O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Paraguai vs Mercosul: vias travadas em Haia

Não creio que o Paraguai consiga algo no caminho de Haia, assim como não conseguiu nada no caminho de Assunção, ou melhor do Tribunal Permanente de Revisão. Basta que os demais países, ou seja, os três outros membros do Mercosul, Argentina, Brasil e Uruguai, deixem de atender qualquer convocação, e nada acontece.
Paulo Roberto de Almeida 

Paraguai contrata especialistas dos EUA para recorrer em Haia contra decisão do Mercosul


O presidente do Paraguai, Federico Franco, anunciou que o governo pode recorrer ao Tribunal Internacional de Haia contra a decisão doMercosul de suspender o país do bloco, até as eleições de abril de 2013. Franco disse que contratou uma equipe de especialistas norte-americanos para defender a ação movida pelo governo paraguaio contra a medida. O Paraguai foi suspenso doMercosul, no final de junho, após a destituição do então presidente Fernando Lugo do poder.


- Por intermédio do chanceler (Félix Fernández Echibarria) decidimos pela contratação de uma equipe jurídica de primeiro nível, dos Estados Unidos (para levar a questão a Haia) – disse o presidente. Anteriormente, Franco tinha anunciado a desistência da ação por considerar que o preço era elevado e a demora demasiada.
Segundo Franco, a equipe de especialistas irá fazer consultorias para verificar a possibilidade de o governo do Paraguai conseguir mover a ação e vencer o embate jurídico com o Mercosul. Para os líderes políticos do bloco, houve o rompimento da ordem democrática no Paraguai pela rapidez e pouco prazo para Lugo se defender no processo de impeachment.
As autoridades do Paraguai negam irregularidades no processo, informando que a Constituição e as leis do país foram seguidas, sem rompimento dos preceitos democráticos. Porém, a medida de suspensão também foi adotada pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul) pelo mesmo prazo,  até 21 de abril de 2013.
- A avaliação dos juristas contratados pelo governo paraguaio pode ajudar a diminuir a situação de tensão que estamos passando neste momento – disse o presidente do Paraguai.

Economia brasileira de 1889 a 1930 - livro coleção Mapfre


O mundo, deve-se admitir, não teve todas as culpas
Vanessa Jurgenfeld
Valor Econômico, 04.09.2012

A Abertura para o Mundo: 1889-1930
Coleção História do Brasil Nação, vol. 3
Vários autores. Org.: Lilia M. Schwarcz
Editora: Objetiva. 344 págs., R$ 44,90

Gustavo Franco: uma reinterpretação da história econômica do Brasil distante das visões preferidas por heterodoxos.

A Primeira República (1889-1930) é um rico momento da história brasileira: envolve transição para o trabalho livre, as origens do desenvolvimento da indústria nacional, aceleração da urbanização e um conflito de política econômica em torno, principalmente, das políticas de valorização do café e da questão cambial. Mas, como todo period histórico, é vasto em permanências e rupturas, ambiguidades e conflitos de interesses. O passar dos anos costuma trazer o benefício de ampliar a perspectiva de sua observação.
Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), e o ex-diretor do Banco Central e também professor da PUC-RJ Luiz Aranha Corrêa do Lago assinam 56 páginas em que fazem uma (re)interpretação da história econômica dessa fase como parte do livro "A Abertura para o Mundo (1889-1930)", o terceiro volume da coleção "História do Brasil Nação".
O texto solto, sem tabelas nem notas de rodapé comuns aos escritos acadêmicos de economia, busca um público mais vasto do que os leitores especialistas, integrando uma certa "norma de conduta" da coleção. Mas é preciso advertir que não se trata de um passeio: há densa análise sobre a política econômica do período, que perpassa o debate entre papelistas e metalistas, a adoção do padrão-ouro, o papel de bancos brasileiros no período, questões relativas a balanço de pagamentos e à taxa de câmbio. Além disso, é terreno arenoso, se levado em conta que há um debate importante sobre o período, alvo de diversos intérpretes, como Caio Prado Jr., Celso Furtado, Warren Dean, Carlos Pelaez, Wilson Cano, João Manuel Cardoso de Mello, dentre outros, com posicionamentos distintos.
Franco e Lago optam por uma análise histórica focada especialmente no que denominam de "economia política da taxa de câmbio". Mas deixam ao leitor a árdua tarefa de buscar as divergentes visões do período, se pretenderem ter uma compreensão maior do debate. Diferentemente de interpretações heterodoxas, que entendem o Brasil como economia dependente/reflexa/subordinada, os autores não dão tanto peso às restrições externas colocadas por essas outras análises como parte essencial (e muitas vezes determinante) no entendimento da economia política do país.
Em certo recado às ideias de outras linhas de pensamento, aliás, os autores escrevem que a "historiografia parece guardar ressentimentos dessa curta e tumultuada experiência internacionalista, durante a qual nada teria sido feito para atacar vulnerabilidades estruturais, que passaram a parecer óbvias depois de 1930 e que são sempre associadas às maneiras de descrever como perversa e assimétrica a relação do país com a economia global.

