O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Guilherme Casarões: sobre a destruição do Itamaraty, pelos mesmos que fazem guerra cultural de extrema direita

Permito-me postar uma série de tuítes do Guilherme Casarões sobre a destruição do Itamaraty pelos olavo-bolsonaristas, fanáticos antiglobalistas, que eu classificaria de demenciais:


Guilherme Casarões
Flag of Brazil

Desinformador profissional certificado pelo chanceler Ernesto Araújo. Professor/pesquisador no resto do tempo. Pai de dois
❤
. RT ≠ endosso. Opiniões pessoais.


24 de Junho de 2020

Conversation
Para onde vai a @FunagBrasil
? A política externa populista de @jairbolsonaro é parte integral da guerra cultural bolsolavista, em que instituições são desmoralizadas, aparelhadas e destruídas. O Itamaraty está sob ataque - e a corrupção da FUNAG faz parte do processo.



1) A destruição da inteligência acumulada pela FUNAG, braço acadêmico do Itamaraty, começou antes mesmo do início do governo. O manual de História do Brasil, do grande @joadani, foi retirado do site, onde poderia ser baixado gratuitamente. O problema do livro? Este parágrafo:


Replying to @GCasaroes
2) A 2ª pancada ocorreu no começo do mandato. @PauloAlmeida53 foi demitido do cargo de diretor do IPRI após republicar expoentes do "deep state" tucano-globalista, Rubens Ricupero e o ex-presidente @FHC. Nem Paulo nem Ricupero escondiam suas discordâncias com o antiglobalismo.



3) Ao longo de 2019, @ernestofaraujo se recusou a publicar 2 livros sobre política externa. O do embaixador Synesio Goes foi vetado por ter o prefácio escrito por Ricupero. O da pesquisadora Mathilde Chatin, barrado graças ao prefácio de Celso Amorim.

Com censura a obras acadêmicas, Araújo ameaça a imagem do próprio Itamaraty
https://t.co/ptfu0NMpfz?amp=1
https://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/02/com-censura-a-obras-academicas-araujo-ameaca-a-imagem-do-proprio-itamaraty/

[Abro um parênteses, aqui, para transcrever o que Guilherme Casarões linkou, pois eu ainda não tinha tomado conhecimento dessa matéria, que cita o meu livro de 2019: "Miséria da Diplomacia", livremente disponível em meu blog Diplomatizzando]

Uma reportagem publicada pela Folha revela que o Itamaraty se recusou a publicar um livro do embaixador Synesio Sampaio Goes Filho por conta do prefácio da obra, escrito por Rubens Ricupero, ex-embaixador em Washington e também historiador da diplomacia –e visto como desafeto pelo atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
O caso não é isolado, entretanto, e o clima de revisão e censura também atinge outras obras que passam pelo MRE. Esta tendência cria uma ameaça à imagem de profissionalismo, olhar crítico e independência do Itamaraty no resto do mundo.
Em seu livro mais recente, que não foi publicado pela Funag, o diplomata Paulo Roberto de Almeida cita pelo menos um outro caso em que a censura ocorreu neste ano.
"Uma tese de doutorado defendida no King's College, da Universidade de Londres, por Mathilde Chatin – Brazil: a new powerhouse without military strength? – A conceptual and empirical quest about an emerging economic power –, já aprovada para publicação pelo Conselho Editorial da Funag em 2018 foi congelada definitivamente por incluir um prefácio do ex-ministro Celso Amorim, no cargo durante o período coberto pelo trabalho acadêmico", diz Almeida em "Miséria da Diplomacia: A Destruição da Inteligência no Itamaraty"(Boa Vista: Editora da UFRR, 2019).
A mesma Folha relatou à época que a demissão ocorreu após Almeida republicar, em seu blog pessoal três textos recentes sobre a crise na Venezuela, um assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro pelo embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero e o terceiro pelo atual ministro das Relações Exteriores.
Na época, o clima de perseguição dentro do ministério levou à preocupação com o uso mais frequente da censura.
A imposição de censura no Itamaraty, especialmente quando direcionada a obras acadêmicas e de história, aumenta o risco pelo qual vem passando um dos principais ativos da diplomacia brasileira.
Por anos, o Itamaraty foi reconhecido internacionalmente como um dos serviços de política externa mais ativos e competentes do mundo. O profissionalismo e senso crítico dos diplomatas brasileiros são mencionados com frequência por estrangeiros que trabalham com política externa, que elogiam o preparo e conhecimento dos representantes do Brasil. Com a imposição de censura, é possível que o serviço de política externa do Brasil perca parte da sua capacidade crítica, que ajuda a promover esta imagem de competência da presença brasileira no exterior.

