segunda-feira, 14 de julho de 2025

JK: Meu caminho para Brasília: os três volumes da autobiografia de Juscelino Kubitschek disponíveis na Editora do Senado

JK: Meu caminho para Brasília
Kubitschek, Juscelino, 1902-1976
Publicador : Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial
Data de publicação : 2020
Descrição física : 3 v. : il., fotos.
Série : Edições do Senado Federal ; v. 201A-201-C
Conteúdo : v. I. A experiência da humildade -- v. II. A escalada política -- v. III. 50 anos em 5.
Assuntos : Kubitschek, Juscelino, 1902-1976, biografia | Chefe de Estado, Brasil | Política e governo, Brasil, 1945-1963 | Quarta República (1945-1964), Brasil
Cobertura geográfica : Brasília (DF), construção | Brasília (DF), história
Responsabilidade : Juscelino Kubitschek
ISBN : 9788570185433 (v.I) | 9788570185440 (v.II) | 9788570185457 (v.III)

Endereço para citar este documento : https://www2.senado.gov.br/bdsf/handle/id/576817
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Referência sobre direitos autorais : http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/br/
Notas:
Possui índice onomástico.
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https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/576817

Três impérios, três destinos - Paulo Roberto de Almeida

Três impérios, três destinos

Existem hoje, temporariamente, três impérios e meio no mundo.

O império chinês é guiado pela racionalidade instrumental dos mandarins tecnocráticos do PCC. 

O império russo é dominado pela obsessão expansionista de Putin. 

O império americano está sendo diminuído pela ignorância avassaladora de Trump.

Isso explica as trajetórias diferentes de cada um deles: sucesso sustentável no primeiro caso; impasses e disfunções no segundo caso, podendo levar a uma profunda crise estrutural da Rússia; aceleração do declinio no terceiro caso, mas que atinge não só os EUA, mas o mundo todo, dada a magnitude do ainda hegemônico império americano. 

De certa forma, o mundo econômico é uma vitima da extrema ignorância de um déspota eleito democraticamente.

O mundo político e geopolítico está sendo abalado pelo expansionismo obsessivo de um ditador totalitário.

O fabuloso Império do Meio do passado, que atraía comerciantes e aventureiros europeus da primeira globalização, a dos “descobrimentos”, está sendo pacientemente reconstruído pelos novos mandarins do PCC.

Em volta desses três impérios, e do meio império da UE, que não possui comando unificado no plano econômico ou militar, gira o destino de potências médias, como Índia e Brasil, assim como o de todos os demais países com alguma importância econômica ou política no mundo atual. 

Alguns destes são guiados por estadistas inteligentes e racionais; outros, infelizmente, o são por lideres impulsivos ou mal assessorados, que reagem de forma tão irracional quanto o atual candidato a déspota dos EUA; de certa forma, este último está facilitando o itinerário bem sucedido do primeiro império.

CQD!

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 14/07/2025


JOSE DE SOUZA MARTINS: Um sociólogo em busca de contradições - Pablo Nogueira (Jornal da Unesp)

 

JOSE DE SOUZA MARTINS:

Um sociólogo em busca de contradições

Agraciado como Personalidade Acadêmica no próximo prêmio Jabuti Acadêmico, José de Souza Martins discute, em entrevista ao Jornal da Unesp, as linhas que orientam sua extensa produção no campo da Sociologia e a persistência da escravidão na sociedade brasileira

Jornal da Unesp, 12/072025


No último dia 23 de junho, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou o sociólogo José de Souza Martins como Personalidade Acadêmica da segunda edição do Prêmio Jabuti Acadêmico. Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Martins é autor de uma vasta e diversificada obra que compreende mais de 40 livros e capítulos publicados no Brasil e no exterior.

Três desses livros foram vencedores do prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas: Subúrbio (Editora Unesp), A Chegada do estranho (Hucitec Editora) e A aparição do demônio na fábrica (Editora 34). Curador do prêmio Jabuti Acadêmico e ex-reitor da Unicamp, Marcelo Knobel afirmou que a indicação é “um reconhecimento justo para quem tanto se dedicou e contribuiu para estudar a sociedade contemporânea brasileira”. 

