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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

O "ras-le-bol" dos brasileiros com a Copa - Virginie Jacoberger-Lavoué (Valeurs Actuelles)

MONDE
 Valeurs Actuelles, 
Mercredi 11 Juin 2014 

Mondial : le ras-le-bol brésilien


A Sao Polo, devant le stade où s'ouvrira la Coup du monde. Pour veiller au maintien de l'ordre, les militaires et 170 000 policiers sont mobilisés. Photo © AFP
Football. La Coupe du monde, du 12 juin au 13 juillet, devait être l’occasion de montrer le fort potentiel de cette puissance émergente. Mais au pays du “futebol”, l’économie chancelle, sur fond de fronde sociale et d’insécurité…
Le Brésil rêve encore d’un Mondial historique qui allégerait le poids des déceptions. L’espoir ne dissipe cependant pas le doute. Au pays du foot roi, la Coupe du monde est devenue impopulaire avant même son coup d’envoi, ce 12 juin, et son premier match (Brésil-Croatie) organisé dans le stade Arena Corinthians, à São Paulo.
Selon un sondage Datafolha, à trois semaines de l’événement, moins de la moitié des Brésiliens (48 %) étaient encore favorables à l’organisation de la Coupe dans leur pays. Ils y croyaient majoritairement en 2008 (79 %). Première ville sous les projecteurs, São Paulo, capitale économique du pays (30 % de son PIB, 22 millions d’habitants avec sa périphérie), accueille six matchs du Mondial, qui devrait attirer sur place au moins 600 000 touristes étrangers — dont 17 000 Français. Quelque 3,3 millions de visiteurs brésiliens sont attendus. Ils vont se déplacer dans un pays continent (16 fois la France en superficie, 203 millions d’habitants) pour se rendre dans les douze villes hôtes. Neuf milliards d’euros ont été investis avec une facture publique faramineuse qui choque les Brésiliens. Le pays est-il prêt pour autant ? Le Mondial fait apparaître un État qui a accumulé les retards avec un amateurisme parfois tragique (huit morts sur les chantiers des stades, contre deux lors de la dernière Coupe en Afrique du Sud).
Selon Associated Press, trois stades du Mondial (São Paulo, Natal et Porto Alegre) étaient encore sources d’inquiétude pour la Fifa à quinze jours de l’événement, alors que Curitiba, un temps menacé de “carton rouge”, donnait enfin matière à satisfaction. Principal grief : des préparatifs à la va-vite. « Le Brésil est un champion de l’improvisation, mais on ne peut faire des miracles », reconnaît un urbaniste. « Il y a un potentiel de risque, parce qu’on n’a pas tout testé », a lâché Jérôme Valcke, secrétaire général de la Fifa.
On s’inquiète encore pour les télécommunications et les liaisons wi-fi dans les stades — quand ce n’est pas l’électricité —, dans un pays réputé vulnérable à une cyberattaque.
Certains projets d’envergure comme le train Rio de Janeiro-São Paulo ont été purement et simplement abandonnés. Cette voie, qui aurait permis de relier deux pôles de compétitivité du Brésil, figurait parmi les promesses de la présidente Dilma Rousseff lors de l’attribution de la Coupe, en 2007. On croyait alors au miracle économique de ce pays émergent, avec une croissance à 5,7 %. Anémique depuis trois ans, celle-ci est tombée à 2,3 % l’an passé et les prix flambent, entraînant le désenchantement de la population…
La Coupe du monde devait être l’occasion de transformer les infrastructures qui font défaut et laisser en héritage de meilleurs aéroports, de nouvelles lignes de métro, de bus… Là aussi, le bilan est accablant. À moins d’une semaine du Mondial, une partie de l’aéroport de Brasília est inondée. À Recife, la passerelle prévue pour rejoindre le métro de l’aéroport n’a pas vu le jour. Le nouveau terminal à l’aéroport de Fortaleza est finalement improvisé… sous une tente !
Les Brésiliens se sentent d’autant plus trahis par ce Mondial qu’on leur présente maintenant la facture. « Ces couacs et les investissements jugés faramineux alimentent le mécontentement. Les Brésiliens acceptent difficilement de voir des investissements publics s’orienter vers des infrastructures dont ils bénéficieront peu ou pas », analyse Fernando Rodrigues, éditorialiste à Folha de S.Paulo. Ces jours-ci, la présidente Dilma Rousseff, dont la réélection est en jeu en octobre, n’affirme plus que son pays « va assurer la Coupe de toutes les Coupes ». Elle attaque bille en tête la Fifa pour non-recours à des fonds 100 % privés. Son objectif est à présent de contenir la vague de mécontentement. Ces derniers jours, la situation s’est encore tendue. Après les conducteurs de bus de plusieurs villes, dont Rio de Janeiro, les employés du métro de São Paulo avaient entamé une grève illimitée suspendue le 9 juin. Les autorités craignent la reprise des troubles qui s’étaient produits en pleine Coupe des confédérations en juin 2013, sur fond de colère contre les dépenses du Mondial, alors que les services publics (santé, éducation…) sont en déshérence. Le risque de paralysie des transports n’est pas à écarter si ces mouvements s’amplifient.
« Ces dernières semaines, la contestation s’est ravivée. Sur les réseaux sociaux, le mot d’ordre est “Não vai ter Copa” [Il n’y aura pas de Coupe, NDLR], les Brésiliens sont excédés de la gabegie de l’État et veulent faire entendre leurs revendications en cette année électorale », remarque un informaticien prêt à manifester...Lire la suite dans le numéro disponible en kiosque le jeudi 12 juin...

Decreto bolivariano: a tentativa de golpe do partido totalitario - Fernao Lara Mesquita

Graças ao colega e amigo Orlando Tambosi:

Acorda, imprensa! O golpe está a caminho.

Artigo de Fernão Lara Mesquita, na Folha (11/06/2014), conclama o jornalismo a despertar da letargia e atentar para o golpe do PT contra a democracia. O próximo passo será o desmonte da própria imprensa. Bene, boa parte dos jornalistas - principalmente os ligados à Fenaj e às escolinhas de comunicação - é cúmplice dos ataques ao Estado de Direito. Que os proprietários dos jornais, pelo menos, acordem:

Um golpe contra a democracia está em curso desde o último dia 26 de maio e a circunstância que o torna mais ameaçador do que nunca antes na história deste país é a atitude de avestruz que a imprensa tem mantido, deixando de alertar a população para a gravidade dessa agressão.

O decreto nº 8.243, assinado por Dilma Rousseff, que cria um "Sistema Nacional de Participação Social", começa por decidir por todos nós que "sociedade civil" deixa de ser o conjunto dos brasileiros e seus representantes eleitos por voto secreto, segundo padrão universalmente consagrado de aferição da legitimidade desse processo, e passa a ser um grupo indefinido de "movimentos sociais" que ninguém elegeu e que cabe ao secretário-geral da Presidência, e a ninguém mais, convocar para examinar ou propor qualquer lei, política ou instituição existente ou que vier a ser criada daqui por diante em todas as instâncias e entes de governo, diretas e indiretas, o que afeta também os governos estaduais e municipais hoje na oposição.

Apesar da violência desse enunciado, a maioria dos jornais e televisões do país nem sequer registrou o fato. E mesmo os que entraram no assunto depois vêm diluindo o tema no noticiário como se não houvesse nada com que seus leitores devessem se preocupar. Prossegue a sucessão de manchetes em torno do golpe de 1964, mas para o de 2014 o destaque é próximo de zero. Nenhum critério jornalístico justifica isso.

