quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Escola São Paulo de Ciência Avançada - Bicentenário da Independência do Brasil: bolsas para os participantes; programa

 Escola São Paulo de Ciência Avançada Bicentenário da Independência do Brasil


Oferecemos bolsa de estudos (passagem e hospedagem) para alunos que tenham interesse acadêmico no processo de independência do Brasil para participarem desta Escola de Ciência Avançada, que será realizada em São Paulo, entre os dias 06 e 15 de fevereiro. Será uma ótima oportunidade de aprofundarmos e debatermos diversas questões ligadas ao tema.

Encerramento das inscrições na próxima sexta-feira, 06 de janeiro!

Increva-se aqui: https://forms.gle/NZt3C2ihbLEy5WPn8
Mais informações: https://caeni.com.br/bicentenario/



 Escola São Paulo de Ciência Avançada Bicentenário da Independência do Brasil

Encerramento das inscrições na próxima sexta-feira, 06 de janeiro!

Programação preliminar:

Eixo 1: A dimensão nacional

1º Dia – 6 fevereiro 2ª feira

 

08h00 – 10h00

Registro dos estudantes e questões logísticas.

 

10h00 – 12h00

Cerimônia de abertura

12h00 –14h00

Almoço

14h00 – 16h00

Visita ao Museu – Conhecimento geral das exposições do Museu do Ipiranga.

16h30 – 18h30

Encontro com autores convidados – Independência: História e Historiografia.

 

2º Dia – 7 Fevereiro 3ª feira

09h00 – 10h00

Ideia em confronto: embates pelo poder na Independência do Brasil

10h00 – 11h00

Interpretações sobre a independência do Brasil.

11h00 – 12h30

A perspectiva dos excluídos na independência: o papel dos escravizados

12h30 – 14h00

Almoço

14h00 – 15h00

Exposição História do Brasil.       

15h00 – 18h00

Workshop com Curador da Exposição

 

3º Dia – 8 Fevereiro, 4ª feira

09h00 – 11h00

Memórias da independência: práticas celebrativas e disputas simbólicas (a perspectiva de São Paulo)

11h00 – 12h00

Escola Avançada Fapesp

12h00 – 13h30

Almoço

13h30 – 15h00

Memórias da independência: outras independências.

15h00 – 16h30

Interpretações da independência: as dinâmicas de interiorização e expansão do Brasil

16h30 – 18h00

Os povos originários e a independência do Brasil

 

4º Dia – 9 Fevereiro, 5ª feira

09h30 – 12h30

Exposição temporária: Memórias da Independência.

12h30 – 14h00

Almoço

14h00 – 16h00

Discussões sobre exposição temporária Memórias da Independência.

16h00 – 17h30

O Sequestro da Independência

 

5º dia – 10 Fevereiro, 6ª feira

09h30 – 12h30

Atividade prática: Apresentação dos Pesquisadores sobre distintas perspectivas temáticas ou regionais acerca da Independência.  

12h30 – 14h00

Almoço

14h00 – 17h30

Atividade prática: Apresentação dos Pesquisadores sobre distintas perspectivas temáticas ou regionais acerca da Independência.

17h/18h

Lançamento dicionário Bicentenário da Independência

 

6º dia – 11 Fevereiro, Sábado

09h30 – 16h00

Visita ao Museu Republicano de Itu.

 

7º dia – 12 Fevereiro, Domingo

Recomendação

Visita ao Museu Arte Contemporânea.

Visita à exposição Brasiliana do Itaú Cultural

 

Eixo 2: A dimensão internacional

8º dia – 13 Fevereiro, 2ª Feira (agenda apertada)

09h00– 10h00

A independência do Brasil sob o prisma das relações Internacionais

10h00 – 11h00

Independência e Morte: Política e Guerra na Emancipação do Brasil (1821-1823).

11h00 – 12h30

O processo de reconhecimento da independência da ótica do Brasil.

