O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador dívida pública. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador dívida pública. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 22 de junho de 2021

A dívida nacional dos Estados Unidos em 150 anos: 1900-2050: correlação com a situação econômica do país - Visual Capitalist

 Tema fascinante: os fazedores de gráficos, historiadores econômicos trabalhando com séries históricas, poderiam traçar uma imagem semelhante, ou similar, para a dívida pública brasileira ao logo dos últimos 200 anos. 

Interactive: 

Visualizing 150 Years of U.S. National Debt (1900-2050)



Visual Capitalist, June 21, 2021

This interactive visual shows how the U.S. national debt has fluctuated since 1900, as well as projections all the way to 2050.



Looking Back at 150 Years of U.S. Debt



The total U.S. national debt reached an all-time high of $28 trillion* in March 2021, the largest amount ever recorded.

Recent increases to the debt have been fueled by massive fiscal stimulus bills like the CARES Act ($2.2 trillion in March 2020), the Consolidated Appropriations Act ($2.3 trillion in December 2020), and most recently, the American Rescue Plan ($1.9 trillion in March 2021). 

To see how America’s debt has gotten to its current point, we’ve created an interactive timeline using data from the Congressional Budget Office (CBO). It’s crucial to note that the data set uses U.S. national debt held by the public, which excludes intergovernmental holdings.

*Editor’s note: This top level figure includes intragovernmental holdings, or the roughly $6 trillion of debt owed within the government to itself.

What Influences U.S. Debt?

It’s worth pointing out that the national debt hasn’t always been this large. 

Looking back 150 years, we can see that its size relative to GDP has fluctuated greatly, hitting multiple peaks and troughs. These movements generally correspond with events such as wars and recessions. 

Decade Gross debt at start 
of decade 
(USD billions)
Avg. Debt Held By Public
Throughout Decade
(% of GDP)
Major Events
1900-4.8%-
1910-10.0%World War I
1920-22.9%The Great Depression
1930$1636.4%President Roosevelt's New Deal
1940$4075.1%World War II
1950$25756.8%Korean War
1960$28637.3%Vietnam War
1970$37126.1%Stagflation (inflation + high unemployment)
1980$90833.7%President Reagan's tax cuts
1990$3,23344.7%Gulf War
2000$5,67436.6%9/11 attacks & Global Financial Crisis
2010$13,56272.4%Debt ceiling is raised by Congress
2020$27,748105.6%COVID-19 pandemic
2030P-121.8%-
2040P-164.7%-
2050P-195.2%-

Source: CBO, The Balance

To gain further insight into the history of the U.S. national debt, let’s review some key economic events in America’s history. 

The Great Depression

After its WWI victory, the U.S. enjoyed a period of post-war prosperity commonly referred to as the Roaring Twenties. 

This led to the creation of a stock market bubble which would eventually burst in 1929, causing massive damage to the U.S. economy. The country’s GDP was cut in half (partially due to deflation), while the unemployment rate rose to 25%. 

Government revenues dipped as a result, pushing debt held by the public as a % of GDP from its low of 15% in 1929, to a high of 44% in 1934. 

World War II

WWII quickly brought the U.S. back to full employment, but it was an incredibly expensive endeavor. The total cost of the war is estimated to be over $4 trillion in today’s dollars. 

To finance its efforts, the U.S. relied heavily on war bonds, a type of bond that is marketed to citizens during armed conflicts. These bonds were sold in various denominations ranging from $25-$10,000 and had a 2.9% interest rate compounded semiannually. 

Over 85 million Americans purchased these bonds, helping the U.S. government to raise $186 billion (not adjusted for inflation). This pushed debt above 100% of GDP for the first time ever, but was also enough to cover 63% of the war’s total cost. 

The Postwar Period

Following World War II, the U.S. experienced robust economic growth. 

Despite involvement in the Korea and Vietnam wars, debt-to-GDP declined to a low of 23% in 1974—largely because these wars were financed by raising taxes rather than borrowing. 

The economy eventually slowed in the early 1980s, prompting President Reagan to slash taxes on corporations and high earning individuals. Income taxes on the top bracket, for example, fell from 70% to 50%. 

2008 Global Financial Crisis

The Global Financial Crisis served as a precursor for today’s debt landscape. 

Interest rates were reduced to near-zero levels to speed up the economic recovery, enabling the government to borrow with relative ease. Rates remained at these suppressed levels from 2008 to 2015, and debt-to-GDP grew from 39% to 73%. 

It’s important to note that even before 2008, the U.S. government had been consistently running annual budget deficits. This means that the government spends more than it earns each year through taxes. 

The National Debt Today

The COVID-19 pandemic damaged many areas of the global economy, forcing governments to drastically increase their spending. At the same time, many central banks once again reduced interest rates to zero. 

This has resulted in a growing snowball of government debt that shows little signs of shrinking, even though the worst of the pandemic is already behind us. 

In the U.S., federal debt has reached or surpassed WWII levels. When excluding intragovernmental holdings, it now sits at 104% of GDP—and including those holdings, it sits at 128% of GDP. But while the debt is expected to grow even further, the cost of servicing this debt has actually decreased in recent years. 

U.S. federal debt costs

This is because existing government bonds, which were originally issued at higher rates, are now maturing and being refinanced to take advantage of today’s lower borrowing costs.

The key takeaway from this is that the U.S. national debt will remain manageable for the foreseeable future. Longer term, however, interest expenses are expected to grow significantly—especially if interest rates begin to rise again. 



