quinta-feira, 19 de maio de 2016

Debate no IDP (18/05/2016), Respostas a perguntas formuladas, 1 - Paulo Roberto de Almeida

Permito-me postar abaixo, respostas a duas das diversas perguntas formuladas por ocasião da palestra-debate:
Manifestações políticas a partir de 2013 e a crise brasileira recente
(ver aqui: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/05/movimentos-politicos-e-crise-politica.html),
sem a identificação de seu formulador: 
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 19/05/2016


Instituto Brasileiro de Direito Público
Escola de Direito de Brasília

Perguntas: Palestra Manifestações políticas a partir de 2013 e a crise brasileira recente

[Respostas de Paulo Roberto de Almeida a perguntas feitas por ocasião do evento título, no qual efetuei pequena palestra, já divulgada em meu blog Diplomatizzando, disponível no link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/05/movimentos-politicos-e-crise-politica.html].

1) O quanto Michel Temer pode se afastar do programa de governo que o elegeu junto com Dilma, sem perder legitimidade?

PRA: Campanhas eleitorais são conduzidas, na maior parte das vezes, com apoio em vagas promessas dos candidatos, que costumam anunciar tudo de bom para sua audiência cativa, os eleitores, que constituem uma imensa massa de cidadãos, a maior parte contribuintes compulsórios das receitas de governo (e uma pequena parte de dependentes ou excluídos do mercado de trabalho), e que deverão, de uma forma ou de outra, financiar eles mesmos, direta ou indiretamente, todas as supostas realizações prometidas, muitas vezes de forma demagógica pelos ditos candidatos. Não devemos nunca esquecer, em primeiro lugar, que o governo não produz um único centavo de riqueza; toda agregação de valor numa determinada economia é feita pelos agentes primários da criação de riqueza, empresários e trabalhadores empregados, que têm, ou veem, uma parte da renda criada com suas atividades apropriada pelo governo – por meio de tributações diversas, diretas e indiretas, como impostos, taxas, contribuintes, recolhimentos compulsórios sobre determinados serviços, etc. – que pode, depois, pela via orçamentária, prestar aqueles serviços demandados pela população e, em princípio, devidos pelo Estado. Digo em princípio porque não necessariamente precisaria ser assim: muitos dos serviços utilizados pelos cidadãos podem ser diretamente comprados nos mercados – como de fato o são em diversos casos – pelos cidadãos: saúde, educação, transportes, habitação, segurança, aposentadoria, etc. Não há quase nada que o Estado “forneça” ao cidadão que não possa ser objeto de uma transação legítima feita diretamente pelos cidadãos em mercados livres, com exceção (e ainda assim sob condições especiais) de defesa nacional, relações exteriores, garantia de justiça (e a devida segurança nos contratos e transações) e algumas grandes obras de infraestrutura de longa maturação (como barragens, estradas, portos, etc., que mesmo assim são contratadas pelo Estado junto a provedores privados de construção e manutenção).
Esta longa introdução é necessária para dizer que não há nada, absolutamente nada que um candidato possa prometer aos eleitores – ou seja, seu “programa de governo” – que não passe, necessariamente pela “extração” de recursos da própria sociedade. E esses “programas de governo”, como já dito, são em grande parte mentirosos ou demagógicos. Um candidato, se for são de espírito, jamais vai dizer aos seus eventuais eleitores, algo do gênero: “Ouçam aqui idiotas: eu vou prometer uma longa série de realizações, aumento da renda, emprego garantido, facilidades para comprar a casa, serviços públicos gratuitos, mas tudo isso será financiado por vocês mesmos, por meio dos impostos já arrecadados, ou novos que eu terei de criar se eu quiser realmente cumprir o que estou prometendo. E se não der para cobrar mais impostos, eu vou simplesmente aumentar a dívida pública, que será paga por vocês, algum dia, e os juros imediatamente, e será também deixada para seus filhos e netos.”
Acredito que nenhum candidato é louco o suficiente para dizer claramente O QUE OCORRE, de fato, em qualquer processo eleitoral e, depois, de governo. Como ninguém assume a realidade, os “programas de governo” são geralmente enganosos, uma vez que os candidatos não esclarecem os cidadãos que TUDO AQUILO que ele pretende oferecer aos eleitores poderia ser simplesmente comprado por eles, segundo sua própria escolha e vontade, em mercados livres, em lugar de passar pela geralmente custosa intermediação do governo (que consome com sua própria máquina boa parte desses recursos arrecadados, para sua própria manutenção: burocratas que ficam, assim, encarregados de satisfazer os desejos dos eleitores, mas que também custam, e muito, à sociedade). Ou seja, TODOS, cidadãos contribuintes ou não, estariam numa melhor situação de bem estar se passassem a usar a sua própria renda para decidir o que fazer com ela, em lugar de “emprestá-la” (compulsoriamente) ao Estado, para que este possa decidir, de forma correta ou não, o que fazer com esses recursos.
Pois bem, chegando ao caso brasileiro, o que ocorreu nas eleições de 2014? O que foi claramente observado é que a candidata à reeleição prometeu continuar com suas promessas mirabolantes de aumento do emprego, combate à inflação, bolsas e subsídios diversos (FIES, Pró-Uni, Minha Casa, etc.), acusando o adversário de pretender acabar com todas essas “generosidades” do governo. O papel do vice-candidato nessa chapa foi mínimo, para não dizer inexistente: não há registro do candidato a vice, Michel Temer, repetindo na televisão ou nos anúncios publicitários, as promessas mirabolantes da sua cabeça de chapa, dominada amplamente pela máquina eleitoral do PT. O PMDB foi um importante partido de apoio – uma vez que possui imensa capilaridade no país inteiro – mas não teve, por assim dizer, papel estratégico na definição desse “programa de governo”, ou na condução efetiva da campanha eleitoral.
A própria candidata reeleita por estreita margem de votos sobre o adversário começou, aliás, a se afastar de seu programa de governo imediatamente após a eleição, sem sequer esperar o início de seu novo (segundo) mandato. Isso porque a situação econômica – em primeiro lugar orçamentária – já era periclitante, para não dizer caótica, requerendo a adoção de medidas imediatas para combater o desequilíbrio nas contas públicas. Não é preciso mencionar tampouco – como amplamente comprovado pelas investigações do TCU e de outros órgãos de controle – que as contas já vinham sendo fraudadas há muito tempo, com a adoção da chamada “contabilidade criativa”—na verdade destrutiva – cometida pela presidente e seus assessores econômicos. Ou seja, quem não cumpriu em primeiro lugar o seu “programa de governo” foi a presidente reeleita, e isto precisa ficar muito claro, para que justamente não se afirme que o vice-presidente empossado provisoriamente, Michel Temer, de estar se afastando desse “programa” absolutamente irrealista e construído sobre mentiras deliberadas.
Quem perdeu legitimidade – e até as honorabilidade, e portanto as condições para continuar presidindo o país – foi a presidente reeleita, que se elegeu por meio do que já foi designado como “estelionato eleitoral”, uma vez que enganou não apenas seus próprios eleitores como toda a população do Brasil. Por isso ele está sendo processada, e deverá ser punida com a perda do mandato, o que é absolutamente necessário se o Brasil quer restaurar o devido processo legal. Recomendo, a este título, o artigo do economista Roberto Macedo, “Os crimes de Dilma e a cassação de sua CNHP”, publicado no jornal O Estado de São Paulo de 19/05/2016 (disponível neste link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-crimes-de-dilma-e-a-cassacao-de-sua-cnhp,10000052156). Michel Temer está tentando, simplesmente, reconstruir as condições de governabilidade no Brasil, destruídas por Dilma e sua equipe.

