampla sobre o que o país precisa, quanto custa etc. Não acredito em tratamento de choque, a não ser de transparência para poder respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, buscar com segurança uma taxa de inflação mais baixa. Eu começaria por aí. O resto é guerra de guerrilha. Vai ter que ter um número de frentes de trabalho, pessoas buscando soluções, manter a capacidade do Estado de exercer seu papel de fiscalizador, regulador, e que não iniba e abra mão de trazer capital interno e externo, mais interno até. A poupança interna vai ter que aumentar com o tempo.

Valor: Há quem defenda aumento dos impostos? O país suportaria?

Armínio: Um número crescente de pessoas acredita que um país de renda média com carga de 36% a 37% do PIB é suficiente para o Estado cumprir bem suas funções em um modelo de social-democracia que temos aqui. Essa é uma discussão de primeira grandeza e não para um tecnocrata resolver. O país deveria procurar um limite de crescimento para o gasto público, para que ele pare de crescer mais do que o PIB, e essa carga poder ficar por aí por um bom tempo. O governo investe pouco e quase todo seu gasto são transferências e despesa corrente, mas parte da responsabilidade pelo aumento do investimento deveria ser do governo. Quando você olha o orçamento, há limitações. Essa é uma discussão política. Há sinais de que a carga tributaria hoje é alta o suficiente para transformar o Brasil em um país menos competitivo.

Valor: O sr. acha que o aumento do salário mínimo foi excessivo?

Armínio: Acho os salários no Brasil ridiculamente baixos porque o Brasil é um povo pouco educado e pouco produtivo. Por isso é que os salários aqui correspondem a 20% dos salários dos países ricos. Há algumas áreas que ganham salários parecidos, mas o salário médio aqui é muito baixo porque somos um país pobre. E por que somos pobres? Porque o país não está crescendo. O salário tem que guardar alguma relação com a produtividade. Isso está nas atas do Copom e nas melhores cabeças que estão no governo. O país não está crescendo, caia na real! Qualquer coisa que eu diga vão interpretar como arrocho enquanto o arrocho já está aí, está sendo feito pela inflação.

Valor: Comenta-se no mercado financeiro que um número crescente de brasileiros está remetendo dinheiro para fora do país. O sr vê esse movimento?

Armínio: O brasileiro gosta do seu país, gosta de morar aqui, de investir aqui. Mas o grau de incerteza hoje é tal que as pessoas estão pensando em investir fora do Brasil, estão pensando até em sair do Brasil. Há um medo que vai além da economia, é medo político também. Há uma sensação de medo que as pessoas não têm coragem de manifestar abertamente. Medo de uma atitude contra a liberdade de imprensa, contra a democracia.

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Proibicao de importacao de publicacoes estrangeiras: ABC e SBPC pedem retirada de projeto

A Academia Brasileira de Ciências e a SBPC enviaram carta ao deputado Vicentinho contra o seu famigerado projeto protecionista e obscurantista. Do site da ABC:

SBPC e ABC se manifestam contra projeto que proíbe órgãos públicos de comprar publicações estrangeiras

ABC, 11/06/2014
No último dia 9, a SBPC e ABC enviaram carta ao deputado Vicentinho (PT-SP) protestando contra o Projeto de Lei 7299/2014, de autoria do deputado, que proíbe a aquisição de publicações gráficas de procedência estrangeira pelos órgãos públicos das esferas federal, estaduais e municipais, para utilização de qualquer espécie e natureza da administração pública. Diante das críticas sobretudo da comunidade científica, ontem (10/06) o projeto foi retirado da Câmara dos Deputados.
Na carta, as entidades ressaltaram que têm atuado para promover o desenvolvimento científico e tecnológico no País, de modo a aumentar a produtividade e a qualidade da ciência brasileira com impacto no bem estar social. Segundo o documento enviado ao deputado, no mundo globalizado a geração de conhecimento é cada vez mais internacionalizada.

