Saiba
o que pensam os 11 candidatos à presidência sobre economia
Rafael Hotz
1
de setembro de 2014
Nesse
texto iremos analisar as propostas macroeconômicas de todos os
candidatos, mostrando quais são seus erros e virtudes. [NOTA PRA: só
consideramos aqui os três primeiros, pois os demais são irrelevantes.]
As
análises tomam como base os programas arquivados no site do TSE, exceto no caso
de Marina Silva, para a qual consideramos o programa liberado em seu site de
campanha no dia 29/08.
Focamos
apenas nas propostas macroeconômicas por conveniência prática, uma vez que
precisaríamos de um livro para cobrir todas as propostas econômicas (e as
demais propostas). Os resultados da análise dizem respeito somente a esse
tópico específico.
Fornecemos
ainda um quadro resumo geral de cada candidato e um gráfico mostrando quão
pró-empreendedorismo ou anti-empreendedorismo ele é.
Gráfico
Resumo
A
escala do gráfico varia de “0” (status-quo = candidata do PT = Dilma) até “5” e
–“5”.
Temos
que “5” é igual ao candidato percebido na análise como o mais
pró-empreendedorismo, e todos os candidatos percebidos como mais
pró-empreendedorismo do que o status quo são comparados na escala de “0” a “5”
com o candidato “5”. O procedimento análogo é feito com o candidato percebido
como mais anti-empreendeorismo (igual a –“5”).
As
escalas são subjetivas e deste analista unicamente. O “5” e o “-5” não possuem
a mesma intensidade (são comparadas separadamente em relação ao “0”). O “5” e o
“-5” não representam nem se comparam a um pró ou anti-empreendedorismo ideal. O
gráfico não é um Diagrama de
Nolan.
Percebemos
que o candidato mais pró-empreendedorismo, dentre aqueles considerados mais
pró-empreendedorismo do que o status quo, é o candidato Pastor Everaldo. Sua
diferença percebida para os demais candidatos é grande somente em relação ao
candidato Eymael.
Do
outro lado, três candidatos anti-empreendeorismo são considerados do mesmo
calibre no extremo, com pequena diferença para a candidata mais próxima. O
candidato Levy Fidelix foi considerado do status quo.
Quadro
Resumo
Análise
das Políticas Macroeconômicas
1)
PT – Dilma Rousseff
Começamos
com o programa do PT. O documento arquivado na página do TSE não é um programa
de governo dividido em tópicos, mas na verdade uma sopa de estatísticas,
aspirações e louvores aos feitos de 12 anos de governo PT (sim, os marqueteiros
do próprio PT consideraram estritamente necessário vincular Dilma a uma
continuação do governo Lula da Silva).
O
documento torna até difícil a comparação com as ideias e propostas dos demais,
uma vez que o mesmo é majoritariamente escrito no tempo verbal passado e com
diversos temas distintos intercalados. Ou seja, bagunçados como as contas
públicas federais da gestão Rousseff. Assim sendo, um aperitivo:
“A
política macroeconômica defendida nas campanhas eleitorais e executada nos
governos do PT e dos partidos aliados é baseada na construção de condições para
redução sustentável das taxas de juros; na flexibilidade da taxa de câmbio em
patamares compatíveis com as condições estruturais do País; na inflação baixa e
estável; no rigor da gestão fiscal; na ampliação do investimento público; no
incentivo ao investimento privado e no fortalecimento das parcerias entre
Estado e iniciativa privada.”
Olhando o retrovisor, conforme a equipe da Sra. Rousseff deseja,
não nos surpreende a debandada de aliados propondo políticas econômicas agora
opostas, como Pastor Everaldo e Marina Silva.
A
taxa de juros nominal (SELIC) foi reduzida na canetada. Mas justamente pela
falta de construção de condições (dentre elas, a redução dos gastos públicos),
a mesma teve que ser elevada a patamares praticamente idênticos ao do início da
gestão. E ainda sim a inflação supostamente baixa precisa ser manipulada com
política tributária para bater no teto da meta…
O
câmbio flutuante foi jogado fora. Os dizeres “patamares compatíveis com as
condições estruturais do país” reforçam a tese de que o alto escalão do governo
acredita que o câmbio deva ser desvalorizado para que supostamente a indústria
nacional não quebre – como se a presença de diversos setores industriais em
nossa área geográfica fosse o melhor para os consumidores. Ou então para que
não haja um bicho papão chamado “doença
holandesa”.