[Retomo Guilherme Casarões]:   

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4) Como se não bastassem as censuras, a turma olavista ocupou-se em promover conceitos frágeis, meio conspiratórios, como o novo léxico da política externa brasileira. A construção da "novilíngua" da extrema direita começou com o evento abaixo, em mai/19. http://institutoriobranco.itamaraty.gov.br/artigos/60-noticias/85-funag-e-irbr-promoveram-a-palestra-governanca-global-e-autodeterminacao-popular-de-filipe-g-martins-assessor-especial-do-presidente-da-republica
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5) Em jun/19, um grande evento "internacional" trouxe expoentes da guerra cultural antiglobalista para denunciar George Soros, o STF, Paulo Freire, o @ForodeSaoPaulo, os Illuminati e a Nova Ordem Mundial. À exceção do palestrante americano, todos são orgulhosos alunos do Olavo.

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6) 
fez a abertura do evento, denunciando a "pseudorreligião globalista" a partir de uma leitura torta de Nietzsche e Marx. O ponto mais alto da fala foi a celebração do discurso de 6 MINUTOS de Bolsonaro em Davos, por ter tido a bravura de falar de Deus.


7) Em dez/19, foi a vez do jurista/influencer olavista Evandro Pontes falar sobre as "virtudes do nacionalismo" a partir do livro do filósofo Yoram Hazony, que basicamente opõe o nacionalismo benigno ao totalitarismo da governança global. A construção da novilíngua segue firme.



8) Com o advento da pandemia, a FUNAG passou a realizar seminários virtuais sobre "a conjuntura internacional pós-coronavírus". Evento no mínimo curioso p/um chanceler que, dias antes, problematizou a pandemia de Covid19 como uma questão "terminológica", seguindo o mestre Olavo.


Carlos Malamud: Ernesto Araújo destrói credibilidade da política externa e abala o Itamaraty

Ernesto Araújo destrói credibilidade da política externa e abala o Itamaraty

A gestão de Ernesto Araújo no Itamaraty é vista como desastrosa por analistas e estudiosos de todo o mundo. Araújo retirou o Brasil de fóruns regionais como a Unasul e a Celac, fechou sete embaixadas na África e Caribe e submeteu o país aos EUA. “O país se encontra no maior isolamento diplomático dos últimos 50 anos”, afirma o historiador Carlos Malamud
Ernesto Araújo
Ernesto Araújo (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Sob o governo de Jair Bolsonaro e a gestão de Ernesto Araújo na Chancelaria brasileira, o Itamaraty, uma das mais sólidas instituições do Estado nacional, sofreu um abalo em suas estruturas. Araújo retirou o Brasil de fóruns regionais como a Unasul e a Celac, fechou sete embaixadas na África e no Caribe que haviam sido abertas nos anos Lula-Dilma Rousseff, mudou posições históricas na ONU para alinhar-se aos Estados Unidos, impôs dificuldades em negociações ambientais e privilegiou o relacionamento na Europa com dois países comandados por líderes da extrema direita, aponta reportagem do jornal Valor
“O país se encontra no maior isolamento diplomático dos últimos 50 anos”, afirmou o historiador Carlos Malamud, apontado como um dos 50 intelectuais ibero-americanos mais influentes pela revista espanhola “Esglobal” e hoje pesquisador do Real Instituto Elcano, em Madri. 
Para ele, a boa fama da diplomacia brasileira “está se dilacerando” na Europa e atualmente “seria impensável” ver o Brasil à frente de grandes coalizões de países emergentes em fóruns multilaterais, como ocorreu no passado. 
A destruição da imagem do Brasil está relacionada ao discurso de Ernesto Araújo sobre a questão ambiental, a subordinação do país ao governo de Donald Trump e a postura de Bolsonaro de desleixo em face da pandemia de Covid-19.  
O distanciamento da atual gestão do Itamaraty de posições anteriormente defendidas pela diplomacia brasileira é tanto, que a Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) manifestou o temor de que representações do país no exterior e seus profissionais passem a ser alvos de ataques, por conta de atitudes como a promessa de mudança da embaixada em Israel para Jerusalém e do apoio ao ataque americano que matou o general iraniano Qassem Soleimani no Iraque. 
A reportagem cita a ironia do diplomata aposentado Roberto Abdenur, ex-embaixador em Washington. Ele diz que o Brasil hoje só tem “três países e meio” como amigos: Israel, Hungria e Polônia. “Meio são os Estados Unidos, porque estamos excessivamente alinhados com as ideias do Trump e antagonizamos com a outra metade, os democratas”, afirmou Abdenur, em um seminário virtual da ADB, na semana passada. Ele vê uma brutal ruptura da atual política externa com o patrimônio diplomático brasileiro. O resultado é o encolhimento da presença do Brasil no plano internacional. 
A gestão de Ernesto Araújo também provocou abalos nas relações internas do ministério, com a instalação de uma "caça às bruxas". 
“O clima é de humilhação e caça às bruxas”, diz o ex-ministro da Cultura e deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), que se licenciou da carreira diplomática para o exercício do mandato. Ele encaminhou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a proposta de criar uma comissão de acompanhamento externo do Itamaraty. “Moderação e previsibilidade são atributos da própria diplomacia, mas hoje existe uma contaminação pela ideologia, um fanatismo quase místico”, afirma. 

