Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 16 de outubro de 2010
A Economist fala sobre o nada: Republica Surrealista Popular da Coreia do Norte
Ela é mais conhecida por sua fina ironia, por vezes por um sarcasmo sutil.
Pois bem, a matéria abaixo é só ironia, e eu até diria de um sarcasmo atroz.
Falar de flores para se referir à Coréia do Norte é, segundo as mentes mais sensatas, o absurdo dos absurdos.
Mas é a isso que corresponde exatamente a Coréia do Norte, provavelmente o Estado mais absurdo que possa jamais ter existido na face da Terra, o reino mais surrealista que já apareceu em nosso pobre planeta, a situação mais esquizofrênica jamais conhecida na geopolítica mundial, o país do sofrimento absoluto (tirando o Zimbabue, claro).
Enfim, a Economist exagera em falar do nada neste artigo abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Asia view
North Korean iconography
A Kimjongunia would smell as sweet
The Economist, October 14th 2010
PYONGYANG - SOMETIMES there are Kimilsungia exhibitions. Sometimes there are Kimjongilia ones. Citizens of Pyongyang are also treated to combined Kimilsungia and Kimjongilia shows. One such got underway at the beginning of this month, at the Kimilsungia-Kimjongilia Exhibition House: innumerable pots filled with the same two kinds of plant, a monotony alleviated only by a guide’s prediction that North Korea will one day get a third variety.
Kim Jong Il has resisted his late father Kim Il Sung’s predilection for studding North Korea with statues of himself (Pyongyang’s first of Kim Jong Il was reportedly unveiled earlier this year, 16 years after he succeeded his father as North Korea’s leader). Instead, Kim Jong Il says it with flowers. Foreign correspondents invited in for celebrations of the ruling party’s 65th birthday on October 10th saw them everywhere: on billboards, on huge digital screens erected for the festivities on Kim Il Sung Square, in a cascading display in the hotel lobby and in endless profusion at the exhibition (along with huge portraits of the two Kims).
Kim Il Sung officially remains president, against the odds, but the Kimjongilia, a giant red begonia, somehow leaves its visual stamp on Pyongyang even more pervasively than the Kimilsungia, a normal-sized purple orchid. It might be said that the Kimjongilia’s bouffant petals echo the hairstyle of North Korea’s eponymous ruler, but a guide at the exhibition has a more politically correct explanation of the flower’s appearance. Its bright red hue, she says, reflects Kim Jong Il as a “person of passion, with a very strong character”.
A journalist asked whether different temperature requirements made it difficult to keep begonias and orchids together. “We grow them with our hearts”, said the guide. In August North Korea’s Kimilsungia and Kimjongilia Research Centre came up with what might be a more reliable way of getting the best out of the Kimjongilia. After “years of research”, said the state news agency KCNA, it devised a chemical agent that could lengthen the blooming period by a week in summer or by 20 days in winter.
Interspersed among the potted plants were occasional models of items representing the two leaders’ great achievements: “a nuclear weapon” was how the guide described one missile-like object. Another was a model of a rocket supposedly carrying a satellite into space (the actual rocket blew up after launch in April 2009, but North Korean officials resolutely insist that it successfully put a satellite into orbit). Another represented a hand grenade, rifle and rocket launcher. But, no doubt deliberately, it was the Kimjongilia’s redness that struck the eye.
One display was of potted Kimjongilias supposedly donated by foreign diplomatic missions. China’s was uppermost, together with a photograph of Kim Jong Il shaking hands with China’s president, Hu Jintao. Individual European countries were conspicuous by their absence, but there was one pot plant there in the name of the European Union. (The North Koreans had tried to gouge each of the seven European embassies in Pyongyang for flower contributions—though hard currency, it was understood, would do nicely in lieu. The single Kimjongilia was their cost-saving solution.)
Oddly for plants that have acquired such crucial political significance in North Korea—the army has its own huge breeding centre for them—both are actually foreign creations. The Kimilsungia was presented in 1965 by Indonesia’s founding president, Sukarno, and the Kimjongilia arrived in 1988, courtesy a Japanese botanist. Kim Jong Un, Kim Jong Il’s anointed successor, who was seen by foreign journalists for the first time on October 9th and 10th, has yet to acquire a flower. “In future we will have one”, assures the guide.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Banco Nacional de Desenvolvimento das Causas Engajadas
Apenas um trecho:
Em quinze dias de banco, Lessa mudou todos os diretores e superintendentes. “Aquilo lá estava coalhado de tucanos e gente favorável à privatização; eu não podia trabalhar com aquelas pessoas”, explicou. Funcionários tarimbados foram isolados em pequenas salas e deixados sem função. Alguns entraram em depressão e outros se aposentaram. Lessa fez um concurso público e aumentou o número de funcionários de 1 600 para os atuais 2 250. Os novos foram treinados no ideário desenvolvimentista e orientados a não conversarem muito com os antigos. “Foi um período de horror”, contou um velho funcionário. “Havia até câmeras nas salas para vigiar os funcionários.”
Republica Otimista Bolivariana e as exigencias para a ONU
Um dia isso vai ser realidade..
Venezuela exige en la ONU la destrucción total y completa de armas nucleares
(nada menos do que isso...)
El representante permanente de Venezuela ante la Organización de Naciones Unidas (ONU), embajador Jorge Valero, exigió ayer jueves en ese foro internacional la destrucción total y completa de las armas nucleares en el mundo.
“Venezuela considera que la única garantía de la paz y la seguridad internacionales es la destrucción total y completa de las armas nucleares. Así lo exigimos”, enfatizó durante un debate temático sobre armas nucleares efectuado en la sede de la ONU en Nueva York, Estados Unidos.
Dijo que desde el inicio de la era de las armas nucleares el mundo vive bajo la amenaza latente de una guerra nuclear, “que significaría el exterminio de la especie humana. La mera existencia de estas armas representa uno de los más graves peligros para la humanidad”.
Subrayó que la delegación venezolana considera “que los países poseedores de armas nucleares tienen la mayor responsabilidad en la aplicación de medidas tendientes a reducir y eliminar sus arsenales nucleares, en consonancia con la letra y espíritu del Tratado de No Proliferación (TNP)".
“El presidente de la República Bolivariana de Venezuela, Hugo Chávez, ha alertado al mundo de que el mayor riesgo de que se desate una guerra nuclear en el mundo proviene de Israel, que tiene bombas atómicas”, expresó.
Destacó la necesidad de continuar “trabajando en el fortalecimiento del plan de acción adoptado para el desarme nuclear, con plazos debidamente establecidos”.
“Mi delegación subraya la necesidad instrumentar el Plan de Acción para el desarme nuclear y se fije el año 2025 como la fecha límite para el logro de un mundo libre de armas nucleares”, agregó.
Agencia Venezolana de Noticias (AVN) (Viernes 15/10/2010)
Mercado "Confuso" do Sul: Argentina continua praticando ilegalidades
Menos importante do que o importante (desculpem a contradição, mas o Mercosul também poderia ser conhecido como Mercado Contraditório do Sul) parecer abaixo transcrito desse "abogado" argentino é saber que a empresa que havia começado a causa desistiu dela no meio do caminho.
Não entendo porque uma empresa que contesta uma medida de seu governo, com expectativas reais de ganhar, pois está com o direito a seu favor, desiste da ação. Acredito que tenha sido aquele tipo de pressão truculenta, tipo mafioso, exercida pelo governo em questão.
Paulo Roberto de Almeida
Código Aduanero y derechos de exportación en el Mercosur
Alejandro D. Perotti, miembro del estudio Alais & De Palacios, Abogados
La cuestión de los derechos de exportación (mal llamados retenciones) sobre las operaciones al Mercosur continúa a pesar del nuevo código aduanero regional. El conflicto nace dado que el Tratado de Asunción establece el principio jurídico de la libre circulación de mercaderías, a través, entre otros, de la obligación de eliminar los “gravámenes” definidos por el tratado como “los derechos aduaneros que incidan sobre el comercio exterior”.
Tan evidente es el mandato que un Grupo de Expertos del bloque y también el Tribunal del Mercosur han determinado que tales tributos están prohibidos.
La resolución final del reclamo de devolución de lo abonado por derechos de exportación hacia el Mercosur, presentados por algunas empresas, se encuentra pendiente ante la Corte Suprema, la cual, en octubre de 2009, decidió consultar al Tribunal del Mercosur sobre si el Tratado de Asunción obliga a los Estados a abstenerse de aplicar estos tributos intrazona; sin embargo, esta petición fue abandonada pues la empresa reclamante desistió de la acción.
Según la Constitución, el derecho mercosureño tiene primacía sobre las normas nacionales de rango legislativo e inferiores.
¿En qué influye lo ocurrido en la Cumbre de San Juan?
El 3 de agosto el Consejo del Mercado Común (CMC) aprobó el Código Aduanero del Mercosur (CAM).
Para las autoridades nacionales, el nuevo código implica la aceptación de estos tributos. Sin embargo, un rápido análisis de las disposiciones que se invocan demuestra que el código, en este punto, en nada ha innovado.
En efecto, la norma que se alega es el artículo 157.4, el cual establece que el CAM “no trata sobre derechos de exportación y, por lo tanto, la legislación de los Estados Partes será aplicable en su territorio aduanero preexistente a la sanción de este Código, respetando los derechos de los Estados Partes”.
Ahora bien, los únicos derechos de exportación que el código puede regular (aún cuando sea para decir que ‘no (los) trata‘) son aquellos que se aplican en relación al territorio aduanero, es decir aquellos que repercuten sobre bienes que se extraen del territorio aduanero. El artículo 2 del CAM clarifica que “El territorio aduanero del Mercosur es aquel en el cual se aplica la legislación aduanera común del Mercosur”, y el artículo 1.2 que “La legislación aduanera del Mercosur se aplicará a la totalidad del territorio de los Estados Partes”. Así, el territorio aduanero del Mercosur es la sumatoria del territorio aduanero de los Estados, por lo cual los derechos de exportación a los que hace referencia el código son los que inciden sobre los bienes que se exportan hacia afuera del bloque. Por si existiera alguna duda, la exportación es definida en el código como “la salida de mercadería del territorio aduanero del Mercosur” (artículo 3), por lo que los “derechos” deben repercutir sobre lo que “sale” del Mercosur.
Existe otra norma, no alegada, que es el artículo 178.1 que estatuye que “Durante el proceso de transición hasta la conformación definitiva de la Unión Aduanera: a) la introducción o salida de las mercaderías de un Estado Parte a otro Estado Parte se considerarán como importación o exportación entre distintos territorios aduaneros”. Así, hasta la conformación definitiva (año 2019, según la Decisión 10/10) las ventas desde Argentina a otro Estado Parte son exportaciones desde distintos territorios aduaneros, y en tal sentido recobra vigencia “intrazona” la posibilidad prevista en el artículo 154.7 del código, esto es la aplicación de derechos de exportación.
Sin embargo, ni aún en este caso esta posibilidad es válida, dado que el CAM es una “Decisión” del CMC, que por su jerarquía inferior no puede modificar el Tratado de Asunción, que específicamente prohíbe los derechos de exportación intrazona. La relación entre una Decisión del CMC y el Tratado de Asunción puede equipararse a la que se da entre una ley del Congreso y la Constitución; así como una ley no puede reformar la Constitución, una Decisión del CMC no puede hacer lo propio con el Tratado de Asunción.