Esse decreto é, na verdade, um excerto do Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que o PT já tentou impor antes ao país também por decreto --nas vésperas do Natal de 2009, no apagar das luzes do governo Lula--, mas que, graças à forte reação da imprensa e consequente mobilização da opinião pública, foi obrigado a abortar.

O PNDH-3 contém 521 propostas que, além da revogação da Lei de Anistia, que passou "no tapa" depois que a imprensa comprou a ideia do governo de que a prioridade nacional é voltar 50 anos para trás e não correr 50 anos para a frente, institui "comissões de direitos humanos" nos Legislativos para fazer uma triagem prévia das matérias que eles poderão ou não processar; impõe a censura à imprensa; obriga a um processo de "reeducação" todos os professores do país; veda ao Judiciário dar sentenças de reintegração de posse de propriedades "rurais ou urbanas" invadidas, prerrogativa que se torna exclusiva dos "movimentos sociais"; desmonta as polícias estaduais para criar uma central única de comando de todas as polícias do país, e vai por aí afora.

Ciente de que tal amontoado de brutalidades jamais será aprovado pelo Legislativo, o PT está tratando de fazer com esse Poder o mesmo que fez com o Judiciário. Os juízes não dão as sentenças que queremos? Substituam-se os juízes por juízes "amigos". Um Legislativo eleito pelo conjunto dos brasileiros jamais transformará essas 521 propostas em lei? Substituam-se os legisladores por "movimentos sociais" amestrados sob a tutela da Presidência da República...

O argumento de que esse é o jeito de forçar o Congresso a reformas não é honesto. Para forçar reformas que o povo deseje, existem instrumentos consagrados tais como o do voto distrital com recall, que arma as mãos de todos os eleitores para demitir na hora os representantes que resistirem ou agirem contra a sua vontade. Este tipo de participação, sim, opera milagres estritamente dentro dos limites da democracia. Substituir os representantes eleitos por "representantes" que ninguém elegeu tem outro nome: chama-se golpe.

Depois da rendição do Judiciário com a renúncia de Joaquim Barbosa, só sobra a imprensa. E os feriados da Copa farão com que só haja pouco mais de meia dúzia de sessões legislativas completas em junho e julho somados. Depois é véspera de eleição. É bom, portanto, que ela desperte já dessa letargia, pois não haverá segunda chance: está escrito no PNDH-3 que a imprensa é a próxima instituição nacional a ser desmontada.

Catolico e Libertario? Pode Sim! - Joel Pinheiro

O Papa parece que anda sendo mal aconselhado. Ou então não aprendeu economia, nem história econômica. Parece flutuar naquela mixórdia de economia da teologia da libertação que não leva a lugar nenhum. Só a mais atrasos na América Latina e em outros lugares.
Essa teologia econômica da Igreja Católica é um atraso mental.
Ainda bem que temos liberais para corrigi-la.
Paulo Roberto de Almeida


LESA-MAJESTADE
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Católico e Libertário? #PodeSim!