12h30 – 13h30

A independência do Brasil pela ótica do Sul Global: diplomacia e história

13h30 – 14h30

Almoço 

14h30 – 18h00

Visita à outras unidades da USP/ acervos – Mindlin

 

9º dia – 14 Fevereiro, 3ª Feira

09h30 – 12h30

O processo de reconhecimento da independência da ótica internacional (parte 1). 

13h00 – 14h30

Almoço

14h30 – 16h00

A independência do Brasil e suas relações com a França

16h00 – 16h30

Intervalo e Networking

16h30 – 18h00

O processo de reconhecimento da independência da ótica internacional (parte 2).

 

10º dia – 15 Fevereiro, 4ª Feira

09h30 – 12h30

 Apresentação dos participantes.

13h00 – 14h30

Almoço

14h30 – 16h00

Cerimônia de encerramento

 

O novo Imperador recua a China aos tempos de Mao Tsetung - Editorial Estadão

 Deng Xiaoping tinha criado, primeiro, uma economia de mercado aberta ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros, depois um sistema de poder e um regime político dominado por um partido leninista implacável na sua ditadura repressiva, mas aberto à alternância entre as diversas correntes do partido, e também não GC na diversidade de tendências econômicas: globalistas, velhos comunistas, crntristas.

O novo imperador concentrou poder político e gestão econômica. Tem mais chance de errar, portanto. (PRA)

O ''modelo chinês'' em questão
Por Notas & Informações
O Estado de S. Paulo, 03/01/2023

Em 2022, a credibilidade das autocracias foi abalada. Não por uma razão moral – se fosse, já teria acontecido nas ocasiões em que as atrocidades das guerras de Vladimir Putin ou da opressão doméstica do Partido Comunista chinês vieram à tona –, mas sim de competência.

Na Turquia a inflação cresce a galope. A aventura de Putin na Ucrânia foi um fiasco militar que isolou ainda mais seu país. As loas do presidente Lula, há pouco mais de um ano, à eficiência do totalitarismo chinês no combate à pandemia envelheceram grotescamente mal, agora que as consequências da política de “covid zero” estão escancaradas: os longos e indiscriminados lockdowns provocaram desaceleração da economia e revolta popular; agora que estão sendo afrouxados, as perspectivas para uma população mal imunizada são de morticínio em massa. Ainda mais drásticos e duradouros serão os efeitos da interferência estatal na economia promovida pelo ditador Xi Jinping.

Em um artigo no China Leadership Monitor, o cientista político Minxin Pei apontou os objetivos de Xi: domínio pessoal; revitalização do partido-Estado leninista; e a expansão da influência global da China. “A mensagem central”, disse, a propósito do relatório apresentado por Xi ao 20.º Congresso do Partido, o ex-premiê da Austrália Kevin Rudd, “é que a definição da segurança nacional substituiu a economia como o foco central para o futuro.” Isso implica uma bateria de regulamentos, subsídios e intimidações cujos efeitos já se fazem sentir. Neste ano, segundo o Banco Mundial, pela primeira vez desde 1990 o crescimento chinês ficará abaixo do resto da Ásia.

Em tese, o “novo conceito de desenvolvimento” de Xi não difere dos esforços ocidentais de adequar a economia de mercado às novas demandas do Estado de Bem-Estar Social: enfrentar desigualdades, monopólios e a dívida, orientando a produção a indústrias verdes e de alta tecnologia para gerar inovações e se tornar tecnologicamente autossuficiente. Na prática, as condições para esse crescimento sustentável – um sistema financeiro apto a capitalizar as partes mais produtivas da economia, empresas sem medo de interferências arbitrárias e capital humano proficiente em novas tecnologias – estão sendo dilapidadas pelas obsessões político-ideológicas do Partido.

O Departamento de Pesquisa Econômica dos EUA coletou evidências para responder às seguintes questões: se a política de subsídios de Pequim era orientada às empresas mais produtivas ou se estava estimulando empresas a se tornarem mais produtivas. Em ambos os casos a resposta foi “não”. Ao contrário, os subsídios favoreceram grupos de interesse político ou indústrias decadentes.

