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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ainda a deterioracao do cenario economico - Roberto Macedo

2013 ruim e a culpa não foi do 13

02 de janeiro de 2014 | 2h 07

Roberto Macedo* - O Estado de S.Paulo

O ano passado mostrará mais uma taxinha anual de crescimento do produto interno bruto (PIB). Há previsões entre 2,1% e 2,5%. Em 2011 e 2012, as taxas foram 2,7% e 1%, respectivamente. Supondo 2,3% em 2013, a média anual do triênio teria o valor medíocre de 2%.
Para quem acredita em azar, o 13 que marcou a contagem do ano passado seria o culpado. E há muitos crentes, inclusive num país desenvolvido, os EUA, onde esse número é evitado até na numeração de andares de prédios. Mas não há como culpá-lo pelas taxinhas. A política econômica do governo federal é a principal responsável.
Focarei na taxinha de 2013. No detalhe, só o agronegócio se salvou, pois cresceu 8,1% de janeiro a setembro de 2013 relativamente a igual período de 2012. E em boa medida impulsionado por decisões de um partido político que realmente ajuda o Brasil, o Comunista da China.
Começarei por parafrasear o que disse o filósofo Ortega y Gasset sobre a interação do ser humano e das circunstâncias com que se depara, às quais se atribuem azares e sortes da vida. No caso, o ser é o governo federal com sua política econômica. As circunstâncias foram várias, como duas apontadas recentemente pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda.
Esta foi sua inconvincente versão do baixo crescimento do PIB: "De um lado, financiamento (ao consumo) escasso e, de outro, a crise internacional, que rouba parte da capacidade de crescimento. (...) Isso significa que a economia brasileira está crescendo com duas pernas mancas". Ou seja, a culpa seria de circunstâncias azarentas e o governo não tem nada que ver com a taxinha.
Essas duas pernas hoje mancas favoreceram muito o crescimento mais rápido da economia de 2003 a 2008 e em 2010. Mas hoje seu papel é menor. Para expandir substancialmente o crédito ao consumidor seria necessário combinar com bancos reticentes em fazê-lo. E com milhões de brasileiros para que se endividassem ainda mais. Muitos, contudo, têm orçamentos já comprometidos por débitos contraídos no passado.
No crédito às famílias, a prioridade deve ser o financiamento imobiliário, pois seu pagamento é uma forma de poupança, tem a garantia do imóvel e alivia uma das maiores fragilidades da economia brasileira, se não a maior, a escassez de investimentos. E, ao final da dívida, fica o imóvel, e não eletroeletrônicos por renovar e automóveis que perderam valor, cujo destino final é o sucateamento.
A economia internacional reduziu o ímpeto com que importava do Brasil, cujo déficit externo em transações correntes passou a crescer, estimulando a economia de outros países, como os EUA, onde tanto gastam os nossos turistas. A cobertura desse buraco com investimentos estrangeiros diretos já não consegue fechá-lo. E o risco de uma crise cambial mais à frente, que vem com o alto e crescente déficit, também afasta parte desses investimentos.
O déficit é sintoma de um real valorizado, contra o qual o governo precisaria atuar além das intervenções episódicas que vem fazendo no mercado cambial. Quanto a isso, é lamentável que tenha abdicado de um dos poucos bons aspectos de sua política econômica, a busca de menores taxas de juros. A elevada estatura delas atrai capitais externos de curto prazo, que ao aumentar a oferta de dólares pressionam para baixo a taxa cambial em reais por dólar. Mas para reduzir juros seria indispensável que a política fiscal colaborasse, deixando de ser gastadora como hoje, o que, além de ampliar a dívida pública, estimula a inflação e leva o Banco Central a aumentos recorrentes da taxa básica de juros.
Assim, a política fiscal é que é efetivamente capenga, mas, em lugar de corrigi-la, o ministro da Fazenda parece sonhar com a recuperação das tais "pernas mancas". Num ajuste fiscal caberia aumentar a poupança pública. E, noutras iniciativas, incentivar a poupança privada, inclusive das famílias, para que o País reduzisse sua dependência de recursos externos e colocasse essas poupanças a financiar investimentos de que tanto carece. Hoje o governo se endivida até para pagar juros do que deve, embora o endividamento público só se justifique para realizar investimentos. Como em infraestrutura, que beneficiam também futuras gerações, às quais cabe parte do ônus da dívida correspondente.
E há a má gestão dos investimentos públicos. Sem dinheiro e capacidade de realizá-los por si mesmo em montante significativo, o governo petista pragmaticamente abandonou um dogma de seu partido. Agora recorre a privatizações, na forma de concessão de serviços públicos e respectivas obras. Mas, como sempre, tudo com muito atraso, como os quase dez anos em que relutou em optar por privatizações, prejudicando o crescimento do País. Entretanto, permanece um ranço estatizante, como no caso das concessões de aeroportos, em que mantém um papel para a Infraero. E no do petróleo do pré-sal, em que impôs a Petrobrás como operadora de todos os projetos de exploração, mas limitando seus recursos mediante o controle de seus preços.
Com o déficit externo crescente, extravagâncias fiscais, dificuldades de gestão, medidas e pronunciamentos desconexos, a política econômica perdeu outro elemento indispensável para seu sucesso, a confiança dos analistas, dos empresários e dos investidores. Ela compõe um cenário que não favorece o investimento público nem estimula investimentos privados. E é campo fértil para taxinhas de crescimento do PIB.
Em 2014 deve vir mais uma. Como a prioridade é atrair eleitores para ganhar a eleição presidencial, não há espaço para atacar com vigor o problema central, a má gestão fiscal. Ela pode até agravar-se com benesses eleitoreiras aqui e acolá. Entre outras, prevejo uma expansão dos gastos com o programa Bolsa Família. A cooptação eleitoreira em dinheiro funciona a todo o vapor, como nunca antes neste país.
*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard) e consultor econômico e de ensino superior. 