Seu último livro, publicado pela Editora Unesp, Capitalismo e Escravidão na Sociedade Pós-Escravista, analisa o fenômeno da servidão contemporânea e sua importância dentro do sistema de produção capitalista, um tema ao qual o pesquisador dedicou boa parte de sua trajetória profissional. Durante 12 anos (1996 a 2007), Martins atuou como representante das Américas na Junta de Curadores do Fundo Voluntário da ONU contra as Formas Contemporâneas de Escravidão. Em 2002 coordenou voluntariamente uma comissão da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça que elaborou o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Escravo.

Nesta entrevista para o Jornal da Unesp, Martins discute as linhas de pesquisa que têm orientado sua extensa produção acadêmica, que ele descreve como “conjunto complexo de linhas conexas de investigação sociológica”, além de analisar algumas das causas da persistência da escravidão na sociedade brasileira.

***

O senhor recebeu o prêmio Personalidade Acadêmica no Prêmio Jabuti Acadêmico 2025 pelo conjunto da sua obra. Seus livros abordam uma diversidade grande de temas, como questões agrárias, imigração italiana, linchamentos no Brasil, escravidão moderna, história de São Paulo, entre outros. Existe um eixo principal que orientou esse seu percurso intelectual? 

José de Souza Martins: Existe um eixo, mas não apenas um eixo. Um eixo principal que vai do meu livro A Imigração e a Crise do Brasil Agrário, que é sobre a imigração italiana, mas que na verdade discute a formação do capitalismo no Brasil. 

O capitalismo no Brasil não é uma cópia do capitalismo de outros países. Fernando Henrique Cardoso, que foi meu professor, já havia chamado a atenção para isso na tese de doutorado dele Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional, e eu continuei investigando o tema. Contudo, à medida que a pesquisa andava, eu notei que haviam temas correlacionados mais abertos, que pediam uma investigação adicional. Então eu fui ampliando a pesquisa até esse livro mais recente, que é o Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista, publicado pela Editora Unesp, em que praticamente eu fecho essa linha de análise da realidade brasileira. 

Durante esses meus estudos sempre surgem temas paralelos. Por exemplo, eu estava no campo durante pesquisa na região amazônica e começaram a surgir informações paralelas à pesquisa sobre linchamentos na região. Houve um episódio famoso em Matupá (MT), nos anos 90, quando dois ladrões assaltaram um banco numa pequena localidade do estado e foram bestialmente linchados e queimados vivos pela população local, tudo isso transmitido pela televisão. Então eu comecei uma linha adicional de pesquisa sobre linchamentos que durou 20 anos e resultou no meu livro Linchamentos: A justiça popular no Brasil

Ou seja, são temas correlatos, eles não estão separados. Ao mesmo tempo, eu desenvolvi uma linha de trabalho, também paralela, sobre Francisca Julia da Silva, uma grande poetisa paulista, que se matou em 1920. Apesar de ser uma poetisa conservadora, ela era uma romântica, e ainda assim acabou se tornando uma espécie de musa dos modernistas. Este é o tipo de contradição que me interessa. Minhas pesquisas todas estão baseadas nessas contradições, seja em que plano for. Essa é minha tese: o Brasil é uma sociedade do avesso. Isso aparece em alguns autores, como Guimarães Rosa e Walnice Galvão, e aparece também nos movimentos sociais. Minha obra é um conjunto complexo de linhas conexas de investigação sociológica e de explicação do que é o Brasil.

O que você quer dizer com o Brasil, um país do avesso?

José de Souza Martins: A dinâmica do Brasil é uma dinâmica oculta. Não é o que sai no jornal. Não é o que sai nas análises políticas. Nós estamos de cabeça para baixo. Tudo funciona do avesso. Nessa dinâmica, existe um protagonismo histórico das populações simples, dos desvalidos, dos marginalizados, dos excluídos. Eles fazem história indiretamente. Um dos meus livros, A sociabilidade do Homem Simples, é sobre isso. A Guerra de Canudos foi marcada por esse protagonismo do homem simples e a Guerra do Contestado também. Esse inclusive é o tema do meu próximo livro, que está quase pronto, pela Editora Unesp.