Só
esqueceram-se de perguntar a qualquer indivíduo consumidor dentro
das linhas imaginárias que compõem o Brasil se ele se incomoda ou não com a
apreciação cambial, ou se ele se importa com as linhas imaginárias dentro das
quais os produtos que ele consome foram produzidos.
O
investimento público continua pífio, mesmo tendo havido a Copa (suposta
desculpa para diversas obras urbanas superfaturadas) e a inclusão do Minha Casa
Minha Vida nas rubricas. O investimento privado foi totalmente desincentivado
com a incerteza regulatória gerada no governo Rousseff (vide setor elétrico).
As
maravilhosas parcerias entre Estado e iniciativa privada nos brindaram, dentre
outras dádivas, com os incríveis campeões nacionais que apenas perdem, além da
crise do grupo X. Enfim, o parágrafo é um completo nonsense.
O
parágrafo a seguir é o único que menciona a política macroeconômica no tempo
verbal futuro.
“Um
dos alicerces deste novo ciclo é o fortalecimento de uma política
macroeconômica sólida, intransigente no combate à inflação e que proporcione um
crescimento econômico e social robusto e sustentável. Crescimento econômico
estimulado pelo aumento da taxa de investimento da economia e pela ampliação de
um mercado doméstico sólido e dinâmico, e que ocorra sem obstáculos, graças à
expansão dos investimentos em infraestrutura. Prosperidade social que seja
acompanhada pela geração de oportunidades para todos, por meio dos programas de
inclusão dos historicamente excluídos e da educação para elevar a formação e a
qualificação científica e técnica de nosso povo.”
Os
assessores de Dilma continuam sem entender que, tudo mais constante, há um
dilema econômico entre presente e futuro, entre mais consumo e mais
investimento.
Mais
consumo (“pela ampliação de um mercado doméstico”) significa menos recursos
para financiar investimentos. Significa menos crescimento e, por consequência,
menos consumo no futuro. Fazem isso há 12 anos (com maior intensidade nos
últimos 6) e ainda não perceberam a ineficácia.
Como
nada mais é dito no programa, podemos inferir que a proposta do PT se trata de
mais do mesmo: o teto da meta de inflação é o alvo, o superávit primário foi
descartado, as contas públicas são um labirinto e o câmbio flutuante foi
banido.
==========
2)
PSB – Marina Silva
O
tardio documento da candidata relâmpago é aquele com o layout mais trabalhado,
tendo 124 páginas, cores e divisão em seis eixos. Considerando ainda que a
fonte é pequena e as folhas são duplas, é de dar medo: é muita vontade de criar
novas regras e exercer poder!
Sua
seção sobre economia ocupa 25 dessas páginas. O estilo de escrita, utilizando
até gráficos, deixa clara a influência dos economistas associados, mais
notadamente Eduardo Giannetti e André Lara Resende. E não só a escrita, como o
diagnóstico dado para os problemas econômicos atuais e algumas frases em “economês”
e de efeito, como por exemplo:
“Devidamente
regulamentados, esses mercados promovem a alocação eficiente de recursos, a
diversificação dos riscos, a redução dos custos de transação e a melhora dos
padrões de governança corporativa.”
“O
governo deixará de ser controlador dos cidadãos, para se tornar seu servidor.
Deixará de ver o setor público como o criador da sociedade. O Estado tem de
servir à sociedade, e não dela se servir.”
Legal,
mas lembremos: falar até papagaio fala! E quem muito fala uma hora se enrola.
Aliás, esse lembrete é o mais importante quando lemos o programa da Sra. Silva.
Parte
do programa econômico versa sobre questões macroeconômicas, parte sobre
questões microeconômicas, como por exemplo, política energética, e parte sobre
coisas como economia de baixo carbono, preservação ambiental, desigualdade de
renda e coisas do gênero. Comentaremos a parte macroeconômica, assim como algum
outro tópico relevante.
“•
Recuperar o tripé macroeconômico básico, que implica:
1)
trabalhar com metas de inflação críveis e respeitadas, sem recorrer a controle
de preços que possam gerar resultados artificiais, e criar um cronograma de
convergência da inflação para o centro da meta atual;
2)
gerar o superávit fiscal necessário para assegurar o controle da inflação − a
médio prazo, os superávits devem ser não só suficientes como também
incorporados na estrutura de operação do setor público, de tal maneira que
possam ser gerados sem contingenciamentos.