Com a eleição de Francisco ao papado, que trouxe consigo ventos de mudança, vieram também os ventos da teologia da libertação. Francisco está longe de ser um radical dessa ala do pensamento católico, mas é parte dela, e foi nela que teve sua formação. Ela é marcada pela preocupação com a justiça social e com a crítica ao que vê como a causa da pobreza e da desigualdade: o mercado.
Fiel à cartilha, o cardeal Maradiaga, hondurenho muito próximo ao papa, disse num discurso em Washington que Catolicismo e a crença libertária no livre mercado são incompatíveis. Em seu lugar, devemos dar ao Estado mais poder sobre a sociedade e mais recursos, de forma que ele redistribua a riqueza. O libertário, segundo ele, é alguém que não se importa com os pobres. É uma grande infelicidade ver pastores da maior religião do mundo tentando impor a seus fieis uma posição política, qualquer que ela seja. Pior ainda é ver que sua argumentação está cheia de caricaturas.
Maradiaga não é exceção na Igreja. Lembremos, por exemplo, que o papa Paulo VI – em sua encíclica Populorum Progressio – conclamou os países ricos a pagarem mais impostos para ajudar os países pobres. Enquanto houvesse um pobre no mundo, os ricos não deveriam aproveitar sua riqueza.
Não é, contudo, só a esquerda católica que tem problemas com a economia de mercado. Da segunda metade do século 19 para cá, que é quando os papas começaram a publicar encíclicas mais voltadas a questões sociais (encíclicas que, juntas, são a base da chamada “Doutrina Social da Igreja”), as ideias liberais não estiveram em alta. A primeira dessas encíclicas, chamada Rerum Novarum, do papa Leão XIII, é até bem liberal para os padrões de hoje em dia; e mesmo na época marcava uma mudança de rumo do papado, abandonando o reacionarismo radical e tentando dialogar com o mundo moderno. No fim do século 20, João Paulo II deu uma notável guinada liberal ao revalorizar a importância do empreendedorismo e da necessidade de se facilitar a criação e as trocas econômicas.
Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, de Honduras
Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, de Honduras
De resto, vemos flertes com o fascismo, reiteradas condenações ao Ocidente capitalista. E sempre, em todos os casos, muita ingenuidade: a crença de que a pobreza – ou a exclusão social – é um mal que deve ser curado com a redistribuição, com leis pesadas, com o Estado intermediando as relações econômicas, e com muita condenação aos ricos, outra tradição do pensamento católico. A crítica de D. Maradiaga, embora inspirada pela Teologia da Libertação, tem raízes antigas, até milenares.
“Todas as riquezas vêm da iniquidade, e a menos que um perca, outro não pode ganhar. Portanto me parece verdadeira a opinião comum de que o homem rico ou é injusto, ou é herdeiro de um injusto.” Quem o disse? Marx? Engels? Guevara? Nada. A frase é de S. Jerônimo, santo do século 4. Só que uma opinião que é compreensível no século 4, muito antes dos homens sonharem em fazer ciência econômica, não é desculpável hoje em dia…
Se D. Maradiaga tivesse se preocupado em estudar, saberia que os libertários se interessam sim pelo bem dos pobres, e que não, não propõem a caridade privada como grande solução da pobreza. Propõem, isso sim, um caminho oposto ao dele. O caminho para a prosperidade não é o de tirar de quem produz e dar a quem não produz, e sim o de dar a quem não produz as condições institucionais para que possa produzir. Os pobres não são uma massa inerte de mãos estendidas esperando comida do céu; são seres humanos plenamente capazes de produzir (aliás, já produzem em alguma medida) e que precisam de um ambiente que favoreça sua ambição e facilite sua ascensão.
Compare a riqueza dos EUA, um país que, ainda que de forma bem imperfeita, desenvolveu-se com base na livre iniciativa, e a pobreza de uma Honduras, país que amarga sob um Estado pesado e continua na miséria (ao contrário de vizinhos mais liberais da América Central). O discurso mais enfático de ajuda aos pobres tem sido muito bom em perpetuar a pobreza. Onde se ouve mais falar em justiça social: no Mercosul ou na Aliança do Pacífico? E qual deles tem tido mais sucesso no combate à pobreza?
Apesar das notas antiliberais, existe todo um outro lado para a tradição de pensamento católica. Aliás, falar em “tradição de pensamento católica” assim, no singular, é omitir a enorme variedade que se esconde sob ela. Especialmente a partir da Idade Média, essa tradição originou também diversos conceitos importantes até hoje no pensamento liberal. Foi o pensamento católico medieval que reabilitou a figura do comerciante e justificou seu lucro, malvistos na Antiguidade.
Ele cometeu um erro gritante: a condenação absoluta dos juros; mas mesmo esse erro deu origem a discussões que foram importantes para clarear diferenças importantes: juro é diferente de remuneração por lucros cessantes, de remuneração do risco, do lucro de investimento, etc. Foram os escolásticos católicos da Idade Média os primeiros a formular os rudimentos do que viria a ser a ciência econômica: o entendimento claro, por exemplo, de que tabelar preços durante um período de escassez apenas piora a escassez, pode ser encontrado já no século 13. Foram eles também que solidificaram a ideia de que o preço justo é o preço definido pelo mercado num determinado lugar e sob determinadas circunstâncias, e que portanto, está sujeito a mudanças se as circunstâncias mudarem. Por fim, algumas figuras da teologia moral medieval foram as primeiras a se interessar pela figura do empreendedor, e a pensar as virtudes que ele requer.
Preços, lucros, juros, câmbio, direitos, os limites do poder real, a propriedade privada; tudo foi objeto de estudo de teólogos, e muitos deles chegaram a conclusões razoavelmente liberais. No campo do Direito, acadêmicos da Escola de Salamanca, no auge do Império espanhol, declaravam que a Coroa não tinha o direito de desapropriar e escravizar os indígenas no Novo Mundo; conclusão que obviamente não foi seguida, mas que permanece como um motivo de orgulho. Outro autor da época, Juan de Mariana, concluiu que qualquer súdito podia matar uma autoridade que praticasse impostos abusivos…
Mais tarde, no século 18, autores católicos na França e na Irlanda ajudaram a desenvolver a ciência econômica que começava a nascer. No século 19, um católico liberal como Fredéric Bastiat via na ordem do mercado uma harmonia divina, e o Lorde Acton buscava conciliar sua fé com um mundo aberto e cosmopolita. A tradição católica conta com muitas potencialidades liberais.
No nível da alta hierarquia, contudo, essas potencialidades foram, via de regra, ignoradas, e vemos quase sempre a defesa de uma ordem iliberal. A Igreja adotou uma postura paternalista para com suas “ovelhas”, querendo resolver tudo em reuniões de chefes de Estado, impondo ao povo suas decisões. Era assim para defender o Antigo Regime, e continua sendo assim para defender a economia quase socialista. Bento XVI chegou a defender a criação de uma autoridade mundial para regular as sociedades. Há também, decerto, a percepção de que uma visão econômica mais de esquerda pega bem para a imagem da instituição, tão desgastada em outras frentes.
Não é de hoje que membros importantes da Igreja opinam sobre questões econômicas e buscam fechar questões polêmicas, ainda que de forma esparsa. Basta lembrar que a Igreja condenou, por séculos, toda e qualquer forma de cobrança de juros. Até o século 18 há papas fulminando contra os males da usura. Como esse exemplo atesta, ela errou feio no passado, e pode errar no futuro.
É perfeitamente natural que a Igreja queira guiar seus fieis em questões econômicas e sociais, e não se espera de papas tratados com grande profundidade ou rigor; não é o papel deles. O problema é pegar essas manifestações – guiamentos para um grande público pouco formado – e pretender que elas sejam definitivas para quem se interessa pelo tema; daí é só ridículo. Sejamos claros: todas as encíclicas papais sobre questões sociais só têm a importância que têm porque foram escritas por papas; consideradas em si mesmas não têm nenhuma grande contribuição ao conhecimento. Querer limitar o pensamento social católico às opiniões expressas nessas encíclicas é selar o certificado de mediocridade a qualquer tentativa de contribuição católica a essas discussões.
Católico pode ser libertário; diversos já são e o foram. Alguns membros do alto clero podem chiar (não todos! Há variedade de pensamento também na Cúria), mas em questões econômicas e políticas a autoridade não importa. Se a liberdade é ou não é boa para os pobres, não são as credenciais de um cardeal, ou mesmo de um papa, que decidirão.
Joel Pinheiro

Joel Pinheiro é libertário de boa estirpe, anarquista de coração e algum dia ainda será filósofo. Assina a coluna Lesa-Majestade.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Alba: ja ouviu falar? Sabe se tem resultados economicos? Tudo nebuloso...

Com exceção dos petrodólares de Chávez, agora menos abundantes, não se sabe exatamente o que terá produzido a Alba, além de discursos, muitas reuniões, abundante transpiração e muito pouca inspiração.
Um dia, quem sabe?, algum acadêmico sério, em lugar de fazer artigos sobre a materialidade da Alba, com base apenas em discursos e na propaganda do próprio monstrengo criado por Chávez, faz uma análise séria dessa coisa, vendo quais fluxos de comércio ela criou -- além da exportação de petróleo venezuelano subsidiado, claro --, quais investimentos propiciou, que negócios impulsionou e qual integração real, de fato, ela criou, pois não existem evidências, quaisquer evidências concretas, que ela tenha servido para alguma coisa.
Não vale só alinhar cooperação entre órgãos estatais ou alguns dados de comércio, pois este pode existir na ausência de quaisquer acordos, e a primeira obedece a ordens políticas, ou seja, é arbitrária e casuística.
Deve-se demonstrar quais fluxos adicionais de comércio foram criados com e a partir da Alba, com base em acordos de liberalização tarifária, de preferência aduaneira, de harmonização de regras para os negócios  e outros aspectos. Tenho a impressão de que as descobertas serão decepcionantes.
Qual é o acadêmico sério que vai fazer isso?
Até agora só tenho encontrado artigos louvando a Alba, com base nos discursos dos seus próprios dirigentes, que são altamente suspeitos.
Paulo Roberto de Almeida