Deterioração da balanca comercial, caminhando para crise de transações correntes - Miriam Leitao

No setor externo, a deterioração é visível, e as causas imediatas estão apontadas neste primeiro artigo, que não toca, entretanto, nos tremendos erros de políticas setoriais, sobretudo comercial e industrial.
Que o governo seja incompetente, disso ninguém tem dúvidas. Que os brasileiros tenham de pagar por isso, aí já é mais complicado...
A segunda matéria, uma entrevista, exemplifica o tipo de manobra contábil, de maquiagem estatística a que um governo notoriamente ruim está recorrendo para não apresentar um cenário imediatamente ruim, que poderia se traduzir numa avaliação para baixo do Brasil pelas agência de rating, ou seja, de classificação de risco. Sem essa mistificação da "exportação" de plataformas de petróleo, que não saíram do Brasil, e foram "vendidas" para uma sucursal da Petrobrás no exterior e novamente "algugadas" pela companhia brasileira, ou seja, uma mentira.
Está na hora de pensar em alternativas, mas com esse pessoal do poder fica difícil imaginar políticas mais consistentes. 
Vamos ter de esperar pela crise de transações correntes...
Paulo Roberto de Almeida 

Balança Real
Miriam Leitão
Coluna Panorama Econômico
O Globo, 3/01/2014

O saldo comercial em 2013 não foi apenas o pior resultado em 13 anos. Foi mais. Excluindo-se a parte da estatística que, na verdade, não aconteceu, o país teve déficit comercial. Quando a AEB alertou, em junho, que poderia haver déficit comercial, pareceu estranho, mas só não fechou no negativo pelas exportações de plataformas de petróleo que nunca saíram do país. 

Essa possibilidade de manobra contábil com as plataformas existe há bastante tempo, e o governo deixou claro que estava usando essa brecha. Apesar disso, é mais um número que não é bem o que está escrito, é mais uma confusão nas estatísticas. Aliás, duas: importações de petróleo e derivados feitas em 2012 entraram em 2013; e US$ 7,7 bilhões de plataformas de petróleo que nunca saíram do Brasil viraram exportação. 

O déficit com os EUA foi recorde e nossa balança com os europeus ficou negativa. As exportações caíram mesmo com a alta do dólar, que supostamente ajuda os exportadores. 

As exportações em 2013 caíram 1%, pela média diária, enquanto as importações subiram 6%. Isso aconteceu mesmo com a valorização de 15% do dólar frente o real, que encarece o preço dos importados e deixa mais competitivos os produtos exportados pelo Brasil. O saldo comercial caiu 87%, de US$ 19,3 bilhões, em 2012, para US$ 2,5 bi em 2013. Em 2011, havia sido US$ 30 bilhões. A corrente de comércio subiu 2,7%, puxada pelas importações, mas não superou o recorde de 2011. 

O que pesou mesmo na conta da balança comercial foi a compra de petróleo e derivados. Houve US$ 40 bilhões de importação desses produtos, que incluem, além do petróleo bruto, gasolina, diesel e outros combustíveis. Quase US$ 5 bilhões desse total deveriam ter entrado nas estatísticas de 2012, mas foram empurrados para este ano porque o governo acreditava que as exportações aumentariam e o número ficaria diluído. Mas não foi isso que aconteceu. As exportações de petróleo despencaram 37%, de US$ 20 bilhões, em 2012, para US$ 13 bilhões, em 2013. 

Em junho, José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), revisou sua estimativa para o ano, de um superávit de US$ 14 bilhões para déficit de US$ 2 bi. Foi o primeiro a dar o alerta. Castro percebeu que as exportações de petróleo e derivados estavam em queda, ao mesmo tempo em que as importações continuavam em alta. Além disso, os preços das principais commodities exportadas pelo Brasil não estavam subindo como nos últimos anos. 

- Se saíssem da conta as exportações de plataformas de petróleo e a contabilidade atrasada das importações de gasolina, o saldo teria fechado o ano negativo em US$ 500 milhões - disse José Augusto de Castro. 

O déficit comercial do Brasil com os Estados Unidos foi o pior de todos os tempos: saltou de US$ 5,7 bilhões, em 2012, para US$ 11,4 bilhões, no ano passado. O superávit que tínhamos com os europeus virou déficit: saiu de US$ 1,3 bilhão positivo para US$ 3 bilhões negativos. Vender menos para americanos e europeus é um mau sinal porque mostra que o país está perdendo competitividade nos mercados mais cobiçados. 

- O Brasil vendia muito petróleo para os americanos. Mas nós tivemos os problemas com a produção, ao mesmo tempo em que eles aumentaram a exploração do gás de xisto. Os europeus, por causa da crise, buscaram outros mercados e conseguiram mais espaço no Brasil - explicou Castro. 