3)
manter a taxa de câmbio livre, sem intervenção do Banco Central, salvo as
ocasionalmente necessárias para eliminar excessos pontuais de volatilidade, com
vistas a sinalizar para o mercado que políticas fiscais e monetárias serão os
instrumentos de controle de inflação de curto prazo.”
Ok,
metas críveis e respeitadas, mas qual é a meta? Ao que parece é a meta atual de
4,5% mesmo… Nesse quesito é válida e Lei de Tiririca, pior que está não fica.
Menos mal.
Ok,
os superávits supostamente serão feitos, e mais para frente não haverá mais o
golpe do contingenciamento de recursos, finalmente havendo um orçamento crível
logo quando de sua elaboração? Ótimo, queremos ver.
Câmbio
flutuante… Pera, câmbio que flutua, mas que quando eu quiser ele não flutua
mais? Bom, a Lei de Tiririca é válida novamente, menos mal.
“•
Assegurar a independência do Banco Central o mais rapidamente possível, de
forma institucional, para que ele possa praticar a política monetária
necessária ao controle da inflação. Como em todos os países que adotam o regime
de metas, haverá regras definidas, acordadas em lei, estabelecendo mandato fixo
para o presidente, normas para sua nomeação e a de diretores, regras de
destituição de membros da diretoria, dentre outras deliberações. O modelo será
mais detalhado após as eleições, com base em debates já avançados sobre o
tema.”
Um
limite efetivo e real sobre o poder de atuação do Banco Central, no entanto, é
muito mais importante do que independência operacional.
Um
Banco Central comandado por analfabetos econômicos de forma operacionalmente
independente, com poucas restrições à sua atuação, é muito pior do que um Banco
Central cuja emissão de moeda é proibida por seu estatuto ou fixada a uma taxa
muito baixa.
No
mais, a equipe da Sra. Silva se esquivou. Possuem a desculpa da pressa de
elaboração do documento e a candidatura inesperada.
“•
Acabar com a maquiagem das contas, a fim de que elas reflitam a realidade das
finanças do setor público.
•
Reduzir a dívida modificada − definida como dívida bruta menos reservas −,
evitando-se artifícios que contribuam para realizar gastos sem elevar o déficit
primário ou o endividamento líquido do setor público.”
Contas
públicas transparentes e sem truques é o bê-á-bá. Reduzir dívida bruta? Ok, mas
como? Aumento de impostos? Ou corte de gastos? Ficamos esperando mais dicas…
“•
Corrigir os preços administrados que foram represados pelo governo atual,
definindo regras claras quando não existirem.
•
Reduzir o nível de indexação da economia.”
A
correção de preços administrados é algo que deve ser feito imediatamente, para
que tenhamos noção do estrago feito por tal intervenção. Os setores afetados
(principalmente gasolina e energia) precisam saber quanto vale seu produto e
quanto se descapitalizaram com o experimento da gestão Rousseff. E de quebra
precisamos saber qual foi a conta que deverá ser paga.
Quanto
à indexação, ela será reduzida assim que o mercado passar a acreditar em
cenários macroeconômicos mais previsíveis e com inflação mais baixa. Indexação
nada mais é do que um hedge contra a inflação – qualquer pessoa racional irá
utilizá-la enquanto houver inflação.
“•
Criar o Conselho de Responsabilidade Fiscal (CRF), independente e sem
vinculação a nenhuma instância de governo, que possa verificar a cada momento o
cumprimento das metas fiscais e avaliar a qualidade dos gastos públicos. O
propósito será acompanhar a execução do orçamento da União, aprovado pelo
Congresso Nacional. Além de tratar do andamento de receitas e despesas ao longo
do ano, este órgão deverá evoluir em direção à análise de horizontes mais
longínquos e fornecer instrumentos para o planejamento público, de caráter
transversal, a longo prazo. Os quadros desse conselho deverão ser escolhidos
por critérios técnicos, com regras transparentes, estabelecidas em lei e
aprovadas pelo Congresso.”
