domingo, 3 de novembro de 2013

Diplomata corporativo: um novo animal que pertence a outra especie da mesma familia


Maíra Amorim
O Globo13/10/2013

O caminho mais conhecido para quem se forma em relações internacionais é o da carreira diplomática tradicional, o que inclui passar no concurso para o Instituto Rio Branco e integrar os quadros do Itamaraty no Brasil e no mundo. Porém, com a globalização da economia e a valorização do Brasil no cenário internacional, começa a crescer o mercado de atuação para esses profissionais dentro de empresas. São os chamados diplomatas corporativos, que atuam principalmente em multinacionais, mas também já começam a ser requisitados por companhias brasileiras.

— Há cerca de quatro anos, existia o desconhecimento desse perfil do diplomata corporativo, mas, hoje, o conceito de interculturalidade é cada vez mais valorizado — explica Marcelo Guedes, coordenador do curso de relações internacionais da ESPM Rio, que existe desde 2007 com foco na diplomacia corporativa.

O campo de atuação, diz Guedes, é amplo — empresas privadas, multinacionais ou não, ONGs, agências governamentais, instituições internacionais, consultorias, agências de recursos humanos e instituições financeiras — e os salários são bons. Um estagiário pode chegar a ganhar R$ 2 mil e um recém-formado tem salário entre R$ 4,5 mil e R$ 5 mil.

A possibilidade ampla de atuação em um mercado aquecido e de boa remuneração foram fatores que atraíram João Araujo, de 26 anos, para essa carreira. Formado em RI há um ano, ele está há dois na L’Oréal, onde atua como analista de trade marketing.

— Meu foco sempre foi a diplomacia corporativa: entrei na faculdade já querendo trabalhar em uma multinacional com marketing internacional e adaptação de mercados — conta João, que, antes da L’Oréal, estagiou no Consulado Britânico. — O que me atrai é a oportunidade de fazer a adequação de estratégias globais ao mercado local.

Crescimento mais rápido

Para Camila de Frias, 22 anos, a opção por fazer RI veio por conta da atração por diferentes culturas e por negociação. Durante a faculdade, que terminou no ano passado, chegou a pensar em fazer o concurso do Instituto Rio Branco.
— Mas a dificuldade da prova e o fato de o crescimento na carreira não ser tão rápido foram dois empecilhos que me fizeram optar pela diplomacia corporativa — ressalta Camila, que é analista de roaming internacional na TIM e já estagiou na Petrobras e na Lufthansa.

Coordenador do curso de relações internacionais da Estácio, Ronald Paschoal diz que é comum que seus alunos tenham dúvidas sobre se devem enveredar para a política ou para o meio empresarial quando começam a graduação.

— Mas, depois que eles começam a entender melhor sobre o assunto, conseguem escolher com mais clareza — aponta Paschoal, que coordena o segundo curso de RI mais antigo do país, lançado em 1984, e vê boas possibilidades de crescimento de mercado para o profissional da área. — As empresas estão crescendo e se internacionalizando cada vez mais. Então, a tendência é que haja mais oportunidades. Ou ao menos a manutenção do cenário atual, porque é algo que depende do andamento da economia também. A empregabilidade de quem se forma está entre as mais altas.

Domínio de idiomas é fundamental

Para quem quer trabalhar como diplomata corporativo, a fluência em inglês é requisito essencial — até porque, muitas instituições de ensino têm disciplinas ministradas no idioma. Além disso, quanto mais línguas o profissional falar, mais chances tem de crescer e ampliar seu campo de atuação.

— Conhecer somente o inglês já não basta. O espanhol também é necessário e o terceiro idioma pode ser escolhido de acordo com os interesses pessoais. Quem gosta de Oriente Médio, por exemplo, pode aprender árabe, o que abre oportunidades de trabalhar com empresas dessa origem — destaca Marcelo Guedes, coordenador do curso de Relações Internacionais da ESPM Rio.

Bruna Gomes, que fala inglês, espanhol e francês e trabalha na área de serviços financeiros da TIM, onde entrou como estagiária há três anos, acha que ser fluente em línguas, além de ser importante para execução de tarefas do dia a dia, a ajuda se manter atualizada.

— Assim posso ler revistas e jornais de fora para conhecer novidades e me informar sobre inovações internacionais — afirma Bruna, de 21 anos, que escolheu a carreira corporativa porque se identifica com um perfil mais prático. — O diplomata do Itamaraty, por outro lado, tem um perfil mais teórico.