Mercado estima recuo de 6,5% no PIB este ano; provavelmente será maior (FMI: -9,1%) -


IMF forecasts deeper Latin America recession in 2020

The International Monetary Fund is forecasting a nearly double-digit recession for Latin America and the Caribbean in 2020 – a contraction of 9.4% – as the region is dragged down by its two largest economies, which continue to suffer from the coronavirus


DAVID BILLER and MARK STEVENSON Associated Press
ABC News, June 24, 2020

RIO DE JANEIRO -- The International Monetary Fund is forecasting a nearly double-digit recession for Latin America and the Caribbean in 2020 – a contraction of 9.4% – as the region is dragged down by its two largest economies, which continue to suffer from the coronavirus.
The updated outlook for the region, released Wednesday, is down sharply from the 5.2% recession forecast in April, which already would have been the worst performance since at least 1980, the first year in the IMF’s World Economic Outlook database.
The multilateral lending agency said in its report that in Latin America, “most countries are still struggling to contain infections.”
The new forecast includes a 10.5% dive for Mexico, which has lost about a million jobs during the pandemic.
The country’s industrial activity plunged nearly 30% in April compared to a year earlier amid its lockdown.
Prodded by the United States, Mexico reopened its automotive, mining and construction industries starting in June, but plans for a broader restart of the economy have been delayed due to the continued high rates of new COVID-19 cases.
The IMF predicts a 9.1% plunge for Brazil, which is Latin America’s biggest economy and most populous nation. That would be the deepest single-year tumble since at least 1901, when national accounts data from the government’s economics institute begin. Brazil contracted 2% in 1918, the year of the Spanish flu pandemic, according to the institute.
Brazilian President Jair Bolsonaro has argued that hardship inflicted by shutting down economic activity would ultimately be worse than that caused by the virus, even as the nation’s death toll rose to the second highest in the world. Mayors and governors responsible for when and how to restart their economies mostly ignored Bolsonaro’s desire for a swift reopening. Following extended restrictions, cities and states have begun gradually resuming activity.
In late April, Economy Minister Paulo Guedes was still projecting a V-shaped recovery and said Brazil was “going to surprise the world.”
Brazil’s central bank said in the minutes to its most recent monetary policy meeting, released Tuesday, that data indicate economic activity reached its low point in April. Industrial production that month fell 18.8% from the prior month, including an 80% decline in output of durable goods, according to data published June 3. From January to April, Brazil’s economy shed 763,000 formal jobs, a report by the federal government said May 27.
Economists surveyed by Brazil’s central bank currently forecast a 6.5% contraction this year.
Stevenson reported from Mexico City

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FMI prevê recuo maior: (O Globo, 24/06/2020, 20:00hs)

A economia brasileira vai encolher 9,1% em 2020, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). Se confirmada, a queda representará o pior resultado desde 1900. Para 2021, no entanto, a projeção é de crescimento de 3,6%, patamar que aumentou desde o último relatório da entidade.

Em foco: 9,7 milhões de trabalhadores brasileiros estavam sem remuneração em maio, segundo o IBGE. O contingente corresponde a 11,7% da população empregada no país. A perda de renda está relacionada à suspensão temporária dos contratos de trabalho, autorizada pelo governo.