Finalmente, a pesar de la trascendencia que ha tenido la aprobación del CAM, éste en nada ha innovado el estado de situación preexistente en torno a la prohibición absoluta de derechos de exportación intrazona, contenida en el Tratado de Asunción, con lo cual toda empresa que exporte al Mercosur tiene la posibilidad de reclamar la devolución de lo que haya abonado.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Para quem estava preocupado com o "monopolio" do Bill Gates...
Microsoft launched Windows Phone 7, its new operating system for mobile phones. The company lags behind its competitors, such as Apple and Research in Motion, and currently accounts for just 5% of the smart-phone market.
Nacionalismo canhestro e irracionalidade economica: por que governos sempre tem de ser esquizofrenicos?
Segundo a nota, esse governo pretende solicitar a seus aliados no parlamento...
a tarefa de elaborar projeto de lei para conter processo de aquisição de terras por estrangeiros. A alta produtividade das terras do país teria atraído a atenção do agronegócio internacional, com conseqüente sobrevalorização das propriedades rurais e desestímulo a compras por produtores [nacionais]. [O presidente] tem manifestado preocupação com os riscos à soberania decorrentes da venda de terras a empresas multinacionais e, especialmente, a outros Estados.
Bem, o mesmo já ocorreu no Brasil, como todos sabem, onde o governo, alarmado politicamente com a informação que estrangeiros [bem, se tratava de um povo que era, em princípio, "aliado estratégico" do Brasil] estavam comprando terras "demais", resolveu colocar um limite a essas aquisições, numa típica medida de nacionalismo fundiário, e de simples contravenção ao princípio do tratamento nacional -- que prometemos respeitar no âmbito de nossos compromissos internacionais, especialmente no GATT-OMC -- que promete ser prejudicial aos interesses nacionais, e à economia como um todo.
Eu perguntaria simplesmente o seguinte, a esses presidentes, a esses legisladores e a todos os nacionalistas fundiários:
1) Vocês acham que os estrangeiros vão pegar as terras e sair correndo do país?
2) Vocês acham que eles vão deixar as terras inativas, apenas para fins de especulação, em lugar de produzir e retirar o seu lucro? Eles deixariam de cumprir a famosa "função social da propriedade", esse monumento à boçalidade jurídica e econômica de nossa Constituição?
3) Vocês não acham que é um fato economicamente positivo a valorização das terras nacionais, pois isso traduz, no mundo econômico, a famosa lei, bastante simples, na verdade, da oferta e da procura? Ou seja, a valorização das terras nacionais, procuradas por gregos e goianos, ou melhor, por nacionais e estrangeiros, representa, de fato, uma valorização dos ativos nacionais e constitui, portanto, um fato eminentemente positivo na vida econômica nacional. Isso não é bom?
4) Vocês não acham bom que estrangeiros venham até nosso país, se dediquem a comprar terras, a produzir e a exportar, seja para onde for, e que isso aumente o PIB nacional, as exportações, a riqueza e a renda dos nacionais, do país? O que haveria de fundamentalmente negativo na exploração econômica racional, de acordo com as leis nacionais, de terras produtivas por estrangeiros?
5) Vocês não acham que está na hora de acabar com essa mentalidade canhestra, esse nacionalismo rastaquera, esse protecionismo idiota que consiste em achar que terras nacionais só podem ser exploradas (ou não) pelos nacionais?
6) O que existe de basicamente errado em pretender produzir e exportar no país? Os recursos para isso seriam indesejáveis, o processo todo danoso para o país?
7) Onde vocês colocam a racionalidade econômica em todas essas medidas que vocês concebem e tentam colocar em prática?
Não tenho nenhuma ilusão que a mentalidade desses governantes venha a mudar, any time soon.
Como lembrava alguém, subdesenvolvimento não é apenas uma questão material, é também uma questão de mentalidade.
Atraso intelectual e simples incapacidade de raciocinar corretamente são dois traços distintivos de nosso subdesenvolvimento mental...
Triste...
Paulo Roberto de Almeida
(Beijing, 15.10.2010)
Direita e esquerda no continente: o simplismo atroz de certas "analises" politicas
Geralmente, são questões objetivas, "matter of fact", como se costuma dizer no jornalismo anglo-saxão, que SEPARA SEMPRE, e de modo claro, o que é reportagem, ou seja, simples exposição de fatos objetivos, que estão ocorrendo no país e no mundo, do que é análise, ou opinião, que são considerações sobre esses mesmos fatos e processos.
Infelizmente, esse não é o caso de jornalistas brasileiros, que parece não terem aprendido nas faculdades de jornalismo do Brasil -- que acho que não mereceriam esse nome, e que a rigor talvez nem deveriam existir -- essa separação elementar entre fato e opinião.
Por isso, recusei-me a participar de um exercício que reputo viciado e deformado desde a origem.
Reproduzo aqui as perguntas do jornalista e minhas respostas:
Direita e esquerda no continente: contra o simplismo
Paulo Roberto de Almeida
Começo pela transcrição da consulta:
On Oct 15, 2010, at 3:46 AM, Xxxxx Xxxxx wrote:
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: Xxxxx Xxxxxx
Cidade: Xxxxxxx
Estado: XX
Email: xxxxxxx@xxxxxxxxxxx.com.br
Assunto: Sem assunto
Mensagem: Prezado Paulo Roberto,
Estou fazendo uma matéria sobre a direita na América Latina, tentando estabelecer uma relação entre os recentes indícios de perda de poder da esquerda no continente, e de recuperação de espaço da direita. Gostaria de lhe fazer as seguintes perguntas:
- A eleição de Juan Manuel Santos, na Colômbia, e o recente flerte do candidato à presidência José Serra com a direita, haja vista as declarações do candidato Indio da Costa e a polêmica recente em torno do aborto, podem indicar uma nova onda da direita na América Latina?
- Esses indícios estariam em linha com o crescimento da onda conservadora global, percebida pelo fortalecimento da direita europeia e do Tea Party nos EUA?
- Ao mesmo tempo, é possível dizer que a esquerda bolivariana da latino-americana está enfraquecida? Dado o fortalecimento da oposição na Venezuela? Podemos prever nesses países um retorno da direita ao poder?
- Como essa nova onda afeta a geopolítica latino-americana? Podemos ver, no futuro um fortalecimento dos Estados Unidos na região?
- Como a política externa brasileira poderia mudar, em caso da eleição de José Serra para presidente? O senhor o vê como um líder conservador? Ou mais conservador que Dilma?
Desde já, agradeço,
Xxxxx Xxxxxx
Minha resposta: [PRA]
Xxxxx Xxxxxx,
O que voce me coloca nao são simples questoes, mas uma análise política completa do continente e do Brasil.
Devo dizer, antes de tudo, que sou contra simplificações e maniqueísmos tipicos de certa "ciência social" que olha o mundo sempre pelo prisma da divisão anacrônica e totalmente acadêmica de direita e esquerda. Os votantes, em todos os países, quando fazem suas escolhas, não estao, em sua imensa maioria, decidindo academicamente entre um candidato de direita ou outro de esquerda, mas sim pretendendo escolher aquele que vai melhorar suas vidas. Isto é elementar. Quem classifica os candidatos entre esquerda e direita sao os acadêmicos e os jornalistas, ambos simplisticamente.
Como voce vê, sou contra essas premissas das quais vc parte e que devem guiar sua matéria, por isso não pretendo participar com opiniões ou observações minhas tendo esse diapasão. Aliás, se quiser justamente usar meu argumento acima para introduzir um elemento de caução analítica na sua matéria, por favor, sinta-se à vontade.
Quem vê "flerte de Serra com a direita", numa classificação totalmente esquizofrênica, é você, não eu, e acho esse tipo de análise totalmente equivocada. Só quem vê o mundo por esse prisma, pode identificar oposição ao aborto como um posicionamento à "direita", seja lá o que isso queira dizer. Acho isso inaceitável no plano dos procedimentos corretos de análise política e até de metodologia de trabalho.
"Onda conservadora global": realmente isso é simplismo extremo, e totalmente equivocado. Pessoas, comunidades votam com base nos problemas locais e nacionais, não tendo suporte em ideologias. Mais uma vez o reducionismo desse tipo de análise é atroz.
Achar que a "esquerda bolivariana" está enfraquecida, por causa do avanço dos votos contrários a Chávez na Venezuela, e que a "direita" pode voltar ao poder é de uma miopia que condiz com toda essa visão do mundo, que encontro totalmente equivocada.
Quem diz que Serra seria mais "conservador" em politica externa do que Dilma é você, e acho isso simplesmente patético em termos de abordagem das questões de política externa (e outras, certamente), que acha que Lula, e supostamente Dilma, fez ou faria uma politica de "esquerda" ou "progressista". Esses rótulos são tão canhestros, que prefiro não participar de um exercício de reducionismo analítico e de simplificação política como o que vc pretende fazer.
Por favor, take me out dessa matéria, mantenha-me fora.
Digo isso não por antipatia por você, pelo jornal, ou por qualquer motivo "bilateral", mas por discordar completamente da abordagem e das premissas. É meu direito manter uma postura que considero como de simples honestidade intelectual, não coonestando análises que encontro equivocadas em seus fundamentos analíticos, e não apenas quanto ao fundo da matéria.
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Paulo Roberto Almeida
Campanha etilico-surrealista: confesso que nao entendi nada...
Como diriam os franceses: ça me dépasse...
Enfim, se alguém entendeu me avise, por favor...
Paulo Roberto de Almeida
No Piauí, Lula compara tucanos a 'gente do mal'
Maiá Menezes
O Globo, 14.10.2010
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta quarta-feira, sem citar nomes, os tucanos de "gente do mal", ao comparar os projetos políticos do PSDB e o seu desempenho como presidente.
Em discurso para cerca de dez mil pessoas, na Avenida Marechal Castelo Branco, em Teresina, Lula fez elogios à beleza de Dilma três vezes e atacou o adversário:
- O que está em jogo são dois projetos. Um que está aí desde que Cabral descobriu. Os de sempre mandando, ganhando, perdendo. Agradeço aos votos que vcs não deram a mim, mas também aos votos que vocês não deram a eles. Porque essa gente foi do mal com o povo pobre. Em 2006, eles acabaram com o CPMF. Eles tiraram esse imposto, R$ 120 bilhões em quatro anos, achando que iriam prejudicar o Lula. Mas o Lula não foi prejudicado porque pode pagar plano. Prejudicaram as pessoas mais pobres, que precisam do SUS. Eu disse a eles: nas eleições, eles vão ter o troco. E em 2006, no Piauí, tiveram.
Lula, ao lado de Dilma, que discursara antes, afirmou que a hora é de comparar projetos, mais que pessoas:
- Se a gente achar que a disputa que está em jogo é apenas a disputa entre a candidata Dilma e o candidato de lá a gente vai cometer um engano muito grande. Não é a disputa entre um homem e uma mulher. Se fosse só isso, eu ainda assim preferia essa mulher do que aquele homem para presidir o destino do meu país. Porque conheço a sensibilidade de cada um. Conheço a alma e a cabeça dos dois e é por isso que acho que ela é infinitamente melhor para o país.