Leiam a carta compketa neste link:

Heranca maldita dos companheiros: a febre do Haiti

Não precisava, mas faz parte da lei das consequências involuntárias.
Paulo Roberto de Almeida 

A febre que vem do Haiti

IstoÉ, 16/06/2014


Militares que voltaram do país caribenho com a infecção viral reacendem o temor de que a doença se espalhe no Brasil
Na semana passada, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou seis casos de infecção pelo vírus CHIVK, causador da febre conhecida por chikungunya. Os testes foram realizados pelo laboratório do Instituto Adolfo Lutz. Os pacientes são soldados brasileiros que regressaram de uma missão de paz no Haiti, onde há um surto da doença.
Não é a primeira vez que a chikungunya é detectada no Brasil. Em 2010, houve dois casos em São Paulo e um no Rio. Todos contraíram a doença em outros países. Atualmente, o vírus se alastra também pela Ásia e África. Foram registrados episódios na Guiana Francesa, no Canadá e até agora 25 casos na Flórida (EUA).
Transmitida pelos mesmos mosquitos que disseminam a dengue, o Aedes aegypti e o Aedes albopictus, a chikungunya provoca sintomas parecidos: febre alta, dores articulares e de cabeça, náusea, inchaço e manchas vermelhas na pele. O mal-estar dura de três a dez dias e sua letalidade, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, é menor do que a da dengue. O aspecto positivo é que não existe uma forma hemorrágica da doença, considerada a mais perigosa. Mas as fortes dores articulares dessa febre podem persistir por meses ou anos.
Para o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcellos, a presença da doença no País é iminente. "O Brasil possui as condições ideais: uma ocupação urbana caótica, cidades com grande quantidade de mosquitos da dengue e estrangeiros chegando todos os dias de regiões de risco", diz o médico. Basta que um mosquito Aedes pique uma pessoa infectada para adquirir o micro-organismo e iniciar a transmissão. "Porém há tempo de reduzir o impacto que essa doença terá se ocorrer um recrudescimento das ações de combate ao mosquito", alerta Timerman.
O Ministério da Saúde informou, em nota, que a partir do aumento dos casos no Caribe, em 2013, intensificou a vigilância, iniciou o treinamento de profissionais para o atendimento na rede de saúde e a preparação de laboratórios de referência

Eleicoes 2014: sinal amarelo no Planalto (novas pesquisas eleitoraisnegativas)


Ponto Final

Octávio Costa

Sinal amarelo no Planalto
Brasil Econômico, 16/06/2014

A receita de Dilma, que deu certo em outros tempos, perdeu a eficácia. Prova disso são os baixos índices de aprovação do seu governo

Octávio Costa: ocosta@brasileconomico.com.br
Nova pesquisa de opinião saiu do forno no fim de semana e confirmou a tendência dos resultados recentes apontados pelo Ibope e pelo Datafolha. Segundo levantamento do Instituto Sensus feito para a revista IstoÉ, as intenções de voto na presidente Dilma Rousseff caíram de 34% em abril para 32,2% em junho. Em trajetória oposta, o tucano Aécio Neves subiu de 19,9% para 21,5%, enquanto o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos perdeu terreno, de 8,3% para 7,5%. Em quarto lugar, aparece o surpreendente pastor Everaldo Pereira, do PSC, com 2,3%. A margem a favor de Dilma também ficou mais estreita na hipótese de segundo turno. Ela derrotaria Aécio, mas por apenas 5,1 pontos percentuais. Teria 37,8% dos votos contra 32,7% do neto de Tancredo, que oficializou a candidatura em convenção no sábado.
O momento, de fato, não é nada bom para Dilma. Sirva de exemplo o episódio das vaias e xingamento no jogo de abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão. Por mais que tenham partido de grupos minoritários formados por gente que tem dinheiro para pagar os ingressos cobrados pela Fifa, é mais do que sabido que São Paulo hoje é ambiente hostil para a presidente. A insatisfação ali é crescente, tanto assim que Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo do Estado, está empacado com modestíssimos 3% nas pesquisas. Dilma sequer foi à festa de lançamento da candidatura de seu ex-ministro ontem, alegando que tinha de se preparar para jantar com a chanceler alemã Angela Merkel.
Comenta-se que acendeu um sinal amarelo no staff da campanha de reeleição. Ainda se acredita piamente que os 12 minutos na propaganda obrigatória na TV em horário nobre, a partir de agosto, será arma poderosa para restabelecer a zona de conforto e o favoritismo da atual ocupante do Palácio do Planalto. Mesmo com a economia fazendo água, FHC foi reeleito em 1998, e Lula também foi reconduzido, apesar do escândalo do mensalão. Com a caneta na mão, Dilma tem tudo para manter a regra. Mas há divergência sobre a pegada da campanha. Dizem que o jornalista Franklin Martins, responsável pela comunicação, defende um tom mais agressivo contra os adversários, no estilo bateu/levou. Já o experiente marqueteiro João Santana quer evitar o confronto. Ele prefere campanha mais propositiva, com ênfase nas realizações do período Lula/Dilma.
Porém, diante da tendência das pesquisas, com o paulatino crescimento de Aécio Neves, fica claro que Dilma Rousseff vai ter de mudar a estratégia atual. Apesar dos problemas na economia e na Petrobras, a presidente se mantém fiel à equipe de colaboradores. Nas peças publicitárias do governo e nos programas obrigatórios do PT, ela procura vender o peixe de sua gestão, tentando convencer a opinião pública a partir de uma agenda positiva, baseada nas grandes obras públicas e no êxito dos programas sociais. Mas essa receita, que deu certo em outros tempos, perdeu a eficácia. Prova disso são os baixos índices de aprovação do governo e o desejo de mudança cada vez mais forte.
Tudo indica que os eleitores cobram ações efetivas. Não adianta a presidente da Petrobras, Graça Foster, chorar em depoimento na CPI do Congresso. A pergunta é simples: como o ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa conseguiu acumular a fortuna de US$ 28 milhões na Suíça? Onde e como os controles da estatal falharam? Os eleitores exigem respostas. Agora.

