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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

CELSO AMORIM: o Brics vai se fortalecer - Entrevista Sputnik Brasil (247)

Celso Amorim: Lula foi responsável não só pela projeção como pela criação do BRICS

Ex-chanceler brasileiro fez um balanço da atuação do grupo e projetou o cenário para o BRICS no caso da eleição de Lula, como as pesquisas eleitorais vêm apontando.

Por Marina Lang, da Sputnik Brasil - 

3 de agosto de 2022, 18:27 h

https://www.brasil247.com/brasil/celso-amorim-lula-foi-responsavel-nao-so-pela-projecao-como-pela-criacao-do-brics

Quando o economista Jim O'Neil publicou seu artigo "Building Better Global Economic BRICs" ("Construindo uma melhor economia global BRICs", em tradução livre), em 2001, talvez sequer imaginasse que, sete anos depois, ministros das Relações Exteriores de Brasil, Rússia, Índia e China estivessem juntos em um encontro.

O ano era 2008, a África do Sul ainda não era o "S" da coalizão de países e quem representava o "B" de Brasil nesse acrônimo internacional era o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, durante a segunda gestão do então presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atual líder isolado na disputa presidencial das eleições brasileiras deste ano.

Quatorze anos depois, as placas tectônicas da geopolítica mundial se movimentaram. Muita coisa mudou, mas o BRICS segue sendo um dos grupos mais importantes na nova ordem de um mundo multipolar. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o BRICS concentra 31,8% do produto interno bruto (PIB) global atualmente.

De lá para cá, o ex-chanceler brasileiro fez um balanço da atuação do grupo em entrevista exclusiva de pouco mais de uma hora concedida à Sputnik Brasil na última segunda-feira (1º), além de projetar o cenário para o BRICS no caso da possível eleição de Lula, como as mais recentes pesquisas eleitorais vêm apontando.

Amorim aponta as similaridades entre o grupo, mas enfatiza, principalmente, duas grandes diferenças entre os países que o compõem: a questão das armas nucleares — sobre a qual defende veementemente a eliminação total delas — e a dificuldade de se encontrar um consenso sobre a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que considera urgente e cujo entrave principal, em sua avaliação, se encontra na posição chinesa a respeito.

"O Brasil é membro do BRICS, mas o Brasil também é membro da Coalizão da Nova Agenda, com países variados, como Nova Zelândia, que querem a eliminação total das armas nucleares. Porque nós partimos do pressuposto de que, enquanto existir algum país com arma nuclear, o risco existe. Em geral, as potências nucleares falam muito em não proliferação. Tudo bem, mas temos que falar na eliminação das armas nucleares", sublinha. 

Veja abaixo os principais trechos da entrevista do ex-chanceler Celso Amorim sobre o BRICS, parte de uma série publicada ao longo desta semana.

Sputnik Brasil: Qual a importância que o grupo terá em um eventual novo governo Lula, considerando que o Lula foi um dos grandes responsáveis pela projeção do grupo?

Celso Amorim: Pela projeção eu nem diria. Eu diria que pela criação mesmo. O termo BRICS tinha sido inventado por um economista do Goldman Sachs, Jim O'Neil. Uma vez eu o encontrei e disse: "Foi você quem inventou o BRICS, né?" E ele disse: "Foi". E eu disse: "Mas nós é que criamos". Porque, na realidade, era apenas um acrônimo para definir países com alguma semelhança. E ele não incluiu a África do Sul, na verdade.

Eu acho que certamente o BRICS vai ter muita importância [no possível governo Lula em 2023]. Eu acho que o mundo evoluiu de lá para cá. Embora a China já fosse a economia mais forte, ela também se comportava com uma certa timidez, com um certo cuidado, eu diria, nas relações internacionais. E agora essa situação é diferente. Então, a meu ver, é preciso também que haja um certo equilíbrio dentro do BRICS. Isso exige que todos se articulem.

Acho que é certa uma ampliação do BRICS; já há uma proposta, um convite feito à Argentina. Da minha parte (e eu nem conversei com o presidente Lula sobre isso), eu sou totalmente a favor, porque eu acho que isso apenas fortalece o Brasil e fortalece a América do Sul, porque nós caminhamos para um mundo de blocos. Há outros países que podem participar, e isso pode ser considerado.

Agora, não devemos ter a imagem do BRICS sendo um grupo que é contra outro. Eu acho que ele é parte de um equilíbrio global. Mas o Brasil, por exemplo, não deixará de ter uma parceria estratégica com a União Europeia [UE] nem deixará de ter um diálogo especial com os Estados Unidos. Em alguns momentos funciona, em alguns momentos não funciona. Mas eu acho que cada um dos países do BRICS tem situações análogas. Ele [o BRICS] é parte dessa pluralidade de articulações que constituem a teia complexa das relações internacionais de hoje, o que é muito importante.