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

O crescimento da dívida é efeito da pandemia, mas a queda do Real é um desastre só nosso - Hamilton Ferrari (Poder 360)

Real desvalorizado se descola de moedas de outros emergentes

Dinheiro do Brasil fica fora da curva

Outros países já se recuperaram

Risco fiscal encarece o dólar

HAMILTON FERRARI

Poder 360, 04/02/2021 (quinta-feira) - 6h00



O risco fiscal e as incertezas sobre a trajetória da dívida pública brasileira fizeram o real se descolar das moedas de outros países emergentes. Fechou aos R$ 5,37 nesta 4ª feira (3.fev.2020) e está fora da curva de 16 moedas de outras nações, segundo levantamento da agência classificadora de risco Autin Rating, feito com exclusividade para o Poder360.

A trajetórias contrárias do real com as outras divisas começaram depois de março de 2020, período em que houve mais incertezas em relação à pandemia de covid-19. Com a evolução do período de isolamento, incentivos fiscais e, mais recente, as vacinas contra o coronavírus, as moedas voltaram a se valorizar frente ao dólar.

Para fazer a comparação, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, utilizou dados de 16 países emergentes que representam 76,7% do PIB (Produto Interno Bruto) do grupo de países. Ao todo, são 151 países classificados nesta condições, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Enquanto o real desvalorizou 38,8% de 2 janeiro de 2018 a 3 de fevereiro de 2021, a cesta de moedas anotou desvalorização de 7,6%. De março de 2020 até esta 4ª feira (3.fev), o real recuou 15,9%. As moedas dos emergentes tiveram alta de 1,6% no período.

Essas 16 nações representam 30,1% do PIB global. “É nítido que há um descolamento das curvas no início da pandemia e se amplia até a data atual”, disse o economista. “O efeito da pandemia foi muito mais oneroso à moeda brasileira que nos demais países emergentes que competem conosco pela atração dos investidores globais“, completou.

Para elaborar o cálculo, Alex utilizou a variação diária, em percentual, dos valores nominais da relação de taxa de câmbio de cada país em relação ao dólar norte-americano. Como se trata de uma cesta com 16 países emergentes, e como cada um tem uma paridade da sua moeda, elaborou um único índice com base 100 em 02 de janeiro de 2018.

O analista disse que o descolamento decorreu de uma busca de proteção no período mais agudo da pandemia, no qual o dólar se fortaleceu frente a praticamente todas as moedas.

No Brasil, o dólar começou 2020, o ano da pandemia, aos R$ 4,02. Terminou aos R$ 5,19, o que representa uma alta anual de 29%. Atingiu o pico de R$ 5,90 em maio, mas continuou em valores elevados frente ao real até o fim do ano.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O problema da dívida pública - Luque, Silber, Luna e Zagha (Valor)

O problema da dívida pública

Estratégia econômica do governo não é clara, o que afeta também as taxas longas. Por Luque, Silber, Luna e Zagha.

Valor, 11/01/2021

O relatório anual do FMI sobre a economia brasileira surpreendeu ao apoiar as políticas expansionistas do governo brasileiro, equivalentes a 18% do PIB. Resposta à pandemia, elas permitiram uma contração do PIB em2020 menor do que prevista e foram importantes na redução na incidência da pobreza. Mesmo com aumento da dívida pública em relação ao PIB em 2020, o FMI recomenda, se necessário, manter políticas expansionistas em 2021, incluindo reduções adicionais da taxa de juros.

O reconhecimento pelo FMI de que políticas expansionistas podem ter um papel positivo é o resultado de um aprendizado de 20 anos. Em reação à sua atuação contraproducente na crise Asiática em 1997, da Rússia em 1998 e Argentina em 2001, o FMI iniciou avaliações independentes das análises feitas pelos economistas do FMI e das convicções que os orientavam, nem sempre com resultados concretos. A Grécia em 2014 e a Argentina em 2016-2019 são exemplos da distância entre questionamentos e prescrições do FMI.

O relatório sobre o Brasil reduziu essa distância. Nem tudo agrada. O relatório ignora o papel da depreciação do Real na recuperação da indústria, superestima os benefícios da conta financeira aberta e recomenda flexibilidade da taxa de câmbio. Atribui a depreciação do Real apenas à incerteza criada pelo aumento da dívida pública, sem levar em conta a redução do diferencial entre juros domésticos e internacionais e consequente redução das possibilidades de arbitragem. Também não discute limitações do teto de gastos para estabilizar a dívida. 

Ainda assim, a contribuição do relatório é importante ao desmitificar o tamanho da dívida pública, ao recomendar possíveis reduções adicionais da taxa de juros e ao ressaltar que é improvável queem2021 haja o retorno à normalidade. O desemprego continua crescendo e uma parte importante da população está fora da força de trabalho. As necessidades de auxílio emergencial e de apoio às empresas vão continuarem2021.

Esse grau de realismo não afetou discussões internas. Muitos de nossos melhores economistas e analistas adotam uma narrativa independente da realidade, ao afirmar que o tamanho da dívida pública é a chave para atingir o crescimento. O mecanismo não é explicitado, mas deve ser algo assim: o aumento da dívida vai criar dúvidas sobre a capacidade do governo de honrá-la, logo os compradores de títulos públicos irão exigir taxas de juros mais altas. Juros mais altos reduzirão o investimento e o consumo privado e, portanto, o crescimento no curto e no longo prazo. Reforçando esse mecanismo, dúvidas sobre a capacidade do governo de honrar sua dívida farão com que o capital financeiro saia do país pondo pressão sobre o Real e inflação, o que irá também exigir aumentos da taxa de juros. Prova desses mecanismos estarem em jogo são a (1) depreciação do Real, (2) o aumento da inflação, (3) a curva de rendimentos mais empinada, e (4) o encurtamento do perfil da dívida pública. O controle do tamanho da dívida reverteria esses mecanismos.