2) Como o Brasil pode recuperar sua credibilidade no âmbito externo?

PRA: Muito simples: fazendo uma governança correta, com o respeito ao devido processo legal – o que implica, no plano interno, contas públicas fiáveis – e à palavra dada. No plano externo, a diplomacia governamental precisa exibir, justamente, credibilidade, o que eu discuti neste artigo recentemente publicado: “Epitáfio do lulopetismo diplomático”, O Estado de S. Paulo (17/05/2016; link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,epitafio-do-lulopetismo-diplomatico,10000051687), reproduzido no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/05/epitafio-do-lulopetismo-diplomatico.html). Os governos do PT retiraram credibilidade à política externa e à diplomacia brasileira alinhando o país com ditaduras desprezíveis e regimes falidos, e isolando economicamente o Brasil do mundo, numa canhestra política econômica de construção de “campeões nacionais” à custa de subsídios públicos, o que revelou-se totalmente equivocado.

(a continuar...)

Movimentos politicos e crise politica no Brasil: um debate no IDP (Brasilia), 18/05/2016 - Paulo Roberto de Almeida

Como anunciado nesta minha postagem: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/05/manifestacoes-politicas-partir-de-2013.html
participei ontem, 18/05/2016, de uma palestra-debate, no Instituto de Direito Público, em Brasília, sobre os chamados "movimentos de rua", e suas manifestações políticas, como "causa ou sintoma" da crise brasileira recente, ainda em curso, aliás, embora já numa fase de governo transitório.

O poster feito a propósito do evento, como acima reproduzido, serve para esclarecimento de seus termos, que já delimitavam os objetivos da palestra-debate, e foram por mim desenvolvidos no texto que segue abaixo, como informação do que penso a respeito desses velhos (que não são "de rua", mas que podem estar na rua) e novos movimentos (que estes sim, são de rua), que tiveram, os últimos, um papel decisivo no processo de impeachment (junto com a chamada "República de Curitiba"), e que têm, os primeiros, um papel igualmente relevante na luta de "retaguarda" (ou de resistência ao que eles designam como "golpe", o que é uma farsa) mantida pelo grupo hegemônico afastado agora do poder para não ser escorraçado de vez do governo.
Creio que o que eu escrevi abaixo revela claramente o que penso sobre uns e outros movimentos, mas permito-me agregar, nesta curta introdução que, por falta de tempo (e eu não sabia dessas limitações), não pudemos responder a todas as demandas da audiência. Como eu sempre me comprometo com respostas a perguntas efetuadas pelos presentes, vou postar, sequencialmente, minhas respostas a algumas dessas perguntas que me foram dirigidas.
Paulo Roberto de Almeida


Velhos e novos movimentos políticos na crise brasileira recente

Paulo Roberto de Almeida
 [Notas para participação de debate sobre “Manifestações políticas, a partir de 2013, e a crise brasileira recente”, para debate no Instituto de Direito Público, em 18/05/2016]