Call for Papers: Special Issue "Beyond COVID 19 Global Health in the spotlight - Volume 64

24-Jun-2020

Dear Dr. Paulo Roberto de Almeida

The field of Global Health has grown in part in response to the need to generate better sustained political and trade demands for more concerted international responses. In this sense, pressing global health challenges have transcended national borders and, due to their centrality to human and societal wellbeing, it has also been increasingly deployed as a tool for accomplishing multiple ends in global politics, whether in foreign policy, in foreign aid, or warfare.

The political structure of contemporary global health governance unfolds diverse dynamics and multidimensional processes with a wide range of actors, shedding light on new reconfigurations of health's international political economy. Concurrently, there has been a meaningful increase in international diplomatic coordination around health, especially in response to global threats (such as HIV/AIDS, SARS, Ebola, Zika virus congenital syndrome, and, more recently, the COVID-19). This can be seen in the way that cardinal international multilateral institutions – from the United Nations General Assembly, the World Bank, and the World Health Organization (WHO) – have converged on seeking to tackle many more global health issues also influenced by significant political and institutional dysfunctions.

The maxim "pathogens do not recognize borders" also requires a critical view of international cooperation in the field of health, delving into changes of States' foreign policies in the field of health, the power dynamics in international organizations, and the inter-relations among health, trade, migrations, and human rights. These topics showcase how the study of global health is increasingly providing new outlooks on some of the core assumptions and debates within IR discipline. In this regard, power asymmetries in the international sphere can offer explanations about why the spotlights are on certain diseases and not others as well as the role of transnational companies in the global epidemics of noncommunicable diseases, planetary health, security studies, HIV/AIDS politics, access to essential drugs, neglected diseases, and gender issues within the global health agenda.

The dimension reached by Covid-19 indicates that the field of global health is at a turning point, more visible than ever. The experts' predictions that a pandemic of devastating effects would occur were confirmed. All attention was turned to WHO, which has become the subject of domestic politics in some of its member states. Although the organization has experienced constant crises in recent decades, it is now being attacked with unprecedented intensity. New leaderships, alliances and agendas are likely to rival existing organizations. Investments in global health programs and the security agenda are likely to increase. To understand the impact of the pandemic on international relations, we must remember that the field of global health is broader and more complex than the Covid-19.

Therefore, this issue aims to raise awareness of global health debates and the reconfiguration of preexisting ideological, geopolitical, and methodological queries in the international realm. Hence, promising methodological and epistemological paths can be explored.

This special issue seeks further contributions on the following topics:

1. corporate influence, philanthrocapitalism, and global health governance;

2. planetary health, sustainability, and its dynamics on global politics;

3. changes in the concepts, approaches, and practices within global health diplomacy;

4. sexual, reproductive, maternal health, mental health and rights in conflict and post-conflict areas;

5. health, aid, crisis, and development;

6. global health security: recurring and emerging issues;

7. law, norms, and human rights in global health;

8. the politics of the health policy process: from global to local.

Deisy Ventura (Full Professor of Ethics at the School of Public Health of the University of São Paulo and president of the Brazilian Association of International Relations) and Danielle Rached (Professor at the Law School of the Getúlio Vargas Foundation, Rio de Janeiro) will edit the volume. All submissions should be original and unpublished, must be written in English, including an abstract which does not exceed 60 words (and 4-6 keywords in English), and follow the Chicago System. They must be in the range of 8,000 words (including title, abstract, bibliographic references, and keywords). RBPI general author’s guidelines can be found here. Submissions must be done at http://www.scielo.br/rbpi (Online Submissions).

Articles can be submitted until March 31th, 2021.As a result of the collapse of public funding for the Brazilian scientific journals, especially those granted by the National Council for Scientific and Technological Development, RBPI had to start charging processing fees for articles approved for publication. The RBPI charges an article publication fee payable by authors whose articles are approved for publication, which is used exclusively to cover the costs of the editorial production services. Authors are encouraged to seek support from their institutions for the full or partial payment of publication fees. RBPI maintains a policy of partial waiver for publication fees, upon the availability of funds, reserved exclusively for doctoral students who prove that they do not have support from their Graduate Studies Programs to cover full or partial payment of the fees.

RBPI is published exclusively online at Scielo (http://www.scielo.br/rbpi), following the continuous publication model. This model gives faster publication for authors and faster access for readers because the articles are published online at the very moment their editorial production is finished. The first segment will be released in March 2021.

