Aqui, minha homenagem a Maquiavel, um texto de síntese quando terminei de reescrever
O Príncipe, no qual eu
reflito sobre a atualidade do inventor da ciência política e pergunto: o que nos separa de Maquiavel?.
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
Paulo Roberto de Almeida
Se, por alguma fortuna histórica, Maquiavel retornasse,
hoje, ao nosso convívio, com as suas virtudes
de pensador prático, quase meio milênio depois de redigida sua obra mais
famosa, como reescreveria ele o seu manual “hiperrrealista” de governança
política? Seriam os Estados modernos muito diversos dos principados do final da
Idade Média?
Este Maquiavelrevisitado, voltado para a política contemporânea, dialoga com o genial
pensador florentino, segue seus passos naquelas “recomendações” que continuam
aparentemente válidas para a política atual, mas não hesita em oferecer novas
respostas para velhos problemas de administração dos homens. Aqui, como em
outros aspectos, a constância dos “príncipes” nos desacertos é notável. Essa
capacidade de errar e de provocar danos aos cidadãos não parece ter evoluido
muito, desde então.
De fato,
Maquiavel permanece surpreendentemente atual – com o que concordariam os
filósofos e cientistas políticos da atualidade –, mesmo (talvez sobretudo) nos traços malévolos exibidos
pelos condottieri contemporâneos e
pelos cappi dei uomine. Ainda que
envenenamentos encomendados e assassinatos por adagas, tão comuns no
Renascimento italiano, não estejam mais na moda – pelo menos fora do âmbito dos
serviços secretos –, e que eles tenham sido substituídos por outros métodos
para se desembaraçar de concorrentes e de adversários políticos, as técnicas
para se apossar do poder e para mantê-lo exibem uma notável continuidade com
aquelas descritas pelo experiente diplomata da repubblica fiorentina do Quatrocento.
O que pode estar
ultrapassado, no seu “manual” de 1513, é meramente acessório, pois a essência
da arte de comandar os homens revela-se plenamente adequada aos dias que
correm, confirmando assim as finas virtudes de psicólogo político – avant la lettre – do perspicaz pensador
do Cinquecento.
Este Príncipe Moderno representa, antes de
tudo, uma singela homenagem ao diplomata italiano que “inventou” a ciência
política, ainda que ele o tenha feito nas difíceis circunstâncias do
ostracismo, na sua condição de funcionário de Estado “cassado” pelos novos
donos do poder em Florença.
Obra de um
momento político – talvez não muito diverso daqueles tempos vividos pelo segretario de cancelleria –, este novo Príncipe, que se pretende tão universal
em seu escopo e motivações quanto seu modelo de cinco séculos atrás, oferece
novos argumentos em torno dos velhos problemas da administração estatal. A bem
refletir sobre a política contemporânea, pouco nos separa de Maquiavel, se não
é algum desenvolvimento institucional e uma maior rapidez nas comunicações.
Quanto aos homens, tanto os condottieri
quanto o popolo, eles não parecem ter
mudado muito...
Paulo Roberto de Almeida é
cientista social e diplomata, com obras publicadas sobre temas de história
diplomática, de relações internacionais e de política externa do Brasil.
Leia o prefácio, a dedicatória e uma carta a
Maquiavel, neste link:
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