O objetivo geral deste evento foi descrito como sendo o de “analisar os movimentos de rua (sic) como causa ou sintoma da crise política”. Em outros termos, os chamados “movimentos de rua” estariam de alguma forma associados à presente crise política, o que me parece apenas parcialmente correto. Para isso vou fazer qualificações aos conceitos de “movimentos” e de “de rua”, bem como aos de “causa ou sintoma”, e por fim a isso que chamamos de “crise política”. Cada um desses termos merece uma qualificação muito bem feita, se é que eu preciso atender ao que se anunciou como “objetivo geral”, deste encontro, cuja organização eu agradeço a meu amigo Danilo Porfírio, o nosso Pancho Villa do Direito, não que ele seja um revolucionário radical, mas que ele tem o perfil do mexicano, embora armado apenas das pistolas do Direito.
Movimentos, de rua ou não, são geralmente identificados a ONGs, ou seja, organizações não governamentais, o que redundaria a dizer que são associações de interesses específicos que brotam da própria sociedade civil e que, no mais das vezes, são independentes do, quando não opostas ao Estado. Mas, no Brasil, país da mil jabuticabas em profusão, essas ONGs tem uma curiosa tendência a virarem quase que imediatamente ONGGS, ou seja, organizações não governamentais governamentais, no sentido em que elas vivem em função de recursos do Estado, não da sociedade que as viu supostamente brotar, e algumas, aliás, são constituídas expressamente com esse objetivo: sugar recursos dos cidadãos através do Estado, que as patrocina e as mantém.
A maior parte dos movimentos assim constituídos não tem nada a ver com a atual crise política, pois estão na paisagem há algum tempo já, sugando os recursos do Estado há muitos anos, talvez décadas. Foi por isso que eu fiz a distinção entre velhos e novos movimentos políticos, pois os que surgiram supostamente no bojo da atual crise política, e que ainda estão usando fraldas e tomando mamadeira, têm muito pouco a ver com seus congêneres já de barba e bigode, várias de cabelos brancos, quando não com muitos militantes aposentados nas “lutas sociais”.
Impossível catalogar todos os movimentos ditos sociais, ou “de rua”, que existem no Brasil: eles são centenas, milhares, tanto mais números quanto é generoso o governo que arranca dinheiro do Estado, ou seja, de todos os cidadãos, para distribuir esse maná apenas para alguns cidadãos que são mais iguais que outros, ou seja, os membros de ONGGs que possuem essa faculdade especial de manter boas relações com membros de um determinado governo.
Nem todas as ONGs são oportunistas a esse ponto: muitas são efetivamente sociais ou se dedicam a finalidades sociais relevantes, causas humanitárias, ou até salvar o planeta de seu muitos males causados, como não poderia deixar de ser, pela ambição e ganância capitalista por mais lucros, em detrimento do bem estar dos trabalhadores, do meio ambiente e até da paz social, concentradores perversos como são todos os sistemas capitalistas existentes neste nosso planetinha redondo.
Uma consulta a uma rede, ou associação-guarda-chuva de organizações sociais “velhas”, ou seja, constituídas em fases bem anteriores à atual crise política, a REBRIP, Rede Brasileira pela Integração dos Povos, criada em 2001 para lugar contra esses mesmos capitalistas perversos, permite verificar que sua lista de membros ou associados conta com não menos de setenta outras ONGs, associações, sindicatos, movimentos, ou grupos de interesses muito diversos, e que coincidem justamente na luta pelos direitos coletivos, da natureza social ou política, com uma forte nas ações anticapitalistas e anti-imperialistas. Segundo seu próprio site, a REBRIP é apoiada pela OXFAM, Oxford Famine Relief (em sua origem, na Inglaterra da Segunda Guerra), pela sempre tão generosa Comissão Europeia e pela Ford Foundation, uma organização capitalista anticapitalista como se vê. Por acaso, sua secretaria executiva é abrigada pela CUT nacional, com sede em São Paulo.
Esses “movimentos de rua” não são todas as associações ou grupos que se mobilizam em torno do governo, do governo petista em especial: são muitas outras que comparecem, para ser mais exato, na folha de pagamentos do governo, entre elas as mais famosas, como MST, MTST, UNE, sem mencionar as dezenas, talvez centenas de entidades que se situam no plano da mobilização em redes virtuais e que se dedicam, justamente, à conexão de todas essas entidades em favor das mesmas causas que favoreciam o governo suspenso do lulopetismo, em especial na área de comunicação: são os chamados blogueiros sujos, além de alguns importantes veículos digitais ou mesmo impressos, que também figuram entre os beneficiários do maná governamental. No lado oposto, ou seja, movimentos contrários a essas correias de transmissão do mesmo arquipélago da esquerda, não existem forças similares ou sequer equivalentes.
Sabe-se que existe uma associação mais recente de organizações que poderiam ser classificadas como de direita, elas sim produtos ou sintomas da crise política, a Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos em cuja lista figuram cerca de meia centena, mais exatamente 48 organizações de orientações diversas, mas todas elas centradas na luta contra a corrupção, em favor da reforma política-eleitoral, pela responsabilidade fiscal, pela escola sem ideologia e outros objetivos assemelhados. Mas, sintomaticamente, dela não fazem parte os dois principais movimentos que organizaram, com a ajuda de várias outras organizações – inclusive seres bizarros que pediam uma intervenção militar constitucional para acabar com o governo corrupto e inepto do PT –, as gigantescas manifestações que mobilizaram milhões de pessoas em todo o Brasil, o MBL, Movimento Brasil Livre, e o VPR, que não é a antiga Vanguarda Popular Revolucionária do finado capitão Lamarca, mas o Vem Prá Rua.
Se quisermos ser maniqueístas poderíamos chamar os primeiros de mortadelas e os segundos de coxinhas, mas esses dois termos, aparentemente pejorativos (mas o de coxinhas foi bem absorvido pelos próprios), não refletem todos os matizes dessas duas grandes agrupações de movimentos que são classificados, grosso modo, pela imprensa burguesa (ou golpista, à escolha), como sendo, de um lado, “progressistas”, ou de esquerda, e, de outro, direitistas ou conservadores. Não vamos entrar aqui num debate sobre esses termos, mas voltar para aqueles do nosso objetivo geral.
Os coxinhas são indiscutivelmente movimentos de rua, pois expressam a santa indignação da classe média, ou das elites, como quiserem, pela situação de crise econômica, e de impasses políticos, a que o Brasil foi conduzido desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff, e com maior acuidade e dramaticidade, a partir de sua vitória apertada em 2014. O desenlace atual não restabeleceu a paz social, ou um entendimento político, pois os movimentos ditos progressistas prometem continuar se opondo ao governo transitório, ou temporário, de Michel Temer, e o próprio PT acaba de declarar que vai opor-se terminantemente ao governo golpista deste último. Os coxinhas, por sua vez, continuam a pedir a punição dos políticos corruptos, mas ainda não programaram nenhuma grande manifestação para esta estação outonal. Eles estão, aparentemente satisfeitos com o que foi alcançado até aqui, mas continuam vigilantes para o que der e vier. As ruas, no momento, estão sendo ocupadas pelos chamados movimentos de esquerda, pelo menos enquanto houver mortadela e dinheiro dos sindicatos, o que durar mais.
O processo de impeachment vai ser provavelmente confirmado pelo Senado, com o que diminuirá sensivelmente o financiamento de muitas ONGGs, e de vários movimentos que viviam de transferências públicas algo obscuras, mas não parece capaz de reduzir a divisão política entre os muitos movimentos, velhos ou novos, que se organizam de acordo aos dois polos antinômicos herdados do Iluminismo europeu e da Revolução Francesa, a saber, de um lado o liberalismo de corte individualista, de outro as demandas por igualdade de cunho social ou coletivista. Esta divisão, que toma apoio em filosofias claramente opostas quanto às formas possíveis de organização econômica e social, promete durar pelo futuro indefinido: numa ponta se situam os partidários dos livres mercados e da iniciativa privada, na outra os proponentes de uma forte ação estatal para corrigir o que é percebido como desigualdades criadas naturalmente pela ação desses mercados livres, e que portanto necessitam do Estado para domar mercados e diminuir as desigualdades por via de uma ação distributiva a partir do alto.
Não creio que essa divisão fundamental venha a diminuir no futuro previsível, ainda que os antigos partidários do coletivismo econômico, especificamente em sua forma socialista centralizada, tenham sido constantemente frustrados pela incapacidade do intervencionismo estatal em suas modalidades mais extremadas produzir o quantum de igualdade e de prosperidade como apregoado pelos pais fundadores da doutrina. Mas mesmo os liberais, aparentemente triunfantes na grande luta do século XX entre os socialistas e os defensores de economias de mercado, não estão perto de recolher esse triunfo ilusório, pois em todas as partes, mesmo nas economias de mercado mais avançadas, o Estado assumiu enormes responsabilidades, e controla uma parte cada vez maior da riqueza produzida pela sociedade civil.
Tudo isso é conhecido, desde longos anos, pelos cientistas políticos e pelos economistas de diferentes escolas, e não apresenta grandes novidades para fins deste nosso debate. A intenção, como dito no objetivo geral, é avaliar a ação desses grupos, ou movimentos, na crise brasileira recente. Pois bem, vamos a ela. O que poderia ser dito sobre a participação dos “movimentos de rua”, ou assimilados a tal no processo brasileiro recente?
Obviamente que as contribuições, transferências e subsídios concedidos pelos governos lulopetistas às suas correias de transmissão na chamada sociedade civil não são responsáveis pela crise econômica, pelo menos em sua parte fiscal. Dados disponíveis a esse respeito indicam que a “bolsa banqueiro” – ou se quisermos, os juros da dívida pública, mas que já faz parte do panorama fiscal desde longos anos, pelo menos desde a independência – assim como a “bolsa empresário”, ou “bolsa BNDES”, esta sim uma inovação, ou o seu reforço extraordinário nos últimos anos, provocaram, junto com as desgravações setoriais e subsídios enormes a programas específicos, o imenso descalabro fiscal que precipitou a crise econômica em que vivemos atualmente. Mas o apoio a supostos “movimentos de rua” alinhados com o governo, muitos deles atuando de maneira mercenária – a chamada turma da mortadela – são um componente relevante na crise política, uma vez que eles mantêm, depois da derrota no Congresso, a pressão das ruas e entre os chamados formadores de opinião, que são geralmente jornalistas ou gramscianos de academia (ou seja, professores simpáticos a causa petista).
Essa realidade vai continuar, pelo menos enquanto o pessoal da mortadela for alimentado, ou financiado, e enquanto os apoiadores ideológicos – isto é, os jornalistas e os professores alinhados – estiverem convencidos de que é possível esperar uma volta do partido hegemônico da esquerda, ou seja, o PT, que funciona como um hub, ou seja, um núcleo central, com tentáculos e satélites espalhados por toda a sociedade civil (os mesmos, aliás, que aparelharam extensivamente o Estado nos anos lulopetistas). Não podemos nos enganar nesse particular: os chefes daquilo que foi descrito como uma organização criminosa podem ter sido expulsos do poder central, mas seus apoiadores continuando ocupando postos no governo e no Estado em todas as esferas e níveis da federação, e toda a imensa rede de sustentação, que não é constituída apenas pelos movimentos de rua, ou assemelhados, são ainda extremamente relevantes, eu diria até estratégicos, para a manutenção da ideologia que motivou essa conquista do Estado na década passada. As mentalidades continuam preservadas e ainda bastante fortes, não só nas instituições de ensino, em diversos níveis, mas sobretudo nos sindicatos e nessas organizações sociais que são, ainda são, sustentadas pelo governo mediantes diferentes canais de transferência de recursos.
Do outro lado, podemos sinalizar a existência de velhos grupos saudosistas do antigo regime militar, mas sobretudo a emergência dos novos movimentos classificados como de “direita”, o que eu considero fundamentalmente equivocado. A sociedade civil espontânea, ou seja, aquela não organizada nesses movimentos tradicionais, evoluiu bastante no Brasil, desde o início do governo petista, que conseguiu conquistar uma parte da classe média com sua mensagem pela ética na política, de justiça social, de redistribuição de renda e de serviços públicos fornecidos em caráter universal ou focados em grupos específicos (as chamadas minorias sociais, geralmente raciais ou sexuais). Essa mesma sociedade se deu conta, no decurso dos últimos anos, e talvez desde a denúncia do Mensalão, que havia um outro PT, uma outra esquerda que ela não conhecia: uma organização centrada em seu interesse próprio, operando o completo aparelhamento do Estado e envolvida em rumorosos casos de corrupção que serviu para quebrar o encanto com os antigos “justiceiros sociais”. Tudo isso explodiu nas eleições de 2014, percebidas como “estelionato eleitoral”, o que logo após foi confirmado pela mudança completa de política econômica e pela revelação do imenso déficit causado nas contas públicas pela política irresponsável conduzida nos últimos anos.
Tudo isso serviu de estopim para os novos movimentos de rua, que congregam aquilo que eu chamo de cidadania ativa, consciente e crítica: é esta cidadania, basicamente os coxinhas de classe média, pequenos empresários, jovens não contaminados pelo marxismo vulgar da academia gramsciana, que constituiu os mais famosos movimentos desta fase, o Movimento Brasil Livre e o Vem Prá Rua, além de outros menos conhecidos. São eles que, junto com a República de Curitiba, empurraram o Congresso para o impeachment, e são eles talvez figurem no novo panorama político do Brasil. Este é um cenário novo, de transição. Mas não tenho dons de adivinho para prever o que vai acontecer nos próximos meses, ou até 2018, quando deveremos renovar todas as expressões políticas mais importantes no executivo e no legislativo.
Seguiremos atentos...