A PEC do Banco Central - Helio Beltrão

A PEC do "Orçamento de Guerra" e a bazuca do Banco Central - Hélio Beltrão
Os reais ganhadores e todos os perigos para o resto de nós

Nota do Editor: Hoje, 23/06/2020, foi regulamentada pelo Banco Central a PEC que permite que a instituição, em uma medida inédita, possa comprar ativos privados [como debêntures, carteiras de créditos e certificados de depósitos bancários (CDBs) de bancos e fundos de investimento]. Em coletiva para explicar a medida, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a instituição "prefere pecar para o lado do excesso do que para o da parcimônia".
Abaixo, o artigo que publicamos sobre isso, ainda em abril deste ano.

O Senado aprovou, nesta sexta-feira, a PEC 10/2020, do Orçamento de guerra. 
O objetivo da PEC é separar do orçamento geral da União os gastos para conter os danos causados pela Covid-19.

Este artigo irá abordar exclusivamente as novas e totalmente inéditas atribuições concedidas ao Banco Central.

Bazuca

A PEC autoriza o Banco Central — em tese, apenas durante o estado de calamidade pública, que vai até 31 de dezembro de 2020 — a comprar e a vender tanto títulos públicos quanto títulos privados nos mercados secundários 
Isso é inédito. Até então, o Banco Central sempre foi autorizado apenas a operar títulos públicos com instituições do mercado primário.

Eis como sempre funcionou:
a) O Tesouro Nacional faz leilões de títulos públicos para arrecadar dinheiro e com isso financiar seus déficits. O leilão ocorre no mercado primário, isto é, no mercado em que tudo se origina.
b) As únicas entidades que podem comprar os títulos do Tesouro diretamente nesses leilões são aquelas chamadas de dealers primários.
c) E quem são os dealers no Brasil? Os principais bancos do país e três corretoras. Eis a lista deles.
d) Apenas essas entidades podem participar dos leilões do Tesouro. Apenas elas podem comprar diretamente do Tesouro. Uma vez comprados os títulos, aí sim elas os revendem para todas as outras do sistema financeiro. Este é o mercado secundário.
e) Já o Banco Central faz as suas operações de mercado aberto exatamente junto a estes dealers: ele compra título do Tesouro em posse delas quando quer expandir a base monetária (por exemplo, em uma redução da Selic); e vende títulos do Tesouro para elas quando quer contrair a base monetária (por exemplo, em um aumento da Selic).

Até hoje, isso era tudo o que o Banco Central podia fazer: comprar e vender títulos do Tesouro junto a instituições financeiras listadas como dealers primários. Se uma corretora como Órama ou Easynvest, que operam apenas no mercado secundário, quisessem vender títulos do Tesouro ao Banco Central, não seria possível.

Agora, porém, com o Orçamento de Guerra, tudo mudou. Falando diretamente, o Banco Central não apenas passa a poder comprar títulos do Tesouro em posse de qualquer instituição financeira no mercado secundário (como corretoras que não são listadas como dealers), como também poderá comprar títulos privados em posse de qualquer instituição. 

Eis o que está escrito na PEC:
Art. 8º O Banco Central do Brasil, limitado ao enfrentamento da calamidade pública nacional de que trata o art. 1º, e com vigência e efeitos restritos ao período de sua duração, fica autorizado a comprar e vender: 
I – títulos de emissão do Tesouro Nacional, nos mercados secundários local e internacional; e 
II – os seguintes ativos, em mercados secundários nacionais no âmbito de mercados financeiros, de capitais e de pagamentos, desde que, no momento da compra, tenham classificação em categoria de risco de crédito no mercado local equivalente a BB- ou superior, conferida por pelo menos uma das três maiores agências internacionais de classificação de risco, e preço de referência publicado por entidade do mercado financeiro acreditada pelo Banco Central do Brasil: 
a) debêntures não conversíveis em ações; 
b) cédulas de crédito imobiliário; 
c) certificados de recebíveis imobiliários; 
d) certificados de recebíveis do agronegócio; 
e) notas comerciais; e 
f) cédulas de crédito bancário. 
§ 1º Respeitadas as condições do inciso II do caput deste artigo, será dada preferência à aquisição de títulos emitidos por micro, pequenas e médias empresas. 

Ou seja, o Banco Central agora adquiriu uma verdadeira bazuca. A PEC permitirá que qualquer instituição financeira em posse de títulos emitidos por empresas privadas possa revender esses títulos para o Banco Central, que agora pode criar dinheiro para comprar estes títulos.

Em tese, ao criar este mercado adicional e extremamente líquido para títulos privados, as empresas não mais terão problemas de financiamento. Dado que o Banco Central agora poderá comprar estes títulos no mercado secundário, então foi criada liquidez para estes títulos no mercado secundário. Investidores agora estarão mais dispostos a financiar essas empresas comprando seus títulos emitidos no mercado primário, pois poderão com mais facilidade revendê-los no mercado secundário, onde agora o Banco Central atua.