Haiti: um Estado falido, dependente eterno da ajuda internacional? -debate em Zero Hora

O caso do Haiti não é apenas de State governance, mas de Nation building, um caso único na América Latina no qual as elites falharam, e continuam falhando, miseravelmente.
Paulo Roberto de Almeida 

No Haiti, após uma década

Zero Hora, 15/06/2014


Com saída prevista para se iniciar em 2016,missão da ONU deixa dúvidas sobre seu mérito. Chefiada pelo Brasil, é vista por uns como orgulho nacional e, por outros, como fracasso
Dez anos depois de o Conselho de Segurança da ONU ter implementado a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), em 1º de junho de 2004, poucos lembram que a iniciativa havia sido aprovada, em 30 de abril do mesmo ano, para durar seis meses.
A possibilidade de renovação existia. Mas, passados o terremoto devastador, a implacável epidemia do cólera e o agravamento da miséria, a missão completa uma década sob a polêmica entre quem vê avanços na segurança interna de um dos países mais pobres do mundo e quem critica a intromissão militar que inibiria a autonomia institucional.
A longevidade da missão, com seus 30 mil militares no período, provoca protestos de alguns haitianos. Parte deles quer tomar conta do próprio destino. Mas entre 65% e 80% da população planeja se mudar para o Brasil, conforme Ricardo Seitenfus, representante no Haiti da Organização dos Estados Americanos (OEA) entre 2009 e 2011.
Em setembro de 2011 e em maio de 2013, o senado haitiano aprovou resoluções exigindo o fim da Minustah. A ONU, porém, pretende manter as tropas no país até 2016, algo que, na definição do senador haitiano Jean-Charles Moise, equivale já a uma "ocupação", que deveria ser encerrada pela "substituição dos tanques de guerra por tratores agrícolas".
Seitenfus, que está lançando o livro Haiti: Dilemas e Fracassos Internacionais (Editora da Unijuí), define a Minustah como "uma das piores missões de paz da história".
– Foram enviados soldados para onde não havia e não há guerra. Portanto, o desafio haitiano é socioeconômico e institucional. Não há como estabilizar um país com 80% de desemprego, com 50% de analfabetismo – critica Seitenfus.
Além da situação socioeconômica e da necessidade de tomar conta do próprio destino, os haitianos se amparam em estudos para reclamar que a bactéria do cólera foi levada por militares nepaleses da Minustah.
É algo que a ONU jamais reconheceu, rejeitando indenizações. Mas não fica nisso. Haitianos relatam casos de abuso sexual e excessos na repressão por integrantes da missão. E fazem coro com Seitenfus: criticam a instituição da Minustah, sob o capítulo 7 da Carta da ONU, que sustenta o uso da força em caso de "ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão". Por que a crítica? Porque dizem não haver justificativa para a intervenção internacional, nem antes nem depois da queda do presidente esquerdista Jean-Bertrand Aristide.