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Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 18 de maio de 2016 

2980. “Velhos e novos movimentos políticos na crise brasileira recente”, Brasília, 18 maio 2016, 6 p. Notas para participação de debate sobre “Manifestações políticas, a partir de 2013, e a crise brasileira recente”, a convite e sob a coordenação de Danilo Porfírio, professor da graduação e pós-graduação da Escola de Direito de Brasília do Instituto de Direito Público, com a participação de Raul Sturari (Instituto Sagres).

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Politica externa de Serra demole lulopetismo diplomatico - FSP

Política externa de Serra demole princípios de Lula e Dilma
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
Folha de S.Paulo, 18/05/2016
Não sobrou pedra sobre pedra.

Em discurso de cerca de 15 minutos durante a cerimônia de transmissão de cargo, o novo ministro das Relações Exteriores, José Serra, demoliu os principais princípios da política externa dos últimos 13 anos, dos governos Lula e Dilma.

Abaixo, alguns dos pontos abordados, o contexto e as entrelinhas:
  
1. "A diplomacia voltará a refletir de modo transparente e intransigente os legítimos valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia, a serviço do Brasil como um todo e não mais das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior"

A oposição a Dilma e Lula constantemente acusava a política externa brasileira de ser "ideologizada", por causa da proximidade da administração e, principalmente, do assessor internacional Marco Aurelio Garcia com governos de esquerda. Já em sua primeira diretriz, o novo chanceler disse que a política externa não estará a serviço de uma ideologia, de um partido.

2. "Estaremos atentos à defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país"

Recado direto para países bolivarianos, como Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua, que questionaram a legalidade do afastamento da presidente Dilma Rousseff.

O Itamaraty sob Serra já emitiu notas rechaçando os comentários. A diretriz traduz para termos mais diplomáticos a frase recente do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado: "Imagine ouvir calado países como Cuba e Venezuela darem lições de democracia?"

3. _"O Brasil assumirá a especial responsabilidade que lhe cabe em matéria ambiental.... a fim de desempenhar papel proativo e pioneiro nas negociações sobre mudança do clima"

Serra e seus colaboradores próximos defendem que o país se descole de nações em desenvolvimento "protecionistas" nas negociações do clima e seja mais ambicioso nas ofertas.
O discurso teve grande colaboração do ex-ministro Rubens Ricupero, que é muito próximo a Serra, e de Sergio Amaral.

Depois de ser ministro da Fazenda, Ricupero foi ministro do Meio Ambiente e propõe que o Brasil seja muito mais audacioso nas negociações do clima. Amaral foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso e porta-voz da Presidência no primeiro mandato do tucano. Terá cargo na gestão Serra.

Outros "discípulos" de Ricupero, como Marcos Galvão, atualmente representante do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), e Roberto Jaguaribe, embaixador na China, devem voltar ao Brasil para assumir cargos —Galvão seria um segundo secretário-geral na nova estrutura do Itamaraty, e Jaguaribe deve ir para a Apex.

4. "Na ONU e em todos os foros globais e regionais a que pertence, o governo brasileiro desenvolverá ação construtiva em favor de soluções pacíficas e negociadas para os conflitos internacionais e de uma adequação de suas estruturas às novas realidades e desafios internacionais"

A luta pelas reformas das instituições internacionais como a ONU, FMI e Banco Mundial para que melhor reflitam a nova ordem mundial, uma bandeira das administrações petistas, é mencionada apenas indiretamente como "adequação de suas estruturas às novas realidades".

Nenhuma menção à reforma do Conselho de Segurança da ONU, obsessão no governo Lula que já havia sido posta de lado no governo Dilma.

5. "O Brasil não mais restringirá sua liberdade e latitude de iniciativa por uma adesão exclusiva e paralisadora aos esforços multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio, como aconteceu desde a década passada, em detrimento dos interesses do país.

O multilateralismo que não aconteceu prejudicou o bilateralismo que aconteceu em todo o mundo. Quase todo mundo investiu nessa multiplicação, menos nós. Precisamos e vamos vencer esse atraso e recuperar oportunidades perdidas"

Serra fez um ataque frontal à aposta do governo brasileiro nas negociações multilaterais da OMC, que, na prática, morreram. Reflete a percepção da oposição de que o Brasil perdeu tempo apostando na OMC em vez de fechar mais acordos bilaterais. Ele faz a ressalva de que a OMC é a única via para ganhos no setor agrícola, mas diz que não se pode apostar nisso em detrimento de acordos bilaterais. Deve ser aplaudido por empresários, que vinham pressionando para a busca de mais acordos.

6. "Por isso mesmo, daremos início, juntamente com o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, com a cobertura da Camex (Câmara de Comércio Exterior) e em intensa consulta com diferentes setores produtivos, a um acelerado processo de negociações comerciais, para abrir mercados para as nossas exportações e criar empregos para os nossos trabalhadores"

Serra mostra que reforçar o comércio exterior deve ser um dos principais objetivos do ministério e aproxima o Itamaraty do centro decisório da política econômica do novo governo - que era a ambição inicial do ministro.

7. "Um dos principais focos de nossa ação diplomática em curto prazo será a parceria com a Argentina, com a qual passamos a compartilhar referências semelhantes para a reorganização da política e da economia.

Precisamos renovar o Mercosul, para corrigir o que precisa ser corrigido, com o objetivo de fortalecê-lo, e continuar a construir pontes, em vez de aprofundar diferenças, em relação à Aliança para o Pacifico, que envolve três países sul-americanos, Chile, Peru e Colômbia"

Muitos críticos da política externa dos últimos governos, como o ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa, pedem a flexibilização do Mercosul para que se transforme apenas em área de livre comércio, em vez de união aduaneira. Dessa maneira, o Brasil estaria livre para negociar acordos comerciais sem chancela dos outros membros do Mercosul.
Mas a fala de Serra mostra que o novo chanceler não deve ser tão radical.

