sábado, 11 de maio de 2019

A politica externa na perspectiva do Mercosul - livro gratuito de Marcelo Mariano (Unesp digital)

Um livro disponível livremente na Biblioteca Digital da Editora da Unesp:

A política externa brasileira e a integração regional

Uma análise a partir do Mercosul


Livro
O objetivo principal de Marcelo Passini Mariano nesta obra é investigar como a política externa do Brasil, o principal integrante do Mercosul, relaciona-se com o bloco regional e de que maneira se revela na sua configuração e nos seus impasses. A partir de análises que entendem que a crise vivida pelo bloco não decorre exclusivamente de questões comerciais, o autor afirma que parte dos desafios atuais do bloco regional tem origem na própria concepção da política externa brasileira, que privilegia sua expansão para o restante da América do Sul em detrimento do aprofundamento da integração.
Assim, em A política externa brasileira e a integração regional, Mariano discute a hipótese de que, para o Mercosul expandir-se, seria necessária uma mudança em alguns preceitos da política externa brasileira em relação ao escopo dos processos de integração, em especial sobre a questão da autonomia de cada nação.

Autor:

  • Marcelo Passini Mariano 
    Marcelo Passini Mariano é cientista político, professor de Relações Internacionais nas Faculdades Integradas Rio Branco; pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec); assessor de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores; doutorando em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (Unesp – câmpus Araraquara); autor de livros e artigos em publicações especializadas. 

Unesp divulga seus livros digitais: política externa e diplomacia


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Ricardo Bergamini transcreve frases de Roberto Campos

Prezados Senhores
Confesso minha limitação para entender esse manicômio em que se transformou o Brasil, apenas sei que a oposição ficou sem nenhuma função. 
Na minha experiência profissional como defensor do liberalismo, sempre observei que a direita no Brasil transpira vaidade por todos os poros (luta central é sempre por cargos, títulos e patentes), consequentemente a união sadia é praticamente impossível. Como exemplo posso citar que até a presente data fui expulso de todos os grupos ditos liberais do quais participei. Basta ver o que Roberto Campos escreveu:
Estive certo quando tive todos contra mim (Roberto Campos).
Não sei se continuar solitário no meu liberalismo não seria melhor do que adquirir más companhias (Roberto Campos).
Talvez seja mais fácil lidar com os socialistas arrependidos do que com os capitalistas envergonhados (Roberto Campos).
O primeiro problema do liberalismo no Brasil é existirem poucos liberais (Roberto Campos).
O nacionalismo brasileiro não integra; divide (Roberto Campos).

O Brasil está tão distante do liberalismo como o planeta Terra da constelação de Ursa Maior (Roberto Campos).
A burrice não tem fronteiras ideológicas (Roberto Campos).
A América Latina se desapontou com o capitalismo antes de praticá-lo (Roberto Campos).
Não são muitos os brasileiros que, como eu, terão tido a bizarra experiência de ser enterrados vivos (Roberto Campos).
Ricardo Bergamini

A batalha contra si mesmo, alimentada pelo Imbecil Individual - IstoÉ

Generais sob ataque
Da Virgínia, Olavo de Carvalho age como o imbecil, que ele mesmo consagrou em sua obra: desprovido de qualquer freio moral, o filósofo parte para uma briga pública contra os militares e atrapalha o País
CUIDADO Que ninguém se engane: Olavo, apesar de aparentemente louco, tem método 
Wilson Lima e Germano Oliveira
Revista ISTOÉ, 10/05/19 - 09h30