A realidade é provavelmente outra. Respeito a (1), a taxa de juros “mais alta do planeta” dos anos 2000-2018 criou oportunidades de arbitragem para o capital financeiro doméstico e internacional. A taxa mais baixa reduziu estas oportunidades e depreciou o Real. Consequentemente, aumentou o preço de alimentos e dos bens transacionáveis internacionalmente, o que se repercutiu no IPCA. O mercado acredita que esse choque é transitório: as expectativas de inflação continuam ancoradas e os valores esperados em 2021 e além não subiram.

Não há uma estratégia para controlar o teto dos gastos, nem para um crescimento sustentável.

Com relação à (3), a incerteza da política monetária futura tem um papel. Apesar de taxas de juros internacionais historicamente baixas e expectativas de que assim continuarão por vários anos, o BCB não se comprometeu a uma política de taxas de juros baixas. O Relatório Focus demeados de dezembro mostra que a expectativa do mercado é que a SELIC voltara a níveis historicamente altos já subindo em 2021 e 4.5% em 2022 e 6% em 2023. Uma consequência é um Real se apreciando a partir de 2021. A expectativa de que o BCB vai retornar a uma política “dura” faz com taxas de juros a 2-4-6-10 anos subam e empinem a curva de rendimentos. Finalmente, a estratégia econômica do governo não é clara o que afeta também afeta taxas longas.

É racional e não é um problema o BCB ter aumentado a proporção de dívida a curto prazo (4). Como nos lembrou numa coluna recente um antigo diretor do BCB, a denominação da dívida pública em reais fez com que, mesmo nos tempos de hiperinflação quando o encurtamento da dívida chegou ao overnight, não houve problema sem rolá-la.

Qual então é o problema da dívida pública? A resposta é: não temos uma estratégia viável lidando com seu aumento.

O setor financeiro tem vocalizado sobre a necessidade de controlar gastos, subir a taxa de juros, e combater o Real depreciado, sem levar em conta o empobrecimento da economia real. Quando a dívida pública mal chegava a 60% do PIB e os juros absorviam8-9% do PIB o grau de alarme era muito menor do que uma dívida agora 100% com um custo de juros bem menor.

Dito isso, é pragmático pôr a dívida pública numa trajetória onde ela se estabiliza no médio/ longo prazo. Aumentos no curto prazo podem trazer benefícios, mas uma trajetória que levasse a aumentos persistentes da relação dívida/PIB nos poria em terra incógnita com consequências que não podemos antecipar. Podemos aceitar aumentos da dívida no curto prazo e, pari-passu, implementar uma estratégia estabilizando-a no médio e longo prazo. Esse é o sinal que dever ser passado para os agentes econômicos: estabilidade ou redução no médio e longo prazo.

Isso pode ser atingido através de um crescimento mais rápido, juros mais baixos, impostos mais altos, ou gastos primários mais baixos em relação ao PIB. Dessas possibilidades o governo se foca unicamente no controle de gastos primários, com o teto dos gastos. Para um dos mais respeitados ex-diretores do BCB furá-lo não é uma questão de se, mas de quando. Não há uma estratégia para controlar o teto dos gastos, e tampouco há uma para pôr a economia numa trajetória de crescimento sustentável. Lembremo-nos que vários estudos empíricos mostraram é raro reduções na relação dívida/PIB serem alcançadas através de superávits primários.

Lidar com o problema da dívida pública exige aceitar seus aumentos no curto prazo ao mesmo tempo implementar uma estratégia que a estabilize no médio/ longo prazo. Essa estratégia devera necessariamente incluir o crescimento, compromissos com a taxa de juros presente e futura, compromissos com a evolução da taxa de câmbio, resistindo à tentação de um dólar barato, gastos primários, e aumentos de impostos sobre as rendas mais altas e riqueza.

Sem esses elementos, nosso futuro econômico continuará decepcionante.

Carlos Luque é professor da FEA- USP e presidente da Fipe.

Simão Silber é professor da FEA-USP

Francisco Vidal Luna é professor da FEA aposentado

Roberto Zagha foi professor Assistente na FEA-USP nos anos 1970 e no Banco Mundial a partir de 1980, onde encerrou a carreira em 2012 como Secretário da Comissão sobre o Crescimento e o Desenvolvimento, e diretor para a Índia.


sábado, 24 de outubro de 2020

Alexandre Schwartsman e a curva da taxa de juros no Brasil: expectativas ainda negativas (InfoMoney)

 

AQUI SE PAGA

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

 Riscos crescentes de problemas quanto à capacidade de pagamento da dívida levaram ao aumento das taxas de juros mais longas na comparação com as mais curtas. Ao contrário dos países ricos, o Brasil ainda paga juros reais positivos para se endividar, ou seja, terá que voltar a produzir superávits primários.

PUBLICADO ORIGINALMENTE NA INFOMONEY, EDIÇÃO DE 21 DE OUTUBRO DE 2020

Há algumas semanas, ao escrever sobre as mudanças no regime monetário norte-americano, analisei os fatores que influenciam a chamada “curva de rendimento”, isto é, a linha que mapeia para cada prazo (um mês, três meses, seis meses, 2 anos, etc.) a taxa de juros correspondente. Notei então que as taxas de juros mais longas refletem (em algum grau) as expectativas sobre a sequência de taxas mais curtas.

Se, por exemplo, sabemos que o juro para 1 ano é de 5% e para o ano seguinte 10%, a taxa de juros para uma aplicação por dois anos tem que ser (aproximadamente) 7,5% ao ano, pois ao final de dois anos renderá 15,5%, o mesmo que uma aplicação de 5% no primeiro ano seguida de uma de 10% no segundo ano. Se a taxa de 2 anos for inferior a 7,5% ao ano, ninguém comprará o papel, preferindo fazer a aplicação em dois momentos distintos; se for superior a 7,5% ao ano, ninguém fará a aplicação em dois passos, preferindo a taxa mais alta.

