sábado, 30 de janeiro de 2021

29) Sozinho (semana 29): o chanceler acidental e seu chefe se desesperam com a derrota de seu ídolo - Cronista Misterioso

Nota PRA: uma curta nota, apenas para registrar a tristeza do chanceler acidental e seu chefe com a derrota do Grande Mentecapto nas eleições presidenciais dos EUA.

Deve ter sido de fato um choque, o primeiro perder o seu "I love you Trump", o segundo perder o seu segundo, talvez primeiro, chefe, seu guia espiritual.

Essa fatura o eleitorado americano já liquidou; nós ainda nos debatemos na dúvida.


29) Sozinho (semana 29)

 

Às vezes no silêncio da noite, deves imaginar vocês dois. Deves sonhar ali acordado, juntando o antes o agora e o depois… 

 

Imagino que nosso dendrófobo presidente esteja desnorteado, pois esta semana soubemos que ainda acredita em uma vitória eleitoral de seu amor. Andou meio perdido, meio confuso, meio acabrunhado. Deu patadas pra cá e pra lá. Orgulhou-lhe de vetar a vacina, ameaçou militarmente os EUA (!) e, last but not least, ocupou-se do jet-ski. Seguramente, sofre com a derrota, ainda inadmitida, de seu bem querer.

 

Não riam. Nosso chefe está de luto. É duro perder um ídolo, ainda mais quando não se tem pensamento próprio e apenas se segue o líder. 

 

É, amigo, é duro. Você fala que o ama, e sabemos que não é da boca para fora. Ou ele te engana ou não está maduro, iei, iei, iei, iei, ié.

 

Onde está seu Deus agora?

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN.


Crônicas 26, 27 e 28 do Cronista Misterioso já publicadas: aqui os links - Introdução Paulo Roberto de Almeida

Ao retomar a série das crônicas do nosso Batman, constato que, ademais da semana 26, eu já havia postado as duas seguintes, e possivelmente também algumas outras, mas a profusão de mensagens, postagens, obrigações acadêmicas, notas de leituras, comentários a matérias da mídia que atravessam, perpassam, invadem meus espaços não me permitiram manter a ordem natural das coisas.

Informo aqui, para eventuais interessados, sobre estas três, antes de retomar a série a partir do número 29. Cada uma destas postagens integram pequenas notas introdutórias de minha parte, pois tenho essa mania de sempre introduzir textos e matérias de terceiros: 

26) É bom ser pária! (Semana 26) 

            Link (29/01/2021): https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/26-e-bom-ser-paria-semana-26-ereto-da.html

 

27) O dragão da maldade contra o santo guerreiro (Semana 27)

            Link (13/11/2020): https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/o-dragao-da-maldade-contra-o-santo.html

 

28) E Agora José? (Semana 28)

            Link (13/11/2020): https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/o-cronista-misterioso-ataca-de-drummond.html

 

Divirtam-se...

Paulo Roberto de Almeida


25) A Estagnação Freudiana do Bolsonarismo: Ereto da Brocha, o Cronista Misterioso do Itamaraty bolsolavista; Introdução a nova série: Paulo Roberto de Almeida

Minhas desculpas aos meus 18 leitores, pela organização quase caótica desta transcrição das crônicas sobre o Itamaraty bolsolavista e sua triste figura que faz de conta que é chanceler. Em primeiro lugar, eu dependo de segundos e terceiros intermediários, que nem sempre recebem as ditas crônicas em ritmo regular, pois imagino que o Cronista Misterioso, nosso Batman – ou Arsène Lupin, ou Fantômas, como vocês preferirem –, prefira resguardar sua identidade dos esbirros do poder, sobretudo aquele bando de bárbaros que integra o chamado Gabinete do Ódio (por razões que lhe são próprias).