Como se não existissem outros constrangimentos internos ao crescimento".
Como fica posto, pretende-se mostrar que o Brasil, "em face de suas próprias limitações", teria deixado passar uma "oportunidade". Isto é, em momento de crescimento da economia internacional, teria ampliado seu atraso em relação a outras nações da América Latina, tendo, inclusive, aumentado sua distância em relação a nações mais ricas, como os Estados Unidos, numa análise comparativa baseada, especialmente, em PIB per capita. Assim, a preponderância global do país tanto em café quanto em borracha não era capaz de deflagrar um processo "de desenvolvimento sustentado".
Numa perspectiva comparada, o "fraco desempenho do país" durante a Primeira República teria mais a ver com "deficiências internas": "qualidade do capital humano, produtividade, instituições e ambiente de negócios, do que com a tão frequentemente vilipendiada vulnerabilidade externa". Uma consideração que certamente levará o leitor a ter certo "flash back" de algumas discussões costumeiras do tempo atual.
Do namoro mais intenso da economia com a literatura, presente em recentes livros de Franco, há nesta interpretação também referências a Machado de Assis, Euclides da Cunha e Mario Vargas Llosa, que tão bem teriam captado a complexidade do período. Machado é relembrado em três passagens, uma delas sobre a reforma cambial de 1890, à qual costumava se referir como "o primeiro dia da criação". Euclides da Cunha e Vargas Llosa aparecem com indicações de narrativas que mostravam resistência em relação às mudanças trazidas pela República.
A antropóloga Lilia Schwarcz, da Universidade de São Paulo, diretora-geral da coleção e coordenadora deste volume, considera que o texto de Franco e Lago é polêmico, tendo os autores "comprado várias brigas".
Além da análise de Franco e Lago, o volume é composto por mais quatro partes. O tema "população e sociedade" é discutido pela própria Lilia; a "vida política" recebeu a interpretação de Hebe Mattos (da Universidade Federal Fluminense); as "relações internacionais" estão a cargo de Francisco Doratioto (da Universidade de Brasília); e a parte de "cultura" recebeu análise de Elias Saliba (da Universidade de São Paulo).
A coleção faz parte do projeto "América Latina na História Contemporânea", da Fundación Mapfre. No Brasil, a série é constituída de cinco volumes de história (dois ainda serão lançados), que tratam de 1808 até 2010, e mais um volume todo dedicado a fotografias.
Em todos os volumes há interpretações específicas sobre a economia do período. O próximo livro, que cobre acontecimentos entre 1930 e 1960, receberá texto de Marcelo de Paiva Abreu, também professor da PUC-RJ, organizador do "A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Republicana, 1889-1989", leitura bastante conhecida dos que prestam a prova da Anpec - Associação Nacional de Pós-Graduação em Economia. O período posterior, entre os anos 1960 e 2010, trará texto do economista Paul Singer, da USP, conhecido por suas análises de orientação marxista.
Lilia entende que as interpretações de escolas de pensamento distintas sobre a economia – como ocorre quando se olha o projeto da primeira à última publicação prevista - é algo positivo para a coleção. Encampa-se, assim, a difícil missão de torná-la plural (sem perder a coerência) em assunto tão controverso como é a história econômica brasileira.

domingo, 9 de setembro de 2012

Mercosul: confusoes paraguaio-venezuelanas - Sergio Leo (Valor)


Suspensão do Paraguai no Mercosul criou problema jurídico, diz Patriota
Sergio Leo
Valor Econômico, 6 a 9 de setembro de 2012