Poxa,
temos TCU (Tribunal de Contas da União), CGU (Controladoria Geral da União),
Ministério do Planejamento, Ministério da Fazenda e precisamos criar mais um
órgão de controle fiscal para que haja controle das contas públicas? Tá de
sacanagem né? É mais fácil reduzir a quantidade de dinheiro que passa por
Brasília…
“Nossa
coligação assume o compromisso de encaminhar ao Congresso Nacional proposta de
emenda constitucional que reformule profundamente o sistema tributário
orientada pelas seguintes diretrizes: não-aumento da carga, simplificação dos
tributos, eliminação da regressividade, redução da taxação dos investimentos,
justiça tributária, transparência e melhor repartição das receitas entre os
entes federados.
Antes
de tudo, cabe destacar o compromisso com a simplificação de impostos,
contribuições e procedimentos das empresas. Reduzir o número de tributos e
tornar mais simples seus cálculos e os procedimentos para recolhimento são
princípios essenciais da reforma.”
Mais
acima notamos que a equipe da Sra. Silva quer reduzir a dívida bruta (aumentar
o superávit primário). Agora diz que não pretende aumentar impostos. Só não li
em parte alguma que pretendem reduzir gastos! Redução no programa, apenas de
emissões de carbono… Quem muito fala acaba se entregando…
Eliminar
regressividade combinada com a redução de taxação de investimentos (pessoa
jurídica) e manutenção da carga tributária só pode significar uma coisa: as
alíquotas mais altas do IRPF subirão e tributos indiretos
cairão! E não se surpreendam se um “imposto sobre grandes fortunas” aparecer…
Sim,
poderia ser pior: todos poderiam pagar mais os impostos para fazer superávit
primário. Mas também poderia ser melhor: os impostos poderiam cair para todos,
assim como a regressividade, caso os gastos públicos caíssem. Mas o
programa não prevê explicitamente corte de gastos…
No
mais, simplificação de tributos é bom, todos prometem, mas ninguém nunca
consegue fazer. Menos mal.
“Resumidamente,
alguns problemas do mercado de crédito atual devem ser resolvidos em nosso
governo. São eles: 1) subsídios não transparentes ao crédito; 2) acesso
discricionário para as grandes empresas a partir de bancos públicos; 3) custo
do crédito muito elevado, especialmente para a população mais pobre.
O
último item merece análise mais detida. O Brasil trabalha com elevados spreads
bancários – spread é diferença entre as taxas de juros cobradas de tomadores de
crédito e as pagas a quem investe dinheiro no banco. Os motivos principais
disso são: impostos altos, regulação inadequada, taxa básica de juros quase
sempre elevada e baixo nível de informação sobre potenciais tomadores de crédito.”
Um
adendo: a equipe de economistas da Sra. Silva está errada quando diz que a taxa
básica elevada é causa do spread alto, quando o próprio spread é a diferença
entre a taxa básica paga e a taxa cobrada na ponta.
Por
regulação inadequada espero que a equipe da Sra. Silva lembre das regulações
bancárias de Basiléia, que isentam os títulos públicos de requerimentos de
capital e oneram o crédito ao setor privado. Além disso, eu acrescentaria falta
de competição: mas para isso é necessário políticas macroeconômicas estáveis
que permitam vinda de recursos do exterior…
“Diante
desses problemas, devemos caminhar gradualmente para um sistema no qual o
crédito público para empresas seja complementar, e não inibidor do sistema de
crédito privado, focando em negócios com as seguintes características: 1)
empresas pequenas e nascentes; 2) projetos inovadores ou com alto impacto
social; 3) projetos de maturação muito longa que exijam alto volume de
recursos, como obras de infraestrutura.”
Em outra oportunidade, criticamos justamente um bem intencionado
economista mainstream que defendia direcionamento de crédito público para estas
atividades. Repetindo, falar em subsídios para a “inovação” ignora o fato básico
de que os recursos são escassos, e um dado nível de renda e consumo
demanda uma determinada previsibilidade de oferta.
No
mais, a atividade empresarial nada mais é do que inovação constante. O
combustível para essa inovação consiste nos lucros potenciais gerados ao
atender eficientemente demandas de consumidores até então não atendidas ou
demandas sequer concebidas.
A
inovação pode vir de qualquer empresa, nova ou velha, pequena ou grande. Para
haver inovação, basta haver ausência de barreiras legais para empreender. Se a
gestão Rousseff errava para um lado, a equipe da Sra. Silva parece querer errar
para outro. Small not always is beautiful.