A PEC ao menos restringe os tipos de papeis que poderão ser comprados e vendidos pelo Banco Central. Como especificado acima, o BC só poderá comprar papeis que sejam classificadas como "BB- ou superior" no mercado local; que tenham comprovação de qualidade de crédito dada por pelo menos uma das três maiores agências internacionais de classificação de risco; e cujo preço de referência tenha sido publicado por entidade do mercado financeiro credenciada pelo Banco Central.
Este "cuidado" foi incluído com o intuito de evitar brechas que permitiam que o BC comprasse "créditos podres", como dívidas vencidas e de difícil recuperação. 

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estimou que a instituição poderá comprar até R$ 972 bilhões em papeis de empresas privadas. 

Os verdadeiros socorridos

A economia moderna se sustenta em um dinâmico sistema interconectado de crédito, formado por poupadores e tomadores de poupança, em geral intermediado pelos bancos. 

Quase toda empresa depende dos bancos para seu capital de giro e financiamento geral. Por sua vez, os bancos se ancoram nos bancos centrais, de cuja solidez depende o sistema.

O crédito tem crescido continuamente ao longo das décadas devido a uma crescente alavancagem de bancos e assim passou a se equilibrar, como uma pirâmide invertida, sobre uma quantidade muito pequena de reservas de caixa e de capital. 

Crises como a do coronavírus geram uma súbita demanda adicional de caixa por todos (bancos, indivíduos e empresas), o que, por sua vez, tende a causar pânico.

A raiz do problema é a enorme alavancagem perante a pequena quantidade de liquidez de curto prazo e de capital. Há conflito de interesses: os brasileiros preferem que haja bastante capital e liquidez nos bancos, mas estes discordam e têm interesse em aplicar os recursos e aumentar os lucros.

No auge da crise de liquidez, tornam-se inevitáveis medidas de exceção envolvendo injeção de liquidez. Walter Bagehot, economista e autor do clássico livro sobre o mercado de crédito "Lombard Street" (1873), é o autor mais citado em crises. Bagehot (pronuncia-se "badget") defendia que o Banco Central deve fornecer liquidez abundante, mas apenas a bancos solventes e a juros punitivos, e não por meios como compra de crédito privado.

O ideal seria que a liquidez adicional viesse de liberações de reservas preexistentes, e não de dinheiro criado "ex nihilo", ou seja, do nada, pelo Banco Central. Nesse sentido, o BC acertou ao liberar, no final de março, parte dos compulsórios sobre depósito a prazo, uma jabuticaba brasileira.

Eis o principal ponto: há espaço de sobra para liberação adicional de liquidez em compulsórios e por relaxamento de exigências de capital e liquidez, o que torna desnecessária a compra de crédito privado sob o argumento de incremento de liquidez.

Por isso, a real motivação parece ser um socorro a bancos e gestores de fundos que emitem ou carregam esses papéis privados, e que agora estão em dificuldades porque o valor de mercado destes papeis desabou e, ao mesmo tempo, está havendo resgates recordes nestes fundos. 

Ou seja, não é um socorro ao brasileiro, que tipicamente não tem ativo financeiro; e, quando detém, em geral é uma aplicação em caderneta de poupança ou em títulos pós-fixados que não sofreram perdas. Tampouco parece ser um socorro a empresas. É um socorro a bancos e a fundos de investimentos.

Dada a baixíssima liquidez desse mercado, há enorme espaço para abusos por meio de compras a um preço distinto do "preco justo", utilizando, por exemplo, como referência preços pré-crise.

Problemas

A compra de créditos privados no Brasil ainda não configura um QE, ou afrouxamento monetário tupiniquim, pois o QE ocorre apenas após os juros nominais serem reduzidos a zero. Ademais, um QE pode ser executado exclusivamente com títulos públicos.
Outro grande problema é que, ao comprar os títulos privados, a qualidade dos ativos em posse do Banco Central piora, e a moeda nacional tenderá a se desvalorizar mais perante as fortes. Uma moeda depende, dentre outras coisas, da qualidade dos ativos em posse da instituição que emite essa moeda. Essa é uma das definições de "qualidade da moeda". Se um Banco Central emite moeda comprando ativos ruins, então a qualidade dessa moeda será afetada. 

