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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Paulo Antonio Pereira Pinto: um africanista e um asianista exemplar, agora em Burkina Faso

Tenho o prazer de transcrever o mais recente artigo do meu amigo Paulo Antonio Pereira Pinto, o famoso PaPePinto do Itamaraty, provavelmente o único "tout-terrain" da carreira, como já provou diversas vezes nos mais diversos cantos do planeta, quase um Indiana Jones da diplomacia brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

Burkina Faso – a Terra dos Homens Livres, onde a negociação continua

Paulo Antônio Pereira Pinto

Mundorama, 02/09/2013

Após a grata surpresa de que Burkina Faso significa “Terra dos Homens Justos”, fica-se sabendo que seu Ministro da Economia se chama Bem Bamba.  Mesmo assim, o país consta da lista dos cinco mais pobres. A impressão inicial, no entanto, é a de que esta parece ser uma daquelas estatísticas, que não se sabe direito como são feitas. Pelo menos na capital Uagadugu, a situação de miséria não é tão grave quando comparadas, por exemplo, com a Índia, onde entre os 700 milhões de miseráveis, os urbanos vivem ao relento. Aqui, há aquele comércio informal que persegue o visitante nas paradas de trânsito e em frente a estabelecimentos e mercados, mas também há muitas lojas, à beira das ruas, que expõem móveis e produtos diversos, indicando que há uma classe média ascendente bem bamba. As pessoas parecem alegres e simpáticas.
Costuma-se dizer que Burkina Faso é 50% cristã, 50% muçulmana e 100% animista. Um dos desafios intelectuais, portanto, será  procurar entender a boa convivência local com o Islã. No Mali vizinho, como se sabe, tal “coabitação” não tem sido bem sucedida.
De regresso temporário à África, após ter servido no continente, entre 1976 e 1982, sucessivamente em Libreville, Maputo e Pretória, procuro fazer breve exercício de reflexão, sobre os obstáculos que foram superados, naquelas décadas, e a atual satisfação que o trabalho de política externa pode proporcionar ao diplomata brasileiro em postos africanos.
Na África Ocidental de colonização francesa, quando da abertura de nossas Embaixadas, a partir da década de 1970, tratava-se mais de ouvir discursos nos quais seus dirigentes, com frequência, deixavam escapar frases como “nous les français”. Identificavam-se, dessa forma, como elite local, com valores semelhantes aos das depostas autoridades da antiga metrópole.
Gradativamente, cabia apresentar o Brasil não como um “candidato a mais a colonizador”, nem com projeto apenas mercantilista, mas como parceiro capaz de encontrar “soluções comuns para problemas comuns”. Por exemplo, na Libreville super-tropical, no início dos anos de 1970, os franceses haviam construído um hospital com “teto de proteção contra neve”, que contava, também, com cozinha não equipada para o preparo de comida africana. Eram trágicas, então, as imagens dos pacientes em quartos “aquecidos contra a neve” e seus familiares cozinhando alimentos nos corredores. Pouco a pouco empresas de engenharia nossas foram se apresentando como parceiros mais adequados e, como consequência, diferentes formas de cooperação científico-tecnológica e diálogo político se foram consolidando.
Em Moçambique, onde servi, entre 1977 e 79, logo após a Independência, não causava boa impressão dizer que “falamos a mesma língua”, pois, quase sempre a resposta dos dirigentes do novo país era a de que “nunca ouvimos o sotaque brasileiro, na luta contra os imperialistas portugueses”. Estava viva, ainda, na memória dos vitoriosos, que o Brasil votara, sistematicamente na AGNU, contra a condenação do colonialismo português. Foi necessário, então, trabalho de enorme paciência para identificar objetivos nacionais comuns – inclusive o da preservação do idioma herdado – graças à liderança do Embaixador Ítalo Zappa, um dos responsáveis, como se sabe, pela mudança de orientação em nossa política africana.
Exerci a encarregatura de negócios em Pretória, entre 1979 e 82, como Segundo Secretário, pois mantínhamos Embaixada, sem titular, a título de protesto contra o “apartheid”. No início dos três anos e meio de chefia, a primeira coisa que fiz, a título de protesto quanto ao racismo em vigor, foi contratar uma secretária negra – algo proibido pelo “Jobs reservation act”, que então determinava ser tal emprego ocupado apenas por brancos. Tive minha sala invadida três vezes por consulentes inconformados ao serem atendidos por uma africana.
Tive oportunidade de relatar ao Itamaraty, naquele período, encontros que mantive com lideranças anti-appartheid. Para visitar o Dr. Natho Motlana, tinha que ir a SOWETO, com escolta armada de aliados do dissidente, obtida pela já citada secretária africana. Fui o primeiro diplomata estrangeiro a oferecer jantar ao Bispo Tutu, que chegou atrasado, por ter que superar sucessivos obstáculos ao ingresso de negros à Residência, situada em bairro nobre da então Pretória branca. Restou-me uma grande frustração. Pedi e não fui autorizado, pelo regime militar brasileiro, a viajar à ilha  onde se encontrava preso  importante opositor do regime: Nelson Mandela.
Verifica-se, atualmente, que a emergência da Nova África sofre ainda de condicionamentos de seu passado colonial, no que diz respeito à visualização de suas trajetórias estratégicas no século XXI. Países africanos avançam em processo de autonomia e desenvolvimento ancorado em imensos recursos naturais de que dispõem. Em sua trajetória para a construção de uma sociedade urbano-industrial, precisam integrar-se a diferentes sub-regiões para desenvolver espaços econômicos, políticos, socioculturais, técnico – científicos capazes de sustentar projetos nacionais.
Nesse sentido, caberia efetuar o reconhecimento do avanço das diferentes formas de cooperação científica e tecnológica e intercâmbios comerciais, já existentes entre o continente e o Brasil. O autor não está habilitado a relatar em detalhes todos os projetos já realizados, nem seria possível contê-los neste curto espaço. O trabalho de implementação das soluções comuns para problemas compartilhados e o incremento das trocas de bens e conhecimentos é, sem dúvida, enorme e gratificante desafio para as Embaixadas brasileiras em capitais africanas.              Há que ter cuidado, contudo, para não identificar, em cada manifestação de apreço por líder africano pelo Brasil, uma busca por modelo de governança nosso a ser adaptado a este continente.
Quanto ao momento atual do cenário afro-ocidental, conforme visto de Uagadugu, registro, por exemplo, a situação quase inusitada, na política internacional, em que um país, considerado como dos mais pobres do mundo, o Burkina Faso, é capaz de desempenhar mediações regionais, como o fez com papel definitivo na questão do Mali e, segundo consta, teria atuado também na crise da Costa do Marfim.
Nas décadas de 1970-80, quando servi na África Austral, foram indispensáveis aos movimentos de libertação nacional os então chamados “países da linha de frente” – entre outros, Tanzânia e Zâmbia desempenharam este papel com respeito à FRELIMO, de Moçambique e, como se sabe, este agiu da mesma forma quanto à ZANU, no caso do Zimbabwe. Tratava-se, naquela época, de fornecer refúgio, em território vizinho, para “freedom fighters”. Em retaliação, sofria-se com bombardeios das potências coloniais, que faziam numerosas vítimas, entre a população civil do anfitrião dos guerrilheiros. Não havia registro, no entanto, de algum ator regional capaz ou desejoso de atuar como mediador.
