Que gracinha: os russos não gostam do nome, e querem ampliar o grupo, para algo bem maior.
Que tal "Bric-à-Brac"?
Paulo Roberto de Almeida
BRICS
Rússia pede ampliação do Brics e novo nome
Em Moscou, diplomatas veem adesão de novos membros em até 2 anos
POR BLOOMBERG NEWS, 20/05/2015
Aceitar a África do Sul foi a parte fácil. O Brics, clube dos mercados emergentes que deve sua existência ao então economista do Goldman Sachs Group Inc. que cunhou a sigla para designar o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China, busca uma expansão maior. E qualquer ideia para rebatizá-lo é bem-vinda, ao menos para os russos.
— Pode levar um ano ou dois, mas este é um processo absolutamente inevitável. Muitos países querem entrar no grupo, grandes economias em desenvolvimento — afirmou Vadim Lukov, vice-representante da Rússia no bloco.
A Rússia receberá, em julho, a sexta cúpula anual da organização, cuja importância é crescente em Moscou num momento em que o presidente Vladimir Putin trava a maior batalha contra os Estados Unidos e a Europa desde a Guerra Fria devido ao conflito na Ucrânia, que já dura um ano.
Na cúpula do ano passado, no Brasil, o Brics chegou a um acordo para criar um banco de desenvolvimento com US$ 50 bilhões para rivalizar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, além de criar uma reserva cambial de US$ 100 bilhões. A Rússia está promovendo a criação de uma rede de rating do Brics para contrabalançar os relatórios de crédito das americanas Standard and Poor’s e Moody’s Investors Service, segundo Lukov “escancaradamente politizados”, e também uma associação energética.
BANCO COM US$ 50 BI
O Brics evoluiu em relação ao termo cunhado para os quatro membros originais em 2001 pelo então economista do Goldman Sachs, Jim O’Neill, para descrever o peso crescente dos maiores mercados emergentes na economia global. Em 2011, a África do Sul se juntou ao clube para dar uma representação geográfica mais ampla ao Brics — mas embora atualmente haja uma moratória para a admissão de novos membros, a melhor hora de pensar na expansão será quando as novas estruturas financeiras estiverem em operação, avaliou Lukov. Segundo ele, o banco de desenvolvimento tem um capital separado de US$ 50 bilhões para alocar e está disposto a admitir qualquer país que compartilhe os valores do Brics.
A Grécia poderia ser um deles. A possível entrada do membro da União Europeia no banco do Brics está em discussão, mas isso não ocorreria antes da cúpula de julho, disse à agência RIA Novosti o vice-ministro das Finanças russo, Sergei Storchak.
Como ficaria o nome da organização com novos membros?
— Vou pensar a respeito. Pense você também — sugeriu Lukov.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Programa nuclear iraniano: acordo atual melhor do que o de 2010 com o Brasil, diz iraniano
Se é um iraniano quem diz, deve ser verdade.
Então, toda aquela conversa em torno das maravilhas do acordo tripartite de 2010 não parece condizer com a realidade das coisas.
Pior para a realidade, não é mesmo?
Mas o principal autor do acordo de 2010 defende a sua versão, mais abaixo...
Paulo Roberto de Almeida
Acordo com potências é melhor do que o acertado com Brasil, diz iraniano
Entrevista: Mohammad Ali Ghanezadeh
Folha de S. Paulo, 20/05/2015
O embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, acompanha as negociações sobre o programa nuclear de seu país com as potências mundiais com uma certeza: as condições agora são "muito melhores" para Teerã do que as acertadas em 2010 na negociação entre Irã, Brasil e Turquia.
"O primeiro acordo era mais positivo para os países ocidentais", disse em entrevista à Folha.
O diplomata, que trata a necessidade de transferência de urânio para um outro país como algo já fora do texto a ser finalizado pelo Irã e o P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) até 30 de junho, diz ser essa a grande vantagem das novas negociações.
"Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo", disse. "Agora manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor", afirmou. Para ele, não há nada que possa ser aproveitado do Acordo de Teerã (2010) no novo texto.
Folha - O Congresso dos EUA aprovou uma lei que permite aos parlamentares revisar o possível acordo entre Teerã e as potências ocidentais sobre o programa nuclear do Irã. Isso gera uma desconfiança sobre o compromisso americano?
Mohammad Ali Ghanezadeh - Em nossas negociações na Suíça, chegamos a um entendimento geral com o P5+1, que é a base deste acordo que será preparado. Conforme esse entendimento, estamos avançando. Se houver alguma mudança, isso vai ser um problema [interno] dos EUA e eles terão que chegar a uma solução.
Apesar da desconfiança histórica que o Irã tem em relação aos EUA, mais uma vez estamos experimentando para ver até onde pode chegar a confiança.
O objetivo da delegação iraniana é seriamente alcançar um acordo. Se a negociação não chegar ao final, será culpa dos EUA.
Do que o Irã não abre mão para fechar o acordo?
Para os iranianos, o importante é o reconhecimento do direito do Irã de ter tecnologia nuclear para fins pacíficos. E também é fundamental que o país continue suas pesquisas na área de ciência e tecnologia.
O texto final do acordo com as potências tem que ser fechado até 30 de junho. É possível aproveitar algo do que foi acertado por Brasil, Irã e Turquia na Declaração de Teerã, de 2010?
Não. O primeiro acordo, entre Irã, Brasil e Turquia, era mais positivo para os países ocidentais do que para os iranianos. Agora, as condições mudaram.
O acordo negociado agora é mais positivo para o Irã que o de 2010?
Sim. Esse acordo é muito positivo. Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo. Agora [se o acordo for fechado] manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor.
O Brasil poderia ajudar nas negociações com as potências?
O Irã não fez pedido a nenhum país, mas o país que quiser ajudar é bem-vindo.
O que significaria para o Irã a retirada de sanções?
Apesar de 36 anos de embargo, continuamos avançando na área de tecnologia nuclear. Desenvolvemos um satélite e colocamos ele em órbita –inclusive com um ser vivo.
É claro que [o fim das sanções] iria aumentar a velocidade de avanço iraniano na área de pesquisa e tecnologia. Mas também, retirando as sanções, os outros países terão uma oportunidade de aproveitar um mercado de 80 milhões de pessoas. Será bom para as duas partes.
O regime não teme uma abertura maior ao Ocidente?
O que a cultura ocidental poderia trazer que deixasse os iranianos preocupados? Acreditamos que o Irã é o único país democrático no Oriente Médio e, em 36 anos, tivemos 34 eleições livres [contando pleitos parlamentares e regionais]. As mulheres têm atividades em todas as áreas, 63% dos estudantes universitários são mulheres. A porcentagem de deputadas na Câmara iraniana, em relação à população, é muito maior que na Câmara dos Deputados do Brasil.
O Irã não é como alguns países do Oriente Médio onde as mulheres não têm direito nem de dirigir. Se essa influência chegasse para a Arábia Saudita, poderia gerar temor. Não no Irã.
O presidente do Iêmen, Abd Rabbo Mansour Hadi, acusa o Irã de apoiar os houthis contra seu governo. Para Teerã, esse governo não é legítimo?
É trabalho dos iemenitas reconhecer um governo ou tirá-lo do poder, não de outros. Mas um terço da população não está reconhecendo.
Os houthis são um terço da população do Iêmen e eles têm direitos. A Arábia Saudita, ao invés de contribuir para o reconhecimento do direito deles, os atacou. Não quis reconhecer as realidades da sociedade iemenita.
Acreditamos que esses problemas devem ser solucionados pela população do Iêmen. Somos contra a intervenção de qualquer país. O Irã não tem nenhuma força militar nem consultiva no território iemenita.
Nós temos muita preocupação do ponto de vista humanitário. Desejamos que essa guerra acabe o mais rápido possível. Pensamos que a polarização no Iêmen é um perigo e queremos a unidade desse território.
O conflito do Iêmen pode alcançar uma escala regional?
Não acho que chegará a se tornar um conflito regional. O ataque da Arábia Saudita ao Iêmen é um erro estratégico, e as consequências só trazem prejuízo para os sauditas. Primeiro, porque aumentou o perigo de ação extremista dentro da Arábia Saudita, ao dar mais espaço para grupos ativos no Iêmen, como a Al Qaeda.
Além disso, a fronteira deles não estava em perigo antes, porque os houthis tinham enviado uma mensagem de que a fronteira estava segura. Agora há um risco.
Há uma chance de cooperação direta do Irã com a coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico no Iraque?
O problema do EI é uma produção desses países ocidentais, inclusive dos EUA, por isso eles não estão lutando seriamente contra a facção. Alguns países ocidentais e aliados dos ocidentais fornecem equipamentos e armas para o EI, por isso não nos juntamos à essa coalizão.
Mas como o Irã acredita que o EI é um perigo para o mundo islâmico e para o Irã, está lutando junto com o Iraque contra ele.
Com base em que o sr. diz que os EUA apoiam o EI?
Todos sabem que os americanos forneceriam equipamentos e armas aos curdos que lutam contra o EI, mas, de helicóptero, eles jogaram esse material justamente em locais onde está ativo o EI. Essas são informações da nossa inteligência.Além disso, os EUA dizem que eles são o país com maior poderio bélico, então como não conseguiram lutar contra um grupo?
Qual seria o interesse dos EUA em ajudar o EI?
Eles têm dois objetivos. Um é dar oportunidade para que extremistas que vivem em seus países migrem para [a Síria e o Iraque para] se unir ao EI e morram ali, tornando sua comunidade mais segura.
A outra razão é enfraquecer os países islâmicos para proteger a segurança de Israel. E os países islâmicos estão mais fracos.
Mas o EI não é uma ameaça também aos EUA?
Sim, mas eles não querem acreditar. Eles criaram a Al Qaeda no Afeganistão e deram a eles armas avançadas para lutar contra os russos [na década de 80]. A América não pensou que, um dia, eles poderiam se voltar contra os EUA, mas depois vimos o 11 de Setembro.
Como o Irã vê a abstenção do Brasil na votação na ONU sobre violações de direitos humanos no Irã?
A relação entre Brasil e Irã já tem 120 anos e nunca temos uma única mancha nela. Esse foi um movimento positivo, se comparado com votos anteriores, e nós agradecemos e saudamos. O Brasil tem ficado cada vez mais por dentro dos avanços dos direitos humanos no Irã e das medidas que temos tomados.
O governo brasileiro chegou a um entendimento que direitos humanos e democracia não são um projeto, mas um processo. O Brasil começou a entender mais a realidade da sociedade do Irã, deu um passo à frente baseado em fatos, e não em política.
E sobre a relação comercial entre os dois países? Ela teve uma queda no governo Dilma.
No início do governo Lula, nosso volume de comércio era de US$ 500 milhões [balança em 2002], e por causa da interação entre os dois governos, atingiu US$ 2,4 bilhões em 2011. Desde então, começou a cair. Em 2013, as trocas foram de US$ 1,6 bilhão.
O Brasil não tem usado as oportunidades que existem no Irã. No lado iraniano, estamos abertos e prontos para aumentar sem limitações.