Todavia, se complicarmos um tanto o exemplo, os resultados podem se tornar ainda mais interessantes, em particular para entender o que vem ocorrendo por aqui.

Considere a possibilidade de não receber de volta o dinheiro aplicado a partir do segundo ano. Digamos que a chance de levar um calote seja 25% Assim, com 75% de chance você recebe um determinado retorno; com 25% você perde tudo (estou forçando a mão, mas, acredite, fica bem mais fácil para ilustrar o problema).

Pergunta: qual seria a taxa de juros no segundo período necessária para manter o retorno de 10% (o mesmo do exemplo acima), imaginando que a investidora só se guie pelo valor esperado da aplicação (em economês castiço, seja “neutra com relação a risco”)?

Quem fizer as contas há de concluir que a taxa de juros nesse caso teria que ser 46,67% ao ano. Com 75% de chance os R$ 105 aplicados no segundo ano se transformariam em R$ 154; com 25% de chance, virariam pó, ou seja, o valor esperado seria 0,75×154 + 0,25×0 = 115,50.

Agora a taxa de juros para dois anos não seria mais 7,5% ao ano; seria aproximadamente 24% ao ano (a média geométrica entre 5% e 46,67%). Também nesse caso com 75% de chance o investidor receberia R$ 154 ao final do segundo ano e com 25% de chance voltaria para casa com as mãos abanando.

Obviamente, para deixar a conclusão mais clara carreguei a mão tanto na chance de calote, como na recuperação de zero do valor investido. Em condições normais a chance de calote costuma ser mais baixa e o investidor em geral recupera um valor ainda positivo de sua aplicação. Se aquela for 10% e o investidor conseguir recuperar, digamos, 90 centavos para cada real investido, a taxa de juros no segundo período seria 12,7% e a taxa para aplicação por dois anos 8,8% ao ano.

A moral da história diz menos dos números em si e mais do reflexo dos riscos de não receber o dinheiro de volta sobre as taxas de juros, em particular sobre taxas de diferentes prazos, dado que a chance de calote costuma ser maior para períodos mais longos. Posto de outra forma, a existência de um risco de não receber (integralmente) a aplicação faz com que a curva de rendimentos se torne mais inclinada, isto é, que as taxas para prazos mais longos subam relativamente àquelas para aplicações mais curtas.

É evidente que algo semelhante se passa no país. O gráfico abaixo mostra a curva de rendimentos no último dia de 2019 (a linha preta) em comparação ao observado na sexta passada (a linha vermelha). Apesar da queda das taxas mais curtas (até 3 anos), influenciada pela redução expressiva da Selic, além desse horizonte houve aumento considerável da taxa de juros, culminando em diferença de 1,20 ponto percentual no juro de 10 anos hoje relativamente ao observado no final do ano passado.

Fonte: Autor com dados da ANBIMA

É bem verdade que a escolha de 31 de dezembro de 2019 como base de comparação é arbitrária. Para observar, porém, o mesmo fenômeno por outra ótica, o gráfico abaixo apresenta a diferença entre o juro de 10 anos e o juro de 3 anos ao longo do tempo desde a adoção do atual regime fiscal, qual seja, o teto para o gasto federal instituído ao final de 2016.

Fonte: Autor com dados da ANBIMA

Nota-se que a inclinação da curva de juros, medida desta forma, aumentou significativamente no período mais recente na comparação com 2019. Em parte, diga-se, por força dos impactos da epidemia nos mercados financeiros, mas o movimento mais recente não pode ser atribuído a tal fenômeno.

Também não pode ser atribuído à expectativa de política monetária mais apertada, dado o anúncio do BC no começo de agosto acerca da adoção da “prescrição futura”, isto é, sua promessa quanto a manter a Selic estável até a inflação projetada se aproximar da meta.

Pelo contrário, resulta essencialmente do risco fiscal crescente, expresso, entre outras formas, pelas disputas sobre o orçamento de 2021, em particular as tentativas de contornar o teto de gastos para viabilizar o Renda Cidadã.

Assim, em meados do ano o Tesouro podia se financiar por 10 anos a taxas próximas a 7% ao ano; nas duas últimas semanas a taxa para 10 anos tem ficado teimosamente ao redor de 8,3% ao ano, o que corresponde a uma taxa real de juros na casa de 3,75% ao ano aproximadamente.

Não é por outro motivo que o Tesouro tem reduzido o prazo de suas emissões, quando não usando os recursos da Conta Única, deixando para o BC a tarefa de controlar a liquidez por meio de operações compromissadas.

De qualquer forma, tais desenvolvimentos deixam claras as implicações do risco da perda de controle das contas públicas: juros mais altos e dificuldades na rolagem da dívida.

Tornam também nítidos os limites que nossos keynesianos de quermesse ainda se recusam a enxergar: ao contrário das economias desenvolvidas, o juro real brasileiro ainda é elevado (para prazos mais longos), ou seja, cedo ou tarde teremos que voltar a produzir superávits primários para reverter a tendência de expansão da dívida com relação ao PIB, sob pena de perdermos de vez seu controle e, com ele, qualquer vestígio de estabilidade macroeconômica.

____________________________________

ALEXANDRE SCHWARTSMAN – DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, BERKELEY, E EX-DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO BANCO CENTRAL DO BRASIL É PROFESSOR DO INSPER E SÓCIO-DIRETOR DA SCHWARTSMAN & ASSOCIADOS

@alexschwartsman
aschwartsman@gmail.com

 

domingo, 18 de outubro de 2020

Vamos bater no muro? A economia em 2021 - José Roberto Mendonça de Barros (OESP)

 Vamos bater no muro?