De acordo com registros disponíveis, o “país dos homens justos” substituiria, hoje, o lema, em vigor há  mais de trinta anos, de “a luta continua”, pela persistência na negociação.
Obtém, como resultado, recompensas na atração de auxílio financeiro externo para o reforço da governabilidade interna. Despojados de riquezas próprias, os “burquinabés” se beneficiariam, econômica e politicamente, da mediação de conflitos entre países vizinhos.
Assim, a organização de frequentes conferências regionais e internacionais mais amplas gera atividades econômicas nesta capital, enquanto personalidades associadas ao Governo, como recompensa pelos serviços de mediação executados, são elevadas a posições de realce em organizações dedicadas à promoção da paz e do desenvolvimento.
O Burkina Faso depende fortemente de ajuda do exterior, que corresponderia a cerca de 80% de seus investimentos públicos. Os aportes externos totalizariam US 400 milhões anuais. O país conta, ademais, com estimadas 16000 organizações não governamentais, que trariam outras centenas de milhões de US para sua economia.
Registre-se a abertura de Ouga – na versão simplificada do nome complicado da cidade – a todas as formas de cooperação externas. É um dos poucos aliados diplomáticos de Taiwan e, até recentemente, se identificava com a Líbia, tendo o falecido Cel. Kadhafi investido em projetos locais. O principal hotel desta capital exibia enorme fotografia do ex-líder.
França e Estados Unidos parecem atribuir importância ao Estado burkinabé. A visível parceria militar favoreceria a França, por resultados positivos, repetidamente obtidos pelo Burkina Faso, em negociações para a libertação de prisioneiros capturados por movimentos islamistas na área do Sahel.
Washington teria superado antipatias quanto a Ouga, a partir da década de 1990, durante a qual, sempre como resultado da vocação local para estabelecer vínculos de cooperação externa, este país cultivou laços com Charles Taylor e Mouammar Kadhafi. A partir do início do milênio em curso, no entanto, melhorou o diálogo entre as duas capitais, inicialmente pela disposição burkinabé, segundo consta, de permitir o cultivo, neste país, de algodão por controvertido método da empresa norte-americana Monsanto.
A principal importância do Burkina Faso para a França e os EUA parece ser a atual utilização deste país por bases militares para os conhecidos “drones” que policiam “movimentos terroristas” no Sahel.
Quanto ao efeito de toda a cooperação externa para a governabilidade interna, há controvérsias. Por um lado, seu regime tem sido blindado contra críticas do exterior, em benefício das bem sucedidas parcerias mencionadas acima e pelo livre exercício de milhares de ONGs, também já citadas.
Por outro, a ausência de condenações, a “imperfeições”  de suas formas de governança, atrasa reformas necessárias ao aperfeiçoamento político interno e a introdução de novos mecanismos de inclusão social. Seria ingênuo imaginar que é “impossível de prever ou inacreditável não antecipar” que a África Ocidental permanecerá imune às turbulências políticas vizinhas.
Aprendi, a propósito, que a « parenté à plaisanterie » é uma prática social utilizada no Burkina Faso e outros países desta região, que consiste em brincadeira com a troca de “insultos simulados” entre indivíduos de diferentes famílias e etnias, como forma de aliviar tensões do convívio diário, bem como evitar confrontações, como resultado de heranças de conflitos históricos, rivalidades religiosas ou étnicas. Este ritual de “indelicadezas”, que inclui diferentes xingamentos, sinceros ou não, contribui para uma tolerância sustentável, entre grupos com identidades distintas que, como se sabe, foram forçados a conviver, pelo colonialismo europeu, em unidades políticas, cujo futuro é ainda incerto.
A leitura dos jornais aqui publicados, a propósito, transmite a impressão de que o mesmo conceito lúdico se aplica ao debate político. Assim, metade de cada diário parece dedicar-se a “cartas abertas” de personalidades que criticam ou apoiam medidas governamentais. Não me é possível, ainda, concluir quando e como a oposição de ideias, sinceras ou não, levarão a políticas de interesse público. Pode tratar-se, apenas, de prática política da tal “parenté à plaisanterie”
Aproveito para citar, a respeito da influência aqui exercida por nosso País, que: “Pôr-se-ia, como hipótese, que o Brasil, apesar de todos os seus recursos, ainda não se deu a trabalho que o valesse, não por obstáculos internos ou externos, mas simplesmente porque o não concebeu suficientemente claro. E, se algum trabalho tem, é esse de ajudar a sair de suas indeterminações os povos do mundo que não encontram, nas grandes nações, guia algum que valha a pena seguir; primeiro a África.” Agostinho da Silva, in Perspectiva brasileira de uma política africana.
Finalmente, cito que, por ocasião de encarregatura em Maputo, em algum período entre 1977 e 79, compareci, com outros representantes estrangeiros, ao aeroporto, para despedida de praxe do Presidente Machel, que viajava ao exterior. Ao cumprimentar-me Samora Machel se defrontou com um Terceiro-Secretário, envergando terno comprado em Paris, me questionou sobre as relações bilaterais e, diante de minha aparência e postura sofisticada nas respostas, observou ao então Vice-Presidente Marcelino dos Santos: “Este jovem é muito frio para ser brasileiro”. Prontamente, tendo uma recaída carioca, lhe respondi: “O que o Sr. esperava, que eu estivesse fantasiado de baiana e assoviando a Aquarela do Brasil?”. Ele sorriu, satisfeito por me ter transmitido lição sobre como os africanos enxergam os brasileiros. A partir de então, para não ser mais confundido, só usei aqueles “safari suits”, a exemplo das autoridades e funcionários locais e voltei a falar como o fazia na Praia de Ipanema, onde me criei.
Logo após minha chegada a Uagadugu, em agosto, recebi a visita do jovem brasileiro Hugo Reichenberger, funcionário da UNHCR, que cuida de refugiados do Mali no Burkina Faso, que me informou haver lugares, em sua área de trabalho, onde o ingresso de “homens brancos” não é permitido. Rindo, me disse ainda já ser do conhecimento dos grupos armados da região, que ele não é branco – é brasileiro.
Paulo Antônio Pereira Pinto é Diplomata. Em Missão Transitória na Embaixada em Uagadugu, Burkina Faso. Chefe do Escritório de Representação do MRE no Rio Grande do Sul (ERESUL). Foi  Embaixador do Brasil em Baku, Azerbaijão, entre 2009 e 2012, e Cônsul-Geral em Mumbai, entre 2006 e 2009. Serviu a partir  de 1982, durante vinte anos, na Ásia Oriental, sucessivamente, em Pequim, Kuala Lumpur, Cingapura, Manila e Taipé. Na década de 1970 trabalhou, na África,  nas Embaixadas em Libreville, Gabão, e Maputo, Moçambique e foi Encarregado de Negócios em Pretória, África do Sul.  As opiniões expressas são de sua inteira responsabilidade e não refletem pontos de vista do Ministério das Relações Exteriores.