No livro “O imbecil coletivo”, escrito pelo filósofo Olavo de Carvalho há mais de 20 anos, ele acusa os intelectuais brasileiros de terem se corrompido pela “intoxicação  ideológica” com a qual “imbecilizaram” seus leitores. Nos últimos dias, ao ultrapassar todos os limites do radicalismo e da insanidade na escalada de ataques sórdidos aos militares, o escritor e guru do governo Bolsonaro demonstra que o imbecil é outro. Ele mesmo. Engana-se quem pensa, no entanto, que o Eremita da Virgínia (EUA), onde reside e dispara seus tuítes desaforados, recheados de desrespeitos, chutes abaixo da linha da cintura e palavras de baixo calão, não age com método. Contraditório na essência, como quem veio para confundir, mas firme em seus propósitos, o ex-astrólogo comanda como um maestro distante, ao menos desde a campanha eleitoral, a ala ideológica do bolsonarismo. Com a ascensão de Jair Bolsonaro ao Planalto, seu séquito passou a ocupar postos estratégicos na Esplanada dos Ministérios, mas dois de seus apóstolos em especial justificam a astronômica influência que o ex-astrólogo exerce sobre o presidente da República: os filhos “02” e “03” do mandatário, Carlos e Eduardo Bolsonaro, respectivamente. Por intermédio deles, numa espécie de atalho afetivo, Olavo ocupa a mente e o coração daquele que foi eleito para comandar os destinos do País por 57 milhões de pessoas, com forte apoio do Exército, mas que, ao que parece, resolveu se deixar governar pelo exército de um homem só – o próprio Olavo.
Foi aliado ao mais aguerrido dos rebentos do presidente, o proverbial Carluxo, que o guru radicado em Richmond superou, na semana passada, as fronteiras da própria petulância – como se as diatribes perpetradas por ele até então já não fossem o bastante. Imbuído de uma volúpia devastadora, Olavo agiu sofregamente na clara tentativa de desmoralizar o núcleo de generais da Esplanada — e, o pior, livre e solto, desprovido de qualquer freio moral. Num dos mais baixos ataques já presenciados na história recente da República, classificou o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, de “bosta engomada” e referiu-se ao ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas como um “doente preso em cadeira de rodas”, numa alusão à doença degenerativa sofrida pelo general, hoje assessor do GSI. O ideólogo do governo parte do pressuposto — e por isso se movimenta com método — de que a defesa das instituições desempenhada pelos militares os transforma num “inimigo” a ser eliminado no decorrer de um processo – ou de uma “cruzada” – que o olavismo chama de “revolução cultural conservadora”. Ocorre que as consequências para o governo das, ao mesmo tempo, indigentes e desenfreadas agressões que visam a atingir o seu objetivo final são imprevisíveis.
A crucificação de Cruz
Senão vejamos. Santos Cruz foi alçado a alvo preferencial nos últimos dias. Tudo começou com uma operação típica de criação de fake news para alvejá-lo: uma frase do ministro sobre o uso das redes sociais por grupos ideologicamente extremados foi tirada de contexto. Espalhou-se então que ele desejaria censurá-los. Não era verdade. Foi quando Olavo entrou em cena sentando o dedo no teclado contra o general: “Controlar a internet, Santos Cruz? Controle a sua boca, seu merda”, disse Olavo por meio do twitter no domingo 5. “A internet ‘livre’ foi o que trouxe Bolsonaro até à Presidência e graças a ela podemos divulgar o trabalho que o governo vem fazendo! Numa democracia, respeitar as liberdades não significa ficar de quatro para a imprensa, mas sempre permitir que exista a liberdade das mídias!”, emendou Carlos Bolsonaro. Quando o general retrucou, Olavo desceu ainda mais baixo. “Santos Cruz, não me meça por você mesmo. Você, sem seu cargo e sua farda, é um nada. Eu, pelado e esmagado sob uma jamanta, sou ainda o autor de livros que serão lidos por muito tempo após a minha morte”.
ALTO COMANDO As Forças Armadas querem que Bolsonaro feche a boca do ideólogo-guru e filhos

Sob fogo cerrado, na noite de domingo, o próprio general foi tirar satisfação com o presidente. A conversa com Bolsonaro foi tensa e durou 1h30. Santos Cruz, conhecido por não medir as palavras, ameaçou deixar o governo. As ofensas ao colega de farda irritaram de tal maneira a caserna, que provocou uma reação em cadeia de comandantes de todas as armas. Indignado, um integrante militar admitiu em caráter reservado à ISTOÉ que, se não estivesse pensando no País, “pois somos o ponto de moderação disso tudo”, ele “já teria largado essa confusão e ido embora”. ISTOÉ apurou que o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi outro que cogitou desertar caso os petardos não cessassem. A ira dos militares contra Olavo ficou explícita também em dois instantes distintos. O Clube Militar, entidade representativa das Forças Armadas, promoveu um ato de desagravo aos generais, afirmando que eles foram atingidos pela “incontinência verbal que, impune, prospera inexplicavelmente em distintas esferas de poder”. Se isso não fosse suficiente, o ex-comandante geral do Exército, general Eduardo Villas Bôas, também saiu em sua defesa. Nas redes sociais, Villas Bôas afirmou: “Mais uma vez o sr.
Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às Forças Armadas, demonstrando total falta de princípios básicos de educação. Verdadeiro Trotski de direita”. Foi nesse momento que Olavo o classificou “de um doente preso a uma cadeira de rodas”. Não havia como se rebaixar ainda mais na escala da degradação moral.
Em meio à nova crise desnecessária, entre inúmeras em menos de seis meses de governo, restaria saber de que lado da trincheira estaria o presidente da República. A decisão jamais deveria representar uma escolha de Sofia para Bolsonaro. Afinal, de um lado está quem hoje faz a diferença no governo — os militares. Do outro, a vanguarda do atraso. É Olavo quem está por trás da maioria das políticas equivocadas, para não dizer destrambelhadas, da atual gestão. Como, por exemplo, a doutrina da alienação do MEC — baseada em cortes injustificáveis de recursos de universidades, no sufocamento do livre pensar e nos ataques às ciências humanas —, e a própria deletéria agenda internacional, levada a cabo pelo chanceler Ernesto Araújo, ancorada no fantasma do marxismo cultural, tese mais do que presente nas aulas online de Olavo. Para não falar também dos insultos cotidianos à diversidade, sustentados por uma ideologia carola que remonta há quase dois séculos.