O interessante é que essa relação é favorável ao Brasil. Dos US$ 1,6 bilhão, só 8 milhões foi de exportações iranianas para o Brasil. E esse mercado não usado pelo Brasil tem sido aproveitado por outros: China, Índia e até Austrália. Você não vai acreditar, mas no último ano, a nossa relação comercial com a América aumentou 30%, enquanto com o Brasil diminuiu.
Mas não acho que [a queda] seja uma questão política. Ela depende de alguns fatores, e um deles é a crise econômica mundial.
O jornalista americano-iraniano Jason Rezaian, do "The Washington Post", está detido desde julho passado e só no último mês foram apresentadas acusações contra ele –entre elas, espionagem. Diante de uma aproximação no diálogo com os EUA, não seria a hora de considerar sua libertação?
Ele foi preso por razões de segurança. A CIA e outros órgãos de inteligência nos EUA pediram que ele coletasse informações no Irã. Ele mesmo admitiu isso. Então ele não foi preso como jornalista. O caso está na Corte e eles estão avaliando [o caso] com base nas informações que eles têm. A decisão final sobre o seu destino é da Corte.
Não devemos ligar esse caso à questão nuclear. Os EUA também prenderam mais de 30 iranianos por causa de sanções e diferentes crimes, com diferentes acusações.
=============
IRÃ
Amorim contesta fala de embaixador do Irã sobre acordo mediado por Brasil
Isabel Fleck
Folha de S. Paulo, 20/05/2015
Em sabatina na Folha na manhã desta terça (19), o ex-chanceler Celso Amorim disse estranhar as declarações do embaixador iraniano no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, de que o acordo negociado com as potências agora é mais positivo para Teerã do que o acertado entre Brasil, Turquia e Irã em 2010, quando ele era ministro.
"É curioso porque as críticas que sempre foram feitas à Declaração de Teerã foi de que ela era insuficiente do ponto de vista do Ocidente, e agora o embaixador vem e diz que [a de agora] é melhor [para o Irã]", disse Amorim.
"Mesmo admitindo que pode haver ganhos para os dois lados, se eu tivesse que lidar com a opinião pública americana, eu ficaria preocupado com a declaração de que, depois de anos, os EUA negociam um acordo que é mais favorável ao declarado adversário do que o que havia sido negociado pelo Brasil e pela Turquia, e que os EUA rejeitaram."
Amorim reconhece que o acordo atual —que está sendo discutido entre o Irã o chamado P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha)— é mais amplo que o de 2010, que era mais "um gesto unilateral do Irã para ganhar confiança e possivelmente evitar que medidas fossem tomadas no Conselho de Segurança".
"É até possível que, do ponto de vista do Irã, que estaria, por exemplo, prevendo uma eliminação mais rápida das sanções, esse acordo possa ser mais favorável para eles", disse.
Para o ex-chanceler, que trata das negociações de 2010 em seu novo livro, "Teerã, Ramalá e Doha —memórias da política externa ativa e altiva", também chama a atenção o fato de os EUA negociarem um acordo agora, quando o Irã possui 10 toneladas de urânio levemente enriquecido.
"Naquela época, o Irã tinha 2.000 quilos, e uma das razões apontadas pela então secretária de Estado [Hillary Clinton] para não aceitar aquele acordo, contrariando o que o próprio presidente dos EUA havia sugerido, era o fato de o Irã ter aumentado de 1.200 para 2.000 quilos. Agora são 10.000", ressaltou.
"Evidentemente, com 10.000 quilos você está muito mais próximo de ter um pequenino arsenal do que com 2.000", disse.
Segundo Amorim, Hillary "sempre se revelou mais cética" da possibilidade de um acordo com o Irã do que o presidente Obama. "Também não se pode supor que ela não concordava, senão teria pedido demissão", afirmou. "Acho que os fatores eram complexos."
Ele revelou ter ouvido, depois, que nas três semanas que separaram o envio de uma carta por Obama a Lula e ao então premiê turco Recep Tayyip Erdogan respaldando as negociações e a divulgação da Declaração de Teerã, em 2010, Hillary teria assumido "compromissos com o Congresso norte-americano para que não adotasse sanções unilaterais e esperasse que ela conseguisse sanções do Conselho de Segurança da ONU".
OBAMISTA
Amorim contou ter escrito uma carta ao editor da "Foreign Policy", David Rothkopf, depois que este publicou um artigo no qual sugere que as negociações com o Irã serão o maior legado do governo Obama.
"Não me contive. Disse a ele: 'Primeiro, Cuba, depois, o Irã. Engajamento no lugar de confrontação. A política externa norte-americana está cada vez mais parecida com a brasileira'. Ele concordou comigo", contou Amorim, rindo. "Nesse ponto, sou Obamista", completou o ex-chanceler.
Apesar disso, ele revela que a relação do Brasil com os EUA durante o governo de George W. Bush era mais "direta".
"Nós tivemos muitas discordâncias, muito óbvias, desde o início do governo. (...) Mas a relação com o Bush era mais direta", disse. "A impressão que eu tinha nas conversas com o presidente Obama é que ele não dava atenção muito real ao que estava sendo dito. Ele [nos] tratava bem, mas eu discernia um certo paternalismo."
PROTAGONISMO
Amorim rejeitou a ideia de que o Brasil tenha deixado de ser um importante ator no cenário internacional nos quatro anos de governo Dilma Rousseff.
"O Brasil não caiu do mapa do mundo. O Brasil está presente no mapa do mundo, é sempre lembrado para funções, mas eu diria que os momentos variam", afirmou, citando que um dos principais programas de estudo em relações exteriores da Universidade Harvard inclui o Brasil na disciplina que estuda a política externa das potências.
"Tenho a certeza de que, no médio e longo prazo, a curva [da política externa brasileira] é ascendente. Pode haver momentos em que, por uma necessidade ou outra, certos aspectos recebam menor ou maior ênfase", disse.
Então, toda aquela conversa em torno das maravilhas do acordo tripartite de 2010 não parece condizer com a realidade das coisas.
Pior para a realidade, não é mesmo?
Mas o principal autor do acordo de 2010 defende a sua versão, mais abaixo...
Paulo Roberto de Almeida
Acordo com potências é melhor do que o acertado com Brasil, diz iraniano
Entrevista: Mohammad Ali Ghanezadeh
Folha de S. Paulo, 20/05/2015
O embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, acompanha as negociações sobre o programa nuclear de seu país com as potências mundiais com uma certeza: as condições agora são "muito melhores" para Teerã do que as acertadas em 2010 na negociação entre Irã, Brasil e Turquia.
"O primeiro acordo era mais positivo para os países ocidentais", disse em entrevista à Folha.
O diplomata, que trata a necessidade de transferência de urânio para um outro país como algo já fora do texto a ser finalizado pelo Irã e o P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) até 30 de junho, diz ser essa a grande vantagem das novas negociações.
"Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo", disse. "Agora manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor", afirmou. Para ele, não há nada que possa ser aproveitado do Acordo de Teerã (2010) no novo texto.
Folha - O Congresso dos EUA aprovou uma lei que permite aos parlamentares revisar o possível acordo entre Teerã e as potências ocidentais sobre o programa nuclear do Irã. Isso gera uma desconfiança sobre o compromisso americano?
Mohammad Ali Ghanezadeh - Em nossas negociações na Suíça, chegamos a um entendimento geral com o P5+1, que é a base deste acordo que será preparado. Conforme esse entendimento, estamos avançando. Se houver alguma mudança, isso vai ser um problema [interno] dos EUA e eles terão que chegar a uma solução.
Apesar da desconfiança histórica que o Irã tem em relação aos EUA, mais uma vez estamos experimentando para ver até onde pode chegar a confiança.
O objetivo da delegação iraniana é seriamente alcançar um acordo. Se a negociação não chegar ao final, será culpa dos EUA.
Do que o Irã não abre mão para fechar o acordo?
Para os iranianos, o importante é o reconhecimento do direito do Irã de ter tecnologia nuclear para fins pacíficos. E também é fundamental que o país continue suas pesquisas na área de ciência e tecnologia.
O texto final do acordo com as potências tem que ser fechado até 30 de junho. É possível aproveitar algo do que foi acertado por Brasil, Irã e Turquia na Declaração de Teerã, de 2010?
Não. O primeiro acordo, entre Irã, Brasil e Turquia, era mais positivo para os países ocidentais do que para os iranianos. Agora, as condições mudaram.
O acordo negociado agora é mais positivo para o Irã que o de 2010?
Sim. Esse acordo é muito positivo. Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo. Agora [se o acordo for fechado] manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor.
O Brasil poderia ajudar nas negociações com as potências?
O Irã não fez pedido a nenhum país, mas o país que quiser ajudar é bem-vindo.
O que significaria para o Irã a retirada de sanções?
Apesar de 36 anos de embargo, continuamos avançando na área de tecnologia nuclear. Desenvolvemos um satélite e colocamos ele em órbita –inclusive com um ser vivo.
É claro que [o fim das sanções] iria aumentar a velocidade de avanço iraniano na área de pesquisa e tecnologia. Mas também, retirando as sanções, os outros países terão uma oportunidade de aproveitar um mercado de 80 milhões de pessoas. Será bom para as duas partes.
O regime não teme uma abertura maior ao Ocidente?
O que a cultura ocidental poderia trazer que deixasse os iranianos preocupados? Acreditamos que o Irã é o único país democrático no Oriente Médio e, em 36 anos, tivemos 34 eleições livres [contando pleitos parlamentares e regionais]. As mulheres têm atividades em todas as áreas, 63% dos estudantes universitários são mulheres. A porcentagem de deputadas na Câmara iraniana, em relação à população, é muito maior que na Câmara dos Deputados do Brasil.
O Irã não é como alguns países do Oriente Médio onde as mulheres não têm direito nem de dirigir. Se essa influência chegasse para a Arábia Saudita, poderia gerar temor. Não no Irã.
O presidente do Iêmen, Abd Rabbo Mansour Hadi, acusa o Irã de apoiar os houthis contra seu governo. Para Teerã, esse governo não é legítimo?
É trabalho dos iemenitas reconhecer um governo ou tirá-lo do poder, não de outros. Mas um terço da população não está reconhecendo.
Os houthis são um terço da população do Iêmen e eles têm direitos. A Arábia Saudita, ao invés de contribuir para o reconhecimento do direito deles, os atacou. Não quis reconhecer as realidades da sociedade iemenita.
Acreditamos que esses problemas devem ser solucionados pela população do Iêmen. Somos contra a intervenção de qualquer país. O Irã não tem nenhuma força militar nem consultiva no território iemenita.
Nós temos muita preocupação do ponto de vista humanitário. Desejamos que essa guerra acabe o mais rápido possível. Pensamos que a polarização no Iêmen é um perigo e queremos a unidade desse território.
O conflito do Iêmen pode alcançar uma escala regional?
Não acho que chegará a se tornar um conflito regional. O ataque da Arábia Saudita ao Iêmen é um erro estratégico, e as consequências só trazem prejuízo para os sauditas. Primeiro, porque aumentou o perigo de ação extremista dentro da Arábia Saudita, ao dar mais espaço para grupos ativos no Iêmen, como a Al Qaeda.