Nós não nos explicamos pelo modelo europeu de história. Nós somos a anti-história. Nós somos a margem do mundo. Então nós nunca temos uma consciência política verdadeira, nunca sabemos exatamente o que está acontecendo, mas achamos que sabemos. Somos um país anômalo e anômico, ou seja, aquilo que funciona com regras invertidas. Essa realidade que nós estamos vivendo hoje no Brasil atualmente é escandalosamente isso. O avesso marginalizado não protagoniza as decisões da história do país. É claro que para poder entender isso que eu estou tentando dizer tem que ler os livros. 

O seu livro mais recente tem como título Capitalismo e Escravidão na Sociedade Pós-Escravista. O que é essa sociedade pós-escravista, exatamente, e por que a gente vê a perseverança da escravidão no Brasil ainda nos dias de hoje?

José de Souza Martins: Porque nós não somos um país civilizado. Nós não somos um país capitalista. A gente acha que é, mas na verdade não somos. Nós temos um capitalismo que nunca chegou lá, nunca concluiu, nunca se fechou. É um capitalismo periférico, subdesenvolvido, que usa recursos pré-capitalistas para fazer acumulação de capital. É um capitalismo que depende, por exemplo, de grilagem de terra e de especulação imobiliária.

Nós nunca chegamos a ser aquilo que foi o capitalismo inglês, o capitalismo alemão, o capitalismo francês, o capitalismo norte-americano. Nós somos sempre um aquém. Nós não chegamos lá.

Nós temos escravidão até hoje no Brasil. Há uns três ou quatro anos tinha um sujeito vendendo dois escravos na feira do Pari, aqui na cidade de São Paulo. Isso é algo atual. Isso não é uma aberração. É uma contradição. Nós estamos vivendo um período pós-escravista legal aqui no Brasil. Estamos longe de 1888 e no entanto a escravidão ainda se reproduz. 

E por que o Brasil não se percebe do avesso? O Brasil se percebe uma grande economia capitalista, tanto que esses episódios que o senhor citou costumam causar reações de espanto na sociedade.

José de Souza Martins: Porque as sociedades contemporâneas dependem de alienação para existirem. Você tem que acreditar que a sociedade é uma coisa que de fato ela não é. Isso ocorre também nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na França. É a chamada alienação. E nós temos a nossa alienação. Nós achamos que somos o país mais interessante do mundo, ou o “país do futuro”, como disse o escritor Stefan Zweig. Nós não somos o Brasil do futuro, infelizmente. Nós não somos sequer o país do presente. Nós estamos sempre por chegar lá, mas a gente nunca chega. 

O pós-escravismo é isso: um capitalismo que não depende de criatividade empresarial e industrial. Ele depende de especulação financeira, da renda da terra, da especulação imobiliária, depende de grilagem de terra. Atualmente, nós temos no Brasil quase 30 milhões de hectares de grandes empreendimentos agrários em terras griladas. Terras que foram obtidas de forma criminosa. No fim das contas, o crime é que governa o Brasil. 

Nós vimos nos últimos dez ou vinte anos a sociedade brasileira dar uma forte guinada para a direita, se tornando mais conservadora. Isso foi visto por muitas pessoas como uma surpresa e surgiram várias tentativas para explicar essa guinada. Uma dessas explicações é internacionalista, e entende essa mudança como algo que ocorre em outros lugares do mundo e relacionado às novas tecnologias. Existe uma forma de entender esse movimento com base na própria história do país?

José de Souza Martins: Sim. Nós nunca fomos um país de esquerda e a nossa esquerda sempre foi fragmentada, de classe média. Esse é um grande problema. Nós não temos uma esquerda operária clássica no Brasil. Existe o movimento de São Bernardo do Campo, mas não temos uma esquerda consolidada como você tem na Itália ou na França, por exemplo. Então, quando as contradições se agudizam, como se agudizaram nos últimos vinte ou trinta anos, é claro que vem para fora esse lado oculto. A ditadura militar nunca terminou no Brasil, esse é o primeiro detalhe. Essa gente que está aí, estava conspirando já antes da ditadura militar acabar. Bolsonaro é filho da ditadura e foi criado para cumprir o papel dele: desmantelar o sistema democrático no Brasil.