“Praticamente todas as crises que nós vivemos desde que o presidente Bolsonaro assumiu têm a participação do Olavo de Carvalho” General Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército
Infelizmente, porém, o presidente parece ter pego o bonde errado da história. Por mais que tente escamotear, não é difícil descobrir por quem o coração de Jair Bolsonaro bate mais forte e acelerado. As recentes atitudes do presidente consagram o olavismo como o cânone principal do governo. Por exemplo, o mandatário não moveu uma palha para defender seus auxiliares tratados piores do que esterco humano pelo filósofo. Ao contrário, em almoço com militares, quando muitos esperavam algum sinal de admoestação, Bolsonaro sugeriu que todos permanecessem em obsequioso silêncio. “Olavo é dono do seu nariz”, limitou-se a dizer. As razões do alinhamento quase que automático, pelo jeito, decorrem da gratidão do presidente pelo que considera uma primordial contribuição de Olavo na campanha eleitoral de 2018. Em mensagem postada no twitter na terça-feira 7, Bolsonaro atribuiu ao escritor o “trabalho contra a ideologia insana” dos governos anteriores. “Olavo tornou-se um ícone. Sua obra em muito contribuiu para que eu chegasse ao governo, sem o qual o PT teria retornado ao poder”. Assim, sem cargo ou estrelas no peito, o imbecil da Virgínia reina quase que soberano sobre todos os escalões do poder – e atrapalha o País. Até quando?

Ricardo Bergamini resume a Semana da Corrupção no Brasil

Semana da vitória da corrupção no Brasil, senão vejamos:

1 - Na comissão especial que se incumbiu de examinar a medida provisória 870, que remodelou os ministérios ao gosto de Jair Bolsonaro, deslocou-se o Coaf da Justiça para a Economia. 

2 - Aprovou-se uma emenda-jabuti que restringe a atuação dos auditores da Receita Federal, afastando-os do Ministério Público. A turma do Fisco terá de se ater aos crimes tributários. Se esbarrarem em indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e toda sorte de delitos, não poderão se reportar diretamente ao Ministério Público, como fazem hoje. O compartilhamento dos dados só será admitido mediante autorização judicial.

- Com isso a nova redação da lei será como segue: “todo cidadão brasileiro tem o direito de denunciar o conhecimento de qualquer crime, e todos os servidores públicos, com exceção dos auditores fiscais da receita federal, têm o dever de denunciar o conhecimento de qualquer crime”.  

3 - Na outra ponta da Praça dos Três Poderes, o Supremo Tribunal Federal decidiu que as Assembleias Legislativas, a exemplo do que sucede com o Congresso Nacional, têm poder para reverter decisões judiciais desfavoráveis aos deputados estaduais. Podem anular ordens de prisão, rever medidas cautelares e até suspender ações penais. Na prática institucionalizou-se o modelo baseado na regra número um do corporativismo: uma mão suja a outra.

- A partir de agora não haverá lugar mais seguro para os criminosos do que participar da política nas câmaras de deputados estaduais, já que no Congresso Nacional a visibilidade é muito maior e não havia interesse dos criminosos ditos comuns (criminosos de segunda classe), sempre foi usado apenas pelos corruptos (criminosos de primeira classe). 

4 - Como se fosse pouco, o Supremo validou o decreto de indulto natalino assinado por Michel Temer em 2017. Coisa fina: inclui no rol dos beneficiários condenados por corrupção, peculato, concussão, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, etc. Coisa generosa: perdão de 80% da pena e 100% das multas. Tudo isso no mesmo dia em que Temer foi recolhido à prisão pela segunda vez no âmbito de um processo em que é acusado de chefiar organização criminosa.