O governo brasileiro, segundo reconheceu ontem o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, ainda não sabe como resolver um problema jurídico criado em junho com a suspensão do Paraguai no Mercosul e a incorporação da Venezuela - país cujo ingresso foi rejeitado em agosto pelo Senado paraguaio. Embora a decisão do Senado no Paraguai tenha efeito simbólico, porque o país está suspenso das atividades políticas do bloco, o veto à Venezuela criará um dilema, quando, como se espera, os paraguaios forem readmitidos no Mercosul, após realizarem suas eleições presidenciais, em abril de 2013.
"O assunto está sendo examinado em conjunto pelos membros do Mercosul e da Unasul (União das Nações da América do Sul)", disse Patriota, à saída da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, onde ouviu críticas de deputados da oposição às mudanças no bloco econômico. O ministro explicou que, com a decisão inédita da suspensão do Paraguai, foi criado um grupo de alto nível com representantes dos três governos restantes para avaliar e monitorar a situação interna do país.
O grupo espera encontrar meios para a "normalização no mais breve prazo" da situação paraguaia, comentou Patriota, que admitiu não ter, ainda, como dizer como absorver a recusa do Senado paraguaio à entrada da Venezuela.
Patriota disse que o Paraguai é um vizinho de "primeira importância" para o Brasil e que está no centro da política externa brasileira restabelecer as relações políticas com o país. O governo brasileiro teve o cuidado de evitar danos à população paraguaia, mantendo os laços econômicos e de financiamento com o vizinho, comentou.
O ministro ouviu críticas duras ao governo por não se manifestar contra as violações de direitos humanos na Venezuela, como fez em relação à ruptura da ordem democrática no Paraguai. Patriota rejeitou a comparação dos dois casos, lembrando que o Brasil buscou adotar uma saída multilateral no caso paraguaio.
No Paraguai houve manifestação unânime de todos os governos da América do Sul, "inclusive de países com acordo de livre comércio com os Estados Unidos" contra o processo de impeachment do presidente Fernando Lugo em "rito sumaríssimo". Na Venezuela não houve manifestação semelhante de nenhum país vizinho, e os venezuelanos têm participado ativamente dos esforços de negociação para desmobilizar a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), lembrou.
"Não existe mais tolerância ou aceitação de aventuras antidemocráticas na região, a democracia é o pressuposto do aprofundamento da integração", disse o ministro, para quem a imprensa venezuelana, com forte presença da oposição, tem "plena liberdade". "Todos os países (da América do Sul) tiraram seus embaixadores de Assunção, um gesto muito importante, de rechaço, repúdio", comentou. 
"Isso aí não ocorre em relação a outros países da região, temos de ter a medida da importância da unanimidade."
Patriota defendeu a entrada da Venezuela no Mercosul por trazer uma grande potência energética ao bloco, além de outras consequências econômicas e comerciais e argumentou que a inclusão do país caribenho serve, ainda, para mostrar que o bloco não beneficia apenas os Estados brasileiros da região sul. 
Durante a audiência na comissão, o ministro foi elogiado até por deputados da oposição que criticaram duramente a política externa pela reação ao golpe paraguaio e pelo relacionamento cordial com países como Venezuela e Equador. Ele anunciou que o Brasil, na presidência temporária do Mercosul, neste semestre, pretende fazer uma reunião com empresários dos países do Mercosul, para colher propostas capazes de facilitar a integração e o aumento do comércio no bloco.





Protecao em alta; competitividade em baixa: fracasso previsivel...

Todos os experimentos protecionistas são ruins: para os consumidores, imediatamente, para as empresas no médio prazo. Só governos míopes não se dão conta.
Na verdade, eles se rendem em primeiro lugar a suas próprias teorias ultrapassadas, ou anacrônicas, depois aos interesses imediatos dos industriais encurralados (pelo próprio Estado).
Paulo Roberto de Almeida 

Protecionismo e mediocridade  



Editorial O Estado de S.Paulo, 9.09.2012
Mais uma vez a mediocridade venceu e o Brasil continuará disputando na retranca o jogo do comércio internacional, como se a sua indústria tivesse voltado à menoridade e fosse irremediavelmente incapaz de enfrentar a concorrência. A decisão de ampliar as barreiras protetoras foi anunciada pelo governo um dia depois de publicados os números da balança comercial. De janeiro a agosto o valor total exportado foi 4,8% menor que o de um ano antes. O importado ficou 0,7% abaixo do registrado em 2011 em igual período. O problema é a crise externa, insistiu o governo, e sua reação, tão simplista quanto o diagnóstico, foi o aumento do protecionismo. A medida foi sacramentada terça-feira em reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

