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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 21 de julho de 2015

OMC: Brasil prefere continuar eternamente pais em desenvolvimento

Vejamos: o Brasil quer avanços, mas pretende continuar no mesmo lugar, certo?
Ou seja, nessa categoria que mistura super-pobres, remediados e emergentes candidatos a grandes potências.
Seria essa a atitude de um país que diz pretender assumir novas responsabilidades na agenda internacional? Ficar permanentemente sendo tratado como pobrezinho econômico?
Que coisa...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil rejeita ideia de criação de uma nova categoria para grandes países emergentes
Por Assis Moreira
Valor Econômico, 21/07/2015

O Brasil sinaliza que continua a confiar na possibilidade de compromissos de liberalização na conferência ministerial da Organização Mundial do Comercio (OMC) em dezembro, em Nairóbi (Quênia). Mas rechaça a eventual criação de nova categoria de emergentes para serem tratados como países avançados nas barganhas.
Os países deverão reconhecer nos próximos dias, numa reunião convocada pelo diretor-geral, Roberto Azevêdo, que não dará para definir até o fim deste mês o programa de trabalho com temas pendentes para uma tentativa de conclusão da Rodada Doha. Em meio ao impasse, o plano agora será continuar negociando, com a expectativa de obter resultados na capital do Quênia, no fim do ano.
Em entrevista ao Valor, o embaixador brasileiro junto à OMC, Marcos Galvão, afirmou que há anos não havia engajamento como existe agora na discussão de Doha, mas admitiu que a aprovação do programa de trabalho agora talvez fosse prematuro, pois exigiria tomar certas decisões até o fim deste mês. Além da dificuldade normal de avanços numa negociação multilateral, com mais de 160 países, Galvão observa que o contexto atual da economia mundial "tem elementos adversos e desafiadores".
No entanto, o Brasil continua vendo possibilidade de "se alcançar um resultado significativo em Nairóbi, com melhora em relação ao status quo". "Não será provavelmente tudo o que se almejou no passado, mas continuamos a trabalhar num resultado que seja um avanço em relação ao que temos hoje", afirmou Galvão.
O embaixador reiterou que o Brasil está "intensamente engajado" em obter resultados nos três pilares da agricultura - acesso a mercado, controle dos subsídios à produção e proibição definitiva dos subsídios a exportação. Galvão é incisivo, por outro lado, na rejeição das ideias de reclassificação de grandes emergentes, afim de assumirem maiores compromissos de liberalização. "Seria um desdobramento inaceitável para os países em desenvolvimento em geral e para Brasil, Índia e China, por exemplo, em especial", disse Galvão. "Graduação seria inaceitável para países emergentes."
Pelo princípio de graduação, elimina-se ou diminui benefícios, como tratamento especial e diferenciado (corte menor de tarifa, prazo maior para abrir seu mercado), para países que alcançaram outro estágio de competitividade. Países ricos insistem que o Brasil de hoje não é o mesmo de 20 anos atrás.
"A tese da graduação é algo com que os países em desenvolvimento não podem conviver", afirmou Galvão. "Se é verdade que existem diferenças de estágio de desenvolvimento, por outro lado os países não se definem como em desenvolvimento gratuitamente. Eles têm enormes desafios sociais, enormes deficiências em infraestrutura etc."
Galvão observa que "continuamos a ter características de país em desenvolvimento". E que já há diferença entre economias de menor desenvolvimento relativo e economias pequenas e vulneráveis em termos de concessões nas negociações comerciais. "Criar nova categoria de grandes emergentes, que passem a ser tratados como os países avançados, é inconcebível e, insisto, inaceitável para o Brasil e vários outros", disse o representante brasileiro na OMC.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

BRICS: ingenuos acham que China se dobra a acertos no grupo - servicosna OMC

A China não renegou emergentes. Ela apenas cuidou dos seus próprios interesses, sem maiores considerações grupais, essas coisas de países emergentes, em desenvolvimento, contra a agenda dos ricos essas bobagens...
Apenas ingênuos acham que a China vai submeter suas conveniências econômicas nacionais ao que pensam outros países, em quaisquer foros, contextos ou assuntos, sobretudo quando se trata de matérias nas quais ela atua apenas e tão somente com pragmatismo, sem qualquer consideração ideológica, como podem ter outras burocracias nacionais afastadas das necessidades de seus empresários ou da própria população.
Ela tampouco vai deixar o G20 comercial, onde também defende seus interesses (defensivos, no caso, e contra os interesses do Brasil), independentemente do que possam pensar outros (ou os mesmos ingênuos de sempre) e dos propósitos proclamados do grupo.
Os outros que se acomodem...
Sem sorrisos amarelos, desta vez.
Paulo Roberto de Almeida

China renega emergentes em acordo comercial
Por Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico18/10/2013

O pedido de adesão da China a uma negociação liderada pelos Estados Unidos para acelerar a liberalização no comércio internacional de serviços provocou reação conjunta de Brasil, Índia e África do Sul junto aos chineses para tentar preservar uma coordenação entre os grandes emergentes, conforme o Valor apurou.