A segunda edição da brochura que preparei, reunindo as duas dúzias de crônicas recebidas em três ou quatro etapas, dando-lhe o simpático título de Um ornitorrinco no Itamaraty, foi colocada por mim na plataforma Academia.edu e informada neste blog, nesta postagem: 

Um Ornitorrinco no Itamaraty: crônicas do Itamaraty bolsolavista - Ereto da Brocha (o cronista misterioso)

(https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/um-ornitorrinco-no-itamaraty-cronicas.html)

Como essa brochura continha apenas as 24 primeiras crônicas, passo agora a divulgar as quinze subsequentes que acabo de receber, com alguma eventual repetição de uma ou outra que já posso ter postado. 

Tenho uma reclamação a fazer ao Cronista Misterioso, que não sei se me lerá ou não: ele costuma apenas indicar a série numérica dos seus textos, sem datar cada uma delas específica e precisamente. Como existe uma decalagem temporal entre a sua escritura e meu recebimento e publicação, ficamos sem saber quando exatamente foi escrita uma determinada crônica, a menos de uma indicação qualquer (semana de Natal, por exemplo, ou primeira crônica de 2021). Vou pedir ao nosso Batman que ele coloque a data precisa de sua redação, mas não se ele me lerá, ou acatará a sugestão.

Por que faço essa transcrição individual e ainda tenho a pachorra de compor um livreto? Por puro divertimento.

A situação que estamos vivendo no Itamaraty é tão absurda, tão maluca, que só a derrisão, o escárnio, a gozação pode trazer um pouco de alento aos desalentados diplomatas, que desprezam o seu falso chefe, mas precisam aparentar disciplina e obediência, pois o desequilibrado é dado a retaliações raivosas (ele gostaria de me esganar, estou certo disso). 

Então, retomo a série de publicações, e paralelamente vou coletar todas as 43 dezenas de crônicas recebidas numa terceira edição. Alguém já me indagou sobre copyright, algo impossível de determinar neste momento. Haverá um dia em que o Batman virá à luz, mas no momento cabe apenas atribuir-lhe direitos morais, o que faço com prazer. Fico aguardando novas crônicas, e imagino que elas só cessarão quando o alucinado e alucinante chanceler acidental deixar os diplomatas (e o Brasil), em paz, recolhendo-se à sua mediocridade, ou desaparecendo em algum buraco negro da política brasileira.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30 de janeiro de 2021


25) A Estagnação Freudiana do Bolsonarismo (Semana 25)

 

Peço de antemão vênia ao amigo leitor, pois é-me necessário abordar questões um tanto quanto vulgares e que exigem vocabulário inferior. Não sou nenhum puritano, mas a análise do bolsonarismo faz com que eu deva debruçar-me sobre questões que podem ruborizar os mais sensíveis. Às favas, pois é o dever do Ombudsman.

 

É conhecida a obsessão de Bolsonaro com o aparelho excretor humano. Refere-se em demasia a seu produto principal, como repetido tantas vezes na famigerada reunião de ministros. Ou como na parábola do sábio líder que orientava seus discípulos: “Quando se fala em poluição ambiental, é só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também, está certo?” 

 

É conhecido também seu envolvimento passado com cloacas - dada sua confissão pública de zoofilia com aves. 

 

Não me posso portanto furtar da meditação sobre a origem de tamanha obsessão pelo orifício excretor. Pergunto em voz alta aos Sigmunds na estante se o excelentíssimo se encontra estagnado na fase anal. Ao que me respondem silenciosamente, na voz que me imagino a Freud, que indivíduos excessivamente preocupados com o controle e a manipulação das precondições de sua realidade, crentes de que tudo podem e que todos devem dobrar-se a suas preconcepções, estão sim estagnados na fase anal da evolução psicointelectual (apenas a segunda fase desse processo).

 

Para além do freudianismo elementar, o bolsonarismo é famoso por essa obsessão de seu ídolo, muitas vezes referida como o fator de aproximação do excelentíssimo com o guru da loucura, Olavo de Carvalho. A identificação excremental de ambos é curiosa e parece pautar todo o plano de governo desta era sombria. Quiçá uma coprokakistocracia, termo que ouso cunhar, mas que não explicarei, pois me envergonha. Peço apenas que pesquisem o prefixo latino “copro-“ e prefixo grego “kákistos-“.