Na área econômica ele revelou grande importância: foi a primeira vez que teve uma pequena reforma no sistema de cotas do FMI, e também influiu nas decisões tomadas no G20. Também é importante em certas áreas como energia, alimentos... Enfim, tem muita coisa que se pode fazer em comum, tem muita afinidade entre os países [do BRICS].

SB: Dentro desse contexto de nova ordem multipolar, de que maneira o Brasil poderia se beneficiar, sendo um dos integrantes do BRICS?

CA: O BRICS não se opõe, o BRICS é parte dessa ordem. Eu acho que isso nos dá alternativas. Eu acho que o Brasil não tem que estar com todos os ovos em uma única cesta. É muito bom ter boas relações com os EUA, é muito bom ter relações com a UE; nós somos a favor, fortemente, disso. Mas também é muito bom ter com os países do BRICS e com outros países, aliás, com a África, com a América do Sul; fortalecer a integração com a América do Sul e a América Latina é absolutamente fundamental. Então você tem que atuar em várias direções. Para usar uma expressão: alianças de geometria variável.

Então depende muito do ponto, e nós temos muitos pontos em comum com o BRICS. Mas em um ponto, por exemplo, nós não temos, que é a reforma do Conselho de Segurança [da ONU]. Até hoje nós não conseguimos um apoio unânime à necessidade de reformar o Conselho de Segurança com novos membros permanentes. Isso, para nós, é um ponto fundamental, porque é a raiz do desequilíbrio na organização mundial. Eu acho que a Rússia tem sido até um pouco mais flexível, pelo menos ao verbalizar posições, mas a China é muito rígida nesse ponto. Ela não fala que é contra, mas não faz nenhum movimento para que isso ocorra. Enfim, então, é assim.

Dois países do BRICS são possuidores de armas atômicas e reconhecidos como potências nucleares pelo TNP [Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares]. Um outro país do BRICS tem armas atômicas sem ser membro do TNP, que é a Índia, e dois outros são países que renunciaram às armas nucleares. Então isso também nos dá uma mudança de visões, quer dizer, o Brasil é membro do BRICS, mas o Brasil também é membro da Coalizão da Nova Agenda, com países variados, como Nova Zelândia, que querem a eliminação total das armas nucleares. Porque nós partimos do pressuposto de que, enquanto existir algum país com arma nuclear, o risco existe.

Em geral, as potências nucleares falam muito em não proliferação. Tudo bem, mas temos que falar na eliminação das armas nucleares.

SB: Na semana passada, a imprensa brasileira divulgou que Lula estava planejando se reunir com os embaixadores do BRICS e, em seguida, com outros embaixadores. Por que separar as reuniões, isto é, primeiro com os BRICS e depois com os outros?

CA: O Lula não é uma autoridade para convocar embaixadores. Aliás, é o presidente [Jair] Bolsonaro quem faz isso (e eu nunca vi isso, mas enfim). Ele [Lula] está conversando, e é uma conversa mais produtiva se ela é uma conversa em grupo. Não é só sobre esse tema. Mais amplamente, é sobre a cooperação bilateral. Ele não está convocando, as oportunidades surgem. Acho que é natural que ele faça e esteja discutindo. Há a questão de que os embaixadores europeus estão de férias neste período.

Lula esteve [nos últimos meses] na França, na Alemanha, na Espanha e na União Europeia. Quanto à América Latina, ele foi à Argentina, foi ao México. Então o BRICS era um pouco o que estava faltando.

Como não há condição de visitar os quatro países do BRICS, é uma das maneiras de ele ter uma reunião com eles.

SB: No tema das reservas internacionais em dólar, o senhor acha que o Brasil deveria ampliar a cesta de moedas e incluir o yuan e o rublo, sobretudo ante o congelamento dos ativos russos?

CA: Já discutimos no BRICS, no tempo em que eu ainda era ministro. Estávamos começando uma discussão sobre a possibilidade do uso das moedas, de se fazer o comércio com as moedas locais, com as moedas nacionais. Acho que seria uma boa maneira de contornar certos problemas com o dólar. Não sou economista, mas na nossa cesta de reservas eu sei que o yuan já entra um pouquinho. Muito pouquinho, mas entra.

Mas o que eu vejo no comércio do BRICS é que se poderia fazer um comércio entre os países do BRICS ou bilateralmente, entre dois deles, em moedas locais. Isso seria uma maneira de incentivar o comércio e de se colocar fora do risco dessas sanções. Agora, se você vai trocar as moedas por outra moeda, isso é uma coisa complicada, acho que não é uma coisa que um país, sozinho, vai decidir.