Ele também afirmou que o PSDB foi contra políticas de inclusão:
- Vocês sabem como era o Nordeste e a vida do povo mais pobre antes de eu chegar à Presidência. Quando criamos o Bolsa Família, os de lá diziam que era esmola e que a gente estava fazendo populismo. Eles não têm noção do que significa R$ 100 para uma pessoa pobre. Eles dão de gorjeta quanto tomam de uísque. Vocês sabem como era o desemprego nesse país antes de eu chegar à Presidência. Vocês sabem a destruição das empresas brasileiras. Como andava o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, até a Petrobras eles tentaram mudar de nome. Vocês sabem quantos investimentos deixaram de vir para o Piauí antes de eu ser presidente, porque as pessoas diziam que não iam investir aqui porque o Nordeste não ia para a frente.
Mais uma vez lamentando sua foto não ter estado nas urnas, nessa eleição, Lula afirmou que "o espírito democrático" o levou a optar por apoiar uma candidata em vez de optar pela reeleição:
- Como somos democratas e queremos fortalecer a democracia trocamos prazerozamente a voz de taquara rachada de um homem por uma mulher mineira, gaúcha, puiauisense,que tem competência para dirigir o país nos proximos anos.
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Retomando:
Acho que sei porque a candidata oficial caiu tanto, e porque os discursos desse personagem surrealista que está aí acima não convence mais: As pessoas são espertas, apesar de que alguns espertos querem fazê-las de idiotas. As pessoas percebem quando estão tentando enganá-las, com palavras vazias... Elas devem dizer: "Essa aí pensa que somos uns idiotas?"
Por outro lado, o maniqueismo, a simplificação e a falsidade, mentiras mesmo, de quem expede os conceitos são atrozes. Confesso que eu esperava um pouco mais de respeito aos fatos por parte de quem preside aos destinos do país.
Candidaturas brasileiras em OIs: nao se pode ganhar em todas...
Paulo Roberto de Almeida
Brasileiro perde disputa por cargo da UIT
Valor Economico, 14/10/2010
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu mais uma disputa por um cargo na burocracia internacional. Agora foi o posto estratégico de diretor do Departamento de Radiodifusão, da União Internacional de Telecomunicações (UIT), numa votação que mobilizou 157 países membros da entidade, numa conferência no México.
O candidato brasileiro Fábio Leite obteve 67 votos, diante de 90 do francês François Rancy. E, apesar do crescente engajamento do governo brasileiro na África, foram justamente os países africanos que deram os votos que foram decisivos para a vitória do candidato francês na segunda rodada da votação.
Essa diretoria da UIT gerencia a atribuição de frequências radioelétricas e de órbitas de satélites e da qual depende a indústria de "wireless", que fatura quase US$ 50 bilhões por ano em todo o mundo.
Caberá agora ao francês organizar a grande conferência mundial de radiocomunicações prevista para 2012. Ele será peça-chave na passagem à televisão digital e sistemas de telefonia celular da próxima geração, dois desafios técnicos, mas sobretudo socioeconômicos.
Antes dessa, o governo Lula já havia perdido disputas para as direções da Organização Mundial do Comércio (OMC), da União Internacional de Telecomunicações (UIT), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além de votações emblemáticas, como a presidência da Conferência Internacional do Trabalho, quando Ricardo Berzoini era o ministro do Trabalho, e a vaga de juiz do Órgão de Apelação da OMC.
Politica Externa de fantasia: o Estadao ataca outra vez...
O Estadão não tem nenhum respeito por essas realizações...
Que jornal!
Aliás, se eu bem me lembro da história dessa refinaria, a Petrobras discutiu durante muito tempo onde fazer uma nova, no Nordeste. Ela tinha várias opções, segundo propostas dos estados: no Ceará, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco e na Bahia, e se supõe que a empresa estivesse fazendo consideracoes de ordem estritamente técnica e comercial, ou seja, ver, do ponto de vista do abastecimento em matéria prima, das conexões em transportes, proximidade dos mercados consumidores, etc. Enfim, tudo isso estava sendo debatido pela Petrobras, que em principio estava levando o empreendimento sozinho, em bases puramente comerciais.
Ai chegou o Hugo Chávez, que tinha ouvido dizer que o voluntário brasileiro que tinha combatido no exército de Bolivar, Abreu e Lima, era de Pernambuco: ele então disse que queria fazer junto mas que tinha de ser em Pernambuco.
Lembro-me perfeitamente da ministra Dilma Roussef, não sei se ainda de Minas e Energia ou se já na Casa Civil, respondendo a um jornalista, quando questionada sobre onde seria construída a nova refinaria da Petrobras, respondeu, do alto da sua defesa da soberania nacional, algo assim: "Isso o Hugo Chávez já decidiu: vai ser em Pernambuco!"
Nunca vi tamanha defesa da soberania como essa.
Vivendo e aprendendo...
Paulo Roberto de Almeida
A PDVSA e a fantasia petista
Editorial- O Estado de S. Paulo, 14/10/2010
Nem sequer um centavo foi investido até agora pela estatal venezuelana PDVSA na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A obra é tocada só com recursos da Petrobrás, embora tenha sido planejada e anunciada como empreendimento conjunto. A pedra fundamental foi lançada em dezembro de 2005 pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez. Esse projeto seria a primeira grande realização da Aliança Estratégica formalizada em fevereiro daquele ano, em Caracas, com a presença da ministra de Minas e Energia do Brasil, Dilma Rousseff. Passados cinco anos, o balanço de realizações conjuntas é irrisório. A PDVSA deveria custear 40% da refinaria. Sem cumprir sua parte, pode ser forçada a renunciar ao projeto. Outras tentativas de cooperação também fracassaram. Uma delas, já abandonada, foi o plano de atuação da Petrobrás na área petrolífera do Orinoco.
A Aliança Estratégica formalizada pelos presidentes Chávez e Lula foi uma tentativa de combinar duas bandeiras do atraso - o bolivarianismo do caudilho venezuelano e o terceiro-mundismo requentado da diplomacia petista. Nada útil poderia resultar desse acasalamento.
Atribuir a expansão do comércio bilateral a essa iniciativa é um disparate evidente. O intercâmbio do Brasil com toda a América do Sul cresceu nos últimos dez anos, como consequência da prosperidade regional e de um esforço de integração intensificado a partir dos anos 90. Empresas brasileiras já tinham interesses na Venezuela bem antes da aproximação Chávez-Lula.
A “aliança” formalizada em 2005 e reafirmada em 2009 apenas acrescentou ingredientes ideológicos à cooperação bilateral. Foi mais uma aposta errada do presidente Lula - uma entre várias escolhas estratégicas baseadas na fantasia e não no cálculo de interesses concretos.
A ampliação do comércio bilateral foi muito mais acidentada do que teria sido, certamente, se a Venezuela estivesse sob um governo democrático, sem delírios expansionistas e livre da retórica anticapitalista. Atrasos de pagamentos foram um problema frequente para exportadores brasileiros, assim como a discriminação cambial a favor de produtores de outros países.
O governo petista não só aceitou essas distorções, como ainda se esforçou para incluir no Mercosul a Venezuela do presidente Chávez. A inclusão ainda não se consumou porque não foi aprovada pelo Congresso paraguaio. Se for consumada, o bloco regional, já emperrado e com enormes dificuldades para negociar com grandes parceiros como União Europeia e Estados Unidos, ainda passará a depender dos humores e das ambições de um caudilho fanfarrão.
Esse caudilho, é bom não esquecer, não tem prazo para deixar o governo de seu país nem está sujeito a limitações de tipo democrático. A diplomacia petista notabilizou-se pela frequência de suas apostas erradas. Ao enterrar a Alca, deixou espaço para uma série de acordos bilaterais dos Estados Unidos com outros países latino-americanos. Além disso, jogou fora a chance de negociar condições preferenciais de acesso a vários mercados antes da grande invasão chinesa.
Produtores brasileiros têm perdido competitividade tanto nos Estados Unidos como na América Latina. Se o Mercosul quiser iniciar um novo entendimento com Washington, terá de negociar levando em conta regras de investimento e de propriedade intelectual já acertadas naqueles acordos.
A diplomacia petista errou também - por esquecer os interesses nacionais - ao eleger a maioria dos “parceiros estratégicos”. Estados Unidos e Europa continuam sendo muito mais importantes que o Brasil para russos e chineses. Nenhum desses parceiros se afastou de seus interesses para favorecer o comércio com o Brasil. Ao contrário: as conveniências brasileiras foram preteridas, quase sempre (como, por exemplo, na atribuição, pelo governo russo, de cotas para exportadores de carne). Os africanos nunca deixaram de se aliar aos europeus nas questões comerciais. Se a coerência no erro é uma virtude, então a diplomacia petista tem pelo menos essa qualidade. A aliança com Hugo Chávez comprova esse fato.
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Addendum: da coluna do jornalista Carlos Brickman:
Los hermanos no telhado
A parceria entre Brasil e Venezuela para construir a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está morrendo. Até o momento, passado um ano da assinatura do contrato, só a Petrobras pôs dinheiro no projeto. A venezuelana PDVSA, que deu até o nome à refinaria (Abreu e Lima foi um general brasileiro, nascido em Pernambuco, que lutou ao lado de Simon Bolívar nas guerras de independência da América espanhola), não investiu nada. O presidente venezuelano Hugo Chávez começou se responsabilizando por metade dos investimentos; depois, a metade passou a 40%, desde que o BNDES financiasse também a sua parte. Entretanto, até agora não apresentou ao BNDES nenhuma garantia do financiamento.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Religiao e desenvolvimento: um questionario e minhas respostas
Como sei que minhas respostas serão aproveitadas apenas parcialmente, e como sei que este tema sempre desperta curiosidade nos estudiosos de ciências humanas em geral, permito-me transcrever aqui minhas respostas, não como religioso, mas como simples estudioso das religiões e, sobretudo, do desenvolvimento econômico e social em escala comparada.
Acredito que o tema é relevante, mas desde já me posiciono contra a posição fundamentalista que está vinculada a certas confissões evangélicas, no sentido de apoiar o criacionismo e se posicionar contra o evolucionismo. Aqui não é uma questão de fé ou de postura anti-religiosa. Acredito que essa posição é errada, e é profundamente danosa para o desenvolvimento do espírito científico, em qualquer país, em qualquer época, com qualquer religião.
Como disse em uma das minhas respostas: esses fundamentalistas serão, eventualmente salvos, pelo avanço da pesquisa científica em matéria de doenças e procedimentos terapêuticos, mas dificilmente, ou JAMAIS, poderão colaborar para a descoberta da cura ou de inovações levando a melhor condição de vida enquanto ficarem presos a essas concepções ingênuas e no fundo anti-racionalistas.
Paulo Roberto de Almeida
Pesquisa sobre Religião e Desenvolvimento
Paulo Roberto de Almeida
Respondendo a perguntas colocadas por repórter de confissão evangélica.
Perguntas:
1) Que relação pode haver entre a religiosidade de um povo e seu nível de renda?