Além disso, a fronteira deles não estava em perigo antes, porque os houthis tinham enviado uma mensagem de que a fronteira estava segura. Agora há um risco.
Há uma chance de cooperação direta do Irã com a coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico no Iraque?
O problema do EI é uma produção desses países ocidentais, inclusive dos EUA, por isso eles não estão lutando seriamente contra a facção. Alguns países ocidentais e aliados dos ocidentais fornecem equipamentos e armas para o EI, por isso não nos juntamos à essa coalizão.
Mas como o Irã acredita que o EI é um perigo para o mundo islâmico e para o Irã, está lutando junto com o Iraque contra ele.
Com base em que o sr. diz que os EUA apoiam o EI?
Todos sabem que os americanos forneceriam equipamentos e armas aos curdos que lutam contra o EI, mas, de helicóptero, eles jogaram esse material justamente em locais onde está ativo o EI. Essas são informações da nossa inteligência.Além disso, os EUA dizem que eles são o país com maior poderio bélico, então como não conseguiram lutar contra um grupo?
Qual seria o interesse dos EUA em ajudar o EI?
Eles têm dois objetivos. Um é dar oportunidade para que extremistas que vivem em seus países migrem para [a Síria e o Iraque para] se unir ao EI e morram ali, tornando sua comunidade mais segura.
A outra razão é enfraquecer os países islâmicos para proteger a segurança de Israel. E os países islâmicos estão mais fracos.
Mas o EI não é uma ameaça também aos EUA?
Sim, mas eles não querem acreditar. Eles criaram a Al Qaeda no Afeganistão e deram a eles armas avançadas para lutar contra os russos [na década de 80]. A América não pensou que, um dia, eles poderiam se voltar contra os EUA, mas depois vimos o 11 de Setembro.
Como o Irã vê a abstenção do Brasil na votação na ONU sobre violações de direitos humanos no Irã?
A relação entre Brasil e Irã já tem 120 anos e nunca temos uma única mancha nela. Esse foi um movimento positivo, se comparado com votos anteriores, e nós agradecemos e saudamos. O Brasil tem ficado cada vez mais por dentro dos avanços dos direitos humanos no Irã e das medidas que temos tomados.
O governo brasileiro chegou a um entendimento que direitos humanos e democracia não são um projeto, mas um processo. O Brasil começou a entender mais a realidade da sociedade do Irã, deu um passo à frente baseado em fatos, e não em política.
E sobre a relação comercial entre os dois países? Ela teve uma queda no governo Dilma.
No início do governo Lula, nosso volume de comércio era de US$ 500 milhões [balança em 2002], e por causa da interação entre os dois governos, atingiu US$ 2,4 bilhões em 2011. Desde então, começou a cair. Em 2013, as trocas foram de US$ 1,6 bilhão.
O Brasil não tem usado as oportunidades que existem no Irã. No lado iraniano, estamos abertos e prontos para aumentar sem limitações.
O interessante é que essa relação é favorável ao Brasil. Dos US$ 1,6 bilhão, só 8 milhões foi de exportações iranianas para o Brasil. E esse mercado não usado pelo Brasil tem sido aproveitado por outros: China, Índia e até Austrália. Você não vai acreditar, mas no último ano, a nossa relação comercial com a América aumentou 30%, enquanto com o Brasil diminuiu.
Mas não acho que [a queda] seja uma questão política. Ela depende de alguns fatores, e um deles é a crise econômica mundial.
O jornalista americano-iraniano Jason Rezaian, do "The Washington Post", está detido desde julho passado e só no último mês foram apresentadas acusações contra ele –entre elas, espionagem. Diante de uma aproximação no diálogo com os EUA, não seria a hora de considerar sua libertação?
Ele foi preso por razões de segurança. A CIA e outros órgãos de inteligência nos EUA pediram que ele coletasse informações no Irã. Ele mesmo admitiu isso. Então ele não foi preso como jornalista. O caso está na Corte e eles estão avaliando [o caso] com base nas informações que eles têm. A decisão final sobre o seu destino é da Corte.
Não devemos ligar esse caso à questão nuclear. Os EUA também prenderam mais de 30 iranianos por causa de sanções e diferentes crimes, com diferentes acusações.
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IRÃ
Amorim contesta fala de embaixador do Irã sobre acordo mediado por Brasil
Isabel Fleck
Folha de S. Paulo, 20/05/2015
Em sabatina na Folha na manhã desta terça (19), o ex-chanceler Celso Amorim disse estranhar as declarações do embaixador iraniano no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, de que o acordo negociado com as potências agora é mais positivo para Teerã do que o acertado entre Brasil, Turquia e Irã em 2010, quando ele era ministro.
"É curioso porque as críticas que sempre foram feitas à Declaração de Teerã foi de que ela era insuficiente do ponto de vista do Ocidente, e agora o embaixador vem e diz que [a de agora] é melhor [para o Irã]", disse Amorim.
"Mesmo admitindo que pode haver ganhos para os dois lados, se eu tivesse que lidar com a opinião pública americana, eu ficaria preocupado com a declaração de que, depois de anos, os EUA negociam um acordo que é mais favorável ao declarado adversário do que o que havia sido negociado pelo Brasil e pela Turquia, e que os EUA rejeitaram."
Amorim reconhece que o acordo atual —que está sendo discutido entre o Irã o chamado P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha)— é mais amplo que o de 2010, que era mais "um gesto unilateral do Irã para ganhar confiança e possivelmente evitar que medidas fossem tomadas no Conselho de Segurança".
"É até possível que, do ponto de vista do Irã, que estaria, por exemplo, prevendo uma eliminação mais rápida das sanções, esse acordo possa ser mais favorável para eles", disse.
Para o ex-chanceler, que trata das negociações de 2010 em seu novo livro, "Teerã, Ramalá e Doha —memórias da política externa ativa e altiva", também chama a atenção o fato de os EUA negociarem um acordo agora, quando o Irã possui 10 toneladas de urânio levemente enriquecido.
"Naquela época, o Irã tinha 2.000 quilos, e uma das razões apontadas pela então secretária de Estado [Hillary Clinton] para não aceitar aquele acordo, contrariando o que o próprio presidente dos EUA havia sugerido, era o fato de o Irã ter aumentado de 1.200 para 2.000 quilos. Agora são 10.000", ressaltou.
"Evidentemente, com 10.000 quilos você está muito mais próximo de ter um pequenino arsenal do que com 2.000", disse.
Segundo Amorim, Hillary "sempre se revelou mais cética" da possibilidade de um acordo com o Irã do que o presidente Obama. "Também não se pode supor que ela não concordava, senão teria pedido demissão", afirmou. "Acho que os fatores eram complexos."
Ele revelou ter ouvido, depois, que nas três semanas que separaram o envio de uma carta por Obama a Lula e ao então premiê turco Recep Tayyip Erdogan respaldando as negociações e a divulgação da Declaração de Teerã, em 2010, Hillary teria assumido "compromissos com o Congresso norte-americano para que não adotasse sanções unilaterais e esperasse que ela conseguisse sanções do Conselho de Segurança da ONU".
OBAMISTA
Amorim contou ter escrito uma carta ao editor da "Foreign Policy", David Rothkopf, depois que este publicou um artigo no qual sugere que as negociações com o Irã serão o maior legado do governo Obama.
"Não me contive. Disse a ele: 'Primeiro, Cuba, depois, o Irã. Engajamento no lugar de confrontação. A política externa norte-americana está cada vez mais parecida com a brasileira'. Ele concordou comigo", contou Amorim, rindo. "Nesse ponto, sou Obamista", completou o ex-chanceler.
Apesar disso, ele revela que a relação do Brasil com os EUA durante o governo de George W. Bush era mais "direta".
"Nós tivemos muitas discordâncias, muito óbvias, desde o início do governo. (...) Mas a relação com o Bush era mais direta", disse. "A impressão que eu tinha nas conversas com o presidente Obama é que ele não dava atenção muito real ao que estava sendo dito. Ele [nos] tratava bem, mas eu discernia um certo paternalismo."
PROTAGONISMO
Amorim rejeitou a ideia de que o Brasil tenha deixado de ser um importante ator no cenário internacional nos quatro anos de governo Dilma Rousseff.
"O Brasil não caiu do mapa do mundo. O Brasil está presente no mapa do mundo, é sempre lembrado para funções, mas eu diria que os momentos variam", afirmou, citando que um dos principais programas de estudo em relações exteriores da Universidade Harvard inclui o Brasil na disciplina que estuda a política externa das potências.
"Tenho a certeza de que, no médio e longo prazo, a curva [da política externa brasileira] é ascendente. Pode haver momentos em que, por uma necessidade ou outra, certos aspectos recebam menor ou maior ênfase", disse.
Da diplomacia dos antigos comparada 'a dos modernos - Paulo Roberto de Almeida
O trabalho mais recente publicado:
Mundorama (20/05/2015;
Relação de Originais n. 2822; Publicados n. 1178.
Da diplomacia dos antigos comparada à dos modernos, por Paulo Roberto de Almeida
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Sob a inspiração e com o devido copyright moral corretamente atribuído a um antecessor bem mais antigo e famoso: Benjamin Constant (De la liberté des anciens comparée à celle des modernes, discurso em 1819; disponível: http://www.panarchy.org/constant/liberte.1819.html; acesso em 21/04/2015).
Messieurs,
Eu me proponho submeter-vos algumas distinções – ainda bastante novas chez nous – entre dois gêneros de diplomacia, cujas diferenças recíprocas podem ter, hélas,
permanecido despercebidas até aqui, ou que, pelo menos, foram pouco
ressaltadas pelos ensaístas. Uma é a diplomacia tradicional, tal como
praticada pelos antigos, bastante apreciada por eles, tanto pelos
profissionais do ramo, quanto pela sociedade em geral. A outra, é esta
que estamos vendo implementada pelos modernos, e que lhes parece, a
eles, perfeitamente adequada às necessidades do país, quando, na
verdade, ela só contempla os interesses do pequeno grupo que a formulou e
que a conduz. Tal exercício de comparação, se não me engano, me parece
interessante por duas razões principais.
Primeiramente, a confusão entre as duas
espécies de diplomacia constitui entre nós, sobretudo numa época
revolucionária como esta, a causa de muitos males. O país parece ter
cansado de tantos experimentos inúteis, cujos autores, irritados pelo
pouco sucesso que tiveram nessas experiências amadoras, ainda tentam
constrangê-lo a aceitar tudo aquilo que a sociedade manifestamente não
quer. Em segundo lugar, porque o governo atual veicula uma noção de
democracia e de participação popular que está nas antípodas do que se
descobriu serem os desejos – talvez confusos – dos estratos mais
esclarecidos da sociedade, que se redescobre um poder que, até aqui, ela
acreditava não possuir. Abrem-se, portanto, perspectivas diferentes
daquelas que tivemos até há pouco, desde a ruptura entre os tempos dos
antigos e esta época dos modernos, chances talvez nunca antes percebidas
pela opinião pública mais engajada na participação cidadã.