Luiz Felipe Lampreia: hierarquia e disciplina, com atenuante, no caso Eduardo Saboia


Uma fuga inédita

Luiz Felipe Lampreia
Folha de S. Paulo, 01/09/2013 


Luiz Felipe Lampreia Instituto Millenium

O caso da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina é inédito na história diplomática do Brasil.

Nunca um diplomata brasileiro tomou, como o funcionário Eduardo Saboia, de sua própria cabeça e sem autorização nem conhecimento de seus superiores a decisão de retirar clandestinamente do país um asilado de nossa embaixada.

Isso foi feito com graves riscos, que puseram em perigo a vida do próprio senador boliviano, do jovem diplomata brasileiro Saboia e de seus acompanhantes.

Como disse em palavras lapidares o novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado: “Não estaremos num bom caminho se permitirmos que se percam aspectos essenciais de nossa cultura institucional, como o princípio da hierarquia. O Itamaraty que eu entendo é também aquele que atua decisivamente no cumprimento das instruções recebidas e no estrito respeito à lei”.

Por outro lado, a questão tem um outro aspecto relevante que é a não concessão pelo governo boliviano do salvo-conduto que permitiria ao senador Pinto uma saída honrosa e legal. O princípio de direito internacional que rege essa matéria é o seguinte: “O embaixador (ou o encarregado de negócios), que é a autoridade asilante, analisará a presença de natureza política da perseguição que sofre o asilado potencial e a atualidade do ocorrido e reclamará da autoridade local a expedição de um salvo-conduto”.

O Brasil deveria ter feito exigência mais enérgica da concessão de salvo-conduto pela Bolívia, em cumprimento ao direito internacional

Isso foi feito, mas o governo boliviano recusou-se, durante mais de um ano e meio, a conceder o salvo-conduto, sob alegações diversas. O novo procurador-geral da República disse-o bem no Senado Federal: “O Estado boliviano, para permitir a consequência lógica do que é o asilo territorial, deveria ter concedido, sim, o salvo-conduto”.

É de grande relevância registrar que existe uma Convenção sobre Asilo Diplomático firmada em Caracas no dia 28 de março de 1954, que se acha em pleno vigor e da qual a Bolívia é signatária desde o primeiro dia, assim como nosso país.

Essa convenção reza que “concedido o asilo, o Estado asilante pode pedir a saída do asilado, sendo o Estado territorial obrigado a conceder imediatamente, salvo caso de força maior, as garantias necessárias a que se refere o artigo 5º e o correspondente salvo-conduto”.

Como o senador Roger Faria é opositor ferrenho do presidente Evo Morales, o governo boliviano decidiu ignorar as regras do direito internacional, violando a Convenção de Caracas de 1954.

A meu juízo, o governo brasileiro deveria ter tratado do assunto com mais firmeza. Estando em jogo questão de tal delicadeza, impõe-se uma posição firme e categórica. Em outras palavras: exigência mais enérgica do cumprimento do direito internacional em seus dispositivos pertinentes.

Porém, diante do fato consumado da evasão do senador Roger Pinto com a cooperação total de um funcionário diplomático, creio que o Itamaraty fez bem em abrir um inquérito administrativo para apurar responsabilidades no caso. Espero, contudo, que sejam levados em conta os atenuantes de tipo emocional que levaram o jovem Eduardo Saboia a cometer a grave quebra das normas que disciplinam o serviço diplomático brasileiro.


O governo pretende enganar os brasileiros, no programa Mais Medicos?

É o que parece estar ocorrendo. Parece que tudo estava acertado desde muito tempo, para a importação exclusiva dos médicos cubanos. Prevendo uma reação da sociedade, o governo improvisou um programa de mentirinha, apenas para justificar a vinda dos médicos cubanos, que nada mais é do que um pretexto para se entregar dinheiro brasileiro a ditadura castrista. É o que diz este editorial do Estadão, esse jornal reacionário do Partido da Imprensa Golpista...
Paulo Roberto de Almeida

O outro lado do Mais Médicos

01 de setembro de 2013 | 2h 15
Editorial O Estado de S.Paulo

As últimas notícias sobre o programa Mais Médicos indicam que o que sobrou em preparo - infelizmente não no bom sentido - no que se refere à vinda dos médicos cubanos, faltou em cuidado sobre as consequências, para os profissionais brasileiros, da entrada deles no mercado de trabalho. Fica claro que houve ao mesmo tempo muita sofreguidão e pouco planejamento, o que é lamentável em programa tão ambicioso e voltado para uma das áreas mais sensíveis da administração, que é a saúde pública.
Provavelmente já prevendo reações contrárias à sua ideia - por existirem sérias dúvidas seja com relação à real necessidade desses profissionais, seja com relação à sua qualificação, já que não passariam pelo exame de revalidação do diploma -, o governo federal tratou do caso dos médicos cubanos em surdina, omitindo informações importantes a respeito, que agora começam a vir à tona. Reportagem do Estado mostra que a vinda desses médicos estava sendo providenciada há pelo menos seis meses, bem antes, portanto, de o governo anunciar o seu plano.
Professores brasileiros com material didático do que seria depois o Mais Médicos viajaram para Cuba, mesmo sem a existência formal de um acordo, para transmitir aos médicos noções básicas sobre o sistema público de saúde brasileiro e de língua portuguesa. É o que atestam depoimentos de médicos integrantes do primeiro grupo que aqui chegou. "Agora é só revisão. Boa parte do conteúdo aprendemos lá", disse um deles, acrescentando que havia conhecido em Cuba um dos professores que estão ministrando os cursos de três semanas, que devem seguir antes de começar a clinicar.
Três colegas seus, expressando-se em português razoável, confirmam que o preparo para a vinda ao Brasil começou há vários meses. Receberam também informações sobre as regiões em que devem trabalhar, como disse um que vai para a Amazônia.
Tudo isso confirma que esse preparo começou antes do primeiro anúncio da intenção do governo de trazer médicos cubanos, para atuar em regiões pobres do interior e na periferia das grandes cidades, feito em maio pelo então chanceler Antônio Patriota. Inicialmente o número previsto era de 6 mil. Diante da reação negativa das entidades representativas dos médicos brasileiros, o governo prometeu fazer mudanças no plano, lançado oficialmente no início de julho, agora com a promessa de preferência para os profissionais formados no País e com um número mais reduzido de cubanos - 4 mil.
O acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que faz a intermediação entre Brasil e Cuba, foi formalizado em meados da semana passada. E, para surpresa geral, apenas três dias depois 400 dos 4 mil médicos cubanos desembarcaram no País. Surpresa que agora se explica.
O governo não tem o direito de tratar dessa forma, com esse jogo de esconde-esconde, a população e as entidades médicas. Ele transmite assim uma desagradável impressão de esperteza. Um comportamento inaceitável em autoridades públicas. E não convence a explicação do Ministério da Saúde, segundo o qual a presença dos professores brasileiros em Cuba faz parte de projeto de intercâmbio entre os dois países - os primeiros dariam aulas sobre o funcionamento do SUS e os cubanos, em troca, repassariam seus conhecimentos sobre atenção básica.
Como se toda essa trapalhada - para dizer o mínimo - não bastasse, o programa já começa a ter consequências negativas. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostra que prefeituras das Regiões Norte e Nordeste estão trocando profissionais contratados por elas por outros do Mais Médicos, principalmente cubanos. Por uma razão muito simples: os primeiros são pagos por elas (os salários podem chegar a R$ 35 mil) e os cubanos, pelo governo federal. A vantagem da troca é muito grande.
A única explicação para o Ministério da Saúde não ter percebido que o programa tinha esse risco evidente, e não ter tomado medidas para evitá-lo, só podem ser a pressa e a improvisação.

Medicos cubanos: um caso especial de renuncia de soberania

Da Carta ao Leitor, da revista Veja desta semana.