“Os
subsídios ao crédito agropecuário e aos programas de habitação popular deverão
continuar, mas com maior participação dos bancos privados, evitando subsídios
não computados e ineficiências na alocação. A transição deve ser gradual, para
que não se provoque redução de investimentos, quando o objetivo é ampliá-los.
Nessa perspectiva, pretendemos desenhar um sistema de incentivos para
investimentos em debêntures, propiciando mais fontes de crédito acessíveis ao
setor privado (por exemplo, alterando a regulação de fundos de pensão), e para
empréstimos de longo prazo dos bancos privados para empresas.”
Mais
do mesmo? Ademais, como se quer evitar ineficiências na alocação de recursos
quando está se fazendo algo que por si só é ineficiente – dando um subsídio?
“Quanto
ao custo do crédito, é possível reduzi-lo, especialmente para as camadas mais
pobres da população, atuando ao mesmo tempo sobre as várias causas do alto
spread. Propomos a redução de impostos, em particular a eliminação do IOF sobre
empréstimos, e do nível de reservas compulsórias. Além disso, reformularemos o
mercado de crédito de tal forma que, gradualmente, se eliminem os
direcionamentos obrigatórios, e regulamentaremos a garantia guarda-chuva (na
qual um mesmo bem garante todas as operações de crédito de um cliente, o que
gera impacto importante nos juros do cartão de crédito e do cheque especial) e
o cadastro positivo.”
A
equipe da Sra. Silva quer reduzir os depósitos compulsórios sobre que tipo de
depósito? Depósitos à vista são contratos de custódia e deveriam possuir
compulsório de 100%, para que não houvesse reservas fracionárias. Já os
depósitos a prazo e depósitos em poupança não deveriam ter compulsório, uma vez
que consistem em contratos de empréstimo, ao menos em teoria [1].
No
mais, o fim dos direcionamentos obrigatórios é um must e afetará diretamente as
taxas de juro livre. Mais sobre isso ao comentar outros candidatos…
Em
linhas gerais, podemos ver o programa da candidata Sra. Silva como uma
tentativa de volta ao primeiro governo Lula, adicionando uma disposição para
reformas microeconômicas… A ela resta o benefício da dúvida…
============
3)
PSDB – Aécio Neves
O
programa do candidato Sr. Neves também é um documento dividido em tópicos,
facilitando o trabalho do leitor. O programa ainda é claro no que diz respeito
às propostas. Vamos a elas.
“1.
Autonomia operacional ao Banco Central, que irá levar a taxa de inflação à meta
de 4,5% ao ano. Uma vez atingida, a meta será reduzida gradualmente, assim como
a banda de flutuação, atualmente em mais ou menos 2%. O Banco Central deverá
também suavizar as flutuações do ciclo econômico e zelar pela estabilidade
financeira.”
O
PSDB ao menos se compromete formalmente em restaurar os pilares macroeconômicos
básicos que foram utilizados no período de estabilidade (2003 até 2010).
Reduzir a tolerância à inflação de preços é algo positivo, bem como a redução
da banda de flutuação do regime de metas.
Ainda
sim, o programa é muito tímido do ponto de vista da Escola Austríaca.
Considerando tudo mais constante, a inflação de preços é causada pelo aumento
na oferta monetária, esta efetuada pelo Banco Central e pelo sistema de
reservas fracionárias nos bancos comerciais, o qual o primeiro é capaz de
influir.
Um
programa que realmente quisesse promover estabilidade macroeconômica deveria
inicialmente congelar a base monetária, o que implicaria no fim da emissão de
moeda pelo Banco Central. Isto implicaria no fim da compra de dívida pública
por parte do Banco Central (calote inflacionário).
Numa
economia que cresce, os preços caem conforme as coisas se tornam mais
abundantes. Não deveria haver piso positivo para a meta de inflação de preços –
de fato, sequer deveria haver uma meta de inflação de preços!
Tudo
mais constante, como consequência, teríamos um câmbio continuamente em
apreciação, uma vez que os demais governos continuam a imprimir moeda e
desvalorizar seu câmbio. O ganhador seria o brasileiro comum, que veria cada
vez mais ampliado seu acesso a bens e serviços importados, melhorando seu
padrão de vida.
