Pensando bem, pode ser mesmo verdade. O governo será obrigado a fazer aquilo que só ele pode fazer, suas tarefas mais essenciais: defesa, relações exteriores, segurança dos cidadãos, e paremos por aí.
Muitas outras atividades continuam, mas dezenas delas poderiam tranquilamente passar a ser prestadas em regime de concorrência pelo setor privado, como aliás já ocorre em diversas esferas, como na educação e na saúde. Aliás, foi por causa do programa socialista de seguro-saúde que o conflito se deu entre a maioria republicana da Câmara e o Executivo federal.
Mais da metade dos americanos não aceita pagar seguro-saúde para outras pessoas que não eles mesmos, e metade do Congresso também não concorda com a ideia. Por que Obama insiste? O presidente americano faria um bom socialista europeu, mas não faz tanto sucesso assim nos Estados Unidos.
O que é mais grave? Um monte de funcionários totalmente inúteis continuando a gastar o dinheiro dos contribuintes, ou um fechamento das atividades não essenciais do governo?
O teste está sendo feito na economia keynesiana na qual vivemos pelo menos nos últimos 70 anos, como argumenta Gary North. Se der certo (mas suspeito que vão voltar atrás, o que seria uma pena), se poderia começar uma nova era de governos enxutos e reduzidos ao essencial.
Seria bom no Brasil, mas sabem quando isso vai acontecer por aqui?
Mais ou menos em 2.345..., ou seja, não se entusiasmem...
Paulo Roberto de Almeida
A paralisação do governo americano e o pavor dos keynesianos
Portanto, é hora de começarmos a pensar em como realmente seria esta paralisação do governo federal.Nem todas as funções do governo irão simplesmente se evaporar no dia 1º de outubro. Os cheques da Previdência Social continuariam sendo enviados pelos Correios, os quais também continuariam funcionando. O controle de tráfego aéreo, os pagamentos de pensões, os serviços militares, os serviços médicos e controle de fronteiras, entre outros, também continuarão ativos. Porém, vários ministérios e agências federais serão fechados, desde o Ministério da Educação até centenas de parques nacionais, e seus funcionários ficarão em casa em licença não-remunerada.
Um fechamento do governo poderia custar à ainda debilitada economia americana aproximadamente US$1 bilhão em salários não-pagos a funcionários públicos federais que serão compulsoriamente colocados em licença não-remunerada. E esta é apenas a ponta do iceberg.
Em primeiro lugar, estima-se que 800.000 funcionários públicos que ficarão sem emprego. Este é praticamente o mesmo número de trabalhadores empregados por todas as linhas de montagem de automóveis e por todas as fábricas de autopeças do país.
Adicionalmente, o estrago para a economia é muito maior do que apenas o gasto público federal. Aqueles empregados públicos considerados "não-essenciais" são sim essenciais para vários setores da economia que dependem deles. Por exemplo, a perda de dados do Departamento da Agricultura fará com que seja mais difícil para agricultores e investidores tomarem decisões.
O aparato regulatório também sofrerá. A Comissão de Valores Mobiliários colocará vários de seus empregados em licença não-remunerada, mas não quis fornecer o número exato. A Comissão emitiu uma declaração dizendo que a agência "permanecerá aberta e funcional mesmo que o governo federal enfrente um lapso em suas apropriações".
A Commodities Futures Trading Commission [responsável pelo mercado de futuros] irá dispensar 652 de seus 680 funcionários. Isso deixará 28 pessoas para regular boa parte do mercado de derivativos, que gira US$565 trilhões. Sim, trilhões.
Porém, economistas dizem que o impacto virá não somente destes salários que deixarão de ser pagos aos funcionários públicos, mas também de vários empreendimentos ligados a estes funcionários públicos, os quais terão de retrair ou até mesmo interromper seus negócios. Isto irá levar a uma retração nos gastos dos trabalhadores destas empresas afetadas.
O impacto econômico total supostamente será pelo menos 10 vezes maior do que o simples cálculo dos salários não-pagos aos funcionários públicos, disse Brian Kessler, economista da Moody's Analytics. Sua empresa estima que uma paralisação de três a quatro semanas irá custar à economia americana aproximadamente US$55 bilhões.
Isso significa que o impacto econômico de um fechamento de um mês seria praticamente igual aos distúrbios causados conjuntamente pelo furacão Katrina e pela super-tempestade Sandy, desconsiderando os danos físicos causados por essas tempestades.
Várias empresas privadas, como empreiteiras que possuem contratos com o governo federal, terão de reduzir seu quadro de empregados caso não mais consigam os contratos de prestação de serviços que normalmente conseguem junto ao governo. Há também uma grande variedade de empreendimentos que dependem do governo para conduzirem suas operações rotineiras — por exemplo, empresas de turismo que dependem de os parques nacionais permanecerem abertos.
Um fechamento do governo irá também afetar pequenos empreendimento, uma vez que [a agência reguladora] Small Business Administration também não mais poderá processar pedidos de empréstimos.
Mas o que realmente preocupa os economistas não é o que ocorrerá em decorrência de um fechamento do governo. A real preocupação é se a atual batalha legislativa irá impedir que o teto da dívida seja elevado antes que o Tesouro fique sem dinheiro para pagar as contas nacionais.
Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics, testemunhou perante o Congresso na semana passada e disse que, embora um fechamento do governo vá gerar uma redução no crescimento econômico, a não-elevação do teto dívida irá forçar o governo a implementar profundos cortes de gastos, os quais iriam rapidamente afundar a economia americana em uma nova recessão.
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