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sexta-feira, 23 de abril de 2010

2062) Ciencia e tecnologia na diplomacia do seculo 19 - Pesquisa Fapesp

Humanidades - Relações internacionais
O Império da inovação: A ciência escondida nos arquivos do Itamaraty
Carlos Haag
revista Pesquisa Fapesp, 170 - Abril 2010

Salão nobre do Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro

Nada mais moderno e atual do que a discussão sobre inovação tecnológica e P&D como forma de diminuir a dependência externa do Brasil e colocá-lo em pé de igualdade com as grandes nações do Primeiro Mundo. Curiosamente, como revela uma pesquisa recente, nada mais antigo também do que pensar nessas questões. Em Inovações tecnológicas e transferências tecnocientíficas: a experiência do Império brasileiro, os pesquisadores Sabrina Marques Parracho Sant’Anna e Rafael de Almeida Daltro Bosisio, a partir de um projeto do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD), feito no Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI), descobriram documentos que revelam a ação do Estado brasileiro e de seus agentes diplomáticos, entre 1822 e 1889, no sentido de usar a inovação tecnológica e a ciência como forma de criar uma nação, civilizar o Brasil e colocar o jovem país em compasso com os territórios europeus nos quais o Primeiro e o Segundo Reinados se espelhavam.

“Foi muito importante a ação do Ministério dos Negócios Estrangeiros no sentido de transferir tecnologia fazendo circular pessoas, bens e informações, numa tentativa de criar condições para a formação e manutenção do Estado imperial, almejando o seu ingresso no grupo das nações civilizadas e reduzindo o hiato que, segundo se acreditava, o separava dele. Ora querendo se aproximar da Europa, ora buscando uma civilização adequada ao mundo dos trópicos, uma Europa possível, construía-se uma identidade nacional baseada no território e num sentimento de exclusão”, explicam os pesquisadores. Segundo Sabrina, coordenadora da pesquisa, “a discussão sobre a formação da ideia de nação no Brasil é longa e controversa, mas o material indica que múltiplos atores sociais efetivamente se empenharam na construção de elementos de distinção da metrópole a partir da superação do estigma da natureza selvagem e se fizeram protagonistas de um Estado independente a partir da construção de uma imagem de cultura e civilização na especificidade dos trópicos”.

O universo do material da pesquisa constituiu--se da documentação disponível no Arquivo Histórico do Itamaraty. No total, foram lidos 297 maços documentais e levantados e fichados cerca de 5.500 documentos, dos quais resultou a seleção e reunião de 2.621 resumidos e classificados por tema que hoje compõem o catálogo, pronto, mas ainda sem data para ser editado, apesar da quantidade preciosa de informações para pesquisa que contém. Os documentos vêm acompanhados da precisa localização no arquivo. “No papel desempenhado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros como mediador das relações entre o Brasil e os demais Estados, buscando superar as desigualdades e fazer com que o país entrasse no grupo das nações tidas como civilizadas, deu-se ênfase à circulação de ciência e tecnologia diretamente relacionada ao movimento de trazer, para dentro do país, o saber que se disponibilizava no resto do mundo, buscando encontrar nas transferências as bases de construção de uma nação em sincronia com suas congêneres”, notam os pesquisadores.

Uma das primeiras e mais constantes preocupações era com a educação da mão de obra, seja pela importação de obras para aplicação no Brasil, seja pelo envio de pessoal qualificado para aperfeiçoamento no exterior. “Salta aos olhos o grande fluxo de ofícios e despachos relativos à instrução pública na busca de métodos educacionais e na compra de livros e equipamentos para faculdades. São desde guias para a introdução de aulas de ginástica até livros variados para a formação de cursos especializados, numa vontade de civilização. Os documentos indicam esforços de universalização do saber, equiparação a modelos europeus e apontam para o desejo de constituição de elites aptas ao controle do Estado e de formação da população como povo capaz de construir a nação”, observam os pesquisadores. Em detrimento da educação universal, porém, os cursos para formação de mão de obra especializada parecem receber ênfase e não por acaso a preocupação centrada na formação das bibliotecas dos cursos jurídicos de Olinda e São Paulo: entre 1822 e 1841, mais de um terço dos documentos são relativos ao assunto. Afinal, era o curso que tinha o lugar central na formação do Estado nacional e ocupava a preocupação das elites dirigentes.

“O fato é revelador na medida em que se criava o curso pelo estado de independência política e que se tornava incompatível demandar, como antes, estes conhecimentos à Universidade de Coimbra. O país precisava começar a formar seus próprios bacharéis. Médicos, engenheiros, militares e técnicos do governo continuariam sendo enviados ao estrangeiro para completarem a sua qualificação. Estes profissionais tornaram-se pensionistas do Estado.” Uma parte do catálogo fala justamente da concessão de benefícios de viagem para aperfeiçoamento no exterior, já que não são raras no Império as práticas de envio de estudantes brasileiros para qualificação no estrangeiro e formação de uma elite capaz de suprir as demandas dos quadros técnicos para operacionalização do Estado. As pensões deveriam: solucionar um problema imediato notado pelo Império; formar um profissional que, além do fim último de sua viagem, devia deixar os olhos sempre abertos para o aprendizado do mundo. “As viagens em comissão e aquelas de estudo, exigindo com frequência relatórios semestrais, foram, de fato, de formação”, dizem os pesquisadores.

Plantio de café: cônsules se empenhavam na remessa de sementes
No entanto, aos poucos, as viagens comissionadas por interesses do Estado vão ganhando proeminência sobre as longas viagens de estudo. “A partir de 1827, o governo passaria a tratar a instrução individual no exterior como de interesse do próprio estudante e deixaria de financiar períodos de formação completa no estrangeiro, deixando que os títulos de doutor ou bacharel ficassem a expensas das famílias abastadas da elite imperial. O financiamento das viagens de instrução passaria a se restringir ao que chamaríamos hoje de especializações e abarcaria apenas as áreas vistas como de interesse imediato do Estado nacional.” Ora vista como meio de ascensão social individual, ora vista como instrumento de civilização fundamental ao Império, a política de educação se fazia no movimento de padronização do acesso à formação civilizadora no interior do país e de formação de elites técnicas para atender a fins específicos da burocracia estatal. “Assim, o movimento de declínio das viagens de estudo em prol do crescimento das viagens de estudo a cargos comissionados parece ser concomitante aos processos de internalização da formação profissional e de busca da maior universalização do acesso ao ensino primário e secundário.”

A exceção, a partir de 1841, eram as pensões destinadas aos estudantes de belas-artes, já que a criação de um corpo de profissionais formados no estrangeiro com valores universais se fazia premente no momento em que Pedro II começava a construir sua imagem de mecenas e homem das artes e quando, no âmbito imagético, pintores, músicos e arquitetos parecem ter contribuído para forjar um sentimento de pertencimento nacional. “Assim, se a engenharia e a medicina, a agricultura e outros ramos do conhecimento se apresentaram como foco fundamental do Estado, oscilando da formação de quadros no estrangeiro para a formação no interior do país, direito e belas-artes aparecem aqui como casos-limite: o primeiro, símbolo maior do que deveria ser exclusivamente nacional, forma administrativa do Estado que se fundava; o segundo, símbolo do que deveria ser pautado em modelos estrangeiros, forma universal, civilizada, a enquadrar a nação nos cânones consagrados do belo internacional.”

Entre 1822 e 1834, o Ministério dos Negócios Estrangeiros inicia suas primeiras atuações a fim de promover a troca de plantas e sementes com outras regiões do mundo, agindo, sobretudo, como mediador nas trocas entre instituições brasileiras ligadas à agriculturas e suas congêneres no exterior. “Olhando o procedimento de envio de sementes, tudo parece apontar para a emergência dos primeiros esforços do Estado em implementar inovações na agricultura diversificando a produção e contribuindo para o progresso nacional, já que a agricultura de gêneros para exportação era vista como fonte de civilização”, notam os pesquisadores. Categorias como rotina, indolência e falta de cultura eram usadas para designar o estado em que se achava a produção agrícola nacional, e as técnicas vindas das nações avançadas eram consideradas inovações necessárias para eliminar esse atraso. De início, até 1834, o papel do ministério era secundário na aquisição e remessa de sementes, mas aos poucos ele se tornou atuante por meio do seu corpo diplomático, que passou a participar ativamente na obtenção de informações científicas e na aquisição e remessa de novas espécies. “Uma clara mudança na ação dos representantes brasileiros no exterior pode ser notada e vários foram os ofícios enviados descrevendo novas espécies que fossem úteis ao desenvolvimento da agricultura nacional. Sementes e mudas foram remetidas com detalhadas informações sobre o plantio, solo apropriado, época para o cultivo e colheita, zona climática adequada para cada espécie. As plantas passaram a ser descritas com seus nomes científicos e de acordo com a classificação de Lineu.”

Pedro II: mecenas

“Cônsules e outros agentes diplomáticos passaram a se empenhar pessoalmente na remessa de sementes, mesmo sem um pedido formal do governo imperial. Muitas vezes, os próprios diplomatas tomaram a iniciativa de selecionar e enviar informações científicas que pudessem contribuir para a aclimatação de novas espécies e para a racionalização da agricultura”, avaliam os pesquisadores. Agentes contratados para tratar de assuntos de imigração também foram envolvidos na elaboração de trabalhos que pudessem contribuir ao desenvolvimento da indústria e do comércio do país e se empenharam na aquisição e remessa de sementes e plantas como algodão, tabaco, café, amoreira, freixo, quina, guaco, verbena, carvalho, baunilha, canela, pinheiro, anil, açafrão, e uma série de outras sementes que deveriam ser aclimatadas para serem úteis na construção do Estadão-nação imperial. “Além do envio de sementes e mudas, passou a ocorrer um crescente intercâmbio de publicações entre instituições científicas brasileiras e suas congêneres no exterior. Os próprios diplomatas brasileiros selecionavam e enviavam artigos científicos que pudessem contribuir para a aclimatação de novas espécies e para a racionalização da agricultura”, contam. “Em seus ofícios e correspondências, faziam relatos de experiências realizadas por cientistas que lhes eram contemporâneos, novas máquinas empregadas para determinadas culturas, enfim novidades no que diz respeito à tecnologia agrícola daquela época. Depois de remetidas as sementes, tais agentes demandavam os resultados do plantio para que a observação empírica lhes servisse de guia nas novas remessas.”

Num terceiro momento, entre 1865 e 1889, há um arrefecimento na atividade de troca de insumos e cresce a participação do governo brasileiro nas exposições mundo afora, tornando o Brasil fornecedor de produtos exóticos e úteis ao comércio internacional. A partir de 1870 observa-se na documentação, afirmam os pesquisadores, um aumento dos pedidos de sementes e mudas nativas do país por outros governos: palmeira, carnaúba, tajujá, fibras têxteis e também de espécies aprimoradas no país, como café, tabaco e cana-de-açúcar. “Com a ênfase nas exposições, as trocas de sementes voltaram a ocorrer no âmbito das instituições científicas que, mesmo vinculadas ao governo, ganharam autonomia”, dizem os pesquisadores. As poucas espécies que chegaram ao Brasil não vieram, como antes, com dados sobre cultivo e plantio, mas acompanhando os novos tempos, com estatísticas comerciais e apontamentos sobre a sua rentabilidade do café, já que, entre os anos de 1876 e 1877, amostras de café brasileiro foram enviadas à França para análise do produto e aprimoramento de sua qualidade a fim de aumentar seu valor de venda no mercado estrangeiro. “Ao longo do século XIX, ao lado da construção do Estado brasileiro, delineou-se uma política agrícola voltada para a exportação. Nesse transcurso, a administração da agricultura pelo governo deixou de lado as ciências naturais, como a botânica, a química e a geologia, para fazer uso das ciências econômicas como forma de desenvolver essa atividade agrícola. Esse novo paradigma passou a coordenar a divulgação científica tal como empreendida anteriormente pelos agentes diplomáticos.”