PRA: Não existe um padrão universal e uma correlação unívoca – ou seja, de causa a efeito, numa só direção – entre religião e prosperidade, ou entre religião e nível de vida de um povo, pois as situações são as mais diversas possíveis e têm mais a ver com a formação histórica e cultural de um povo do que propriamente com o seu nível de vida. Todos os povos têm, naturalmente, religiões, alguma emergindo naturalmente, como o antigo paganismo ou politeísmo, outras surgindo com base em profetas ou figuras carismáticas (Cristo, ou Maomé, por exemplo). Alguns povos “importam” suas religiões – como o budismo na China e no Japão, por exemplo, propagado a partir da Índia, a partir de monges missionários, mercadores, viajantes, etc. Outros povos são levados à conversão por colonização ou dominação externa, como a maior parte dos povos autóctones da América Latina. Ou seja, as situações são muito diversas, pois entre todos esses povos encontramos nações extremamente desenvolvidas (como Europa e Estados Unidos, onde o cristianismo se propagou por evangelização ao longo dos séculos) e outras totalmente miseráveis (como a índia secular, por exemplo, basicamente hinduísta, mas também muçulmana e dotada de dezenas de outras religiões, inclusive o próprio budismo, no qual existem povos hoje desenvolvidos, como os japoneses, e outros ainda “atrasados”, como no Nepal, Butão, o próprio Tibete, etc.
A nação mais avançada do mundo, que é indiscutivelmente os EUA, pelo menos em termos científicos e tecnológicos, é, também, a mais religiosa, ou parece ser, com uma profusão de cultos, sobretudo evangélicos e protestantes (mas aberta a todas as confissões, num sistema tão livre quanto anárquico, de religiões, de opiniões, de iniciativas individuais, enfim, de ampla liberdade). Ao lado, temos o México e os países da América Central, todos uniformemente católicos e relativamente atrasados, com um nível de renda per capita 5 ou 6 vezes menor do que nos EUA.
Em resumo, não há um padrão, e muita tinta já se gastou, desde Max Weber, em tentativas de correlação entre uma coisa e outra, sem muito sucesso aparente.
2) Em sua opinião, há uma influência recíproca entre religião e economia?
PRA: Sim e não, dependendo do que se pretende como fatores causais. Essa influência pode ser positiva, ou seja, levar um povo a prosperar com base em suas habilidades próprias. Mas as relações reais são muito complexas. Acredito, por exemplo, que uma religião que coloca a mulher em papel subordinado, como ocorre no islamismo em grande medida, atua num sentido negativo para fins de desenvolvimento social e prosperidade. Religiões que atribuem forte papel à mulher, como mãe e responsável pela educação dos filhos – como ocorre na tradição judaica, e parcialmente no cristianismo – podem ser extremamente positivas na inovação e na prosperidade. Os judeus, por exemplo, constituem menos de 1% da população mundial, mas contribuíram de maneira absolutamente “desproporcional” para o progresso da humanidade, nos mais diversos campos do saber, da ciência, da cultura. Basta ver a proporção de Prêmios Nobel ganhos por pessoas de origem judia. Creio que o grande papel, aqui, é o da mãe e da família judia, extremamente focadas no desenvolvimento dos filhos, na sua educação, numa vida digna e voltada para o benefício da comunidade. Não se encontra esse tipo de motivação e de vocação entre todas as religiões. Mas fatores causais podem ser mais de origem cultural, ou costumeira, do que propriamente religiosa, pois o patriarcado, ou dominação masculina, e a conseqüente opressão da mulher, existem em várias religiões.
3) De acordo com a pesquisa, quanto mais religiosos são os habitantes de um país, mais pobre ele tende a ser. O senhor concorda com essa conclusão?
PRA: Não concordo, absolutamente, e o exemplo já citado dos EUA nega esse tipo de afirmação. Mas, mais uma vez, essa relação é complexa, e não se pode, sem ser leviano, estabelecer uma correlação entre o grau de “religiosidade” – o que isto quer dizer?; trata-se aqui de conceito essencialmente subjetivo – de um povo e o nível de sua prosperidade material. Certas religiões podem contribuir para certa estagnação – ou falta de inovação de certos povos, como determinadas variantes do islamismo, a partir de certa fase – e outras permitirem o desenvolvimento.
Tudo depende, em minha opinião, da capacidade de ser exercido o chamado “espírito criativo”, algo que, como a religião, parece ser inato no homem (ou nos seres humanos). As religiões que “congelam” determinados conceitos sociais e impedem o avanço da pesquisa e da inovação – em matérias científicas, como biologia, história, etc. – contribuem para o atraso de seus povos. Aquelas que permitem a chamada “exegese”, ou seja, a interpretação dos “livros sagrados”, para adaptar as mensagens religiosas à dinâmica econômica e científica, contribuem para o desenvolvimento dos povos, e isso ocorreu no cristianismo. Mas esse itinerário ainda não foi conhecido no islamismo, pelo menos em várias de suas interpretações literais; pode ser que o islamismo evolua para esse mesmo tipo de secularização que permita uma interpretação alusiva, e não literal, da palavra escrita, ou seja, que permita a exegese (algo mais ligado à tolerância do que ao dogmatismo). Não devemos esquecer, por outro lado, que a Europa conheceu terríveis guerras de religião, responsáveis por morticínios inacreditáveis na concepção moderna dos direitos humanos.
Acredito que o fanatismo, a intolerância, o dogmatismo e o exclusivismo religiosos podem ser, sim, fatores de atraso, ao passo que a tolerância, o espírito aberto, a capacidade de absorver e integrar novas descobertas na cultura religiosa dominante são, ou podem ser, fatores de progresso e de prosperidade.
4) A pesquisa aborda a questão de forma genérica, no entanto, não deveriam ter levado em consideração as diferenças doutrinárias de uma religião para outra, já que essas diferenças poderiam ter apontado outro resultado, a exemplo de Max Weber que considerou o Protestantismo melhor para o desenvolvimento econômico do que o Catolicismo?
PRA: A tese de Max Weber é extremamente controversa, sempre foi aliás. Ele escreveu numa época – começo do século 20 – quando os povos protestantes pareciam ser a vanguarda do desenvolvimento econômico mundial, e de fato a Europa e os EUA estavam na dominação indisputada do mundo, exercendo uma extraordinária hegemonia econômica, tecnológica e cientifica. Mas, o capitalismo – que esteve na base desse excepcional desenvolvimento – nasceu na Itália católica, e não nos povos setentrionais protestantes. É certo que o comportamento mais aberto às inovações financeiras levaram protestantes a se desenvolverem mais rapidamente, e que o preconceito cristão, ou católico, contra o lucro e a usura pode ter contribuído para um desenvolvimento capitalista mais lento, mas mesmo essa tese é sujeita a caução. Se dizia, algumas décadas atrás, que os povos asiáticos, que possuem dezenas de religiões, mas poucos são cristãos ou protestantes, estavam condenadas ao atraso e à miséria, mas nas ultimas três décadas são os que mais avançaram no mundo em termos de prosperidade material, deixando para trás a América Latina quase toda ela católica, que décadas atrás aparecia como mais promissora para fins de crescimento e riqueza. Tudo isso NÃO TEM a ver com religião, e sim com as políticas econômicas corretas e, sobretudo, com a educação do povo. Mais do que as religiões, são as instituições sociais que podem ser “colaborativas” ou “impeditivas” do progresso.
5) A seu ver, é a religião que leva uma população à pobreza ou é a riqueza que tende a afastar as pessoas da religiosidade?
PRA: De modo algum; todas as situações são encontradas nos mais diferentes povos, locais e épocas históricas. Existe, aparentemente, uma correlação entre prosperidade material e uma atitude menos “religiosa”, ou seja, mais laica, ou secularizada, como ocorre entre os povos nórdicos, por exemplo, onde se pode notar uma forte diminuição da assistência a cultos religiosos, do pagamento de contribuições às Igrejas e do ensino religioso, de forma geral. Mas, acredito que a religião é um traço civilizacional que vai acompanhar as comunidades humanas sempre, independentemente do grau de seu desenvolvimento (ou ausência de) prosperidade material.
6) A religião desempenha um papel importante no desenvolvimento econômico de um país?
PRA: Eu diria que esse papel é em geral neutro e não depende da religião em si, ou seja, da “mensagem sagrada”, e sim das instituições que determinam a criação de riqueza. Certas instituições são mais favoráveis a isso, como o instituto da propriedade, o respeito aos contratos, o chamado rule of Law, ou seja, o respeito à lei e à legalidade jurídica num pais, etc. Tudo isso pode ser, e é, positivo para fins de desenvolvimento, independentemente da religião específica de um povo. Mas, se uma religião se atém, por exemplo, a uma leitura literal e obrigatória sobre determinados fenômenos naturais, e recusa a abertura à pesquisa e à inovação, ela pode, sim, ser fator de atraso. Por exemplo, não se pode ter carreira cientifica em biologia, ou nas ciências de modo geral, sem aderir a alguns pressupostos da teoria da seleção natural, de origem darwiniana (mas a evolução é um fato, que independe de teorias). Quem não aceita esses pressupostos simplesmente não consegue fazer biologia, ou até geologia ou, no limite, a história e a arqueologia. Tudo isso pode representar fatores de atraso absoluto no desenvolvimento material, pois a tecnologia só pode avançar com plena utilização do espírito cientifico. Todas as pessoas podem ser salvas pela medicina avançada, mesmo recusando seus pressupostos básicos, e negando a teoria evolucionista, por exemplo. Mas essas pessoas JAMAIS contribuirão para aquela solução cientifica que salva as suas vidas se elas não aderirem a certas metodologias científicas que uma determinada vertente religiosa, intolerante e dogmática, pretende banir do ensino laico (que deve ser aberto a todo e qualquer desenvolvimento científico, pois isso é importante e crucial para a humanidade).
Eu me proclamo, apenas para fins de honestidade intelectual, como uma pessoa irreligiosa – ou seja, não me posiciono quanto às religiões, embora as respeite historicamente – e essencialmente como um racionalista. Sou, sim, um grande estudioso das religiões, como deveria ser todo espírito aberto e propenso ao progresso material e espiritual da humanidade.
Paulo Roberto de Almeida (Beijing, 14.10.2010)
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Agora a pesquisa que motivou a consulta:
Pesquisa: 80% da população mundial vê a religião como importante .
Qui, 02 de Setembro de 2010
Fonte: Christian Post – Link: http://www.christianpost.com/article/20100901/over-8-in-10-worldwide-see-religion-as-important/
Mais de oito em cada dez adultos em todo o mundo dizem que a religião é uma parte importante de suas vidas diárias, de acordo com pesquisas do Gallup realizada em 114 países.
E, como pesquisas anteriores encontraram, ainda há uma forte correlação entre o nível socio-econômico do país e a religiosidade de seus moradores.
Nos países mais pobres do mundo - aquelas com renda média per capita de 2000 dólares ou menos - a proporção mediana que dizem que a religião é importante em suas vidas diárias é de 95 por cento, informou nesta terça-feira Gallup.
Em contraste, a mediana para os países mais ricos - aqueles com renda média per capita acima de USD $ 25.000 - é de 47 por cento
"Os cientistas sociais têm colocado diante inúmeras explicações possíveis para a relação entre a religiosidade de uma população e o seu nível de renda média," observou o editor Steve Gallup Crabtree.