Nós temos uma ilusão que somos de esquerda. Na verdade, nós queremos ser de esquerda, mas não sabemos ser de esquerda. Somos um país que temos marxistas que nunca leram a obra de Karl Marx, que é complicadíssima. O pensamento de Marx é um pensamento científico. O capitalismo não é para ser contra, é para ser superado. Você constroi alternativas ao capitalismo em cima da práxis política. A práxis é a contradição de repetição e inovação. 

Os movimentos populares que poderiam ser a expressão de uma inovação na práxis política são subestimados e combatidos, ao invés de serem devidamente interpretados. A universidade tem uma responsabilidade nisso. Ela tem que se ajustar e interpretar a realidade como ela é. Isso depende de método científico. Isso não depende de ideologia política. 

Na imagem acima: sociólogo José de Souza Martins (Crédito: Marcos Santos/USP Imagens)

A armadilha chinesa no projeto da Ferrovia de Integração Bioceânica - Márcio Coimbra (Dantas.com.br)

A armadilha chinesa no projeto da Ferrovia de Integração Bioceânica

Por Márcio Coimbra

Dantas.com.br, 13/07/2025


Lula justifica que quer atrair a China para desenvolver uma cadeia de suprimentos que fortaleça a infraestrutura de lançamentos espaciais em Alcântara

Lula quer atrair a China para desenvolver uma cadeia de suprimentos que "fortaleça" a infraestrutura de lançamentos espaciais em Alcântara

A recente assinatura do memorando entre o Brasil e China para estudos da Ferrovia de Integração Bioceânica, ligando o porto chinês de Chancay, no litoral do Peru, ao porto Sul de Ilhéus, na Bahia, é apresentada como um marco de desenvolvimento. Contudo, sob o brilho da promessa de progresso logístico, escondem-se riscos profundos que demandam cautela.

A parceria com Pequim não pode ser analisada isoladamente, mas sim à luz do histórico de projetos de infraestrutura chineses. Experiências internacionais servem como alerta: aquilo que começa como investimento frequentemente evolui para relações de codependência, onde a soberania nacional é moeda de troca.

O modus operandi é preocupantemente familiar: empréstimos chineses, opacos em seus termos, financiam projetos executados por suas empresas estatais. O resultado é um desfecho com ares de neocolonialismo.

O Sri Lanka, por exemplo, foi forçado a entregar o controle do porto de Hambantota por 99 anos à China após inadimplência. Na Malásia, o governo cancelou projetos ferroviários chineses devido a termos considerados leoninos e insustentáveis. O Laos mergulhou em crise de dívida colossal, hoje equivalente a quase 100% do seu PIB, impulsionada pela ferrovia China-Laos. A Etiópia viu seu principal aeroporto ameaçado de controle chinês.

O padrão é o mesmo: endividamento insustentável seguido de perda de controle sobre ativos estratégicos.

No caso da Ferrovia Bioceânica, os riscos para a soberania brasileira são palpáveis. Os termos financeiros e operacionais, ainda desconhecidos, poderão conferir à China influência desproporcional sobre uma rota logística vital, transformando-a em um instrumento de pressão geopolítica.

Isto significa que a dependência de financiamento e tecnologia chinesa podem minar a capacidade do Brasil de tomar decisões autônomas sobre sua infraestrutura estratégica, seus recursos naturais e até mesmo sua política externa, amarrando o país a interesses estranhos a nossa soberania.

AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS EXTERNOS

Neste contexto, a urgência de um mecanismo robusto de avaliação de investimentos estrangeiros torna-se inegável. É aqui que ganha relevância o Projeto de Lei 1051/2025, de autoria do Deputado Hauly, que cria o Comitê de Triagem e Cooperação para Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil.

Este órgão seria um escudo essencial na análise de investimentos estrangeiros em setores estratégicos como infraestrutura crítica, energia e recursos naturais, avaliando riscos concretos à segurança nacional, à soberania e à estabilidade econômica do país. A Ferrovia Bioceânica seria um caso emblemático que demandaria o crivo rigoroso de avaliação, garantindo transparência nos contratos, sustentabilidade financeira e salvaguardas contra perda de controle.