Esses quatro países formam informalmente o chamado Bics na Organização Mundial do Comércio (OMC). Juntos, podem ter mais peso nas negociações multilaterais de comércio e por tabela na governança global, ante certas posições de nações desenvolvidas.

Mas a decisão chinesa de pedir para entrar na negociação plurilateral (de adesão opcional) do chamado Trade In Services Agreement (Tisa; Acordo sobre Comércio de Serviços) enfraquece os que estão fora da negociação, caso de Brasil, Índia e vários outros emergentes.

Essa negociação do Tisa foi lançada em 2012 pelos EUA em resposta ao impasse nas negociações multilaterais (com participação de todos os membros da OMC) da Rodada Doha. Na ocasião, Pequim e outros grandes emergentes denunciaram que a iniciativa comandada pelos Estados Unidos diminuiria as chances para um acordo na Rodada Doha e afetaria o próprio sistema multilateral.

Daí a surpresa dos parceiros quando, neste mês, Pequim pediu para entrar na negociação limitada nesse segmento do comércio global que somou US$ 4 trilhões no ano passado, e que antes rejeitava firmemente.

A ideia é os participantes do Tisa se comprometerem já de entrada com a melhor abertura que ofereceram até agora em qualquer outro acordo. A partir daí, eventualmente ampliar as ofertas de acesso ao mercado entre seus participantes no setor que inclui serviços financeiros, de telecomunicações, transportes, construção, turismo, distribuição, movimento de profissionais e outros.

Nesse cenário, os Bics fizeram uma reunião discreta nesta semana em Genebra para entender porque os chineses mudaram repentinamente de posição. Normalmente o grupo dos grandes emergentes é o Brics, que inclui a Rússia. Só que Moscou entrou recentemente na OMC, tem tido participação pouco expressiva e não demonstrou maior interesse em ações em grupo na entidade global de comércio, até agora.

Conforme diferentes fontes, na reunião dos Bics no nível de embaixadores, os parceiros lamentaram que os chineses não tenham informado antes a seus parceiros do movimento em direção à negociação de serviços. Sobretudo os indianos disseram aos chineses que será muito difícil que os EUA deixem Pequim entrar no Tisa.

A decisão será essencialmente do Congresso americano, num prazo de 90 dias, e deve vir com muitas condições. Os americanos querem evitar que Pequim repita o que fez ao entrar no Acordo de Tecnologia de Informação (ITA, na sigla em inglês). Ao invés de liberalizar, no ritmo esperado por americanos e europeus, os chineses apareceram com uma lista grande de produtos considerados sensíveis que precisavam de proteção.

Os parceiros manifestaram o interesse de continuar a coordenação que vinham tendo até agora nas negociações na OMC. Pediram para Pequim manter-se com eles pelo fortalecimento do sistema multilateral, ao invés de iniciativas plurilaterais (de adesão opcional), onde a margem de barganhas é bem mais limitada.

No entanto, o representante chinês não abriu a boca no encontro dos Bics. Se a tentativa era de convencer Pequim a desistir de sua adesão, não funcionou, nota um observador na cena comercial.

Isso significa também que a China não vai sair de nenhum grupo - nem do G-20 agrícola, nem dos Bics nem de qualquer outro. Joga em todos os tabuleiros onde pode alavancar suas posições.

Pequim tem planos de aumentar suas exportações de serviços. O país foi o quinto maior exportador no setor em 2012, com US$ 190 bilhões, e o terceiro maior importador, com US$ 281 bilhões. A Índia foi o sexto maior exportador, com US$ 149 bilhões, e o sétimo maior importador, com US$ 125 bilhões. O Brasil exportou US$ 38 bilhões e importou quase o dobro.

Sem a China ao lado deles, aumentou o risco de isolamento de Brasil, Índia e África do Sul na área de serviços. Podem ficar de fora do desenho inclusive das regras num dos setores mais dinâmicos da economia mundial. A negociação do Tisa terá impacto inevitável mais tarde em qualquer acordo global de serviços com todos os membros da OMC.