Com o novo lance protecionista, as alíquotas de cem produtos, antes na faixa de 12% a 18%, foram elevadas para 25%. Em vários casos a restrição é duplicada, porque a medida vale também para mercadorias já protegidas por medidas antidumping. Até outubro mais uma centena de itens poderá entrar na lista. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, justificou a iniciativa com uma alegação singela: a crise global gerou excesso de oferta, a competição tornou-se mais intensa, os preços caíram e muitos procuram o mercado brasileiro para desencalhar seus produtos. Isso é visto, naturalmente, como grave ameaça às indústrias do Brasil.
É normal a queda de preços num cenário de estagnação. O ministro da Fazenda deve saber disso. Mas nem todo produto exportado para o Brasil chega ao País com preços excepcionalmente baixos. Além disso, a indústria brasileira já era protegida, antes da nova decisão da Camex, por impostos mais altos que os da maior parte dos países concorrentes. O problema é obviamente de outra ordem.
O governo deveria preocupar-se muito mais com os custos e com a produtividade da economia nacional do que com os preços dos concorrentes. Para os casos de concorrência fora das regras internacionais, há os remédios previstos em acordos, como as medidas antidumping, já usadas no País. Para surtos de importação causadores de danos, pode-se recorrer a salvaguardas temporárias, também reguladas internacionalmente.
Fora dos casos de legítima defesa, a adoção de barreiras tem efeitos muito limitados e perigosos para o País. Alíquotas elevadas e outros meios de proteção afetam o jogo no mercado interno, mas são insuficientes para tornar as empresas mais competitivas no exterior. A opção pelo protecionismo é também uma opção pelo passado, quando raras indústrias se aventuravam no mercado internacional.
Quando essa política prevalece, as empresas tendem a se acomodar no ambiente interno, beneficiadas pela reserva de mercado, e abandonam os esforços para se tornar mais produtivas e mais capazes de oferecer produtos de qualidade internacional. O Brasil viveu essa experiência durante muito tempo.
Espetáculo semelhante está em cartaz na Argentina, onde os empresários da indústria há muito tempo decidiram, com o apoio do governo, abandonar os esforços para competir internacionalmente. O Brasil tem suportado boa parte dos custos desse espetáculo, como exportador sujeito a barreiras intermináveis e importador empenhado na política de boa vizinhança.
O governo anunciou também a intenção de retomar, juntamente com o Mercosul, as negociações de um acordo comercial com a União Europeia e de iniciar conversações com o Canadá. As negociações com os europeus emperraram várias vezes. A oposição argentina à redução de barreiras à importação de bens industriais tem sido um dos principais entraves.
Com a recaída protecionista de boa parte da indústria brasileira, fica difícil imaginar como poderão progredir as novas negociações. Curiosamente, os industriais brasileiros conhecem seus principais problemas de competitividade e sabem da responsabilidade do governo por boa parte deles (impostos, logística, burocracia, educação, etc.). Mas preferem acomodar-se atrás das barreiras a pressionar as autoridades para adotar políticas mais sérias a favor da eficiência. As autoridades agradecem.

sábado, 8 de setembro de 2012

Reflexao do dia: o fascismo corporativo do Brasil -Paulo Roberto de Almeida

Observando o panorama político e associativo no Brasil, nos últimos anos, acho que está se desenvolvendo, mas poucas pessoas percebem o processo, uma espécie de fascismo corporativo que não se distingue mais pelas camisas negras, botas e milícias armadas, mas pela existência de agências estatais superpoderosas que pretendem determinar como organizamos nossas vidas.
Receita e Anvisa, por exemplo, são dois orgaos essencialmente fascistas no comportamento, nas práticas, na vontade de seus dirigentes. Elas existem para servir ao Estado, não aos cidadãos.
Para mim, isso é essencialmente fascismo.
Esse fascismo invisivel, insidioso e progressivo vem sendo obviamente facilitado pela preeminência de um partido neobolchevique, que manipula organizações pretensamente sociais, movimentos "populares" e sobretudo sindicatos comprados com o dinheiro público, para impor uma transferência crescente de renda dos setores produtivos da sociedade para os mandarins do Estado, para as corporações organizadas e, com menor peso, para um exército de assistidos que se converteu em poderoso curral eleitoral desse partido proto-totalitário.
Posso estar errado, mas como costumo observar o processo histórico com lentes de longo alcance, é o que vejo no Brasil atualmente.
Vai ser preciso uma fronda empresarial, ou uma revolução "burguesa", ou seja, iluminista e liberal, para reverter esse processo de crescente fascistização da vida social.
Lamento ser portador de más notícias... (na verdade, um processo...).
Paulo Roberto de Almeida 

Grecia: vendendo o patrimonio publico...

