Juntar independência do Banco Central com a falta de comida na mesa dos brasileiros é uma das coisas mais canalhas, sórdidas e mentirosas que se pode conceber, mas combina com o espírito companheiro, sempre disposto a investir na fraude e na desinformação como forma de fazer política.
Pode ser que eles ganhem assim, e vamos passar a viver num país ainda mais degradado moralmente do que já é.
10/09/2014
Por Letícia Casado, Raphael Di Cunto e Fernando Taquari | De São Paulo
A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, disse ontem não ser sustentada por banqueiro, em referência a Neca Setubal, coordenadora do programa de governo de sua adversária Marina Silva (PSB), herdeira do banco Itaú e irmã do presidente da instituição, Roberto Setubal.
"Não adianta falar que eu fiz bolsa-banqueiro", disse Dilma a jornalistas em coletiva de imprensa. "Não tenho banqueiro me apoiando. Não tenho banqueiro, você sabe, me sustentando."
A fala de Dilma foi uma resposta a Marina Silva, que, em evento em Minas Gerais, disse que o governo federal beneficiou banqueiros e empresários, e criou "a bolsa empresário, a bolsa banqueiro, a bolsa juros altos".
A presidente se recusou a comentar a revisão de nota que a agência de rating Moody's fez sobre o risco de crédito do Brasil. Ela foi questionada se iria implementar alguma medida imediata para evitar o rebaixamento do rating pela Moody's. A agência de risco revisou de "estável" para "negativa" a perspectiva da nota de crédito soberana do Brasil e reafirmou em "Bba2", alegando crescimento baixo, piora nos indicadores da dívida e deterioração no sentimento dos investidores.
"Eu vou discutir isso que eu estou discutindo", disse Dilma, para em seguida afirmar que a banda larga é o maior desafio de infra-estrutura do país. Ela concedeu a entrevista antes de participar de evento sobre a internet de banda larga, no centro de São Paulo.
Jornalistas continuaram gritando para a presidente comentar sobre a Moody's, mas ela seguiu falando sobre banda larga.
Em outro momento da entrevista, Dilma voltou a alfinetar, sem citar nomes, a adversária Marina Silva. Disse que proposta de dar autonomia ao Banco Central, uma das principais medidas da parte econômica do programa de governo da candidata do PSB, vai tirar do Congresso Nacional a prerrogativa de fiscalizar a instituição.
"O Banco Central, como qualquer outra instituição, não é eleito por tecnocrata ou banqueiro. O Banco Central é indicado, sua diretoria, por quem tem o voto direto. E o que o Congresso faz com o Banco Central? Chama e manda prestar contas. Eu não digo isso porque sonhei com isso, está escrito no programa [de Marina Silva]: autonomia do Banco Central e todo mundo sabe que o que é autonomia do Banco Central. Todo mundo sabe", disse a presidente.
Dilma, que é criticada por analistas por ter pressionado o BC a reduzir a taxa básica de juros, sempre se manifestou contra a proposta de dar autonomia à instituição, embora a ideia tenha rondado seu governo impulsionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que imaginava que isso mudaria a percepção que o mercado e os empresários têm deDilma.
A autonomia permitiria ao BC definir as condições de política de crédito, taxa de juros e câmbio sem prestar contas aos poderes Executivo e Legislativo, disse Dilma durante a entrevista. A afirmação seguiu a mesma linha do material apresentado no programa eleitoral gratuito exibido ontem.
O vídeo transmitido no horário eleitoral mostra uma mesa com executivos conversando; o cenário remete ao mercado financeiro, com um gráfico que indica volatilidade ao fundo. Enquanto os executivos, de terno, gravata e laptop sobre a mesa dão risadas, o narrador diz: "Marina tem dito que, se eleita vai fazer a autonomia do Banco Central. Parece algo distante da vida da gente, né? Parece, mas não é".
A cena corta para uma família na mesa de jantar. "Isso significaria entregar aos banqueiros um grande poder de decisão sobre a sua vida e de sua família. Os juros que você paga, seu emprego, preços e até salários", afirma o locutor. Aos poucos a comida some da mesa da família. "Ou seja, os bancos assumem um poder que é do presidente e do Congresso, eleito pelo povo. Você quer dar a eles esse poder?", diz o narrador.
Dilma não aparece na propaganda, e o vídeo não faz referência à amizade de Marina com Neca Setubal. A relação entre elas é explorada pelo PT nas redes sociais e na internet como um ponto negativo da candidata, que "governaria para os bancos".
Marina era contra a autonomia do Banco Central, mas foi convencida a apoiar a proposta pelo ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), então candidato à Presidência da coligação até morrer em um acidente de avião no dia 13.
A presidente também foi questionada sobre qual seria o perfil de sua nova equipe econômica, caso vença a eleição, mas evitou fazer comentários; disse que sua equipe tem o compromisso de garantir que o Brasil tenha redução da desigualdade, seja país moderno, competitivo e inclusivo socialmente.
"Todo governo novo terá pessoas novas", afirmou. Em duas ocasiões na última semana, a presidente disse que vai trocar a equipe econômica em um eventual segundo mandato.Dilma disse que "tem coisas que o governo não muda", independentemente de mudar a equipe econômica. "Se porventura eu for eleita o segundo mandato terá conjectura melhor."
Pela manhã, Dilma visitou um centro de reabilitação para deficientes físicos em M' Boi Mirim que contou com recursos do governo federal. Na visita, feita na condição de presidente, Dilma estava acompanhada do prefeito Fernando Haddad (PT). De acordo com o secretário de Saúde do município, José de Filippi, que também acompanhou a visita, a presidente aproveitou para gravar imagens para seu programa de TV. A unidade recebeu recursos do governo federal.
Dilma deixou o local sem falar com a imprensa e a militantes que aguardavam sua passagem com bandeiras do PT acenou de dentro do carro baixando a janela. A visita durou cerca de 40 minutos.
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