Eu sei que se tenta confundir a exata
apreensão e a correta compreensão dessa realidade, apelando para falsos
sinais de adequação entre a diplomacia moderna e a antiga, supostamente
equivalentes, ou ainda, tomando a primeira como funcionalmente superior à
segunda, o que é obviamente falso. A própria opinião pública hesita
quanto aos caminhos e ações que devem ser tomados para realmente
conciliar o que era forte e valioso, nos tempos antigos, e o que de novo
lhe pretendem vender como sendo a sua vontade, mas que, aparentemente,
nada mais é senão o chamado ouro dos tolos, a eterna mercadoria do
populismo, envelopado na fantasia da mistificação. Vamos, portanto,
neste exercício, efetuar as distinções que se impõem entre os dois tipos
de diplomacia.
Da diplomacia dos antigos (sem qualquer demérito pela antiguidade)
Os tempos antigos, do Ancien Régime,
não eram perfeitos, como todos sabem. Depois de convulsões políticas e
sobressaltos econômicos, a nação parecia finalmente ter encontrado o
caminho da estabilização, da previsibilidade, de um futuro um pouco
menos confuso e incerto, do que aqueles que prevaleciam nos tempos da
tirania, ou mesmo durante a fase de reconstrução do regime de
liberdades, época assaz agitada pela demagogia política, pela
exacerbação das vontades, muito perturbada pelo rebaixamento excepcional
das moedas em circulação (foram várias). Ainda se teve de fazer ajustes
de meio de percurso, mas, ao fim e ao cabo dos tempos antigos, tudo
parecia ter entrado nos eixos para a retomada de um processo sustentado
de crescimento e de prosperidade. As dores da transição foram
rapidamente sanadas, tanto porque os modernos prometiam respeitar velhos
acordos e convenções já formalizadas pelos antigos, e se propunham
elevar ainda mais o novo respeito alcançado pelo país nos cenáculos
externos.
No que se refere especificamente à
diplomacia, a dos antigos sabia preservar o legado de tradições
profissionais ainda mais antigas, e estava, senão codificada, pelo menos
sistematizada num conjunto de práticas e de posturas que contemplavam
os grandes interesses da nação na frente externa, sem constituir
necessariamente uma alavanca poderosa para o seu desenvolvimento. Mas
isto se devia a que ela era efetivamente tradicional, e se apegava ainda
a velhas doutrinas que, se tinham tido sucesso em determinadas épocas,
talvez não se prestassem mais aos novos tempos de abertura econômica e
de liberalização comercial. Os diplomatas do Ancien Régime
tinham sido treinados em escolas que valorizavam antigas noções de
independência nacional e de autonomia tecnológica, de tempos nos quais
se justificava o mercantilismo e se promovia, até com orgulho, a
autarquia. No geral, contudo, eles sabiam distinguir, de modo bastante
claro, entre os interesses do Estado (e da nação) e os dos grupos
políticos que a dividiam em correntes contraditórias, passavelmente
opostas entre si.
Mais importante, talvez, não tanto quanto
aos temas e posturas, mas quanto aos procedimentos e formas de
trabalho, a diplomacia dos antigos se desenvolvia mediante processos e
métodos formalizados e rotineiros, que constituíam uma cadeia previsível
de decisões, transparente, eficiente. Seu formato era o de uma perfeita
pirâmide: na sua base estavam os trabalhadores manuais, aparentemente
assimilados aos antigos ilotas, mas perfeitamente treinados nas técnicas
e inseridos numa organização que sabia valorizar a competência primária
e a responsabilidade individual sobre dossiês adrede distribuídos pelas
áreas de competência específica. Cada uma destas era chamada a se
manifestar sobre um determinado assunto, congregando opiniões e
argumentos – todos eles rigorosamente apoiados em dados empíricos e
simulações de efeitos – que depois eram assemblados e levados à
consideração do nível superior para sua ultimação sob a forma de
instrução, prontamente transmitida a um dos muitos agentes da
instituição no exterior. Os tribunos eleitos reconheciam o valor da
organização e vários chefes do Ancien Régime se valiam dessas
competências, trazendo para trabalhar junto de si um determinado número
desses profissionais, que podiam assim se exercer diretamente no centro
de comando de decisões políticas. Aparentemente funcionou a contento de
todos.
Este era o universo dos antigos, no campo
da diplomacia; suas tarefas não eram unicamente compostas de missões
informativas ou representativas, mas também de um papel formulador e
executor da própria substância da política exterior que o soberano
pretendia implementar, sempre sob estreito aconselhamento e consultas
constantes entre os técnicos e os responsáveis últimos pelas decisões.
Plebeus e aristocratas conviviam nessa atmosfera ainda um pouco
patrimonialista, pois as regras eram conhecidas de todos, e mesmo servos
de gleba podiam aspirar, um dia, alcançar pelos seus próprios méritos
uma posição de maior realce na hierarquia disciplinada que constituía o
edifício diplomático dos antigos. Alguns membros da casta compareciam à
ágora, em algumas ocasiões, para explicar aos cidadãos as razões de tais
e tais escolhas; no mais das vezes, contudo, se tratava de um clã
bastante discreto e reservado, mesmo se alguns ousavam, por vezes,
assinar escritos explicativos ou mesmo panfletos interpretativos. Os
meios não eram especialmente abundantes, mas eram suficientes para o
correto desempenho das missões que lhes eram atribuídas, de modo claro,
direto, devidamente registradas nos anais e expedientes cuidadosamente
preservados e regularmente arquivados.
Messieurs, estou sendo, par hasard,
condescendente com a diplomacia dos antigos? Não creio, tanto porque
frequentei muito esses meios e sei do que vos falo, tanto pela minha
experiência pessoal de terreno, quanto por delongados estudos e as
muitas missões empreendidas a serviço dos barões daqueles tempos. Não
pretendo que ela fosse perfeita, longe disso, mas parece ter sido
bastante respeitada, na região e fora dela, chegando mesmo alguns
vizinhos a inventar esse provável exagero ao dizer que essa diplomacia
nunca improvisava. Não estou muito seguro disso, e creio mesmo que ela
devia improvisar de tempos em tempos, uma vez que algumas decisões
tinham de ser tomadas mesmo com escassa informação disponível, inclusive
porque o pessoal era limitado em número – a despeito de ser de
qualidade notoriamente superior à de outros serviços – e também porque a
agenda de negociações não esperava que estivéssemos totalmente prontos
para nos impor toda a sua urgência e sua grande complexidade.
Muitas vezes suávamos frios em
conferências multilaterais, quando decisões relevantes para a economia
nacional tinham de ser tomadas, mesmo na ausência de instruções precisas
da capital, ou em face de orientações lacunares e insuficientes para
adotar uma das opções sobre a mesa; nessas horas valia a experiência do
negociador, seu conhecimento dos dossiês, e algum tirocínio do que fosse
o interesse nacional, em toda a sua complexidade, livre de qualquer
amarra da política vulgar. À falta de instruções seguras da capital,
podíamos ser conservadores, mas sempre animados de propósitos legítimos:
preservar os ganhos já alcançados pelo país na economia mundial,
avaliar eventuais ganhos oferecidos pelas novas regras que se cogitava
implementar, e decidir, apoiados no melhor conhecimento de que se
dispunha, as opções apresentando as melhores vantagens comparativas,
ainda que relativas, como ensinou mestre David Ricardo. Havendo
cláusulas de exceção, ou reservas quanto a dispositivos intrusivos, se
podia fazer recurso a esse tipo de expediente de escape, ou de socorro.
Opções abertas sempre são de melhor alvitre do que obrigações muito
rígidas ou regras inderrogáveis.
Em resumo, a antiga diplomacia, ou a diplomacia dos antigos, era um mélange
de conservação e de renovação, de cautela e de ousadia, de passos bem
medidos, com poucas rupturas de continuidade, tudo meticulosamente
registrado, documentado, para iluminar a memória dos contemporâneos com
os registros do passado, e para instruir os futuros cronistas sobre os
motivos de terem sido conduzidos os assuntos em tal ou tal sentido, num
serviço tão tradicional quanto circunspecto em sua maneira de ser. Mais
importante: éramos respeitados em função do nosso saber (feito, na
verdade, bem mais de experiência adquirida) e da dedicação ao estudo dos
dossiês. Até se dizia, vejam só, que representávamos o consenso
possível em matérias sempre tão complexas quanto são os assuntos
exteriores, envolvendo soberania e, mais que tudo, a credibilidade
nacional.
Voilà Messieurs, creio ter traçado um retrato peut-être trop flatteur,
mas assaz realista da diplomacia do Ancien Régime, sem sequer precisar
abordar algum tema de substância, apenas me limitando ao seu espírito,
ao seu modo de ser, vale dizer, à sua natureza profunda. Não é preciso,
aliás, penetrar nas querelas políticas, ou nas disputas dos políticos –
sempre mutáveis e inconstantes –, para refletir sobre as características
dessa diplomacia que criou escola e deixou saudades em espíritos mais
sentimentais. Ela constituía, acima de várias outras qualidades, um modo
de ser, o resultado natural de uma longa evolução, um estilo muito
peculiar entre todos os demais serviços do Estado. E, se me permitem uma
referência literária, retirada do nosso caro Buffon, em seu discours de réception na Academia, ousaria dizer que, nessa diplomacia dos antigos, le style c’est l’homme même,
ou seja, ela era fundamentalmente uma maneira de ser, ou então, de
navegar, entre um porto e outro de todas as representações abertas ao
engenho e arte dos nossos nômades profissionais.
Messieurs, essa era a diplomacia
dos antigos, como penosamente me vem agora à mente umas poucas
lembranças, fugidias, de uma época que não parece muito perto de voltar,
uma vez que estamos reduzidos à diplomacia dos modernos, nestes tempos
não convencionais, nunca antes vistos num país tão contraditório e tão
cheio de surpresas.
Da diplomacia dos modernos (e das surpresas que ela trouxe)
O que traz a diplomacia dos modernos a
esse ambiente já vetusto, mas jamais empoeirado, que constituía a
diplomacia dos antigos num país em transformação? O que poderia ela
representar de novo para um serviço talvez enclausurado na sua
suficiência, infenso às reviravoltas do poder, mas jamais distante das
preocupações fundamentais da nação? Do que seria feita a modernidade
numa área tão sensível da ação estatal?
Aos olhos de alguns, parecia que,
finalmente, se instalava o republicanismo por entre as colunas um
tantinho aristocráticas, quase monárquicas, do Ancien Régime. A chegada
dos modernos foi cantada em prosa e verso como sendo o reencontro da
nação com suas raízes profundas, certamente mais rústicas do que os
trejeitos das elites nos ambientes acarpetados dos palácios de função. A
nação parecia prestes a resgatar certas dívidas antigas, tão antigas
quanto as oligarquias carcomidas que rapidamente foram se aliando aos
novos representantes da modernidade ensaiada, estes ainda incertos sobre
como controlar aquela máquina imensa, quase uma imensa caverna
regurgitando de tesouros insuspeitos. Lampedusa, provavelmente, saberia
encontrar as palavras certas para fazer a descrição fiel da nova
situação, e poderia escolher as boas imagens para representar os
cristãos-novos da modernidade anunciada em tons algo triunfalistas.