ALBA

Consejo Político del ALBA aborda situación en Venezuela y temas económicos

CARACAS (VENEZUELA) 10/6/2014.- EFE/SANTI DONAIRE
Infolatam/Efe
Caracas, 10 de junio de 2014
Las claves
  • Jaua señaló que uno de los puntos de la reunión es una explicación del ministro venezolano de Interior, Miguel Rodríguez Torres, sobre "el proceso de intento de derrocamiento violento por parte de la oposición venezolana al Gobierno", así como los "planes magnicidas" contra el presidente Nicolás Maduro.
  • También se hará una evaluación de las reuniones de países afectados por las empresas trasnacionales, que hará Ecuador, que denuncia una "agresión" de la petrolera estadounidense Chevron, y los avances de la Zona Económica ALBA-Petrocaribe, acuerdo firmado en diciembre pasado.
El Consejo Político de la Alianza Bolivariana para los Pueblos de América (ALBA) instaló su XIII reunión en Caracas con una agenda que incluye la situación que vive Venezuela y los proyectos del grupo en materia económica.
“Este Consejo Político del ALBA en primer lugar ha sido convocado como un gesto de solidaridad de nuestros hermanos de la Alianza Bolivariana con Venezuela, con el pueblo venezolano con el derecho del pueblo venezolano a vivir en paz y a ser respetado en su independencia, en su soberanía”, dijo el canciller venezolano, Elías Jaua, al instalar la reunión.
Jaua señaló que uno de los puntos de la reunión es una explicación del ministro venezolano de Interior, Miguel Rodríguez Torres, sobre “el proceso de intento de derrocamiento violento por parte de la oposición venezolana al Gobierno”, así como los “planes magnicidas” contra el presidenteNicolás Maduro.
El canciller aludió así a una denuncia del gobernante Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) sobre la existencia de un plan para generar desestabilización y sacar a Maduro del poder, mediante las protestas en las calles, un supuesto intento de golpe de Estado ya abortado y un presunto intento de magnicidio.
El PSUV argumentó esos planes en una serie de correos electrónicos supuestamente pertenecientes a políticos de la oposición y que éstos han denunciado como falsos.
Estas denuncias se produjeron a punto de cumplirse cuatro meses de las protestas contra el Gobierno de Nicolás Maduro, que han dejado un balance oficial de 42 muertos, más de 800 heridos y cientos de causas abiertas.
El ministro venezolano señaló que también darán detalles a los miembros del consejo que forman los cancilleres del ALBA la “política de injerencia” de voceros del Gobierno y del Congreso de Estados Unidos en los asuntos internos de Venezuela.
En materia de asuntos relacionados con la agenda del ALBA, se revisarán de los avances del tratado constitutivo del ALBA-TCP (Tratado de Comercio de los Pueblos), y la planificación de las reuniones cumbre y eventos en el marco de la celebración el 14 de diciembre de los 10 años de fundación de la organismo.
También se hará una evaluación de las reuniones de países afectados por las empresas trasnacionales, que hará Ecuador, que denuncia una “agresión” de la petrolera estadounidense Chevron, y los avances de la Zona Económica ALBA-Petrocaribe, acuerdo firmado en diciembre pasado.
Jaua destacó que el ALBA-TCP tiene “grandes desafíos y grandes retos después de haberse convertido en una referencia para la integración política y social” en el continente.
“Ahora el ALBA tiene como propósito también avanzar en algo que es fundamental para el sostenimiento de la paz y la independencia, que es el desarrollo económico productivo y complementario de nuestros países”, dijo.
También subrayó el apoyo a la próxima Cumbre Extraordinaria del G-77 más China, que tendrá lugar en Bolivia el fin de semana.
La ALBA está formada por Antigua y Barbuda, Bolivia, Cuba, Dominica, Ecuador, Nicaragua, Santa Lucía, San Vicente y las Granadinas y Venezuela

Anatomia do decreto bolivariano - Oliveiros Ferreira

Com licença de Hayek, podemos dizer que o Decreto 8.243 escancarou as portas para o caminho da servidão. É preciso ir devagar na sua análise para que aqueles que não creem em fantasmas, e só os veem quando aparecem com um porrete e um .45 nas mãos, acreditem neles.
O decreto ampara-se na Constituição: é competência exclusiva do presidente da República expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução, e dispor, mediante decreto, sobre a organização e o funcionamento da administração federal. O D8243 não é, no rigor constitucional, uma lei. Na prática administrativa característica dos regimes totalitários, é uma “norma” que, como toda norma da administração, deve ser cumprida. Não é isso o que acontece com as instruções normativas que a Receita baixa?
O problema está quando seus autores abusam dessa prerrogativa, confiantes na passividade dos ofendidos. O D8243, a pretexto de organizar o funcionamento da administração, avança sem se deter em quaisquer limites, dividindo o Brasil em duas grandes massas de indivíduos, uns destinados a participar da administração e a auxiliar a produzir políticas públicas, outros que devem reger suas atitudes segundo as normas baixadas pelos novos órgãos da “democracia participativa e direta”.
A divisão da sociedade brasileira em dois grandes segmentos está clara no artigo 2.º, que define o que seja a sociedade civil: “Para os fins deste decreto, considera-se: I – Sociedade civil – o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações”. Donde se segue que:
— A administração federal está obrigada, desde o dia 23 de maio, a só permitir a colaboração de movimentos sociais, sejam institucionalizados, sejam não institucionalizados. Mas o que se entende por “institucionalizado” não se sabe, nem se decretou — seguramente não serão as associações civis que têm estatutos registrados em cartório. Na medida em que os sindicatos, os institutos, as Ordens (OAB, por exemplo), as associações profissionais, os partidos políticos (com o perdão de Gramsci) etc. não são organizações de movimentos sociais, não pertencem aos grupos sociais que podem legalmente assessorar a administração federal – não pertencem à sociedade dita civil. A menos que estejam incluídos na palavra “coletivos” – mas ônibus são “coletivos”…
— A referência a que o “cidadão” está entre os que compõem a “sociedade civil”, afora ser uma estultice, pois não se compreende “sociedade” sem “indivíduo” nem “Estado democrático” sem “cidadão”, só encontra explicação caso permita que particulares “membros da sociedade civil”, indivíduos, possam participar enquanto tal do “diálogo entre a sociedade civil e o governo para promover a participação no processo decisório e na gestão de políticas públicas” — note-se: “participação no processo decisório”. Assim, eles serão representantes da “sociedade civil” que passam a integrar a administração federal. Há no D8243 evidente abuso da prerrogativa de “dispor, mediante decreto, sobre a organização e funcionamento da administração federal” na medida em que alguém do governo escolherá os “cidadãos” e os “movimentos sociais” que decidem sobre políticas públicas. Quem? Quais? O decreto cuida disso — aliás, cuida de tudo, como se verá.
O D8243 reforma toda a administração federal, criando estrutura burocrática como convém aos que pretendem eternizar-se no poder. Há os “conselhos de políticas públicas”, que decidem sobre as políticas públicas e sua gestão. Depois, as “comissões de políticas públicas”, em que a “sociedade civil” e o “governo” dialogarão sobre “objetivo específico” dado pelo tema determinado para discussão. Segue-se a “conferência nacional”, para debater, formular e avaliar “temas específicos de interesse público”. Note-se que essa “conferência” não cuida apenas de políticas públicas federais: poderá “contemplar etapas estaduais, distrital (sic), municipais ou regionais para propor diretrizes e ações acerca do tema tratado”. Há uma “Ouvidoria”, que cuidará também dos “elogios às políticas e aos serviços púbicos prestados sob qualquer forma ou regime…”. E há, finalmente, a “mesa de diálogo, mecanismo de debate e negociação com a participação de setores da sociedade civil (não mais “movimentos sociais”) e do governo diretamente envolvidos no intuito de prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais”.
Convém prestar atenção às finalidades das “mesas de diálogo”, que devem “prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais”. A Justiça do Trabalho pode dizer adeus a uma de suas funções; os conflitos entre índios e proprietários de terra não irão mais à Justiça, mas passarão pela “mesa” que os resolverá, da mesma maneira que qualquer outro “conflito social”. Criou-se uma “Justiça” paralela.
Depois da “mesa” temos o “fórum interconselhos”, que permitirá o “diálogo entre representantes de conselhos e comissões de políticas públicas… formulando recomendações para aprimorar sua intersetorialidade e transversalidade” (arre!). Num arroubo de fato participativo, abre-se “consulta pública” de “caráter consultivo” a qualquer interessado disposto a se manifestar “por escrito”…
A “consulta pública” é, pois, o consolo que se dá aos cidadãos que não pertencem aos “movimentos sociais”, se souberem escrever! Ao contrário dos participantes em debates — que são orais — nos conselhos, comissões, conferências, mesas e no fórum, que não precisam ser alfabetizados…
Pelo D8243, um secretário-geral se preocupará com dar aparência democrático-formal às decisões do governo. Eis o primeiro-ministro do governo democrático-participativo. Ninguém mais conveniente ao cargo que o secretário-geral da Presidência da República.
 Oliveiros S. Ferreira, é professor da USP e da PUC-SP, cientista político, jornalista e escritor.