Governo viu chance de ser referência regional
Seitenfus ainda vê um vício de origem. Refere-se ao acordo de 9 de julho de 2004 entre a ONU e o governo haitiano. O documento foi assinado pelo então premier, Gérard Latortue, e não pelo presidente, como previa o artigo 139 da Constituição.
Pelo Brasil, a Minustah foi vista como oportunidade. Era a chance de projetar o país como líder regional, numa missão de estabilização depois da frustração em relação à do Timor Leste, que não prosperou em razão da crise econômica de 1999. O país foi ao Haiti de olho na cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Antônio Jorge Ramalho, assessor do governo e professor de Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB), considera positiva a participação brasileira.
– O Brasil projetou sua imagem e sua bandeira. Mostrou capacidade de ação, o que é muito relevante. Conteve uma violência disseminada sem danos colaterais. Isso o coloca como um país respeitado quando se cita operações das Nações Unidas – diz.
Quando os militares brasileiros chegaram ao Haiti, a vulnerabilidade era tal que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, cogitou ser uma missão com data para começar, mas não para terminar. Hoje, mesmo reconhecendo a importância da Minustah, os analistas coincidem quanto à necessidade de criar um planejamento para deixar o país, dando a suas instituições a tão sonhada autonomia.

Entrevista com Antônio Jorge Ramalho, especialista em Relações Internacionais

Antônio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), foi diretor de cooperação do Ministério da Defesa e implantou o Centro de Estudos Brasileiros em Porto Príncipe. Vê a Minustah como positiva.

Como o senhor avalia a participação brasileira?
O Brasil deu uma contribuição positiva e projetou sua imagem. Mostrou capacidade de ação, o que é muito relevante. Conteve uma violência disseminada sem danos colaterais. Isso coloca o Brasil como um país respeitado quando se citam operações das Nações Unidas. O país deixou uma imagem de profissionalismo. Não por acaso, a ONU escolheu o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz (que, inclusive, comandou as tropas da Minustah entre 2006 e 2009) para comandar a brigada de intervenção na República Democrática do Congo, com autorização de usar a força para impor a paz. Claro que isso se deve ao bom desempenho do Brasil no Haiti.

Como será a saída?
É um fim pausado, cauteloso, com parcimônia. Há transferência para a polícia nacional do Haiti. No ano que vem, haverá eleições. O trabalho não termina. Há já uma mudança de foco, da ajuda militar de combate para a de engenharia, além de ajuda na saúde, na agricultura e outros setores. Ações vão continuar.

O que se pode esperar que ocorra no Haiti a partir da retirada da missão?
Vamos ver como o Haiti absorve essa retirada gradual, com a redução da missão internacional. Kofi Annan (ex-secretário-geral da ONU) chegou a dizer que havia ali uma tarefa para duas décadas. Por essa perspectiva, estamos, em tese, no meio do caminho. O objetivo da missão é de que haja autonomia de gestão por parte dos haitianos. Muitos dos empreendendores, dos profissionais mais capacitados, deixaram o país, naquilo que chamamos de fuga de cérebros. Trata-se de um problema e de um desafio. Tenho dúvidas sobre o real interesse da elite haitiana em promover a estabilidade do país.

Qual é o problema envolvendo a elite do Haiti?
É uma elite dividida, parte dela vive às custas da ajuda internacional. Há muito ceticismo quanto a ela, até porque é uma elite que domina o país desde a ditadura de Duvalier (François Duvalier, conhecido como Papa Doc, apoiado pelos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, instaurou uma ditadura feroz, sendo substituído pelo filho, Jean-Claude Duvalier – o Baby Doc). É possível que a saída da missão brasileira ocorra gradualmente a partir de 2016, mas precisávamos já ter um plano de saída claro, porque se trata de um trabalho continuado.

Entrevista com Ricardo Seitenfus, especialista em Relações Internacionais

Ricardo Seitenfus, doutor em Relações Internacionais e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), representou a Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti entre 2009 e 2011. É um crítico da Minustah.

Como o senhor vê a perspectiva de saída em 2016?
O desenvolvimento do Haiti tem de ser feito pelos haitianos. Ser solidário não é substituir, é acompanhar. É bom que se acene com a restauração da soberania haitiana e se ponha termo à presença militar estrangeira da Minustah. Deve-se respeitar a autodeterminação do povo e do Estado haitiano com o processo de apropriação de seu país.