O Centro para Pesquisa Econômica do Japão, um think tank, projetou que em 2030 o crescimento do PIB chinês cairá para 2%. “O trabalho, o capital e o Fator Total de Produtividade serão adversamente afetados por um aperto nas restrições à Tecnologia da Informação para as empresas, preocupações crescentes sobre a situação de Taiwan e a continuação de uma política moderada de covid zero.”

A confiança dos investidores para investir e a dos consumidores para consumir dependem de políticas econômicas que forneçam segurança e flexibilidade. As democracias buscam esses objetivos complementares por meio da alternância de poder. Desde os anos 80, a receita da China foi mesclar reformas liberalizantes do mercado com o controle estatal de setores estratégicos. Mas para Xi a economia inteira se tornou “estratégica”. O resultado, segundo o ex-premiê Wen Jiabao, é uma economia “instável, desequilibrada, descoordenada e insustentável”.

A engenhosidade e o dinamismo do povo chinês tiveram uma parte no espetacular crescimento econômico das últimas décadas. A controvérsia entre entusiastas e críticos do “modelo chinês” sempre foi se esse crescimento aconteceu por causa das interferências estatais ou apesar delas. A questão está para ser definitivamente solucionada, agora que Xi Jinping, tendo destruído quaisquer resquícios de “freios e contrapesos”, está disposto a ampliar essa interferência a largos passos.

Uma transição pouco diplomática - Paulo Roberto de Almeida

Uma transição pouco diplomática

Paulo Roberto de Almeida


A cronologia histórica ocidental estabelece um AC e um DC. Nossa cronologia diplomática tem um AE e um DE.

No seu discurso de posse, o novo chanceler designado não fez nenhuma distinção entre as duas fases, bem distintas, da diplomacia que encerrou a desastrosa política externa ditada pelo mais inepto dirigente da história. 

No entanto, Carlos França fez o máximo que podia para tentar minimizar o amplo estrago diplomático deixado pelo antecessor, assim como para contornar a estapafúrdia política externa determinada pelo chefe.

Pelo menos por cortesia corporativa, caberia um gesto simpático ao colega que se esforçou para tourear os bárbaros que demoliram a imagem e a postura internacional do Brasil. 

Mas, o mesmo tipo de atitude descortês já tinha ocorrido na transição diplomática de FHC para Lula, em janeiro de 2003: além da mentirosa alegação da “herança maldita”, se acusou a antiga gestão da chancelaria de ter conduzido uma diplomacia submissa a Washington, o que era uma ofensa gratuita e desprovida de fundamentação.

Talvez, o discurso atual tenha tido o mesmo redator daquele anterior. É provável!

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 4/01/2023

Sobre a alternância de “humores” políticos no campo da economia - Paulo Roberto de Almeida

Sobre a alternância de “humores” políticos no campo da economia

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Nota sobre o pêndulo entre políticas distributivistas e produtivistas nas democracias de mercado nas últimas décadas.

  

Depois de quatro anos de puros delírios ideológicos do desgoverno do “Deus, Pátria e Família”, voltamos às contradições normais de qualquer governo responsável ao redor do mundo: tentar fechar um orçamento factível com base na noção elementar em economia de que os desejos são infinitos e ilimitados, e os recursos escassos e limitados.

A contradição básica dos governos distributivistas — social-democratas — consiste em achar que o Estado, e não o mercado, deve ser o responsável pela melhor distribuição possível, geralmente atuando mais com base nos estoques disponíveis de riqueza (que se esgotam, necessariamente) do que a partir da criação de novos fluxos incrementais de riqueza a partir do investimento e da produção de uma oferta acrescida.

Mas a noção de que todos têm “direitos” a alguma coisa “necessária”, e que esses direitos têm de ser dados a todos por um Estado magnânimo, não bate bem com princípios elementares da vida econômica. 

Persistem em governos desse tipo a velha noção keynesiana (agora pikettyana) de que o Estado é o melhor provedor dessas várias bondades infinitas, e de que precisa, e deve, “corrigir” supostas “falhas de mercado” e “imperfeições” do capitalismo (equiparado a uma economia de mercado, quando ele é apenas uma parte de uma realidade econômica bem mais vasta).