Com a China, o saldo cresceu de US$ 6,9 bilhões para US$ 8,7 bi, pela exportação de produtos básicos. A exportação total de minério de ferro do país chegou a US$ 32 bilhões, alta de 4%, e a de soja em grãos subiu 29% para US$ 22 bilhões. Vários produtos que o Brasil exporta tiveram queda de preço. 

Castro estima que a balança comercial vai ter uma pequena recuperação este ano, para um saldo de US$ 7 bilhões. Mas isso só vai acontecer se o país conseguir exportar 50% a mais de petróleo. 

- A exportação de petróleo precisa subir 50% este ano para chegarmos a esse saldo de US$ 7 bilhões. Além disso, não podemos ter problemas maiores com a Argentina, que é destino de 50% dos nossos produtos manufaturados e de 87% dos nossos automóveis. Eles estão em crise cambial e já anunciaram medidas de restrição de importação - disse. 

Enquanto isso, no mundo, o comércio cresceu 2% em 2013. 

Os pontos-chave 

1 Exportação fictícia de plataformas de petróleo impediu déficit na balança comercial 

2 O déficit do Brasil com os EUA foi recorde: US$ 11 bi. O déficit do petróleo foi de mais de US$ 20 bilhões

3 As projeções dos especialistas são de um 2014 melhor, com um superávit maior.

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'A venda de plataformas de petróleo mudou o cenário', diz presidente da AEB
O resultado muito acima do previsto, na prática, é um efeito contábil, pois as plataformas não chegam a sair do País
03 de janeiro de 2014 | 2h 04
Idiana Tomazelli - O Estado de S.Paulo

RIO - Na avaliação do presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o superávit da balança comercial brasileira em 2013 surpreendeu positivamente, mesmo tendo sido influenciado pelas exportações de um produto bem específico - plataformas de petróleo. Para este ano, a AEB está preocupada com o impacto da China sobre as exportações, que podem sofrer uma piora.
Qual é a sua avaliação sobre o resultado da balança comercial de 2013?
O resultado foi melhor do que era esperado. Para quem passou o ano todo com déficit, ninguém poderia dizer, em sã consciência, que haveria esse superávit. O próprio ministro da Fazenda (Guido Mantega) disse que a balança comercial ficaria no zero a zero ou teria pequeno superávit. Nossa previsão era de US$ 700 milhões, mas a última plataforma de petróleo não estava nas contas de ninguém. É importante dizer ainda que, em 2013, a corrente de comércio melhorou. Ficou em US$ 481,795 bilhões. Em 2012, havia sido de US$ 465,758 bilhões. Só que esse aumento não é benéfico. O valor da diferença é exatamente o aumento das importações. Houve substituição de produção local por importados.
Qual foi o peso das exportações de plataformas de petróleo?  
Nós tivemos US$ 7,735 bilhões de exportações em plataformas. Claro que elas mudaram o cenário. Até então, o recorde de exportações de plataformas havia sido em 2008, quando o valor chegou a US$ 1,485 bilhão com duas plataformas. Em 2013, foram sete. A operação é uma exportação ficta (jargão para venda externa sem saída do produto), em que a Petrobrás vende a plataforma a uma subsidiária no exterior e depois aluga. A plataforma não sai do País. O artifício distorce um pouco porque o volume foi muito alto, mas é legal.
Como o sr. avalia o crescimento das exportações brasileiras para a China?

Preocupa muito. Apenas três produtos representam 90% do que é exportado para a China: minério de ferro, soja e petróleo. O valor médio da soja em 2013 foi de US$ 535. Para 2014, o projetado é US$ 490. É uma redução na receita. Existe também o risco de o preço do minério de ferro cair, pois há excesso de capacidade de produção de aço na China. Além disso, a atividade lá mostrou pequena desaceleração. Todas as demais commodities devem ter preços em queda este ano. Em linhas gerais, há uma perspectiva de queda tanto na receita quanto na quantidade exportada. Preocupa. É rezar, rezar e rezar em mandarim.

E a perspectiva para 2014?

O superávit tem de crescer. Temos de elevar as exportações de petróleo em 50%, ou teremos problemas. Nossa previsão é de que as exportações caiam 1% e as importações, 3%. A taxa de câmbio mais alta deve inibir algumas importações, mas não todas, e necessariamente não vai estimular as exportações. As commodities, por exemplo, não dependem do câmbio. Na Argentina, é possível que haja restrições, com risco de queda nas exportações. O mundo também não está comprando muito, e o Brasil ainda é caro.

Economia brasileira: a lenta deterioracao causada pela politica companheira - Rubem de Freitas Novaes

A realidade que aponta Rubem Novaes eu seu artigo desta data no Globo, vem sendo anunciada aqui há muito tempo. A política econômica companheira, feita por keynesianos rústicos -- de "botequim", como eu costumo dizer -- vai levar o Brasil para o brejo, lentamente, pois os companheiros não têm coragem sequer para implementar de uma vez só suas receitas malucas.
Da mais alta cúpula aos técnicos de confiança das autoridades econômicas, a crença generalizada é nas banalidades keynesianas: demanda agregada, estímulo ao consumo, baixar juros, subsídios para a produção, controle de capitais e vai por aí.
Não existe nenhum exemplo de país no mundo que tenha se desenvolvido apostando no consumo. 
Mas esses keynesianos de botequim, os maiores quero dizer, sequer aprenderam economia, apenas alguns rudimentos, com aquelas simplificações simplérrimas (com perdão pela redundância) que eles estão agora enfiando goela abaixo do Brasil e dos brasileiros. 
Tenho pena dos empresários, dos capitalistas de forma geral, que têm de suportar incompetentes no governo e que vêem seus negócios se estiolando pouco a pouco, em função dessas políticas malucas e do horrível ambiente de negócios que predomina no Brasil, que se tornou um país caro, não por problemas cambiais, mas por ter um Estado extorsivo, perdulário, corrupto e fraudulente, com políticas equivocadas em praticamente todos os setores.
Paulo Roberto de Almeida 