Quando deve ser a retirada?
Discutíamos um modelo de saída quando o terremoto de 12 de janeiro de 2010 jogou o debate para as calendas gregas. Agora se retorna a ele, felizmente. Mais do que uma data-limite, o que importa são as condições da saída, como sair. O desafio haitiano é socioeconômico e institucional. Não há como estabilizar um país com 80% de desemprego e com um Estado que é muito mais uma ficção do que uma realidade. É importante a ONU deixar o Haiti. O país precisa ter tempo para construir a democracia deles. Querem democracia perfeita em um país onde há 50% de analfabetismo?

Como o senhor vê a missão?
A missão no Haiti é uma das piores missões de paz da história da ONU. Se saírem em 2016, deixarão um país pior do que encontraram em 2004. Saí do Haiti porque me opunha à intervenção na política interna do país, me desentendi por causa disso. Até o cólera foi levado para lá. Essa intervenção foi triste e pesarosa. Nada melhorou.

O que o Brasil deve fazer?
Deve liderar o debate com seus parceiros por uma solução rápida. Se isso não ocorrer, o Brasil deve renunciar ao comando da Minustah e retirar seu contingente. Cada dia que passa nos desgasta mais. Gasta-se um capital imenso de reconhecimento e respeitabilidade.

O que deve fazer o Haiti?
Uma reforma constitucional, para desincompatibilizar as funções de presidente e primeiro-ministro (nomeado pelo presidente). O presidente acaba precisando de uma maioria parlamentar, e o parlamento considera o premier um contrapoder. A ONU deve garantir um pacto de governabilidade.

Cuba-Coreia do Norte: dois regimes companheiros (e amigos doscompanheiros) - Mac Margolis

Sem comentários, pois do contrário seria cáustico para certa diplomacia..
Paulo Roberto de Almeida 

 Conexão Havana-Pyongyang

Coluna / Mac Margolis


São 12,5 mil quilômetros de Cuba à Coreia do Norte, mas as afinidades encurtam as distâncias. Regidos por dinastias em vias de extinção, os dois países também têm em comum um pacto natural de Estados párias. Foi assim em julho de 2013, quando o regime de Raúl Castro resolveu ajudar os irmãos norte-coreanos com um navio carregado de surpresas. No manifesto do cargueiro Chong Chon Gang constava apenas açúcar. Quando os fiscais no Canal do Panamá foram checar, acharam bem mais.
Debaixo de mais de 200 mil sacos de açúcar refinado cubano havia não drogas, como imaginavam, mas um arsenal para alegrar qualquer ditador: dois caças MiG desmontados, 15 motores de avião, nove mísseis e duas plataformas antiaéreas completas.
Os panamenhos apreenderam o navio, prenderam a tripulação e reportaram o contrabando à ONU, que desde 2006 veta o envio de armamentos pesados ao regime norte-coreano, que nutre sonhos nucleares. Foi o início de uma tortuosa dança diplomática, ao estilo de Pyongyang e à moda bolivariana.
Na semana passada, Cingapura apresentou queixa-crime contra uma companhia de navegação local que teria bancado a operação com um operador panamenho. Todos aguardam a decisão do Conselho de Segurança da ONU, que recebeu um relatório detalhado sobre o caso, mas ainda não determinou sanções aos dois países.
Se depender da complexa tradição da corporação, onde China e Rússia, aliadas de conveniência de Pyongyang, têm poder de veto, o resultado da maior apreensão de armas ilegais enviadas para uma das piores tiranias do planeta pode acabar em pizza habanera.
Desde cedo, vários países latino-americanos trabalharam para garantir exatamente isso. São os aliados do falecido líder venezuelano Hugo Chávez, que ergueram uma cerca companheira. Acusaram o Panamá, nação “lambe botas” dos gringos, de ingerência em assuntos entre duas nações soberanas, Cuba e Coreia do Norte.
Se não fosse criminosa, a versão seria risível. Em primeiro lugar, os cubanos jamais admitiram enviar armas, apenas açúcar. Flagrados, disseram que o material era obsoleto e se destinava à manutenção na Coreia do Norte, para depois ser devolvido. Portanto, ele estaria isento do boicote da ONU.
Balela. Segundo o comandante Belsio González, diretor do Serviço Aeronaval do Panamá, os caças russos, assim como os motores, estavam em "excelente" estado. O Panamá libertou parte da tripulação do Chong Chon Gang sob fiança de US$ 700 mil, mas ainda mantém detidos três oficiais do navio. No seu relatório anual, um painel de especialistas da ONU concluiu que é a diplomacia norte-coreana que articula envios clandestinos de armas para Pyongyang por meio de complexos artifícios financeiros. A conexão com Havana faz parte do embuste.
A ditadura asiática encobriu o rastro da operação desastrosa. Trocou seu embaixador em Havana e abafou a história. Na bizantina política norte-coreana, o diplomata era ligado ao poderoso Jang Song-thaek, inimigo mortal do novo líder supremo, Kim Jong-un. Especula-se se que ambos, Jang e o ex-embaixador, tenham sido executados.
Chama a atenção que a desventura do Chong Chon Gang começou no Porto de Mariel, cuja reforma o governo brasileiro banca para consolidar laços companheiros e dinamizar o comércio do país amigo. Ao que parece, de olhos bem fechados.