SB: China e Rússia defendem uma moeda para o BRICS. O senhor defende uma moeda própria para o BRICS? Como facilitar as transações econômicas entre os membros do grupo?

CA: Isso é complexo porque a moeda, essencialmente, é confiança. Antigamente havia o ouro que lastreava a moeda, hoje em dia não tem. Para se chegar a uma moeda comum é um caminho muito longo. O que eu acho razoável pensar é ter contas de comércio bilateral, ou pode ser plurilateral, do BRICS usando moedas nacionais. Isso eu acho que é possível, e há uma maneira de você se colocar fora, digamos, do império do dólar. Não porque se é contra o dólar, mas porque não se quer estar sujeito a isso. E isso acho que é possível.

Agora, pensar em uma moeda do BRICS… Acho que as economias têm dimensão muito desproporcional entre China e África do Sul, por exemplo. Agora, sim, procurar libertar o comércio e os investimentos desses países do império do dólar é razoável. Ou de qualquer outro império, nada contra especialmente o dólar, mas de qualquer outro império.

O meio ambiente e a política externa - Rubens Barbosa (OESP)

 O meio ambiente e a política externa

O Estado de S. Paulo | Espaço Aberto
09 de agosto de 2022

Rubens Barbosa

A partir da guerra na Ucrânia, a ameaça concreta de falta de energia, em especial do gás, agravada pela forte alta dos preços no mercado internacional, trouxe um retrocesso nos compromissos ambientais assumidos pelos países europeus. A reabertura de usinas a carvão na Alemanha e outras medidas em diversos países vão em sentido contrário às políticas de redução de emissões de gás carbônico. Os países que cobram uma atitude mais firme do Brasil na defesa do meio ambiente e nas políticas de mudança de clima, por circunstâncias internas, veem-se forçados a utilizar meios de geração de energia que condenam, por serem contrários às políticas ambientais que defendem.

Pela primeira vez na História o Brasil ocupa uma posição de grande visibilidade e influência na mais importante e estratégica questão global para o futuro da humanidade.

As novas preocupações globais com a preservação do meio ambiente e a mudança de clima colocaram o Brasil em situação de destaque no contexto internacional. O Brasil, como nunca antes, se encontra no centro das discussões sobre o tema global (não militar) mais relevante e que concentra a atenção de todos os países nas discussões multilaterais e mesmo bilaterais, com repercussão sobre a totalidade dos membros da comunidade internacional. Desde 1992, quando da realização da cúpula sobre meio ambiente, a Eco-92, o Brasil passou a desempenhar um papel de relevo nas negociações e envolveu-se fortemente em todos os acordos negociados até o Acordo de Paris, em 2015, mas nunca o tema da mudança de clima ganhou as dimensões atuais.

A preocupação com o aquecimento do planeta adquiriu proporções inusitadas, pela perspectiva real do aumento do nível dos oceanos, do desaparecimento de ilhas-países e de grande parte de países com litorais vulneráveis, além do impacto sobre a agricultura, que, no médio e no longo prazos, poderá vir a ser afetada pela desertificação ou por grandes inundações, como resultado da alteração dos regimes pluviais, com a destruição das florestas e a não redução do aquecimento planetário.

Nas últimas reuniões do G20 e na COP-26 houve uma evolução da atitude e das posições políticas do governo em relação a essas discussões, apesar de tudo. O Brasil está de volta e se apresenta como parte da solução, com contribuições para a formação do mercado global de carbono, a redução do metano e a antecipação do fim do desmatamento da Amazônia. O Brasil poderá voltar a ter um papel especial nessas negociações e relevância global pela importância do bioma amazônico, pelo maior reservatório de água doce do mundo, pela importância da matriz energética limpa, pelo papel como potência agrícola e pelas soluções que já está produzindo para a redução das emissões de gás de efeito estufa.

Pela primeira vez na História 0 Brasil ocupa posição de visibilidade e influência na mais importante e estratégica questão global para o futuro da humanidade

Fontes inesgotáveis e diversificadas de energia renovável (solar e eólica), o potencial da biomassa e da biodiversidade, a produção de etanol, que reduz a poluição dos transportes, são contribuições do País para as discussões sobre o desenvolvimento sustentável, a preservação do meio ambiente e a mudança de clima. O desenvolvimento do mercado de carbono entre Estados e o voluntário entre empresas poderá trazer um grande volume de recursos para o País e ajudará a mitigar o problema de emissão de gás na atmosfera.