Se os “justiceiros sociais” investigarem melhor de onde provêm os recursos do Estado, e tentarem fechar a conta, vão se decepcionar com as limitações inerentes ao princípio básico da escassez. Mas raramente se convencem de que o Estado raramente é aquela cornucópia generosa de onde jorram quantidades ilimitadas de leite e mel. Em consequência atuam no limite extremo das possibilidades até a próxima crise e a imposição de um novo “austericídio”.

E o ciclo se completa: distributivistas cedem o lugar aos mercadistas, que funcionam na austeridade temporária, até que a população se canse das “correções” e vote de novo a favor da volta dos generosos justiceiros. 

Tem sido assim desde o pós-Segunda Guerra Mundial nas democracias de mercado, das quais o Brasil ainda está muito longe de ser um caso exemplar. Mas levamos aos extremos a noção equivocada de o keynesianismo anticíclico constitui uma “teoria” do desenvolvimento. E ainda chegam os pikettyanos para agravar a coisa.

Tem tudo para não dar certo, ou ficarmos parados no mesmo lugar.

Em todo caso, meus melhores e sinceros votos de sucesso no tocante às políticas econômicas do governo redentor.

Vamos ver o que ocorrerá quando o cheque em branco de um ano terminar. Virá uma nova PEC salvadora?

 

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 4299: 4 janeiro 2023, 2 p.


Maiores riscos de 2023: o tirano de Moscou e o imperador em Beijing - Eurasia

 

Putin e Xi são os maiores riscos de 2023, diz Eurasia; veja lista

Entre outros riscos apontados pelo relatório, estão: armas de destruição em massa, inflação, Irã e mais

 

Quais são os maiores riscos de 2023, segundo a Eurasia

Marina Toledoda CNN

em São Paulo, 04/01/2023 

 

A Eurasia colocou a Rússia, de Vladimir Putin, e Xi Jinping, da China, como os maiores riscos de 2023, conforme relatório divulgado na terça-feira (3).

Anualmente, o grupo reúne previsões sobre os riscos políticos com maior probabilidade de ocorrer ao longo do ano. A Eurasia é a uma das maiores consultorias de risco do mundo.

Segundo o relatório, “uma Rússia humilhada deixará de ser um jogador global para se tornar o estado desonesto mais perigoso do mundo, representando uma séria ameaça à segurança da Europa, dos Estados Unidos e além”. 

A eurasia avalia que Putin tem pouco a perder com uma nova escalada contra o Ocidente e a Ucrânia, inflingindo ainda mais sofrimento ao povo ucraniano.

Outro grande risco será Xi Jinping, que o grupo aponta ter o maior controle de poder desde Mao Tsé-Tung – fundador da República Popular da China.

“Xi está praticamente sem restrições em sua capacidade de seguir sua agenda política estatista e nacionalista. Com poucos freios e contrapesos sobrando para constrangê-lo e sem vozes dissidentes para desafiar seus pontos de vista, a capacidade de Xi de cometer grandes erros também é incomparável”, diz o relatório.

A eurásia coloca o poder político na China como um desafio global e superestimado “dada a realidade sem precedentes de uma ditadura capitalista de estado tendo um papel tão desproporcional na economia global”.

 

Em terceiro lugar, o relatório coloca as armas de disrupção em massa.

Os avanços tecnológicos resultantes em inteligência artificial irão corroer a confiança social, capacitar demagogos e autoritários e interromper negócios e mercados. Este ano será um ponto de inflexão para o papel da tecnologia disruptiva na sociedade”, aponta.

Para a eurasia, esses avanços terão efeitos políticos e econômicos.

Entre outros riscos apontados pelo relatório, estão: inflaçãoIrã, boom do Tik Tok e mais. Veja a lista completa abaixo.