 

Assim, não foi surpresa que o vice-líder do governo, o Senador Chico Rodrigues, com quem Bolsonaro afirma ter uma relação “quase estável”, no sentido jurídico da coisa, fosse também afligido por essa estagnação anal. Seriam os R$ 17.900 que o vice-líder escondeu na “cueca” apenas mais um episódio de corrupção deste governo, ou também sintoma dessa obsessão freudiana? Não sei, mas sei que ninguém esconde R$17.900, esconde R$18.000. Resta saber onde permaneceu entalada a nota de R$ 100 faltante?

 

Não são só R$ 100. Reflitam.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

26) "É bom ser pária" (semana 26) - Ereto da Brocha (Cronista Misterioso) - O Batman do Itamaraty está de volta!

 O Batman do Itamaraty está de volta!

Ou melhor: meus agentes secretos, 005 e 006, voltaram de férias ou do descanso, e conseguiram me desovar as saborosas — algumas angustiantes — crônicas do Cronista Misterioso das últimas semanas do ano miserável de 2020 e as primeiras de um ano, 2021, que promete ser mais miserável ainda.
Em todo caso, preciso preparar uma terceira edição destes petardos anti-EA, para ampla disseminação e circulação entre o público interessado.
Começo pela primeira desta terceira safra e depois vou alinhando paulatinamente as 14 seguintes, aproveitando para desejar ao Cronista Misterioso meus melhores votos de felicidades em 2021 (só desejo um ano pior, desgraçado, a quem vcs sabem quem).
Brasília, 29/01/2021

É bom ser pária (semana 26)
Escreveu o poeta que devemos ter nossos corações palpitantes de amor patriótico para enfrentar o dragão da mal. Não me refiro a nenhum conto infantil, mas a recente discurso de nosso chefe, que, falando para os formandos da turma João Cabral, convocou-os para uma “aventura nacional e mundial de proporções históricas”! “No sentido medieval” mesmo, como esclareceu.
Não estou plenamente seguro de que os jovens formandos tinham a consciência de que ingressavam não em uma tradicional carreira de estado, mas em uma “aventura épica”, em um “combate de gigantes pela essência humana”! Pensando cá com meus botões, lutar contra dragões… Não tenho certeza se estava nos planos desses jovens.
No romance heroico de nosso chanceler, o globalismo e o politicamente correto, a mando “sabe-se lá de quem” - pois há de ter um toque conspiratório nisso tudo - construíram um ser humano artificial, sem sexo. Pois é, sem sexo - não atribua a mim esse recalque, leitor, foi ele quem disse. A propósito, todas essas referências lascivas a “orgias” e “acasalamento” podem até ser uma forma de agradar o chefe, é verdade, ou de “libertar a linguagem”, mas tenho cá pra mim que… Bom, tirem suas próprias conclusões; ainda me apego a esse incômodo “politicamente correto”.
A saudosa Ms. Walker, professora de inglês de todos nós, proferiu, na mesma ocasião, discurso a um só tempo sóbrio e grandioso. Multilateralismo, democracia e redução das desigualdades sociais. Ah, que saudades que tenho de nossa real diplomacia, em que conceitos racionais estavam também na palavra do Ministro, em lugar de críticas fantasiosas a inimigos imaginários.
Mas a ele uma coisa não se lhe pode negar. Sabe que somos párias, objeto de desconfiança, descrédito e piada. Chacota mesmo. Chalaça. Sabe que cada vez mais nosso trabalho é dificultado no exterior e torna-se por vezes até perigoso. Reconhece, e com orgulho. Diz que é bom ser pária. Acredita que somos heróis virtuosos, lutando sozinhos para libertar o mundo “sabe-se lá de quem”. Só mesmo em seu mundo lírico e confuso, cheio de vilões, aventura e magia.
Se ser pária é tão bom, senhor Ministro, Vossa Excelência poderá ser pária dentro de seu próprio Ministério, recolhendo-se a sua aventura imaginária contra moinhos, orgias comunistas e dragões do mal. Poderá dedicar-se a sua poesia épica e deixar que os assuntos atinentes à realidade sejam conduzidos por embaixadores respeitáveis, enquanto ainda há tempo de salvar a dignidade de nossa Casa.
Para acordarmos desse romance épico de baixa qualidade, reflitam.
Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN.