Ao longo de todo esse período estudado houve, além dos pedidos do Estado, muita iniciativa individual dos diplomatas, bem como a receptividade às inúmeras ofertas feitas, no estrangeiro, de inovações tecnológicas que poderiam servir ao desejo de civilização do Império, prova da importância do ministério no cumprimento da “tarefa civilizacional” que lhe foi indiretamente delegada pelo Estado brasileiro. “É interessante notar que o papel desempenhado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros forjava, como mediador das relações entre o Brasil e os demais Estados, imagens do eu e do outro, buscando superar as desigualdades e fazer com que o paísentrasse no grupo das nações tidas como civilizadas. Aos diagnósticos de civilização ausente e de um território-potência, se sobreporia também o de um aparato estatal faltante, definindo, no período, uma identidade nacional e um mito originário: cosmogonia a repercutir indefinidamente sobre um Estado eternamente em formação”, completam os pesquisadores. Tarefa para a ciência, via diplomacia.

Leia também:
- Documentos de nervos e sangue
CHDD difunde um dos maiores acervos diplomáticos do país

2061) Brasilia: capital da esperança... e da gastança

A história contemporânea do Brasil começa, praticamente, com o governo JK, pois acredito que a era Vargas ainda representa uma transição da República oligárquica para a modernidade industrial, tendo sido JK a também fazer avançar, decisivamente, o processo de industrialização, completado, finalmente, pelos militares.
Mas Brasília, sua maior obra arquitetônica, foi também o início da inflação acelerada no Brasil, que até então vinha apresentando valores modestos, de um dígito.
Não apenas a inflação, mas a dívida pública e a irresponsabilidade emissionista e orçamentária.
Na verdade, Brasília foi construída sem orçamento, fora do orçamento, contra o orçamento. Isso é preciso ressaltar.
O resto, a capital da corrupção e outras coisas mais, não é exclusivo de Brasília, pois teria acontecido em qualquer lugar do Brasil, infelizmente...
Em todo caso, presto minha homenagem à capital reproduzindo duas excelentes matérias do Observatório da Imprensa (ver o programa no endereço: www.tvbrasil.org.br/observatorio)

OI NA TV
A aventura de Brasília
Por Lilia Diniz
Observatório da Imprensa, 22/4/2010

Noite de 21 de abril de 1960. Em pleno Planalto Central – onde três anos e dez meses antes só havia seriemas e arbustos retorcidos – sapatos altos sujos de terra vermelha e cartolas circulam no baile de inauguração de Brasília. Ministros, senadores, deputados federais, funcionários públicos e chefes de Estado de diversos países conferem as instalações da nova capital. Emocionado, o presidente Juscelino Kubitschek realiza o sonho de transferir a sede do poder para o interior do Brasil. Cumpre o que determina a Constituição Federal desde 1891. Uma polêmica que dividiu o Brasil entre "mudancistas" e "antimudancistas". O Observatório da Imprensa exibido na terça-feira (20/4) pela TV Brasil relembrou a guerra travada na imprensa durante a construção de Brasília.

Para contar esse episódio, o Observatório gravou uma série de entrevistas em Brasília e no Rio de Janeiro: Ronaldo Costa Couto, historiador e escritor; Claudio Bojunga, jornalista e biógrafo de JK; Villas-Boas Corrêa, colunista político; Tereza Cruvinel , jornalista, apaixonada pela história da transferência da capital; Eliane Cantanhêde, jornalista da Folha de S.Paulo; Carlos Chagas, jornalista do SBT; Raimundo Nonato, responsável pela primeira publicação de Brasília; e Maria Elisa Costa, arquiteta e filha do urbanista Lúcio Costa, responsável pelo projeto do Plano Piloto.

Em editorial [ver íntegra abaixo], Alberto Dines comentou que a transferência "continha a matéria-prima necessária para produzir vibração e destravar o espírito de mutirão, adormecido desde a entrada do país na Segunda Guerra Mundial". Dines explicou que a mudança "é filha de muitas razões", entre elas a necessidade de aliviar a pressão das ruas do Rio de Janeiro acionada pelos jornais de oposição. "Aquela cidade em forma de ave ou avião, suspensa em cima de arrojados pilotis, despertou nos brasileiros a vontade de sonhar, levantar voo, criar."

Primeiros passos
Ronaldo Costa Couto explicou que a mudança da capital entrou em pauta no início de 1955, durante a campanha presidencial de JK, em um comício na pequena cidade de Jataí, em Goiás. "Ele fez algo que nunca tinha feito em toda a sua trajetória política: pediu aos presentes que fizessem perguntas, que ele gostaria de debater. Fez-se aquele silêncio e, de repente, um rapaz franzino, magro, emocionadíssimo, com a voz quase se recusando a sair, pergunta: `Se o senhor eleito for, cumprirá o que manda a Constituição, transferindo a capital para o Planalto Central?´. O Juscelino hesitou por alguns segundos e então respondeu: `Se a Constituição determina, eu o farei´", contou.

O historiador acredita que JK "induziu" a pergunta para que a cobrança partisse do povo. "Veja que coisa inteligente. O povo perguntou: `Tem esse comando na Constituição, o senhor não vai cumprir?´ O que ele responde? `Eu vou cumprir´. Qual poderia ser, por exemplo, a reação das forças armadas? Elas são guardiãs da Constituição, elas não puderam fazer nada. Ele estava atendendo a uma cobrança popular", avaliou. Para Ronaldo Costa Couto, JK foi um "autêntico democrata". Observava atentamente a relação entre liberdade de imprensa e democracia. "Democracia era um valor superior para ele", destacou.

Um dos motivos que levaram JK a lutar pela transferência da capital foi a pressão que a população do Rio de Janeiro exercia sobre os Três Poderes. "Juscelino acompanhou muito de perto a crise que levou ao suicídio de [Getúlio] Vargas, em 24 de agosto de 1954. E observou muito como o poder funcionava no Rio. Então, por exemplo, uma greve de estudantes por causa do aumento da passagem de bonde, acuava a presidência da República", disse. Dines comentou que uma manchete do Correio da Manhã, do Diário de Notícias ou da Tribuna da Imprensa levava o povo para a porta do Palácio do Catete, sede da Presidência da República. JK sentia-se acuado.

Poder pressionado
"JK também nota que qualquer entrevista mais agressiva de líder militar colocava o governo em xeque, colocava a República em polvorosa. Por tudo isso, o Juscelino meteu na cabeça que tinha que tirar a capital do Rio de Janeiro. Não era só a questão de vir para o interior brasileiro. Era também sair do Rio de Janeiro por uma questão de sobrevivência. Ele achava que no Rio de Janeiro não havia condições de governabilidade", disse Ronaldo Costa Couto.

A Câmara e o Senado também sentem a pressão das ruas no Rio de Janeiro. Villas-Boas Corrêa relembrou que as sessões do Congresso repercutiam na cidade. "A Câmara vivia apinhada. No dia dos grandes debates, a galeria enchia. Não era gente que ia lá quebrar móveis ou fazer reivindicações. Era gente que assistia ao espetáculo dos debates parlamentares."

Villas enfatizou que o jogo político acontecia no Congresso. Contou que todos os jornais publicavam seções fixas sobre as atividades da Câmara e do Senado. "O Heráclito Salles, que foi o maior repórter parlamentar de todos os tempos, um escritor fabuloso, ocupava a última página do Correio da Manhã com uma matéria sobre a sessão da Câmara. E havia os repórteres políticos, que ficavam livremente andando pelas ruas, pelos partidos", lembrou.

A imprensa entra em ação
Dines perguntou a Ronaldo Costa Couto sobre a primeira reação da imprensa ao projeto de Juscelino Kubitschek de mudança da capital. "A maior parte da imprensa não via com bons olhos a transferência da capital, nem a grande imprensa paulista, nem a grande imprensa carioca. Ele não tinha a imprensa espontaneamente do lado dele, porque no Rio queriam que a corte permanecesse. Era a cidade maravilhosa, com condições de vida excelentes e tinha muito a perder", disse.

Claudio Bojunga avaliou que no Rio de Janeiro a resposta foi muito ambígua. "Eu diria que grande parte da cidade se sentiu esbulhada: `levaram o nosso cetro!´. Em um nível mais profundo, acredito que houve uma corrente que entendeu que aquilo representava o amadurecimento de um projeto antigo." A idéia da transferência logo ganhou um aliado: a Última Hora, de Samuel Wainer. O Diário Carioca também apoiou a mudança e foi o primeiro jornal a instalar uma sucursal em Brasília. A revista Manchete evoluiu junto com a capital e dedicou diversas edições à construção da cidade, mas ainda não tinha expressão nacional.

O presidente sabia que precisava conquistar a simpatia da grande revista ilustrada do período: O Cruzeiro, dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. "O Chatô tinha uma certa má vontade com o Brasil e era o rei da imprensa na época, chefe dos Associados. Juscelino convenceu o Chatô a ser embaixador em Londres. A verdade é que o Chatô foi se aproximando da idéia de Brasília, foi compreendendo a importância daquele projeto que é algo que não se mede pelo cálculo econômico. É uma coisa de estadista, uma decisão estratégica e maior. Ele quase não ficou na embaixada, mas evidentemente que isso contribuiu para atrair a simpatia do líder dos Associados para Juscelino", explicou Bojunga.

JK monta sua estratégia
Em 1957 foi lançada a primeira publicação brasiliense, a Revista de Brasília. A Novacap – companhia criada para executar o projeto de edificação da cidade – precisava de um boletim informativo para abastecer a opinião pública nacional e internacional sobre o andamento das obras. O criador da revista, Raimundo Nonato, contou que a curiosidade em relação à transferência era grande e não havia como esclarecer a opinião pública sem um veículo destinado exclusivamente a Brasília.

"A imprensa estava praticamente toda contra. Então, eu idealizei uma revista, a princípio simples, pobrezinha, na qual se configurasse a marcha da construção de Brasília. Mas o doutor Israel Pinheiro, diretor da Novacap, não admitia polêmica, não admitia atrito", lembrou. A revista não podia ser usada para responder às críticas que eram feitas à transferência. Enquanto Israel Pinheiro evitava polemizar, Lúcio Costa não deixava as críticas sem resposta. Maria Elisa Costa lembrou que seu pai lia os jornais diariamente e respondia a todas as críticas por meio de cartas.

A mudança encontrou forte resistência no Rio de Janeiro e em São Paulo. O Jornal do Brasil declarou-se contra Brasília. Via em JK o responsável pela corrupção nas obras e atacava a política econômica do presidente. Outro jornal que fazia oposição sistemática e criticava a mudança da capital era O Globo. Já o Correio da Manhã acreditava que o Rio de Janeiro seria esvaziado politicamente com a perda do Distrito Federal.

Os piores adversários
Raimundo Nonato acrescentou que Diário de Notícias era "um pouco rebelde". Outro jornal contrário à transferência foi O Estado de S.Paulo. Entre todas as vozes contra Brasília, duas se destacavam: o jornalista e político Carlos Lacerda, dono da Tribuna da Imprensa, e Gustavo Corção, articulista católico de ultra-direita, do Diário de Notícias. "O Carlos Lacerda fazia oposição não só partidária, era fanático, fundamentalista. Havia colunas em que ele escrevia `o cafajeste máximo´ [sobre JK]", contou Claudio Bojunga.

