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domingo, 20 de novembro de 2011

O Mercosul: o processo de integração no Cone Sul - Paulo Roberto de Almeida (2004)

Não sei bem por que ou para que fiz este texto didático sobre o Mercosul, mas ele permaneceu inédito, e tampouco sei explicar como. Vai aqui divulgado pela primeira vez, desde 9 de junho de 2004, e espero que possa ainda servir, muito embora a situação do Mercosul tenha sido alterada radicalmente, para pior, quero dizer...
Sem maiores comentários.
Paulo Roberto de Almeida


O Mercosul: o processo de integração no Cone Sul

Apresentação geral:
O Mercosul é um bloco comercial entre Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, que foi criado em 1991, e que pretende ser um mercado comum, como já ocorre hoje com a União Européia. Brasil e Argentina são os dois países mais importantes, que começaram a se integrar desde 1986, quando os dois países saíram de ditaduras militares. Em 1988 esses dois países já tinham assinado um tratado de integração que previa a formação de um mercado comum em dez anos, o que se daria, portanto, em 1998. Mas, em julho de 1990 eles decidiram acelerar a formação do mercado comum, colocando a data de 1º de janeiro de 1995 para esse bloco de dois países ser formado.
Nesse momento, o Paraguai e o Uruguai, os dois vizinhos menores do Brasil e da Argentina, também resolveram fazer parte dessa integração e os quatro países negociaram um novo tratado de integração no segundo semestre de 1990 e no começo de 1991. Tendo resolvido adotar o mesmo formato que já tinha sido escolhido para a integração entre o Brasil e a Argentina, os quatro países assinaram um novo tratado em 1991 para realizar o ideal do mercado comum. Esse tratado chamou-se de Assunção porque foi assinado na capital paraguaia: o nome oficial do Mercosul significa, justamente, mercado comum do Sul, mas o tratado de Assunção não é o tratado do Mercosul, mas sim um tratado para a formação de um mercado comum entre os quatro países, o que siginfica que o mercado comum ainda não está realizado de maneira total.
Hoje o Mercosul tem outros países associados, como o Chile e a Bolívia, e também pretende ter os outros países da América do Sul. O Peru já assinou um tratado desse tipo, de associação, mas o Brasil quer ter os outros países da América do Sul associados ao Mercosul, ou então formando uma grande zona de livre comércio no continente.
O Mercosul ainda não realizou todas as suas promessas e falta muito ainda para ele poder ser comparado à União Européia, que tem hoje moeda comum, inclusive. Os produtos já circulam livremente entre os quatro países, mas ainda existem vários exceções (como açúcar e automóveis, por exemplo). Ainda não existe total liberdade para a circulação de trabalhadores no Mercosul, mas os negócios já são mais livres entre os quatro países e os outros associados. Serviços, como por exemplo bancos, ou advogados, ainda não têm total liberdade para instalação.
O Mercosul é pequeno economicamente, comparado à União Européia ou ao acordo de livre comércio da América do Norte (chamado de NAFTA), mas é o mais importante grupos dos países em desenvolvimento. O Mercosul é o quarto maior mercado do mundo, depois dos Estados Unidos, da União Européia e do Japão.
Ele é importante para aumentar a força dos países membros, inclusive para negociar conjuntamente com os Estados Unidos e outros países, que tentam criar uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O Mercosul também é importante para os próprios países membros. O Brasil é um grande mercado para países pequenos como Uruguai e Paraguai, mas também para países médios como a Argentina.
Mas o Mercosul não é só um mercado comum (ou projeto para constituir um mercado unificado). Ele já funciona para cooperação em matéria de educação e de cultura. Ele também foi importante quando se tentou dar um golpe militar no Paraguai e o Mercosul garantiu a democracia naquele país. Vários ministros se reúnem para discutir questões de agricultura, educação, justiça, transporte, energia e outros setores.
O Brasil é o país mais importante do Mercosul, pelo seu tamanho, peso econômico e grande mercado. Mas todos os países são tratados de forma igual. Na questão da natureza, por exemplo, o Mercosul tem grande variedade de climas, regiões e recursos naturais, pois ele vai desde a Amazônia, no norte do Brasil, até a Patagônia gelada do sul da Argentina, passando por florestas, cerrado, pantanal, planícies e grandes rios. Há muita riqueza natural nesses países e o Mercosul faz com que eles sejam ainda mais fortes nas discussões internacionais, do que se cada país tivesse de agir de maneira individual.
O Brasil ficou mais forte e respeitado no exterior por causa do Mercosul, por isso ele merece ser defendido como positivo para o Brasil (e para os outros países também).