Depois do “comunavirus”, o “tecnototalitarismo”: o chanceler acidental insiste em hostilizar a China

 Araújo diz que relação com EUA seguirá fortalecimento da liberdade e democracia

O chanceler admitiu que o Brasil, num primeiro momento, teria interesse em participar da "aliança de democracias" proposta pelo presidente americano, Joe Biden

Valor Econômico | 29/1/2021, 13h37

O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse nesta sexta-feira durante painel eletrônico promovido pelo Fórum Econômico Mundial de Davos que a relação do Brasil com os Estados Unidos na gestão Joe Biden seguirá os mesmos princípios já adotados, de fortalecimento da liberdade e da democracia. O chanceler admitiu que o Brasil, num primeiro momento, teria interesse em participar da "aliança de democracias" proposta pelo presidente americano, Joe Biden.

Araújo insistiu durante o debate que a "raiz" da relação entre os dois países é a liberdade, e isso terá impacto para todo o hemisfério, garantindo o combate ao crime organizado e ao que chamou de tentativas políticas de atacar a democracia. 

Ao analisar o contexto da economia mundial, o chanceler defendeu a necessidade de assegurar condições de competitividade, citando o pleito do Brasil para reformas na Organização Mundial do Comércio (OMC).

"Na OMC, o Brasil busca reformas para manter princípios básicos de economia de mercado", afirmou. "Precisamos de um sistema que recompense a democracia".

Questionado no debate sobre o papel da China na economia mundial, Araújo afirmou que a ideia de que a China se aproximaria do modelo de governança do Ocidente não ocorreu, e isso exige "criar condições em que se possa competir, independente dos sistemas sociais".

O ministro participou do debate ao lado de representantes dos governos do Canadá e da Espanha.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/01/29/araujo-diz-que-relacao-com-eua-seguira-fortalecimento-da-liberdade-e-democracia.ghtml

 

 

Brasil e EUA precisam barrar 'tecno-totalitarismo', diz Ernesto Araújo em referência à China

Chanceler não cita país pelo nome em fala na qual evitou discutir cooperação sobre clima e Covid-19

Folha de S. Paulo | 29/1/2021, 13h44

O Brasil de Jair Bolsonaro quer uma aliança com os Estados Unidos e "outros parceiros democráticos" para barrar a ascensão do "tecno-totalitarismo" de países com "diferentes modelos de sociedade" —ou seja, a China.

A afirmação foi feita durante um painel virtual de debate do Fórum Econômico Mundial pelo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.

Ele fez questão de não nominar "nenhum país ou companhia específicos", mas todas suas intervenções foram voltadas a fustigar a China, maior parceiro comercial brasileiro e no centro da chamada guerra da vacina, por ser o principal produtor de insumos dos imunizantes a serem feitos no Brasil.

Ernesto estava acompanhado da chanceler espanhola, Arancha González, e do ministro canadense François-Philippe Champagne (ex-Relações Exteriores, agora Inovação), numa conversa mediada pelo presidente do fórum, Borge Brende.

A ideia era debater o conceito de cooperação internacional ante a realidade da pandemia da Covid-19 e da mudança climática —temas nos quais o negacionismo do governo Bolsonaro, alimentado pela ala ideológica da qual Ernesto faz parte, é notório.

Enquanto os colegas debatiam a necessidade de garantir vacinação equânime e enfrentar os desafios da demanda de imunizantes, Ernesto preferiu falar na necessidade de manter valores como a liberdade nas relações internacionais.