Com as necessárias mudanças de políticas ambientais, governo e sociedade em geral poderíam aproveitar essa grande oportunidade. A questão não se deve limitar às discussões ambientais, mas ampliar-se para o exame de como o meio ambiente pode trazer recursos externos, ajudar a fortalecer a projeção externa do País e como o Brasil, afinal, poderá encontrar um lugar no mundo que corresponda efetivamente ao seu potencial.

No momento em que as contradições nas posições ambientais dos países desenvolvidos se agravam, está sendo publicado o livro Diplomacia ambiental, que vai suprir a falta de uma completa e independente informação interna dos compromissos internacionais assumidos em 15 acordos pelos diferentes governos brasileiros nas últimas décadas e confirmar ou corrigir a crescente percepção externa negativa sobre as políticas ambientais atuais. O trabalho esclarece a evolução dos processos gerados pelo resultado das negociações e pela internalização dos acordos examinados, que se tomam parte da legislação nacional. O livro mostra os compromissos cumpridos ou em processo de cumprimento e os não cumpridos, e, por isso, poderá ser um instrumento valioso para o governo e para o setor privado na defesa do interesse nacional e no restabelecimento da credibilidade externa do País, substancialmente deteriorada.

Fica muito claro, contudo, que há muito a ser feito para colocar o Brasil novamente como um real protagonista nos entendimentos bilaterais e nos fóruns internacionais sobre meio ambiente. Em paralelo ao lançamento deste livro, o resultado do trabalho Diplomacia ambiental já pode ser acessado por meio do e-book no portal Interesse Nacional: wvw.interessenacional.com.br.

O trabalho oferece um roteiro para que, a partir de 2023, meio ambiente e mudança de clima possam estar no centro da política externa e serem definidos como a principal prioridade da ação oficial para a recuperação da credibilidade externa.

PRESIDENTE DO INSTITUTO RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Russia has lost up to 80,000 troops in Ukraine. Or 75,000. Or is it 60,000? - Olivier Knox (The Washington Post)

The Washington Post, August 9, 2022 

 By Olivier Knox
with research by Caroline Anders
 

The big idea

Russia has lost up to 80,000 troops in Ukraine. Or 75,000. Or is it 60,000?

Ukrainian President Volodymyr Zelensky during an interview with The Washington Post at his office in Kyiv, Ukraine, on August 8. (Heidi Levine/The Washington Post).

Ukrainian President Volodymyr Zelensky during an interview with The Washington Post at his office in Kyiv, Ukraine, on August 8. (Heidi Levine/The Washington Post).

On July 20, the CIA said Russia had suffered 60,000 casualties in Ukraine since widening its war there Feb. 24. On July 27, the Biden administration told lawmakers Moscow’s losses ran to 75,000 killed and woundedOn Monday, the Pentagon’s number crept higher, to up to 80,000.

Even 60,000 would be catastrophic. Over two decades of war in Afghanistan, the United States endured 2,448 dead and more than 20,000 wounded. At, 80,000, it would be more than half the 150,000 troops Russia was estimated to have massed on Ukraine’s border by Feb. 23.

But if you think it’s unlikely that Moscow lost 15,000 over the stretch of a week, you’re right. Instead, officials are working not from a fixed number but a scale, and some go with the higher end, while others are more confident at the lower end.

  • “It’s always a range. And, you know, there’s no perfect number,” CIA Director William Burns told the Aspen Security Forum on July 20. “I think the latest estimates from the U.S. intelligence community would be, you know, something in the vicinity of 15,000 killed and maybe three times that wounded, so a quite significant set of losses.”

(“Russia classifies military deaths as state secrets even in times of peace and has not updated its official casualty figures frequently during the war. On March 25 it said 1,351 Russian soldiers had been killed,” Reuters reported July 20.)

WHY IT MATTERS

This isn’t a “gotcha.” The Daily 202 wanted to look at the casualty number because so much U.S. policy toward Ukraine aims to escalate the cost to Russia of sustaining its war there, and so much of U.S. analysis of the conflict asks the question “how much more can Moscow take?”

 

On Monday, those two dynamics were very much in evidence as Undersecretary of Defense for Policy Colin Kahl briefed reporters about a fresh disbursement of $1 billion in military aid for Kyiv — the largest U.S. package to date.

  • “There's a lot of fog in war, but, you know, I think it's safe to suggest that the Russians have probably taken 70- or 80,000 casualties in less than six months,” Kahl said. “That number might be a little lower, a little higher, but I think that's kind of in the ballpark.”