José Roberto Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo, 18/10/2020


Do ponto de vista econômico, a resposta brasileira ao coronavírus foi muito robusta, pois algo como 12% do PIB foi transferido para mais de 65 milhões de pessoas, um valor bastante concentrado a partir de junho. Isso provocou um grande salto na demanda das famílias, que ativou parte do comércio e da indústria. Como resultado, a queda do PIB deste ano será menor do que se projetava, ficando entre -4% e -5%.

Entretanto, boa parte do setor de serviços não viveu essa melhora. Falo aqui de viagens, de toda a cadeia de hospitalidade, da economia criativa e de tudo o que depende de aglomeração. Essa situação não mudará de forma substancial, uma vez que o número de novas mortes e de novos casos vem caindo de forma muito lenta, sem falar no risco de uma segunda onda, como a que ocorre atualmente na Europa.

Em consequência, o mercado de trabalho vem se recuperando com certa lentidão, até porque muitas empresas quebraram ou encolheram, reduzindo a oferta de empregos permanentes.

Mais ainda: já dá para perceber que o grande salto do processo de digitalização e da automação que resulta da pandemia também está reduzindo o número de empregos permanentes, processo que se verifica no mundo inteiro.

Isso mostra a dificuldade de uma recuperação em "V". Para citar um único exemplo: pense em quantas agências bancárias se tornaram desnecessárias como resultado do inacreditável avanço do "home banking" e da digitalização dos meios de pagamento â isso sem falar no sucesso que fará o Pix. O mesmo raciocínio se aplica para inúmeros outros serviços, como venda de carros, assistência técnica, ensino etc.

Por outro lado, a demanda de consumo deverá se reduzir no início do próximo ano. O fim do programa do coronavoucher deprimirá a renda disponível de muitas famílias, mesmo que a desejada expansão do Bolsa Família consiga ser operacionalizada, porque cairá drasticamente o número de beneficiários. Essa queda de renda, como já argumentado, não será compensada pela criação de novos empregos permanentes. Além disso, a forte elevação do custo da alimentação, que segue crescendo acima de 10%, reduz o poder de compra de muita gente. Apenas a entrada de uma nova safra, em 2021, reverterá essa tendência.

Em paralelo, não há atualmente qualquer indicação de elevação dos investimentos públicos ou privados. Ao contrário, continuamos a ver uma queda nos investimentos estrangeiros. Alguma surpresa? Basta pensar nos reveses sofridos pelo ambiente regulatório (como no caso da Linha Amarela, no Rio de Janeiro), nos atrasos em projetos que estão no Congresso (Lei do Gás) e nas privatizações que simplesmente não existem...

Tudo indica que o crescimento de 2021 ficará pouco acima de 2% e que a inflação será maior que a deste ano.

Além da pressão no preço de alimentos, existem fortes altas em matériasprimas industriais básicas, químicas e metálicas, cujo repasse aguarda apenas alguma recuperação da demanda.

Por baixo dessas pressões está a desvalorização do real que, dadas as incertezas atuais, tem pouca chance de ser revertida. A taxa de juros será elevada no próximo ano, ou mesmo antes.

A percepção de que a situação fiscal se deteriorou muito é agora universal.

Isso mesmo sem os gastos adicionais que o Executivo e o chamado Centrão querem incluir na proposta orçamentária para o próximo ano. Como resultado, a rolagem da dívida pública agora se faz apenas com papéis mais curtos e as taxas mais longas já subiram no mercado quando comparadas a algumas semanas atrás.

Temos assim um impasse. De um lado, a situação fiscal exige uma resposta: apontar qual a trajetória que se objetiva uma vez passada a emergência do combate ao vírus. De outro, Brasília segue em festa como nos bons tempos, com óbvio apetite por elevar os gastos â e não falo apenas do Executivo, mas também de boa parte do Legislativo e do Judiciário (alguém aí pensou do novo Tribunal Regional Federal em Minas Gerais?).

No meio disso tudo, o Ministério da Economia, cada vez menor e sem rumo.

Daí a pergunta título: se o embate crescer, vamos bater no muro? 


ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALMENTE E-MAIL: JR.MENDONCA@MBASSOCIADOS.COM.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Dívida pública vai a 100pc do PIB - Renato Carbonari Ibelli

Tudo bem, para a maior parte dos países. Os EUA já estão a mais de 100% do PIB, ou seja 20 trilhões de dólares: os juros serão pagos pelos filhos e netos dos atuais contribuintes.
Na Europa, vários países estão a mais de 150% do PIB (tipo Itália, Grécia, etc.). A conta será paga pelos bisnetos e tataranetos.
No Japão, ela representa mais de 270% do PIB, mas os japoneses são patriotas: aceitam pagar para que o governo tome suas poupanças.
Mas, no caso do Brasil, um endividamento a 100% do PIB só é suportável em curto prazo e com juros na altura da inflação, atualmente muito baixa.
Mas, e se a inflação subir e os juros idem? E se a parte da dívida contraída em dólares ficar duas vezes mais alta?
Aí é calote certo...
Paulo Roberto de Almeida

Crise da covid-19 deve levar dívida pública ao patamar do PIB (Ibelli)

Crise da covid-19 deve levar dívida pública ao patamar do PIB Por Renato Carbonari Ibelli publicado por Diário do Comércio (5/2020).
 