"O Corção era um daqueles furibundos jornalistas e líderes católicos. Criticava Brasília todo dia. durante anos. E uma das críticas dele era que o lago de Brasília jamais encheria. Podia colocar água de rio, riacho, ribeirão que o lago não ia encher porque a terra daqui era tão desértica, tão porosa que ia chupar a água toda. Então, na véspera da inauguração de Brasília, quando o lago chegou à cota 1000, o Juscelino passou um telegrama para o Corção de duas palavras: `Encheu. Viu?´", contou Carlos Chagas.

JK monta uma estratégia para conseguir o apoio da imprensa e suavizar parte das críticas. "Juscelino chamou os empreiteiros e disse: `Vocês vão ganhar muito dinheiro, muito dinheiro mesmo. Agora, eu quero uma coisa. Com esse dinheiro absurdo que vocês vão ganhar, eu quero que vocês dediquem uma pequena parte, ou grande, eu não sei, a fazer publicidade. Vocês vão ter que botar páginas e páginas anunciando Brasília, falando de Brasília, mostrando Brasília´. E assim fizeram os empreiteiros", disse Chagas. Desta forma, JK conseguiu fazer os proprietários de jornais olharem Brasília sob um novo ângulo.

JK reverte o quadro
"Tem algumas coisas fantásticas durante o governo JK que foram de uma habilidade assustadora. Por exemplo, o Juscelino transformou Brasília em uma passarela. Brasília em construção. Trouxe aqui a rainha da Inglaterra, o príncipe do Japão. Vieram aqui todos os grandes escritores; trouxe grandes figuras mundiais – [Andre] Malraux, por exemplo, que era ministro da Cultura da França, e que chamou Brasília de `A Capital da Esperança´. Nesse desfiles todos imprensa ia junto, repercutindo dentro e fora do país", disse Ronaldo Costa Couto.

Apesar de ter procurado aproximar-se de intelectuais em toda a sua trajetória política, JK sofreu duras críticas. "Ele levou muita pedrada. As pedras mais fortes talvez tenham sido atiradas no começo pelo Gilberto Freyre, que era ligado à UDN [União Democrática Nacional]. `Onde já se viu cidade onde as construções não têm corrimão?´Desde brincadeiras como essas até cobrar que tinha que ser mais compatível com as tradições brasileiras, que vinham da arquitetura colonial", disse. Costa Couto explicou que a primeira leitura dos intelectuais era simplista. Criticavam a criação de "uma cidade no meio do nada, trocando o Rio pelo sertão". À medida em que os debates foram se aprofundando, perceberam que era a descoberta do Brasil profundo.

Eliane Cantanhêde disse que ao estudar a instalação das sucursais dos jornais na nova capital descobriu que os grandes nomes da cobertura política "levaram furo coletivo" há 50 anos: "Eles vieram cobrir a inauguração de Brasília, então eles pegaram sua malinha e vieram cobrir um evento. Chegaram aqui e foram ficando, foram ficando, e um belo dia descobriram: `Não é um evento, é uma capital que vai virar capital mesmo´. Eles não tinham onde morar, a família ficou. Eles foram furados porque não perceberam que não era só um evento, era de fato uma capital que estava se instalando e que hoje tem 50 anos, consolidadíssimos".

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Capital da utopia - a construção
Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 542, exibido em Observatório da Imprensa, 20/4/2010

Os Anos Dourados produziram Brasília ou foi o contrário – Brasília criou os Anos Dourados? Foram dourados mesmo ou a nostalgia pintou-os de dourado?

O binômio energia-transporte era apenas um plano de metas, mas a transferência da capital para o interior do país continha a matéria-prima necessária para produzir vibração e destravar o espírito de mutirão, adormecido desde a entrada do país na Segunda Guerra Mundial.

A imprensa carioca renovava-se. A cidade do Rio de Janeiro crescia, cada vez mais maravilhosa e também cada vez mais aguerrida: a manchete de um vespertino impresso no centro levava imediatamente multidões às portas do Palácio do Catete ou da Câmara dos Deputados.

Brasília é filha de muitas razões, uma delas, talvez a mais premente, foi a necessidade de aliviar a pressão das ruas. JK conseguiu: para isso usou a sua incrível capacidade de somar atraindo parte da imprensa para o seu projeto. Desta verdadeira distensão nasceu um dos momentos mais férteis da cultura e da arte brasileira.

Aquela cidade em forma de ave ou avião, suspensa em cima de arrojados pilotis, despertou nos brasileiros a vontade de sonhar, levantar vôo, criar. Meio século depois, esta nova série do Observatório da Imprensa traz de volta a vibração que construiu Brasília para compará-la com os frutos que produziu.

2060) Idiotice latino-americana invade universidade publica brasileira...

Socialismo do seculo 21, Idiotice do século 19, Fascismo do século 20
Leio, no blog do professor Orlando Tambosi, que um dos próceres (no caso, um conceito mal aplicado) do "socialismo do século 21" - na verdade uma mistura de comunismo do século 19 e fascismo do século 20 -- foi à Universidade Federal de Santa Catarina para inaugurar umas "Jornadas Bolivarianas", nome pouco apropriado para um convescote de insensatos.
Abaixo o post informativo e crítico, depois eu volto. (PRA)

O pai do "socialismo do século XXI"
Blog do Orlando Tambosi
quinta-feira, 15 de abril de 2010

A coisa também pode ser chamada de "fascismo do século XXI", se pensarmos no que acontece na Venezuela sob a tirania chavista. Trata-se de uma mistura de práticas fascistas e ideias comunistas, velharias que o mundo civilizado já dispensou no século passado. Esse tipo de ideologia totalitária só viceja ainda na América Latina, território das piores nostalgias e contumaz repetidora do que não deu certo em lugar algum.
O alemão Dieterich, o papai da coisa, abriu as Jornadas Bolivarianas na UFSC, instituição que, lamentavelmente, serviu de palco para a condenação da democracia, das liberdades e do "mercado", este demônio do bolivarianismo. Não espanta que o genitor desse monstrengo tenha estudado com os fundadores da Escola de Frankfurt, como Adorno e Horkheimer, críticos da civilização, da ciência e da técnica. Ah, sim, ele também é parceiro de Chomsky - outra prova de que a "idiotia" não é exclusividade da América Latina.

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Já tive oportunidade de analisar a imensa bobagem que constitui o tal de "socialismo do século 21", com referências explícitas às banalidades (de fato bobagens monumentais) desse tal de Dieterich, que não consegue sequer ser marxista, sendo um arremedo de marxismo vulgar com idiotice latino-americana.
Ver este trabalho:

2009. “Falácias acadêmicas, 9: o mito do socialismo do século 21
Brasília, 24 maio 2009, 17 p. Nono artigo da série especial, desta vez sobre as loucuras econômicas de certos conselheiros do príncipe.
Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 97, junho 2009, p. 12-24).
Espaço da Sophia (ano 3, n. 27, junho 2009).
Relação de Publicados n. 902.

Tem também este outro:
2027. “Crônica de um desastre anunciado: o socialismo do século 21 na Venezuela
Brasília, 20 de julho de 2009, 4 p. Comentários sobre uma matéria do jornal El País sobre os avanços estatizantes na Venezuela.
Via Política (27.07.2009).

2059) EUA e Iran: esgotando as vias diplomaticas

O Irã e o instinto de Obama
Stefan Simanowitz, The Guardian
O Estado de S. Paulo, 21.04.2010

Consciência de líder está certa em evitar ao máximo um confronto militar direto com Teerã; é preciso insistir nas negociações, em vez de aplicar novas punições ao regime

Há alguns dias, a Rússia e os Estados Unidos assinaram um novo tratado de redução de armas estratégicas (Start) dando sinais de uma mudança significativa no foco da estratégia nuclear dos EUA - de seus antigos inimigos da Guerra Fria para os chamados Estados renegados. Na última semana, na cúpula sobre segurança nuclear em Washington, a China concordou pela primeira vez em trabalhar com os EUA numa possível aplicação de sanções contra o Irã. Enquanto cresce o ímpeto para novas sanções contra Teerã na ONU, crescem também os temores de que uma intervenção militar contra o Irã esteja se tornando mais provável. Os instintos do presidente Barack Obama assegurarão que ele fará tudo ao seu alcance para evitar um conflito militar com o Irã - mas ele enfrenta "falcões" em casa.

No mês passado, o senador americano Lindsey Graham disse a uma plateia que, se for usada, a força militar contra o Irã deve ser empregada "de maneira decisiva" assegurando que o Irã não tenha nem mesmo "um avião que possa voar ou um navio que possa navegar". Esse tipo de retórica belicosa não é nova vindo de falcões em Washington, mas as palavras do senador Graham refletem uma militância crescente no Congresso, que no ano passado autorizou US$ 46 bilhões em recursos militares de emergência. No fim de março, circulou uma resolução na Câmara dos Representantes endossando explicitamente um ataque militar israelense ao Irã se "nenhuma outra solução pacífica puder for encontrada em tempo razoável". O tipo de "solução pacífica" e o tempo que eles considerariam "razoável" não foi especificado.

Noticiou-se recentemente que centenas de bombas "arrasa bunker" (que penetram profundamente no solo antes de explodir) estão sendo enviadas dos EUA à base militar americana na Ilha de Diego García, no Índico, e o governo americano assinou contrato com uma empresa de transporte para levar 19 contêineres de munição para a ilha. Serão mandadas 195 bombas inteligentes Blu-110 com penetradores e 192 bombas Blu-117 de 900 quilos. Os EUA já possuem uma força militar poderosa no Golfo e estão realizando manobras navais em larga escala no Atlântico com britânicos e franceses.

Ao assumir a presidência, Obama fez uma clara ruptura com a estratégia para o Irã de George W. Bush, demonstrando a disposição de negociar diretamente com Teerã sem precondições. Em seu pronunciamento pela televisão voltado para o Irã e em seu discurso no Cairo, ele reconheceu publicamente os aiatolás como legítimos representantes do povo iraniano, admitiu o direito do Irã de enriquecer urânio e falou abertamente do papel da Agência Central de Inteligências (CIA) na deposição do primeiro-ministro iraniano, Mohammad Mossadegh, em 1953.

Em outubro, ele manteve conversações diretas com os iranianos em Genebra depois das quais o jornal britânico Financial Times observou que Obama "obteve mais do Irã em oito horas do que a posição enérgica de seu antecessor conseguiu em oito anos".

Obama também herdou uma máquina militar cujos planos para um ataque ao Irã já estavam bastante avançados, e enfrenta uma mídia conservadora e um público pouco familiarizado com uma política externa com base na diplomacia paciente e na construção do consenso que muitos equiparam à fraqueza. A mais recente rodada de sanções envolverá exigências rígidas de inspeção de todos os bens que entram e saem do Irã e um embargo de produtos derivados de petróleo para o Irã. O bloqueio naval necessário para aplicar as sanções - seguramente envolvendo a Marinha Real britânica - poderá perfeitamente levar à guerra. Como se viu no Golfo de Ormuz nos últimos anos, escaramuças com a Marinha iraniana na região tendem à escalada.

Nas conversações em Genebra, o acordo proposto pelos EUA estabelecia que o Irã trocasse a maior parte de seu estoque atual de urânio pouco enriquecido por hastes de combustível para usinas vindos da Rússia e da França. Essa troca de "combustível por combustível" foi em grande parte aceita pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, Mas, preocupado com "promessas quebradas" anteriores, ele propôs que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) assumisse o controle do urânio pouco enriquecido no Irã até as hastes de combustível serem entregues. Como um passo para uma solução desse problema arrastado, a contraproposta do Irã parecia sensata, mas foi descartada. Em vez disso, os EUA não parecem dispostos a negociar, considerando o acordo proposto uma oferta para "pegar ou largar".