"Qualquer mudança nos EUA é imensa para nós", disse o chanceler, um fã declarado do antecessor do presidente Joe Biden, Donald Trump. "Se o foco é em mudança climática, OK, mas queremos fundamentar relação em liberdades", disse.

Foi uma referência enviesada ao pacote de US$ 2 trilhões na área do clima anunciado pelo democrata, que assumiu na semana passada.

"Um desafio é emergência do tecno-totalitarismo. Não se trata da questão de EUA contra China, mas é uma questão de diferentes modelos de sociedade. Novas tecnologias podem ser ótimas para a democracia, mas podem fornecer meios para um Estado totalitário, e não queremos isso."

"Queremos tratar desse tema com os Estados Unidos e parceiros democráticos", disse, excluindo a ditadura comunista da equação.

"Quem controla o discurso tem um tremendo poder. Não podemos deixar isso na mão de atores, e não falo aqui de países ou companhias específicas, que não são comprometidos com a liberdade", disse o chanceler.

Se não foi um ataque direto à China, como já fez no passado ao lado de expoentes do bolsonarismo com os filhos do presidente, foi uma pouco disfarçada declaração de princípios —ainda que tenha poupado os participantes da maquinações sobre o globalismo maléfico que permeiam suas falas.

"Quando olhamos para os anos 1990 e 2000, a ideia era de que a China iria se tornar parecida com o Ocidente. Isso não aconteceu. O Ocidente se tornou mais parecido com a China. Nós não temos de mudar nossa sociedade", afirmou.

Sobre mudança climática, que Ernesto já chamou de ideologia, ou Covid-19, cuja trapalhada na compra de doses de vacina da Índia custou pressão sobre seu cargo, nenhuma elaboração foi feita.

Seus colegas foram mais cautelosos quando questionados sobre os efeitos da separação ("decoupling", no jargão internacional em inglês) dos modelos tecnológicos dos países encarnada na disputa pela implementação das redes 5G —a chamada internet das coisas.

Como se sabe, a China oferece um produto mais barato e eficaz, mas que é acusado no Ocidente de embutir elementos de espionagem ou roubo de dados. A discussão está viva no Brasil, que teoricamente decide neste ano quem vai poder fornecer equipamentos e operar o 5G no país.

"Não podemos permitir a separação [nas relações internacionais] quando o assunto é a mudança climática. Temos de evitar a todo custo o confronto [entre China e EUA]", disse González ao comentar a posição europeia ante a briga dos gigantes.

Champagne concordou com Ernesto acerca da necessidade de promover a governança democrática, mas disse que a relação com a China é "algo complexo".

Para Ernesto, a única forma de lidar com a questão é deixar as pendências para serem resolvidas em entidades como a Organização Mundial do Comércio, desde que reformuladas —o Brasil compartilha a visão americana de que a China não joga pelas regras ali.

"O sistema internacional tem de premiar a democracia", disse o brasileiro. Reticente acerca de Biden, afirmou que o Brasil quer trabalhar com o novo presidente americano "dentro desse arcabouço de liberdade" e que é a favor do que o democrata chamou de "aliança de democracias".

Aproveitou e repetiu a narrativa usual do bolsonarismo de que o Brasil vinha "de uma situação em que estávamos longe das democracias", em relação à política Sul-Sul da era Lula, que já havia sido parcialmente revertida nas gestões Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/01/brasil-e-eua-precisam-barrar-tecno-totalitarismo-diz-ernesto-araujo-em-referencia-a-china.shtml

Batman returns: o Cronista Misterioso do Itamaraty está de volta...

O Batman do Itamaraty está de volta!

Ou melhor: meus agentes secretos, 005 e 006, voltaram de férias ou do descanso, e conseguiram me desovar as saborosas — algumas angustiantes — crônicas do Cronista Misterioso das últimas semanas do ano miserável de 2020 e as primeiras de um ano, 2021, que promete ser mais miserável ainda.