"Uma teoria é que a religião desempenha um papel mais funcional nos países mais pobres do mundo, ajudando muitos moradores a lidarem com uma luta diária para prover a eles e suas famílias. A análise anterior Gallup apoia esta idéia," acrescentou.
Na análise da Gallup de 2009, inquéritos realizados em 143 países, nos três anos anteriores, a organização concluiu que a relação entre religiosidade e bem-estar emocional é mais forte entre aqueles nos países pobres do que entre aqueles no mundo desenvolvido.
Em seu último relatório, Gallup disseram que a religião era considerada importante por 95 por cento das pessoas em países com 2.000 dólares ou menos renda per capita. E para os países com renda per capita acima de USD $ 2.000, mas menos de USD $ 5.000, 92 por cento das pessoas disseram que a religião é uma parte importante da sua vida quotidiana.
Depois de 5.000 dólares, os números declinaram mais, com 82 por cento considerando a religião como importante para os países dentro do grupo USD $ 5.001-12,500. Para renda de USD $ 12.501-25.000, 70 por cento disseram o mesmo. E para os países com renda per capita mais USD $25.001, apenas 47 por cento disseram que a religião é uma parte importante da sua vida quotidiana.
Tal como em inquéritos anteriores, no entanto, os Estados Unidos estão entre os países ricos, que vêm escapando à tendência.
Segundo a última pesquisa Gallup, 65 por cento dos americanos dizem que a religião é importante em suas vidas diárias. Outros países de alta renda mais propensos a enfatizar a importância da religião incluem Itália, Grécia, Singapura e países do Golfo Pérsico.
Os seis principais países com maior porcentagem de pessoas colocando importância da religião foram Bangladesh, Nigéria, Iêmen, Indonésia, Malawi, e Sri Lanka - com pelo menos 99 por cento em cada comunicação a religião como importante em suas vidas diárias.
Os seis países com os menores percentuais foram a Estónia (16 por cento), Suécia (17 por cento), Dinamarca (19 por cento), Japão (24 por cento) e Hong Kong (24 por cento).
Resultados de pesquisas Gallup são baseados em entrevistas telefônicas e presenciais, realizadas em 2009 com cerca de 1.000 adultos em cada país.
Fonte: Folha Gospel
Contra o dolar depredador; viva a nova moeda (so podia ser ele...)
Chávez ainda vai conseguir -- aliás já está fazendo -- destruir completamente a economia da Venezuela, provocando desinvestimento, desabastecimento, fuga de capitais, inflação, câmbio negro, enfim, o cortejo de tragédias habituais que acontecem nos países dominados por dirigentes totalmente irresponsáveis no plano econômico, como sempre autoritários no plano político.
A chamada Rodésia do Sul, desde a independência Zimbabue, foi simplesmente convertida em economia moribunda pelo seu "líder", Roberto Mugabe.
Chávez parece seguir o mesmo caminho.
Pobre Venezuela.
Paulo Roberto de Almeida
Presidente Chávez calificó al Sucre como un sistema monetario liberador
(11.10.2010)
El presidente Hugo Chávez Frías calificó este lunes al Sistema Unitario de Compensación Regional (Sucre) como una nueva moneda liberadora en los planos económico y político.
Afirmó que con ese nuevo sistema monetario se rompen los paradigmas “del dólar depredador!!”, y se refirió a la compra aceite de soya a Bolivia mediante el Sucre, lo que convierte a las naciones en “libres económicamente”.
El pasado viernes 8, Venezuela y Bolivia cerraron la primera negociación pagada en Sucres. La transacción facturó en 4.241.680 sucres, y el pago correspondió a la compra de 5.000 toneladas cúbicas de aceite crudo de soya.
Aseveró que la nueva moneda es “liberadora en los económico y político... Viva la Independencia económica Latinoamericana. Es tiempo de los Pueblos!!”, expresó.
A questao do aborto: um artigo esclarecedor - Olavo de Carvalho
Paulo Roberto de Almeida
Lógica do abortismo
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 12.10.2010
O aborto só é uma questão moral porque ninguém conseguiu jamais provar, com certeza absoluta, que um feto é mera extensão do corpo da mãe ou um ser humano de pleno direito. A existência mesma da discussão interminável mostra que os argumentos de parte a parte soam inconvincentes a quem os ouve, se não também a quem os emite. Existe aí portanto uma dúvida legítima, que nenhuma resposta tem podido aplacar. Transposta ao plano das decisões práticas, essa dúvida transforma-se na escolha entre proibir ou autorizar um ato que tem cinqüenta por cento de chances de ser uma inocente operação cirúrgica como qualquer outra, ou de ser, em vez disso, um homicídio premeditado. Nessas condições, a única opção moralmente justificada é, com toda a evidência, abster-se de praticá-lo. À luz da razão, nenhum ser humano pode arrogar-se o direito de cometer livremente um ato que ele próprio não sabe dizer, com segurança, se é ou não um homicídio. Mais ainda: entre a prudência que evita correr o risco desse homicídio e a afoiteza que se apressa em cometê-lo em nome de tais ou quais benefícios sociais hipotéticos, o ônus da prova cabe, decerto, aos defensores da segunda alternativa. Jamais tendo havido um abortista capaz de provar com razões cabais a inumanidade dos fetos, seus adversários têm todo o direito, e até o dever indeclinável, de exigir que ele se abstenha de praticar uma ação cuja inocência é matéria de incerteza até para ele próprio.
Se esse argumento é evidente por si mesmo, é também manifesto que a quase totalidade dos abortistas opinantes hoje em dia não logra perceber o seu alcance, pela simples razão de que a opção pelo aborto supõe a incapacidade – ou, em certos casos, a má vontade criminosa – de apreender a noção de “espécie”. Espécie é um conjunto de traços comuns, inatos e inseparáveis, cuja presença enquadra um indivíduo, de uma vez para sempre, numa natureza que ele compartilha com outros tantos indivíduos. Pertencem à mesma espécie, eternamente, até mesmo os seus membros ainda não nascidos, inclusive os não gerados, que quando gerados e nascidos vierem a portar os mesmos traços comuns. Não é difícil compreender que os gatos do século XXIII, quando nascerem, serão gatos e não tomates.
A opção pelo abortismo exige, como condição prévia, a incapacidade ou recusa de apreender essa noção. Para o abortista, a condição de “ser humano” não é uma qualidade inata definidora dos membros da espécie, mas uma convenção que os já nascidos podem, a seu talante, aplicar ou deixar de aplicar aos que ainda não nasceram. Quem decide se o feto em gestação pertence ou não à humanidade é um consenso social, não a natureza das coisas.
O grau de confusão mental necessário para acreditar nessa idéia não é pequeno. Tanto que raramente os abortistas alegam de maneira clara e explícita essa premissa fundante dos seus argumentos. Em geral mantêm-na oculta, entre névoas (até para si próprios), porque pressentem que enunciá-la em voz alta seria desmascará-la, no ato, como presunção antropológica sem qualquer fundamento possível e, aliás, de aplicação catastrófica: se a condição de ser humano é uma convenção social, nada impede que uma convenção posterior a revogue, negando a humanidade de retardados mentais, de aleijados, de homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.
Com toda a clareza que se poderia exigir, a opção pelo abortismo repousa no apelo irracional à inexistente autoridade de conferir ou negar, a quem bem se entenda, o estatuto de ser humano, de bicho, de coisa ou de pedaço de coisa.
Não espanta que pessoas capazes de tamanho barbarismo mental sejam também imunes a outras imposições da consciência moral comum, como por exemplo o dever que um político tem de prestar contas dos compromissos assumidos por ele ou por seu partido. É com insensibilidade moral verdadeiramente sociopática que o sr. Lula da Silva e sua querida Dona Dilma, após terem subscrito o programa de um partido que ama e venera o aborto ao ponto de expulsar quem se oponha a essa idéia, saem ostentando inocência de qualquer cumplicidade com a proposta abortista.
Seria tolice esperar coerência moral de indivíduos que não respeitam nem mesmo o compromisso de reconhecer que as demais pessoas humanas pertencem à mesma espécie deles por natureza e não por uma generosa – e altamente revogável -- concessão da sua parte.
Também não é de espantar que, na ânsia de impor sua vontade de poder, mintam como demônios. Vejam os números de mulheres supostamente vítimas anuais do aborto ilegal, que eles alegam para enaltecer as virtudes sociais imaginárias do aborto legalizado. Eram milhões, baixaram para milhares, depois viraram algumas centenas. Agora parece que fecharam negócio em 180, quando o próprio SUS já admitiu que não passam de oito ou nove. É claro: se você não apreende ou não respeita nem mesmo a distinção entre espécies, como não seria também indiferente à exatidão das quantidades? Uma deformidade mental traz a outra embutida.
Aristóteles aconselhava evitar o debate com adversários incapazes de reconhecer ou de obedecer as regras elementares da busca da verdade. Se algum abortista desejasse a verdade, teria de reconhecer que é incapaz de provar a inumanidade dos fetos e admitir que, no fundo, eles serem humanos ou não é coisa que não interfere, no mais mínimo que seja, na sua decisão de matá-los. Mas confessar isso seria exibir um crachá de sociopata. E sociopatas, por definição e fatalidade intrínseca, vivem de parecer que não o são.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
"My" Economic Cold War: not so bad, anyway...
Paulo Roberto de Almeida *
Old Realities
The geopolitical Cold War is definitely closed, it seems. Besides “normal” political tensions and trade frictions between major powers, there are no more totally opposed conceptions about how to organize the world economically or politically. No one is saying something like “we’ll bury you”, as done in the past by a Soviet leader.
We are having now an economic Cold War, or sort of. Indeed, there is nothing capable of starting a full-scale confrontation among major powers. What we do have now are trade frictions and currency misalignments, over a post-crisis adjustment process. There is a dispute over how national economic policies should take into account their impacts over other countries’ economic situation. But, as Mark Twain could have argued, rumors about a global currency war are greatly exaggerated. We have not yet outlived the current financial crisis; this is just one among many others that affect dynamic markets since the beginnings of capitalism.
It is not entirely true that this crisis was created by the deregulation of the financial markets, although low regulation can indeed have facilitated the expansion of existing bubbles in some markets. The main culprit for the bubble, though, is the low level of interest rates established by central banks during too long a period. In the same manner, albeit in very different ways, that the old Lords of Finance of the Twenties created the crisis of the 1930s, by their action or inaction, the present crisis is the result of misguided policies by the new Lords of Finance.
It is also not true that this crisis is severe enough to justify a new Bretton Woods-like redrafting of the world economic order. Talks about a new financial architecture, or even about a redistribution of world economic and political power, are totally in contradiction with the more prosaic realities of our days. We are not at all in a post-major crisis arrangement, a sort of diplomatic complete reordering of the world after a cataclysmic seism, touching all and every major actor of the international scene. We are very far from that. Let’s look the precedents.
We are not in Wesphalia-1648. We are not in Vienna-1815. We are not in Paris or Versailles-1919. And we are not in Bretton-Woods-1944, or San Francisco-1945. We are not in any major re-founding of the international political and economic order. We simply are, nowadays, in the middle of our 1930s, trying to manage a big crisis by national responses, each one fitted to the specific circumstances of each country, and delinked from a major disaster affecting everyone and all countries.