Oportunidades na área de RH também

O que também levou Bruna a seguir por esse caminho foi a multidisciplinaridade exigida do diplomata corporativo:

— O curso de RI é muito abrangente e acaba passando uma visão completa que capacita a analisar e desenvolver projetos em várias frentes.
Comércio exterior, importação e exportação, despacho aduaneiro, negociação, compra e venda, logística, marketing internacional, setor farmacêutico, RH e petróleo são algumas das áreas que mais estão requisitando profissionais de relações internacionais, como destaca o coordenador do curso de RI da Estácio, Ronald Paschoal:

— É interessante notar que a área de recursos humanos está crescendo bastante, com o aumento da contratação de profissionais estrangeiros e a alocação de brasileiros no exterior.

Paschoal destaca, também, as oportunidades internacionais que se abrem por quem se forma em RI. Muitos de seus alunos, por exemplo, viajaram para abrir novos negócios no exterior.

— Outra função da diplomacia corporativa é auxiliar a abrir e estabelecer empresas locais em países estrangeiros — diz o coordenador da Estácio.

Marcelo Guedes, da ESPM-RJ, explica que, se o diplomata tradicional lida com conflitos entre regiões geopolíticas, o orporativo trabalha com empresas que têm culturas e valores diferentes.

— É importante ter um profissional para saber o quanto se deve adequar um negócio à realidade brasileira e vice-versa — avalia Guedes.

Para se destacar na profissão, o coordenador da ESPM ressalta ainda a necessidade de constante atualização:

— Esse profissional tem que gostar de ler e deve ser extremamente antenado e ávido por encontros e debates.

Pensando nisso, João Araujo, da L’Oréal, pensa em fazer uma pós-graduação em administração e passar um tempo fora durante o curso:

— Acho que seria muito bom para agregar à minha carreira.

Camila de Frias já cursa uma pós em negócios internacionais e Bruna Gomes busca o curso mais adequado ao seu direcionamento de carreira.

— Me sinto sempre demandada a conhecer algo novo — diz Bruna.

2 comentários:

  1. Acho que a matéria tem grande interesse público na explicitação dessa "nova" carreira que começa a ser demandada no Brasil. Obviamente, penso eu, que a demanda se concentre nas capitais de Rio e SP entre poucas outras e também em algumas cidades do interior de São Paulo. Na minha modesta opinião, esses profissionais vêm preencher uma lacuna que os cursos de Administração deveriam cobrir - com sua imensidade de cursos pelo país, mas não cobrem. Todo e qualquer administrador bem formado no século XXI tem que estar conectado a todas essas demandas citadas na matéria. Ainda penso ser um risco escolher como carreira profissional a área de RI no Brasil. Preferiria no máximo aventurar-me por um curso de Negócios Internacionais (bacharelado). Todas as áreas de negócios - nos dias atuais - tem correlação com o mundo internacional. Turismo, Políticas Públicas, Preços, Comércio de diversos bens, Eventos esportivos, etc - todos fazem parte do "mundo internacional." É importante que tenhamos essa visão. Importante também que tenhamos a visão que MUITAS pequenas e médias empresas precisam ser profissionalizadas de diversas formas; Na parte de finanças, comércio exterior, gestão, etc e na minha visão o mercado para quem se atentar a isso é muito promissor.
    A opinião do diplomata criador deste blog seria de grande importância na discussão de tal tema...

    Será realmente que podemos vislumbrar um aumento no mercado de "executivos internacionais"? Sim, Não? Por que?

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  2. O diplomata não corporativo (mas que pertence a uma corporação, quase uma casta) que aqui escreve está sem tempo nenhum para comentar adequadamente essa matéria, que julgo chover no molhado, pois há muito tempo já se fala em diplomacia corporativa, mas que é extremamente relevante do ponto das oportunidades nos mercados de trabalho.
    Concordo inteiramente que os cursos de RI tendem a ser muito "teóricos" (às vezes no mau sentido da palavra) e pouco ligados ao mundo real, podendo, na verdade, prejudicar os alunos egressos, em lugar de ajudá-los, pois nem todo mundo vai ter um futuro na carreira acadêmica (que continua afundando na sua mediocridade) ou na carreira diplomática (para a qual, aliás, eles preparam mal, e de toda forma existem os cursinhos preparatórios para os candidatos).
    Partilho da sua impressão de que é melhor fazer uma graduação prática, orientada para negócios, e quem quiser fazer diplomacia ou academia, vai estudando por conta própria.
    Não tenho a menor dúvida de que as empresas de mercado (as estatais também, mas estas são geridas como a cara dos políticos que mandam nelas) necessitam urgentemente de profissionais bem formados em negócios internacionais, e este talvez seja um novo nicho para as faculdades particulares, sendo que muitas Tabajara já estão nessa área.
    Enfim, creio que cada um deve estudar por si, independente do canudo, e construir seu futuro.
    Paulo Roberto de Almeida

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