A aparente meta das negociações nucleares dos EUA de completa cessação de todas as atividades de enriquecimento pelo Irã é não só irreal mas, até certo ponto, indesejável. Ahmadinejad não vai desistir das atividades de enriquecimento que considera um direito inalienável do país.

Enquanto muitos têm preocupações genuínas de que o Irã está decidido a desenvolver armas nucleares, a maneira de assegurar que o Irã não se tornará uma nação nuclearmente armada não é isolar Teerã. Em vez disso, é preciso restabelecer rigorosas atividades de monitoramento internacional. Argumentos sobre o possível cronograma para o Irã obter uma capacidade de produzir armas nucleares tornam-se acadêmicos se assegurarmos a cooperação iraniana como o regime de inspeções da AIEA.

Com novo respeito nas ruas árabes por sua condenação, no mês passado, da política israelense de assentamentos, e mais legitimidade em seu apelo pela não-proliferação nuclear ao embarcar ele próprio na redução de armas, Obama deveria aproveitar essa oportunidade para prosseguir nas negociações com o Irã em vez de promover novas sanções. Os neoconservadores podem tentar convencer Obama de que, na condição de única superpotência global, os EUA precisam aproveitar este momento para garantir sua posição na região e assegurar controle das reservas cada vez menores de petróleo e gás. Eles podem argumentar que é preferível lançar um ataque preventivo contra o Irã mais cedo, enquanto a máquina militar americana está na região, do que mais tarde, quando o Irã se tornar ainda mais forte. Mas um ataque assim, com base no princípio da autodefesa antecipada e lançado antes de todos os meios pacíficos terem sido esgotados, seguramente não se coadunaria facilmente com a consciência de Obama. A nós, só nos resta esperar que Obama continue sendo um homem guiado por suas crenças.

2058) Jose Guilherme Merquior: 19 anos de sua partida

Enviado por Jonathan Yuri:

Quando se trata em descrever tamanha figura que existiu no Brasil, não me contento a dizer meras palavras feitas ou um simplório bibliográfico.
José Guilherme Merquior nos deixou há anos, em plena atividade intelectual, porém sua obra e pensamento se tornou eterno e hoje, é impossivel tratar sobre liberalismo social no Brasil sem mencioná lo.
Ao procurar uma definição do que foi e é a pessoa de José Guilherme, me remeto as palavras de Eduardo Portella: 'A mais fascinante máquina de pensar do Brasil pós-modernista — irreverente, agudo, sábio", cito a Revista Veja 'José Guilherme Merquior foi um filósofo pop, uma espécie de metaleiro do pensamento, que adorava duelos públicos', tanto que, comprou briga com Caetano Veloso e dona Marilena Chaui.

Nascido em 1941, no Rio de Janeiro, foi diplomata, escritor, filósofo, sociólogo e bacharel em Direito, tendo uma das formações universitárias mais destacadas e completas, em 1962 tira a licenciatura em Filosofia, Bacharel em Direito, no ano de 1963, e no mesmo ano recebe o diploma do curso de preparação à carreira diplomática, aluno titular do Seminário de Antropologia do College de France (1966 a 1970); Doutor em Letras pela Universidade de Paris (1972); PhD em sociologia pela London School of Economics and Political Science (1978) e Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco (1979).
Como professor, ministrou aulas nos seguintes cursos:
Instituto de Belas-Artes - Rio de Janeiro (1963); curso de História da Literatura Brasileira, na Universidade do Ar; curso de pós-graduação sobre o modernismo brasileiro (Universidade Nova de Lisboa, 1976); curso de Estética Contemporânea, (Montevidéu - julho de 1981).
Ministrou conferências sobre Arte, Literatura, Filosofia, Sociologia, Semiologia e História da Civilização em várias Universidades brasileiras. Participou de vários eventos de natureza cultural em nosso país e no exterior.
A 07 de setembro de 1963, data em que recebeu diploma como terceiro secretário, exerceu funções nos seguintes gabinetes:
Ministério das Relações Exteriores; Divisão de Cooperação Intelectual; Oficial de Gabinete do Ministro de Estado; Secretário da Delegação brasileira à II Conferência Interamericana Extraordinária; Terceiro Secretário na Embaixada do Brasil em Paris, 1966, e Segundo Secretário no ano seguinte; Primeiro Secretário em Bonn (1973); Primeiro Secretário em Londres (1975/1979); Conselheiro, em Montevidéu (1980/1981); Ministro de segunda classe em Montevidéu (1982) e Ministro-conselheiro na Embaxada do Brasil em Londres (1983).
Em 1982, se elege membro da Academia Brasileira de Letras, sendo empossado no ano seguinte.
Ao lado de Roberto Campos, trabalhou no governo Collor, tendo colaborado com o discurso de posse do então presidente. Foi convidado a ser Secretário da Cultura neste governo, convite este recusado.
Faleceu em Nova York, aos 49 anos, de um terrível câncer, deixou, porém para nós uma imensidão de escritos, tanto como prolífico escritor e polímata humanista.

Obras mais importantes:


O Estruturalismo dos Pobres e outras Questões (1975)
Verso e Universo em Drummond (1976)
De Anchieta a Euclides (1977)
Rousseau and Weber (1980)
O Fantasma Romântico e outros Ensaios (1980)
As Idéias e as Formas (1981)
A Natureza do Processo (1982)
O Elixir do Apocalipse (1983)
O Argumento Liberal (1983)
Michel Foucault, ou o Niilismo de Cátedra (1985)
Crítica (1990)
O Véu e a Máscara (1997)
De Praga a Paris: uma Crítica do Estruturalismo e do Pensamento Pós-Estruturalista (1991).

Completa hoje 19 anos de sua partida, mesmo sem conhecê-lo (pois nasci em 1990), me surpreendo cada dia mais ao ver tamanha astúcia e genialidade, de uma alma que se eternizou pela 'arte de metabolizar idéias', num país tão em falta delas.

2057) Pausa para... ouvir musica

Caruso, enviado pelo amigo Leonardo Teles:

http://www.youtube.com/watch?v=dL3JhHQolRM&playnext_from=TL&videos=dy7LYRfRJeU

http://www.youtube.com/watch?v=ueGWcWYlLI8&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=s4EW7uoFQco&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=jhrsQP8Bj_U&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=dWVa1hWJwVc&feature=related

quinta-feira, 22 de abril de 2010

2056) Brasil e Oriente Medio: uma grande confusao...

É o mínimo que se pode dizer quanto ao que se vem dizendo, em questões DIPLOMÁTICAS, quanto ao contexto do Oriente Médio:

LULA E AS NOVAS VELHAS BOBAGENS SOBRE O ORIENTE MÉDIO
Reinaldo Azevedo, 22.04.2010

Se o assunto é diplomacia (post abaixo), especialmente as delinqüências a que se pode dar a política externa brasileira, cumpre acrescentar ao rol de sandices a fala de hoje do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao receber o presidente do Líbano, Michel Suleiman. Afirmou o grande pensador das esferas terrestre e celeste:
“Não haverá reconciliação na região sem um Líbano vivendo em harmonia com seus vizinhos. Nem haverá conforto para o sofrido povo libanês enquanto perdurar o conflito árabe-israelense, a questão dos refugiados palestinos e as indefinições sobre o programa nuclear iraniano”.

Que diabos isso quer dizer? O Hezbollah, movimento terrorista que agora disputa eleições (!), mas que não abre mão do controle militar de uma parte do território libanês, é financiado pela Síria e pelo Irã e tem como um de seus objetivos destruir o “estado sionista”. Seus militantes foram treinados pela Guarda Revolucionária do Irã, a elite militar que hoje, de fato, manda no país. O que é mandar “de fato”? Se a Guarda quiser derrubar algum aiatolá, derruba; mas um aiatolá não derrubaria um chefão da Guarda.

Que graça! Para Lula, uma vez criado o estado palestino, o problema do Oriente Médio — e, deve imaginar, do terrorismo islâmico — estaria resolvido, como se ele se limitasse a uma questão local. O Irã, por exemplo, está pouco se importando com a “causa árabe”. Financia o Hamas — contra o Fatah, é bom lembrar — porque considera que, assim, atinge os interesses dos Estados Unidos na região. E dá suporte ainda ao terrorismo xiita no Iraque.

Meter num mesmo saco “a volta dos refugiados palestinos” e as “indefinições sobre o programa nuclear iraniano” corresponde a apostar no confronto. Se o preço da “paz” na região for a volta dos ditos “refugiados”, paz não haverá — e o Fatah de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, não faz dessa reivindicação uma questão de honra porque sabe que não ocorrerá. O limite, nesse caso, são compensações financeiras para os realmente refugiados — e não para aqueles que o movimento de resistência a Israel considera refugiados. A “volta” é impossível porque Israel deixaria de ser, segundo as bases de sua fundação, um estado majoritariamente judeu. Sem essa premissa, não é preciso ser muito bidu para intuir, os judeus seriam esmagados. Os palestinos moderados sabem que essa trilha não leva a lugar nenhum. Mas Lula acredita que pode ser mais duro do que o próprio Abbas — alinhando-se, então, com o Hamas, o Hezbollah, a Síria, o Irã, essa gente bacana, enfim.

Quanto ao resto, o que quer dizer, nesse contexto, “indefinições sobre o programa nuclear iraniano”? Quer dizer que este gênio da política externa, “O Cara”, acredita que a questão deva ser debatida no âmbito, imaginem vocês!, dos conflitos israelo-palestinos. Para os cérebros cinzentos que hoje comandam a política externa brasileira, seria preciso arrancar concessões de um lado (Israel) para que o outro lado (o Irã), com o qual o Brasil se alinha, fosse estimulado a recuar de seu programa — que, não obstante, o Brasil assegura ser pacífico.

Ora, se é pacífico, por que, então, o próprio Brasil admite que tem de ser negociado no ambiente da guerra? A falta de limites de Lula e seus malucos é assombrosa. Por mais que seja cansativo apontá-la dia após dia, isso tem de ser feito. É uma questão de defesa da civilização.

2055) Novo capitulo na diplomacia do futebol...

A diplomacia do gol contra
Editorial - O Estado de S.Paulo
22 de abril de 2010

O presidente Lula fez anteontem o seu último discurso, como chefe de Estado, numa festa de formatura de novos diplomatas brasileiros. Não se sabe o que dizia o texto que lhe prepararam para a ocasião, afinal preterido por um improviso de meia hora, embora decerto contivesse uma exuberante louvação do que seriam os feitos da diplomacia lulista.

No entanto, mesmo levando em conta os padrões de decoro político do atual governo, é improvável que a versão escrita abrigasse a pequenez para a qual o presidente apelou no seu solo, ao comparar a sua política externa com a dos anos Fernando Henrique, uma época em que os brasileiros teriam sido induzidos a ter "complexo de vira-latas", na antiga expressão do cronista Nelson Rodrigues.

A mesquinharia consistiu em mencionar ? a pretexto de expor a alegada subserviência do País ? um episódio de 2002, quando o então chanceler Celso Lafer, em missão oficial aos Estados Unidos, tirou os sapatos ao passar pelos controles de segurança dos aeroportos do país, como era exigido. Sem citá-lo pelo nome, nem o do presidente a quem sucedeu, Lula repetiu a sua tirada de setembro de 2003, segundo a qual, "quando inventaram a história de tirar o sapato, disse para o Celso (Amorim): "ministro meu que tirar o sapato deixará de ser ministro"". Há formas e formas de um governo se dar ao respeito.

