Para bom entendedor...
Paulo Roberto de Almeida
A destruição da Petrobras
O prejuízo bilionário na suspeita compra de uma refinaria no Texas pela Petrobras é apenas a ponta do iceberg. O caso deve ser investigado a fundo, claro, mas estamos diante de algo bem mais grave: a gradual destruição da maior empresa nacional, que pertence a todos nós por meio da União.
A perda de valor da estatal tem se acelerado bastante desde que a presidente Dilma assumiu o poder. Vários números podem comprovar a gravidade da situação. O principal deles é, sem dúvida, o preocupante patamar de endividamento da empresa. A Petrobras terminou 2013 com 221,6 bilhões de reais de dívida líquida, contra 62 bilhões de reais em 2010. Um crescimento de 257% em apenas três anos! Já a produção se encontra estagnada no mesmo período, e o Brasil precisa importar derivados de petróleo, a despeito da propaganda mentirosa de autossuficiência feita por Lula. Apesar de um gigantesco programa de investimentos, não houve contrapartida alguma, até agora, na produção de óleo e gás. Com dívida bem maior e produção parada, além do preço do combustível congelado pelo governo, o resultado é que o lucro por ação e o valor de mercado caíram pela metade durante a gestão Dilma.
É verdade que muitos desses problemas foram plantados na gestão de Sérgio Gabrielli, durante o governo Lula, mas Dilma já era presidente do conselho de administração da empresa nessa época, e decisões dela também ajudaram a agravar o quadro. O fenômeno é fruto da crescente politização da Petrobras, capturada pelo PT no pior tipo de “privatização” que existe: transformar a “coisa pública” em “cosa nostra”. O PT sempre acusou o PSDB de “privatista”, e chegou a levantar a hipótese, durante as eleições, de que os tucanos iriam vender a nossa maior estatal, o que seria coisa de “entreguista”. O próprio PT realizou, ainda que de forma incompetente, importantes privatizações, como a dos aeroportos e rodovias. No caso da Petrobras, preferiu transformá-la em um instrumento de uso político e de combate à inflação. Os interesses econômicos de seus milhões de acionistas, incluindo todos os contribuintes, foram sacrificados em prol dos objetivos eleitoreiros. O mesmo aconteceu na Venezuela com a estatal PDVSA. Ocorre que o populismo, somado à incompetência, acaba matando a galinha dos ovos de ouro. Nem mesmo uma empresa de petróleo aguenta ser tão maltratada por muito tempo.
Por
que, então, essa destruição visível de um patrimônio nacional vem
acontecendo sem alarde? Em primeiro lugar, temos o ufanismo daqueles
nacionalistas que ainda acreditam no velho slogan “o petróleo é nosso”. O
petróleo, na verdade, é deles, daqueles que mamam nas tetas da
Petrossauro, como a chamava Roberto Campos. O que nos leva ao segundo
motivo do silêncio: são muitos grupos de interesse organizados que se
beneficiam com a gastança enorme e sem tanta transparência da Petrobras.
Para começar, seus quase 90 000 colaboradores. Claro que há, entre
eles, críticos da atual situação que prefeririam ver a empresa gerida
pela meritocracia. Mas os 27,6 bilhões de reais gastos com pessoal em
2013, um aumento de 51% em relação a 2010, servem como forte estímulo ao
apoio dos funcionários. Além disso, temos todos os empresários que
fornecem produtos e serviços para a estatal, felizes da vida com a
cláusula nacionalista imposta pelo governo, que obriga a empresa a
comprar mais da metade dos equipamentos de exploração dentro do país. A
presidente Graça Foster chegou a reclamar do atraso na entrega das
sondas, ameaçando importá-las.
Artistas
e ONGs dependem das gordas verbas de patrocínio cultural da Petrobras. A
estatal “investiu”, apenas em 2013, 520 milhões de reais em 830
projetos sociais, ambientais e de esporte educacional. É uma montanha de
recursos capaz de testar a independência do mais íntegro dos seres
humanos. Por fim, temos os próprios políticos, que adoram a ideia de
usar a estatal como moeda de troca ou fonte de recursos. Basta lembrar o
deputado Severino Cavalcanti pedindo à área da Petrobras que “fura
poço” que selasse aliança política com o então presidente Lula.
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