(...) Nem o pior inimigo externo brasileiro poderia conceber um plano mais eficiente de desmoralização da soberania nacional. Mas esse plano foi concebido aqui mesmo pelo próprio governo. Um estrangeiro residente no Brasil tem de viver de acordo com as leis locais. O fato de um alemão poder guiar a 180 quilômetros por hora sem ser multado em estradas de seu país não lhe dá o direito de esperar igual tratamento no Brasil. Aqui ele tem de respeitar os limites máximos de velocidade impostos pelas regras brasileiras de trânsito Um chinês que abre uma empresa aqui tem de contratar empregados de acordo com a legislação trabalhista brasileira. Isso é óbvio. Por que razão os médicos cubanos podem viver e exercer a profissão no Brasil obedecendo às leis cubanas? Essa situação é juridicamente insustentável e, pelo fato de Cuba ser uma ditadura, moralmente condenável. 

Digamos que um médico cubano decida abandonar o programa, casar-se com uma brasileira, ter filhos e fixar residência, o que acontece? Ele seria imediatamente extraditado para Cuba, é o que afirmam com todas as letras Alexandre Padilha, ministro da Saúde, um dos arquitetos do plano, e Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. É urgente lembrar a suas excelências que, para ser extraditado do Brasil, um cidadão estrangeiro precisa, antes de mais nada, ter cometido um crime. Casar-se, ter filhos e mudar de país não constitui crime pelas leis brasileiras. Se constitui crime em Cuba, isso é problema da ditadura castrista. Resta evidente que nada aconteceria a um médico espanhol, português, suiço, canadense, pouco importa, que se encontrasse no Brasil na mesma situação. Ou seja, a esses outros estrangeiros aplica-se a lei brasileira. Mas, para os cubanos no Brasil, vale a lei cubana. É acintoso.

Se já é vergonhoso e ilegal obrigar os profissionais de saúde cubanos a entregar mais da metade dos seus ganhos à ditadura militar de Havana, prendê-los e devolvê-los à força seria uma violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (...).

Nunca antes no Supremo... nunca antes, ao que parece...

ANTONIO VIEIRA
Blog de Augusto Nunes, 1/09/2013

No complexo de procedimentos englobados na palavra “mensalão”, há inúmeros componentes, em boa parte escondidos. O julgamento do STF alcançou apenas a ponta do iceberg. Sigamos o dinheiro, como recomendava sabiamente o tal Garganta Profunda do caso Watergate.

Em primeiro lugar, é bom considerar que há operações bancárias ─ chamadas “antecipação de recebíveis” ─ que são muito praticadas por instituições financeiras. Em si, esse mecanismo se reveste da natureza de simples mútuo, onde alguém toma um empréstimo e dá como garantia algum bem, além do aval, ou transfere para terceiros os direitos a um título cambiário (como letras de câmbio, cheques ou duplicatas).
Em segundo lugar, é fundamental reconhecer que, antes de subornar um político ou parlamentar qualquer, é necessário haver o dinheiro para lastrear a compra. Sem o capilé o corruptor não corrompe o corrupto, por mais que ambos o queiram e se esforcem para tanto.  Negociatas que não ultrapassem as tratativas preliminares são de difícil comprovação. Ficam por isso mesmo. De qualquer maneira, persiste o ponto nevrálgico referente à grana. Sem ela não há negócio.
Em terceiro lugar, deve-se refletir sobre a expertise do petismo, fruto de notórias práticas sindicais. Sindicatos são cartórios extremamente rentáveis. É possível afirmar, sem medo de cometer injustiça, que eles são um negócio melhor que o proxenetismo convencional, ou a exploração da religiosidade popular.
Em quarto lugar, considerando-se os itens anteriores, cabe decifrar a gênese do mensalão, a partir da combinação de negócios bancários, o projeto político do PT, a cultura das negociatas sindicais e a criatividade dos dirigentes desse partido, ao inventar uma forma sofisticada de extração de dinheiro dos cofres públicos, passando por cima de todos os sistemas de controle disponíveis. A quadrilha, nos seus primórdios, construiu, audaciosamente, uma rendosa parceria com pequenas casas bancárias de Minas Gerais, todas com uma mesma característica: aquilo que se pode impropriamente chamar de “governança familiar”, vale dizer, desprovida dos rigores de gestões corporativas impessoais.
Manobrando atrasos deliberados na quitação de dívidas com fornecedores, inicialmente por parte da Prefeitura de Belo Horizonte (controlada pelo PT ininterruptamente por quatro mandatos a partir de 1993), bem como das permissões da lei das licitações quanto à recomposição de preços e valores dos contratos, o esquema petista estrangulava financeiramente seus credores obrigando-os, de fato, até mesmo com o devido estímulo institucional, a buscar socorro nos tamboretes mineiros ─ Rural, Mercantil do Brasil e BMG ─ dando-lhes como garantia as faturas que tinham a receber.
Acertos políticos, como se diz, entre as cúpulas geravam risco zero quanto ao pagamento dos créditos junto à prefeitura mineira, agora devedora indireta dos tais bancos. O truque, de enorme singeleza, estaria pois em procrastinar o pagamento das dívidas da prefeitura. Desculpas esfarrapadas sobre as debilidades do fluxo de caixa, com alegações sobre a incapacidade financeira, apesar da cobertura orçamentária, produziam um impasse que era superado apelando-se a empréstimos dos fornecedores junto àquelas instituições financeiras. Juros robustos antecipadamente pagos seriam compensados posteriormente com aditivos da chamada recomposição de preços e valores. Na prática, os juros finais eram debitados na conta da prefeitura que, diretamente nada tinha a ver com os mútuos.
Voltando, então, ao tópico a respeito da necessidade de grana para efetivar o suborno da turma do mensalão: com os empréstimos dos fornecedores estaria resolvido o problema. A prefeitura encaminhava os “clientes” e a beirada devida ao articulador ficava à disposição do parceiro. Ressalte-se que há bancos que não faziam tais operações quando as garantias eram créditos a receber de prefeituras. A proverbial prudência bancária se deve à falta de credibilidade e, portanto, à insegurança quanto à concretização das responsabilidades presumidas dos dirigentes públicos.
A confiança indispensável em operações assim obrigava compromissos quase que pessoais. Algo do tipo: “pode emprestar a fulano, que eu mando saldar o débito na data prevista”. Um comando desse só pode se efetivar quando as entidades financeiras são empreendimentos familiares. Grandes casas bancárias não são susceptíveis a tais encaminhamentos em vista de seu modelo organizacional. Só um Banco Rural da vida , é importante alertar, tal qual no episódio tornado público, ou outros tamboretes amigos, de Belo Horizonte, serviriam para entrar na rede.
O único desafio operacional ficou na forma do titular da comissão retirar do caixa a sua parte. Se o fizesse oficialmente, deixaria as digitais nos registros contábeis. Uma solução foi arranjar um testa de ferro. O julgamento do STF apontou o responsável em alguns casos. Marcos Valério serviu como ponte. Foi o intermediário, usando a técnica dos “empréstimos” que não precisariam ser pagos. Deu no que deu. Precavendo-se contra o previsível futuro, quando vier à luz detalhes do mensalão mineiro, o BMG passou seu controle para o Itaú, visando escapar do mesmo destino infamante do Rural.
Vejamos, agora, como vai se desenrolar o caso envolvendo o Mercantil do Brasil e o ministro Toffoli, relator de processo de interesse do banco e, ao mesmo tempo, cliente favorecido generosamente pelo banco. Bancos, aliás, não são instituições filantrópicas. Banco, que é banco mesmo, existe para auferir lucros, os máximos possíveis. Toffoli está em silêncio. O filho do dono do Mercantil já veio a público defender as operações com o ministro. Se o Supremo resolver aplicar em si o furor moralizante, tão defendido agora por gente fresca na Casa, como o ministro Barroso, talvez venhamos a ter o primeiro caso de impeachment de um magistrado da mais alta corte judiciária brasileira.