 

Maiores riscos globais de 2023, segundo a Eurasia

1.              Rússia

2.              Xi Jingping

3.              Armas de disrupção em massa

4.              Ondas de choque de inflação

5.              Irã

6.              Crise energética

7.              Paralisação do desenvolvimento global

8.              Divisão política nos Estados Unidos

9.              Boom do Tik Tok

10.           Escassez de água


terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Brasil assume presidência do G20 em dezembro e precisa se preparar logo - Assis Moreira (Valor)

 Brasil assume presidência do G20 em dezembro e precisa se preparar logo


A presidência do G20 será uma plataforma gigantesca para o novo governo realmente trazer o Brasil de volta ao mundo – mas não pode improvisar

Assis Moreira — Genebra
Valor, 02/01/2023

O Brasil assumirá no dia 1º de dezembro deste ano a presidência rotativa do G20, o principal grupo da governança econômica global reunindo as maiores economias desenvolvidas e emergentes. Esta será a grande oportunidade para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva realmente retomar o protagonismo nos mais diversos temas da agenda global.

Como a equipe de transição destacou, a combinação entre o desmonte de políticas públicas, em nível interno, e o predomínio de visão isolacionista do mundo, no nível externo, afetou a imagem do país e prejudicou a capacidade brasileira de influir. A presidência do G20 será assim uma plataforma gigantesca para o novo governo realmente trazer o Brasil de volta ao mundo – mas não pode improvisar.

Uma urgência nos 100 primeiros dias do ministro Mauro Vieira no Itamaraty deve ser prioridade na organização do G20 no país. Isso passa por juntar rapidamente os melhores quadros, que conhecem bem os trabalhos do grupo, para projetar a presidência brasileira, que vai até o fim de novembro de 2024.

O que vai ser possível fazer dependerá bastante de como estiver o impasse na cooperação entre as maiores economias do mundo. Em 2022, na presidência da Indonésia, a ausência de comunicados nas reuniões do G20 representou um dos pontos mais baixos da cooperação global, em meio a intensa tensão geopolítica e riscos de recessão global. Até o fim de novembro, a Índia estará na presidência do grupo. O Brasil com Lula assumirá a presidência em dezembro sempre num momento crítico nos assuntos globais.

Um ex-ministro brasileiro chegou a dizer que o G7, grupo das maiores economias desenvolvidas (EUA, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Canadá e Itália) tinha acabado, depois que o G20 foi formado em 1999. Hoje, na verdade, o G7 está muito coeso, até pela saída da Rússia (era então G8), e tem gerado iniciativas que depois vão desembocar justamente no G20 – onde se confrontam com emergentes, por exemplo.

O Brasil na presidência do G20 organizará dezenas de reuniões ministeriais envolvendo os mais diversos temas, desde macro economia, finanças, agricultura, energia, meio ambiente, transformação digital, comércio, investimentos, indústria, saúde etc. A presidência brasileira culminará com a cúpula dos chefes de Estado e de governo em 2024.

Cada presidência do G20 tem poder de criar agendas. Para o governo Lula, é preciso definir logo quais os temas relevantes como eixo central, e se preparar com estudos para ser capaz de liderar as discussões e propor soluções para ação coletiva. A diplomacia brasileira é reconhecida pela competência. Mas é preciso definir o que vai querer, rapidamente, para saber a direção que tomará.

Se o governo Lula, por meio do Itamaraty, não se preparar rapidamente, instituições internacionais vão progressivamente querer impor sua própria visão da agenda internacional na preparação da próxima presidência do G20.

Tipicamente, países que organizam o G20, com custos de milhões de dólares ao longo do ano, tem duas equipes: uma dita 'substantiva', para tratar de temas e calendário, e outra para logístico-administrativa.

Em termos de prioridade, parece evidente que o governo Lula vai dar uma ênfase ao combate à crise alimentar global. A inclusão social deve cobrir tanto combate a fome, como de acesso à saúde, educação, transferência de renda, capacidade e treinamento para as pessoas buscarem empregos. Lula certamente convidará países africanos para participar dos trabalhos do G20 sob a presidência brasileira.