Fernando Henrique, por exemplo, não condecorou a mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, nem a do vice Marco Maciel, nem ainda a do ministro Celso Lafer. Anteontem, as senhoras Marisa Letícia, Mariza Alencar e Ana Maria Amorim, casadas, respectivamente, com Luiz Inácio Lula da Silva, José de Alencar e Celso Amorim, foram agraciadas, entre outras pessoas, com a Ordem de Rio Branco. "Não se pode imaginar a atuação do presidente Lula sem o apoio de sua mulher", justificou o titular do Itamaraty, invocando o encanecido ditado de que por trás de um grande homem sempre há uma grande mulher. É dele, por sinal, o termo "nosso guia" aplicado a Lula.

O improviso presidencial teve também uma metáfora sem pé nem cabeça. Para ilustrar o quanto o Brasil ficou importante, a ponto de gerar "ciúmes" (sic) e "inimigos", Lula imaginou a seguinte cena: "A gente vai chegando num baile que tinha 3 caras bonitos, 50 mulheres. Depois, chegam mais 50 caras bonitos e as mulheres vão variando. O dado concreto é que o Brasil não é mais coadjuvante." Imagine-se o que devem ter pensado os novos egressos do rigoroso Instituto Rio Branco que o ouviam. No exterior, o que começa a desconcertar é a conduta do Brasil, como apontou ontem no Financial Times de Londres o comentarista John-Paul Rathbone.

Lula de fato se comporta como se o País já fosse um dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a meta das metas da sua política externa. Na realidade, a linha seguida pela diplomacia brasileira ? "narcisista e ingênua", observa Rathbone, citando os críticos do Itamaraty ? joga contra a pretensão do presidente. Ou, nas palavras do inglês, "a política brasileira do arco-íris pode estar chegando ao seu limite". Paradoxalmente, se é verdade, como tudo indica, que a comunidade internacional concedeu ao Brasil o atestado de maioridade de que Lula se vangloria, é também verdade que isso engendra expectativas de desempenho que o Itamaraty hoje em dia só faz frustrar.

Quanto mais o Ocidente presta atenção no que Brasília diz e faz na cena global, tanto maior a repercussão do que Rathbone chama, eufemisticamente, as "gafes" de Lula. Não foi o líder de um paiseco, ou de um "coadjuvante", como ele disse que o Brasil deixou de ser, que condenou o encarcerado ativista cubano de direitos humanos Orlando Zapata por ter feito a greve de fome que o matou depois de 86 dias.

Pior ainda: para os centros mundiais de decisão, uma coisa é o autocrata venezuelano Hugo Chávez se abraçar ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad, outra, incomparavelmente mais grave, é o democrata brasileiro advogar para ele na crise gerada por sua recusa a submeter o seu programa nuclear à inspeção da ONU, a que o Irã está obrigado. A diplomacia lulista tem menos nexo ainda do que as metáforas do presidente.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

2054) Iran e seguranca nuclear: ofensiva diplomatica contra as sancoes

O Irã está despachando missões diplomáticas para países que estima importantes no bloqueio de novas sanções. Não pretende fazê-lo em relação ao Brasil, talvez por julgar que não é necessário, talvez porque o Brasil se antecipou ao gesto e está enviando uma missão diplomática a Teerã, aliás, do mais alto nível, como se sabe...

Iran seeks to persuade Security Council not to back tough nuclear sanctions
By Thomas Erdbrink
Washington Post Foreign Service
Wednesday, April 21, 2010

TEHRAN -- Facing increasing momentum behind a U.S.-backed bid for new sanctions against it, Iran is launching a broad diplomatic offensive aimed at persuading as many U.N. Security Council members as possible to oppose tougher punishment for its nuclear program.

Iran wants to focus on reviving stalled talks about a nuclear fuel swap to build trust on all sides, according to politicians and diplomats in Tehran. But leaders of Western nations say that unless Iran alters its conditions for the deal, they will refuse to discuss it again. Under the arrangement, aimed at breaking an impasse over Iran's uranium-enrichment efforts, Tehran would exchange the bulk of its low-enriched uranium for more highly enriched fuel for a research reactor that produces medical isotopes.

As Iranian diplomats fly around the world to discuss the swap, they are lobbying some of the Security Council's rotating members to vote against a fourth round of sanctions proposed by the United States, officials said.

The Obama administration is seeking unanimous support for further Security Council sanctions against Iran. Three previous rounds of sanctions were accepted by all members, except in 2008, when Indonesia abstained. This time, Iran is actively working to get more Security Council members to oppose the U.S. initiative.

"In the coming 10 days, the Islamic republic's delegations will travel to the capitals of Russia, China, Lebanon and Uganda to pursue talks," Foreign Minister Manouchehr Mottaki said. "Other countries will be visited in the near future." He said that "nuclear issues" will be on the agenda.
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Iran also plans to try to rally support during an international conference to review the nuclear Non-Proliferation Treaty (NPT). In Tehran's view, the gathering, scheduled for May in New York, is shaping up as a confrontation between nuclear powers and developing nations.

Iran's official stance is that the U.N. sanctions are not effective. But unofficially, any vote against a new sanctions resolution would be welcomed as a great diplomatic victory.

"The groups we are sending out will be focusing on the correct implementation of the NPT, the disarmament trend and fuel-swap issues," said Kazem Jalali, a member of the Iranian parliament's national security and foreign policy committee. "Naturally, our explanations during the trips will have a positive effect against the efforts by the United States in trying to impose new sanctions."

To start its diplomatic offensive, Iran held a nuclear disarmament conference last weekend that several Security Council members attended. The meeting, with its motto of "nuclear energy for all, nuclear weapons for none," focused on what Iran and other developing nations call "double standards" and "discriminatory elements" in the Non-Proliferation Treaty.

Participants in the Tehran conference shared complaints that world powers are using proliferation fears as a reason to prevent developing nations from establishing independent nuclear energy programs.

Iran's diplomatic effort seems especially aimed at developing nations such as Brazil, Nigeria and Turkey, which hold rotating seats on the 15-member Security Council. Iran is also betting that council members Lebanon -- which has a government that includes members of Iran-backed Hezbollah -- and Uganda might vote against new sanctions or abstain.

As a part of the campaign, President Mahmoud Ahmadinejad will begin a two-day state visit Friday to Uganda, where he is expected to promise help in building an oil refinery.

Brazil and Turkey already have said they are wary of imposing additional punishment on Tehran. Turkish Foreign Minister Ahmet Davutoglu, visiting Iran on Tuesday, announced that his country is ready to mediate on the uranium swap proposal and other nuclear issues.

The U.N.-backed arrangement, proposed in October, was the subject of promising initial negotiations. But it was soon shelved after Iran repeatedly changed its conditions, saying the exchange should take place on Iranian soil and demanding more Western security guarantees.

With Western nations insisting that the swap occur outside Iran, Turkey offered last year to act as a neutral location for the exchange, but Tehran was not interested, diplomats said.

Asked Tuesday about the proposal, Iranian Foreign Ministry spokesman Ramin Mehmanparast told reporters, "The venue of any fuel swap will be in Iran."

Special correspondent Kay Armin Serjoie contributed to this report.

2053) O pais mais tolo do mundo; sim, existe...

Existem pessoas perfeitamente estúpidas -- ou seja, que são capazes de provocar danos a si mesmas ao agirem da forma como o fazem -- e isso recebeu um notável livreto sobre as leis universais da estupidez humana, do historiador italiano Carlo Maria Cipolla.
Eu mesmo, entusiasmado com suas descobertas geniais, escrevi algo a respeito:

As Leis Fundamentais da Estupidez Humana
Via Política (6.12.2009)

Todas as leis da estupidez humana (suite et fin...)
Via Política (13.12.2009).

Pois bem, existem também países estúpidos, obviamente governados por líderes estúpidos, como parece tentar provar esta matéria do Foreign Policy.

The dumbest country in the Middle East
Foreign Policy, April 15, 2010

So what are we to make of the allegation that Syria is moving, or has moved, Scud missiles, or parts of Scud missiles, into Hezbollah country in Lebanon -- even as the Obama administration tries to send a U.S ambassador back to Damascus for the first time in five years?
On the one hand, it's a little baffling. Why would Syria risk an Israeli strike by taking such a provocative step? With an assist from U.S spy satellites, Israeli jets could easily take out the missiles -- they've already proven their ability to evade Syrian radar with the 2007 raid on an early-stage nuclear plant near the Euphrates River. And the international opprobrium that would result from proof of such a weapons transfer to a terrorist organization would be severe.
Despite all the Syrian bravado about Hezbollah's strong showing against Israel in the 2006 Lebanon war, surely Bashar al-Assad knows that his creaking Soviet weaponry would fare badly in any conflagration -- and that his presidential suite is well within the range of Israel's F-15s. For all the figures you read in the press about the size of Syria's military and its vast arsenal of tanks, the country is essentially a tin-pot dictatorship with little ability to project power beyond Lebanon, where for decades it has dominated its smaller neighbor's domestic affairs.
If you think in regional terms, the (alleged) move makes marginally more sense. Iran, Syria's ally and patron, is looking to show the West that any strike on its nuclear facilities would be extremely costly for the United States and its allies. With pressure escalating, it's not hard to imagine that the powers that be in Iran leaned on Bashar to lend a helping hand next door. (Syria expert Andrew Tabler offers some other plausible motives here.) [See post in FP]
The insane thing about all this is that Syria would be much better off by joining the pro-Western camp. It could get the Golan Heights back, get the sanctions lifted, and attract foreign assistance and investment -- while fending off pressure to open its deeply authoritarian system, just as Egypt has. It could reap billions in tourism revenue, thanks to its incredible archaeological and cultural riches. And it could finally bury the hatchet with other Arab states, which have long been frustrated by Syria's close ties to Iran, its support for militant groups, its meddling in Lebanon, and its intransigence on all things Israel.
But dictatorships are strange animals; they often make poor decisions for reasons that are inscrutable to all but the most informed observers.

2052) Conflito das papeleras: Corte da Haia deu razao ao Uruguai

Comentário inicial:
Parecia evidente, desde o começo, que a Argentina havia extrapolado neste conflito. Não apenas seus grupos ambientalistas, mas sobretudo seu governo, que assumiu a causa com um ardor militante que simplesmente derrogou várias normas de direito internacional, tratados bilaterais e acordos regionais, como o do Mercosul, sobre livre circulação de mercadorias. Os prejuízos ao Uruguai foram enormes, durante anos, com o governo argentino de modo arbitr´årio e ilegal dando seu apoio aos grupos que provoracaram total ruptura nos intercâmbios bilaterais.
O "pecado" do Uruguai foi ter dado autorização para o invesstimento estrangeiro e dado o seu acordo às obras que iniciaram a construção de uma das duas papeleras previstas sem ter previamente consultado a Argentina a respeito da "utilização" do Rio Uruguai, como obrigaria um tratado de 1955 (tenho dúvida sobre este data). Mas, provavelmente agiu de forma deliberada, pois se tivesse feito a consulta, tinha quase 100% de certeza de que os argentinos sem nenhumam razão sólida, teriam vetado o empreendimento, com enormes prejuizos para o Uruguai.
A Argentina não cometeu pecados, cometeu violações de todos os acordos e normas internacionais que se possa pensar, com um furor bloqueador que surpreendeu a todos.
Espera-se agora que ela cumpra o laudo da Haia, e reprima seus manifestantes ilegais.
Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 22.042010)

CONFLICTO BILATERAL
“Argentina se quedó con las manos vacías”

Observa.com.uy: 20/04/2010

El especialista en Derecho Internacional Público y Organismos Internacionales Alejandro Pastori analizó para Observa el fallo de La Haya, señalando que fue “99% favorable para Uruguay”

Montevideo, Uruguay - El doctor en Derecho y Ciencias Sociales de la Universidad de la República, Alejandro Pastori, dijo a Observa que el fallo de La Haya es “99% favorable para Uruguay” ya que la Corte Internacional de Justicia le dio la razón al gobierno uruguayo de que la planta no contamina y que puede seguir su funcionamiento en Fray Bentos.