Já vimos exemplos no Legislativo e no Executivo. Falta alguém do Judiciário para fechar o ciclo. O ministro Toffoli está ensaiando a candidatura com esse estranho negócio em que está metido. Os dirigentes do Mercantil fizeram empréstimos de mãe para filho a Dias Toffoli chegando, até mesmo, a reduzir a taxa de juros anteriormente pactuada. Parece que eles andam a ler muito os Contos de Aprendiz, de Fernando Pessoa. Seriam, com o perdão do grande poeta, os novos banqueiros anarquistas. Ser mineiro, em outros tempos, era sinônimo de cautela, de prudência, de chegar cedo para não perder o trem, de preferir canja de galinha, de no máximo comprar um ou outro bonde, mas sempre eventualmente. Agora, os financistas das Gerais não são mais que velhacos com pretensão de sabidos.

Nunca antes no Brasil... nunca antes mesmo...

Nunca antes no Brasil, a presidência da República tinha sido tão democrática, tão transparente, tão resolvida, tão assumida, tão contente de si mesma, tão segura de suas certezas, tão bem com os seus bens, tão perfeita na transcrição fiel de segundo por segundo, minuto por minuto, hora por hora desses momentos memoráveis para a língua portuguesa, que por certo serão estudados durante anos, por gerações, na Academia Brasileira de Letras.
Louvo aqui a sinceridade total, a verdade exposta à luz do dia, o exercício perfeito de lucidez verbal, de satisfação com a exposição límpida, perfeita, fiel, de como as coisas realmente são.
Por isso, volto a repetir: nunca antes no Brasil tínhamos tido demonstrações tão acabadas de verdades presidenciais, manifestações tão claras de como as coisas se passam realmente.
É o caso, portanto, de repetir, com o historiador alemão Leopold von Ranke:
Wie es eigentlich Gewesen...
(como as coisas efetivamente se passaram).
Grato a todos os que colaboraram para esses momentos memoráveis da história pátria.
Paulo Roberto de Almeida

CELSO ARNALDO ARAÚJO
Blog de Augusto Nunes, 1/09/2013

O que a presidenta fala não se escreve ─ o dilmês, inédito idioma com um único usuário, estacionou sua semântica na fase pré-escrita da linguagem e, por isso, não pode ser transcrito sem grave ofensa à instituição da Presidência da República. Ao quebrar esse dogma, reproduzindo os discursos de Dilma com fidelidade quase integral, minutos depois de terem sido cometidos, o Portal do Planalto oferece à consulta pública, em tempo real, documentos preciosos que um dia serão analisados por historiadores isentos ─ e só então encarados com o devido espanto.
Desde o início das manifestações de rua, com a consequente queda vertiginosa de sua incrível popularidade, os discursos de Dilma se avolumaram em duração e frequência ─ às vezes três numa mesma cidade, no mesmo dia, cada qual numa plataforma diferente do Brasil Maravilha. Só de “comprimentos”, dá mais de meia hora/dia.
Mas esta semana, em Campinas, onde participaria de duas cerimônias, o espanto foi da própria presidente, logo aos 32 segundos do primeiro discurso, que celebraria a entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida na cidade, ao se dar conta de que um auto-hacker, falando em dilmês escorreito, invadira sua fala.
O preâmbulo “cut-cut” do discurso seria o caso edificante de uma mulher resgatada de sua miséria por um curso profissionalizante ─ e que talvez já tenha até casa própria, mas não é da Dilma.
“Eu quero cumeçá contando uma história pra vocês de uma mulher que estudou somente até a 5ª série ginasial e… aliás, a 5ª série do curso fundamental, porque vivia na roça com mais nove irmãos e não teve condições de continuar estudano. Mas essa mulher… eu vou tratá dela nu, na, na próxima cerimônia que eu vou participar aqui em Campinas…”
Continuar estudano? Só aí caiu a ficha: “essa mulher” era figurante do discurso seguinte, o de entrega de diplomas de cursos profissionalizantes para formandos do Pronatec. O que estaria fazendo ela numa entrega de casa própria? Ao perceber o erro, a presidente promete “tratá dela” na próxima cerimônia ─ seria quando falasse do Mais Médicos?
Enquanto o pânico certamente se instala nos arredores ─ com os assessores remexendo nervosamente a papelada para encontrar o texto da vez ─ Dilma não acusa o golpe e, sem perder a embocadura, como sói acontecer entre os grandes oradores, tenta encenar o teletransporte, à cerimônia seguinte, da personagem que não pertencia àquele mundo:
“… na próxima cerimônia que eu vou participar aqui em Campinas, que é a formação…do Bolsa Família”.
Espere: não seria do Pronatec? Que formação é essa do Bolsa Família? Da poupança?
Não há nada que não possa ser consertado em dilmês:
“Quiquié formação do Bolsa Família? Quando a gente dá o Bolsa Família, nós estamos permitindo que as pessoas sobrevivam..”.
Humm, essa história não vai acabar bem… Enfim, depois de segundos que pareceram uma eternidade, a mão salvadora ─ veja no vídeo acima ─ deposita sobre o púlpito o papel certo. Seria a hora de mudar de assunto e abandonar o penoso improviso ─ o tema da cerimônia, afinal, é a casa própria. Mas não Dilma.
Ela vai até o fim. A tal “formação do Bolsa Família” ─ que parece ter deixado de ser esmola para ser escola ─ precisa ser explicada.
“Quando a gente dá o Bolsa Família, nós temos de dá também condições pras pessoas mudarem de vida. Mudá de vida ocê muda de várias formas. Primeiro, estudano….”.
É o toque aristolélico, que explica a “formação do Bolsa Família”. Mas, espere: de novo, e a casa própria? Aqui está ela, gloriosa, embora em versão “própia”:
“Primeiro a casa própia. Segundo, curso profissionalizante pra pessoa tê a carteira assinada e podê consegui um emprego”.
Fechou o raciocínio? Sem dúvida, mas é preciso dar uma caprichada no enunciado, inclusive linkando a coisa com o motivo do discurso seguinte, de onde “essa mulher” saiu inadvertidamente:
“Tô feliz, bastante feliz, porque hoje, aqui em Campinas, é minha primeira visita como presidente. E como presidente, eu venho fazer dois atos que são essenciais pra mudar a vida das pessoas: casa própia de um lado, formação profissional de outro lado”.
E dona Maria ─ como se verá adiante ─ no meio dos dois.
Bem, o discurso prossegue, além do vídeo, por longos 22 minutos, integralmente transcritos pelo Portal do Planalto, com Dilma em seu melhor habitat: a velha história da casa que é muito mais do que uma casa. É uma casa:
“Hoje, nós estamos entregando 1060, 1060 moradias que são na verdade, não são construção, porque uma casa pode ser de material, pode ter azulejo, ferro, aço, alumínio, mas uma casa não é isso. Uma casa é onde a gente cria os filhos, onde a gente mora com a família, onde a gente recebe os amigos, onde a gente cria os laços afetivos que qualquer ser humano quer carregar ao longo da sua vida”.
Passada a tensão inicial, Dilma parecia exultante ─ mas com os pés no chão:
“Eu estou muito feliz, porque eu entro lá nos apartamentos para olhar o quê? Eu olho o chão, eu olho se o chão está coberto. A moça ali me perguntou, porque antes não se cobria o chão. A primeira fase, a primeira fase não se cobria o chão, agora que se começou a cobrir. Nós decidimos várias coisas, melhorias, porque você vai aprendendo. Agora é obrigado ─ é bom vocês saberem o que é obrigado a fazer: por exemplo, o chão tem de estar coberto, ou por madeira ou cerâmica, e a área social também. Se o seu não estava, ele terá de estar”.
E nada como o olhar de uma igual:
“Eu sou, como vocês… hoje eu não sou dona de casa porque eu sou presidente, mas eu fui dona de casa até pouco tempo atrás. Quero dizer para vocês que, como qualquer dona de casa, vocês têm de fazer o seguinte: vocês têm de olhar os preços nas lojas. E olhar o preço, ver qual é o melhor e comprar o que é melhor”.
Não é à toa que se tornou presidente: alguém já tinha pensado nisso antes?
A seguir:
─ A mulher que invadiu por engano o discurso da casa própria volta com tudo no discurso certo e é obrigada a ouvir a profissão de fé da presidente na educação e nos nossos mestres:
“E o professor, o professor, a pessoa professor e professora, nós, sociedade brasileira, governo, estudantes, nós temos de valorizar”
“Independentemente de quem quer que seja, nós carregamos a educação que nós conquistamos para nós”
─ Dilma pede ajuda aos universitários para lembrar o nome do micro-ondas