Ricupero, em entrevista à Folha neste mês, afirmou: "Não se sabe se transformar o Mercosul em área de livre comercio traria benefícios, e a Argentina agora tem um presidente, Mauricio Macri, que não seria obstáculo a negociações comerciais", diz. É exatamente esta a linha adotada por Serra, ao sublinhar que a relação com a Argentina será prioridade, agora que Brasil e o vizinho passaram a "compartilhar referências semelhantes" —ou seja, Cristina Kirchner, alinhada com os governos petistas, foi sucedida por Macri.

A aproximação com a Aliança do Pacífico já está em curso por meio de diversos acordos de investimentos e serviços. Vem do raciocínio de que o Brasil estava alinhado com os países que menos crescem no continente, como Venezuela, Argentina e Equador, e alienado dos mais dinâmicos, que são os da Aliança do Pacífico.

8. "Vamos ampliar o intercâmbio com parceiros tradicionais, como a Europa, os EUA e o Japão. Com os EUA, nós confiamos em soluções práticas de curto prazo para a remoção de barreiras não tarifárias, que são, no mundo de hoje, as essenciais"

Voltar a dar atenção ás relações com países ricos e não apenas nos concentrar Sul-Sul, essa é a mensagem. Com EUA, a meta é "desideologizar" a relação. Voltar a aspectos práticos que atingem os empresários e o país, como as barreiras não tarifárias a produtos.

9. "Será prioritária a relação com parceiros novos na Ásia, em particular a China. Estaremos empenhados igualmente em atualizar o intercâmbio com a África, o grande vizinho do outro lado do Atlântico.

Não pode esta relação restringir-se a laços fraternos do passado e às correspondências culturais, mas, sobretudo, forjar parcerias concretas no presente e para o futuro.

Ao contrário do que se procurou difundir entre nós, a África moderna não pede compaixão, mas espera um efetivo intercâmbio econômico, tecnológico e de investimentos. Essa é a estratégia Sul-Sul correta, não a que chegou a ser praticada com finalidades publicitárias, escassos benefícios econômicos e grandes investimentos diplomáticos"

Critica a política de aproximação com a África, marca do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que abriu 17 embaixadas e fez inúmeras viagens a países africanos. Ao dizer a "África moderna não pede compaixão", remete ao perdão da dívida de países africanos durante o governo Dilma.

Ao dizer "Essa é a estratégia Sul-Sul correta, não a que chegou a ser praticada com finalidades publicitárias, escassos benefícios econômicos e grandes investimentos diplomáticos", aponta para a discussão sobre fechamento de embaixadas em países africanos e do Caribe que foram abertas nos governos petistas.

A Folha revelou que Serra pediu um estudo para analisar o custo e a utilidade dos postos diplomáticos abertos nos governos Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff para, eventualmente, pedir o fechamento de alguns deles

10. "Nas políticas de comércio exterior, o governo terá sempre presente a advertência que vem da boa análise econômica, apoiada em ampla e sólida consulta com os setores produtivos. É ilusório supor que acordos de livre comércio signifiquem necessariamente a ampliação automática e sustentada das exportações.

Só há um fator que garante esse aumento de forma duradoura: o aumento constante da produtividade e da competitividade. Se alguém acha que basta fazer um acordo e abrir, que isso é condição necessária suficiente, está enganado. É preciso investir no aumento constante da competitividade e da produtividade"

De novo, Serra reforça o viés econômico que terá o ministério sob seu comando.

Última diretriz: "Eu citaria uma que temos que cumprir, colaborando com os ministérios da Justiça, da Defesa e da Fazenda, no que se refere à Receita Federal: a proteção das fronteiras, hoje o lugar geométrico do desenvolvimento do crime organizado no Brasil, vamos ter isso claro, que se alimenta do contrabando de armas, contrabando de mercadorias, que é monumental, e do tráfico de drogas.

Em especial, nos empenharemos em mobilizar a cooperação dos países vizinhos para uma ação conjunta contra essas práticas criminosas que tanto dano trazem ao nosso povo e à nossa economia"

Serra tem especial preocupação com a segurança das fronteiras. Em sua campanha presidencial de 2010, ele afirmou que o governo boliviano era "cúmplice do tráfico", dizendo que as quadrilhas de traficantes que atuam a partir do país vizinho eram responsáveis pelo envio de até 90% da cocaína produzida no país para ser consumida no Brasil.

Itamaraty: "Quero progressivamente retirar o Itamaraty da penúria de recursos em que foi deixado pela irresponsabilidade fiscal que dominou a economia brasileira nesta década. E no governo do Presidente Temer, o Itamaraty volta ao núcleo central do governo"

O Itamaraty sofreu com sucessivos cortes e contingenciamento de gastos nos últimos anos. A participação do Itamaraty no Orçamento total do Executivo, que já era pequena, caiu a quase a um quarto em 2015 em relação a 2003 —de 0,5% para 0,13%. Muitos diplomatas estão com o pagamento de seus aluguéis atrasado. Embaixadas chegaram a ficar sem recursos para pagar a conta de luz, no ano passado.

Quando diz que o Itamaraty vai voltar ao núcleo central do governo, trata-se de uma crítica à presidente Dilma Rousseff, que teria negligenciado a política externa, por falta de interesse, o que teria resultado no enfraquecimento do ministério e sucessivos ministros.

O governo Temer e seus descontentes: nota de repudio ao Ministro JoseSerra nas Relacoes Exteriores

Tomei conhecimento justo agora, minutos antes da inauguração efetiva do Ministro José Serra como novo chanceler do Brasil, desta nota de repúdio assinada por alunos que se transformaram em órfãos do governo passado, contra uma política externa que eles ainda nem sabem qual será, mas que eles já adivinham que será submissa, neoliberal, alinhada às potências hegemônicas e outras bobagens do gênero.
Nem tive tempo de ler com cuidado, ainda, mas já registro a nota e os nomes, para uma reflexão ulterior. Todos são membros de uma Articulação do Movimento Estudantil de Relações Internacionais.
Interessante que eles já dizem de cara que não aceitarão Serra no Itamaraty. Pois não...
Corajosos os bravos antagonistas, mas acredito que eles ainda precisam ler um pouco mais para aprender o que é política externa.
Em todo caso, uma coisa é certa: esses aluninhos, ignorantes como são, resultam ser o produto de anos de ensino gramsciano por professores ineptos na pesquisa fundamentada e adeptos de slogans e simplismos redutores, absolutamente maniqueistas, como convém ao partido totalitário que nos governava até há pouco. Todos eles, gramscianoso do partido e da academia se especializaram na montagem de uma formidável máquina de propaganda, de fraudes subintelquituais e de mentiras, que se reflete inteiramente nas baboseiras acumuladas nesse manifesto patético.
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Destaco os trechos mais "interessantes".