“Más allá del énfasis puesto por la Corte en el único aspecto en que le dio la razón a Argentina, que es la violación de los procedimientos previstos en el Estatuto del Río Uruguay por parte de nuestro gobierno, el resto del fallo, el fondo del asunto, que es si la planta contamina o no, en eso le dio el 100% de la razón a Uruguay”, dijo Pastori.

El especialista, diplomado en Derecho Internacional Público y Organismos Internacionales de la Universidad de París I, remarcó que la Corte analizó punto por punto todos los aspectos vinculados a los argumentos ambientales que presentó Argentina al respecto, rechazando cada uno de esos puntos a la vez que daba por buenos los argumentos presentados por Uruguay, que demostró que la planta cumple con todos los estándares internacionales aceptados en materia de contaminación. “Eso es lo esencial del fallo, porque significa que la planta va a seguir ahí y va a seguir funcionando ahí”, enfatizó Pastori.

“La Corte destacó que Argentina sí tiene razón cuando dice que Uruguay, para autorizar la obra, no siguió el procedimiento previsto por el Tratado, que lo autorizó unilateralmente, sin darle entrada a la consideración de la Comisión Administradora del Río Uruguay (CARU), pero esto es algo que no acarrea absolutamente ninguna consecuencia para Uruguay. Es un tirón de orejas, pero suave”, dijo.

A su entender, que Uruguay haya actuado así tuvo que ver más con un acto de oportunidad, basándose para la autorización de las obras en los informes nacionales realizados por la Dirección Nacional de Medio Ambiente (DINAMA).

“Naturalmente esto es criticable y la Corte así lo entendió, porque debieron ser informes coordinados por la CARU los que deberían haber dado la última palabra al respecto. Pero era previsible que la Corte le diera la razón a la Argentina en ese sentido. Ahora bien, lo importante es señalar que Argentina pedía que esa violación procedimental sirviera también para desmantelar la planta y el cese de su funcionamiento, y esto para nada fue lo que se dijo en el fallo”, dijo Pastori.

El especialista agregó que “Argentina se quedó con las manos vacías, porque la sentencia lo que ha dicho es que la mera constatación del incumplimiento en el procedimiento es satisfacción suficiente para la contraparte. Esto en Derecho Internacional está bien, porque la satisfacción es una de las formas de reparación. Lo que pedía Argentina, el desmantelamiento y demás, la Corte lo consideró totalmente desproporcionado, porque una simple desviación del procedimiento de consulta no puede dar lugar a una consecuencia tan grande, por el simple hecho de que la planta no contamina”.

Con respecto al bloqueo de rutas, Pastori dijo que eso ahora está en manos de las negociaciones bilaterales que puedan hacer los gobiernos. “No debemos dejar de tener en cuenta que para cumplir esta sentencia Argentina tiene que impedir que existan medidas de retorsión que impliquen un deterioro de los derechos de Uruguay a hacer funcionar la planta de forma pacífica”, remarcó.

Si los ambientalistas prevén cortar los barcos que suministran insumos a la planta, el gobierno argentino no debería permitirlo, dijo Pastori, ya que sería el incumplimiento de la sentencia. “Una medida de retorsión por parte de estos ambientalistas que quieren castigar una planta que ha sido declarada no contaminante y legal carece de fundamento. Ahí el gobierno argentino debería actuar, porque en Derecho Internacional existe responsabilidad por los hechos que puedan cometer particulares que vayan en contra de las normas”, remarcó el especialista, finalizando su análisis con la siguiente frase: “Sin este fallo, Uruguay y Argentina probablemente seguirían sin hablar”.

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Comentário final (PRA):
O Brasil foi chamado pelo Uruguai a mediar esse conflito e se recusou. Claro, só se pode mediar um conflito quando ambas as partes estão de acordo, e a Argentina sempre recusou, terminanentemente, qualquer "intervenção" do Brasil nesse caso, mas sequer atuou de forma a buscar uma solução, negociada ou não (a despeito de também ter ido à Corte da Haia buscando a interdição do investimento, o que ela não conseguiu).
A partir dai, e em face da recusa e da atitude intransigente por parte da Argentina, o Brasil se eximiu completamente de "intervir" num assunto que estava claramente extrapolando o ambito bilateral e causando prejuizos concretos aos acordos do Mercosul. Deixou, assim, de exercer sua pretensão à liderança e sobretudo seu papel de promotor da integraçao regional, ao se recusar a tomar partido frente a uma clara violação das obrigações argentinas no quadro do Mercosul. Foi passivo, digamos assim, ou se rendeu às negativas argentinas, quando não é isso que se espera de um "país líder". Poderia ter tomado outras iniciativas, que não deveriam ser vistas como favoráveis a nenhuma das partes, apenas como favoráveis ao cumprimento do direito internacional e dos acordos do Mercosul.
Paulo Roberto de Almeida

2051) Uma festa que tem tudo a ver com a America do Sul atualmente...

Quem sabe até, tem tudo a ver com a América Latina de hoje, como querem alguns entusiastas da causa da integração, em escala mais do que continental...
Não assisti, ou ouvi, outras descrições e imagens dessa festa bolivariana em Caracas, mas algo me diz que ela se parece exatamente com a região atualmente, em cores, imagens, vivacidade, esperteza, entusiasmo integracionistas, enfim, todas essas coisas boas que se pode esperar de uma festa comemorativa da independência...

Cristina Kirchner rouba a cena em festa de Chávez
Mariana Timóteo da Costa
O Globo, Terça-feira, 20 de abril de 2010

Aliados de Hugo Chávez por apoiarem sua ideologia socialista do século XXI ou porque se beneficiam da liderança que o governo da Venezuela tem, baseada em seus recursos petrolíferos? A discussão apareceu ontem, em Caracas, quando chefes de Estado de vários países como Argentina, Bolívia, Cuba, Equador e Nicarágua compareceram à grande festa preparada por Chávez para comemorar o bicentenário do início do processo de independência de seu país. Chávez, aclamado como o “comandante em chefe da Revolução Bolivariana”, participou de uma parada cívicomilitar, evocou Simón Bolívar e discursou várias vezes pregando a união da região e afirmando a necessidade de buscar a “revolução e uma democracia socialista”.

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, teve tratamento de convidada especial, sendo chamada a discursar na sessão solene da Assembleia Nacional.

Para os críticos, ela só aceitou porque o governo da Venezuela já comprou, desde 2005, mais de US$ 9,2 bilhões de títulos da dívida argentina, e porque os acordos comerciais entre os dois países renderam à Argentina, somente em 2009, US$ 1,23 bilhão em exportações.

— Em troca, Chávez recebeu o apoio irrestrito de Cristina para um ingresso, ainda incerto, no Mercosul — diz Maria Teresa Belandria, especialista em direito econômico internacional.

Partido do presidente freta ônibus para simpatizantes

Na Assembleia, Cristina não falou muito de história, muito menos de “socialismo do século XXI”. Pregou, sim, um investimento no multilateralismo, e agradeceu a Chávez pelo apoio contra a existência de “uma colônia inglesa na América do Sul”, as Malvinas.

— Temos que lutar pela liberdade da América do Sul.

Por que as leis internacionais valem para uns e não para outros? — disse ela, sempre se referindo à América do Sul, apesar da presença de líderes de Cuba e Nicarágua.

O historiador Rafael Arraíz Lucca, da Universidade Metropolitana de Caracas, também estranhou o convite feito à presidente.

— Pelo que sei, ela não é especialista em história, e a independência da Argentina não teve muito a ver com a da Venezuela.

Acho que alguns líderes estão aqui por se identificarem ideologicamente com Chávez, como Evo Morales (Bolívia), Raúl Castro (Cuba) e Daniel Ortega (Nicarágua). Outros até se identificam, mas não tanto, como o Rafael Correa (Equador), que não quer um Equador igual à Venezuela.

E a líder da Argentina muito menos — acredita Lucca.

Cerca de 12 mil pessoas compareceram de manhã à parada cívico-militar que comemorou o bicentenário na avenida de Los Próceres, no centro de Caracas. A maioria estava vestida de vermelho, mas com camisas de organizações sindicais, de ministérios, do partido de Chávez, o PSUV, e da estatal de petróleo, a PDVSA.

— Viajei a noite toda num ônibus fretado pela PDVSA desde o estado de Zulia (no noroeste do país) até aqui. Temos que apoiar o nosso presidente, que criou tantos empregos e faz tanto por nós — dizia Barbaro Torres, de 56 anos.

De fato, segundo o ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, a estatal hoje conta com um quadro de 90 mil trabalhadores, 133% a mais do que há cinco anos: — O apoio a Chávez, tanto aqui quanto lá fora, esta atualmente muito associado à quantidade de assistência econômica que ele dá.

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PRA: Não sei se isso acontece com todo mundo, mas de vez em quando me dá uma sensação de desalento com a situação em certos países, que tenho até vontade de repetir Simón Bolívar, quando se afastou, renunciando a seus cargos, do caos que eram os novos Estados independentes da ex-América hispânica.
A mesma sensação afeetou o primeiro presidente da Bolívia, aliás o último país a conquistar sua independência da Espanha, já em 1825. Partindo para o exílio, em 1828, depois de tentar governar por 3 anos, Antonio José Sucre de Alcalá teria resumido assim a situação da Bolívia:
"La solución era imposible."
Desde 1825, até a queda de Carlos Mesa, em 2006 (aliás provocada por Evo Morales), a Bolívia teve 195 presidentes, ou seja, um cada 10,8 meses, em 177 anos.
Trata-se, sem dúvida alguma, de um país com excesso de presidentes. Felizes são os bolivianos, que podem contar com tanta gente capacitada para exercer a presidência...
Ou não...

Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 21.04.2010)

2050) Politica externa brasileira: dando destaque a um comentário

A propósito deste post:

terça-feira, 20 de abril de 2010
2047) Finacial Times criticizes Brazilian Foreign Policy
Brazil's cuddly ways are barrier to seat at the top table

By John Paul Rathbone


Financial Times, 20/04/2010

recebi um comentário de um leitor bem informado, cuja utilidade -- várias citações remetendo a outros materiais de relevo, por exemplo, ademais de comentários sempre bem ponderados -- merece destaque maior do que uma simples nota de rodapé, que costuma ficar escondida, ilhada, incógnita nas dobras de outro post.
Por isso cabe aqui transcrevê-la, in totum:

Paulo Araújo disse...

Bom artigo. Concordo bastante.

Que Lula é um narcisista, não discuto. Mas chama-lo de ingênuo ou bufão é um equívoco do analista.

A atual condução da política externa não tem nada de ingênua. Tem método, embora às vezes errático na condução, como no caso de Honduras e de Cuba. Se vão ou não atingir os seus alvos estratégicos, são outros quinhentos. Se perdem a eleição agora em 2010, então ciclo fecha e a análise do período poderá ser feita com base nos resultados. Se ganharem, acho que vão continuar insistindo com a novidade do Lula atuando mais à vontade na linha de frente internacional.