To be more precise, we are somewhere between 1931 and 1933, still in the middle of a recession, but not in a depression. The level of unemployment is not as high as in 1933, and is probably in line with patterns of our days. World trade and financial flows are not as disrupted as in the 1930s, although economic liberalization regressed: we reverted to a light version of trade protectionism, without quotas.
This new economic Cold War arises from structural changes in the world economy, already on the move since the Eighties, when China started to flex its muscles again. At the same time, developing countries ceased to rely on national, inward-looking, projects for national development and opened themselves to foreign investment. Since then, the world economy has been transformed irrevocably.
But not everything, of course, has changed. The major decision-making institutions are still the same, with the same distribution of voting rights. IMF and World Bank are in the middle of their travails to find a new distribution of quotas. The collective voting power of China, India and Brazil is 20% less than that of Belgium, Netherlands and Italy, despite the fact that the joint GDP of the former countries is four times greater the size of their European counterparts; they have a population 29 times greater. Those are the reasons for this new economic Cold War.
How to manage those new realities in the economic realm, having as political leverages the same old structures of the decision-making process? That’s a tricky question, with no clear answer to the dilemma. To manage the world economy is a pretension that even the old G7 never reached to attain in its glorious days. Developed countries controlled then a big proportion of the world’s GDP, trade and financial flows. But they were never capable of coordinating their macroeconomic policies among themselves; never mind establishing rules and goals for the rest of the world.
Nowadays, with a painful free-fall in advanced economies, it is difficult to see what could be done to restore growth rates from their stagnating levels. Besides the cyclical problems affecting major economies, with the possible exception of China, India and a few other countries, we still have global challenges ahead, like poverty in less developed countries, decisions to be made regarding environmental matters, human rights violations in non-democratic countries, and many other relevant issues.
One single strategy would be the establishing of just one big goal for the world community: that has to be the promotion of global development, not exactly through assistance (the traditional Official Development Assistance), but primarily through real trade liberalization, especially in the farm sector, the only real possibility for the less-developed countries to become integrated into the world economy. The United States and European Union have a main responsibility in this domain.
It is highly unlikely that consensual proposals concerning global development could be arising from such a large body as the financial G20, too heterogeneous to be able to reach common positions. Perhaps, the best hope would be to have an evolution from the current G8 to a new G13. That means joining the leaders of the G8 together with five other big countries, namely Brazil, China, India, South Africa, and, either Indonesia or Mexico. Experience shows that small, informal bodies are more likely to deliver something meaningful than large institutionalized groups that get involved in bureaucratic foot-dragging and political entanglements.
New Prospects
What is to be done? The biggest problem in this approach of a G20-minus is acquiring the legitimacy that is involved in the act of speaking for the whole world community from the starting point of only 13 countries. To solve this quandary implies that the political leaders of these 13 countries would have to find a terrain of reciprocal confidence between them that has to be compatible with the representation at large they would be pretending to have from the whole community of nations.
Finding common grounds is a hard task to achieve. It will quite difficult to attain a perfect coordination of agendas between the big advanced and emerging countries and, together, among them and the international institutions. The world is simply not as globalized as required to attain this kind of interaction. Disparities of interests, differences of levels of development, imbalances between countries, many factors collude to render almost impossible this exercise of coordination.
A modest approach could be a more frequent interaction – once a year – between the leaders of the new G13. Sherpas of a special quality, meeting twice a year, could then be mobilized to discuss trade matters, environmental affairs, human rights protection, UN peace-keeping missions and the like, with specific mandates from their political leaders. But, don’t look at the UN for the organization of their agenda. It is difficult to implement anything through the UN, a too large and chaotic a body. Better to rely of the coordination of agendas of the three more important agencies for globalization: IMF, World Bank and WTO.
The main task of the “new sherpas” is to look for international economic coordination around relevant issues for the global community. A possible suggestion would be to try to establish a “global new deal”, exchanging extensive protection to investments and to proprietary riches (patents and the like), as well as other good microeconomic conditions for productive activity, from the side of developing countries (the recipients of FDI), against extensive licensing and effective investments and trade liberalization by rich countries and investors alike. This kind of deal, by extending property rights for the rich, could entail the strengthening of trade, financial and investment flows to the poor, giving a pretty little boost to globalization.
Traditional assistance for development, because it is ineffective, should be replaced, essentially, by a focus on educational improvements, that is, an extensive program for human resources qualification. Assistance as such should be limited to the implementation of a consistent program for eradicating most of infectious diseases in African countries and in some other developing countries. The main reason for the persistence of poverty in those countries is not the lack of resources, but the absence of governance and their non-integration into the world economy through trade links.
Assuming that the questions of democratic governance and human rights protection can be a conundrum for countries like China, or perhaps even Russia, the main target for the agenda of the new G13 could be the adoption of high standards for public governance in the technical meaning of this expression. It is a little too early to make democratic governance and respect for the human rights the decisive criteria for bilateral and-or multilateral cooperation. But these should be the ultimate goals of any kind of new global governance.
* Paulo Roberto de Almeida
Brazilian Diplomat, International Political Economy; Professor at University Center of Brasilia (Uniceub); (www.pralmeida.org)
[Shanghai, October 12, 2010]
Economic Cold War: Warnings of Currency Conflict
Paulo Roberto de Almeida
Economist Raghuram Rajan Warns of Currency Conflict
Der Spiegel, October 12, 2010
In a SPIEGEL interview, renowned Chicago-based economist Raghuram Rajan discusses the dangers of a global currency war, the risks of persistently low interest rates and the growing income and wealth inequality in the United States
http://www.spiegel.de/international/business/0,1518,722520,00.html#ref=nlint
Brasilianistas: uma lista de obras "classicas"
Fiz uma página especial para ele, neste link.
Também linkei a reportagem da revista VEJA sobre o livro, neste link.
Mas, o mais interessante (e eu havia completamente esquecido) é que eu tinha mandado para a Veja uma relação de obras importantes dos brasilianistas, que está linkada na matéria da Veja, mas não imediatamente disponível em minha página.
Creio que vale conferir (sabendo que é um levantemento de quase dez anos atrás):
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/010502/brasilianismo.html
O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000
Paulo Roberto de Almeida, Marshall C. Eakin e Rubens Antonio Barbosa (editores)
(São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002, ISBN: 85-219-0441-X)
Sumário:
Perfil dos autores
Apresentação: Os estudos brasileiros nos Estados Unidos: um projeto em desenvolvimento - Rubens Antonio Barbosa
1. Introdução: Uma certa idéia do Brasil: as afinidades eletivas dos brasilianistas - Marshall C. Eakin e Paulo Roberto de Almeida
Primeira Parte
Desenvolvimento geral dos estudos brasileiros nos Estados Unidos
2. Tendências e perspectivas dos estudos brasileiros nos Estados Unidos, 1945-2000 - Paulo Roberto de Almeida
3. Pesquisa: fontes e materiais de arquivos, instituições relevantes, abordagens - Robert M. Levine
4. Ensinando o Brasil: uma revisão dos programas sobre o Brasil nos Estados Unidos - Theodore R. Young
Segunda Parte
Pesquisa disciplinar e produção seletiva publicada, 1945-2000
5. Língua portuguesa e estudos brasileiros - Carmen Chaves Tesser
6. Literatura e cultura - K. David Jackson
7. Artes e Música - Jose Neistein
8. História - Judy Bieber
9. Antropologia - Janet Chernela
10. Economia - Werner Baer
11. Ciências Sociais - Marshall C. Eakin
12. Relações internacionais - Scott D. Tollefson
13. Geografia - Cyrus B. Dawsey III
14. Brasiliana nos Estados Unidos: referências e fontes documentais - Ann Hartness
Terceira Parte
Informação sobre a produção acadêmica brasilianista, 1945-2001
15. Uma cronologia das relações Brasil-EUA e da produção acadêmica, 1945-2001 - Paulo Roberto de Almeida
16. A contribuição britânica ao brasilianismo acadêmico - Leslie Bethell
17. Desenvolvimento comparado do estudo do Brasil nos Estados Unidos e na França - Edward A. Riedinger
18. Bibliografia seletiva - Paulo Roberto de Almeida
Apêndices:
Informação sobre outros colaboradores
AOS HISTORIADORES: Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil
Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil: Coleções documentais sobre o Brasil nos Estados Unidos
(Shanghai, 12 outubro 2010, 231 p.)
Revisão completa do trabalho n. 1125 (Washington, 28 set. 2003, 247 pp.), este, por sua vez, versão corrigida do trabalho n. 966 (Washington, 11 out. 2002, 226 p.), que tinha sido circulado entre especialistas e pesquisadores, em seminário de estudos brasileiros em Washington; longo processo de negociação com editoras interessadas em edição, agora a cargo da Funag-MRE. Em fase de revisão. Relação de originais n. 2200.