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Comentário recebido no rodapé: 

Jorge Nogueira Rebolla

43 minutos atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Hoje a Secretaria Geral da Presidência da República divulgou nota denunciando a revista Veja por não ter levando em consideração a "verdade" petista sobre o fim da democracia representativa no nosso país. Segundo o órgão chefiado pelo ministro Gilberto "caso Celso Daniel" Carvalho o totalitarismo do decreto da petista Dilma Rousseff não existe. Por quê mente?


VEJA: Quem define os movimentos sociais que participarão?
Secretaria-Geral: Cada conselho tem definição própria, que decorre, direta ou indiretamente, de legislação de responsabilidade do Congresso Nacional.

Até parece que os novos conselhos somente deverão ser criados por lei aprovada pelo Congresso Nacional, mas isto é mentira! A própria Lei nº 10.683, regulamentada pelo decreto nº 8243 é taxativa:

Art. 3o À Secretaria-Geral da Presidência da República compete assistir direta e imediatamente ao Presidente da República no desempenho de suas atribuições, especialmente:

I - no relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder Executivo;

A Secretaria Geral da Presidência da República tem o poder legal de criar e implementar instrumentos de participação de interesse do Poder Executivo. Traduzindo: dona Dilma manda e o Senhor Gilberto executa! Esta Lei foi sancionada durante o governo Lula da Silva, ou seja, a tesoura vem cortando devagar e o povo anestesiado está sendo substituído pelas correias de transmissão mantidas pelo petismo com recursos do orçamento federal.

Não considerem a prerrogativa constitucional do Congresso Nacional sobre a criação ou extinção de órgãos públicos para impedir a entrega do governo às manadas de manobra do petismo, estes instrumentos de participação criados agora legalmente não o são. As suas existências e competências estão diretamente sob a vontade discricionária do Poder Executivo. Isto fica claro no Decreto ao dizer:  instituído por ato normativo. Este tipo de ato pode ser baixado unilateralmente pelo Executivo, como este de 23 de maio de 2014, que na realidade é o AI-18. Após 45 anos retornamos a era dos atos institucionais. A presidente é a herdeira da junta militar. Ao lado de Rademaker, de Lira Tavares e Souza e Melo temos agora Dilma Rousseff.

VEJA: O que é “movimento social não institucionalizado” para efeitos do decreto?

Secretaria-Geral: São movimentos que, apesar de atuarem coletivamente, não se constituíram como pessoa jurídica nos termos da lei.

Até mesmo o PCC ou o Comando Vermelho podem ser designados membros de um destes conselhos. Que tal um para a segurança pública? Afinal são formados por atuação coletiva. Não devemos nunca nos esquecer que ambos possuem laços com as FARC colombianas, organização ferozmente defendida pelo PT.

O PT está criando um poder paralelo, que prescindirá da escolha eleitoral, funde-se ao Estado, e quem deveria defender a legalidade no Brasil como os advogados da OAB e o moribundo Congresso Nacional calam-se. Os meios de comunicação apenas arranham o assalto à democracia. A conjuração vale-se da distribuição de apoios e benesses para avançar. Seja através das alianças com os candidatos dos partidos da base comprada, da distribuição das verbas públicas para a publicidade ou das nomeações para sinecuras estatais. Até mesmo no auto-intitulado maior partido da oposição, os sociais-democratas tucanos (PSDB), não existe apoio unânime contra o golpe da Dilma, afinal a maioria desses marxistas comungam da mesma visão totalitária do petismo. Triste Brasil, caminha rapidamente para se tornar mais uma ditadura bolivariana latino-americana. O plano do Lula para anestesiar o povo com a copa do mundo, apesar de alguns percalços, está funcionando. Acabaram com a democracia vinte dias antes da bola rolar e o país não notou.

Prostituicao e drogas no PIB; por que nao roubos e corrupcao?

Estou brincando, claro, mas sendo rigoroso com a metodologia econômica, as únicas atividades que realmente agregam valor (ou, sendo cínico, ao bem-estar dos usuários) são as drogas e a prostituição (e como), pois esta, até mais do que a primeira, é um serviço efetivamente prestado -- como o de faxineira, arrumadeira, copeira, enfim, essas coisas de cama e mesa --,tanto é que os companheiros já registraram a profissão no Guia do MTb. Enfim, tem aqueles que preferem prazeres solitários, no onanismo, por exemplo, mas o sexo sempre é um intercâmbio, em alguns casos, comercial. Quantos por cento de todos os intercâmbios? Confesso que não sei, mas a julgar pelas aparências, em alguns países chega a ser alto; que tal 5% do PIB?
Todas as demais - roubos, homicidios, corrupção - constituem redistribuição de renda já apropriada e pouco valor acrescentam à economia, que ainda perde recursos como todo o aparato repressivo (em certo países não tanto para a corrupção). Os bandidos, obviamente, possuem uma outra percepção de suas atividades: eles acham que dão emprego a advogados, policiais e magistrados (gasto inútil, ainda assim, pois entra na teoria da janela quebrada do Bastiat).
Paulo Roberto de Almeida 

Itália e Grã-Bretanha vão incluir drogas e prostituição no PIB
The Wall Street Journal, 10/06/2014