Não se tinha percebido ainda qual era o espírito dessa república de fachada, à la
Potemkin, com muita figuração e pouco conteúdo, muito discurso e pouca
substância, com excesso de publicidade e grau extremamente baixo de
realizações. Na verdade, se manteve, no começo pelo menos, muitas das
orientações gerais que tinham sido legadas pelo Ancien Régime,
mesmo se este era denunciado desonestamente por alguma herança que se
pretendia malfadada. Eram arroubos de aprendizes, em meio à preservação
das anteriores linhas de conduta no tocante ao que importava: o emprego,
a moeda, o valor das pequenas coisas, a credibilidade das regras
estáveis. As coisas só começaram a se complicar, realmente, do meio para
o fim, mas na diplomacia a coisa se precipitou.
A diplomacia dos antigos foi mudada desde
o início, em nome de uma suposta modernidade que hoje se considera ser
uma mera volta atrás na roda da História, um retorno a velhas concepções
que acreditávamos terem sido superadas por experiências já testadas e
desacreditadas pelos fracassos acumulados em anos e décadas de ensaios e
erros, inclusive em tentativas frustradas dos antigos. As concepções
que comandaram as mudanças já estavam sedimentadas desde longas décadas
nas mentes dos soi-disant modernos; alguns deles, aliás,
conseguiam ser ainda mais coerentemente anacrônicos: eles mantinham as
mesmas ideias desde os tempos em que o Império distribuía as cartas um
pouco em todas as partes do universo, sobretudo no hemisfério, e
pretendiam aplicá-las aos novos tempos, como se o mundo tivesse se
mantido tal qual, como se o Império fosse o mesmo, depois de quatro ou
cinco décadas de mudanças não controladas.
Os modernos pretendiam rejeitar qualquer
aliança com os representantes do Império e estabelecer uma parceria dita
estratégica com os representantes do Império do Meio, que eles
acreditavam ser os novos aliados preferenciais. Sequer se lembravam de
uma velha frase do mais famoso imperador do Oriente, segundo quem o
imperialismo era apenas um “tigre de papel”, e como tal deveria ser
tratado. Esses companheiros orientais, por falar nisso, abandonaram
antigas diatribes anti-imperialistas e trataram de usar a seu proveito,
na máxima extensão possível, as benesses do velho Império – que
continuava novo, na verdade – para negócios dos mais diversos tipos:
troca de saberes, comércio ampliado, investimentos, pirataria,
contrafação, possibilidades no campo das capacitações humanas em ciência
e tecnologia, enfim, tudo aquilo em que o Império imperialista (se nos
perdoam a redundância) continua primando pela excelência.
Totalmente ignaros quanto a essas
mudanças certamente dialéticas, os modernos inventaram uma tal de
“mudança no eixo das relações de força no mundo”, para a qual pretendiam
contar com o apoio e a ação conjunta dos companheiros orientais, mas
nisso se viram frustrados pelo pouco companheirismo e reduzida
coordenação da parte dos novos companheiros. Eles até queriam inaugurar
essa trouvaille bizarre que seria uma “nova geografia
do comércio internacional”, feita essencialmente de relações Sul-Sul,
como se esses intercâmbios tivessem de ser feitos à exclusão de todos os
demais, com os velhos parceiros do Norte, aliás bem mais providos de
mercados e de créditos do que os novos, os do Sul, recorrendo, por
vezes, a insolvências e outras práticas heterodoxas, digamos assim. Os
modernos nem se deram conta que os companheiros orientais já tinham
inaugurado, bem antes, a tal de “nova geografia do comércio
internacional”, que era feita, justamente, de suas exportações de todos
os tipos de produtos para todos os parceiros possíveis, com ênfase
especial nos mercados dos velhos imperialistas, os mais atrativos a que
podem aspirar os emergentes dinâmicos da economia mundial.
Em outra iniciativa infeliz, os modernos
se empenharam em implodir propostas dos velhos imperialistas de
liberalizar o comércio no âmbito regional, alegando que o que eles
pretendiam não era bem integração, e sim um projeto de anexação,
perverso portanto, e como tal devendo ser devidamente sabotado pelos
novos anti-imperialistas no poder. Tal foi feito, com sucesso
surpreendentemente rápido, tendo os modernos encontrado aliados
complacentes (ainda mais anti-imperialistas) no próprio continente, o
que permitiu uma implosão rápida, definitiva, sem apelo, desse projeto
imperialista. Menos feliz foi constatar que os demais possíveis
parceiros na luta anti-imperialista logo apelaram ao império para que
este negociasse tratados bilaterais de adesão, que lhes permitisse
acesso privilegiado ao mercado dos velhacos imperialistas. Ah, ces lâches, ces traîtres! Eles não percebem que estão se metendo na jaula do leão.
Inabalados por essas surpresas
desagradáveis, os modernos buscaram expulsar o império de todas as
instâncias de coordenação e consulta da região, e assim também foi
feito, com a constituição de novas entidades, exclusivamente regionais,
numa mostra de orgulho e de afirmação identitários que certamente
contaria com a plena aprovação dos próceres da independência, esses
antigos heróis da pátria continental, enfim liberta da tutela imperial e
de influências nefastas vindas de parceiros não desejados. Mais um
sucesso, igualmente, nessa nova empreitada, e assim passamos a dispor,
graças aos modernos, de entidades dedicadas exclusivamente aos
interesses regionais, mesmo se esses interesses estavam difusamente
representados nas novas estruturas para poder cumprir adequadamente o
que supostamente eram os seus objetivos: integrar todos num impulso
vital em direção de um novo tipo de desenvolvimento, autônomo, integral,
justo, igualitário, inclusivo, progressista, soberano, ativo e altivo, bref, moderno.
Não importa muito se essa modernidade se
fez em torno de velhas ideias, as tais defendidas pelos modernos,
retiradas por eles de velhos alfarrábios de outras eras, feitas de muita
intervenção estatal, de dirigismo, de protecionismo, de espaços para a
implementação de políticas setoriais de desenvolvimento nacional. Tudo
isso, ao fim e ao cabo, vai contra os objetivos da integração que se
pretende impulsionar mediante projetos grandiosos traçados nas
conferências de cúpula e nos encontros políticos. Enfim, não se pode
pretender que tudo se faça ao mesmo tempo, e que tudo aconteça como num
passe de mágica, inclusive, naquilo que funcionava antes. Existia, por
exemplo, um pequeno espaço de livre comércio, que deveria evoluir para
uma união aduaneira, e depois, de maneira otimista, para um mercado
comum, como o daqueles velhos europeus imperialistas. O fato é que essas
coisas meramente comerciais foram julgadas pouco condizentes com o novo
espírito inclusivo, progressista, dos modernos. Não houve hesitação: o
ânimo mesquinhamente comercialista que tinha presidido à assinatura dos
velhos acordos foi substituído pela nova abertura de espírito, social,
inclusivo, avançado e progressista, dos novos acordos rapidamente
concluídos, todos eles destinados a melhor defender os direitos sociais
dos trabalhadores, mesmo se o comércio – esse outro grande traidor das
melhores esperanças – insistia em diminuir perigosamente de volume e
enfrentar alguns sobressaltos imprevistos.
No terreno dos procedimentos, finalmente,
as mudanças foram sensíveis, lato senso, e muito pouco sensíveis,
estrito senso. A começar pela famosa pirâmide dos processos decisórios,
rapidamente invertida pelo esprit partisan, dito de centralismo
democrático (na verdade autoritário) dos modernos. Os ilotas
responsáveis pelo trabalho duro em cada uma das áreas e células em que
se tinha organizado a casa antiga, numa divisão social do trabalho dada
pelas competências técnicas de cada um, passaram a ser mais orientados
pela linha do comitê central, do que preferencialmente pela análise
técnica de cada assunto do dossiê; assim, todo o processo começou a
funcionar de modo estranhamente alterado, de cima para baixo, e não
segundo o curso natural das coisas, como ocorria no Ancien Régime.
De resto, como explicar decisões bizarras e tomadas de posição
inéditas, que dificilmente teriam emergido a partir do fluxo normal de
estudo dos temas, baseado na memória dos antigos e nos maços da memória
coletiva? Aliás, pergunta-se até onde, e se, algumas delas estão
devidamente registradas nos cartapácios onde antigamente se guardava
todo o itinerário anotado das instruções adotadas?
Que reste-t-il de tout cela? Une photo, vieille photo, d’une ancienne demeure?
Messieurs, o quadro que estou
traçando pode parecer exageradamente sombrio, e pouco condizente com as
novas disposições dos modernos, mas o fato é que nenhum dos objetivos
que eles mesmos se tinham fixado para sua diplomacia ativa e altiva – e
soberana, cela va sans dire – foram alcançados, e não foi por falta de empenho: não só o representante le plus en vue
dos modernos saiu pelo mundo em desabalada carreira de viagens,
visitas, convescotes e outras conferências grandiosas, como também o
assessor principal para essas coisas de soberania passou o tempo todo
indo de um aeroporto a outro, de uma capital a outra. Era preciso
proclamar os novos tempos e as intenções de mudança nas relações de
força teimosamente presentes no mundo arrogante dos velhos senhores, e
de reforma do comércio internacional, em prol da tal nova geografia.
Vous savez, Messieurs, ce qui en est résulté de tous ces projets. Enfin,
c’est le droit, pour chacun, d’influer sur l’administration du
Gouvernement, soit par la nomination de tous ou de certains
fonctionnaires, soit par des représentations, des pétitions, des
demandes, que l’autorité est plus ou moins obligée de prendre en
considération. Os modernos abusaram de todas essas prerrogativas até a exaustão, multiplicando cargos e novas agências estatais à outrance. C’est probablement par un coup de malchance que as aspirações não se materializaram; e não foi certamente por falta de presença no mundo: nenhum petit village ficou à margem da nova cartografia universal tão sabiamente desenhada pelo guia genial dos povos.
Mas, o que restou, finalmente, da
diplomacia dos modernos, comparada à dos antigos? Vejamos antes,
brevemente, em que consistia a diplomacia dos antigos, como nos
recomendaria nosso velho amigo Benjamin Constant. Ela consistia em
exercer coletivamente, mas diretamente, antigos princípios de soberania –
sem precisar ficar proclamando a sua defesa a cada instância, a cada
momento, en tout et pour tout – e a deliberar, no pleno
respeito dos processos decisórios bem experimentados, sobre todos os
acordos e os tratados de aliança e de cooperação, dos quais pleno e
integral conhecimento era dado em seguida ao corpo parlamentar da nação,
para seu debate e eventual aprovação; ela também se preocupava em dar a
devida publicidade a esses atos internacionais pelos meios disponíveis,
para que os citoyens deles tivessem consciência, sem que qualquer secret d’office fosse subtraído aos representantes da nação.