A ambição de integrar o continente com uma ferrovia bioceânica é louvável. Contudo, o caminho proposto, pavimentado pelo modelo chinês de financiamento e execução, é repleto de armadilhas históricas. Ignorar os exemplos da África e da Ásia, onde projetos similares geraram endividamento insustentável e erosão da soberania, seria uma temeridade.

O Brasil não pode trocar o progresso logístico pelo risco da dependência. É imperativo que o Congresso Nacional priorize a aprovação do PL 1051/2025 para que possamos negociar com segurança, assegurando que o desenvolvimento da nação não comprometa sua autonomia e seu futuro nas mãos de interesses estranhos. Os trilhos do progresso não podem custar nossa soberania.


* Márcio Coimbra é CEO da Casa Política e Presidente-Executivo do Instituto Monitor da Democracia. Conselheiro da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal

4988) Destaques curiosos da Declaracao do Rio de Janeiro do Brics+, 2025 - Paulo Roberto de Almeida

 4988) Destaques curiosos da Declaracao do Rio de Janeiro do Brics+, 2025


Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor
Ressaltando certas afirmações incongruentes da dita declaração, com pequenas observações contrarianistas.

Parto da “Declaração do Rio de Janeiro” da reunião de cúpula do Brics+, emitida em 6 de julho de 2025, apenas destacando o que me pareceu mais curioso dentre as dezenas de afirmações, promessas, compromissos do referido documento. Minhas observações seguem em meio ao texto, entre colchetes, ou ao final de cada frase destacada, sempre em itálico, atendendo à sua numeração. Três quintos, talvez mais, dos 126 parágrafos da declaração, cobrem todos os campos possíveis da cooperação internacional, bilateral, plurilateral, regional, multilateral e setorial, esgotando todas as possibilidades humanas e sociais, no mais perfeito mundo ideal dos sonhos de todos os internacionalistas, globalizadores e promotores do bem-estar coletivo e da felicidade geral dos povos. Vários deles contêm muita hipocrisia, ou mentiras flagrantes, como a tentativa de obscurecer a responsabilidade primordial da Rússia de Putin pelas ameaças à paz e a segurança internacionais, facilmente detectáveis pelas lacunas mais flagrantes dessa super-declaração, da qual vou destacar apenas as contradições mais chocantes.

(...)


domingo, 13 de julho de 2025

Entrevista com o presidente da Finlândia

 Finland’s President Alexandeer Stubb: The U.S. elected Trump. His foreign policy is transactional. 

You have to adapt and find ways to influence. Diplomacy is both state and personal, people make the decisions. My heart is often in North America. 1/

Stubb: I doubt we'll see a ceasefire before summer ends, there's no momentum. Thousands die weekly, and Russia keeps targeting civilians.

After NATO summit I felt hopeful long-term, but not about an immediate end. This war may grind on. 2/

Stubb: If you want to end this war you need 2 things. One is you need to continue to militarize Ukraine. 

Second thing, we need to put pressure on Russia so that it ends the war, so it doesn't have an incentive to continue anymore. 3/

Stubb: In today’s transactional world, U.S. actions in Iran could impact Ukraine. Trump has shown he’ll use force. 

A weakened Iran may stop arming Russia. Will Trump get tougher on Russia? Unclear, but he may hold the key to peace. 4/

Stubb: Ukraine is fighting for its independence, sovereignty, and territorial integrity. This is also a fight for the global order — rules, norms, and institutions. 

If might makes right, and borders can be redrawn by force, we risk descending into a lawless, unstable world. 5/

Stubb: You should never get flustered. Stay cool, calm and collected. 6X


Uma reflexão introspectiva sobre o problemático caso da Rússia e suas consequências para o Ocidente, incluindo aí a diplomacia brasileira - Paulo Roberto de Almeida

Uma reflexão introspectiva sobre o problemático caso da Rússia e suas consequências para o Ocidente, incluindo aí a diplomacia brasileira

Paulo Roberto de Almeida 


From anton_gerashchenko_en:

(E eu concordo inteiramente com o presidente da Finlândia nessa entrevista sobre a tragédia atual da Ucrânia; PRA.)


“I wanted to share with you several quotes from the interview of President Alexander Stubb of Finland to Peter Hartcher from The Sydney Morning Herald.