Transcrevo abaixo o Índice desse volume:
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS 13
APRESENTAÇÃO AO VOLUME 15
APRESENTAÇÃO GERAL DO PROJETO RESGATE 23
Esther Caldas Bertoletti, Biblioteca Nacional - IHGB
PREFÁCIO 29
Embaixador Rubens Antonio Barbosa
INTRODUÇÃO
Paulo Roberto de Almeida e Francisco Rogido Fins 31
1. NATIONAL ARCHIVES AND RECORDS ADMINISTRATION 51
1.1. Informações gerais 52
1.2. Principais Record Groups relacionados com o Brasil 56
1.2.1. RG 39 – Department of Treasury, Bureau of Accounts 56
1.2.2. RG 40 – Department of Commerce 56
1.2.3. RG 43 – International Conferences, Commissions and Expositions 56
1.2.4. RG 59 – Department of State 57
1.2.5. RG 63 – Committee on Public Information 57
1.2.6. RG 65 – Federal Bureau of Investigation 57
1.2.7. RG 84 – Foreign Service Posts of the Department of State 57
1.2.8. RG 90 – Public Health Service 58
1.2.9. RG 122 – Federal Trade Commission 58
1.2.10. RG 166 – Foreign Agricultural Service 58
1.2.11. RG 169 – Foreign Economic Administration 58
1.2.12. RG 229 – Office of Inter-American Affairs 58
1.2.13. RG 263 – Central Intelligence Agency 58
1.2.14. RG 275 – Export-Import Bank of the United States 59
1.2.15. RG 333 – International Military Agencies 59
1.3. Materiais referentes ao Brasil 59
1.3.1. Disponíveis no Brasil 59
1.3.2. Disponíveis nos EUA 61
2. BIBLIOTECAS PRESIDENCIAIS 65
Materiais históricos doados 66
Arquivos presidenciais 66
Materiais históricos presidenciais da Administração Nixon 67
2.1. Herbert Hoover Library 68
2.1.1. Informações gerais 68
2.1.2. Materiais referentes ao Brasil 69
2.2. Franklin D. Roosevelt Library 71
2.2.1. Informações gerais 71
2.2.2. Materiais referentes ao Brasil 73
2.3. Harry Truman Library 76
2.3.1. Informações gerais 76
2.3.2. Materiais referentes ao Brasil 77
2.4. Dwight D. Eisenhower Library 79
2.4.1. Informações gerais 79
2.4.2. Materiais referentes ao Brasil 80
2.5. John F. Kennedy Library 85
2.5.1. Informações gerais 85
2.5.2. Materiais referentes ao Brasil 85
2.6. Lyndon B. Johnson Library 89
2.6.1. Informações gerais 89
2.6.2. Materiais referentes ao Brasil 89
2.7. Nixon Presidential Materials Staff 97
2.7.1. Informações gerais 97
2.7.2. Materiais referentes ao Brasil 98
2.8. Gerald R. Ford Library and Museum 99
2.8.1. Informações gerais 99
2.8.2. Materiais referentes ao Brasil 100
2.9. Jimmy Carter Library 104
2.9.1. Informações gerais 104
2.9.2. Materiais referentes ao Brasil 105
2.10. Ronald Regan Library 107
2.10.1. Informações gerais 107
2.10.2. Materiais referentes ao Brasil 107
2.11. George Bush Library 112
2.11.1. Informações gerais 112
2.11.2. Materiais referentes ao Brasil 113
2.12. William J. Clinton Presidential Library and Museum 117
2.12.1. Informações gerais 117
2.12.2. Materiais referentes ao Brasil 118
2.13. George W. Bush Presidential Library 119
2.13.1. Informações gerais 119
2.13.2. Materiais referentes ao Brasil 119
3. OUTRAS BIBLIOTECAS E INSTITUIÇÕES 121
3.1. Library of Congress – Washington, DC 122
3.1.1. Informações gerais 123
3.1.2. Materiais referentes ao Brasil 124
3.2. Oliveira Lima Library – Washington, DC 133
3.2.1. Informações gerais 134
3.2.2. Materiais referentes ao Brasil 135
3.3. Benson Latin American Collection – Austin, TX 138
3.3.1. Informações gerais 139
3.3.2. Materiais referentes ao Brasil 139
3.4. John Carter Brown Library – Providence, RI 141
3.4.1. Informações gerais 141
3.4.2. Materiais referentes ao Brasil 142
3.5. Columbus Memorial Library – Washington, DC 145
3.5.1. Informações gerais 145
3.5.2. Materiais referentes ao Brasil 146
3.6. Yale University – New Haven, CT 147
3.6.1. Informações gerais 147
3.6.2. Materiais referentes ao Brasil 148
3.7. Howard-Tilton Memorial Library – New Orleans, LA 150
3.7.1. Informações gerais 150
3.7.2. Materiais referentes ao Brasil 151
3.8. Joseph Mark Lauinger Library – Washington, DC 152
3.8.1. Informações gerais 152
3.8.2. Materiais referentes ao Brasil 153
3.9. Newberry Library – Chicago, IL 154
3.9.1. Informações gerais 154
3.9.2. Materiais referentes ao Brasil 155
3.10. Smithsonian Institution – Washington, DC 156
3.10.1. Informações gerais 156
3.10.2. Materiais referentes ao Brasil 157
3.11. New York Public Library – New York, NY 166
3.11.1. Informações gerais 166
3.11.2. Materiais referentes ao Brasil 167
3.12. National Security Archive – Washington, DC 168
3.12.1. Informações gerais 168
3.12.2. Materiais referentes ao Brasil 169
3.13. Center for Research Libraries - Latin American Microform Project 170
3.13.1. Informações gerais 170
3.13.2. Materiais referentes ao Brasil 171
4. APÊNDICES 173
4.1. RG 59 – General Records of the Department of State 175
4.1.1. Microfilmes disponíveis no Brasil 175
4.1.2. Microfilmes disponíveis nos EUA 202
4.2. RG 263 – Central Intelligence Agency 210
4.3. Chefes de Missão dos Estados Unidos no Brasil, 1825-2010 216
4.4. Chefes de Missão do Brasil nos Estados Unidos, 1824-2010 218
4.5. Modelo de carta para recurso ao FOIA 220
4.6. Recursos para pesquisa online 221
4.7. Feriados nacionais nos Estados Unidos 222
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 223
NOTAS SOBRE OS ORGANIZADORES 229
Link para download desta versão para editoração, que poderá ser imediatamente consultado pelos Interessados.
Brasil: cooperacao ao desenvolvimento - Rubens Antonio Barbosa
RUBENS BARBOSA
O Estado de S.Paulo, 11 de outubro de 2010
Um dos aspectos da política externa que pouco têm merecido a atenção dos analistas e estudiosos é o da assistência técnica e financeira prestada pelo Brasil a dezenas de países, especialmente da África e da América Latina. Trata-se de um dos desdobramentos da política Sul-Sul desenvolvida nos últimos oito anos pelo governo brasileiro.
Sem chamar muito a atenção, e gradualmente aumentando seu soft power, o Brasil está se tornando um dos maiores doadores e prestadores de assistência técnica e financeira para os países de menor desenvolvimento relativo. Por meio de diversas formas de ajuda, o Brasil, somente em 2010, ter-se-ia comprometido com mais de US$ 4,5 bilhões.
Neste espaço pretendo examinar as motivações dessa ação governamental no exterior, o volume e as fontes dos recursos transferidos aos países mais pobres.
Reforçar a solidariedade com gestos políticos do Brasil no mundo é a explicação oferecida pelo Itamaraty. Na realidade, algumas das motivações que explicam a diplomacia da generosidade na América Latina e na África são a busca de prestígio para o Brasil e para o presidente Lula, o esforço para obter apoio para nossa pretensão de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e interesses comerciais de abertura de mercado para serviços de empresas brasileiras na competição com o governo e companhias, sobretudo, da China.
Como ocorre com a China, o Brasil não impõe condições aos países que recebem a ajuda, mas também não leva em consideração valores que defendemos internamente, como democracia e direitos humanos, deixando prevalecer a ideia de que "negócios são negócios".
Segundo informações coligidas recentemente pela revista britânica The Economist, os recursos utilizados nessa ação externa sobem a US$ 1,2 bilhão, superando o Canadá e a Suécia, tradicionais doadores e prestadores de ajudas aos países em desenvolvimento. Os recursos são oriundos da Agência Brasileira de Cooperação do Itamaraty, com cerca de US$ 52 milhões. De outras instituições de cooperação técnica, como Embrapa e Conab, saem US$ 440 milhões; para ajuda humanitária a países afetados por desastres naturais, US$ 30 milhões; recursos para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), US$ 25 milhões; para o programa de alimentação da FAO, US$ 300 milhões; de ajuda para a Faixa de Gaza, US$ 10 milhões; e para o Haiti, US$ 350 milhões. Implantamos escritório de pesquisas agrícolas em Gana, fazenda-modelo de algodão no Mali, fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique e centros de formação profissional em cinco países africanos.
Os empréstimos do BNDES e agora do Banco do Brasil aos países em desenvolvimento, de 2008 ao primeiro trimestre de 2010, subiram a mais de US$ 3,5 bilhões, em projetos na América do Sul, no Haiti, na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, na Palestina, no Camboja, no Burundi, Laos e em Serra Leoa.
O Tesouro Nacional, por sua vez, aumentou sua exposição com o incremento da contribuição do Brasil à Corporação Andina de Fomento para US$ 300 milhões e ao Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul, que sobe hoje a US$ 470 milhões, acrescido de US$ 100 milhões por ano, 70% representados por contribuições do Brasil.
Por outro lado, além de créditos de difícil recuperação concedidos a alguns países africanos, a Cuba e à Venezuela, o governo brasileiro, nos últimos anos, perdoou dívidas do Congo, de Angola, Moçambique, Bolívia, Equador, Paraguai, Suriname e, agora, Tanzânia.
Até dezembro, coincidindo com o final do atual governo, segundo se noticia, o governo brasileiro vai doar US$ 300 milhões em alimentos (milho, feijão, arroz, leite em pó) a, entre outros, Sudão, Somália, Níger e nações africanas de língua portuguesa. Serão igualmente beneficiados a Faixa de Gaza, El Salvador, Haiti, Cuba. Segundo a Coordenação-Geral de Ações Internacionais de Combate à Fome do governo federal, também receberam ajuda brasileira África do Sul, Jamaica, Armênia, Mali, El Salvador, Quirguistão, Saara Ocidental, Mongólia, Iraque e Sri Lanka.
Pensando mais em considerações de política externa e menos nos interesses de alguns setores industriais afetados pela competição chinesa, pelo custo Brasil e pelo câmbio apreciado, o Itamaraty, na área comercial, procura ajudar os países mais pobres pela iniciativa de abrir o mercado brasileiro para produtos desses países com tarifa zero e sem cota. O setor têxtil, por exemplo, seria seriamente atingido pelas importações de Bangladesh, que exporta para o mundo mais de US$ 70 bilhões. Na mesma linha de abertura de mercados para os países em desenvolvimento, o Itamaraty está negociando a ampliação e o aprofundamento do Sistema Geral de Preferências Comerciais (SGPC), que, menos radical que o programa unilateral anterior, oferece rebaixas tarifárias com cotas para os países mais pobres.
No tocante à assistência técnica e à abertura de créditos para obras públicas em países africanos e sul-americanos, a exemplo do que ocorre com os países desenvolvidos, as empresas brasileiras poderão vir a se beneficiar, ganhando concorrências para a prestação de serviços e exportando produtos brasileiros.
A generosidade externa é, pelo menos, controvertida. Enquanto a taxa de investimento interno é baixa, ao redor de 17%, o perdão dessas dívidas não está de acordo com a legislação brasileira. Sendo duvidosa a viabilidade de recuperação dos empréstimos do BNDES, não seriam esses recursos mais bem aplicados em programas de infraestrutura, de habitação, de energia, de alimentos e de tantos outros setores carentes de recursos?
A discussão sobre a prioridade do governo brasileiro nessa área fica para um próximo artigo neste espaço.
PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP
Pausa para a piada... do brasileiro... em Portugal
Enquanto isso, em Portugal...
Em Lisboa, um português pergunta ao conterrâneo :
- Sabes a última do brasileiro?
- Não.
- Para votar vale qualquer documento, exceto o Título de Eleitor.
Complementando: para tirar qualquer outro documento: passaporte, entre outros, é obrigatório o titulo de eleitor. Menos para votar...
É, acho que os portugueses têm razão de darem risadas da gente...
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Educacao: um comeco de diagnostico, possiveis solucoes - Claudio Moura Castro
Paulo Roberto de Almeida
Entrevista
Educação é ensinar a pensar
Cláudio de Moura Castro economista e especialista em educação, 72
Jornal O TEMPO, 10/10/2010
Conselheiro de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, além de membro de órgãos consultivos de instituições como Inhotim, CNI e Fiesp, esse carioca criado em Minas Gerais é crítico mordaz do sistema educacional brasileiro, além de frasista da melhor qualidade. Para Cláudio, o grande gargalo da educação brasileira é a chatice - matérias que nada têm a ver com o aluno - e, por isso, uma reforma é urgente.