Messieurs, s’il y a un souvenir qui me poursuit sans cesse, c’est celui-ci : ele pode até parecer une vieille chanson d’automne,
mas ele se baseia nas boas qualidades da diplomacia dos antigos em
comparação com essa, supostamente “moderna”, dos modernos. Em todos os
pontos de substância, e mesmo nos de organização e métodos, em torno dos
quais as duas foram exercidas, em suas respectivas plenitudes, não
encontro modernidades efetivas na diplomacia dos modernos, só velharias,
e muitos fracassos acumulados. Alors, que reste-t-il des beaux jours das parcerias estratégicas, escolhidas entre os anti-hegemônicos, que prometiam nos conduzir aux sommets des inner circles do poder mundial, a tal de democratização das relações internacionais? Que reste-t-il
da fabulosa organização sem a tutela do império, que pretendia manter a
democracia e inaugurar uma nova era de desenvolvimento inclusivo, com
comércio ampliado entre os parceiros progressistas e novos direitos
assegurados a todo o povo trabalhador? Que reste-t-il de tout cela? Une photo, vieille photo?
O fato é, Messieurs, que a
diplomacia dos modernos falhou, miseravelmente, nas suas expectativas
mais otimistas, e até nas mais prosaicas, aquelas que dependiam da
concordância dos novos aliados e parceiros estratégicos para mudar
irreversivelmente o velho mundo dos velhacos imperialistas. Existem,
claro, novos e ambiciosos órgãos, como esses bancos de financiamento
estatal, que proliferaram como champignons après la pluie, e
que deveriam trazer novos negócios para nossos mais valentes
capitalistas. Mas a realidade é que não falta dinheiro no mundo; o que
falta, na verdade, são bons projetos para serem financiados com o
dinheiro privado dos capitalistas, sempre ávidos para colocar seus
recursos em coisas que lhes permitam retornos razoáveis.
Esta é, de fato, uma pergunta que je me fais, Messieurs:
se existe tanto dinheiro privado pelo mundo, por que fazer arranjos
financeiros oficiais em todos esses bancos estatais, por que dispersar o
dinheiro público, quando ele deveria se dirigir às nossas necessidades
realmente sociais e mais urgentes? E se uma análise de custo-benefício
indicar que não caberia realizar investimentos que tiveram uma decisão
puramente política em seu desenho e avaliação? O que fazer com tantos
capitalistas promíscuos que se aproximam dos modernos apenas para
arrancar os parcos recursos? E o que dizer dos impostos de todos os citoyens que são canalizados para projetos duvidosos no exterior, et
qui plus est, tenus dans le plus grand secret ? C’est cela une marque
de diplomatie, par hasard ? La diplomatie du secret, du cache-cache ?
J’avoue, Messieurs, que je n’ai pas de réponses à toutes ces questions. Começo a desconfiar – mas esta já era uma suposição de départ
– que a diplomacia dos ditos modernos é feita, na verdade, de
velharias, de ideias muito antigas, que se aposentaram em outras
paragens e que acabaram aportando por aqui e aqui ficando, pois
encontraram terreno fértil na cabeça de certos amadores da diplomacia,
uma tribo de exóticos e de sonhadores que ainda não atinou, hélas,
que o mundo mudou, e que eles, sem perceber, acabaram ficando
anacrônicos. E se por acaso estivéssemos todos enganados, no sentido em
que os antigos são os verdadeiros modernos, e que os tais modernos se
revelaram surpreendentemente en arrière des faits et des choses ? Voyez bien, honnêtes gens!
Pode até ser que este meu relatório de minoria, Messieurs, não sirva para muita coisa, em nossos tempos não convencionais. Mas não hesito em apresentá-lo aos senhores, na esperança (peut-être illusoire) de que seu esprit de contradiction possa convencer de ce formidable bouleversement du monde alguns céticos dispersos dans
cette ancienne demeure, riche de traditions, par trop respectable, mais
devenue – comment le dire Messieurs? – dispensable, superflue,
négligeable?
Como diriam em certas terras exóticas,
talvez bizarras: não há bem que sempre dure, não há mal que nunca se
acabe. Os anos de bonança, quando tudo parecia fácil e alcançável,
parecem aujourd’hui révolus. É tempo de pensar em revisar
certas ideias fora de lugar e fora de época; é hora de repensar os
fundamentos dessa tal de diplomacia dos modernos. Mal parafraseando os
epígonos, ela se parece com aquelas estruturas sociais desajustadas,
perdidas na transição entre dois modos de produção, e que não
conseguiram combinar muito bem as forças produtivas da nação, uma
infraestrutura pujante ainda que contida por um Estado feudal, e a
superestrutura das relações de produção, que carecem de que lhes quebrem
os grilhões que as prendem a noções antiquadas, contaminadas pela
poeira dos tempos, mesmo que pouco convencionais. L’édifice bien décoré proposé en tant que modèle et hautement chanté par les modernes ce serait-il, finalement, écroulé ?
Il est temps, Messieurs, de repartir,
alors, pour de bon. J’ai confiance que les bonnes idées prévaudront,
car ce sont elles qui sont les bonnes, même anciennes. En fait,
Messieurs, les modernes, sommes nous. Ils sont les arriérés, les âmes
candides, les décervelés. Défions-nous donc, Messieurs, de cette
admiration béate, déplacée, qu’ils entretiennent pour certaines idées
qui semblaient modernes, mais qui, en fait, ce sont des réminiscences
antiques, d’une époque complètement révolue. Libérons-nous de tout cela,
car nous ne sommes pas esclaves de concepts liés a des anciens
despotismes. La diplomatie antique, Messieurs, voilà la véritable modernité! En plus, elle défend les libertés, contre les amis des dictatures et des tyrannies.
Réjouissons-nous donc de sages
conseils de la diplomatie des anciens, car c’est elle qui nous a amené
les progrès que les civilisations réussies ont consenti à l’Humanité
toute entière. C’est elle qui nous a mené à tout ce que l’ancienne
maison de notre diplomatie a construit de bien et de durable. C’est elle
qui va nous faire revenir sur le chemin de l’avenir, car c’est elle qui
correspond le mieux à l’éducation morale des citoyens…
Nota final: o presente
texto é alegórico, no sentido mais abstrato possível, e não pretende
reproduzir nenhuma situação concreta; honni soit qui mal y pense…
Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor do Centro Universitário de Brasília – Uniceub (@pauloalmeida53).
Tratado Universal dos Deveres do Ser Humano - Simone Weil, via Aldemar Parola
Devo ao atento leitor deste blog Aldemar Parola este comentário a esta minha postagem
A Moral dos Coitadinhos - Luiz Felipe Pondé
que transcrevo por inteiro, dada sua importância e complemento ao artigo de Luiz Felipe Pondé.
Grato ao Aldemar Parola.
Paulo Roberto de Almeida
A Moral dos Coitadinhos - Luiz Felipe Pondé
que transcrevo por inteiro, dada sua importância e complemento ao artigo de Luiz Felipe Pondé.
Grato ao Aldemar Parola.
Paulo Roberto de Almeida
Aldemar Parola
9 horas atrás - Compartilhada publicamente
Considero
muito oportuno o artigo do Pondé e me faz lembrar do livro
L’Enracinement, de Simone Weil, que li, há cerca de cinquenta anos,
quando sua obra ainda não era suficientemente conhecida.
Não sei porque comprei o livro, mas acho que folheei a primeira página e isso deve ter provocado em mim um forte impacto:
“A noção de obrigação ultrapassa a noção de direito, que lhe é subordinada e relativa. Um direito não é eficaz por si próprio, mas somente pela obrigação à qual corresponde; a realização efetiva de um direito provém não daquele que o possui, mas dos outros homens que se reconhecem obrigados a alguma coisa para com ele. A obrigação é eficaz desde que seja reconhecida. Uma obrigação não reconhecida por ninguém não perde nada da plenitude de seu ser. Um direito que não é reconhecido por ninguém não é grande coisa.
Não tem sentido dizer que os homens têm, por um lado, direitos, e por outro lado deveres. Essas palavras não exprimem senão diferenças de ponto de vista. Sua relação é a do objeto e do sujeito. Um homem, considerado em si mesmo, tem somente deveres, entre os quais se encontram certos deveres para consigo próprio. Os outros, considerados de seu ponto de vista, têm somente direitos. Ele tem direitos, por sua vez, quando é considerado do ponto de vista dos outros, que reconhecem ter obrigações para com ele. Um homem que estivesse sozinho no universo não teria nenhum direito, mas teria obrigações.”
Um ponto que sempre me intrigou foi porque existe uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948 (alguns anos após a morte de Simone Weil) e não existe uma Declaração Universal das Obrigações (ou Deveres) do Ser Humano.
Aliás, o subtítulo de L’Enracinement é: PRÉLUDE À UNE DÉCLARATION DES DEVOIRS ENVERS L’ÊTRE HUMAIN. Na minha opinião, uma Declaração Universal das Responsabilidades Humanas deveria ter sido aprovada pela ONU antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Só recentemente descobri que o InterAction Council ( http://interactioncouncil.org/ ) em 1997 havia proposto uma Déclaration universelle des obligations de la personne (Declaração Universal dos Deveres do Homem na versão em português e na forma que me parece mais adequada na versão em inglês: “Universal Declaration of Human Responsibilities.") que não foi adotada pela ONU. É bem verdade que o InterAction Council, por ser composto principalmente por Chefes de Governo, entre os quais José Sarney, talvez não seja entidade mais adequada para tal proposição.
Todos os políticos deviam ler o livro L’Enracinement conforme recomendação de T. S. Elliot no prefácio por ele redigido para a primeira edição em língua inglesa:
“Este livro pertence à categoria dos prolegômenos à política que políticos raramente lêem e que a maioria deles provavelmente não compreende nem sabe como aplicar. Tais livros não influenciam a conduta contemporânea dos assuntos públicos: chegam muito tarde para homens e mulheres já engajados nessa atividade e comprometidos com o jargão do mercado. É um dos livros que devem ser estudados pelos jovens antes que seu tempo livre tenha sido perdido e sua capacidade de pensamento destruída na vida dos colégios eleitorais e assembleias legislativas; livros cujos efeitos, apenas podemos esperar, se tornariam aparentes no espírito de uma outra geração.”
Não sei porque comprei o livro, mas acho que folheei a primeira página e isso deve ter provocado em mim um forte impacto:
“A noção de obrigação ultrapassa a noção de direito, que lhe é subordinada e relativa. Um direito não é eficaz por si próprio, mas somente pela obrigação à qual corresponde; a realização efetiva de um direito provém não daquele que o possui, mas dos outros homens que se reconhecem obrigados a alguma coisa para com ele. A obrigação é eficaz desde que seja reconhecida. Uma obrigação não reconhecida por ninguém não perde nada da plenitude de seu ser. Um direito que não é reconhecido por ninguém não é grande coisa.
Não tem sentido dizer que os homens têm, por um lado, direitos, e por outro lado deveres. Essas palavras não exprimem senão diferenças de ponto de vista. Sua relação é a do objeto e do sujeito. Um homem, considerado em si mesmo, tem somente deveres, entre os quais se encontram certos deveres para consigo próprio. Os outros, considerados de seu ponto de vista, têm somente direitos. Ele tem direitos, por sua vez, quando é considerado do ponto de vista dos outros, que reconhecem ter obrigações para com ele. Um homem que estivesse sozinho no universo não teria nenhum direito, mas teria obrigações.”
Um ponto que sempre me intrigou foi porque existe uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948 (alguns anos após a morte de Simone Weil) e não existe uma Declaração Universal das Obrigações (ou Deveres) do Ser Humano.
