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sábado, 5 de novembro de 2011

"Temos que nos proteger. Não é protecionismo..." -- ???? Confesso que nao entendi

A presidente, sempre clara em suas preleções, disse duas coisas dignas de nota: 
1) "Temos que nos proteger. Não é protecionismo, mas cada um faz o que pode."
2) "Nós temos uma taxa, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Nós não somos contra a taxação global. Se todos os países adotarem uma taxa, o Brasil não é contra. Se tiver uma taxa global, o Brasil adota também. Tem países que são contra, porque fazem das finanças seu melhor negócio."
Primeiro transcrevo a matéria, depois faço meus comentários: 



Dilma reclama do câmbio chinês e não dará dinheiro a fundo europeu
Deborah Berlinck
O Globo, 5/11/2011


CANNES (França). A presidente Dilma Rousseff queixou-se ontem que passa “o tempo todo” reclamando do câmbio desvalorizado da China, mas que não tem como obter garantias dos chineses nem “de ninguém” que esta situação vá mudar. O yuan desvalorizado criou uma vantagem competitiva extra para os produtos chineses, que estão chegando de forma crescente ao mercado brasileiro, sob protestos da indústria nacional. O país asiático já é o maior parceiro comercial do Brasil.
— Passamos o tempo inteiro dizendo isso, que não pode ser assim, que tem que mudar. Não somos só nós a falar isso — disse a presidente.
Dilma, que se encontrou com o presidente chinês Hu Jintao em um reunião privada, paralela à cúpula do G-20 (maiores economias do mundo), disse que é por causa do câmbio chinês que o Brasil tem insistido na Organização Mundial do Comércio (OMC) que as discussões sobre livre comércio “passam pela questão do câmbio”.
— Temos que nos proteger. Não é protecionismo, mas cada um faz o que pode — disse Dilma ontem. No encontro com Hu Jintao, ela teria pedido que a relação comercial seja baseada na agregação de valor também para os produtos comprados do Brasil.
Ajuda pelo FMI é mais garantida, diz presidente
A presidente Dilma descartou ontem qualquer possibilidade de o Brasil participar do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) — criado para ajudar os países europeus em crise. Ela reafirmou que o país só vai ajudar por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI). E explicou o motivo, sem rodeios:
— Eu não tenho nenhuma intenção de fazer uma contribuição direta para o Fundo de Estabilização Europeu. Por que? Nem eles (os europeus) têm… por que eu teria? — indagou.
Dilma disse que a opção do Brasil pela ajuda via FMI é simples: o Fundo Monetário, ao contrário do fundo europeu (que é privado), dá garantia total. E como a ajuda é feita com reservas brasileiras — ou seja, dinheiro do contribuinte — não se pode arriscar.
A respeito da taxação sobre operações financeiras — uma das bandeiras do governo francês na presidência do G-20 — Dilma explicou porque o Brasil retirou sua oposição à proposta:
— Nós temos uma taxa, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Nós não somos contra a taxação global. Se todos os países adotarem uma taxa, o Brasil não é contra. Se tiver uma taxa global, o Brasil adota também. Tem países que são contra, porque fazem das finanças seu melhor negócio.
A taxa global sobre operações financeiras, entretanto, está longe de ser aprovada pelo G-20. A proposta, contudo, tem ganhado mais adesões, como o Brasil.
Dilma pede adiamento de 16 dias para início da Rio+20
O governo brasileiro pediu ontem o adiamento da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, dos dias 4 a 6 de junho para 20 a 22 do mesmo mês, no ano que vem. A presidente Dilma Rousseff afirmou que a mudança tem por objetivo garantir a presença de chefes de Estado e de governo no Rio de Janeiro.
— Nos dias em que estávamos prevendo a Rio+20, haverá a comemoração dos 60 anos da coroação da rainha Elizabeth II. Qual é o problema que isso acarreta? Os países da área do Commonwealth não iriam à Rio+20 — disse a presidente. — Além disso, os países da Ásia pediram para que a gente fizesse aproximar (a Rio+20) do próximo G-20, que será no México, nos dias 18 e 19 de junho.
Com o adiamento da Rio+20, Dilma espera que as lideranças dos países do G-20 possam sair do México e vir para o Brasil participar da conferência.
— A proposta foi um consenso entre o Brasil e a ONU, entre mim e o (secretário geral da ONU) Ban Ki-moon — disse Dilma.



Agora vamos examinar esta duas frases da presidente:
1) "Temos que nos proteger. Não é protecionismo, mas cada um faz o que pode."
Confesso que não entendi. Tampouco entendo como, falando nisso (ou seja, desequilíbrio comercial entre o Brasil e a China) o tempo todo, a situação venha a mudar, apenas por "influência" das palavras.
Pode ser que as palavras, nesse mundo bizarro da política, tenham um poder muito maior do que ações concretas, tomadas no plano das atividades industriais e comerciais, mas acho que não vai adiantar muito só falar.
Quem sabe diminuindo o custo Brasil e expondo as empresas à competição a situação melhore um pouco?


2) "Nós temos uma taxa, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Nós não somos contra a taxação global. Se todos os países adotarem uma taxa, o Brasil não é contra. Se tiver uma taxa global, o Brasil adota também. Tem países que são contra, porque fazem das finanças seu melhor negócio."
Confesso que essa eu também tampouco entendi. Acho que a presidente tem um raciocínio econômico um pouco falho, para não dizer completamente maluco. Senão vejamos.
Temos o IOF, claro, mas ele é feito para evitar o excesso de fluxos exclusivamente financeiros entrando no Brasil, que podem multiplicar o meio circulante, causar inflação e "aproveitar" nossas taxas de juros excessivamente altas (mas aqui os culpados somos nós mesmos, certo?; se oferecemos taxas generosas de juros aos emprestadores de capital, depois não podemos reclamar que eles chegam justamente para aproveitar isso).
Mas o assunto agora é adotar não mais um imposto interno (que isso podemos e sabemos fazer como ninguém), e sim uma regra multilateral, não determinada por nós, de taxação sobre capitais financeiros sabe-se lá com quais alíquotas, para quais tipos de capital, e com qual destinação, exatamente. Ou seja, IOF somos nós que aplicamos, quanto e quando assim o decidirmos. Taxa Tobin, ou qualquer outro nome, seria uma baliza comum, ao qual o Brasil aderiria. Mas por que, e com quais objetivos?
A mim, me parece completamente estapafúrdia a ideia. Se nos abrimos a capitais financeiros, é porque, supostamente, precisamos acolher capitais, de todos os tipos: IED, aplicações em bolsa, ou emissões globais, ou seja, empréstimos soberanos.
Que diabos teríamos como vantagem taxar esse capital que queremos atrair?
Confesso que não entendi.
Se os países europeus pretendem taxar esses fluxos porque os governos irresponsáveis gastaram muito dinheiro do contribuinte, já não conseguem arrecadar mais por meio de impostos sobre a população, e decidem então tirar uma casquinha do sistema bancário (que será paga pelos contribuintes e usuários do sistema, não tenham dúvida disso), que diabos teríamos nós como interesse seguir a mesma política de taxação?
Por que deveríamos dar um tiro no pé apenas por que outros o estão fazendo?
Política maluca essa...
Me parece que certos dirigentes não pensam antes de falar...
Mas isso é o próprio de políticos...
Paulo Roberto de Almeida 

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