Temos hoje no Brasil alguns cientistas reconhecidos internacionalmente. São casos isolados ou bons frutos do sistema educacional brasileiro? Veja bem, o caso brasileiro é parecido com a Índia, onde a taxa de analfabetismo é da ordem de um terço da população, e os que estão frequentando escolas estão em instituições tão ruins ou piores do que as brasileiras. Não obstante, a Índia tem sete institutos federais de tecnologia que são padrão de grandes universidades e recrutam dentro do bilhão de habitantes. Cria-se um filtro dentro do filtro e acaba com gente extremamente competente e dedicada. A comparação é válida porque mostra que se pode ter um sistema educacional muito ruim e bons doutores. Essa solução não é boa, nem no Brasil, nem na Índia. Bom seria que partisse de uma base muito maior. Veja a Suíça, que tem uma grande produção de prêmios Nobel com uma população de 7 milhões.
Por que o sistema brasileiro é ruim? Porque começamos com vários séculos de atraso. Em 1450, apenas 15% da população da Europa era alfabetizada. Em 1.500, com Guttemberg, passou para 30%. Em 1900, 15% da população de Portugal era alfabetizada - estava no nível da Europa pré-imprensa -, e nós herdamos esse sistema educacional. No Brasil de 1900, 10% da população era alfabetizada. Há 50 anos, as estatísticas educacionais brasileiras eram bem pior do que as do Paraguai, Bolívia, Equador, para não falar da Colômbia. Começamos atrás desses países, já os passamos e estamos nos aproximando de Argentina, Uruguai e Chile, que são os melhores na América Latina.
Qual a razão dessa - comparativamente - rápida alfabetização por aqui? A economia brasileira cresceu mais em termos de PIB bruto do que qualquer país no mundo entre 1870 e 1980. A melhoria da educação do Brasil é fruto dessa demanda do setor produtivo que precisa de gente mais competente. Muito mais do que um voluntarismo de um setor público iluminado como houve por exemplo na França.
O que é necessário para melhorar a educação no país? Pesquisa recente mostrou que 70% dos pais estão satisfeitos com a escola no Brasil. Ou seja, não estão dispostos a brigar por uma escola melhor, e os políticos não vão brigar por isso porque não têm o apoio da sociedade. Esse é o maior entrave: a falta de percepção de que não basta ir para a escola e passar um monte de anos como hoje, pois o aluno não aprende.
O currículo escolar brasileiro é ruim em relação ao de outros países? De uma maneira geral, a estrutura é muito parecida. Em todos os lugares tem direito, medicina, engenharia etc. Há um primeiro e segundo graus que têm a mesma cara. O grande problema é que tentamos ensinar mais do que aluno dá conta de aprender. Os currículos são frondosos, exagerados. Em Cingapura, um livro de matemática da quarta série tem oito tópicos. O livro brasileiro tem 56. Cingapura está lá em cima no índice Pisa da OECD (Programa para Avaliação Internacional de Alunos, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, nas siglas em inglês). Isso mostra que o brasileiro vai ouvir falar dos 56 tópicos e não vai aprender nenhum.
Mas, nas últimas reformas curriculares, aumentou-se esse currículo, com aulas de cultura negra, filosofia, sociologia, línguas. Estamos no caminho errado? Cada vez mais se torna mais remota a possibilidade de se aprender realmente. Quando se ensina assunto demais, o aluno aprende de menos (sic). Educação não é entupir o aluno com datas, lugares e eventos. Educação é ensinar a pensar, e isso se consegue com foco, tempo para praticar estilos de pensamento e se exercitar isso, o que não é possível com a avalanche curricular que temos, sobretudo no ensino médio, que é um desastre monumental.
Qual seria a alternativa? Reduzir o número de matérias, e a maneira de fazer isso é criar um currículo mínimo. Todos têm de fazer ciência, história, matemática português e deixar que as escolas completem o currículo com coisas que são de interesse e estão ao alcance dos alunos. Deveríamos eliminar a ideia de um currículo único para todos.
O grande gargalo na educação brasileira ainda é a seleção para o curso superior? Não. O grande gargalo chama-se chatice, no ensino médio, que é supremamente aborrecido, saturado de matérias desinteressantes. São matérias distantes do mundo do aluno e impossíveis de serem apreendidas. Os alunos estão saindo no meio e a deserção do ensino médio é alarmante, um terço apenas termina. A taxa de aproveitamento do médio para o superior no Brasil é das maiores do mundo - cerca de 80% daqueles que se formam no colégio vão para a faculdade. As escolas particulares têm mais vagas do que alunos. Hoje, o que não tem é aluno para o ensino superior.
O Enem melhorou o ensino brasileiro? Não tivemos tempo para saber se o novo Enem cumpre o que prometeu. Tivemos uma aplicação extremamente conturbada e não temos uma avaliação da prova. E o Enem foi mudado há um ano, pois antes era uma prova só de raciocínio e precisou de um pouco mais de currículo escolar para servir como vestibular. A ideia é perfeita, mas, se a dose curricular foi exagerada, eu não posso dizer e não há consenso hoje.
Sobre educação infantil, como lidar com a chamada geração Y, que chega à escola sabendo computação e por vezes tem mais informação do que o professor sobre determinado assunto? Se informação fosse educação, é esse o aluno que deveria dar aula para o professor. Mas educação é saber usar o conhecimento. É fazer sentido desse colosso de informação que está aí. Isso o aluno não sabe. O que o professor tem de fazer é botar o aluno para pensar disciplinadamente, usando problemas do nosso cotidiano.
Como o professor pode colocar limite nessas crianças? Ele deve oferecer um ensino relevante e não ser envergonhado em relação à disciplina. Hoje o professor tem vergonha de mandar no aluno. A escola tem vergonha de disciplinar. Essa confusão entre autoridade e autoritarismo faz com que as coisas se precipitem, até que o professor tem de usar sua autoridade para que a casa não venha abaixo, mas aí já está em um conflito.
Seria a volta da palmatória? Irrelevante, não estou pregando isso. Estou pregando que o professor tem de aceitar exercer a autoridade sobre o aluno desde o primeiro dia de aula e não achar que autoridade é autoritarismo. Uma pesquisa com os dez melhores alunos do Enem mostrou que todos vieram de escolas com disciplina muito forte e rígida. Essas são as pessoas que estão indo para as melhores universidades e tendo melhor desempenho.
Se o professor ganhar melhores salários, a educação no país melhora? Impacto zero. Se pegar os 27 Estados brasileiros e botar salários de um lado e desempenho do outro, seja Ideb ou Prova Brasil, a correlação é zero. Não há nenhuma associação entre o nível de salário dos professores e o desempenho do Estado.
O professor brasileiro é bem formado? Esse é o desastre. Se tivesse de mexer em alguma coisa seria na formação do professor, porque as faculdades de educação, públicas e privadas, têm uma reputação muito ruim e recrutam os alunos mais fracos, na média. Depois, essas faculdades viraram redutos ideológicos, e as pessoas ficam estudando luta de classe ou então teorias pedagógicas muito rarefeitas e complicadas. O que eles fazem é aprender as palavras, mas não aprendem nem o conteúdo nem a dar aula
Saude: um sistema perfeito de atendimento - segundo o presidente
Empresa sem o dono
FERREIRA GULLAR
Folha de S.Paulo, 10.10.2010
Há um desinteresse da parte das autoridades de saúde e dos médicos por cumprir suas obrigações
EDMILSON É um cidadão carioca que vive com dificuldade, ganhando pouco, tendo que sustentar um filho inválido de 12 anos que não fica em pé e nem mesmo consegue sentar-se. Haja força para levá-lo ao banheiro, banhá-lo e vesti-lo.
Edmilson, de poucos músculos e fumante inveterado (deixou de fumar faz pouco), não goza de boa saúde, de modo que, frequentemente, procura médico em algum hospital público e nada consegue, claro.
Faz alguns meses, sentindo dificuldade de respirar, uma dor no peito, decidiu ir a um hospital público relativamente próximo de sua casa, que fica em Anchieta, zona oeste do Rio. Entrou na fila às oito da manhã, recebeu um número e esperou pacientemente até ser chamado.
Isso ocorreu às três da tarde, ou seja sete horas depois. Informaram-lhe de que não podia ser atendido porque o médico cardiologista estava de férias. Voltou para casa assustado, certo de que sofreria um infarto a qualquer momento.
Ao tomar conhecimento disso, perguntei-me se o serviço público de saúde está entregue a sádicos que têm prazer de torturar o paciente. Do contrário, por que deixá-lo na fila de espera durante horas e horas, sabendo que não há médico para atendê-lo? Isso, de um lado; de outro, como pode o cardiologista de um hospital público entrar de férias sem que se providencie outro médico para substituí-lo?
Pois bem, isso foi há muitos meses, mas, agora, há pouco mais de uma semana, Edmilson, sentindo dor num dos ouvidos, foi aconselhado a buscar um serviço médico de emergência porque poderia ter contraído uma infecção ou até mesmo estar com um tumor no ouvido.
A opção pelo serviço de emergência veio porque, se fosse a um hospital público normal, dificilmente seria atendido, como já se viu. E o caso era urgente.
Saiu de casa bem cedo para não ter que esperar o dia todo e, de fato, não esperou muito; aliás, não esperou nada, pois logo soube que ali, naquela emergência, não havia médico otorrino. "E a senhora pode me dizer em que emergência há médico otorrino?", perguntou à funcionária, que lhe disse desconhecer alguma emergência com esse tipo de médico. E Edmilson voltou mais uma vez para casa sem ser atendido pelo serviço médico do Estado que sustentamos com nossos impostos. E o que vai ser dele, tendo um enfisema no pulmão e um tumor no ouvido?
Edmilson é apenas um entre milhões de brasileiros que não têm atendimento médico, embora, agora mesmo, durante a campanha eleitoral, os políticos tenham dito que o Brasil tenha um dos melhores serviços de saúde pública do mundo. É muita cara de pau!
Claro que eles mesmos não acreditam nisso e não desejam tomar conhecimento do que efetivamente ocorre nessa área. Há, sem dúvida, carência de meios para atender à demanda de cem milhões de pessoas ou mais.
Não é fácil dar atendimento satisfatório a tanta gente, mas o que se observa é que, afora a carência de meios, há também um desinteresse da parte das autoridades de saúde e dos médicos mesmo por cumprir suas obrigações, o que se traduz em ausência de espírito público.
O chefe, em vez de exigir dos servidores o cumprimento de suas tarefas, dá mole, faz vista grossa para suas faltas e sua displicência.
Isso ocorre no serviço público de modo geral e também, claro, na área da saúde, em que assume maior gravidade. Fazer cumprir as normas, ao que tudo indica, é visto hoje como uma atitude autoritária e o que impera é o espírito de camaradagem, que termina por anular a autoridade dos que têm por função gerir a coisa pública.
Soube recentemente do caso de um médico que, nas noites de plantão, tranca-se num dos quartos do hospital e dorme a sono solto, morra quem morrer.
Não admite ser acordado, já que a noite foi feita para dormir. E fica por isso mesmo, já que pega mal denunciar um colega...
Isso ocorre por muitas razões e talvez a principal delas seja mesmo o fato de que o serviço público é uma empresa, cujo dono, o povo, está ausente e os que estão ali para representá-lo, os diretores e chefes de serviço, ou não têm consciência disso ou, como os demais, aproveitam a ausência do dono para usá-lo em função de seu próprio interesse. É a casa da mãe joana.