Asked how long Russia could sustain that, Kahl replied: “A lot of it would depend, I think, on the political decisions that Vladimir Putin will make ultimately about whether he can continue to recruit and send additional forces to the front, whether he was at some point, you know, willing to engage in national mobilization or some other effort.”

ZELENSKY WANTS MORE

Escalating the costs for Russia was also central to The Washington Post’s interview with Ukrainian President Volodymyr Zelensky, who pressed the United States and its allies to ban all Russian citizens.

Russians should “live in their own world until they change their philosophy,” he said, my colleague Isabelle Khurshudyan reported Monday. “Whichever kind of Russian … make them go to Russia.”

That’s a bridge too far for President Biden’s administration, according to a U.S. official who spoke on the condition of anonymity to be more candid.

“We would not want to implement a total ban on all Russians,” the official told The Daily 202.

  • A total ban would mean denying entry to Russian dissidents and those who have criticized the war, as well as those who are “persecuted for politics or sexual orientation,” and that would upend a “bedrock principle” that Americans welcome such people, the official said.

It would also run against a theme Biden has woven into his rhetoric about the war, namely that America’s quarrel is with Putin and his government, not the Russian people, the official said.


 

But that has been something of a mixed message. The unprecedented economic sanctions the United States and its partners have leveled on Russia since February are surely hitting the Russian people, while Putin rages against them but hasn’t relented in Ukraine.


Estado de Direito Sempre: assine você também a carta-manifesto em defesa do Estado Democrático de Direito

Falta pouco para chegarmos ao primeiro milhão, no dia 11 de agosto. Para o dia 2 de outubro, a meta é de mais de dois milhões. Vamos lá minha gente: mobilizem familiares e amigos para aumentar o apoio da sociedade ao Estado democrático de Direito.


Paulo Roberto de Almeida
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Encontro!

11 de agosto, às 10h 
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Faculdade de Direito da USP
Largo de São Francisco, 95






estadodedireitosempre.com 



Notícias da guerra: a Rússia pode ter "perdido" quase a metade da força de invasão mobilizada em fevereiro de 2022, segundo os EUA

Putin vai ter de "engolir" essas mortes, em algum momento em que elas se tornarem públicas para a população russa. Entra ainda em seu passivo o enfraquecimento econômico e tecnológico, e portanto militar, da Rússia, um legado que sua insana guerra de agressão produziu gratuitamente.

Up to 80,000 Russian casualties in Ukraine, Pentagon official says

From CNN's Ellie Kaufman

Between 70,000 and 80,000 Russians have been killed or wounded during the war in Ukraine, Colin Kahl, Defense Department undersecretary for policy, said during an on-camera briefing at the Pentagon on Monday. 

“I think it’s safe to suggest that the Russians have probably taken 70 or 80,000 casualties in less than six monthts. Now that is a combination of killed in action and wounded in action, that number might be a little lower, little higher, but I think that’s kind of in the ballpark,” Kahl said.

Kahl said that number of casualties from Russian forces is “remarkable” considering Russia has “achieved none of Vladimir Putin’s objectives” since invading Ukraine at the end of February.

“The Ukrainian morale and will to fight is unquestioned, and much higher I think than the average will to fight on the Russian side, so I think that gives the Ukrainians a significant advantage,” Kahl added.

CNN, 8:37 p.m. ET, August 8, 2022

Pentagon announces extra $1 billion in security assistance for Ukraine 

From CNN's Barbara Starr and Ellie Kaufman

The US Defense Department Monday announced a $1 billion package of additional weapons and security assistance for Ukraine in the latest round of military aid. 

It is “the largest single drawdown of US arms and equipment” since August 2021, according to a Pentagon statement. This marks the eighteenth drawdown by the Pentagon.

What the package includes: The package for the first time will have munitions for the National Advanced Surface-to-Air Missile Systems (NASAMS), a US-Norwegian air defense system the Ukrainians need for shooting down Russian cruise missiles aimed at population centers. 

The transfer of NASAMS itself could still be some days away according to US defense officials. The first system to arrive is expected to be from Norway, which can get it to Ukraine quicker than the US. 

This package focuses heavily on additional ammunition and weapons that Ukrainian forces have used successfully against Russian forces in eastern Ukraine. There is additional ammunition for High Mobility Artillery Rocket Systems (HIMARS), 75,000 rounds of 155mm artillery ammunition and 1,000 Javelin anti-tank weapons among key items. This is the first transfer of Javelin’s announced since June. There are also hundreds of AT4 anti-armor weapons included. 

Eleições brasileiras de 2022: desimportância do Brasil no contexto da crise geopolítica mundial - Oliver Stuenkel (OESP)

 O mundo não vai ficar olhando para o Brasil, golpe ou não golpe, pois existem problemas mais dramáticos na agenda das grandes potências.