Nada mais justo: quando a gente fica completamente sem dinheiro, e sem crédito, como a Grécia atualmente, temos de nos desfazer de uma parte do patrimônio: primeiro a poupança no banco, depois eventualmente um terreno, depois o carro, finalmente as jóias da família.
A Grécia só está vendendo as jóias da família -- OK, eventualmente um terreno -- e não chegou ainda no que é verdadeiramente relevante, o próprio Estado.
Sim, no século 19, em default, o reino da Grécia teve de alienar o controle de suas rendas públicas, e funcionários britânicos tomaram conta das alfândegas, como aliás já vinham fazendo no caso do paxá do Egito.
Assim é...
Melhor as ilhas do que as praias, mas se precisar, pode-se chegar lá também...
Paulo Roberto de Almeida

Grécia irá vender ilhas para cumprir programa de privatizações

O premiê Antonis Samaras disse que o país irá se desafazer das ilhas que possam gerar rendimentos
 
 
Wikicommons

Mercado de ilhas começa a surgir com a crise na Grécia. A ilha grega de Paxi já foi vendida a uma empresa cipriota 

O governo grego incluiu uma série de ilhotas em seu programa de privatização de empresas e bens de propriedade estatal, sob a pressão dos credores internacionais que pedem que se acelere as vendas, informou nesta quinta-feira (06/09) o jornal local Atpreveza.

Assim, enquanto a população enfrenta graves problemas econômicos gerados pelas drásticas medidas de austeridade impostas por Bruxelas e executadas pelo governo de Antonis Samaras, investidores estrangeiros se dispõem a comprar parte do território nacional.
O premiê disse que o país irá se desafazer das ilhas que possam gerar rendimentos. A publicação citou só algumas destas zonas insulares situadas na costa oeste da Grécia, no mar Jônico e no Golfo de Arta, entre elas a ilhota Pera Nissi, próxima à localidade de Preveza, assim como Agios Nikolaos e Alexandros, nas imediações de Lefkada.

As ilhotas de Kythros, Mavro Ouros e Vraka Bela, situadas na mesma costa, serão colocadas à venda em um novo lote em datas próximas. Além disso, o jornal financeiro Euro2day informou também que a ilha de Paxi já foi entregue à empresa cipriota Roundview Holdings Limited, enquanto o empresário turco Fikret Inan mostrou sua intenção de comprar a ilha Vouvalos com o objetivo de construir hotéis e vilas.

A Grécia se encontra sob o estrito controle dos credores internacionais que estão empurrando o executivo a se desfazer de importantes propriedades estatais que ajudem a reduzir o déficit e a imensa dívida externa estimada em 365 bilhões de euros.

Capitalismo estatal da China: subsidios extensivos


China dá 27 tipos de subsídios para o setor têxtil

Apoio estatal vai desde controle do preço da matéria-prima até incentivos tributários e crédito abundante e barato  

