sábado, 29 de outubro de 2011

Pausa para... poesia - Carlos Drummond de Andrade


Também já fui brasileiro
Carlos Drummond de Andrade

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

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Se ouso acrescentar meu dedo de prosa,
neste caso de poesia, aqui vai: 

Eu também já fui idealista-romântico,
Entusiasmado com as grandes causas.
batalhador quixotesco, certo das minhas verdades.
A vida, as leituras, a observação e as experiências
se encarregaram de consertar muitas ilusões.
Hoje sou um realista-cético. Ponto, novo texto...

Paulo Roberto de Almeida 

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