Lula e o seu vocabulario de politica externa: Eduardo Scolese e Leonencio Nossa (via Augusto Nunes)

O mundo e o Brasil foram desagradavelmente surpreendidos pelas grosserias desfechadas contra aquela que dirige o país por ocasião da abertura da Copa, em 12 de junho. De fato, xingamentos não são o melhor argumento para expressar o desagrado com alguma coisa.
Mas em matéria de ofensas, o presidente anterior era campeão, como demonstra este trecho de coluna do jornalista Augusto Nunes, transcrito do blog de Orlando Tambosi.
Esses palavrões já tinham sido tornado públicos quanda da publicação do livro, em 2005. Talvez expliquem um pouco da má vontade dos vizinhos para com o Brasil. Aliás, em matéria de palavrões, parece que eles continuam a enfeitar abundantemente o linguajar do Palácio do Planalto nos dias que correm.
Ou seja, os exemplos vêm de cima.
Como querem então?
Paulo Roberto de Almeida 

Nunca antes na política externa brasileira: ofensas em Profusão (Lula)
No ótimo Viagens com o Presidente, os jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa relatam episódios que testemunharam e histórias que colheram durante os quatro anos em que, a serviço da Folha e do Estadão, seguiram os passos do chefe de governo. Confira quatro momentos. Diferentemente do livro, que expõe com crueza o estilo do grosseirão sem cura, asteriscos fazem o papel de vogais e consoantes nos palavrões cuja publicação é vetada pelas normas do site de VEJA:

VIZINHOS NA MIRA
O fato se dá em Tóquio, no Japão, no final de maio de 2005. Uma dose caprichada de uísque com gelo e, antes mesmo do inicio do jantar, Lula manda servir o segundo, o terceiro e o quarto copos. Visivelmente alterado:
— Tem horas, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a p*** que o pariu. É verdade. Eu tenho mesmo – afirma, aos gritos. — A verdade é que nós temos que ter saco para aturar a Argentina. E o Jorge Battle, do Uruguai? Aquele lá não é uruguaio po*** nenhuma. Foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos. O Chile é uma m****. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se fo** por aqui. Eles estão cag***do para nós. (págs 270 e 271)

EXAME DE PRÓSTATA
Numa audiência com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, na época em que o governo começa a discutir a transposição de parte das águas do Francisco, o Presidente ouve opiniões contrárias dela e dos técnicos:
— Marina, essa coisa de Meio Ambiente é igual a um exame de próstata. Não dá para ficar virgem toda a vida. Uma hora eles vão ter que enfiar o dedo no ** da gente. Companheira, se é para enfiar, é melhor enfiar logo. (Pág 71).

MARCO AURÉLIO GARCIA
Antes de uma cerimônia no palácio, Lula se aproxima do assessor para assuntos internacionais, o professor Marco Aurélio Garcia, e diz:
— Marco Aurélio, eu já mandei você tomar no ** hoje?
O professor sorri. (Pág. 71).

ORADOR EXIGENTE
Na suíte do hotel, recebe das mãos de assessores discurso sobre combate mundial à fome. Diante do ministro Celso Amorim e dos auxiliares do Planalto e do Itamaraty, folheia rapidamente a papelada e arremessa a metros de distância:
— Enfiem no ** esse discurso, c****ho. Não é isso que eu quero, po***. Eu não vou ler essa m****. Vai todo mundo tomar no** Mudem isso, rápido. (Pág. 249). 

Esses exemplos bastam para exibir a nudez do reizinho. Inquieto com as rachaduras no poste que instalou no Planalto, o presidente honorário do grande clube dos cafajestes tenta impedir o desabamento fantasiado de doutor honoris causa em boas maneiras. Haja cinismo.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...