Raquel Landim 
O Estado de S. Paulo, 07 de setembro de 2012
Começa a ser aberta a caixa-preta dos subsídios chineses. Além do câmbio desvalorizado e da mão de obra barata, os produtores chineses de tecidos e roupas contam com 27 tipos de apoio diferentes concedidos pelos governos federal, provinciais e municipais.
Os programas vão desde incentivos tributários e crédito facilitado até o controle dos preços das matérias-primas e fundos de apoio à exportação, revela estudo feito pelo renomado escritório americano King & Spalding, por encomenda da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e mais duas entidades de classe estrangeiras.
A Abit solicitou recentemente ao governo brasileiro que aplique uma salvaguarda contra as importações de vestuário, com a imposição de cotas ou sobretaxas. Com base nas novas informações sobre subsídios, avalia também pedir medidas compensatórias ou até abrir um painel na Organização Mundial de Comércio (OMC).
Segundo o presidente da Abit, Aguinaldo Diniz, ainda não foi tomada uma decisão e o assunto será analisado em assembleia. "Vamos levar esse tema ao governo, porque não podemos aceitar que os subsídios concedidos na China desorganizem o mercado brasileiro", disse.
O relatório da King & Spalding tem mais de 800 páginas e enumera os subsídios concedidos nos principais polos produtores de roupas da China. Os advogados, no entanto, não conseguiram quantificar os subsídios, pois os valores são mantidos em sigilo pelo governo chinês e variam até conforme a empresa.
Interferência. Na China, a interferência governamental no setor têxtil está presente em praticamente todos os elos da cadeia e começa na matéria-prima.
O governo intervém nos preços do poliéster e do algodão, porque o setor petroquímico é controlado por estatais e os produtores de algodão são fortemente subsidiados pelo Estado.
No ano passado, quando os preços do algodão no mercado externo chegaram a US$ 2 por libra-peso, as tecelagens chinesas continuaram pagando US$ 1.
Na área tributária, existem vários incentivos, como reembolsos, descontos e até isenção do imposto de renda e do imposto sobre valor agregado. São favorecidas empresas de exportem, reinvistam seus lucros e comprem máquinas feitas no país.
Outra fonte importante de apoio governamental na China é o crédito subsidiado. Os bancos estatais oferecem empréstimos a fundo perdido, juros baixos e chegam até a perdoar dívidas das empresas. Para combater os efeitos da crise global, o governo chinês determinou ainda aos bancos que abrissem as torneiras.
Só para citar alguns exemplos: em 2008, o Banco da Agricultura da China estabeleceu um programa para o setor têxtil de 100 milhões de yuans (US$ 15,7 milhões); em abril de 2011, o Banco do Desenvolvimento de Shanghai Pudong liberou 17 milhões de yuans (US$ 2,7 milhões) para socorrer cinco empresas.
O setor têxtil também é agraciado na China com terrenos para construção de fábricas, descontos no custo da energia e programas especiais para reestruturação, investimento em tecnologia e até para exportar produtos com marca própria. "O grau de contaminação do Estado na economia chinesa é enorme. Os subsídios são apenas um detalhe", diz Domingos Mosca, consultor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Equador: nosso proximo socio no Mercosul - Mac Margolis


LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Emilio Palacio e a liberdade

Por Mac Margolis
O EStado de São Paulo, 24/09/2012
O último dia 16/8 foi emblemático para América Latina. Nessa data, sob holofotes internacionais, o presidente equatoriano Rafael Correa concedeu asilo político a Julian Assange. Logo o fundador do WikiLeaks apareceu triunfante na sacada da embaixada do Equador em Londres, para onde fugira em junho, dizendo-se alvo de um complô do governo americano. Os simpatizantes do hacker australiano e a militância política latino-americana vibraram.
O dia seguinte também fez história. Na sexta-feira (17/8), em Miami, o departamento de imigração do governo dos EUA aceitou o pedido de asilo de outro jornalista fugitivo, o equatoriano Emilio Palacio. Editorialista do diárioEl Universo, ele escreveu um editorial duro sobre Correa em 2011, chamando-o de “ditador”. Foi processado por injúria e condenado a três anos de prisão, após um julgamento-relâmpago. Mas no caso de Palacio, não houve foguetório nem manifestações de rua e ninguém fazia plantão em frente à sua casa em Coconut Grove.
Diminuto e com sua barbicha branca (já foi chamado de gnomo), o editorialista, de 57 anos, não goza da tietagem do webmaster australiano. Talvez por isso, Palacio só anunciou à imprensa a decisão na semana passada, em discreta coletiva, ao lado de sua advogada. Foi modesto. Para quem se preocupa com a liberdade de expressão, o Estado de direito e a qualidade da justiça, os dois casos, como também o acolhimento público de seus protagonistas, dizem muito sobre a democracia nas latitudes americanas. E sobre suas distorções também.
“Robin Hood da informação”
A história de Assange já é bem contada. O hacker rebelde ganhou fama ao invadir os computadores do mundo diplomático e publicar comunicados embaraçosos aos EUA e seus aliados. Assange prestou um serviço importante ao expor segredos sujos, como um ataque militar americano a civis indefesos em Bagdá, fato abafado pelo Pentágono. Mas também tornou-se caixa sonora de fofocas e lorotas, trocas que fazem parte da conversa rotineira entre diplomatas, mas não necessariamente da diplomacia de governos.
A militância digital de Assange, é bom lembrar, nada tem a ver com sua folha corrida. Ele é procurado pela Justiça da Suécia, onde é acusado de estupro e assédio sexual contra duas mulheres. Mas, com seu cacife de herói da resistência, conseguiu se recauchutar como perseguido político. Jogou-se à mercê dos equatorianos como suposta vítima de uma caça às bruxas americana, com os suecos no papel de serviçais dos ianques.
Casou com a agenda de Correa, sócio da Aliança Bolivariana das Américas, razão social do neossocialista latino e do antiamericanismo, requentado para o século 21. Com uma canetada, Correa abraçou um militante “da liberdade”, provocou três poderes gringos e ainda posou de protetor da imprensa livre. Com o gesto de acolher o “Robin Hood da informação”, ele ainda colheu aplausos esdrúxulos, inclusive do regime cubano, craque em sufocar dissidências da imprensa nativa.
Um retrato fiel
Emilio Palacio não se impressionou. Embora tenha sido perdoado por Correa, sua condenação na Justiça equatoriana foi mantida, um recado que equivale a uma “espada de Dâmocles acima da sua cabeça”, segundo sua advogada, Sandra Grossman.
“A concessão de asilo é um reconhecimento claro dos EUA de que Palacio é perseguido pelo governo do Equador, um dos poucos países da região que ainda criminaliza expressões que ofendam autoridades públicas”, disse ela. Ignorado pelos defensores de Assange, o caso de Palacio é um retrato fiel do Equador, país que abraça o foguetório alheio enquanto centra fogo no mensageiro de casa.
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[Mac Margolis é colunista do Estado de S.Paulo, correspondente da Newsweek e edita o site brazilinfocus.com]