As
indústrias teriam acesso a insumos baratos advindos do exterior. Os setores
mais eficientes seriam os que sobreviveriam. Os setores não competitivos iriam
à falência, porém isto é algo positivo: os insumos até então utilizados por
eles ficariam à disposição de outros setores, possibilitando um aumento de
produção sem pressão nos custos.
“2.
Geração de um superávit primário suficiente para, gradualmente, reduzir as
dívidas líquida e bruta em comparação ao PIB. Este superávit poderá ser
ajustado para refletir o movimento cíclico da economia.”
Aos
leigos: superávit primário é quanto o setor público poupou para pagar dívida.
Sem ele, caso o governo arrecade menos do que gasta (a norma), o governo terá
que confiscar recursos via emissão de moeda (inflação) ou postergar o problema
via emissão de mais dívida pública.
O
programa é bem vindo no sentido de que propõe reduzir a divida bruta em relação
ao PIB. No entanto, o programa é muito tímido e pouco claro caso seja criticado
do ponto de vista da Escola Austríaca.
O
suposto gradualismo confere uma discricionariedade muito grande ao governo. Ele
pode aumentar pouco ou até mesmo não aumentar o superávit caso julgue adequado.
Uma
“adequação cíclica” do superávit implica duas coisas. A primeira é não entender
como se dão os ciclos econômicos. Os mesmos são iniciados com a emissão de
moeda por parte do próprio sistema bancário, gerando inicialmente uma falsa
sensação de prosperidade.
Com
mais moeda no sistema, as taxas de juro são artificialmente deprimidas e a
inflação de preços começa a aparecer. A dívida pública é monetizada, os
poupadores são confiscados e o governo ganha mais acesso a recursos. O ciclo
econômico é justamente a morfina que permite ao governo gastar mais e sair
impune. Ou seja, confunde-se causa com consequência.
A
segunda é crer que um aumento no déficit público pode ser algo bom, dependendo
das circunstâncias.
Déficit
público mais elevado significa drenar recursos do setor privado em direção ao
governo. É simplesmente nonsense acreditar que num momento de dificuldades pode
ser eficaz enviar recursos a uma entidade necessariamente ineficiente, que não
efetua cálculo econômico racional (não é capaz de destinar recursos para
produzir sem desperdícios aquilo que mais se demanda).
“3.
Inclusão, no cálculo dos gastos públicos do governo, de todas as despesas,
subsídios e desonerações, sem uso de quaisquer artifícios. Esta é uma
necessidade absoluta para a construção de um regime macroeconômico robusto.
Mais do que isso, é também uma condição básica para o funcionamento de uma
democracia, que não admite espaços para gastos públicos extra orçamentários.”
Aqui
estamos de acordo. A contabilidade criativa instaurada na gestão Rousseff gera
incerteza regulatória e afasta investimentos. O próprio governo deveria
entender que ao tentar “ser malandro” ele afasta compradores de sua própria
dívida, tendo que pagar um prêmio adicional para captar recursos junto ao
mercado.
“4.
Criação de ambiente de segurança jurídica, com respeito aos contratos, e de
atração de investimentos para o país.”
De
acordo. A Incerteza regulatória instaurada na gestão Rousseff afasta
investimentos e reduz o crescimento. Trata-se do bê-á-bá.
“5.
Minucioso esforço de acompanhamento e avaliação do gasto público, que dê
transparência ao processo e permita o contraditório.”
Acompanhar,
avaliar, isso todo mundo faz. E quanto a cortar? Seria esse o “contraditório”? Seria
medo do PSDB em falar aquilo que quer fazer? Ou eles sequer têm algo a prometer
quanto a isso?
No
mais, reduzir gastos públicos é essencial. Significa que o governo poderá
emitir menos moeda, arrecadar menos impostos e emitir menos dívida. Significa taxas
de juro mais baixas e mais dinheiro no bolso do brasileiro. Ao menos não deixam
explícito que vão aumentar. Mas nunca duvide…
[NOTA
PRA: o texto continua na análise das propostas econômicas dos candidatos
nanicos, mas não há necessidade de considerá-las, mesmo se as propostas possam
apresentar algum valor intrínseco – como por exemplo, o liberalismo de fachada
do Pastor Everaldo, que acredito nem ele saiba bem o que é – pois eles não têm
nenhuma chance de influenciar as políticas econômicas.]