- Um decreto de autoria do maior gângster da histórica política do Brasil, legislando em causa própria foi aprovado pelo STF.

Ricardo Bergamini

Notícias sobre o estado da corrupção em certo país - Josias de Souza

Brasília opera como se desejasse acordar a rua

Josias de Souza

11/05/2019 02h40


A roubalheira não atingiu o estágio epidêmico no Brasil por acaso. A oligarquia política e empresarial tornou-se corrupta porque a corrupção tem defensores poderosos no país. Feridos, os paladinos da imoralidade estavam recolhidos. Jogavam com o tempo. Festejaram em silêncio a volta das ruas para casa. E passaram a sonhar com a chegada do momento em que a Lava Jato se tornaria um assunto chato.

A julgar pelo rebuliço que se observa em Brasília, o grande dia chegou. Os cavaleiros da velha ordem estão de volta. Movem-se com desenvoltura incomum. É como se planejassem tirar o atraso. Já nem se preocupam em maneirar. Perderam o recato. Há poucos, muito poucos, pouquíssimos inocentes em cena. Juntos, culpados e cúmplices compõem a maioria.

Na comissão especial que se incumbiu de examinar a medida provisória 870, que remodelou os ministérios ao gosto de Jair Bolsonaro, o esforço anticorrupção recebeu duas pauladas. Primeiro, deslocou-se o Coaf da Justiça para a Economia. Poder-se-ia alegar que a volta atrás seria tecnicamente justificável. Mas a segunda cacetada deixou evidente o que se passava na comissão.

Aprovou-se uma emenda-jabuti que restringe a atuação dos auditores da Receita Federal, afastando-os do Ministério Público. A turma do Fisco terá de se ater aos crimes tributários. Se esbarrarem em indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e toda sorte de delitos, não poderão se reportar diretamente ao Ministério Público, como fazem hoje. O compartilhamento dos dados só será admitido mediante autorização judicial.

Ah, que maravilha! A corrupção passa pelo portão dos fundos, sobe pelo elevador privativo, encontra a porta aberta e entra sem bater. A fiscalização marca hora e toma chá de cadeira na antessala. Esbarrando em algum crime, fica de bico calado, redige um requerimento à chefia, que envia um ofício ao Departamento Jurídico, que protocola uma petição ao juiz, que produz um despacho qualquer quando bem entender.

O secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, chamou a manobra pelo nome próprio numa postagem no Twitter: "Mordaça", ele anotou. "É incrível uma lei proibir um auditor fiscal de comunicar ao Ministério Público a suspeita de um crime, conexo ou não a um crime tributário investigado. Isso é uma obrigação de qualquer cidadão. Uma mordaça está sendo colocada na Receita Federal…"

Na outra ponta da Praça dos Três Poderes, o Supremo Tribunal Federal decidiu que as Assembleias Legislativas, a exemplo do que sucede com o Congresso Nacional, têm poder para reverter decisões judiciais desfavoráveis aos deputados estaduais. Podem anular ordens de prisão, rever medidas cautelares e até suspender ações penais. Na prática institucionalizou-se o modelo baseado na regra número um do corporativismo: uma mão suja a outra.

Como se fosse pouco, o Supremo validou o decreto de indulto natalino assinado por Michel Temer em 2017. Coisa fina: inclui no rol dos beneficiários condenados por corrupção, peculato, concussão, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, etc. Coisa generosa: perdão de 80% da pena e 100% das multas. Tudo isso no mesmo dia em que Temer foi recolhido à prisão pela segunda vez no âmbito de um processo em que é acusado de chefiar organização criminosa.

Aos pouquinhos, o pedaço do mapa de Brasília por onde transita o Poder vai recuperando aquele velho formato de forno —um forno de assar pizzas. Eleito como capitão de uma nova ordem, Jair Bolsonaro diverte-se distribuindo portes de arma. Simultaneamente, divide ministérios em dois para tentar, sem sucesso, saciar o apetite de aliados.
Quem olha de longe fica com a impressão de que Brasília é movida pelo desejo inconsciente de acordar a rua. Tomara que consiga. Só o meio-fio pode salvar o Brasil dos defensores da imoralidade.

De volta ao samba do Arnesto, uma musica antologica - Andre Vargas (IstoE)

Por que tantos odeiam Ernesto?