─ Os desafios do Mais Médicos:
“Nós vamos primeiro atacar o grosso”
“Gripe é aquilo que ataca cada um de nós”
“O Brasil precisa de oncologista, que vai tratar das doenças do câncer”.

Golpe do Chile em 1973: o papel ativo do Brasil em apoio aos militares golpistas

O Brasil de Pinochet

Documentos chilenos revelam detalhes sobre como a ditadura militar, sob Médici, apoiou conspiradores no Chile antes, durante e após golpe que este mês completa 40 anos

O Estado de S.Paulo, 1/08/2013
Roberto Simon, enviado especial a Santiago

SANTIAGO - O expediente no Itamaraty já havia terminado quando, às 20h30 de 13 de setembro de 1973, diplomatas chilenos foram recebidos na chancelaria esvaziada, em Brasília. O presidente Emílio Garrastazu Médici estava em São Paulo, de onde telefonara dando ordens expressas para que o Brasil se tornasse o primeiro país a reconhecer a junta militar que derrubara o governo de Salvador Allende. Um avião com "20 toneladas de medicamentos" estava a caminho de Santiago.
Pinochet e tropas militares no palácio presidencial - Martin Thomas/Reuters
Martin Thomas/Reuters
Pinochet e tropas militares no palácio presidencial
"É certo dizer que o novo governo do Chile encontrará no Brasil um poderoso aliado", escreveu, emocionado, no primeiro telegrama à junta militar, o encarregado de negócios chileno em Brasília, Rolando Stein - o embaixador de Allende no País, o jurista Raúl Rettig, que décadas depois chefiaria a comissão da verdade chilena, havia renunciado naquela manhã. Stein acertou na mosca.
Com base em arquivos brasileiros, já se sabia que o governo Médici deu amplo apoio aos conspiradores chilenos antes, durante e depois do golpe que este mês completa 40 anos. Empresários brasileiros enviaram dinheiro a grupos de direita no Chile, o embaixador em Santiago, Antonio Cândido da Camara Canto, atuou como pôde para minar o governo Allende (mais informações nesta página) e, dias após a queda dos socialistas, agentes brasileiros foram enviados ao Estádio Nacional e a outros centros de repressão para prestar "consultoria" a colegas chilenos.
Estado, porém, teve acesso a centenas de telegramas diplomáticos secretos do Chile recentemente liberados - e inéditos no Brasil - que revelam novas informações sobre o grau e as formas de participação do governo Médici na derrubada do governo da Unidade Popular (UP). Ao longo desta semana, o jornal publicará reportagens exclusivas sobre como o Brasil ajudou a empurrar o Chile para o período mais sombrio de sua história.
Uma das revelações mais impressionantes dos documentos chilenos é que, logo após chegar ao poder, o governo Allende recebeu informações precisas sobre as atividades da ditadura brasileira contra o Chile - incluindo planos para derrubar à força a UP. Segundo um telegrama "estritamente confidencial", um jornalista chileno vinculado ao ex-presidente Jorge Alessandri, de direita, alertou o embaixador de Allende em Brasília que havia sido procurado "por um general brasileiro amigo". O militar lhe propôs ajuda para "organizar no Chile um movimento de resistência armada (...), estruturado em forma de guerrilha, (...) contra o ‘perigo vermelho’."
No mês seguinte, a embaixada recebeu novas e mais detalhadas informações sobre o plano de insurgência no Chile. Desta vez, porém, o alerta partiu de um informante altamente improvável: um oficial brasileiro, "com ideias políticas de esquerda", vinculado ao serviço de inteligência do Exército.
Por meio de um intermediário, o militar fez chegar a um secretário da embaixada chilena a informação de que, dentro do Ministério do Exército, no Rio de Janeiro, funcionava uma sala de operações, com maquetes da Cordilheira dos Andes e mapas, para estudar e planejar uma guerrilha anticomunista no Chile. Brasileiros participariam apenas como instrutores e os combates seriam travados por civis chilenos. Mais: como parte dos preparativos, o Exército do Brasil teria enviado "diversos agentes secretos, que entraram no Chile como turistas".
Um cidadão chileno que viva em São Paulo "e merece toda confiança" também afirmou à missão diplomática que um "corpo do Exército nessa cidade estaria procurando voluntários chilenos para empreender uma aventura bélica" no Chile. A articulação estaria sendo feita com ajuda de integrantes da Fiducia - equivalente chilena à Tradição Família e Propriedade (TFP) - que haviam se mudado para São Paulo.
Embaixador suíço. O militar brasileiro, cuja identidade não é revelada nos documentos, passou outro recado importante ao governo Allende. Entre os 70 "subversivos" brasileiros que foram ao Chile no ano anterior, trocados pelo embaixador suíço, Giovanni Bucher, havia dois espiões do Exército brasileiro. A governo Médici havia deliberadamente atrasado a negociação para libertar os presos políticos com o objetivo de colocar os infiltrados em território chileno. Lá, eles deveriam coletar informações e se comportar como "agentes provocadores".
À época, cerca de 5 mil exilados brasileiros viviam no Chile, onde conduziam intensas atividades de denúncia à ditadura. Os documentos chilenos mostram que o embaixador do Brasil em Santiago, Antônio Cândido da Câmara Canto, várias vezes apresentou protestos formais ao governo em razão de artigos e declarações de opositores brasileiros à imprensa local. Vários brasileiros que estiveram no Chile, consultados pelo Estado, disseram que muito provavelmente eles eram monitorados por meio de espiões.
O embaixador de Allende no Brasil chama atenção para o caso de duas senhoras brasileiras, parentes de exilados, que foram presas pela Aeronáutica no Aeroporto do Galeão, no Rio, ao desembarcarem do Chile, no dia 19 de janeiro daquele ano. Elas traziam cartas de brasileiros exilados, incluindo uma mensagem de Almino Afonso, ex-ministro do governo João Goulart, ao deputado Rubens Paiva. O embaixador chileno em Brasília acreditava que elas haviam sido delatas por informantes da ditadura entre os brasileiros em Santiago. No dia seguinte ao caso no Galeão, Rubens Paiva foi preso em sua casa por agentes que se diziam da Aeronáutica.