“Os efeitos da crise do coronavírus nas contas do governo serão enormes, segundo economistas e especialistas em gestão pública. Com a economia paralisada, a arrecadação vai diminuir consideravelmente. Ao mesmo tempo, haverá necessidade de ampliar os gastos federais, o que elevará a dívida pública.
Essa equação irá pressionar fortemente a inflação, os juros e o dólar, segundo Heleno Torres, professor de direito financeiro da Faculdade de Direito da USP.
Para Torres, com a perda de arrecadação, a dívida pública deve crescer ao patamar do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Hoje, essa dívida supera os R$ 5,5 trilhões, o equivalente a 80% do PIB (R$ 7,3 trilhões).
“A economia vai recuar mais de 10%, para algo próximo dos R$ 6 trilhões, e até o final do ano teremos 100% do PIB em dívida”, disse o professor durante reunião do Conselho de Altos Estudos de Finanças e Tributação (Caeft), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que aconteceu na última segunda-feira, 11/05.
Segundo o professor da USP, isso não significa que o governo tenha de segurar os gastos nesse momento de grave crise sanitária, pelo contrário. Para ele, os repasses feitos até agora para a área da saúde estão muito aquém do necessário. “Os R$ 5,7 bilhões destinados até agora ao Ministério da Saúde são inferiores aos repasses de anos anteriores”, disse Torres.
Assim, o desafio será equacionar o problema da dívida pública quando gastos extraordinários são necessários. A solução vai exigir muita criatividade dos gestores públicos.
Um caminho, segundo o economista José Roberto Afonso, seria reverter a dívida pública em dívida privada. “Em vez do governo dar crédito, poderia entrar como fiador de papéis de empresas nesse momento. Se os papéis vencerem, o governo honra. Quando a economia melhorar, repassa os papéis que comprou”, disse Afonso no evento do Caeft.

sábado, 6 de outubro de 2018

Brasil, a tragedia fiscal - Ubiratan Jorge Iorio e Leandro Roque (Mises Brasil)

A explosiva situação fiscal do governo brasileiro - em dois gráficos 

Quando se fala em corte de gastos, os economistas desenvolvimentistas e de todas as vertentes keynesianas imediatamente gritam que tal medida é recessiva. A máxima deles é a de que "despesa corrente é vida".
Nada mais falso. Dizer que gastos do governo geram crescimento econômico é uma grande contradição. O governo, por definição, não produz nada. Ele não tem recursos próprios para gastar. O governo só pode gastar aquilo que antes ele confiscou via tributação ou tomou emprestado via emissão de títulos do Tesouro. 
Só que tanto tributação quanto endividamento geram consequências negativas sobre a economia.
Ao tributar, o governo toma aquele dinheiro que poderia ser usado para investimentos das empresas ou para o consumo das famílias, e desperdiça esse dinheiro na manutenção da sua burocracia. A tributação nada mais é do que uma destruição direta de riquezas. Parte daquilo que o setor privado produz é confiscado pelo governo e desperdiçado em burocracias improdutivas (ministérios, agências reguladoras, secretarias e estatais), maracutaias, salários de políticos, agrados a lobistas, subsídios para grandes empresários amigos do regime, propagandas e em péssimos serviços públicos. 
Esse dinheiro confiscado não é alocado em termos de mercado, o que significa que está havendo uma destruição da riqueza gerada.
Pior: ao tributar, o governo faz com que a capacidade futura de investimento das empresas seja seriamente afetada, o que significa menor produção, menor oferta de bens e serviços no futuro, e menos contratação de mão-de-obra.
Já ao tomar empréstimos — ou seja, emitir títulos —, o governo se apropria de dinheiro que poderia ser emprestado para empresas investirem ou para as famílias consumirem. 
Não há mágica ou truques capazes de alterar essa realidade: quando o governo se endivida, isso significa que ele está tomando mais crédito junto ao setor privado. E dado que o governo está tomando mais crédito, sobrará menos crédito disponível para financiar empreendimentos produtivos. Isso significa que o governo está dificultando e encarecendo o acesso das famílias e das empresas ao crédito. 
E isso é fatal, sobretudo, para as micro, pequenas e médias empresas.
E piora: a emissão de títulos gera o aumento da dívida do governo, cujos juros serão pagos ou por meio de mais impostos ou por meio de mais lançamento de títulos.
E isso leva ao reinício do ciclo vicioso.

Os números 
O governo brasileiro é uma insana e insaciável máquina de destruição de riqueza. E isso não é uma frase ideológica ou meramente demagógica. Uma simples olhada em seus números fiscais nos permite constatar isso.
Como ele gasta muito mais do que arrecada via impostos — pois tem um grande estado de bem-estar social para sustentar —, ele incorre em déficits orçamentários contínuos. Logo, ele tem de se endividar (pedir empréstimos) para poder manter seus gastos.
As consequências? O gráfico abaixo mostra a evolução da dívida bruta do governo federal desde julho de 1994. A dívida nada mais é do que um acumulado de déficits. Assim, o gráfico abaixo mostra o volume de dinheiro que foi absorvido pelo governo federal para financiar seus déficits — dinheiro este que, caso não houvesse déficits, poderia ter sido direcionado para o financiamento de investimentos produtivos:
cewolf.png
Gráfico 1: evolução da dívida total do governo federal (Fonte e gráfico: Banco Central)

O gráfico acima mostra que nada menos que R$ 5,25 trilhões já foram absorvidos pelo governo federal para sustentar sua máquina e sua burocracia. São R$ 5,25 trilhões que deixaram de financiar empreendimentos produtivos.
Impossível mensurar os custos econômicos das empresas que deixaram de ser abertas, dos empregos que deixaram de ser gerados e das tecnologias que deixaram de ser criadas simplesmente porque os investimentos não foram possíveis por causa da absorção de recursos pelo governo federal.  
Para entender o que empurrou essa dívida tão aceleradamente para cima, é necessário ver o tanto que o governo gastou a mais do que arrecadou a cada ano. O gráfico abaixo mostra a evolução do déficit nominal do governo (tudo o que o governo gasta, inclusive com juros, além do que arrecada).
Gráfico 2: evolução do déficit nominal do governo federal (Fonte e gráfico: Banco Central)
cewolf (1).png