O Sapo na Panela
Artigo de Opinião
Rubem de Freitas Novaes
O Globo, 3/01/2014

Nossa história é fértil em exemplos de barbeiragens na condução da política econômica, todas elas causadoras de expressivos custos para a população. Para ficar apenas no passado mais recente, podemos aqui relembrar do congelamento de preços do Plano Cruzado, do sequestro de ativos financeiros do Plano Collor, da banda diagonal endógena de Chico Lopes e da destruição patrimonial da Petrobras, iniciada no governo Lula e ainda em curso. 

Medidas desastradas como essas, se tornadas usuais, além de desorganizarem o aparelho econômico, vão minando a credibilidade das autoridades constituídas. Larry Summers, professor e ex-reitor da Universidade de Harvard, costuma dizer, com propriedade, que a confiança é o fator mais barato para o desenvolvimento de um país. Afinal, basta ao governante fazer tudo direitinho, de acordo com reconhecidos bons princípios de gestão econômica, que os mercados se animam e os empresários libertam seus melhores instintos animais, fazendo a máquina funcionar. 

Aqui no Brasil, a equipe econômica, comandada pela presidente, tem adotado o que ficou conhecido como a nova matriz econômica , uma combinação de heterodoxias concebida em nossos piores ambientes tecnoideológicos. Em síntese, essa nova matriz consiste de uma política fiscal frouxa, juros baixos, crédito farto e subsidiado nos bancos públicos, câmbio desvalorizado e proteção tarifária para estimular a indústria nacional. Não fosse a rebeldia do Banco Central, elevando os juros básicos, a matriz estaria intacta até os dias de hoje. 

Pois bem, a nova política foi anunciada com pompas, mas, infelizmente, seus resultados, já decorridos três anos do governo Dilma, são os piores possíveis. Seja no crescimento econômico, seja nas contas correntes com o exterior, seja no terreno da inflação, seja na geração de emprego, seja no que fizeram com nossas contas públicas, desestruturando-as completamente, as coisas andam tão pretas que Paulo Guedes, escrevendo para O GLOBO, ousou dizer: Ou muda a política da equipe econômica, ou Dilma muda a equipe econômica, ou o país muda de presidente. 

É da sabedoria popular a história do sapo na panela. Segundo a fábula, se jogarmos o sapo na água fervente ele salta e se salva. Mas, se a água for esquentando aos poucos, o sapo vai se acostumando e acaba cozido. Nossos governantes de esquerda conhecem bem esta fábula e nunca adotarão medidas extremas tipo estatização do sistema bancário ou congelamento generalizado de preços. Seriam dramáticas demais e causariam forte reação. Também não acho que o sapo morrerá. Mas, considerado o viés da cúpula econômica do governo e o nosso atual quadro político, parece-me que a hipótese de paulatina argentinização da economia brasileira é mais provável do que qualquer outra hipótese mais radical. A água ainda vai esquentar por muito tempo. 

A hipótese de argentinização da economia brasileira é mais provável do que qualquer outra opção mais radical.

Rubem de Freitas Novaes é economista

Brazil in 2014: A change in the official policies? - Paulo Sotero (CNN)

Brazil in 2014: Will Rousseff change course?