Aliás, o subtítulo de L’Enracinement é: PRÉLUDE À UNE DÉCLARATION DES DEVOIRS ENVERS L’ÊTRE HUMAIN. Na minha opinião, uma Declaração Universal das Responsabilidades Humanas deveria ter sido aprovada pela ONU antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Só recentemente descobri que o InterAction Council ( http://interactioncouncil.org/ ) em 1997 havia proposto uma Déclaration universelle des obligations de la personne (Declaração Universal dos Deveres do Homem na versão em português e na forma que me parece mais adequada na versão em inglês: “Universal Declaration of Human Responsibilities.") que não foi adotada pela ONU. É bem verdade que o InterAction Council, por ser composto principalmente por Chefes de Governo, entre os quais José Sarney, talvez não seja entidade mais adequada para tal proposição.
Todos os políticos deviam ler o livro L’Enracinement conforme recomendação de T. S. Elliot no prefácio por ele redigido para a primeira edição em língua inglesa:
“Este livro pertence à categoria dos prolegômenos à política que políticos raramente lêem e que a maioria deles provavelmente não compreende nem sabe como aplicar. Tais livros não influenciam a conduta contemporânea dos assuntos públicos: chegam muito tarde para homens e mulheres já engajados nessa atividade e comprometidos com o jargão do mercado. É um dos livros que devem ser estudados pelos jovens antes que seu tempo livre tenha sido perdido e sua capacidade de pensamento destruída na vida dos colégios eleitorais e assembleias legislativas; livros cujos efeitos, apenas podemos esperar, se tornariam aparentes no espírito de uma outra geração.”
Cingapura: cresceu mais de cem vezes desde a independencia - Paulo Silva Pinto (CB)
De favela a primeiro mundo
PAULO SILVA PINTO - Enviado especial
Correio Braziliense, 19/05/2015
Cingapura — Poucos países têm hoje uma situação econômica de que seus habitantes possam se gabar. Entre os que se livraram da colonização recentemente, a lista é ainda menor. E, se for para aumentar a restrição, considerando apenas as nações pobres em recursos naturais, sobra só uma. É por isso que os 5,47 milhões de moradores de Cingapura se preparam para fazer muita festa em 9 de agosto, quando o país completará 50 anos, cinco a menos do que Brasília. É a data em que os cingapurenses deixaram a Federação Malaia, a qual integravam havia menos de dois anos depois de terem deixado de fazer parte do território britânico.
As comemorações terão um sabor especial pelo fato de que Cingapura não pediu para sair, foi expulsa da Malásia. O argumento, na época, era que haveria grande risco para o equilíbrio de forças mantendo-se uma região na qual a composição étnica era diferente dos demais — 75% dos cingapurenses são de famílias de origem chinesa, e os demais se dividem basicamente entre os descendentes de malaios e indianos.
Com 718 km², 12% do território do Distrito Federal, Cingapura tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 55.187, o terceiro maior do mundo. Entre 1965 e 2013, o PIB per capita foi multiplicado por 107, enquanto o da Malásia ficou em 32 vezes o que era. O Brasil conseguiu um fator intermediário: 43. Para avançar tanto, o governo do pequeno país asiático investiu pesadamente em educação e em infraestrutura.
Parte da água ainda é importada de Malásia, mas, cada vez menos, pois o esgoto é tratado de modo tão rigoroso que o líquido resultante pode ser ingerido pelas pessoas. De uma imensa favela à beira-mar, Cingapura virou um dos lugares mais organizados do mundo. O governo provê habitação social para 85% dos habitantes. Mas não paga aposentadoria com recursos públicos. Com isso, a carga tributária não passa de 16% do PIB. No Brasil, são 36%.
O país é um importante centro de logística, com o segundo maior porto do mundo — perde apenas para Roterdã, na Holanda. Embora o setor de serviços venha se expandindo rapidamente, a indústria responde por 29% do PIB. Mesmo sem produzir uma gota de petróleo, Cingapura tem uma das maiores refinarias do mundo. A construção de navios e plataformas de petróleo é um dos principais setores da economia.
Relações
O país aposta na relação com o Brasil, e uma demonstração disso está no fato de ter instalado em Brasília uma das poucas embaixadas que mantém mundo afora: são apenas 35. Há uma única outra representação nas Américas, em Washington. O embaixador brasileiro em Cingapura, Luís Fernando Serra, afirma, porém, que não é fácil o incremento das relações econômicas. “Tenho dificuldade de convencer brasileiros da importância de estar em um mercado tão significativo quanto esse.” O embaixador de Cingapura no Brasil, Choo Chiau Beng, é também empresário e passa a maior parte do tempo em seu país. Mas acompanha tudo o que acontece por aqui. Para ele, os protestos que ocorreram em junho de 2013 são resultado do aumento da classe média. “Isso eleva as expectativas e cobranças da população”, afirma.
A liberdade de manifestação é, aliás, um dos poucos itens que coloca o Brasil à frente de Cingapura. No país asiático, só é possível protestar se o governo autorizar, e o pedido deve ser feito com um mês de antecedência. Embora haja eleições diretas, a influência do partido que está no governo desde que o país foi criado é muito forte, o que limita o crescimento das legendas de oposição. O primeiro-ministro Lee Hsien Loong é o filho mais velho do fundador de Cingapura, Lee Kwan Yew, que governou o país por três décadas, até o começo dos anos 1990. Ele faleceu em 23 de março, aos 91 anos.
O repórter viajou a convite do governo de Cingapura.
PAULO SILVA PINTO - Enviado especial
Correio Braziliense, 19/05/2015
Cingapura — Poucos países têm hoje uma situação econômica de que seus habitantes possam se gabar. Entre os que se livraram da colonização recentemente, a lista é ainda menor. E, se for para aumentar a restrição, considerando apenas as nações pobres em recursos naturais, sobra só uma. É por isso que os 5,47 milhões de moradores de Cingapura se preparam para fazer muita festa em 9 de agosto, quando o país completará 50 anos, cinco a menos do que Brasília. É a data em que os cingapurenses deixaram a Federação Malaia, a qual integravam havia menos de dois anos depois de terem deixado de fazer parte do território britânico.
As comemorações terão um sabor especial pelo fato de que Cingapura não pediu para sair, foi expulsa da Malásia. O argumento, na época, era que haveria grande risco para o equilíbrio de forças mantendo-se uma região na qual a composição étnica era diferente dos demais — 75% dos cingapurenses são de famílias de origem chinesa, e os demais se dividem basicamente entre os descendentes de malaios e indianos.
Com 718 km², 12% do território do Distrito Federal, Cingapura tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 55.187, o terceiro maior do mundo. Entre 1965 e 2013, o PIB per capita foi multiplicado por 107, enquanto o da Malásia ficou em 32 vezes o que era. O Brasil conseguiu um fator intermediário: 43. Para avançar tanto, o governo do pequeno país asiático investiu pesadamente em educação e em infraestrutura.
Parte da água ainda é importada de Malásia, mas, cada vez menos, pois o esgoto é tratado de modo tão rigoroso que o líquido resultante pode ser ingerido pelas pessoas. De uma imensa favela à beira-mar, Cingapura virou um dos lugares mais organizados do mundo. O governo provê habitação social para 85% dos habitantes. Mas não paga aposentadoria com recursos públicos. Com isso, a carga tributária não passa de 16% do PIB. No Brasil, são 36%.
O país é um importante centro de logística, com o segundo maior porto do mundo — perde apenas para Roterdã, na Holanda. Embora o setor de serviços venha se expandindo rapidamente, a indústria responde por 29% do PIB. Mesmo sem produzir uma gota de petróleo, Cingapura tem uma das maiores refinarias do mundo. A construção de navios e plataformas de petróleo é um dos principais setores da economia.
Relações
O país aposta na relação com o Brasil, e uma demonstração disso está no fato de ter instalado em Brasília uma das poucas embaixadas que mantém mundo afora: são apenas 35. Há uma única outra representação nas Américas, em Washington. O embaixador brasileiro em Cingapura, Luís Fernando Serra, afirma, porém, que não é fácil o incremento das relações econômicas. “Tenho dificuldade de convencer brasileiros da importância de estar em um mercado tão significativo quanto esse.” O embaixador de Cingapura no Brasil, Choo Chiau Beng, é também empresário e passa a maior parte do tempo em seu país. Mas acompanha tudo o que acontece por aqui. Para ele, os protestos que ocorreram em junho de 2013 são resultado do aumento da classe média. “Isso eleva as expectativas e cobranças da população”, afirma.
A liberdade de manifestação é, aliás, um dos poucos itens que coloca o Brasil à frente de Cingapura. No país asiático, só é possível protestar se o governo autorizar, e o pedido deve ser feito com um mês de antecedência. Embora haja eleições diretas, a influência do partido que está no governo desde que o país foi criado é muito forte, o que limita o crescimento das legendas de oposição. O primeiro-ministro Lee Hsien Loong é o filho mais velho do fundador de Cingapura, Lee Kwan Yew, que governou o país por três décadas, até o começo dos anos 1990. Ele faleceu em 23 de março, aos 91 anos.
O repórter viajou a convite do governo de Cingapura.
Um escritor versatil, residente em Connecticut, falando de imigrantes nos EUA - Jose Inacio Werneck
Não sabia ser vizinho de tão distinguido jornalista, ainda mais escrevendo sobre os imigrantes na Nova Inglaterra.
Surpresas sempre acontecem.
Paulo Roberto de Almeida
Surpresas sempre acontecem.
Paulo Roberto de Almeida
Os imigrantes e a curiosa história de meus livros
Correio do Brasil, 19/5/2015 15:00
Por José Inácio Werneck, de Bristol
Por José Inácio Werneck, de Bristol
Às vezes as pessoas me perguntam por que e como vim a dar com os
costados nos Estados Unidos. A resposta está em meu livro “Com Esperança
no Coração: Os Imigrantes Brasileiros nos Estados Unidos”.
Sou um autor meio secreto. Mal orientado pelo jornalista Moacir
Japiassu, recusei uma oferta da Editora Record para publicar o
mencionado livro. Foi lançado na surdina pela Augurium Editora, me deu
prejuízo e hoje, estranhamente, sem que eu saiba como, pode ser
encontrado na Amazon.
No espaço de três anos, entre 2004 e 2006, escrevi não apenas o “Com Esperança no Coração” como também a novela “Sabor de Mar”, pela Editora Revan, e uma estranha obra que nem sei como explicar direito, mas que começou com um convite da editora Simon &Schuster.
Era, é ou foi um livro sobre o Pelé, em inglês. Que destino tomou, não sei. Sei apenas que um dia meu amigo escocês Hugh McIlvanney me telefonou de Londres dizendo que a Simon & Schuster ia publicar uma biografia de Pelé e, através de uma subsidiária chamada Gloria Books, lançar uma edição de luxo, de tiragem restrita.
Eu tinha sido escolhido para não somente escrever sobre Pelé como para traduzir para o inglês o que viria a ser produzido pelo respeitado jornalista-historiador João Máximo.