Novos métodos para avaliar a economia de um país às vezes geram críticas. Ainda mais quando envolvem prostitutas e muita cocaína.
Reino Unido, Irlanda e Itália estão entre os países que se preparam para incluir práticas ilícitas nos cálculos do seu produto interno bruto, a medida mais ampla de bens e serviços de uma economia.
O Reino Unido pode acrescentar até US$ 9 bilhões ao seu PIB ao incluir os negócios com prostituição e outros US$ 7,4 bilhões com drogas ilegais, o que, segundo uma estimativa, seria o suficiente para dar um impulso de 0,7% ao tamanho da sua economia. Além de drogas e prostituição, a Itália também vai incluir o contrabando. As mudanças entrarão em vigor no fim deste ano.
Outros países da Europa também estão prontos para atender ao pedido da União Europeia para padronizar e ampliar o cálculo de seu PIB. A UE está seguindo as diretrizes de "melhores práticas" estabelecidas em 2008 pela Organização das Nações Unidas.
Alguns economistas questionam seus méritos — e métodos — de mensurar esses mercados obscuros. Os criminosos não medem esforços para encobrir transações normalmente feitas em dinheiro e difíceis de serem rastreadas. Como é complicado para as autoridades fiscais identificar essas atividades, elas acabam não gerando nenhuma receita para ajudar os países a pagar suas dívidas. Tudo isso torna mais difícil medi-las.
Claus Vistesen, economista-chefe da consultoria Pantheon Macroeconomics para a zona do euro, diz que existe um "dilema entre incluir o máximo de informação que você puder e a precisão". Segundo ele, levar em conta os segmentos à margem da economia pode tornar o cálculo do PIB "menos preciso".
O argumento a favor é bem simples. Se as vendas de drogas não são contabilizadas em um lugar onde as pessoas gastam metade de sua renda com drogas, pode-se concluir erroneamente que a população economiza metade do que ganha.
A ONU é contundente na exaltação da necessidade de se expandir a definição do PIB. "As contas, como um todo, são passíveis de serem seriamente distorcidas" se os governos não tabularem todas as transações, afirma trecho de sua diretriz de 2008.
As mudanças gerais resultantes de adicionar as atividades ilícitas podem se mostrar pequenas, porque isso seria apenas um componente a mais nas revisões estatísticas que estão sendo realizadas na Europa. O Reino Unido, por exemplo, alterou a forma de medir as organizações sem fins lucrativos, uma mudança que vai impulsionar seu PIB mais que as drogas e a prostituição. O governo britânico também alterou os cálculos da formação de capital e estoques, o que vai reduzir o PIB.
Alguns países europeus têm incentivos adicionais para inflar o tamanho de suas economias. Além da oportunidade de se gabar, um PIB maior ajuda a manter a dívida e os déficits dos países dentro das metas definidas pela UE.
Se o déficit do país deve permanecer abaixo de 3% do PIB, um governo que gasta demais vai buscar a maior estimativa de PIB possível.
Para outros, um PIB maior pode elevar os custos do governo. O bloco de 28 países usa as medidas do PIB para determinar quanto cada país deve contribuir para o orçamento coletivo da UE.
Na Europa, Finlândia e Suécia, países que dificilmente podem ser caracterizados por vastos setores da economia considerados ilegais, terão os maiores ganhos. As principais mudanças resultam não das drogas, mas de ajustes técnicos, como capitalizar os gastos em pesquisa e desenvolvimento e como calcular programas de aposentadoria e a maior parte das apólices de seguro.
A Agência de Análise Econômica, que calcula o PIB americano, "não tem planos no momento para incluir gastos em atividades ilícitas", segundo a porta-voz Jeannine Aversa. O PIB dos Estados Unidos cresceria cerca de 3% se todas as mudanças feitas na Europa fossem adotadas, de acordo com estimativas da Eurostat.
A metodologia própria do governo britânico revela como o cálculo de atividades que passam longe das caixas registradoras e dos contadores pode ser impreciso.
A Agência Nacional de Estatísticas do Reino Unido informa que vai estimar o consumo de seis drogas: cocaína em pedra (crack), cocaína em pó, heroína, maconha, ecstasy e anfetaminas. Autoridades irão primeiramente calcular o número de usuários de drogas com base em pesquisas sobre crime e então multiplicá-lo por uma estimativa média do volume de drogas consumidas por usuário.
Aí, uma série de estimativas será usada nesse cálculo. Para evitar, por exemplo, distorcer as estatísticas de importação, o percentual de maconha plantada domesticamente deve ser estimado. Uma suposição será feita para o volume de sementes e para a energia elétrica usada na produção.
Para as prostitutas, os estatísticos começarão com um cálculo de prostitutas de rua feito pela Polícia Metropolitana de Londres e uma estimativa de prostitutas que não ficam nas ruas feitas por um grupo não governamental que estuda violência contra mulheres e meninas. O cálculo suporá que o número de prostitutas deve aumentar ou diminuir em sintonia com a população masculina. O custo estimado dos serviços de prostituição flutuará em linha com os preços cobrados em clubes de striptease e por agências de acompanhantes, "as atividades mais próximas que temos da prostituição" que já são medidas, segundo os estatísticos.
Thomas Costerg, economista do banco britânico Standard Chartered, diz que os governos não estão procurando expandir a definição do PIB, mas "apenas falsificar os números".
O problema, segundo ele, "é que você pode ficar muito teórico e pode haver alguns efeitos colaterais, incluindo o crescimento do ceticismo da população em geral em relação às estatísticas".
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Xico Graziano: as duas agriculturas dos petistas maniqueistas

Como sempre ocorre, os petistas costumam dividir tudo em preto e branco. O Brasil deve ser o único país do mundo que possui dois ministérios agrícolas, com políticas absolutamente opostas, um e outro.
Coisa de louco, coisa de petistas. 
Paulo Roberto de Almeida 
Estupidez ideológica do petismo divide o campo em dois lados: o dos "bons" e o dos "maus"
O maniqueísmo petista que divide o Brasil entre "nós" e "eles" ocorre também no campo, onde o agronegócio é contraposto à agricultura familiar - "esguelha ideológica" que só existe por aqui, como diz Xico Graziano no Estadão (10/06/2014):

O teatro separatista, mais uma vez, repetiu-se no campo. Na primeira cena, o governo anuncia o Plano Agrícola e Pecuário para a "agricultura empresarial". Passado alguns dias, divulga o Plano Safra da "agricultura familiar". Belos discursos, amoldados para cada evento, animam uma trama típica do maniqueísmo político. Um país, duas agriculturas.

O Brasil é a única nação importante do mundo que separa a sua agropecuária em dois lados: o do "agronegócio" e o "familiar". Uma política que deveria reforçar a ação pública em favor dos pequenos produtores no campo, desgraçadamente, serve ao modo de governar que distingue a sociedade entre "nós" e "eles". Ou, pior, entre os "bons" e os "maus". Dividir para reinar, ensinava Maquiavel.

Quem, em 1996, criou o programa de apoio e fortalecimento da agricultura familiar (Pronaf) foi o então presidente Fernando Henrique Cardoso. A ideia inicial era, na prática, resguardar uma fatia dos recursos do crédito rural - sempre abocanhado pelos poderosos do agro -, obrigando sua alocação compulsória aos pequenos produtores rurais. Estes foram definidos como os de área máxima com até quatro módulos fiscais. Havia ainda a destinação de recursos públicos, a fundo perdido, para investimentos na infraestrutura de produção e comercialização de núcleos associativos e cooperativados. Funcionou muito bem.

Essa estratégia de desenvolvimento rural considerava que, pequenos ou grandes, todos os agricultores, independentemente das características da produção, precisam e merecem progredir na vida, incorporando as modernas tecnologias para elevar a produtividade, conquistar qualidade, conseguindo, assim, competir na economia de mercado. Sob esse prisma, qualquer política voltada para o meio rural deve ser integradora. Jamais divisionista.

Ao mudar o governo, de Fernando Henrique Cardoso para Lula, a gestão da agricultura brasileira acabou separada em dois ministérios. A partir de então, o conceito de "agricultura familiar" começou a ser totalmente deformado, passando a significar os "pobres" no campo, em oposição aos "ricos", aglutinados no "agronegócio". Jamais, em tempo algum, se produziu tamanha bobagem no pensamento agrário. Mera, e retrógrada, ideologia.

Sabem os estudiosos da economia e da administração, mesmo os iniciantes, que por "familiar" se considera a gestão de um negócio, independentemente do tamanho do empreendimento. Ao contrário das corporações, uma empresa familiar se rege pelas decisões de seus próprios donos. Na agricultura significa que os proprietários tocam com seu trabalho a fazenda, havendo apenas auxílio eventual de mão de obra assalariada. Familiar, sempre, refere-se ao comando da atividade produtiva.