Outra ênfase é nas questões ambientais e de mudança climática, até pelo fato de o país ter se tornando um pária por causa do desmatamento da Amazônia nos quatro anos do governo Bolsonaro. A ideia do governo Lula de apostar na Amazônia em nível internacional é forte e bem apreciada. Não será surpresa se a reunião de ministros de meio ambiente for organizada em Manaus. A agenda de sustentabilidade deve cobrir proteção ambiental, mitigação da mudança do clima, combate a desmatamento, mercado de carbonos, financiamento verde.

Tema forte será também infraestrutura. O G20 pode ter papel mais forte tanto no lado financiamento para melhorar o direcionamento de recursos públicos internacionais, como também sobre melhores modelos de financiamento e execução de projetos, impacto para o desenvolvimento sustentável e outros, envolvendo água, saneamento, energia renovável, conectividade, logística, transformação digital.

O fortalecimento do multilateralismo, em meio a incertezas e sucessivas crises, o reforço de financiamento de bancos de desenvolvimento e vários outros temas podem ser incluídos na agenda.

Quanto à parte logística, a negociação precisará começar rapidamente com cidades para sediar diferentes reuniões ministeriais ou a nível de vice-ministros. Uma questão é como acomodar todo mundo – delegações oficiais, ONGs, imprensa. Em todo o caso, será uma oportunidade de mostrar o Brasil para o mundo. O governo vai precisar levar em conta também os eventos paralelos, com entidades da sociedade civil, por exemplo.

Quanto ao local da cúpula dos chefes de Estado e de governo, é uma decisão política a ser tomada pelo governo Lula. São Paulo e Rio de Janeiro são privilegiados, pela rede hoteleira, para receber delegações de Joe Biden, Xi Jinping, Vladimir Putin e outros. Se dependesse do voto de membros do G20, a cúpula seria no Rio.


Itamaraty, desbolsonarização e criação de um ‘Conselhão’ - Assis Moreira (Valor)

Itamaraty, desbolsonarização e criação de um ‘Conselhão’

Assis Moreira

É correspondente do Valor em Genebra desde 2005. Cobriu 20 vezes o Fórum Mundial de Economia, em Davos, e dezenas de conferências ministeriais em vários países.

Valor Econômico, 03.01.23, 18:23

 

Brasil de volta ao mundo – mas não pode improvisar

Novo chanceler prometeu um ‘enorme trabalho de reconstrução’ da política, desbolsonarização e participação social na política externa.

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta ao poder num momento internacional significativamente mais grave do que em 2003, quando assumiu pela primeira vez a presidência. Era um momento de relativo otimismo e moderação, fim da guerra do Iraque, hegemonia americana, China crescendo muito, boom de commodities, Brasil crescendo pela primeira vez em mais ou menos em linha com a média mundial, e a América Latina subindo junto. 

Hoje é o contrário, com efeitos persistentes da covid-19, acirramento da competição estratégica entre China e EUA, guerra na Europa, ameaça de recessão global, e securitização de todos os temas. Se em 2003 se estava negociando Rodada Doha de liberalização comercial, hoje o foco é em segurança energética, segurança alimentar, guerra e controle de exportação de chips, uso do argumento de segurança nacional para fechar as fronteiras, lógica de blocos em vez de multilateralismo. 

Em 2003, o mundo passava por um momento de estabilidade das relações internacionais. Estava tudo mais ou menos funcionando. Agora, há uma tremenda confusão e mais imprevisibilidade. É um cenário tenso, que trouxe a geopolítica para o dia a dia das considerações de cada governo e empresas. 

O Brasil é um país com boa complementaridade com a China, mas habita em outra vizinhança. A pressão vai persistir para nações como o Brasil se reposicionem. O que todo mundo tem feito é procurado evitar decisão, para um ou outro lado, americano ou chinês. Existem limites para a ação diplomática do novo governo Lula, mesmo em movimentos pequenos. 