Relato do Horror: o grande salto para tras da China, e o canibalismo


LETTER FROM CHINA

A Great Leap Into the Abyss

Bolivia vs EUA: ah, esses imperialistas malvados...


Bolivia Says Washington Won't Extradite Former Leader

ReutersLA PAZ (Reuters) - Washington has refused to extradite a former Bolivian president to the South American country to stand trial over political violence that forced him from office nine years ago, President Evo Morales said on Friday.
Former leader Gonzalo Sanchez de Lozada is accused of corruption and responsibility for the deaths of 63 people killed in clashes between security forces and anti-government protesters in October 2003.
"Yesterday (Thursday), a document arrived from the United States, rejecting the extradition of people who have done a lot of damage to Bolivia," leftist Morales, an outspoken critic of U.S. foreign policy in Latin America, said in a speech.
Calling the United States a "paradise of impunity" and a "refuge for criminals," Morales said Washington turned down the extradition request on the grounds that a civilian leader cannot be tried for crimes committed by the military.
Sanchez de Lozada, a U.S.-educated mining magnate who embraced free-market policies, quit during the bloodshed of 2003 and fled to the United States 13 months into his second term as president of the impoverished Andean country.
Bolivia's demands for the extradition of Sanchez de Lozada and several of his ministers have aggravated prickly relations between Washington and La Paz.
The countries agreed to normalize diplomatic relations late last year but new ambassadors have yet to take their posts.
Morales, a former coca farmer who has reversed the privatizations pursued by Sanchez de Lozada, expelled the U.S. ambassador and Drug Enforcement Administration (DEA) agents in 2008, accusing them of plotting with his rightist enemies.
Washington responded by sending Bolivia's ambassador home soon afterward.
Sanchez de Lozada's extradition was also demanded by opposition leaders in Bolivia and they criticized the U.S. decision.
Rogelio Mayta, a lawyer representing victims of the 2003 violence, said "the U.S. protection" of Sanchez de Lozada was not surprising.
"It's yet another display of the U.S. government's double moral standard," he said.
Two former government ministers and three former military officers who did not flee Bolivia have been convicted over the bloodshed and sentenced to up to 15 years in prison.
(Writing by Helen Popper; Editing by Vicki Allen)

European Union: the case against - Daniel Hannan

O autor do livro pensa que a UE vive hoje uma situação de fascismo corporativo. Concordo.
Aliás, o Brasil, mesmo sem qualquer grande projeto como o da UE, também vive essa situação fascista, só que muito rústico, de botequim...
Paulo Roberto de Almeida 

Rejecting the European Project
Daniel Hannan’s book deserves a wide audience.
The City Journal, 7 September 2012