Na visita ao Irã, Lula terá que convencer os aitolás que o governo brasileiro tem, em relação ao programa nuclear, os mesmos interesses estratégicos que o Irã.

Para tornar-se respeitável aos aitolás, precisará convencê-los sobre a vitória de Dilma estar no papo. Essa é a única garantia de que não haveria mudança na política externa com as eleições. Estando em fim de mandato, não vejo o que mais Lula poderia oferecer como garantia, a não ser a continuidade do seu grupo no controle do poder de Estado.

Vai dar certo o “olho no olho”? O narcisismo de Lula, alimentado diuturnamente pelo puxa-saquismo dos áulicos, o leva a crer que suas chances no Irã são tão grandes quanto o ego dele.

Eu prefiro aguardar os fatos, observar com quem ele conversará além do Ahmadinejad, ouvir o que Lula e os donos da casa dirão e, principalmente, como agirão desde agora até a VIII Conferência do TNP em maio

A Conferencia Nuclear de Teerã, tida como preparatória para a VIII Conferência do TNP na ONU, aconteceu neste último fim de semana. No domingo, foi lida uma declaração tão irrealista quanto a de Lula (pediu o desarme nuclear imediato dos EUA) na Cúpula de Washington: “Um Oriente Médio livre de armas nucleares requer que o regime sionista se una ao TNP”. A declaração foi lida pelo ministro iraniano de relações exteriores Manouchehr Mottaki (18/04/2010)

http://www.almanar.com.lb/newssite/NewsDetails.aspx?id=134189&language=es

Na abertura da Conferência, Ahmadinejad pronunciou-se favorável à criação de “um grupo internacional independente que planeje e supervisione o desarme nuclear e impeça a proliferação”. Ahmadinejad defendeu que os EUA não fossem admitidos nesse “grupo internacional independente”.

http://www.almanar.com.lb/newssite/NewsDetails.aspx?id=133861&language=es

No mesmo domingo de encerramento da Conferência que exigiu a adesão de Israel ao TNP, o governo iraniano comemorou o “dia do exército” e expôs no desfile militar os mísseis capazes de transportar ogivas nucleares.

Durante o desfile, Ahmadinejad pronunciou um discurso no qual, mais uma vez, comparou Israel a um “micróbio corrupto”. Se ainda restava dúvida sobre o objetivo estratégico de varrer Israel do mapa, a metáfora do micróbio corrupto é prova mais que suficiente dessa intenção. Apesar de não ter dito textualmente, o que mais se deve fazer com o micróbio corrupto que ameaça a saúde das nações da região, a não ser exterminá-lo?

“O regime sionista está em vias de colapso", disse Ahmadinejad. "Este regime é o principal instigador da rebelião e conflito na região [...]. A principal razão para a insegurança na região nesses últimos 60 anos é esse micróbio corrupto. Seus aliados e criadores [refere-se à criação de Israel pela ONU em 1948] devem parar de apoiá-lo [Israel] e permitir que as nações da região e os palestinos resolvam as coisas com eles”.

Só não disse exatamente o que farão com o “micróbio corrupto”.

http://www.almanar.com.lb/newssite/NewsDetails.aspx?id=133891&language=en

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De minha parte concordo com o comentarista Paulo Araujo: não há nada de ingênuo ou desinformado nas posturas assumidas pelos responsáveis pela política externa. Eles estão aplicando exatamente aquilo que acreditam e pelo que lutam. Pode ser que a realidade seja um pouco mais teimosa em se dobrar às suas crenças e intenções, mas que eles tentam, isso tentam...
Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 21.04.2010)

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Addendum em 22.04.2010:

Dando destaque ao destaque, e agregando comentário:
O que segue abaixo, já figura em anexo, como comentário a este post que já dava destaque a um comentário anterior, em outro post, do mesmo interlocutor, que volta a escrever o que segue:

Paulo Araujo escreveu o que segue:

Não li na imprensa brasileira uma linha que fosse sobre o a Conferência em Teerã e as declarações de Ahmadinejad sobre Israel. Em minha opinião, as editorias de internacional teriam que estar ligadíssimas nesse assunto. Sobretudo porque o chefe de Estado brasileiro tem visita oficial agendada para aquele país.

Essas declarações pedindo a destruição de Israel dão uma boa medida da encrenca na qual o nosso governo irresponsavelmente quer nos enfiar. Acho grave que a imprensa silencie sobre isso.

Pelo que pude depreender após a leitura das reportagens da agência Al Manar, a posição oficial do governo brasileiro sobre o desarmamento nuclear está afinadíssima com a do Irã. Apesar de embaladas com as “nobres mentiras” da paz mundial, elas não são ingênuas. Não descarto a unificação dos governos brasileiro e iraniano no confronto que certamente patrocinarão também na VIII Conferência (contra os países que “não têm autoridade moral”).

Isso é bom para o Brasil? Eu diria que é péssimo.


Por que o fiz ?(PRA):
Poderia dizer: porque assim o quis, mas digamos que é para arrancar do anonimato de uma nota de rodapé escondida -- ja que os comentários só abrem a pedido do leitor -- que traz mais substância a um tema relevante.
A imprensa brasileira, além de ter poucos correspondentes no exterior (cinco ou seis, na média, cobrindo, mal, regiões inteiras), se preocupa pouco com questões internacionais, o que é "normal" dentro de nosso universo caipira e introvertido. Mas essa conferência de Teeran deveria ter sido seguida com atenção, pois vai "preparar" a posição de alguns países que nitidamente vão querer "perturbar" a conferência de revisão do TNP, em maio.
O Brasil estará entre os "perturbadores"? Talvez não, mas certamente vai exigir, mais uma vez, cumprimento dos compromissos de desnuclearização dos nuclearmente armadas, desta de forma mais vocal, digamos assim. Vai se aliar ao Irã? Duvidoso que o faça, mas digamos que haverá pontos concordantes, ainda que o Irã prefira não comparecer.
Mais uma demonstração de soberania, independência, posições próprias, sempre em defesa de causas altamente relevantes para o interesse nacional...

2049) Carcará desafinado ou amestrado?

A ABIN anda extrapolando, e servindo mais ao governo do que ao Estado?

O ESTADO POLICIAL LULIANO
Reinaldo Azevedo, 21.04.2010

É, moçada! O pessoal não brinca em serviço. Em entrevista a João Carlos Magalhães, da Folha, o juiz Antonio Carlos Almeida Campelo, da Justiça Federal em Altamira (PA), que concedeu as três liminares contra o realização do leilão de Belo Monte, revelou que foi, como posso dizer?, serenamente importunado por agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Leiam trechos. Comento em seguida.
(…)
FOLHA - O senhor se sente pressionado?
CAMPELO - Recebi procuradores da AGU, da Aneel e do Ibama e, por mais de uma hora, ouvi suas alegações e fiz algumas ponderações. Mas não foi suficiente para eu modificar minha decisão. Não me sinto pressionado, mas estou incomodado com várias solicitações de agentes da Abin, que não vejo como um órgão de representação judicial. Não entendo o que eles estão investigando.

FOLHA - Como e quando essas “solicitações” ocorreram?
CAMPELO - Não houve conversa com agentes da Abin. Dois agentes da Abin estiveram na subseção de [Justiça Federal em] Altamira atrás das decisões e querendo saber quando eu daria outras decisões. Ligaram várias vezes para o diretor da subseção de Altamira querendo informações sobre o teor das decisões e o momento em que eu liberaria. Pediram cópias de minhas decisões por e-mail [todas já haviam sido disponibilizadas na internet].

Voltei
Ouvida pelo jornal, a agência afirma que não fez nada de ilegal e se sai lá com um burocratês meio cretino: “A Abin possui uma equipe em visita oficial ao local com a finalidade de acompanhar a conjuntura regional e, assim, cumprir a sua missão legal. Entre as atribuições legais previstas pela lei 9.883/99 (que institui a Abin) estão a obtenção, a análise e a disseminação de conhecimentos sobre fatos e situações de imediato ou potencial interesse para o processo decisório nacional”.

A Abin despache quantos agentes quiser onde quer que haja um juiz tomando uma decisão que o governo considera importante. Mas o papel do agente certamente não inclui criar perturbação que acaba chegando até o juiz. Ora, quem quer que tenha telefonado para a subseção de Altamira “querendo informações” estava fazendo um claro, inequívoco e inquestionável trabalho de intimidação. Imaginem:
— Alô, aqui quem fala é Fulano, agente da Abin.
— Olá, Agente da Abin, em que posso ser útil?
— O sr. poderia nos adiantar o teor da sentença do juiz?

Ora, isso é inaceitável. Ridículo até. Imaginem se, nos processos de privatização de estatais, no governo FHC, que também contou com guerra de liminares, agentes da Abin tivessem deixado claro aos juízes: “Estamos acompanhando tudo o que senhor faz. Estamos na área”.

Isso é bem mais grave do que parece, ainda que a agência tente fazer de conta que só cumpriu uma espécie de rotina. Uma ova! Um juiz não pode ser perturbado pelo serviço de Inteligência do Estado. Cabe ao Judiciário e ao Senado uma reação à altura.

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O assunto cheira mal, sem dúvida. Um bando de "espiões" fazendo trabalho sujo para o governo? É isso a que ficou reduzida a ABIN?

2048) Jactancias (pouco) diplomaticas...

Lula se jacta de não ter levantado para George Bush
Blog do Josias de Souza
21 de abril de 2010

Lula discursou nesta terça (20) para uma turma de formandos do Instituto Rio Branco.
Disse que, sob sua gestão, o Brasil deixou de ser coadjuvante no mundo, “virou importante”.
Algo que, segundo Lula deve orgulhar os novos diplomatas brasileirose inspirar um comportamento altivo.
Nada do velho “complexo de vira lata”, Lula repisou. Sem citar o nome de Celso Lafer, ex-chanceler de FHC, ironizou-o.
Lula evocou o fato de Lafer ter tirado os sapatos numa revista a que foi submetido na alfândega dos EUA.
Disse que um ministro seu que se submetesse a tal constrangimento seria demitido.
Contou que, seis meses depois de assumir a Presidência, em 2003, participou de uma reunião do G8.
“Chegamos na reunião e já estavam lá quase todos os presidentes. Faltava chegar o presidente dos EUA...”
“[...] Quando o [George] Bush entra, todo mundo levanta. Eu falei pro Celso [Amorim]: Vamos ficar sentados...”
“...Ninguém levantou quando eu cheguei! Qual é a subserviência de a gente levantar porque chegou o presidente dos EUA?”
Lula faz bem em inocular altivez na alma dos novos diplomatas. Pena que sua lição tenha sido incompleta.
Poderia ter pronunciado meia dúzia de palavras sobre direitos humanos. Quem sabe mencionasse uma hipotética visita presidencial a Cuba.
Diria que, se indagado a respeito de presos de consciência, o presidente do Brasil levantaria a fronte expressaria contrariedade.
Confrontado com a morte de um preso político após greve de fome de 85 dias, jamais diria que o infeliz “se deixou morrer”.
Encerraria: “Assim como não se deve levantar para o presidente dos EUA, é inaceitável ajoelhar-se para o ditador de Cuba”.