Nota de repúdio à nomeação de José Serra como Ministro das Relações Exteriores
Não aceitaremos Serra no Itamaraty
No dia 12 de maio de 2016 o presidente golpista Michel Temer tomou posse e, logo em seus primeiros dias, desferiu golpes duros a vários direitos sociais conquistados nos últimos 13 anos. A política interna não está desconectada da política externa, assim, também nos preocupam os rumos que as relações internacionais brasileiras tomarão. Os nomes anunciados para os ministérios deram uma amostra dos tempos difíceis que iremos enfrentar. A entrega do Ministério das Relações Exteriores a José Serra, do PSDB, é inaceitável e pode representar o fim da política externa ativa e altiva.
Nos governos Lula e Dilma, o Brasil voltou sua atenção para o Sul Global, por meio da integração latino-americana e da diversificação das parcerias. Além disso, o país conquistou um papel de destaque na comunidade internacional, seja por sua performance econômica (o que não mais se verifica), seja por seu engajamento na democratização das estruturas de governança global, dando forte ênfase ao multilateralismo. O Brasil integrou-se a novas instituições, como a Celac e a Unasul, fortalecendo, assim, processos regionais de tomada de decisão, em que os países emergentes estiveram menos subordinados aos interesses das grandes potências imperialistas.
Ademais, o Brasil valorizou seus vizinhos, principalmente no âmbito econômico, e seguiu apostando no Mercosul, apesar dos ventos parados que temos verificado nos últimos anos. As parcerias também foram estendidas até a Ásia e a África, por meio de relações bilaterais com países africanos, e do BRICS - que reune as maiores economias emergentes e que tem conseguido se apresentar como um contra-peso ao poder do dólar e das instituições financeiras de Bretton Woods, como Banco Mundial e FMI.
Todos esses avanços, apenas para citar alguns, podem estar seriamente ameaçados sob o ministério de Serra. O novo ministro é um crítico mordaz da política externa ativa e altiva, além de ter olhos e mente voltados para o Norte. As suas ligações com empresas petrolíferas internacionais, como a Exxon e a Chevron, denunciadas pelo WikiLeaks, evidenciam o baixo interesse de Serra pelo desenvolvimento do país de maneira autônoma e soberana, golpeando os interesses nacionais e agindo de forma a ratificar um retrocesso econômico e social brasileiro na cena internacional, submetendo-se aos interesses do capital internacional. A presença de José Serra no MRE é retrogredir nos poucos e aguerridos avanços democráticos no campo da política externa brasileira conseguidos no transcorrer do século XXI.
Corremos o risco de passar de uma política externa voltada para integração regional para uma que busque inserir o Brasil nas cadeias produtivas globais a todo custo, mesmo que isso implique uma mudança radical de orientação da política econômica. Neste cenário, o Mercosul pode ser colocado em segundo plano, com Estados Unidos e União Europeia sendo considerados como prioridade na agenda internacional brasileira. Os acordos bilaterais que começaram a ser assinados logo após a derrota da proposta da ALCA podem ser acelerados, representando assim uma subordinação ainda maior de nossa economia ao neoliberalismo.
A política externa brasileira havia conseguido avanços no sentido de uma maior popularização. Apesar de haver problemas em sua formulação e implementação, mais setores sociais foram envolvidos em seus processos e seus rumos tornaram-se assunto comum nos noticiários. Com Serra, é provável que ocorra um retrocesso e que a política externa volte a ser assunto exclusivo de uma elite letrada. A prioridade anunciada do governo Temer será a recuperação da economia e, para implementar as reformas desejadas, usará todas as burocracias que estiverem ao seu alcance, incluindo o Itamaraty. Desse modo, o ministério cumprirá função análoga a de uma Câmara de Comércio e as nossas relações internacionais poderão ser subordinadas ao plano da Ponte para o Futuro, que deixa mulheres, jovens, negras e negros, pessoas pobres e LGBTs de fora da travessia.
Não é esse o Itamaraty que queremos e não é essa a política externa pela qual a AMERI luta. Expressamos nosso repúdio à nomeação de José Serra para o Ministério das Relações Exteriores, bem como nosso pesar à possível morte da política externa ativa e altiva. 

As coordenadoras e coordenadores nacionais da Articulação do Movimento Estudantil de Relações Internacionais assinam esta nota.

Natália Lima de Araújo - mestranda do Instituto de Relações da USP - Núcleo USP da AMERI.
Jéssica Girão Florêncio - mestranda da UFABC
Leandro Fontes Corrêa - graduando da UNESP - FCHS
Giovani Benito Mena del Prete - graduando da UFABC
Júlia Machado Dias - graduanda da UFU
Mairise Souza- Mestre em Educação/ FE/UNICAMP e Consultora em Ed. Infantil-Free lance/ Membro Gestão Coletiva -FPEI/SP.
Sabrina Pero de Souza Maciel
CIERI UFGD
Katiele Rezer Menger
Daniel Wanderley Caliman
Gustavo Rodrigues Costa
Leandro Ortolan dos Anjos - UFF
Matheus de Campos Farias
Marina Biagioni Marquezi
Jamile Chadud Montero
Diego Lopes Costa
Roberto Domingos
Vinicius Medeiros - Graduando Univale
Letícia Cruxen Godinho - graduanda da UFF
Nina Recine
Inês dos Santos
Henrique Freitas Alves
Felipe Augusto Oliveira Rezende
Felipe Augusto de Jesus Ferreira - graduando da USP
Rafaela Cristina Fernandes Ramos
Bruna Fiali Costa
Adriana Elisa Bozzetto
Fábio Vaccaro de Carvalho / Espaço Rural Panaceia
Virginia Santiago dos Santos Góes - mestranda em Integração Contemporânea da América Latina - UNILA
Helena Salim de Castro
Raquel Helene Salvato Delatorre
Lara Stachetti Gomes - graduanda da UNESP - FCHS
Jonatas de Oliveira Serra
Gustavo Henrique Gonçalves Ferreira - UNESP
Paula Luzia Ribeiro Rodrigues
Filipe Gallo Bizari - graduado UNESP
Alana de Oliveira Valério
Bruno César Silva
Guilherme Augusto Conceiçao da Silva
Leila Dias de Lira
Juliana Monteiro
Paloma Breit dos Santos - graduanda da UFABC
Katusca Bonilha Dell'Antonia
Wallace Anderson Fernandes de Albuquerque
Murillo Ribeiro Moreira de Lima
Nathalia Vieira Ferreira - graduanda da UFABC
Jonathan Lauro Rossi Machado
Karina Moysés - Unesp Franca
*Obrigatório
Nome e filiação *

RG (ou nome da entidade) *


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Itau Macroeconomica: a ultima analise de Ilan Goldfajn?

Talvez, mas não tenho certeza, pois ele ainda precisa passar pelo Senado:

LatAm Talking Points - Chilean Central Bank expectedly on hold
Talk of the Day, May 18, 2016

Chile
As unanimously expected, the central bank left its policy rate unchanged at 3.50% at its monthly monetary policy meeting. The press release retained the same tightening bias issued in last month’s decision. The central bank has now been on hold for five consecutive months following the start of a short and discontinuous tightening cycle in the final quarter of 2015. The press release highlighted that inflation expectations remain anchored at 3% in the two-year policy horizon. Inflation is expected to remain above 4% for some months to come (4.2% in April). In spite of the weaker activity performance in March, the central bank sees activity growth in the 1Q16 above that envisioned in the 1Q16 Inflation Report (which forecasted growth between 1.25% and 2.25% for this year). The press release indicated the monetary policy normalization would continue at a pace that will depend on incoming data, in line with the IPoM guidance. We expect the central bank to undergo a prolonged pause, holding the policy rate at 3.5% throughout this year and 2017. We expect inflation to continue to gradually decelerate towards the central bank’s 3.0% target on the back of a wide output gap and the stabilization of the currency at current levels. ** Full story here.

Brazil
The new Finance Minister Henrique Meirelles announced positions in the Finance Ministry and the Central Bank. Meirelles indicated Ilan Goldfajn as the new Central Bank Governor. Before occupying the position as Central Bank Governor, Goldfajn’s name needs to be approved by the Senate’s Economic Affairs Committee. Until then, Alexandre Tombini remains as Central Bank Governor. In the Finance Ministry, Carlos Hamilton was nominated the Secretary of Economic Policy, Mansueto de Almeida as Secretary of Economic Monitoring (Seae) and Marcelo Caetano as the Secretary of Social Security.

According to FIESP, São Paulo state industry employment  declined 1.0% m/m in April.  With this result, we maintain our forecast of a destruction of 70k formal jobs (Caged) in April (consensus: -53k), which means a destruction of 170k jobs in seasonally adjusted terms.