Nos EUA, as estatísticas mostram que cerca de 90% dos agricultores se classificam como familiares. Graças ao avanço da mecanização, um pai com dois filhos, por exemplo, mostra-se capaz de conduzir áreas de terra cada vez maiores, submetidas à elevada tecnologia. Essa tendência da agricultura norte-americana se assemelha aqui, no Brasil, especialmente à das fronteiras do Centro-Oeste. Grandes fazendas, com soja ou milho, exploram-se espetacularmente com mão de obra familiar, não raro a mulher participando dos trabalhos de campo, sentada no banco do trator, ao lado do marido e dos filhos. Agronegócio familiar.

Inexiste contradição nos termos. Mas, por aquelas razões difíceis de explicar, talvez por causa da histórica ojeriza ao sistema latifundiário, aqui somente se considera familiar quem é pequeno produtor rural. Passou a ser o tamanho, e não a gestão, o critério fundamental. Remetido ao jogo da política, o conceito de agricultor familiar desvirtuou-se completamente, acabando associado à pobreza rural, ao atraso, à subsistência na terra. Nele se incluíram os assentamentos da reforma agrária.

A esguelha ideológica cresce quando se limita o agricultor familiar à produção de comida popular. O discurso enviesado diz assim: "O agronegócio serve à exportação, quem alimenta o povo é a agricultura familiar". Besteira pura. No Paraná, por exemplo, que é grande produtor nacional de soja, quem domina o campo são os sitiantes enquadrados no Pronaf. Seu sucesso depende do cooperativismo. Na famosa Cocamar, situada em Maringá, entre 12 mil associados, 80% cultivam até 50 hectares. Conduzem suas lavouras familiarmente, participam diretamente do agronegócio, remuneram-se pela receita da exportação dos grãos. Modestos, mas capitalistas, numa boa.

Sim, é verdade que a maioria dos alimentos básicos (arroz, feijão, mandioca, leite, batata) advém de pequenas propriedades. Fato estatístico. Quando, porém, se analisam as condições da produção e o fluxo de comércio, verifica-se que, majoritariamente, o abastecimento nas grandes cidades se garante pelo trabalho de agricultores que, embora pequenos, utilizam elevada tecnologia, ligados no mercado. Pequenos, e bons, empresários rurais.

Essa complexidade da economia agrária submerge no palco da encenação política. Quando a presidente Dilma Rousseff anunciou, primeiramente, um crédito de R$ 156,1 bilhões para o agronegócio e, depois, de R$ 24,1 bilhões para a agricultura familiar, cavou artificialmente um fosso que, na realidade, inexiste na roça. As cerimônias turvam a realidade agrária.

A agricultura sustentável de que o Brasil carece não se construirá apartando os agricultores entre patronais e familiares, como se existissem os de primeira e os de segunda classe. Ao contrário. Ao favorecer os mais fracos, incluindo os assentados da reforma agrária, uma política agrícola inteligente buscará integrá-los, juntos, ao ciclo do progresso tecnológico no campo.
Sem segregação. 

Gastos publicos: corrigir os desvios, coisa para estadista - Fabio Giambiagi

No delicioso documentário sobre Vinicius de Moraes, que passou no cinema há uns 3 anos, há uma anedota contada por Chico Buarque, referente à época em que o poetinha ganhava a vida fazendo shows, muitos deles no exterior, quando Chico estava no exílio. Ele foi ver o show do amigo, que, com sua graça particular, começou a contar uma história que fazia a plateia gargalhar sem parar. No meio desse processo, lacrimejando de tanto rir, mas sem captar uma palavra do que o Vinícius dizia numa mistura ininteligível de italiano, português e inglês, um italiano se vira para o Chico e pergunta: “Bravissimo, ma scusi, che língua parla?” (“Espetacular, mas, me desculpe: que língua é essa?”).
Sempre me lembro da frase quando acompanho o debate sobre a “gastança”. Em relação a isto, a crítica de certa forma une tanto a chamada “direita” como a “esquerda”. A primeira tende a considerar que há um processo populista em curso e que um governo mais comprometido com a austeridade poderia rapidamente reduzir a relação entre o gasto público e o PIB. A segunda, por sua vez, tende a considerar que o gasto vai para os “os ricos”, “a elite” ou “os privilegiados”, em vez de ser direcionada para “nós, o povo”.
Somando-se a crítica à “gastança”, quem se deixa levar por esses argumentos toscos se assemelha ao italiano da anedota diante do show do Vinicius: aplaude o argumento, mas não consegue entender o que se passa.
O Brasil é um país onde, historicamente, nos três níveis de governo, houve irregularidades aos borbotões
O drama do gasto público é que o pressuposto da crítica — de que o dinheiro está sendo desviado para fins escusos — está equivocado. O Brasil é um país onde, historicamente, nos três níveis de governo, houve irregularidades aos borbotões. Basta ler qualquer jornal. Na época do Getúlio, nos anos JK, com os militares ou nos governos civis que se seguiram, na União, no estado A ou no município B, em qualquer ano ou instância de governo, com o partido X ou Y, qualquer historiador terá material para encher páginas e páginas com os escândalos de cada época. Entretanto, quando se tenta entender por que o gasto primário federal passou de 13,7% do PIB em 1991 para 22,8% do PIB em 2013, não são os escândalos que explicam isso. São todas coisas que estão diante de nosso nariz — e o país teima em não enxergar. A “gastança” é fruto de decisões tomadas com o beneplácito da grande maioria dos parlamentares — quando não da própria população — que, tempos depois, revela o seu impacto financeiro em toda a sua plenitude, com escasso efeito sobre a melhoria de bem-estar do país. É por esse tipo de coisas que, no fim da vida, exasperado pelos absurdos recorrentes década após década em matéria econômica, Roberto Campos concluía que “a burrice nacional não associa o efeito com as causas”.
Um esclarecimento: a despesa federal com pessoal ativo era de 2,7 % do PIB em 1991 — e caiu para 2,3 % do PIB em 2013. O cidadão tem todo o direito de achar que há muitas repartições onde sobra gente, mas, se pagamos mais impostos hoje do que há 20 anos, não é porque há mais gente trabalhando nos ministérios: o peso relativo dessa conta caiu.
O que foi que aumentou? Três coisas. A primeira, as despesas com benefícios do INSS, de 3,4% do PIB em 1991 e de 7,4% do PIB em 2013 — e os aposentados se queixam de abandono. A segunda, as transferências a estados e municípios, que passaram de 2,7% para 3,9% do PIB nesse período — e governadores e prefeitos vivem de pires na mão. E a terceira, o gasto com o “OCC”, as “outras despesas de custeio e capital”, que pularam de 3,9% para 7,3% do PIB nesses 22 anos. Nessa rubrica, há desde o justificado Bolsa Família, inexistente no passado e que hoje consome em torno de 0,6% do PIB, até o inacreditável gasto com seguro-desemprego de 0,5% do PIB em 2003 quando o desemprego do país era de 12% e de 0,9% hoje, quando o desemprego é da ordem de 5%, no que talvez seja um dos melhores exemplos da incúria nacional, passando pelo aumento das despesas da Lei Orgânica da Assistência Social. No dia em que “gestão” deixar de ser bordão de marqueteiro, será preciso fazer um raio X das contas públicas para verificar a quantidade de recursos que estão sendo gastos de forma torpe, na frente de nosso nariz, como se fosse a coisa mais natural do mundo. É tarefa para estadista.