Daniel Hannan (Notting Hill Editions)
There is nothing quite like self-interest for blinding people to the obvious, and it is the genius of the European Union to have placed an entire cadre of powerful but blind beneficiaries—unable and unwilling to see writing on the wall, even if inscribed in flashing blue neon lights—in strategic political and economic positions in every European country. And so the continent limps toward the abyss, its “ever closer union” resuscitating old national stereotypes and antagonisms and increasing the likelihood of real conflict.
Daniel Hannan is a British Member of the European Parliament who first came to wide notice with his brief but devastating (because entirely accurate)attack in that body on Britain’s then–prime minister, Gordon Brown, who responded to it with all the wit of a hanged sheep. Hannan has now written a short and brilliant book setting forth with inexorable logic and a fine command of the salient historical and economic facts the deficiencies of the so-called European Project, from its premises to its practices—all of which are not only wrong, but obviously wrong.
Like all people with bad habits, politicians and bureaucrats are infinitely inventive when it comes to rationalizing the European Project, though they’re inventive in nothing else. Without the Union, they say, there would be no peace; when it’s pointed out that the Union is the consequence of peace, not its cause, they say that no small country can survive on its own. When it is pointed out that Singapore, Switzerland, and Norway seem to have no difficulties in that regard, they say that pan-European regulations create economies of scale that promote productive efficiency. When it is pointed out that European productivity lags behind the rest of the world’s, they say that European social protections are more generous than anywhere else. If it is then noted that long-term unemployment rates in Europe are higher than elsewhere, another apology follows. The fact is that for European politicians and bureaucrats, the European Project is like God—good by definition, which means that they have subsequently to work out a theodicy to explain, or explain away, its manifest and manifold deficiencies.
Since, as Gibbon puts it, truth rarely finds a favorable reception in the world, it is worth inquiring why so lucid and cogent a book as Hannan’s will not have the effect that it should—an answer that the book itself supplies. Here we must descend to the ad hominem, but we are dealing with men, after all.
The personal interests of European politicians and bureaucrats, with their grossly inflated, tax-free salaries, are perfectly obvious. For politicians who have fallen out of favor at home, or grown bored with the political process, Brussels acts as a vast and luxurious retirement home, with the additional gratification of the retention of power. The name of a man such as European Council president Herman Van Rompuy, whose charisma makes Hillary Clinton look like Mata Hari, would, without the existence of the European Union, have reached most of the continent’s newspapers only if he had paid for a classified advertisement in them. Instead of which, he bestrides the European stage if not like a colossus exactly, at least like the spread of fungus on a damp wall.
Corporate interests, ever anxious to suppress competition, approve of European Union regulations because they render next to impossible the entry of competitors into any market in which they already enjoy a dominant position, while also allowing them to extend their domination into new markets. That is why the CAC40 of today (the index of the largest 40 companies on the French stock exchange) will have more or less the same names 100 years hence.
More interestingly, perhaps, Hannan explains the European Union’s corruption of so-called civil society. Suppose you have an association for the protection of hedgehogs because you love hedgehogs. The European Union then offers your association money to expand its activities, which of course it accepts. The Union then proposes a measure allegedly for the protection of hedgehogs, but actually intended to promote a large agrarian or industrial interest over a small one, first asking the association’s opinion about the proposed measure. Naturally, your association supports the Union because it has become dependent on the Union’s subsidy. The Union then claims that it enjoys the support of those who want to protect hedgehogs. The best description of this process is fascist corporatism, which so far (and it is of course a crucial difference) lacks the paramilitary and repressive paraphernalia of real fascism. But as the European economic crisis mounts, that distinction could vanish. One should not mistake the dullness of Eurocrats for lack of ambition, or the lack of flamboyance for the presence of scruple. History can repeat itself, even if only analogically rather than literally.
Hannan writes from a British perspective, which I share. Whenever I read the French press on the subject of the European crisis, for example, I’m struck by how little questions of freedom, political legitimacy, separation of powers, representative government, or the rule of law feature, even in articles by academic political philosophers. For them, the problem is mainly technical: that of finding a solution that will preserve the status quo (there is no such solution, but intelligent people searched for the philosopher’s stone for centuries).
Alas, the British political class is composed largely of careerists. The only thing that will move them to action is popular anger, which, though it exists, remains muted. One can only hope that it is not catastrophe that brings about change, but Hannan’s brilliant little book, which could hardly be bettered or, more importantly, refuted—not that anyone will try, since in the Eurocrats’ world, ignoring arguments is the highest form of refutation. A Doomed Marriage deserves the widest possible circulation. Perhaps its author could apply for a European subsidy.

Theodore Dalrymple is a contributing editor of City Journal and the Dietrich Weismann Fellow at the Manhattan Institute.