O Mercosul é hoje uma realidade econômica de dimensões continentais: uma área total de mais de 11 milhões de quilômetros quadrados; um mercado de 200 milhões de habitantes; um PIB acumulado de centenas de bilhões de dólares, o que o coloca entre as quatro maiores economias do mundo, logo após o NAFTA, a União Européia e o Japão.
O Mercosul geográfico
Apesar dos problemas econômicos que enfrentam os países do Mercosul, o bloco forma uma região com grandes oportunidades de crescimento e de desenvolvimento social no mundo, pois ele tem muitas reservas naturais para serem exploradas pelos investidores dos países membros e estrangeiros.
O Mercosul possui uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta e também é um grande produtor de muitas matérias primas que são utilizadas nos mais diversos ramos industriais.
Na agricultura, os quatro países, mas especialmente Brasil e Argentina, são dos mais competitivos, possuindo manadas imensas de gado. A Argentina tem grandes rebanhos bovinos e também é grande produtora de produtos agrícolas temperados, como trigo. Já o Brasil está entre os primeiros produtores de muitos produtos agrícolas, inclusive os de zonas quentes, como café, cacau, soja, laranja e outras frutas. Ele também possui grandes reservas de minério de ferro e outros minerais. Tanto o Brasil como a Argentina possuem fontes de energia, sobretudo de origem hidráulica, mas eles produzem petróleo igualmente. A Argentina já tem petróleo para seu consumo e o Brasil tem aumentado pouco a pouco sua produção interna, mas ainda importante quantidades razoáveis, inclusive da Argentina. De vez em quando eles trocam eletricidade entre si. O Uruguai e o Paraguai também são países essencialmente agrícolas e o Uruguai tem uma boa indústria de laticínios e de lã e tecidos de lã, pois possui rebanhos ovinos.
Todos os países são grandes produtores e exportadores mundiais de produtos agrícolas, mas ainda enfrentam ainda problemas nos países desenvolvidos, que protegem suas produções agrícolas e dão ajuda financeira aos seus agricultores. Os países do Mercosul também precisam melhorar muito os transportes e as comunicações, para serem ainda mais competitivos, isto é, produzindo barato e exportando também barato.
O Mercosul comercial
O bloco dos quatro países, e os demais associados, é antes de mais nada um espaço de comércio livre, isto é, os países não cobram tarifas (ou impostos de importação) entre si. Ainda existem alguns produtos que não têm circulação livre, mas em janeiro de 2006 todos os bens produzidos no Mercosul devem em princípio circular livremente nesse espaço. O Brasil praticamente não tem restrições aos produtos dos demais países, mas a Argentina ainda restringe o açúcar e tem preocupações com a sua indústria automobilística. Já no caso do Paraguai e do Uruguai, por serem países menores, eles têm direito a mais algumas exceções.
Esses quatro países também costumam aplicar uma mesma tarifa aos produtos dos demais países, o que é chamado de Tarifa Externa Comum (TEC), não aplicada pelo Chile, pela Bolívia e pelo Peru, que mantém suas tarifas para os outros países. Eles também acertaram a livre circulação dos serviços, o que é um pouco mais complicado pos tudo tem de ser negociado caso a caso. Os bancos, por exemplo, ainda precisam de autorização especial para abrir e funcionar nos outros países. Também não há liberdade plena de circulação de dinheiro, isto é, capital, assim como dos próprios trabalhadores (o que é diferente da União Européia, por exemplo). Os países menores, como Paraguai e Uruguai, têm receio de que o Brasil “exporte” muitos trabalhadores pobres para esses países, e por isso restringem a liberdade de circulação de pessoas.
 O Brasil tem falado em criar uma moeda comum, ou única, entre os quatro países, mas parece que isso ainda vai demorar. Para fazer isso, não poderia haver crise econômica, ou financeira, e tanto o Brasil como a Argentina enfrentaram muitos problemas nos últimos anos. Suas moedas, justamente, foram muito desvalorizadas e ainda agora não estão totalmente recuperadas. Para isso, eles também precisariam avançar bastante na formação do mercado comum, que não está plenamente realizado.
O Mercosul no mundo
Os quatro países membros estão negociando novos acordos comerciais com muitos outros países, como África do Sul, Índia e talvez até mesmo a China. Eles também participam de várias negociações comerciais, tanto na região, como  os países da Comunidade Andina, como no conjnuto do hemisfério, o que quer dizer o projeto da Área de Livre Comércio das Américas, que os Estados Unidos querem implantar já em 2005. Também existem negociações com o México e outras regiões e países, como o bloco da União Européia.
O Brasil e a Argentina já tem vários outros acordos de cooperação e também pretendem atuar juntos em reuniões da ONU. Algumas operações militares já são feitas conjuntamente entre os dois países e a Argentina acaba de mandar algumas tropas militares que estão atuando sob comando brasileiro no Haiti, onde as forças brasileiras se encontram em missão de paz e segurança.

Brasília, 9 junho 2004

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