CPI do Senado ofende a inteligencia dos brasileiros: Petrobras impoluta segundo ex-diretor

O cidadão merecia já estar na cadeia, e com todos os seus bens embargados. No entanto, por obra e graça de um juiz companheiro (que não é exatamente supremo, mas extremo, de extremoso, com os companheiros) está solto e ofendendo a inteligência dos brasileiros.
Os senhores senadores não se dão ao respeito, ao participarem de uma chacota.
Paulo Roberto de Almeida

CPI



Eis, segundo um boletim do PT, a "verdade" sobre a Petrobras: os companheiros estão defendendo um ladrão indiciado pela Polícia Federal. Como já o fuzeram, aliás, com os seus quadrilheiros corruptos. A vocação do partido totalitário é a de chafurdar na lama dos crimes contra o patrimônio público.


Ex-diretor refuta ilações sobre Petrobras e revela contrato com Organizações Globo

CPI-PETROBRAS-10-06O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, refutou, na CPI do Senado que investiga supostas irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, ilações que tentam comprometer a Petrobras. Ele revelou também que sua empresa mantém negócios com as Organizações Globo. Paulo Roberto lembrou que passou mais de 50 dias preso e massacrado por setores da mídia, como a Globo, com quem mantém contrato.

A revelação pelo foi um dos pontos marcantes da CPI, ontem. Em seu relato, o ex-diretor confirmou que é o dono da empresa de consultoria Costa Global e que entre os seus contratados estão as Organizações Globo. “Para conhecimento de vocês, eu tenho um contrato assinado para vender uma ilha das Organizações Globo”, revelou.

De acordo com o ex-diretor, a ilha situa-se na rodovia Niterói-Manilha. Ele frisou que o contrato firmado com as organizações da família Marinho era para que a Costa Global procurasse um leasing imobiliário para vender a área. Segundo ele, o objetivo do negócio era dar apoio para a operação offshore que atuaria para empresas que trabalhavam com a Petrobras, com a Shell, e com outras empresas que têm atividades de produção na Bacia de Campos. “Até para as Organizações Globo estamos prestando serviço”, reafirmou Paulo Roberto.

O ex-dirigente disse ainda que constituiu a Costa Global em 2012, após sua saída da estatal. Ele contou que a sua filha, Arianna Azevedo Costa Bachmann é sua sócia e que a empresa possui 81 contratos firmados.

No decorrer de sua exposição, Paulo Roberto da Costa repudiou com veemência as “inveracidades” das acusações do Ministério Público contra a Petrobras e criticou o foco dado pela imprensa brasileira à questão.

“A Petrobras é uma empresa totalmente séria. Pode-se fazer auditoria por 50 anos dentro da Petrobras que não vão achar nada ilegal porque não há nada ilegal na Petrobras. Estão colocando a Petrobras na condição de uma empresa frágil”, afirmou. Ele observou que os controles dentro da estatal são enormes.

Abreu e Lima - Ele refutou as denúncias de suposto superfaturamento nos contratos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. “Não é real. É uma ilação. Portanto, repudio veementemente essa suposição. Não existe organização criminosa. Não sei por que inventaram essa história. É uma história fora da realidade”, lamentou.

Operação Lava Jato – Paulo Roberto da Costa foi preso em março na Operação Lava Jato, desencadeada pela Polícia Federal.  A Operação da PF investigou esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em seu depoimento ele foi enfático em afirmar que não existe lavagem de dinheiro da Petrobras com o doleiro Alberto Youssef, também preso pela PF.

“Não sei de onde tiraram essa história. A Polícia Federal, o MP deveriam aprofundar essa análise da Petrobras, que vão chegar à conclusão de que a Petrobras não o que estão falando. A Petrobras é uma empresa que orgulha o povo brasileiro”, afirmou.

Pasadena – Sobre a aquisição da refinaria de Pasadena, Paulo Roberto voltou a dizer o que os seus antecessores afirmaram em depoimentos na CPI.  “Naquele momento era um bom negócio. Ninguém coloca petróleo cru na indústria, no carro ou no avião. Ter refinaria é algo importante e estratégico”, reafirmou. 

Consumidor paga juro de 100pc ao ano: presidenciaveis alheios a usura


Consumidor já paga juro médio de 100.76% ao ano, mas presidenciáveis não ligam para a usura
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Dá para sobreviver bem e produzir tranquilamente em um Brasil com juros médios de 100,76% ao ano para os consumidores? A complicada resposta é o grande tema que tende a ficar de fora do debate eleitoral deste ano sem graça de 2014. Nem a perdida Dilma Rousseff e muito menos seus adversários Aécio Neves (o social-democrata) e Eduardo Campos (o socialista) vão tocar na delicada submissão do capimunismo brasileiro ao lucrativo poder da usura bancária.

Azar do cidadão-eleitor-contribuinte. Além de juros altos, que complicam a vida quem se vê obrigado a fazer dívidas, o brasileiro continuará pagando impostos escorchantes para sustentar o desperdício e a corrupção da máquina pública, os gastos crescentes com as bolsas-votos (fabricantes de vagabundos morais) e o permanente aumento da impagável dívida pública da União, Estados e municípios. A agiotagem compulsória e a improdutividade sistêmica tendem a passar longe do debate eleitoral no País sob governança do crime organizado.

No Brasil, realmente, tudo parece que está além de 100%... A começar pelos juros estratosféricos… levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) confirma que o brasileiro convive com o inferno da usura oficial. No cartão de crédito, o juro anual chega a 232,12%. O cheque especial tem usura anual de 158,04%. O empréstimo pessoal oferecido por financeiras atinge absurdos 132,65%. O mesmo esquema dos bancos esfola o correntista em 49,54%.

É fácil entender por que muitos estão devolvendo os carros que compram em infindáveis prestações. Os juros anuais do crédito direto ao consumidor (CDC) para compra de veículos subiu de 23,58% em abril para 23,87% em maio. A situação também é complicada para quem não tem grana para pagar á vista nas compras comuns. As taxas de juros cobradas no comércio para aquisições a prazo atingem 71,94% ao ano. Fora os juros altíssimos, o consumidor ainda tem de arcar com taxas maquiadas na hora de liberar o financiamento.

Os indicadores tornam ainda mais irresponsável o discurso do mito Luiz Inácio Lula da Silva – que deu uma comida de rabo pública no Secretário do Tesouro Nacional, cobrando que a equipe econômica da sua companheiro Dilma Rousseff libere mais dinheiro para o crédito, incentivando o consumo e, por extensão, permitindo mais felicidade ao eleitor que anda PT da vida com o governo.

Lula, que já está com o boi na sombra, como um dos políticos mais ricos do mundo, não tem problemas de crédito, pois tem dinheiro suficiente para comprar o que quiser à vista. Mas o brasileiro comum – inclusive aqueles que o endeusam – são obrigados a pagar os juros mais altos do planeta, para que os bancos continuem batendo recordes de lucros, enquanto refinanciam a falência estrutural do Estado tupiniquim.

Além da usura

O estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças verificou que bancos e financeiras têm elevado suas taxas em ritmo mais acelerado que o do crescimento da taxa Selic.

Enquanto o Comitê de Política Monetária (CPOM) do Banco Central do Brasil subiu os juros básicos em 3,75 pontos percentuais entre março de 2013 e maio deste ano, para 11%, a taxa média de juros para pessoa física cresceu 12,79 pontos percentuais no mesmo período.


O salto da usura foi de 87,97% para 100,76% ao ano – o que serve de explicação automática para o desgaste da imagem do governo junto à classe média.