E piora: o Banco Central tampouco poderá reverter essa injeção monetária executando a operação contrária, como na política monetária tradicional. Se o BC expandiu a base monetária comprando um título privado de uma empresa que futuramente venha a falir, será impossível ele vender esse título e fazer o devido enxugamento da base monetária. 

Caso ocorra em escala maciça, a própria capacidade do Banco Central de fazer política monetária estará em cheque.

Para concluir

Por fim, mas não menos importante: quais as consequências de uma maciça injeção de dinheiro no mercado secundário em um cenário de restrição da oferta?

Na melhor das hipóteses, o dinheiro fica empoçado no sistema bancário ou apenas circulando no mercado financeiro. Se ele vazar para a economia real, teremos um cenário de mais dinheiro correndo atrás de menos bens e serviços. 

O leitor conhece o resto da história.

VERGONHA da política externa subordinada - Paulo Roberto de Almeida

‪Puxa vida!
Pensei que os militares fossem mais patriotas.
É até inconstitucional — está no Artigo 4 da CF-1988 — subordinar de forma tão  completa e de maneira tão absurdamente dependente os altos interesses nacionais e a política externa do Brasil não só a uma potência estrangeira, assim como a um dirigente específico (“I love you Trump”), como fazem o presidente e seus medíocres aspones diplomáticos.
Os militares não vão reagir?
Vão deixar que a subordinação se perpetue indefinidamente?
Continuaremos a ser assim tão servis?‬
Os militares não veem que estamos sendo ridicularizados no plano internacional?
Não perceberam ainda que estamos completamente isolados até mesmo no continente e nas relações com nossos vizinhos e parceiros do Mercosul?
Não perceberam que o chanceler foi abjetamente capacho ao ter desistido de apoiar um brasileiro na presidência do BID e que, para se opor a um candidato argentino, foi até ao extremo de expedir uma nota oficial apoiando o candidato de Trump sem sequer saber de quem se tratava? Nem se deu ao trabalho de consultar o Itamaraty, os demais setores do governo, de se coordenar na região.
Dobrou-se ao capricho de seus mestres em Washington. Nada menos que isso!
Automaticamente! Sabujamente!
Trata-se de uma RUPTURA tão extrema em relação ao que está estabelecido DESDE 1960, que CINCO ex-presidentes latino-americanos tiveram de fazer uma declaração contrária a essa decisão de Trump.
Os militares vão deixar que continue essa enorme VERGONHA que é ver o Brasil ser RIDICULARIZADO na própria região?
Não se deram ainda conta de que esse governo subordina interesses concretos da nacionalidade a posturas ideológicas absolutamente ridículas pelo seu anacronismo político?
Não, não estou pedindo que as FFAA deem um golpe. Estou sugerindo que elas, e eles, os MILITARES, deixem de apoiar um presidente tão inepto e tão antinacional quanto o atual e um chanceler abjetamente subordinado a outros ineptos conselheiros.
No ponto em que estamos, tenho MUITA VERGONHA de nossa diplomacia e de suas posturas ridículas no plano externo.
Os militares deveriam pensar um pouco...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24/06/2020

Oliveira Vianna e a venalidade dos juízes brasileiros - excertos selecionados por Paulo Kramer

Meu amigo Paulo Kramer selecionou um trecho especialmente ferino de Oliveira Viana sobre os juízes brasileiros. Desconfio que ele queira se vingar da categoria...
Paulo Roberto de Almeida

Em Populações Meridionais do Brasil (1920), Oliveira Viana descreve a parcialidade e a corrupção grassantes no nosso estamento Judiciário desde os tempos coloniais:

“Os homens poderosos, os que dispõem de cabedais e prestígio, estão sujeitos à parcialidade e à venalidade dos magistrados. Frei Manuel Calado conta que um tal Gaspar de Mendonça, rico senhor de engenho e naturalmente dado à ironia, que, irritado pelas injustiças que lhe fazem os juízes de Pernambuco, sai para a praça pública e, em altos brados, põe-se a exclamar: ‘Aonde estão os irmãos da Santa Casa de Misericórdia, tão zelosos nas obras de caridade e do serviço de Deus? Venham aqui para darem sepultura à Justiça, que morreu nesta terra e não há quem a enterre honradamente.’

“Os juízes jogam, com uma das suas principais atribuições, uma arma que, podendo ser manejada contra os homens de qualificação, é das mais terríveis: — a faculdade de tirar ‘residências’ e proceder ‘devassas’, só abolida em 1821. Essa faculdade é usada com o arbítrio mais odioso. É o enxovalho, a vindita, a perseguir legalizada — ‘campo aberto a todas as facções para se digladiarem, o vasto laboratório da calúnia e difamação, elevado pela lei ao caráter de instituição regular e permanente’.