O descalabro, que começou realmente ao final de 2011, mas que se intensificou a partir de meados de 2014, é inaudito. (O surto ocorrido pontualmente em 2009 se deveu à recessão daquele ano, que fez com que as receitas do governo caíssem).
Atualmente, em um período de 12 meses, o governo gasta R$ 500 bilhões a mais do que arrecada via impostos. Ou seja, em 12 meses, o governo federal se endivida em um montante de R$ 500 bilhões. São R$ 500 bilhões que ele absorve do setor privado a cada 12 meses. São R$ 500 bilhões que deixam de financiar investimentos produtivos apenas para fechar as contas do governo.
Mas agora vem a parte realmente assustadora: pegue esses R$ 500 bilhões que o governo federal absorve via empréstimos em 12 meses e some aos R$ 2,170 trilhõesque as três esferas de governo arrecadaram em 2017 via impostos. São R$ 2,670 trilhões que o estado retirou do setor privado e destruiu no financiamento de sua própria máquina. 
Isso equivale a 41% do PIB, uma vez que o PIB foi de R$ 6,6 trilhões em 2017.
E aí você começará a entender por que será difícil para um país ainda em desenvolvimento enriquecer e prosperar sob esse atual arranjo. Não há mágica capaz de subverter essa realidade.

A lógica é inescapável
Quanto maior é o governo, maiores serão seus gastos. Quanto maiores forem seus gastos, maiores terão de ser os impostos e o endividamento do governo. 
Quanto maiores forem os impostos, menores serão os incentivos ao investimento e à produção. 
Quanto maior for o endividamento do governo, maiores serão as oportunidades perdidas em investimentos que não puderam ser feitos (porque o governo se apropriou desse dinheiro que poderia ter sido emprestado para o setor privado), maiores serão os gastos com juros, e maior terá de ser a carga tributária para arcar com esses gastos com juros.
Quando políticos falam que não há como cortar gastos, o que eles realmente estão dizendo é que não há como reduzir os custos sobre os indivíduos produtivos, que são aqueles que arcam com o ônus dos impostos. Um governo com gastos elevados está, na prática, onerando aqueles que levantam cedo e vão trabalhar.
No final, aqueles que afirmam que gastos do governo geram crescimento estão afirmando que tomar dinheiro de uns para gastar com outros pode enriquecer a todos. Como diz o ditado, está afirmando que "tirar água da parte funda da piscina e jogá-la na parte rasa fará o nível geral de água na piscina aumentar".

Conclusão
Onde o governo deve cortar? Em qualquer lugar e em todo lugar.
Ministério da Cultura, Ministério do Turismo, Ministério do Desenvolvimento Social, Ministério do Esporte, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Integração Nacional, Ministério dos Direitos Humanos, Ministério das Comunicações, Ministério do Turismo, Ministério da Educação, Ministério dos Transportes e Secretaria de Assuntos Estratégicos poderiam ser imediatamente abolidos. 
Veja aqui (clique em "despesas") o total das despesas de cada ministério. Excluindo-se o Ministério da Fazenda (que gasta R$ 1,2 trilhão), todos os outros ministérios gastam aproximadamente R$ 640 bilhões por ano. (Na era Dilma, eles empregavam mais de 113 mil apadrinhados e seus salários consumiam R$ 214 bilhões. Ainda não se sabe os números exatos da atual administração.)
Adicionalmente, o cancelamento de todos os aumentos prometidos ao funcionalismo público bem como a extinção dos super-salários do setor público são imprescindíveis. 
abolição do BNDES e a devolução do dinheiro a ele emprestado pelo Tesouro também seriam um bom começo (embora isso resolveria apenas um problema de estoque e não de fluxo).
A venda (ou mesmo a abolição) destas 18 estatais que queimam 86% do orçamento com funcionários muito bem pagos e que dependem de transferências do Tesouro também é imperativa, assim como a venda das 151 estatais do governo, as quais recebem um aporte anual de R$ 20 bilhões do governo.
Acima de tudo, a reforma da previdência do setor público, que é de longe o maior ralo de dinheiro do país, é absolutamente crucial.
Mas quem fará isso? Por enquanto, ninguém se apresentou.


segunda-feira, 9 de julho de 2018

Delfim Neto: situação econômica do Brasil, pior do que se pensa

Recebido de meu amigo Roque Callage: 
Quando Delfim, que é sempre eufórico, está vendo uma situação muito ruim, é porque é é ruim mesmo. O futuro é muito ruim. Ele projeta que terá que ser feito ajuste de 5% do PIB e não vê nenhum estadista com capacidade de governar o País e devolver estabilidade à economia, incluindo equilibrio das instituições.Tem um nome que não se apresentou e que ele não quer dizer. 
Roque Callage

---------------------

O ex-ministro Antônio Delfim Netto está pessimista com o Brasil

O economista vê apenas um nome para a Presidência capaz de articular um novo pacto com o Congresso e o STF para recuperar o protagonismo do Executivo
Por Felipe Saturnino e Gerson Freitas Jr., da Bloomberg
Publicado em 7 julho 2018 

