Ainda vem, esperem... A esperança é a última que morre...
Paulo Roberto de Almeida
Governo decide abolir medidas protecionistas e inicia
revisão completa do sistema tributário
Empresa
Brasileira de Comunicação
01/04/2012
Brasil
decide revisar completamente sua política econômica; entrevista exclusiva com a
presidenta Dilma em seu retorno da reunião dos Brics
01/04/2012 - 12h28 –
URGENTE, Exclusivo
Renato
Girão
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
A
bordo do avião presidencial – Durante o longo percurso aéreo de retorno ao
Brasil da reunião dos Brics em Nova Delhi – combinada à visita oficial feita à
Índia –, a presidenta Dilma Rousseff concedeu, em 31 de março, importante
entrevista exclusiva à Agência Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação,
cujos elementos principais são reproduzidos a seguir. Nessa entrevista, feita
depois que o avião presidencial fez escala técnica em Palermo, na Itália,
quando o repórter da EBC foi admitido no compartimento presidencial da aeronave,
a presidenta tratou do que andam fazendo os países do Brics – Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul – mas se ocupou, também, das medidas que deve
anunciar dentro em pouco no Brasil em torno da política industrial e da reforma
tributária. Um relato completo da entrevista deverá ser colocado no site da EBC
tão pronto se desgrave a entrevista; seguem trechos selecionados.
EBC: Presidenta, que avaliação a Senhor faz desta mais recente
cúpula dos BRICs?
DR:
Você sabe que eu achei essa reunião mais interessante, mais objetiva, do que a
que fizemos no ano passado na China? A declaração saiu um tanto grande demais
para o meu gosto, mas você sabe como são as coisas com esse pessoal
diplomático, eles sempre colocam mais coisas do que é humanamente possível ler
em 10 minutos. Mas a conclusão é essa mesma: os emergentes, em especial o nosso
grupo dos Brics, se tornaram indispensáveis na nova ordem mundial; ninguém mais
poderá dizer, ou fazer alguma coisa, sem levar em conta nossas propostas. Nos
queremos participar, e temos propostas concretas a fazer.
EBC: A Senhora poderia indicar algumas dessas propostas
presidenta?
DR:
Bem, tem a questão da nossa participação nos organismos econômicos, você sabe,
a OMC, Bretton Woods, essas aí: não queremos mais ser apenas ouvidos, mas
queremos que o poder de decisão reflita a importância que já adquirimos no
cenário mundial. É certo que muito desse poder é da China, mas nós também temos
o que dizer, e precisamos aumentar a nossa quota em cada uma delas. (...)
EBC: Os emergentes, e os BRICS nesse grupo, vão então continuar
pressionando nesse sentido, presidenta?
DR:
Ah, disso não tenha nenhuma dúvida. Na próxima reunião do G20, que os mexicanos
estão organizando, aí pelo meio do ano, nós vamos botar a boca no trombone
outra vez. Não silenciaremos enquanto nossas justas reivindicações não forem
atendidas. E tem também essa coisa do desenvolvimento sustentável, e aí será o
Brasil a ter um papel decisivo para o bom resultado das negociações, na reunião
que teremos em seguida no Rio. O Brasil tem o que mostrar e não devemos nos
curvar a quem já destruiu todas as suas florestas e agora vem nos cobrar que
deixemos intactas as nossas, esquecendo das nossas necessidades de
desenvolvimento; ele será sustentável, certo, mas será desenvolvimento. (...)
EBC: A reunião do México não será também uma nova oportunidade
para cobrar dos países desenvolvidos uma solução mais rápida para a crise
deles?
DR:
Ah, isso com certeza! Vamos continuar exigindo que eles coloquem a casa em
ordem, pois o que está acontecendo agora é aquilo que os historiadores já
chamaram de “exporte a crise para o seu vizinho”. Com todo esse tsunami
financeiro vindo dos países ricos, eles estão contribuindo – ainda que não
fosse essa a intenção – para a valorização da nossa moeda, o que é uma forma de
protecionismo disfarçado, ao inverso, você me entende? (...)
EBC: O Brasil está sendo vítima dessa situação internacional,
presidenta?
DR:
Mas é claro, e cada vez mais. Os americanos e europeus querem colocar a culpa
nos chineses, mas a verdade é que os chineses, apesar de manterem lá a sua
moeda grudada no dólar, eles guardam os dólares que ganham e fazem essa imensa
reserva internacional que eles têm agora, de mais de três trilhões de dólares.