Chanceler escanteou embaixadores experientes, contrariou regras e tornou o Itamaraty um palco de intrigas

Crédito: José Cruz/Agência Brasil
CONVERTIDO Citações em grego, exonerações e pouca política externa (Crédito: José Cruz/Agência Brasil)
A diplomacia brasileira não anda fazendo alianças nem sequer dentro de casa. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, coleciona desafetos e provoca temor entre antigos colegas, subordinados e chefes. Sua política de tolerância zero contra quem não concorda plenamente com a cartilha pró-EUA do governo Bolsonaro nega as tradições do Itamaraty, que sempre tentou se apresentar como uma instituição equilibrada ­— com diferentes graus de sucesso. Sem contar que críticas às esdrúxulas opiniões que o ministro expressa em seu blog Metapolítica 17 contra o que chama de “globalismo” também podem render um visto para o ostracismo.

EXONERADA Letícia Catelani se disse perseguida
e vítima de corruptos, mas sem apresentar provas

Com o intuito de renovar o ministério e a forma de fazer política externa, um grupo de embaixadores acabou em casa esperando a aposentadoria ou alguma nova designação. Outros migraram temporariamente para instituições governamentais. Há também gente jogada em posições subalternas, como a ex-embaixadora em Gana, Irene Vida Gala. Com mais de 34 anos de experiência e passagens por representações em Portugal, Itália, Angola, África do Sul e na sede da ONU, hoje ela é subchefe de um escritório obscuro em São Paulo e dá palestras. Diante disso, diplomatas mais jovens temem se expor.

Choro e inquisição
Mas de onde veio todo esse furor? Araújo era um discreto diplomata de carreira, gaúcho, 52 anos completos na próxima quarta-feira 15, casado com a colega Maria Eduarda e genro do embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Quem trabalhou com ele fazia comentários positivos. Até que foi apresentado a Olavo de Carvalho durante seu período como ministro-conselheiro na embaixada em Washington. O cartão de visitas como conservador que luta para salvar o Ocidente cristão foi para Ernesto uma espécie de Caminho para Damasco ­— episódio bíblico em que são Paulo é convertido. Acabou alvo de chacota de liberais, moderados e esquerdistas, ganhando os apelidos de Arnie, Arnesto e Beato Salu. Só Olavão gostou, tanto que o indicou. Contrariando as regras do ministério, virou o chanceler mais novo da história sem ao menos ter assumido uma embaixada. Muita gente influente não gostou.

ALMIRANTE Sérgio Segóvia assumiu a Apex por pressão da ala militar, que deseja uma agência de fomento com caráter técnico (Crédito:Divulgação)

Agora crescem as pressões. Durante a formatura de diplomatas, na sexta-feira 3, Araújo comparou Bolsonaro a Jesus Cristo e foi às lágrimas. Também afirmou que “diplomacia não significa ficar em cima do muro” e que é preciso “ter sangue nas veias”.
Depois criticou a Venezuela de Maduro e a possibilidade de eleição de Cristina Kirchner na Argentina. São posicionamentos que um presidente eleito pode adotar, mas que não convém a um chanceler. As lágrimas também podem ter sido uma prefiguração do revés que veio na segunda-feira 6, quando teve que ceder à ala militar do governo, contrária ao bloco olavista.
Com a nomeação do contra-almirante Sérgio Segóvia para a presidência da Apex, a Agência de Promoção à Exportação, veio a exoneração dos diretores Márcio Coimbra e Letícia Catelani, ligados a Eduardo Bolsonaro. Em abril, ambos foram responsáveis pela queda do embaixador e ex-presidente da agência Mario Vilalva, que chamou Araújo de desleal por dar poder aos novos diretores sem consultá-lo. Em fevereiro, o ministro também havia afastado por discordâncias o embaixador Paulo Roberto de Almeida da direção do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais, o braço acadêmico do Itamaraty. Na ocasião, o ex-chanceler Celso Lafer afirmou que o pluralismo acabara: “O chanceler se unge da lembrança de Torquemada, um grande inquisidor”. Como resultado, o MRE virou palco de disputas e mal-estar. Para arrumar o estrago será preciso mais do que as citações em grego koiné que Araújo tanto aprecia. Pena que seu melhor argumento em defesa do Brasil culpe o resto do mundo por adotar uma “visão muito superficial” sobre o governo Bolsonaro.
Araújo é o mais jovem ministro das Relações Exteriores, sem ao menos antes ter assumido uma embaixada. Muita gente detesta a escolha.

Igualdade de gênero
Um memorando reservado instruiu quem atua junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) a não usar mais a expressão “igualdade de gênero”, que deve ser substituída por “igualdade entre homens e mulheres”
Embaixadores de pijama
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