By Paulo Sotero, Special to CNN
January 3, 2014
Editor’s note: Paulo Sotero is director of the Wilson Center Brazil Institute. The views expressed are his own. This is the latest in the '14 in 2014' series, looking at what the year ahead holds for key countries.
Three consecutive years of disappointing economic performance, with an average GDP growth of barely 2 percent and deteriorating fiscal and external accounts, should be enough to convince President Dilma Rousseff to move Brazil away from the inward policies and micromanaging style she introduced after succeeding her popular mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, in January 2011. The same mindset has affected Brazil’s international affairs, with similar results.
A leader with little appetite or patience for diplomacy and focused by necessity on domestic challenges, Rousseff implemented a modest foreign policy agenda when compared to her predecessor and became the first Brazilian president to fire a foreign minister, over a preventable incident. There are both negative and positive incentives for Rousseff to change course as she faces reelection in October 2014.
The consensus among market and political risk analysts is that the Brazilian economy, the world’s seventh largest, will get worse before it gets better. An expected lowering of Brazil’s sovereign debt risk rating to just above the investment grade arduously obtained in 2008 will make capital more expensive for Brazilian companies. This is likely to happen at a time when the Central Bank will be dealing with the adverse consequences of the end of the U.S. Federal Reserve policy of monetary easing, which Rousseff once compared to a “monetary tsunami.” Her finance minister, Guido Mantega, criticized it as a weapon in a “currency war” that made the Brazilian real overvalued and uncompetitive. The problem now is the reverse, as the real loses value against the dollar and adds pressures to an economy tormented by an inflation of 5.8 percent that is kept below the 6.5 percent upper limit of the Central Bank target thanks mostly to government containment of prices under its control, such as gasoline and diesel. Signs are that, in a deteriorating environment, Rousseff could have problems raising enough campaign contributions for herself and her multiparty coalition from a clearly unhappy business community.
Facing stiffer competition and shrinking markets for Brazil’s manufactured products, the president of the National Confederation of Industry, Robson Andrade, who is close to Rousseff, said in November that Brazil should change course in its trade policy, distance itself from Mercosul, the problematic trade arrangement of the Southern Cone, and seek a better deal with the United States and other advanced economies. Minister of Development, Industry and Foreign Trade Fernando Pimentel, the cabinet member closest to the president, said recently in New York that Brazil, having built domestic consensus on democracy, economic stability and social inclusion over the past three decades, now faces the challenge of competitiveness, which requires a more open economy and a steady stream of foreign investment in infrastructure and industrial capacity. That is the message Rousseff is likely to take to Davos in her first appearance as president at the World Economic Forum in January 2014
The president knows that rising and uncompetitive prices in a slowing economy could frustrate her reelection plan. With interest rates back to double digits, from 7.25 percent at the end of 2012, a fiscal adjustment is in order, but unlikely to be embraced in a campaign year. Waiting, however, will only make the problem bigger. On the positive side, after many false starts, the government program to attract domestic and foreign investments to expand the country’s infrastructure took off at year’s end with successful auctions of some major projects, including the Rio international airport, the Libra pre-salt oil field and a few roads, with more to come. Approaching $400 billion, currency reserves, on the other hand, lessen the risk of a crisis.
Polls suggest that most Brazilians are dismissive of the clouds economists see forming in the horizon. The reason is that, despite the souring of the macroeconomic picture, what people see is their income going up, unemployment at a record low and credit available for consumer goods and housing. No wonder Brazilians seem well disposed to reelect the president. That is what almost half of likely voters told pollsters in October and November. Rousseff’s popularity may have been helped by a decision she announced in September to cancel a state visit to the White House after revelations of the Snowden files that American intelligence had allegedly snooped on her, on Brazil’s oil company Petrobras and on email accounts of millions of Brazilians. Making clear she is not a leader to be fooled around with, Rousseff announced a decision to buy 35 Grippen jet fighters from Sweden for the Brazilian Air Force, a deal worth $4.5 billion, over Boeing’s F-18’s that she had come to favor until the Snowden disclosures.
But Rousseff also used the Snowden revelations to show she can act with restraint. In December, she rejected calls to grant Snowden asylum. Around the same time, a resolution to protect privacy on the internet that was initiated by Brazil and supported by Germany and other European allies of the United States was unanimously adopted by the U.N. General Assembly just as a panel of experts convened by President Obama proposed limits to NSA spying activities. In May, Rousseff will lead a global conference on internet governance in Brasilia.
On the home front, Rousseff will greet the New Year in good shape, despite the growing doubts over the economy. Politically, she has recovered from the steep loss of popularity experienced after last June’s massive street protests. The good news comes, however, with one important caveat. Disconcertingly, two thirds of the voters – a larger proportion than of those who say they would vote to reelect her – have said repeatedly in polls that they want change. What that means exactly is left for Dilma, as she is known, and her challengers to figure out.
The popular revolt that shook the country and paralyzed hundreds of Brazilian cities for days earlier this year took the government and the opposition by complete surprise. It was mobilized by social media, with no participation of political parties or unions. Provoked by excessive use of police force against students asking for free fares on the poor public transportation system of São Paulo, the country’s largest metropolis, the protests turned quickly into a very loud cry for more and better services that affect the quality of life of millions of members of a new middle class, whose emergence in the past decade has transformed Brazil’s social landscape and created new demands.
The revolt had important consequences. Members of Congress, denounced at the rallies as self-serving politicians oblivious to what matters to the people, hurried to regain some popular trust. Under pressure from the streets, they rejected a proposal to limit federal prosecutors’ investigative powers against corrupt politicians and officials. They also banned secret voting by congressmen in decisions involving ethics cases.
Mindful of the people’s bad mood, the eleven members of Brazil’s Supreme Court also went into action. On November 15, the country’s Republic Day, they unexpectedly ordered more than a dozen politicians, businessmen and associates to start immediately serving the prison terms to which they had been sentenced in 2012, in the largest trial of political corruption in Brazil’s history. It was an unprecedented and welcome move in a country with a long tradition of impunity of criminals in high places.
Among those sent to jail were former senior members of the Lula administration and of his Workers’ Party. Seen as a hardworking and honest leader, Rousseff did not interfere and was left unscathed by the episode.
So, the streets have quieted down, but maybe not for long. Former Senator Marina Silva, a founding member of the Workers’ Party and a minister of the environment under Lula, has predicted that the protests will return in 2014. Marina, as she is known, received an impressive 20 million votes when she ran for president against Rousseff in 2010. She has shifted her support to Eduardo Campos, the popular governor of the state of Pernambuco, and could emerge as his running mate. Polls suggest that, in that scenario, she could complicate both Rousseff’s campaign and that of the president’s current top rival, senator Aécio Neves, a center-right former governor of the state of Minas Gerais.
If Marina’s prediction about protests is correct, the most likely timing for it to happen is from mid-June to mid-July, when Brazil will welcome the FIFA World Cup, just ahead of the presidential race. What happens in and around the soccer fields in the twelve state capitals hosting the games may be less relevant for the elections than what happens until then in terms of inflation, jobs, investment and growth.
With that in mind, and considering the difficult challenges Brazil is bound to face in 2015, some joke that Rousseff’s problem is not to lose next year’s presidential election, but rather to win.