According to trade data released by Funcex, terms of trade increased 0.9% m/m in April. Exported quantity declined 1.5% m/m, less than in the previous month. In contrast, imported quantity increased by 2.4% m/m.

After closing, the BCB announced that it will auction up to 20,000 reverse FX swaps contracts (USD 1 billion) on today.

Colombia
While the leap-year effect favored activity in February, religious celebrations in March had the reverse effect. Overall, manufacturing activity in 1Q16 was resilient (5.7% year over year), while retail sales were weak (1.2%), dragged down by the durable component. The expanding operations at the Cartagena oil refinery are still lifting manufacturing activity. Going forward, manufacturing will continue to be favorably affected by oil refining, but that will likely be offset by weak growth in Colombia’s trade partners for non-traditional products and slowing domestic consumption. In the months ahead, retail sales are likely to continue fragile, as indicated by low consumer confidence levels, due to lower real wages and tighter monetary policy. We expect activity to slow this year as low oil prices hit capital expenditures in the sector, higher interest rates reduce credit growth and elevated inflation reduces real wages. That said, the expanding operations of the Cartagena refinery and the investments associated with the 4G PPP will curb the slowdown. We see GDP growth of 2.5% for this year, down from the 3.1% in 2015.  ** Full story here.

Consumer confidence remains low in April. Think-tank Fedesarrollo's consumer confidence for April came in at -13.0 points (0 = neutral level), compared to the +8.2 points in the 2015 corresponding period. The indicator has been below the neutral level since the start of the year and this is the lowest April recording in since 2002. As a result, consumer confidence was -18.0 in the quarter ending in April (+8.2 in the equivalent period in 2015). The breakdown has consumer expectations at -6.3 points (+8 one year ago), completing four consecutive months in negative territory. Consumer confidence is dragged down by the expectation for the economy over the next 12 months (-31.5). Meanwhile, it was lifted by the expectation that personal economic situation in the next year will improve (+26.3). Consumers view the current economic conditions in poor light at -23.1 points (+8.5 in April 2015). The weak consumer confidence comes in light of higher interest rates, high inflation and a gradually loosening labor market. Retail sales grew a weak 1.2% in 1Q16 (2.7% in 2015 and 7.5% in 2014), and the low confidence levels hint that a rebound is unlikely in the near future. We expect GDP growth of 2.5% this year, down from the 3.1% for 2015.

Argentina
Central bank cut 75bps the 35-day lebac rate to 36.75%. This is the second reduction after posting 38% for more than one month. As we expected, the CB is cutting the rate as the core inflation starts to show moderation.Core inflation in April fell to 2.8% from 3.5% in March and 3.9% average in December-February.

Macro Research - Itaú
Ilan Goldfajn - Chief Economist

Momentos decisivos da historia do Brasil: o xeque-(quase)mate de Moro - Autor desconhecido

Sem concordar com tudo o que está escrito, e sem conhecer o autor deste texto, lido no blog Usina de Letras (uma mistura de colunismo de direita com serviços editoriais comerciais), transcrevo o que acabo de ler, nesta quarta-feira 18/05/2016.
Acredito que, junto com a "República de Curitiba" -- ou seja, o pequeno grupo de bracos do MPF do Paraná (e de alguns outros lugares também), da PF e o juiz Sérgio Moro --, nós, coxinhas anônimos, ou seja, a cidadania ativa, consciente e crítica, que saímos aos milhões nas ruas das capitais e muitas cidades do país nos últimos dois anos, também somos responsáveis pela extraçõs dos mafiosos do poder.
Paulo Roberto de Almeida


JOGADA DE MESTRE
(Autor desconhecido)
Agora ficou claro. Está explicado o suposto "erro" (calculado) do Juiz Sergio Moro:

Moro e a jogada de mestre!

Entendam uma coisa, amigos: política é um jogo, e o Juiz Sérgio Moro deu xeque mate!

Moro apertou Lula, mas não o prendeu, preferiu grampear o telefone do barbudo, e assim colocou em sinuca não apenas a Lula, mas arrastou Dilma pro mesmo chiqueiro!

Jogada de mestre: assuste o chefe da quadrilha, prenda seus amigos, deixe-o apavorado, mas não o prenda rapidamente, deixe-o solto o suficiente para que no desespero, venha a comprometer os comparsas.

Graças a jogada de Moro, Lula acabou de sepultar o mandato de Dilma, com o grampo divulgado, o mandato de Dilma dura enquanto durar o processo de Impeachment e Lula está com o pé na cadeia.

Política é um jogo e Moro é um jogador espetacular!

O Juiz Sergio Moro mostra que além de ser extremamente competente, é um ESTRATEGISTA!

Se tivesse prendido o Lula há um mês, teria havido uma comoção nacional. Ele vem “fritando aos poucos a imagem” e desconstruindo o mito, para dar o bote quando este estiver na lona.

No dia da nomeação do agora ex-ministro Lula, ele abre o sigilo da Lava Jato e expõe todo o lamaçal.

Esse senhor não para de me surpreender positivamente.

Se tivesse se antecipado e prendido o Lula antes da nomeação, estaríamos assistindo uma enorme
 manifestação petista, MST, etc e  Lula seria vítima.

Mas ele foi além.

Agora, ele acendeu o estopim que vai derrubar o governo Dilma junto com o Lula e ainda de quebra,
colocou o Supremo numa sinuca que,  não tenho dúvidas derrubará o Foro privilegiado.

Incrível um juiz Federal com visão de fazer inveja a qualquer profissional do ramo.
Que entre para a história e nos devolva o Brasil!

“Vamos deixar algumas coisas claras !

1 – Quem está conduzindo a Lava-Jato não é o PSDB, o Aécio ou o Fernando Henrique: são o Ministério Público e
a Polícia Federal (e tudo observando as instâncias constitucionais até a chancela definitiva do STF – cuja quase totalidade dos juízes foi indicada pelo PT).

2 – Quem está fazendo acusações e dando subsídios para as investigações não é o DEM, a Globo nem a CIA, quem está entregando a gangue são os antigos comparsas dos delinquentes.

3 – Quem vai levar Lula pra cadeia (e quiçá boa parte de sua família) não é a Veja, o Danilo Gentili nem o Bolsonaro.
Lula irá pro xilindró por ter infringido vários artigos do Código Penal Brasileiro (e ter se achado mais esperto do que de fato é).

4 – Quem irá catapultar Dilma da presidência da República não serão os coxinhas, os fascistas nem as Forças Armadas: essa senhora será destituída do cargo pelo rigor da Lei e pela esmagadora maioria de brasileiros que não compactuam com a bandalheira.

RESUMINDO:      
         
O JUIZ SÉRGIO MORO EXPLODIU A QUADRILHA.