Eleições no Brasil perdem visibilidade por causa da crise geopolítica global

Guerra na Ucrânia, tensão sobre Taiwan e eleições nos EUA e na Itália tiram pleito brasileiro da lista de prioridades nas capitais internacionais

Estadão, 09/08/2022 | 10h05
Coluna
Oliver Stuenkel

O mundo vive hoje a mais séria crise geopolítica desde o colapso da União Soviética há mais de trinta anos. Tanto a guerra na Ucrânia quanto a tensão envolvendo Taiwan, China e Estados Unidos não terão solução simples e devem elevar o nível de instabilidade global por tempo indeterminado. Além disso, as eleições gerais na Itália em setembro e as parlamentares nos Estados Unidos em novembro absorvem a atenção de diplomatas mundo afora, haja vista o impacto que os resultados desses pleitos terão para além de suas respectivas fronteiras. Se a aliança da direita nacionalista obtiver maioria parlamentar em Roma, como as pesquisas sugerem atualmente, a Itália poderá minar a união ocidental em torno das sanções econômicas contra a Rússia. Se o Partido Republicano conseguir retomar a maioria das cadeiras na Câmara e no Senado dos EUA, o governo Biden ficará praticamente paralisado até o fim de seu mandato, e aumentará a preocupação europeia com o possível retorno de um trumpista à Casa Branca – afinal, como relata John Bolton, ex-assessor do presidente Trump, o ex-presidente republicano planejava tirar os EUA da OTAN no segundo mandato, passo que produziria verdadeiro cataclismo geopolítico mundial.

Diante de tantos focos de instabilidade, agravados pela expectativa de uma onda de calotes no mundo em desenvolvimento e uma possível crise de fome por causa da guerra na Ucrânia, o pleito brasileiro em outubro não aparece hoje na lista dos principais desafios geopolíticos. Para empresas multinacionais, por exemplo, a possibilidade de uma aproximação diplomática da Itália com a Rússia pode ter mais impacto nos mercados do que um “6 de janeiro à brasileira”.

Mesmo para governos latino-americanos, o resultado das ‘midterms’ norte-americanas pode ter consequências mais amplas do que as eleições brasileiras, devido, entre outros fatores, ao papel cada vez mais tímido do Brasil na arena internacional ao longo dos últimos anos. De fato, é difícil lembrar qual foi a mais recente iniciativa diplomática brasileira na América Latina, no G20, no grupo BRICS ou em qualquer outro fórum multilateral. Diante da provável piora na relação entre o Ocidente e a Rússia e a crescente tensão envolvendo Taiwan, futuros governos brasileiros terão cada vez mais dificuldade em pautar a agenda global.

Isso não quer dizer que observadores internacionais não estejam de olho no cenário eleitoral brasileiro. Não há dúvida, porém, de que o tempo e a atenção que a imprensa e outros formadores de opinião mundo afora reservarão às eleições brasileiras em outubro serão mais limitados. Na prática, essa situação também reduz a disposição de governos no exterior de tomarem a dianteira diplomática se houver qualquer tipo de instabilidade pós-eleitoral no Brasil – por exemplo, pressionando o candidato derrotado a reconhecer logo o resultado das urnas caso demonstre resistência a fazê-lo. Afinal, se há um consenso nas chancelarias mundo afora é o de que a humanidade não precisa de mais uma crise geopolítica.

https://www.estadao.com.br/politica/instabilidade-geopolitica-global-reduz-atencao-internacional-as-eleicoes-brasileiras/

O golpe será televisionado, em todos os canais abertos: não precisa de ingresso - Patrícia Campos Mello (FSP)

 Acho que o desenvolvimento do golpe está sendo feito às claras. Não se pode dizer que não ser trata de uma inovação bolsonariana: como é do Bozo será derrotado. E não precisa de Task Force naval americana para, desta vez (e diferente de 1964), para IMPEDIR o golpe. Faremos por nossa própria conta.

Paulo Roberto de Almeida

Convocações golpistas para o 7 de Setembro explodem em grupos de mensagens

Levantamento da UFMG indica crescimento de 290% na última semana de julho em comparação com mesmo período em junho

Filha de São Paulo, 9/08/2022

A circulação de mensagens com menções ao 7 de Setembro em grupos de WhatsApp explodiu na última semana de julho, com crescimento de 290% em comparação com o mesmo período de junho, aponta levantamento do Monitor de WhatsApp da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Segundo a sondagem, feita a pedido da Folha, as mensagens mais compartilhadas citam convocações do presidente Jair Bolsonaro (PL) a apoiadores e têm cunho golpista, com referências a intervenção militar e destituição de juízes do Supremo Tribunal Federal e afirmações falsas sobre as urnas eletrônicas.