São os americanos e europeus que estão despejando rios de dinheiro no mundo,
desvalorizando suas moedas, para ganhar mais espaços no comércio internacional,
e ao mesmo tempo ajudando a valorizar a nossa moeda. Nós não vamos permitir
isso, e vamos atuar decisivamente para inverter a situação. (...)
EBC: Só mais uma pergunta, presidenta: parece que a equipe
econômica está preparando mais um novo pacote de medidas para ser anunciado em
sua volta. A Senhora poderia, se não for incômodo, detalhar algumas dessas
medidas e dizer para a gente em que elas vão consistir, exatamente; por
exemplo, medidas setoriais para ajudar a indústria, um pouco mais de defesa
comercial, novas medidas na área cambial, o que a Senhora gostaria exatamente
de fazer?
DR:
Bem, eu não posso agora detalhar medidas que estão sendo discutidas com a minha
equipe econômica, mas acho que não vai ser assim tão imediatamente na minha
volta, não. Acho que precisamos fazer a coisa com responsabilidade, e não quero
só mais um pacote com anúncios de improviso e medidas emergenciais para este ou
aquele setor. Acho que o Brasil já está grande o suficiente para ser tratado
com respeito, e por isso quero pensar um pouco mais em soluções mais
duradouras, não apenas de curto prazo. Essa coisa de ficar fazendo pacotinhos
para este ou aquele setor já deu o que tinha que dar. Precisamos pensar agora
em coisas mais grandes, mais consistentes.
Não
posso adiantar o que estamos preparando, mas uma coisa eu posso dizer. Já
chegou na hora de pensarmos em uma verdadeira reforma tributária, do contrário
é aquela choradeira toda vez que eu me reúno com os nossos capitães da
indústria, todos eles com as mesmas reclamações. E eles pensam que é só culpa
do governo federal? Não, isso não! Os governadores e prefeitos também
pressionam nessa coisa, e na verdade eles não estão tão interessados em reforma
tributária quanto em avançar sobre a parte do governo nas receitas, que, dizem
eles, o governo federal não reparte com eles, porque são contribuições e não
impostos. Mas, se for assim, nunca faremos reforma tributária e, mais
importante, nunca reduziremos a carga, que está alta, eu reconheço; os nossos
colegas dos Brics não tem essa carga toda, que mais parece coisa de país
escandinavo, não é mesmo? E você não acha que o Brasil é um país escandinavo,
acha?, com todos aqueles serviços, aquela maravilha...
Pois
bem, o que eu vou propor é, como não tem acordo nenhum sobre uma reforma
tributária ideal, perfeita, que nunca vai existir, a gente simplesmente se
ponha de acordo sobre a redução da carga bruta, passo a passo, de maneira
linear, um pouquinho de cada vez, assim ninguém terá do que reclamar. Daremos
tempo aos estados e municípios – coisa de dez a quinze anos, digamos – para se
eles se ajustarem, mas a ideia é essa mesma: reduzir as alíquotas, todas as
alíquotas, de alguns pontinhos, digamos meio ponto percentual por ano, assim a
queda na arrecadação será pequena, e em dez ou quinze anos teremos um nível
aceitável de carga fiscal.
E
veja você que é até possível que a nossa arrecadação suba. Tem aí um
economista, esqueci o nome dele agora, que diz que quando se aumenta muito o
nível dos impostos, a arrecadação na verdade diminui, porque as pessoas ficam
encontrando maneiras de evadir, compreendeu? E quando se diminui a carga, a
arrecadação aumenta, pois reduz essa necessidade de fraudar, me entende? Acho
que tem de ser por aí.
Mas
tem também outra coisa: acho que essa mania de ficar fazendo política setorial,
para esse ou aquele ramo da indústria, já não funciona mais; porque na semana
seguinte, chega mais um pessoal em Brasília reclamando as mesmas medidas, ou
outras, para o seu setor também. Aí vira bagunça, não é mesmo. Por isso estou
instruindo o meu pessoal a parar de fazer remendos no cobertor e passar a
costurar um cobertor novo, com medidas iguais para todo mundo. Mais
transparência e isonomia, entende? (...)
O
Brasil merece isso, já é grande. Mas, com isso também vamos parar de ficar
dando proteção a todo mundo, cada vez que um ou outro chora: como vamos reduzir
os impostos, progressivamente, não podemos criar essas barreiras que depois vão
repercutir mal lá fora, e aí ficar dando muito trabalho para o pessoal do Itamaraty.
Acabou o protecionismo à la Argentina!
Agora,
com licença que eu tenho uma coisa para terminar de ler aqui no meu iPad.
EBC: Obrigando Senhora Presidenta pela excelente entrevista.
Edição: Tales Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.