Diplomata brasileiro tinha laços com oficiais

01 de setembro de 2013 | 2h 10
SANTIAGO - O Estado de S.Paulo
Quando o rádio comunicou a morte de Salvador Allende, quase todos os funcionários da embaixada brasileira em Santiago levantaram-se em sinal respeito. "Foi uma cena horripilante", lembra José Viegas, que servia no Chile como segundo secretário e, três décadas depois, se tornaria ministro da Defesa do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
A embaixada ficava a poucas quadras do Palácio de la Moneda. Os funcionários ouviram os estrondos do bombardeio e viram os caças sobre Santiago. A diplomacia brasileira, porém, estava longe de ser mera espectadora. "Houve muita coisa nebulosa naquela embaixada, mas o principal passou pelo SNI (Serviço Nacional de Informações), que operava um canal paralelo dentro da missão, e pelo próprio embaixador (Antônio Cândido da Câmara Canto)", diz Viegas.
Câmara Canto era colega de hipismo e tinha laços com vários dos oficiais que lideraram o golpe. O embaixador americano, Nathaniel Davis, afirmou, anos depois, que o diplomata brasileiro o convidou, em março de 1973, para organizar um golpe contra Allende.
Segundo duas fontes que estavam no Itamaraty à época, um dos últimos encontros dos chefes das quatro forças chilenas (as três armas e os carabineros) ocorreu dentro do palacete onde funcionava a embaixada brasileira. A ocasião foi a festa do 7 de Setembro - quatro dias antes do golpe. Tradicionalmente, os oficiais chilenos prestigiavam a celebração da independência na missão brasileira. Câmara Canto teria reservado uma sala para os militares - mais tarde, ele recebeu dos chilenos o carinhoso apelido de "o quinto membro da junta militar".
Na tarde do dia 13 de setembro, o embaixador surpreendeu os generais chilenos ao notificá-los de que o presidente Emílio Garrastazu Médici, em apoio ao golpe, decidira reconhecer imediatamente o novo governo. Horas depois, o encarregado de negócios chileno em Brasília, Rolando Stein, era chamado ao Itamaraty para receber a mesma informação. "Foi uma demonstração da profunda amizade do Brasil", escreveu Stein em oficio levado a Santiago por um dos adidos militares da embaixada. / R.S.

Celulares e abastecimento de gasolina: um alerta sobre riscos de incendio

Não tenho certeza de que este alerta tenha sido feito pela Shell, não, em todo caso, desta forma.
Pode ser uma lenda urbana, ou alarmismo deliberado, mas existem "histórias", em torno disso.
Em todo caso, seguro morreu de velho, como se diz, e vale prevenir, antes que remediar (nos casos fatais não há mais o que remediar).
Paulo Roberto de Almeida
Pronunciamento da Shell Oil Co.
Recentemente, após três incidentes nos quaistelefones celulares inflamaram gases durante operações de enchimento de tanques de gasolina, a Shell Oil Company emitiu a seguinte advertência:

No primeiro incidente, o telefone havia sido colocado sobre o capô traseiro do carro durante o abastecimento; o telefone tocou, e em seguida, um incêndio destruiu o carro e a bomba de gasolina.

No segundo, uma pessoa sofreu sérias queimaduras da face quando gases se incendiaram conforme respondia uma chamada celular enquanto abasteciam seu carro.

E, no terceiro, um individuo teve seu quadril e virilha queimados conforme gases se incendiaram quando seu celular, que se encontrava em seu bolso, tocou enquanto estava abastecendo o carro.
É muito importante você saber que:
- Telefones celulares podem incendiar combustíveis ou gases

- Telefones celulares, que se acendem ao serem ligados ou quando tocam, liberam força suficiente para gerar energia capaz de provocar uma faísca capaz de iniciar um incêndio

- Telefones celulares não devem ser utilizados em postos de gasolina, ou quando estiver abastecendo cortadores de grama, barcos
!, etc...

- Telefones celulares não devem ser utilizados, ou melhor, devem ser desligados, quand
o houver por perto outros materiais que possam gerar gases inflamáveis ou explosivos ou poeira
 gasosa (i.e. solventes, elementos químicos, gases, poeira de grãos, etc.)
Em suma, aqui vão as:

Quatro Regras para o Abastecimento Seguro

1) Desligue o Motor
2) Não Fume
3) Não use seu telefone celular - deixe-o dentro do veículo ou desligue-o.
4) Não retorne ao seu veículo durante o abastecimento!!
O Senhor Bob Renkes, do Petroleum Equipment Institute, está engajado em uma campanha que intenciona informar as pessoas quanto ao risco de incêndios resultantes da "eletricidade estática" em postos de gasolina. Sua empresa, já investigou 150 casos desse tipo de incêndio.
Os resultados foram surpreendentes:
1) Em 150 incidentes, quase todos envolveram mulheres.

2)
 Quase todos incidentes ocorreram quando uma pessoa reentrava seu veículo enquanto o bocal da bomba ainda estava bombeando gasolina. Depois de concluído o abastecimento, essa pessoa retornou para retirar o bocal e o incêndio foi iniciado por causa da estática.
3) A maioria dessas pessoas usava sapatos com solas de borracha.

4)
 A maioria dos homens nunca entra de novo em seu veículo até que o abastecimento tenha sido completamente terminado. Essa é a razão porque os homens raramente estão envolvidos nesse tipo de incêndio.
5) Nunca use telefones celulares enquanto estiver abastecendo seu veículo.
6) São os vapores emitidos pela gasolina que causam incêndios, quando submetidos a cargas estáticas.
7) Houve 29 incêndios em que o(a) motorista entrou de novo no veículo e o bocal foi tocado durante o abastecimento, isso tendo ocorrido em uma grande variedade de marcas e modelos. Alguns desses casos resultaram em danos significativos pra o veículo, para o posto de gasolina, e para o consumidor.
8) Dezessete incêndios ocorreram antes, durante ou imediatamente após a tampa do tanque ter sido removida e antes que o abastecimento tenha sido iniciado.
O Sr. Renkes enfatiza a instrução de NUNCA entrar de novo em seu veículo durante o abastecimento.
No caso de haver uma necessidade absoluta de retornar ao seu veículo durante o abastecimento, nunca se esqueça de, após fechar a porta, TOCAR EM UM METAL, antes de retirar o bocal da bomba. Através desse gesto simples, você estará se descarregando da eletricidade estática antes de remover o bocal.

Como mencionado acima, o
 Petroleum Equipment Institute, junto com muitas outras companhias, está realmente tentando conscientizar a todos quanto a esse perigo. Você poderá obter maiores esclarecimentos acessandohttp://www.pei.org/ .. Uma vez conectado, clique no centro da tela onde está escrito "Stop Static".
Eu solicito a você que, por favor, envie essa informação, EM CÓPIA OCULTA,  para TODA sua família e amigos, especialmente aqueles que transportam crianças em seus carros enquanto enchendo seus tanques de gasolina. Se isso ocorrer com eles, talvez eles não sejam capazes de tirar as crianças do carro em tempo de salvá-las.

Global Fire Power: Brasil como um dos paises mais poderosos do mundo...