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Dentre os mil grupos públicos de WhatsApp monitorados pela UFMG, 469 enviaram mensagens relacionadas ao 7 de Setembro entre 1º de junho e 1º de agosto.

Foram 4.184 mensagens, 69% das quais circularam em grupos de direita, 25,9% em grupos indefinidos —de temática política, mas não alinhados claramente a alguma ideologia— e 5,1% em grupos de esquerda.

"Bolsonaro convocou apoiadores a se unirem a ele no 7 de Setembro, e isso se refletiu, naturalmente, em grupos de WhatsApp e Telegram, que têm apresentado uma grande mobilização, com a organização de caravanas ou conversas sobre o 7 de Setembro como a última vez em que vão às ruas", afirma Fabrício Benevenuto, professor de ciência da computação da UFMG e coordenador do projeto Eleições sem Fake.

"O problema é que muitas dessas mensagens vêm acompanhadas de ataques aos ministros do STF e às urnas eletrônicas e de desinformação relacionada ao processo eleitoral. É preocupante que nos grupos pró-Bolsonaro a convocação para participar dos atos passe por ruptura dos processos democráticos, intervenção militar e ataque às urnas eletrônicas. Parte da motivação envolve extremismo."

O presidente chamou apoiadores para irem às ruas no 7 de Setembro durante discurso na convenção do PL que oficializou sua candidatura. "Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez. Vamos às ruas pela última vez", disse na ocasião, sob gritos de "mito".

Bolsonaro aproveitou a mesma fala para atacar os ministros do STF, sem mencionar nominalmente seus principais alvos, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.

"Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Entender que quem faz as leis são os Poderes Executivo e Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Isso interessa a todos nós", afirmou.

Em edital publicado no Diário Oficial do Município de quinta-feira (4), a Prefeitura do Rio contrariou os planos do presidente e manteve o desfile na região central, não na orla de Copacabana.

No último sábado (6), Bolsonaro reafirmou que participaria do ato em Copacabana no 7 de Setembro, mas, dessa vez, não citou a participação das Forças Armadas.

A mensagem de texto mais compartilhada nos grupos de WhatsApp monitorados pela UFMG foi enviada 175 vezes em 117 grupos.

"Dia 7 de setembro será o último aviso, a última oportunidade de colocar o país no eixo. Então, presidente, quero te falar, será o último mesmo, se não mudar no dia 7 de setembro e não vier uma resposta do líder que elegemos com quase 70 milhões de votos, EU DESISTO. Eu te elegi para você ficar contra o sistema, te dei autorização para meter o pé na porta do STF, do Congresso e de mais onde for preciso. Estou ratificando esta autorização no dia 7 de setembro", diz o texto.

Outra mensagem entre as mais compartilhadas, enviada 92 vezes em 13 grupos, afirma: "Eu, brasileiro, como cidadão do bem, convoco quem tem amor pelo Brasil e deseja um futuro melhor para nossos filhos e netos a se levantar. Vamos para as ruas antes que seja tarde e o COMUNISMO cale nossas bocas".

Outra das mensagens com grande circulação diz: "PESSOAL, VÃO EM PESO PARA AS MANIFESTAÇÕES NO DIA 7 DE SETEMBRO, O QUE ESTÁ EM RISCO É O FUTURO DO BRASIL E DE SEUS FILHOS, NÃO PODEMOS ACEITAR SERMOS UMA DITADURA E PASSAR FOME IGUAL NA VENEZUELA E NA ARGENTINA... NÃO PODEMOS CAIR NESSA MESMA IDIOTICE, TEMOS QUE AGIR ANTES, NÃO DEPOIS DAS FRAUDES, DEPOIS NÃO HÁ NADA QUE SE POSSA FAZER."

Além disso, há grupos dedicados à convocação para o 7 de setembro, organizando o evento e preparando caravanas de viagem –por exemplo, o grupo "07 DE SETEMBRO (O CHAMADO)", com 195 participantes.



Petrobras continua a enfrentar processos, em cortes americanas, e ter enormes prejuízos por causa do Petrolão do PT

 Leiam com bastante atenção a nota abaixo, da Petrobras, sobre mais um dos processos intentados contra ela no mercado americano, por causa das perdas incorridas por investidores americanos numa das empresas inventadas pelos companheiros do PT para roubar ainda mais dinheiro de acionistas e investidores em geral. 