“Esse espírito de parcialidade e faccionismo inspira todos os julgamos e domina todo o mecanismo processual. Os mandados de execução por dívida são, às vezes, feitos sem nenhuma formalidade legal e contra os preceitos estabelecidos. Outras vezes, prende-se arbitrariamente um indivíduo por ter movido a outro um pleito de justiça.

[. . .]

Essa justiça é uma injustiça rapace. Então, mais do que hoje, a voracidade dos meirinhos, dos escrivães, dos juízes prevaricadores é insaciável. Fintam-se com o maior descaro as partes litigantes. Certos magistrados declaram mesmo que os seus vencimentos constam de emolumentos que as partes devem pagar e abrem com isto a porta das maiores extorsões. 

Em: VIANA, Oliveira, Populações Meridionais do Brasil (Populações Rurais do Centro-Sul), vol. I de Intérpretes do Brasil, coordenação, seleção de livros e prefácio de Silviano Santiago (Rio: Nova Aguilar, 2000), pp. 1036-1037.

terça-feira, 23 de junho de 2020

O fascismo entra no Itamaraty, por decisão do chanceler acidental- Guilherme Amado (Época)

O fascismo é aquela doutrina autoritária, tradicionalista, fundamentalista, que levou milhões de europeus — e vários outros milhões ao redor do mundo — à ESCRAVIDÃO ao Estado, com consequências terríveis para os povos que elegeram (ou foram vítimas de) líderes fascistas ao poder, basicamente na Itália, Alemanha, Japão e alguns outros. Sendo breve, os fascistas levaram esses países à completa ruína, e foram responsáveis pela morte de MILHÕES de pessoas, militares, civis inocentes, cidadãos de outros países.
Junto com o comunismo, o outro totalitarismo genocida, o fascismo provocou a morte, direta e indiretamente, de dezenas de MILHÕES DE PESSOAS, num século que foi o mais mortífero da história. Esse sistema não se impôs apenas pela força bruta, pois ideias são responsáveis pela ação tomada de decisão, pelos meios práticos, no emprego da violência, por certos líderes políticos FASCISTAS. Pensadores fascistas são tão criminosos quanto os executores.
Uma sociedade democrática, baseada nas liberdades, deveria EXECRAR o fascismo, pois ele significa MORTE E ESCRAVIDÃO.
O FASCISMO ACABA DE ADENTRAR NO ITAMARATY!
Por obra do chanceler acidental!
Paulo Roberto de Almeida

ERNESTO ARAÚJO NOMEIA ESPECIALISTA EM FILÓSOFO FASCISTA PARA BANCA EXAMINADORA DO ITAMARATY

César Ranquetat se disse 'encantado com o pensamento evoliano'


O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo Foto: ADRIANO MACHADO / Reuters
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo Foto: ADRIANO MACHADO / Reuters
Ernesto Araújo nomeou um especialista em Julius Evola, filósofo italiano simpático ao fascismo, para a banca examinadora do Instituto Rio Branco, braço do Itamaraty para formação de diplomatas.
César Alberto Ranquetat Júnior foi nomeado pelo chanceler para o posto na sexta-feira 19.
Ranquetat é considerado o maior especialista em Evola no Brasil.

Julius Evola Foto: Reprodução
Julius Evola Foto: Reprodução

Em 2014, disse Ranquetat em uma conferência em homenageam a Evola, na Argentina:
"Fiquei encantado com o pensamento evoliano, principalmente pela coragem e audácia de Evola. É um autor de uma coerência, retidão e clareza inigualáveis", e acrescentou:
"A ideia de realizar encontros evolianos no Brasil, modéstia à parte, surgiu da minha pessoa. Minha ideia era que o pensamento de Evola se expandisse, se difundisse de maneira mais significativa em setores políticos, mundo da cultura, etc".

César Ranquetat Foto: Reprodução
César Ranquetat Foto: Reprodução

O filósofo italiano Julius Evola (1898-1974) defendia o fascismo para reforçar o caráter "aristocrático e espiritual" das nações, como mostrou reportagem de ÉPOCA sobre as bases da obra de Olavo de Carvalho.
Evola escreveu sobre uma nova civilização tradicionalista, que chamou de "civilização solar".
(Por Guilherme Amado e Eduardo Barretto)