Mercosur/Mercosul: ya se fue al brejo la vaca, hermano - Rodrigo Botero Montoya

Opinião - A irrelevância do Mercosul
O Globo - 03/01/2014

Rodrigo Botero Montoya 


O Mercosul, como esquema de integração regional, atravessa um mau momento. As negociações para lograr um acordo de livre comércio com a União Europeia, que já levam mais de dez anos, ainda não estão concluídas. 

As discrepâncias entre os países membros serviram de obstáculo à efetiva liberalização do comércio recíproco. A institucionalidade do Mercosul não se recuperou da decisão tomada em julho de 2012 pelos presidentes de Argentina, Brasil e Uruguai de suspender o governo do Paraguai para incorporar a Venezuela. 

Foi violado o requisito de unanimidade dos países membros para admitir novos sócios conforme estipula o Tratado de Assunção, que constituiu o organismo regional. 

A direção em que se está movendo a economia mundial ameaça relegar o Mercosul a um papel marginal e anacrônico. Não é um ator relevante no comércio internacional. 

Tampouco constitui um exemplo exitoso de conformação de um mercado ampliado, regido pela mesma normativa comunitária. As dificuldades atuais são o resultado de falhas no desenho institucional e de decisões questionáveis em matéria de política comercial. 

A experiência demonstrou que teria sido preferível tratar de integrar economias diferentes por meio de um acordo de livre comércio. Ter optado pelo formato de uma união aduaneira com uma tarifa externa comum alta levou a estimular as violações de normas e as fricções comerciais entre os países membros. A inclinação protecionista do Mercosul foi prejudicial. 

Na IV Cúpula das Américas, celebrada em Mar del Plata em novembro de 2005, os presidentes de Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela se opuseram ao estabelecimento da Área de Livre Comércio das Américas, Alca, iniciativa que contava com o apoio dos governos de 29 países. 

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se ufanava do triunfo que representava ter enterrado a Alca. Em retrospectiva, a vitória resultou menos contundente do que se pensava. 

O que propunha a Alca foi se realizando de forma gradual e seletiva. Para o regime venezuelano, rechaçar a Alca oferecia benefícios políticos a baixo custo, dada sua aversão ao livre comércio e ao predomínio do petróleo em sua pauta exportadora. 

Ao inverso, para outras nações latino-americanas, o acesso privilegiado de suas manufaturas e produtos agropecuários aos mercados de países desenvolvidos é um objetivo desejável. Isto explica os acordos de livre comércio que México, Colômbia, Chile e Peru subscreveram com Canadá, Estados Unidos, União Europeia e países da região Ásia-Pacífico. 

Transcorridos mais de 20 anos de existência, o Mercosul experimenta uma crise existencial. Para superá-la, se requer mudanças significativas. 

Argentina e Venezuela estão restringindo as importações devido a desequilíbrios macroeconômicos. O arranjo institucional, que deveria ter fornecido aos países membros uma plataforma para se projetar ao mundo exterior, converteu-se num fator de discórdia. 

Por força disso, caberá ao governo do Brasil a responsabilidade de reinventar o Mercosul, se desejar salvá-lo da irrelevância. 

Caberá ao governo do Brasil a responsabilidade de reinventar o mercado comum, se desejar salvá-lo da irrelevância 
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia

Mercosul/Mercosur: la vaca fue hacia el brejo, hermano, y de alli no sale; los empatanadores -- Editorial Estadao

Existem dois principais responsáveis, eu até diria criminosos, podendo ser, retrospectivamente, acusados por crimes de responsabilidade sob a Constituição Federal, e responsabilizados por alguma Comissão do Congresso (se este fosse um poder que se respeita, uma instituição de verdade, o que está longe de ser o caso), e eu aponto aqui quem são:
1) O primeiro Secretário-Geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, que nos seus sete anos de gestão sempre foi não apenas tolerante, como também conivente, cúmplice, justificador e acobertador das transgressões argentinas contra os tratados e regras do Mercosul, e também contra os compromissos dos dois países no Gatt e na OMC; ele foi o primeiro propositor dessas ilegalidades;
2) O presidente Lula, que atuou CONTRA os interesses da indústria nacional, aceitando essas ilegalidades.
Ambos são responsáveis por esse crime contra a economia nacional.
Não sei como e por que continua, mas continua...
Paulo Roberto de Almeida