O problema fiscal, diz, é pior do que parece, deve ser carregado por um longo período e vai levar a uma escalada da dívida pública enquanto o Congresso, movido por interesses próprios, continua a aprovar medidas que agravam o rombo.
O país vive uma situação social “dramática”, com 13 milhões de desempregados, e carece de alternativas políticas capazes de orquestrar uma solução e recuperar o protagonismo perdido pelo Executivo.
“Nós devíamos estar dizendo para a sociedade que a situação é dramática”, afirma Delfim. “A solução para isso vai exigir sacrifícios de todos”.
Um cálculo “grosseiro”, diz ele, indica necessidade de um ajuste da ordem de 5% do PIB apenas para estabilizar a dívida nos níveis atuais.
Mesmo diante desse quadro, o Brasil ainda não tem, segundo ele, um candidato a presidente com a vontade e o poder político necessários para implementar as medidas necessárias para recuperar as contas públicas, a começar por uma reforma da Previdência.
Delfim destaca ainda como essencial que o próximo mandatário tenha a capacidade de articular um novo pacto com o Congresso e o Supremo, a fim de recuperar o protagonismo do Executivo. “É preciso alguém com musculatura,” afirma Delfim.
Novo impeachment?
O economista de 90 anos vê apenas um nome capaz de cumprir esse papel, nome este que ele prefere manter sob sigilo, mas que não figura entre os atuais pré-candidatos à presidência.
Ele vê ainda o risco de que as forças políticas de centro apenas tomam a decisão de se unir em torno de um único nome “quando for tarde demais”.
Delfim afirma que os empresários também estão pessimistas diante do atual cenário. “A cabeça deles está em pânico, porque não veem nenhum futuro”, diz. Antes dos primeiros 100 dias do próximo governo, “ninguém vai pensar em investimento no Brasil”.
“O próximo presidente tem de entrar com um programa realmente correto ou, então, pagar as consequências”, diz. Quais seriam as consequências? O país não crescer mais, deteriorando ainda mais o ambiente político e levando o próximo presidente a sofrer um impeachment.
PIB e juros
Delfim cortou sua projeção de crescimento neste ano de 2,5% para até 1,2%, refletindo a piora generalizada na confiança dos investidores após a greve dos caminhoneiros que paralisou o país em maio.
Ele elogiou, contudo, a articulação entre Banco Central e Tesouro para conter a escalada do dólar, suavizando a volatilidade do câmbio e os movimentos dos juros futuros, diante da piora do ambiente externo. Saiba mais: O dólar pode chegar a R$ 5? Confira a publicação da Empiricus e descubra as perspectivas
“É a primeira vez que você tem uma ação de profissionais”, diz. “O BC está se comportando bem, não caiu na conversa mole do mercado de subir os juros. Ele está no regime de metas inflacionárias, na qual a variável básica é a inflação”, conclui.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Divida Publica: sua real dimensao - Ricardo Bergamini, Gilberto Simoes Pires


INFORMAÇÃO EQUIVOCADA
Gilberto Simoes Pires
Ponto Crítico, XIV - 001/15 26/10/2016

O EQUIVOCADO VALOR DA DÍVIDA FEDERAL
Ontem, todos os meios de comunicação do país deram a mesma NOTÍCIA ERRADA, ao divulgar o valor que a DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL atingiu no final de setembro. De novo: todos, sem exceção, deram a FALSA NOTÍCIA baseada em informação fornecida pelo Tesouro Nacional. 

TRÊS TRILHÕES???
Mais: como todos os leitores certamente perceberam, para gerar maior impacto na opinião pública, os meios de comunicação manchetearam a notícia informando, com letras garrafais, que a DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL ultrapassou, em setembro, a marca dos 3 TRILHÕES DE REAIS.

ESTUDO SÉRIO
Pois, da mesma forma como aconteceu em todas as informações anteriores, fornecidas mensalmente pelo Tesouro Nacional no que se refere ao montante atualizado da DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL, o Ponto Critico tem mostrado sempre o VALOR CORRETO da dívida, através do sério e cuidadoso estudo feito pelo economista e pensador (integrante do Pensar+) Ricardo Bergamini.   

DÍVIDA CORRETA É DE 4,385 TRILHÕES
Portanto, a título de esclarecimento é importante que  fique registrado que o REAL ESTOQUE DA DÍVIDA, em setembro, é R$ 4,385 TRILHÕES. O que o Tesouro Nacional informou, não sei por qual razão, é o VALOR DA DÍVIDA EM PODER DO MERCADO, deixando de fora (também não sei por qual razão) o ESTOQUE EM PODER DO BANCO CENTRAL, que atingiu, em setembro, R$ 1,338 TRILHÃO

IMORALIDADE SEM PRECEDENTES
Essa  parte da dívida em poder do Banco Central, enfatiza Bergamini, é a mais importante, visto que nada mais é do que uma “pedalada oficial” (aumento disfarçado de base monetária) que não existiria se o Banco Central fosse independente.
Detalhe fantástico: o governo, se for financiado por bancos do qual seja o controlador, comete crime, mas se for financiado pelo Banco Central aí é mecanismo de controle de política monetária.
Vejam que essa orgia saiu de 17,86% do PIB em 2010 para 21,97% do PIB em setembro de 2016. Crescimento real, em relação ao PIB, de 23,01%. Uma imoralidade sem precedentes.

PREVIDÊNCIAS
Agora o detalhe ainda mais importante: os dois maiores responsáveis pelo crescimento vertiginoso da DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL, que a imprensa vive omitindo (também não sei por qual razão), estão estampados, com absoluta clareza através dos ROMBOS que carregam, a PREVIDÊNCIA SOCIAL, que reúne: os aposentados do INSS (turma da segunda classe) e aposentados do setor público federal (turma da primeira classe). 

TRAGÉDIA
Vejo que a Rede Globo, por exemplo, insiste, constantemente, com a tragédia de Mariana dizendo que se trata da maior tragédia ambiental jamais vista no nosso país. Ora, ainda que seja uma grande catástrofe, a mesma não tem comparação com o que vem produzindo, mensalmente, a PREVIDÊNCIA SOCIAL, nas  CONTAS PÚBLICAS do país.
Pois, mesmo diante desta imensa catástrofe, há quem continue se posicionando contra a REFORMA DA PREVIDÊNCIA. Pode?