Em todo caso, preciso preparar uma terceira edição destes petardos anti-EA, para ampla disseminação e circulação entre o público interessado. 

Começo pela primeira desta terceira safra e depois vou alinhando paulatinamente as 14 seguintes, aproveitando para desejar ao Cronista Misterioso meus melhores votos de felicidades em 2021 (só desejo um ano pior, desgraçado, a quem vcs sabem quem).

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 29/01/2021


É bom ser pária (semana 26)

Escreveu o poeta que devemos ter nossos corações palpitantes de amor patriótico para enfrentar o dragão da mal. Não me refiro a nenhum conto infantil, mas a recente discurso de nosso chefe, que, falando para os formandos da turma João Cabral, convocou-os para uma “aventura nacional e mundial de proporções históricas”! “No sentido medieval” mesmo, como esclareceu. 

Não estou plenamente seguro de que os jovens formandos tinham a consciência de que ingressavam não em uma tradicional carreira de estado, mas em uma “aventura épica”, em um “combate de gigantes pela essência humana”! Pensando cá com meus botões, lutar contra dragões… Não tenho certeza se estava nos planos desses jovens.

No romance heroico de nosso chanceler, o globalismo e o politicamente correto, a mando “sabe-se lá de quem” - pois há de ter um toque conspiratório nisso tudo - construíram um ser humano artificial, sem sexo. Pois é, sem sexo - não atribua a mim esse recalque, leitor, foi ele quem disse. A propósito, todas essas referências lascivas a “orgias” e “acasalamento” podem até ser uma forma de agradar o chefe, é verdade, ou de “libertar a linguagem”, mas tenho cá pra mim que… Bom, tirem suas próprias conclusões; ainda me apego a esse incômodo “politicamente correto”. 

A saudosa Ms. Walker, professora de inglês de todos nós, proferiu, na mesma ocasião, discurso a um só tempo sóbrio e grandioso. Multilateralismo, democracia e redução das desigualdades sociais. Ah, que saudades que tenho de nossa real diplomacia, em que conceitos racionais estavam também na palavra do Ministro, em lugar de críticas fantasiosas a inimigos imaginários.

Mas a ele uma coisa não se lhe pode negar. Sabe que somos párias, objeto de desconfiança, descrédito e piada. Chacota mesmo. Chalaça. Sabe que cada vez mais nosso trabalho é dificultado no exterior e torna-se por vezes até perigoso. Reconhece, e com orgulho. Diz que é bom ser pária. Acredita que somos heróis virtuosos, lutando sozinhos para libertar o mundo “sabe-se lá de quem”. Só mesmo em seu mundo lírico e confuso, cheio de vilões, aventura e magia.

Se ser pária é tão bom, senhor Ministro, Vossa Excelência poderá ser pária dentro de seu próprio Ministério, recolhendo-se a sua aventura imaginária contra moinhos, orgias comunistas e dragões do mal. Poderá dedicar-se a sua poesia épica e deixar que os assuntos atinentes à realidade sejam conduzidos por embaixadores respeitáveis, enquanto ainda há tempo de salvar a dignidade de nossa Casa.

Para acordarmos desse romance épico de baixa qualidade, reflitam.

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN.


O “nó tático” de Bolsonaro - Alberto Aggio

 Artigo absolutamente realista de Alberto Aggio, sobre a consolidação do poder bolsonarista e a desarticulação e fragmentação das oposições, divididas e divergentes, como sempre. O Brasil afunda no pântano pestilento da subdemocracia e e da confusão institucional. Difícil reconhecer que a parte da classe média consciente não tem mais a capacidade de determinar resultados eleitorais, em face da dominação inédita dos novos bárbaros da direita e suas hordas de idiotas. Vai ser uma longa luta de restabelecimento de padrões mínimos do jogo democrático: por enquanto, somos uma republiqueta dominada por gangsteres oportunistas e ignorantes.