(autor desconhecido)
 

Ted Goertzel on Brazilian crisis and the impeachment - Brazil.com (May 16, 2016)

Meu amigo Ted Goertzel apresenta para o público americano uma interpretação mais sofisticada do que as teses simplistas do golpismo de direita que andaram circulando na imprensa internacional.
Paulo Roberto de Almeida

The Ritual Sacrifice of Brazilian President Dilma Rousseff

Brazilian president Dilma Rousseff was sacrificed as a scapegoat for sins and shortcomings widely shared by her accusers. In a nationally televised session of the Chamber of Deputies on April 16, 2016, each deputy had ten seconds to defend his or her vote. Few bothered to mention the technical legal reason for seeking her removal, borrowing money from state banks in violation of the fiscal responsibility laws.
Instead, the 367 deputies who supported impeachment said they were saving their families, their communities and their nation from the abyss into which Brazil had fallen. The 137 who defended her mostly argued that the sanctity of the presidential term should be respected, and that she wasn't as bad as a lot of the others.
The deputies fumed righteous anger, but many also seemed fearful, not just for their country but for themselves. This fear was understandable since many are under investigation by the Federal Police for corruption. Eduardo Cunha, the Leader of the Chamber who orchestrated the session, was himself removed from office by the Supreme Court a few days after the impeachment vote.
The mass psychology driving the spectacle in Brasilia has been little explored. Psychoanalyst Tales Ab'Sáber recently published a short volume about Dilma Rousseff and one about her patron, Luiz Inácio Lula da Silva. Ab'Sáber's extended essays are works of cultural criticism and historical commentary with only occasional psychoanalytic insights. But they are a beginning.
Lula and Dilma are polar opposites in terms of popularity. Lula was the most popular president in the history of Brazilian public opinion research and Dilma was the least popular. They are also opposites in personality type: Lula is gregarious, outgoing and charismatic. Dilma is stern, lacking in charisma, and prone to lashing out angrily at signs of disagreement.
Together with Lula, Dilma Rousseff says goodbye to presidency
Dilma had never run for political office but had served in several appointed positions in state and federal government. Lula selected her as his chief of staff when José Dirceu, his longtime close associate, was forced to resign and take the rap for corruption scandals. Dilma and the whole country were surprised when Lula decided he wanted her to be the Workers Party candidate for the presidency in 2010.
Lula had served two terms and was ineligible to serve again, so he nominated Dilma as a place-holder. This avoided an intraparty struggle over succession, and the possibility that a new charismatic leader might emerge to take Lula's place. At the time, Lula was so popular that journalists observed he could have elected a post to the presidency. This observation was repeated so frequently that Dilma found it necessary to publicly assert that she was not a post.
Lula's popularity had much to do with the economic boom during his presidency, sustained by high commodity prices. But there was more to it than that. Ab'Sáber describes Lula's role in the Brazilian national psyche as "a leader chosen by destiny whose ultimate strength comes from a transcendent, divine source…. In generic psychoanalytic terms it is the magical thinking of a child who does not understand the realistic constraints of his parents' thinking."
In Ab'Sáber's view, Lula's "first charismatic imaginary, the object of the transference from the heterogeneous and socially significant public that sustained him was that of the good savage, civilized and civilizing, antibourgeois because of his position in the class structure, but with the practical social, economic and political knowledge lost to the theoretical left locked in the ivory tower of the university." (All translations are my own.)
Lula was raised by an impoverished single mother, became a lathe mechanic and union leader and the first Brazilian president from the working class. But once he put aside strident socialist rhetoric to get elected, he was warmly welcomed by all social classes as a transformational leader who would bring Brazil into the modern age. His slogan was "Lula: Peace and Love."
Ab'Sáber uses Lacanian psychoanalytic terminology to describe the process by which Lula softened the harsh slogans of his neo-Marxist past. Ab'Sáber's jargon is too difficult for a direct translation, but as best I understand it he says that in a process Lacanians call foreclosure (forclusion in French), problems are not repressed outright but reframed to be less threatening. Thus, misery becomes poverty, the proletariat becomes the middle class, and mammoth fortunes become income inequality.
In other words, Lula rephrased problems so they were less threatening. This worked well as long as the economy was booming. Brazil did especially well during the global financial crisis of 2008 because its large state sector protected it from the worst of the downturn. But a Keynesian stimulus has to be followed by a cutback when the crisis subsides.
Dilma and the Workers Party didn't accept that. They were smug and overconfident, they thought they could continue to run up debt and fill the bulging bureaucracy with their minions. Their profligate spending and mismanagement led to massive street demonstrations by youth frustrated by high prices and lack of opportunity.
Dilma got narrowly re-elected in 2014 by denying the seriousness of the crisis caused by the fall of commodity prices and by borrowing massive funds from state banks in violation of the fiscal responsibility laws. As soon as she was re-elected she effectively admitted that the opposition had been right and that cutbacks were needed. People were angry at having been deceived by an unfeeling bureaucrat
The economic crash that followed would have taxed the popularity of any president, but Dilma was especially vulnerable. In Ab'Sáber's view, on a psychological level Lula had much in common with his social democratic predecessor, Fernando Henrique Cardoso. Both are conciliatory leaders who seek consensus. Dilma is more authoritarian, concerned with projecting strength.
Ab'Sáber believes she is more similar, as a psychological type, to the military president Ernesto Geisel. He says she also had something in common psychologically with José Serra, the social democrat who ran against her 2010. Serra is more of a technocrat than a schmoozer. But as a technocrat Serra has the great virtue of being highly competent with much stronger qualifications in economics than Dilma. Serra has also proven himself politically as a mayor and governor in São Paulo.
This raises the question of why Lula selected Dilma in the first place, when so many more experienced politicians were available. At the time it was suspected that he planned to run things from behind the scenes, using her essentially as a chief of staff. But that didn't happen; he left her on her own to run things and went traveling around the world, even before he had to be treated for throat cancer.
Ab'Sáber speculates that Dilma may have been a mother image to Lula whose own mother had taken care of him so well when his father abandoned the family. Perhaps he felt that the country would be safe in her hands. The experienced Workers Party politicians Lula might have chosen were mostly men. But Ab'Sáber concedes that "it is difficult, even for an analyst, to believe that such traditional and prosaic psychoanalytic motives could have had such an impact on public history."
Dilma herself has remarked that she was a strong woman surrounded by fluffy (fofos) men. But if so, this was her choice, since there are certainly plenty of strong men she could have selected to work with her. Perhaps, as a woman insecure in a role beyond her level of experience or competence, she compensated by being authoritarian and dismissive of others. At the end, she tried to save herself by bringing Lula back into the government, appointing him to the role she had held, chief of staff. But the Supreme Court blocked the appointment on the grounds that Lula was under investigation for personal corruption related to his beach house.
The impeachment of Dilma was a sorry spectacle because she is apparently personally honest and many of her persecutors certainly are not. But Dilma's cheating on the fiscal responsibility laws is actually worse for the country than accepting personal payoffs or "tips" as the Brazilians call them.
Without fiscal responsibility, Brazil could easily slide back into the quagmire of hyperinflation and dysfunctionality. As President of Brazil, and as former president of the national oil company, Dilma has a heavy burden of responsibility for the massive corruption uncovered by the Federal Police and the courts.
Lula could also have been impeached for the systematic payoffs to congresspersons during his administration. But he was popular and his chief of staff, José Dirceu, took the rap for him. For Lula, the buck stopped with Dirceu. The leaders of the Dilma impeachment, many of whom were former allies abandoning a sinking ship, hope it will stop with Dilma.

References:
Tales Ab'Saber, Lulismo: carisma pop e cultura anticrítica. Amazon Kindle Edition, 2015.
Tales Ab'Saber, Dilma Rousseff e o ódio político. Amazon Kindle Edition, 2015.
Ted Goertzel and Paulo Roberto de Almeida, eds., The Drama of Brazilian Politics from 1815 to 2015. Amazon Kindle Edition, 2015.

Ted Goertzel, Ph.D., has retired as professor in the Sociology Department at Rutgers University in Camden, N.J. He is the author of a biography of Fernando Henrique Cardoso, available in English and in Portuguese. He is best reached by email at tedgoertzel@gmail.com and his WEB page can be found at http://crab.rutgers.edu/~goertzel/

The Ritual Sacrifice of Brazilian President Dilma Rousseff:
http://brazzil.com/23942-the-ritual-sacrifice-of-brazilian-president-dilma-rousseff

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