Além dessa primeira grande condicionante, que é a situação internacional, tem a situação interna, altamente polarizada, com uma política externa que foi muito contestada muito contestada por causa do isolamento especialmente na área ambiental. Isso vai levar ao que parece ser a mais evidente correção de rumos. O risco, para certos analistas, é de um excesso de correção, fazer tudo o que parceiros exigem e passar de mau aluno para aluno modelo num cenário complicado. 

Basta ver que uma legislação da União Europeia para proibir commodities originárias de desmatamento, com alto risco de seletividade que aumentará o custo da produção agrícola. O mesmo ocorrerá na área industrial com a taxa de carbono na fronteira que a UE vai impor sobre siderurgia e outros produtos. Bruxelas usa unilateralmente sua capacidade regulatória como um fator de distorção do comércio. Uma questão é como o novo governo em Brasília vai conciliar os interesses do agronegócio e dos ambientalistas, e responder na prática aos europeus. 

O novo governo prioriza também aumentar a integração com a América do Sul e a retomada da cooperação com a África. Mas a capacidade brasileira de fazer coisas concretas é menor, hoje. O Brasil diminuiu de perfil mundial nos quatro anos de Bolsonaro. Agora, o governo Lula tem uma série de aspirações políticas, mas se defronta com restrições do mundo real. 

É preciso ver como o Itamaraty se encontra hoje. É uma instituição inchada no topo ao longo dos anos. Aumentou a idade da aposentadoria para 75 anos, colocou mais gente nos seus quadros e a soma das ambições individuais é muito maior do que o Itamaraty. Com isso, surgem brigas entre diferentes gerações de diplomatas, diferentes grupos de diplomatas, entre homens e mulheres diplomatas, e entre identidade de diplomatas (étnica, sexual etc). 

Uma frase repetida em Brasília é a de que a melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se. Mauro Vieira é considerado como tendo a experiência e sensibilidade para modernizar a instituição nesses tempos conturbados. Mas um artigo de um jovem diplomata em licença remunerada, e atualmente professor da Queen University of London, Felipe Antunes de Oliveira, mostra que a tarefa não será fácil. 

Para ele, mesmo se a desastrosa política internacional do governo Bolsonaro está prestes a acabar, o bolsonarismo continua vivo dentro do Itamaraty. ‘Há um bolsonarismo arraigado no Itamaraty. Enquanto não houver uma profunda reforma da política externa brasileira e da instituição responsável por sua implementação, qualquer combinação entre más ideias e péssima implementação continua possível’, escreveu Antunes. 

A base material do bolsonarismo latente no Itamaraty, segundo Antunes, se assemelha a uma grande linha de produção com quatro engrenagens articuladas entre si: elitismo sistêmico, formação continuada de baixíssimo nível, infantilização funcional permanente e falta de transparência e previsibilidade nas práticas de promoção e remoção, gerando uma série de incentivos negativos ao longo da carreira de todos os diplomatas – e tudo isso tem efeito sobre políticas públicas. 

A possibilidade de Ernesto Araújo ter chegado ao posto de chanceler e durar mais de dois anos, implementando a política externa que implementou, mostra que a sociedade não pode deixar o Itamaraty dirigindo a política externa em piloto automático, diz essencialmente Antunes. 

O reconhecimento da política externa como política pública, e inseparável da política interna, deveria levar ao estabelecimento de um mecanismo permanente de diálogo com a sociedade civil. A necessidade de institucionalização da abertura do Itamaraty à sociedade, com as devidas atenções à especificidade da diplomacia, já foi tema de tese no Itamaraty, como o da diplomata Vanessa Dolce de Faria. 

A ideia de um grande ‘Conselho’ para debater linhas gerais da política externa, com participação de diferentes setores da sociedade, chegou a ser explorada nas gestões dos ministros Antonio Patriota e Luiz Alberto Figueiredo. Proposta de criação de um Conselho Nacional de Política Externa também foi encaminhada a Mauro Vieira quando chanceler de Dilma Rousseff. Ele tem nova oportunidade de tratar do tema, agora, num novo governo que fala muito de transparência e participação social. 

 

 

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