Paulo Roberto de Almeida

O NÓ TÁTICO DE BOLSONARO por Alberto Aggio

Fato é que Bolsonaro invadiu o espaço parlamentar e conquistou apoio para sua blindagem e sua família. Conquistou posições onde antes não punha os pés: na cúpula do poder Legislativo. Quem fez isso para ele? O general Luiz Eduardo Ramos, que comanda a Secretaria Geral de Governo,
e os líderes do Centrão. Tá tudo dominado. A vitória na presidência das duas Casas, como já se disse, é a antessala da eleição de 2022 e vai implicar em imensos desafios para as forças democráticas.
Este movimento conseguiu quebrar a espinha dorsal de quem se opunha a Bolsonaro no Parlamento: Rodrigo Maia. O DEM rachou e Maia viu sua liderança esfumaçar, combatido pela direita e pela esquerda. O movimento articulado por Maia alguns meses atrás, que buscava articular o MDB e o 
PSDB, não conseguiu sustentação entre os partidos e os parlamentares, mostrando como são frágeis suas convicções democráticas bem como suas perspectivas de futuro, superando o bolsonarismo. No mais, o de sempre: PSDB indefinido, PT oportunista, Psol confuso e o resto como barata tonta. E os partidos do Centrão negociando freneticamente tudo com os representantes do Planalto.Desta maneira, a sociedade não tem uma liderança em quem mirar e o Parlamento será capturado integralmente por Bolsonaro. Como corolário do pior dos mundos, as forças democráticas mostram-se inteiramente desarticuladas, não confiam umas nas outras, e só pensam na manutenção dos seus currais eleitorais por Estado em futuro breve, e quando muito, vislumbram candidaturas presidenciais para imantar suas permanências na vida político-partidária.Por outro lado, a lógica das fake news, ao contrário do que muita gente imagina, não arrefeceu. Comandada pela confusão midiática que Bolsonaro mantêm viva contra a vacina e a vacinação, conseguiu-se emparedar a principal liderança de oposição que demonstrou capacidade de enfrenta-lo na questão da pandemia e da vacina, duas questões centrais da hora presente na sociedade brasileira: o governador de São Paulo, João Doria Jr. Depois de breves vitórias, Doria foi e está sendo bombardeado dia após dia, pela direita e pela esquerda, pelas fake news e até pela mídia tradicional.

A lógica da velha política se sobrepôs a tudo, sem que a sociedade pudesse reconhecer isso. Esse foi o nó tático de Bolsonaro: ele confiou na ação desarticuladora da frágil cultura política democrática entre nós. Na sociedade, instalou-se uma luta de todos contra todos, demonstrada na questão da vacina; no Parlamento, retomou-se o toma-lá-dá-cá, com a liberação de verbas e cargos. É a política como negócio pessoal que volta à tona uma vez que se entende que a sociedade é assim e que não reagirá diante desse descalabro.
Hoje, Bolsonaro xinga e ofende a imprensa, desdenha dos políticos (porque a sociedade
não quer mesmo saber deles), descuida das pessoas e pede a elas que vivam radicalmente seus interesses individuais, dispensando qualquer proteção do Estado. Mas este está garantido para os seus negócios privados que lhe garantirão a manutenção no poder. A democracia existe por inércia, vai sendo conspurcada, dilacerada, dilapidada em seus valores. O Brasil vai perdendo o pouco que tinha de noção coletiva e de República, de bem-comum.
O impeachment voltou a fazer parte das vocalizações da conjuntura, mas todos sabem, com maior ou menor consciência, que ele não é mais do que uma bandeira agitativa sem possibilidade real de imposição; faz parte de um discurso da indignação (justa, mas impotente). Por isso, não há motivo algum para otimismo, embora também não haja razão para se cair no desespero; a política demanda realismo e acima de tudo reconhecimento do terreno e das circunstâncias. Muito provavelmente, viveremos derrota atrás de derrota até conseguirmos encontrar um novo rumo. E isso pode demorar anos.


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...