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Comentário PRA:
Levantar ou não levantar se um chefe de Estado, entre outros, entra na sala é uma escolha pessoal de cada um, de cada presidente ou chefe de Estado. Pode revelar submissão, ou cortesia, cada um interpreta como quer.
Quanto à questão de tirar ou não os sapatos, entendo que o presidente está instruindo seus ministros a descumprir normas de segurança estabelecidos soberanamente por outros governos, em seu território, sobre o qual eles podem estabelecer as regras de segurança que seus processos legislativos ou administrativos assim o determinarem.
Outros Estados podem, ou não, com base numa cortesia voluntária, e absolutamente unilateral, decidir se vão suspender ou não aplicar a norma para determinadas personalidades estrangeiras, mas não é seguro, nem obrigatório que o façam.
Um guarda aduaneiro qualquer, em qualquer aeroporto dos EUA, poderia determinar, por exemplo, que o ministro Celso Amorim retire os sapatos para passar por um ponto de controle.
Claro, ele pode se antecipar à medida e determinar à Embaixada que mobilize o Departamento de Estado para que este avise a segurança desse aeroporto particular, para evitar o constrangimento, que não deveria ser considerado tal, pois o que os americanos estão fazendo é cuidar da segurança de TODOS os que viajam em aviões comerciais, inclusive, eventualmente, o Sr. Amorim, como ministro ou como pessoa comum.
Gabar-se de não se submeter a controles representa apenas uma coisa: pretender ser superior a todos os demais passageiros, e incomodar diplomatas, guardas aduaneiros, pessoal de segurança em geral, apenas para não se submeter a uma simples norma de segurança que tomaria 1 minuto ou 1 de incômodo, nada mais do que isso.
Considero tudo isso absolutamente ridículo, exatamente representativo do complexo de vira-lata de que falava Nelson Rodrigues, apenas que ao contrário, pretender ser um vira-latas superior.
Irritado por ouvir, pela enésima vez, esse tipo de conversa absolutamente ridicula, acabei escrevendo um artigo sobre isso, como abaixo:

2055. “De como os sapatos são importantes para a Soberania Nacional (ou não?)”
Brasília, 23 outubro 2009, 5 p.
Considerações exatamente sobre o que o título indica.
Postado no blog Diplomatizzando (24.10.2009; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/10/1440-sapatos-e-soberania.html).
Publicado, sob o título “De sapatos e da soberania”, em Via Política (26.10.2009; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=111).
Relação de Publicados n. 929.

Não esperava ter de retornar a esse assunto ridiculo no dia do diplomata.
Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 21.04.2010)

terça-feira, 20 de abril de 2010

2047) Finacial Times criticizes Brazilian Foreign Policy

Brazil's cuddly ways are barrier to seat at the top table

By John Paul Rathbone


Financial Times, 20/04/2010

Hillary Clinton, trying to stop what she fears is a warpath in the Middle East, is on a warpath of her own.

The US secretary of state is fighting to convince doubting countries of the merits of sanctions against Iran. Sceptics include Turkey (Iran's neighbour), China (a traditional disbeliever) and Brazil.


Brazil? Having sailed through the global financial crisis, it has become important in the comedy of nations, almost without anyone noticing. Only last week, Brasilia hosted the leaders of China, Russia and India at the second "Brics" summit - with South Africa along for good measure.


More remarkable still has been the speed of Brazil's ascent. It first attended a G8 summit only six years ago, as an observer. Back then, it had about 1,000 diplomats stationed around the world. Now there are 1,400. Last year, it even opened an embassy in Pyongyang.


"Brazil, Russia, India and China have a fundamental role in creating a new international order," President Luiz Inácio Lula da Silva said last week.


That is the kind of imperial language one might expect of Russia or China. In Mr Lula da Silva's case, however, it is sugared by the 64-year-old former labour leader's global image as a common man - or "the man", as Barack Obama once called him.


Certainly, Brazil's leader suffered no discomfort in embracing Mrs Clinton one day in March and President Mahmoud Ahmadi-Nejad of Iran the next - as he plans to do again during a visit to Tehran next month.


"I am infected by the peace virus," Mr Lula da Silva once said. Brazil's defence minister has even remarked that the country has no enemies.


However, Brazil's rainbow policy may be reaching its limits and could even jeopardise the permanent seat on the United Nations Security Council that it covets.


Recent gaffes have stretched the bounds of Brazil's honeyed image, and that of its president, too. "A political giant but a moral pygmy," Moisés Naím, editor of Foreign Policy magazine, remarked recently.


There was the moment in February when Orlando Zapata, a human-rights activist in Cuba, died after an 86-day hunger strike. "I don't think a hunger strike can be used as a pretext for human rights to free people," commented Mr Lula da Silva, despite the fact that he staged his own protest fast during Brazil's military dictatorship.


Then there is neighbouring Colombia, which Brazil has criticised for its agreement with the US over military bases, while ignoring Venezuela's support for Colombia's Farc guerrillas, and Caracas's purchases of Russian arms.


Finally, there is Iran. Last year, Mr Lula da Silva congratulated Mr Ahmadi-Nejad for his contested election victory. After likening protesters to sore losers in a football match, he invited Mr Ahmadi-Nejad to Brazil. It was part of the self-styled role that Brasilia, which supports Iran's right to nuclear power but not to nuclear arms, has adopted as peacebroker to all men.


To critics, this is gadfly foreign policy - narcissistic and naive. But like all powerful countries, Brazil is pursuing what it believes are its interests. Whether it is doing so effectively is another matter.


Brazilian diplomats are widely acknowledged as skilful negotiators, especially in trade. But the country lacks the research networks that inform the world views of, say, Washington or Moscow. It is not used to the floodlights of international opinion. Inevitably, it has made mistakes.


These have cost Brazil little, so far. Trade comprises only a fifth of the economy, so the need to maintain western commercial goodwill is not decisive. Foreign-policy issues count for little among domestic voters. Nor does it face any immediate problems on its borders. Brazil is less bound by security challenges, economic necessity or domestic politics than most. It can afford to say as it pleases - on Iran or otherwise.


Even so, many feel that if Brazil is to sit at the top table it will have to take hard choices. Brazil could help to get the Doha round of world trade talks off the ground - to its great eventual gain. But that would mean pushing on issues, such as intellectual property, that could disconcert current friends.


More challenging will be what will happen after October's presidential election, when Brazil will have to manage without the cover of Mr Lula da Silva's charm. Its image as a cuddly imperium may not endure.

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Comentário de Reinaldo Azevedo, 21.04.2010
O MEGALONANIQUISMO, FINALMENTE, É UM SUCESSO INTERNACIONAL!

Os desastres da política externa brasileira são, finalmente, um sucesso. Todas as bobagens protagonizadas pelo megalonanico Celso Amorim compõem, agora, um todo coerente, Como sabem os leitores mais antigos deste escrevinhador, Amorim é a minha anta, com a licença de Diogo Mainardi, desde os velhos tempos do site Primeira Leitura.
No Financial Times de hoje, o articulista John Paul Rathbone faz uma síntese de como o país está sendo visto no mundo. Título do seu artigo: “Brazil’s cuddly ways are barrier to seat at the top table”. Em tradução livre, mas exata, poderia ficar assim: “Jeitinho carinhoso do Brasil o impede de chegar ao topo”. Ou ainda: “Jeitinho grudento do Brasil o impede…” Ou ainda: “Essa mania de ficar abraçadinho com todo mundo…” Ou ainda: “Essa falta de caráter…”
Seja como for, a política externa brasileira é caracterizada como aquilo que é: uma soma de trapalhadas que contrasta com o tamanho da economia e com sua efetiva importância no mundo. E, vocês notarão, a palavra “megalonanico”, esta imoral criação, também ganhou o mundo.
Rathbone começa seu texto lembrando que o Departamento de Estado dos EUA está tentando convencer os demais países da necessidade de aplicar sanções contra o Irã e que os céticos incluem a Turquia, a China e o Brasil. Nota que o nosso país teve um bom desempenho na crise global e que Brasília sediou, na semana passada, o encontros dos países do Bric. Comenta a ascensão rápida do Brasil, admitido apenas como observador do G-8 há meros seis anos, quando tinha 1.000 diplomatas espalhados no mundo; agora, são 1.400. No ano passado, lembrou, abriu uma embaixada até em Pyongyang, na Coréia do Norte.
“Brasil, Rússia, Índia e China têm uma papel fundamental na criação de uma nova ordem internacional”. Não, a frase não é Rathbone, mas de Luiz Inácio Lula da Silva. E o articulista, então, tenta entender como o brasileiro pretende exercer esse papel “fundamental”.
Arco-íris
Lembra que Lula não se constrange de receber, num dia, Hillary Clinton e, no outro, Mahmaoud Ahmadinejad, destacando que Lula vai a Teerã no mês que vem. Num contexto de pura ironia, o articulista reproduz entre aspas aquela declaração de Lula sobre sua estranha doença: “Eu estou infectado pelo vírus da paz”. Para Rathbone, a “política do arco-íris” do Brasil mostra seus limites e ameaça a pretensão do país de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
As bobagens cometidas pelo Itamaraty mudaram a imagem açucarada que se tinha do país. Rathbone recupera uma frase de Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, para definir o Brasil : “Um gigante político, mas um pigmeu moral”. Ou seja: uma política externa comandada pelo “megalonaniquismo”.
Cuba
E, claro, vem à memória a grande ignomínia de Lula quando o dissidente Orlando Zapata morreu em Cuba, depois de 86 dias em greve de fome: “Eu não acho que a greve de fome possa ser usada como pretexto (!) para [cobrar] direitos humanos” — apesar, lembra Rathbone, de o próprio Lula ter recorrido a esse expediente durante o regime militar no Brasil. Bondade do articulista: o petista já confessou que não levava o protesto a sério e chupava escondido balas Paulistinha. Pigmeu? Isso é um gigante moral!!!
Colômbia e Venezuela
O texto destaca que o Brasil critica a ampliação do uso de bases colombianas por militares americanos, mas ignora o apoio efetivo da Venezuela às Farc e a decisão de Chávez de comprar armamento russo.
De volta ao Irã
Lula parabenizou Ahmadinejad por sua contestada vitória eleitoral no Irã, não sem antes comparar os que contestavam o resultado a torcedores chateados porque seu time perdeu um jogo. É expressão do particular entendimento que o governo brasileiro tem da questão nuclear: o Irã tem direito à tecnologia, mas não a armas nucleares. Para os críticos, diz Rathbone, trata-se de uma política externa narcisista e ingênua.
Ele lembra que o país tem um corpo diplomático com larga experiência, especialmente nos negócios. Mas o país certamente não dispõe da mesma rede de informações dos Estados Unidos ou da Rússia, e isso o leva a cometer erros. O articulista observa que a política externa, de todo modo, não tem grande importância para o eleitorado.
Se o Brasil quer estar entre as nações que realmente decidem, terá de tomar decisões difíceis, nota Rathbone. E as coisas podem se complicar no futuro porque, afinal, não poderá mais contar com o “charme” de Lula. A imagem do “império carinhoso” pode não resistir, ele conclui.
Um comentário final
Endosso, obviamente, cada linha da crítica de Rathbone. Mas acho necessário acrescentar uma reserva. A política externa brasileira é, sim, narcisista — até por força do nosso “líder” —, mas não é ingênua. Diria que ela é metódica na sua estupidez. Os atuais comandantes do Itamaraty realmente acreditam que o “subimpério” brasileiro deve se fortalecer arrostando com os EUA e se colocando como uma espécie de pólo alternativo aos “interesses” americanos. Basta ver o que pensa alguém como Samuel Pinheiro Guimarães, agora na Sealopra, um dos formuladores dessa política.
Alguém dirá: “Mas isso é ingenuidade”! Não sei… Essa turma está ciente dos perigos, sim. Mas acha que vale a pena correr o risco em nome de uma idéia, do que considera um valor.
Quanto ao Irã em particular, aí volto à minha velha desconfiança: tenho a certeza de que não conhecemos dessa missa macabra nem a metade. Aí eu já acho que há mais cálculo — do pior tipo — do que ingenuidade ou mesmo ideologia.