Pus mãos à obra. Escrevi sobre o dia em julho de 1957 em que me encontrava com um grupo de amigos no bar Veloso, na rua Montenegro (agora respectivamente Garota de Ipanema e Vinicius de Moraes), em Ipanema, e consegui uma carona (não tinha carro na ocasião) para ir ao Maracanã.
O Brasil enfrentava a Argentina. No segundo tempo um crioulinho franzino, de 16 anos, entrou em campo e fez um gol. Era Pelé. Fez ali sua estreia pela Seleção Brasileira e iniciou-se a maior história do futebol mundial.
Escrevi sobre isto e outros fatos de uma extraordinária carreira. Traduzi o que João Máximo botou no papel (melhor dizendo, computador) e editei, em inglês, o depoimento de diversos outros jornalistas brasileiros.
Tempos depois, num almoço em Londres, fiquei conhecendo os executivos de Gloria Books. O repasto era regado apenas a água mineral, pois eram todos muçulmanos, até que meu amigo Hugh McIlvanney resolveu por fim àquele “non-sense”, chamou o garcon e mandou descer um vinho. Na conta dos muçulmanos, é claro. A partir dali a refeição tornou-se mais saborosa.
Se me perguntarem o que aconteceu ao livro, não sei. Tenho as provas em casa, pois foi nelas que labutei para fazer a revisão. Recebi o pagamento que me era devido, mas apenas depois de longa troca de e-mails e telefonemas. Quando, em julho de 2013, estive outra vez com Hugh em seu apartamento, em Richmond (cercanias de Londres), ele me confessou que também nunca mais ouviu falar da biografia nem da tal “edição de luxo” em “tiragem limitada”.
Tão limitada que aparentemente ninguém sabe, ninguém viu. Se alguém souber, me dê notícias. Eu tinha também um plano de, junto com Roberto Porto e o já citado João Máximo, escrever um livro sobre o Jornal do Brasil, cuja fase áurea e posterior declínio nós três conhecíamos muito bem. Demoramos tanto a passar da ideia à realidade que nosso grande amigo Roberto Porto já morreu.
Chegará este livro a ver a luz do dia?
Quanto ao “Sabor de Mar”, passou por chuvas e trovoadas. Os percalços foram decorrentes do fato de que, para homenagear uma amiga morta, resolvi, quando estava no meio do livro, trocar o nome da protagonista de Ana Maria para Maria Eduarda.
Acontece que, por artes do computador, houve quatro ou cinco episódios em que o nome Ana Maria continuou aparecendo, o que confundiu os leitores e causou queixas e reclamações.
A boa notícia é que o “Sabor de Mar” acaba de passar por uma reedição que corrigiu este e outros erros. Ele agora pode ser encontrado em “e-book” nas seguintes editoras:
Gato Sabido Livraria
Site: http://www.gatosabido.com.br/ – Livraria da Travessa, Site: http://www.travessa.com.br/ – Livrarias Curitiba, Site: http:www.livrariascuritiba.com.br/ – Livraria do Advogado,
Site: http://www.livrariadoadvogado.com.br – Buqui, Site: http:www.buqui.com.br/ – JET Soluções Educacionais, Site: http://www.jetebooks.com.br- Livraria da Folha,
No espaço de três anos, entre 2004 e 2006, escrevi não apenas o “Com Esperança no Coração” como também a novela “Sabor de Mar”, pela Editora Revan, e uma estranha obra que nem sei como explicar direito, mas que começou com um convite da editora Simon &Schuster.
Era, é ou foi um livro sobre o Pelé, em inglês. Que destino tomou, não sei. Sei apenas que um dia meu amigo escocês Hugh McIlvanney me telefonou de Londres dizendo que a Simon & Schuster ia publicar uma biografia de Pelé e, através de uma subsidiária chamada Gloria Books, lançar uma edição de luxo, de tiragem restrita.
Eu tinha sido escolhido para não somente escrever sobre Pelé como para traduzir para o inglês o que viria a ser produzido pelo respeitado jornalista-historiador João Máximo.
Pus mãos à obra. Escrevi sobre o dia em julho de 1957 em que me encontrava com um grupo de amigos no bar Veloso, na rua Montenegro (agora respectivamente Garota de Ipanema e Vinicius de Moraes), em Ipanema, e consegui uma carona (não tinha carro na ocasião) para ir ao Maracanã.
O Brasil enfrentava a Argentina. No segundo tempo um crioulinho franzino, de 16 anos, entrou em campo e fez um gol. Era Pelé. Fez ali sua estreia pela Seleção Brasileira e iniciou-se a maior história do futebol mundial.
Escrevi sobre isto e outros fatos de uma extraordinária carreira. Traduzi o que João Máximo botou no papel (melhor dizendo, computador) e editei, em inglês, o depoimento de diversos outros jornalistas brasileiros.
Tempos depois, num almoço em Londres, fiquei conhecendo os executivos de Gloria Books. O repasto era regado apenas a água mineral, pois eram todos muçulmanos, até que meu amigo Hugh McIlvanney resolveu por fim àquele “non-sense”, chamou o garcon e mandou descer um vinho. Na conta dos muçulmanos, é claro. A partir dali a refeição tornou-se mais saborosa.
Se me perguntarem o que aconteceu ao livro, não sei. Tenho as provas em casa, pois foi nelas que labutei para fazer a revisão. Recebi o pagamento que me era devido, mas apenas depois de longa troca de e-mails e telefonemas. Quando, em julho de 2013, estive outra vez com Hugh em seu apartamento, em Richmond (cercanias de Londres), ele me confessou que também nunca mais ouviu falar da biografia nem da tal “edição de luxo” em “tiragem limitada”.
Tão limitada que aparentemente ninguém sabe, ninguém viu. Se alguém souber, me dê notícias. Eu tinha também um plano de, junto com Roberto Porto e o já citado João Máximo, escrever um livro sobre o Jornal do Brasil, cuja fase áurea e posterior declínio nós três conhecíamos muito bem. Demoramos tanto a passar da ideia à realidade que nosso grande amigo Roberto Porto já morreu.
Chegará este livro a ver a luz do dia?
Quanto ao “Sabor de Mar”, passou por chuvas e trovoadas. Os percalços foram decorrentes do fato de que, para homenagear uma amiga morta, resolvi, quando estava no meio do livro, trocar o nome da protagonista de Ana Maria para Maria Eduarda.
Acontece que, por artes do computador, houve quatro ou cinco episódios em que o nome Ana Maria continuou aparecendo, o que confundiu os leitores e causou queixas e reclamações.
A boa notícia é que o “Sabor de Mar” acaba de passar por uma reedição que corrigiu este e outros erros. Ele agora pode ser encontrado em “e-book” nas seguintes editoras:
Gato Sabido Livraria
Site: http://www.gatosabido.com.br/ – Livraria da Travessa, Site: http://www.travessa.com.br/ – Livrarias Curitiba, Site: http:www.livrariascuritiba.com.br/ – Livraria do Advogado,
Site: http://www.livrariadoadvogado.com.br – Buqui, Site: http:www.buqui.com.br/ – JET Soluções Educacionais, Site: http://www.jetebooks.com.br- Livraria da Folha,
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no
Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros
e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior.
Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e
ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança
no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É
intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
terça-feira, 19 de maio de 2015
A Patria Corrupta, Corruptora, Fora-da-Lei, Prevaricadora, tudo sob patrocinio do governo - Carlos Brickmann
Não se podia esperar mesmo outra coisa de quem comanda...
Paulo Roberto de Almeida
A casa da Mãe Dilma
Coluna Carlos Brickmann, 20/05/2015
Imagine o caro leitor que esteja andando na rua e, por algum motivo, pegue uma pedra e a atire na janela de uma casa. Na hipótese de haver algum policial por perto, o caro leitor será preso e, no mínimo, terá de prestar declarações na delegacia mais próxima - isso se tiver sorte e não apanhar antes de ser levado.
Pois bem: o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, MST, invadiu ontem, em Brasília, o Ministério da Fazenda - nada mais justo, porque fazendas é exatamente o que querem invadir. Quebraram janelas, arrombaram portas, causaram prejuízos que serão pagos com dinheiro de nossos impostos. Impediram o ministro Joaquim Levy, por quase meia hora, de entrar em seu gabinete. Foram fotografados, filmados, gravados. Nenhum militante foi preso, nenhum militante detido para averiguações, a ninguém se pediu o pagamento pelo prejuízo. Foram embora, enfim - em direção ao outro Ministério, o do Desenvolvimento Agrário.
Todos os cidadãos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros. Há os que têm direito de depredar a Câmara dos Deputados, como fez o grupo liderado por Bruno Maranhão, dirigente petista de nobre estirpe; há os que têm direito de invadir institutos de pesquisa e destruir espécimes desenvolvidos por mais de dez anos. Há os que invadem áreas próximas ao Pico do Jaraguá, em São Paulo, recebem determinação judicial de deixar a área mas têm direito à proteção da Funai para descumpri-la.
São os que, como o agente 007, dispõem de licença oficial para agir à margem da lei.
São os hóspedes queridos da casa da Mãe Dilma.
A Pátria transparente
Informação da coluna Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br): apesar da Lei de Transparência, a Presidência da República segura as informações sobre o cartão corporativo de Rose Noronha, que chefiou seu escritório em São Paulo.
Pediu 45 dias para copiar e entregar o relatório dos gastos da servidora.
Paulo Roberto de Almeida
A casa da Mãe Dilma
Coluna Carlos Brickmann, 20/05/2015
Imagine o caro leitor que esteja andando na rua e, por algum motivo, pegue uma pedra e a atire na janela de uma casa. Na hipótese de haver algum policial por perto, o caro leitor será preso e, no mínimo, terá de prestar declarações na delegacia mais próxima - isso se tiver sorte e não apanhar antes de ser levado.
Pois bem: o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, MST, invadiu ontem, em Brasília, o Ministério da Fazenda - nada mais justo, porque fazendas é exatamente o que querem invadir. Quebraram janelas, arrombaram portas, causaram prejuízos que serão pagos com dinheiro de nossos impostos. Impediram o ministro Joaquim Levy, por quase meia hora, de entrar em seu gabinete. Foram fotografados, filmados, gravados. Nenhum militante foi preso, nenhum militante detido para averiguações, a ninguém se pediu o pagamento pelo prejuízo. Foram embora, enfim - em direção ao outro Ministério, o do Desenvolvimento Agrário.
Todos os cidadãos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros. Há os que têm direito de depredar a Câmara dos Deputados, como fez o grupo liderado por Bruno Maranhão, dirigente petista de nobre estirpe; há os que têm direito de invadir institutos de pesquisa e destruir espécimes desenvolvidos por mais de dez anos. Há os que invadem áreas próximas ao Pico do Jaraguá, em São Paulo, recebem determinação judicial de deixar a área mas têm direito à proteção da Funai para descumpri-la.
São os que, como o agente 007, dispõem de licença oficial para agir à margem da lei.
São os hóspedes queridos da casa da Mãe Dilma.
A Pátria transparente
Informação da coluna Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br): apesar da Lei de Transparência, a Presidência da República segura as informações sobre o cartão corporativo de Rose Noronha, que chefiou seu escritório em São Paulo.
Pediu 45 dias para copiar e entregar o relatório dos gastos da servidora.
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