O site Global Fire Power (http://www.globalfirepower.com/), coloca o Brasil como o décimo país mais poderoso do mundo, em termos de potência ou capacidade militar.

Permito-me discordar...
Minha impressão é a de que esses índices globais, ao recolherem uma massa de dados não homogênea, mais baseada em volume do que em qualidade, acabam resultando em coisas desproporcionais.
Pode-se acreditar, por exemplo, que o Brasil tenha uma capacidade de fogo (ou de fazer a guerra) superior à do Canadá?
Não acredito. E acho que não pode ser verdade.
Ou seria ela maior do que a do Egito, da Turquia, da Espanha, da própria Suécia, que é um país neutro?
Acho que estamos sendo -- ou os autores do índice estão sendo -- traídos pela nossa massa, ou então pelo que declaram os militares brasileiros eles mesmos, em suas estatísticas de brinquedinhos bélicos, para não passar vergonha ante vizinhos e "inimigos" imperialistas, que poderiam, digamos, ridicularizar nosso baixo poder de fogo.
Se tivermos de movimentar, por exemplo, todos os nossos aviões, caminhões e tanques ao mesmo tempo, haveria combustível para todos eles? 
Se tivermos de disparar todos os nossos canhões antiaéreos, quantos minutos a salva demoraria?
Se tivermos de deslocar tropas, para o próprio Brasil, ou para alguma região próxima, como isso seria feito? Nem digo longínqua...
Não acredito que possamos sequer pensar em defender algum ponto atacado do território ou do litoral, quanto mais em iniciar alguma ofensiva...

Eu não colocaria o Brasil sequer entre os 20 primeiros... mas tudo isso é muito subjetivo, claro.
Paulo Roberto de Almeida


Os medicos cubanos e o modo de producao escravista - Percival Puggina


GILBERTO FREYRE E OS MÉDICOS CUBANOS
Percival Puggina
1/09/2013

Recebo carta de leitor disposto a ensinar-me que o convênio para admissão de médicos estrangeiros no Brasil prevê que eles sejam acompanhados pelas famílias. Como se eu não tivesse lido a Medida Provisória nº 623 de 19 de julho de 2013! Está ali, sim, com todas as letras, que o Brasil reconhece o óbvio direito do estrangeiro admitido no programa Mais Médicos de se fazer acompanhar por cônjuge e filhos enquanto prestar serviços ao nosso país. O problema que ao missivista pareceu irrelevante é este: enquanto os profissionais de quaisquer outras procedências exercerão esse direito, os cubanos são os únicos aos quais ele é vedado, não aqui, mas no país de origem. O doutor vem, mas a família fica lá, como garantia de retorno do cativo a seu dono e senhor, o Estado marxista-leninista de Cuba. O que a Medida Provisória de Dilma permite não está previsto nas Cartilhas do Cárcere do governo cubano. Há gente que pensa que os outros não pensam.

          A vergonhosa manifestação promovida por alguns médicos brasileiros contra os cubanos que desembarcaram em Fortaleza foi um self-service bem fornido para proveito dos formadores de opinião que atribuem a preconceitos ideológicos qualquer atitude avessa à agenda petista. Como se a defesa dos interesses do petismo estivesse associada aos mais translúcidos e elevados ideais humanos! Ou, como se essa defesa fosse gerada por um ambiente filosófico e político blindado à mais tênue contaminação ideológica. Me poupem.

          O site da revista Carta Capital na última quarta-feira deu destaque ao recém chegado Dr. Juan Delgado. "Não sei porque nos chamam de escravos", exclamou ele, observando que não vem tirar trabalho de ninguém e que todos irão para onde os médicos brasileiros não querem ir. Tem razão em parte, o Dr. Juan. A atitude dos seus colegas cearenses foi deplorável grosseria. Por outro lado, é irremediável a situação do escravo que sequer tem consciência de ser escravo. Danosa, também, a matéria da revista, claro, por não informar o leitor sobre a escravidão que o regime castrista impõe aos cidadãos da ilha. Carta Capital faz malabarismos. Também ela pensa que os outros não pensam.

          A presidente Dilma veio às falas naquele estilo que não dá bola para sujeito, predicado e complemento: "É um imenso preconceito esse que algumas vezes a gente vê sendo externado contra os médicos cubanos. Primeiro, é importante dizer que os médicos estrangeiros, e aí não só os cubanos, porque tem cubano, argentino, uruguaio, espanhol, português, tem de várias nacionalidades. Esses médicos vêm ao Brasil para trabalhar onde os médicos brasileiros formados aqui não querem trabalhar".

          Pois é, presidente, também a senhora não percebe. Argentinos, uruguaios, espanhóis e portugueses vêm ao Brasil de livre e espontânea vontade e são admitidos no programa individualmente, um a um. Já os cubanos, são tratados como gado de curral, vendidos aos lotes. Recebem pequena fração do que seus outros colegas embolsam enquanto a parte robusta do ervanário gerado por seu trabalho vai para os cofres de Havana. (Nota: Repete-se aqui, com os médicos, o tipo de locação com que o regime de Havana servia a Moscou jovens soldados, como bucha de canhão, nas guerras e guerrilhas que os soviéticos mantinham ou subsidiavam na África.) Considerar que os cubanos merecem tão desumano e depreciativo tratamento é muito mais do que preconceito. É maldade e perversão.

          Critique os manifestantes de Fortaleza, presidente. Mas dê uma olhada no que a senhora e os stalinistas de seu governo andam fazendo. Seu Advogado Geral da União já avisou que para os médicos cubanos não haverá asilo... Pergunte à ministra Maria de Rosário o que ela acha disso tudo na perspectiva dos Direitos Humanos. E se ela disser que concorda, despache-a com aquela sua caneta (retrátil, é verdade) de assinar demissões. Lembrei-me de Gilberto Freyre. Brasília, nesta alvorada do século 21, tornou-se a nova Casa Grande que contrata e paga por cabeça na senzala cubana.

* Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Big Brother, Small Brother e as ironias da vida: se eles ja sabem de tudo, para que a visita?

Bem, seria o caso de suspender a visita de Estado não é?, já que o Obama já sabe de tudo...
Paulo Roberto de Almeida 



A Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) monitorou o conteúdo de telefonemas, e-mails e mensagens de celular da presidente Dilma Rousseff e de um número ainda indefinido de “assessores-chave” do governo brasileiro. Além de Dilma, também foram espionados pelos americanos nos últimos meses o presidente do México, Enrique Peña Nieto, — quando ele era apenas candidato ao cargo — e nove membros de sua equipe. 
As informações foram reveladas ontem pelo “Fantástico”, que teve acesso a uma apresentação feita dentro da própria NSA, em junho de 2012, em caráter confidencial. O documento é mais um dos que foram repassados ao jornalista britânico Glenn Greenwald por Edward Snowden, técnico que trabalhou na agência e hoje está asilado na Rússia.
— Se forem confirmados os fatos da reportagem, eles devem ser considerados gravíssimos e caracterizarão uma clara violação à soberania brasileira — disse o ministro, depois de uma reunião com Dilma. — Isso foge completamente ao padrão de confiança esperado de uma parceria estratégica, como é a dos Estados Unidos com o Brasil. Diante desses fatos, vamos exigir explicações formais ao governo americano, o Itamaraty convocará o embaixador dos Estados Unidos (Thomas Shannon) para dar explicações e vamos levar o assunto a todos os fóruns competentes da ONU.