Ukraine is very grateful to the people and leadership of Finland for standing firmly with Ukrainians! 🇫🇮🇺🇦


◾️ "Within the next five to 10 years, two things will hold true with Russia. One is that they will not revert into a peaceful liberal democracy. And second, they will continue a military build-up."


Esta é a primeira e a mais patente e realística constatação, aliás, a única conclusão possível: a Rússia não vai se tornar, sob Putin, uma democracia liberal pacífica; não há nenhuma chance de que isso ocorra no futuro previsível, com Putin ou sem ele. 

Ela vai continuar na sua senda militarista, exatamente como ocorreu com as potências fascistas agressivas e expansionistas dos anos 1930. 

A segunda conclusão é de que, sob Putin (e talvez mesmo depois dele), a Rússia vai continuar a ser uma autocracia militarista, mesmo ao preço do bem-estar do seu povo e da estagnação econômica do país, na verdade um império nunca acabado e nunca realizado inteiramente em seu potencial produtivo, uma cleptocracia vivendo à custa de seus imensos recursos naturais. 

Não sei se isso é uma maldição eterna, mas parece ser o resultado de um império construído à base de violências inauditas e de uma selvageria vinda de épocas passadas, de puro despotismo oriental, bem mais do que o suposto modelo chinês rascunhado por Max Weber e descrito por Karl Wittfogel, que se revelou inovador e até avançado nas suas formas de organização estatal, marcadas por uma burocracia relativamente eficiente.

Esta introspecção tem relevantes consequências — aparentemente não realizadas até aqui — para a diplomacia corporativa do Brasil, à qual eu servi zelosamente durante 44 anos (menos vários anos de ostracismo sob o chamado lulopetismo diplomático): eu nunca constatei qualquer reflexão crítica de diplomatas proeminentes a propósito da primeira configuração do BRIC proposto ardilosamente, quase em segredo operacional, nos anos imediatamente posteriores à suposta posta em marcha da assim chamada “diplomacia ativa e altiva” — uma espécie de congratulação pro domo sua — em torno de 2005-2006, uma transfiguração de uma simples proposta de plataforma de investimentos rentáveis para fundos financeiros institucionais em um projeto de bloco institucional de caráter diplomático, entre quatro Estados soberanos (duas autocracias e duas democracias de relativamente baixa qualidade), sem qualquer convergência política-estratégica, a não ser uma possível desconfiança de uma suposta “hegemonia ocidental” indesejável, mas com um quase indisfarçável oportunismo midiático.

Todos se dobraram às ordens vindas de cima, incorporando acriticamente essa nova configuração totalmente artificial, e até bizarra (dadas as notórias diferenças entre os quatro), sem que estudos técnicos mais abalizados pudessem coonestar ou abonar essa proposta tirada do bolso do colete, sem maiores reflexões sobre suas implicações estratégicas para a doutrina diplomática brasileira ou para seu projeto de segurança nacional, ou para as políticas de caráter relevante para o desenvolvimento do país no cenário geopolítico mundial. 

Nunca houve, da parte do Itamaraty, uma “Informação ao Presidente da República” — como feito, por exemplo, para o acordo binacional Brasil-Paraguai sobre a construção da usina de Itaipu, para o acordo tripartite Brasil-Argentina-Paraguai de 1979 sobre as cotas da nova usina em construção, ou para os tratados de 1988 de integração com a Argentina, e quadrilateral de 1991 sobre o Mercosul, todos eles de enormes consequências estratégicas para o Brasil — para o caso do BRIC em sua primeira conformação; não, tudo foi decidido e aprovado praticamente a duas cabeças exclusivamente, o chanceler “ativo e altivo” e o então presidente em seu primeiro mandato.

À falta de reações por parte das lideranças políticas da nação, e da própria diplomacia profissional, a aventura do BRIC, BRICS e agora BRICS+ continuou sua marcha em zigue-zague (mais zague do que zigue por parte das duas autocracias dominantes, no plano mundial e do próprio bloco), com cada vez novas implicações geoestratégicas para o Brasil como um todo, sem que, em qualquer momento, fossem questionados os fundamentos, a rationale e os objetivos maiores do novo grupo, ou bloco diplomático.