Comércio sob a lei de Cristina

03 de janeiro de 2014 | 2h 05

Editorial O Estado de S.Paulo
Sai ano, entra ano, o governo argentino continua barrando produtos brasileiros, sem respeitar regras internacionais, sem levar em conta os interesses dos parceiros do Mercosul, e sempre com a tolerância, a passividade e até a cumplicidade de Brasília. Sem um governo empenhado em defender seus interesses comerciais, empresários do setor de calçados já se dizem dispostos a negociar cotas de exportação para a Argentina. Seu objetivo é conseguir, em troca, a liberação do ingresso de produtos brasileiros no prazo de 60 dias, previsto pela Organização Mundial do Comércio (OMC), segundo noticiou o jornal Valor. Acertos semelhantes ocorreram em 2006, 2007 e 2009. A situação é estapafúrdia e só acontece porque as autoridades nacionais têm negligenciado, seguidamente, a proteção dos interesses legítimos da indústria brasileira. Barreiras protecionistas entre parceiros do Mercosul, com ou sem cotas, são uma excrescência numa zona de livre-comércio e ainda mais, como neste caso, em uma união aduaneira.
Quando representantes de um setor se dispõem a aceitar uma restrição aberrante em troca do mero cumprimento de uma obrigação, só há uma explicação plausível: perderam a esperança de ver seus problemas resolvidos pelas vias normais e legais. Estão sendo vítimas de extorsão, mais uma vez, e têm de ceder porque ninguém aparece para socorrê-los. Segundo o presidente executivo da associação de produtores de calçados, Heitor Kein, 700 mil pares, no valor de US$ 13 milhões, continuavam retidos na fronteira.
Esse era o mesmo volume barrado no começo do mês, quando o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, esteve em Buenos Aires para discutir problemas comerciais com autoridades argentinas. Nada melhorou depois desse contato, apesar das promessas ouvidas na reunião e por ele citadas logo depois em entrevista. Nada havia melhorado, igualmente, durante a maior parte do ano. Ao contrário: em 2013 o governo argentino intensificou o protecionismo, prejudicando principalmente o Brasil.
Há dois anos, em janeiro de 2012, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pediu uma entrevista com a presidente Cristina Kirchner para discutir uma recém-anunciada medida protecionista: a exigência de listas prévias de importações. Cinco meses depois, em 12 de junho, representantes da indústria gaúcha cobraram no Senado uma ação mais firme do governo contra as barreiras.
"O governo brasileiro tem sido fraco nas represálias ao governo argentino", disse o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul, Claudio Affonso Amoretti Bier. Segundo ele, máquinas vendidas mais de um ano antes estavam retidas por falta de licença. Naquela ocasião, carretas com 3,6 milhões de latas de milho verde estavam na fronteira, informou na mesma audiência o empresário Marcos Oderich, do setor de conservas.
Exemplos como esses têm sido rotineiros. Muito raramente alguma autoridade brasileira ensaia fazer cara feia e encena uma retaliação. O governo argentino assume um tom conciliador, o pessoal de Brasília logo se amansa e o armistício nunca é implantado para valer.
Ao contrário: a partir de 2009, toda mudança no protecionismo argentino resulta somente em ampliação das barreiras. A exigência de licenças de importação foi só um começo. Logo vieram exigências mais complexas, como a das listas acompanhadas de uma declaração juramentada. Além disso, as barreiras foram sempre manejadas de forma arbitrária, sem respeito a prazos, e parte das restrições foi imposta informalmente, sem papel escrito, a importadores argentinos. O ex-secretário de Comércio Interior Guillermo Moreno, gestor de fato das importações, era especialista em ameaças.
Moreno foi substituído, mas o protecionismo foi mantido. A qualquer momento novas propostas de trégua poderão surgir e novamente serão rompidas, se o risco de sanções continuar nulo. Continuará, enquanto a diplomacia brasileira não tiver exata noção do interesse nacional.

A frase do dia: inteiramente dedicada ao Brasil (involuntariamente), por Lord Acton

A segunda parte do título é de minha invenção, mas está inteiramente ajustada às realidades do nosso tempo e lugar, não acham?
Paulo Roberto de Almeida 

"E, lembre-se, quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, freqüentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controle. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.”
Lord Acton

PS: Com meus agradecimentos, voluntários, a Adolfo Sachsida pela transcrição em seu blog, onde fui buscar a frase.

Cinco grandes livros que vc nao corre o risco de ouvir falar nauniversidade - Diogo Costa

Devidamente linkados para o deleite dos meus poucos e de todos os leitores, ou simples curiosos...
Grato pelo cuidado e pelas recomendações Diogo. Não tenho o último, vou pegar agora.
Paulo Roberto de Almeida 


5 grandes livros que você não estudou na escola

Publicado em 3 de janeiro de 2014 | por Diogo Costa
Diogo Costa cita e explica quais são os 5 livros que você não estudou na escola, mas que explicam o mundo moderno.
1. Ensaios de Frédéric Bastiat (http://goo.gl/UnmpF2)
2. As Seis Lições (http://goo.gl/gQNxd1)
3. A lógica da ação coletiva (http://goo.gl/yLisSR)
4. Tempos Modernos (http://goo.gl/6kTrNw)
5. O Otimista Racional (http://goo.gl/a780Fl)
Portal Libertarianismo: “Evoluindo Ideias e Indivíduos.”

Mais algumas para a serie "O Estado como principal fora-da-lei" - LuizFelipe Ponde

Estou fazendo uma "Auto-biografia (não-autorizada) de um Fora-da-Lei: uma história do Estado brasileiro", contando a história completa, na primeira pessoa, desse contraventor contumaz, geralmente contra a própria Constituição e contra as leis de modo geral.
Quem tiver mais histórias como estas relatadas por um jornalista não convencional (ou seja, não amante do Estado), pode me mandar.
Paulo Roberto de Almeida