De memória “bibliográfica”, todas as publicações elaboradas sobre o novo grupo-bloco, com implicações da mais alta relevância para os destinos fo País, foram aparecendo de forma inquestionavelmente positiva, como se a aventura fosse um dado, uma configuração diplomática e um projeto inquestionavelmente positivos para o Brasil, sem maiores questionamentos por parte da sociedade brasileira, em primeiro lugar do próprio Itamaraty, sempre submisso a quaisquer tipos de ordens superiores. Ao contrário, a ideia contou com uma recepção praticamente entusiástica por parte da academia, assim como do jornalismo complacente com a “genialidade” da trouvaille, cuja sigla sempre foi saudada com uma aquiescência muito favorável.

O mundo foi sendo transformado pelas assim chamadas “forças profundas” da economia e da política mundiais, e o barco do BRICS foi navegando em águas aparentemente tranquilas, com muito assédio ao novo grupo por parte do mal chamado “Sul Global” (uma outra entidade fantasma criada por acadêmicos e jornalistas apressados), até que irromperam as demonstrações práticas do novo imperialismo russo, primeiro na Georgia, depois na Moldova, em seguida na península da Crimeia e no Donbas, e finalmente na Ucrânia como um todo, a partir de 2022. Mas já a partir de 2014, com a invasão e a anexação ilegais, por Putin (mais do que pela Rússia), da península ucraniana da Crimeia (historicamente russa, por ações anteriores do imperialismo grão-russo czarista), a geopolítica mundial foi transformada de forma irreversível, sobretudo por força da ruptura violenta da Carta da ONU e das sanções racionalmente adotadas por parte de diversas nações “ocidentais” (entre as quais não se incluiu o Brasil, já no terceiro mandato lulopetista).

O processo de ruptura com o Direito internacional conspurcado desde o início por Putin se agravou com a Operação Militar Especial de 2022, agora já secundado pela “aliança sem limites” com a RPC de Xi Jinping, na aparente indiferença dos demais três membros do BRICS, assim como do chamado Sul Global e também da comunidade acadêmica entusiasta da ideia e do projeto do BRICS.

Pode-se dizer que o BRICS+ é um resultado e uma consequência direta da aventura militar de 2022, forçado pelas duas autocracias aos demais três membros do bloco, talvez complacentes ou simpáticos em face do sucesso aparente do bloco, assediado por muitos representantes do indefinível Sul Global, ou dessa ideia questionável do “mundo pós-ocidental”.

A terrível realidade da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que se transmutou de guerra de conquista (frustrada pela resistência ucraniana) em guerra de pura destruição de vidas e patrimônio da nação brutalmente atacada por Putin, começou a emitir alguns sinais de desconfiança sobre esse novo bloco visivelmente contrário à chamada “hegemonia ocidental” e sobre sua ideia indefinida de uma “nova ordem global multipolar”, visivelmente nas antípodas da atual ordem onusiana, já declarada perempta e incompetente pelo presidente brasileiro em seu terceiro mandato (mas ainda solidamente comprometido com a sua ideia de uma nova ordem mundial “mais inclusiva e democrática”).

Assim estamos em 2025, num cenário conturbado por diversos conflitos em diferentes regiões do planeta, mas novamente confrontado a um presidente americano visivelmente imperialista em suas pretensões megalomaníacas de “fazer a Ameaça grande novamente”, ainda que à custa de ações unilaterais abusivas e muito agressivas, contra aliados e concorrentes tidos como adversários. 

A diplomacia presidencial brasileira, ainda mais personalista neste terceiro mandato do que nos dois anteriores, segue comprometida com o projeto iniciado em 2005, aparentemente disposta a continuar com as alianças feitas num passado bem diferente do atual, independentemente das mudanças estratégicas que já ocorreram no cenário geopolítico.

De minha parte, observo que a diplomacia profissional continua calada e obediente aos dogmas da hierarquia e da disciplina, mesmo se alguns sinais de inquietação possam ser fracamente percebidos. No que concerne, continuarei atento a novos desdobramentos desse cenário, postando ideias e reflexões em meu tradicional “quilombo de resistência intelectual” que é o Diplomatizzando, e já pensando em fazer uma nova edição do meu livro A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (2022), editado antes do BRICS+. 

Vale!

Paulo Roberto Almeida

São Paulo, 13/07/2025

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...