Moral da história

Luiz Felipe Pondé
Folha de S.Paulo, 09/12/2013

Ouvir o texto
Hoje vou contar uns casos para você. Aproximam-se o Natal e o Ano-Novo, e sempre pensamos o que poderia ser diferente no Brasil. Eu, diferentemente daqueles que creem em modas como "consciência política" (para mim isso é uma coisa tão real quanto carma), espero que um dia o Brasil se livre de sua inhaca de ser um país no qual quem dá emprego é visto como bandido. Porque, ao contrário do que diz a moçada da "justiça social" (carma...), quem dá emprego é quem faz verdadeira justiça social.
Imaginem uma jovem empresária cheia de vida e fé no seu negócio. Isso aconteceu alguns anos atrás, hoje ela se transformou numa cética com relação ao valor da atividade do pequeno e médio empresário brasileiro, porque acha que só ingênuo e mal informado dá emprego no Brasil.
Um dia sua loja de produtos finos foi assaltada em plena luz do dia. Ela e sua sócia tiveram suas vidas ameaçadas. Vários talões de cheques da empresa roubados do cofre. Não tinha muito dinheiro em "cash", por sorte.
Na sequência, se inicia a via crúcis para cancelar os talões e fazer o BO. Horas em delegacias com funcionários que complicavam as coisas com clara intenção de, quem sabe, garantir um "extra".
Alguns dias depois, a dona de um pequeno restaurante fora de São Paulo liga para elas dizendo que um grupo grande de homens havia passado um cheque de sua empresa como pagamento de uma festa que eles tinham dado no restaurante dela. Nossa jovem empresária, prontamente, informa à mulher que a loja tinha sido assaltada, que esses talões estavam cancelados e que tinha a documentação necessária para comprovar o relato, e, portanto, sentia muito, mas o cheque não tinha qualquer valor.
Claro que a dona do pequeno restaurante não quis saber e "pôs elas no pau". Foram obrigadas a depositar em juízo. Quando da audiência, após apresentar toda a documentação, o juiz decidiu que sim, elas deveriam pagar o cheque.
Quando questionado em sua decisão (já que elas tinham sido vítimas de um assalto!), o juiz as ameaçou dizendo que, caso não aceitassem a decisão, o processo se alongaria e sairia mais caro para elas. Ao ser indagado acerca da injustiça que ele cometia ao obrigá-las a pagar por um gasto que não fizeram, o juiz soltou a pérola de costume: "As senhoras são ricas, podem pagar por isso".
Eis o juiz fazendo caridade com a grana alheia. Comunista gosta de distribuir o dinheiro dos outros. No Brasil, muitos juízes acham que devem fazer (in)justiça social com as próprias mãos.
Moral da história: as empresárias foram roubadas duas vezes, uma pelos ladrões, outra pelo Estado.

Outro caso. Funcionário rouba o patrão. Ele demite o funcionário por justa causa. Abre processo na Justiça comum contra o funcionário. O juiz do trabalho decide que o patrão deve pagar "todos os direitos trabalhistas" do funcionário sob alegação de que uma coisa é roubar, outra é ser demitido. Risadas? Claro, o juiz do trabalho argumentou que as duas Justiças "não se comunicam" e que os direitos trabalhistas são inquestionáveis.
A questão é: afinal, roubar não seria causa suficiente para você demitir alguém? O problema é que cá nestas terras demitir é crime. O Brasil é mesmo o fim da picada.
Moral da história: o empresário foi roubado duas vezes, uma pelo funcionário ladrão, outra pelo Estado.

Mais um. Jovem empresário de uma cidade em outro Estado faz uma reforma na fachada de sua loja. Fica muito bonita. Dias depois, roubam quase tudo dessa fachada.
No Brasil, tudo é roubável. A fachada fica destruída. Passados poucos dias, aparece aquele cara chamado "fiscal da prefeitura". O "amigo" avisa ao empresário que vai lhe passar uma bela multa, a não ser que ele seja razoável. O jovem empresário, munido da fé comum daqueles que creem que escândalos com fiscais é coisa rara, argumenta e apresenta documentação provando a destruição criminosa e o roubo. Não adianta, o "representante do bem público", leia-se, o fiscal, lhe apresenta uma multa enorme.
Moral da história: o jovem empresário foi roubado duas vezes, uma pelo ladrão, outra pelo Estado.
ponde.folha@uol.com.br
luiz felipe pondé
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".

Reading under a blanket of snow... - Storms in New England


From Chicago to Boston, Winter Storm Creates Havoc for Travelers


FlightAware, an online flight-tracking service, shows the percentage of delays and cancellations across the country in red on its MiseryMap in real time.
Updated, Friday, 8:58 a.m. It’s still snowing along most of the East Coast. And that is not good news for travelers after a fierce winter storm brought bitter cold, strong winds and dumped more than two feet in parts of New England overnight, closing airports and major highways.
In New York, JFK International Airport was shut down Friday morning due to low visibility. Flights are not expected to resume at Boston’s Logan airport, which got more than 14 inches of snow, until later today. Philadelphia’s airport officials reported significant delays. Airline cancellations and delays mounted on Friday across the country, adding to the 2,100 airline cancellations and 6,000 delays on Thursday, according to FlightAware’sonline, real-time interactive map.
Amtrak’s service in the Northeast, between Boston and Washington, D.C. was sharply reduced. Peter Pan canceled bus service between New York and Boston. And, governors from Massachusetts to New Jersey were urging people to stay off the roads. For the New York City metropolitan area, my colleague, Andy Newman, is providing the latest updates on subway, bus, commuter rail and road information, along with closures.
Gov. Andrew M. Cuomo of New York declared a state of emergency and ordered several major highways shut overnight, including the Long Island Expressway in Suffolk County and Nassau County. The road was re-opened around 8 a.m.
Gov. Chris Christie of New Jersey also declared a state of emergency and closed state offices on Friday.