Para quem não se lembra a Sete Brasil foi uma das empresas criadas pelos companheiros especificamente para roubar, a despeito de ter como objetivo nominal a construção de plataformas de exploração de petróleo off shore.

As imensas perdas e prejuízos acarretados pela sanha de roubar do PT, e de seus chefões mafiosos já causaram prejuízos gigantescos ao Brasil, que continuam a se desenrolar em cortes americanas, já que as nossas parecem não servir para absolutamente nada.

Paulo Roberto de Almeida

Petrobras sobre ação da EIG Energy

Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2022 - A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, em continuidade ao comunicado de 31 de março de 2017, informa que, em 08 de agosto de 2022, o juiz do Tribunal Distrital de Colúmbia, Estados Unidos, proferiu decisão em ação que EIG Energy Fund XIV, L.P. e outros (EIG) ajuizaram em face da Petrobras, relacionada ao seu investimento na Sete Brasil Participações S.A..

O juiz acolheu o pleito dos autores quanto à responsabilidade da Petrobras pelas alegações formuladas, mas negou o pedido dos autores de julgamento antecipado (motion for summary judgment) com relação a danos e qualquer concessão de indenização estará sujeita à comprovação de danos pela EIG em audiência de julgamento. Na mesma decisão, o juiz negou o pedido da Petrobras de julgamento antecipado e adiou decisão sobre duas questões procedimentais.

Essa decisão é recorrível. 

A Petrobras reitera que seguirá se defendendo vigorosamente no processo e reafirma a sua condição de vítima das atividades ilícitas investigadas no âmbito da Operação Lava Jato, conforme reconhecido por todas as instâncias do Judiciário brasileiro.


O sul da política externa lulista - Demétrio Magnoli (FSP)

O sul da política externa lulista

'Sul global' é fantasia acadêmica, tardia flor ideológica do terceiro-mundismo

Demétrio Magnoli

Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP. 

Putin Zelenski são igualmente responsáveis pela invasão russa da Ucrânia. O diagnóstico neutralista de Lula encontra sua teorização na réplica à minha última coluna, assinada por um grupo de professores universitários (Folha, 2/8).

O "conflito é multicausal", explicam, atribuindo-o em partes iguais ao "expansionismo da Otan" e à "deriva nacionalista do regime de Vladimir Putin". A ordem dos fatores não é casual: fazendo eco a Lula, e ignorando as evidências factuais, o primeiro surge como raiz da tragédia e, implicitamente, como fonte do segundo. O conjunto do texto desdobra o argumento inicial e, nesse passo, descortina os fundamentos da política externa do provável futuro governo. Por isso, merece exame.

Homem observa destroços de imóvel em Toretsk, Ucrânia - Bulent Kilic-4.ago.22/AFP

O Brasil deve "trabalhar pelo multilateralismo", dizem os autores, enquanto criticam as ações multilaterais destinadas a enfrentar a agressão russa. A ONU, principal instituição multilateral, votou duas resoluções de condenação à invasão, uma no Conselho de Segurança (vetada por Moscou) e outra na Assembleia-Geral. As sanções à Rússia assentam-se nessas resoluções —e são, elas mesmas, iniciativas multilaterais adotadas por dezenas de países.

As sanções não atingiram "o objetivo de acabar com a guerra", escrevem os professores, inventando uma meta maximalista impossível. De fato, embora as exportações da Rússia tenham sido pouco afetadas, suas importações sofreram golpes profundos, o que provocou recuo generalizado na produção industrial russa, como explica Paul Krugman. As sanções reduzem, a longo prazo, as capacidades militares de Putin. Mas o governo Bolsonaro as condena --e Lula também.

O fornecimento de armas à Ucrânia ampara-se no princípio multilateralista da autodefesa coletiva, consagrado na Carta da ONU. Os autores dizem que "a sobrevivência de Kiev será um abalo para a visão do mundo de Putin", como se tal "sobrevivência" fosse uma dádiva da natureza, não um fruto do auxílio militar. Bolsonaro e Lula pedem, juntos, o fim desse suporte bélico. Não é preciso excessiva perspicácia para concluir que a "visão do mundo de Putin" prevaleceria e a Ucrânia deixaria de existir caso imperasse a posição compartilhada pelos dois.

No texto de réplica, curiosamente, sanções e ajuda militar são excluídas do conceito de multilateralismo. Para os autores, multilateralismo parece só se aplicar a iniciativas de um certo "sul global", que faria contraponto à "posição ocidental". Aí, emerge uma noção organizadora da concepção de política externa lulista.

"Sul global" é um herdeiro imaginário do antigo Terceiro Mundo e, mais nitidamente, do Movimento dos Países Não Alinhados (NAM). Nascido da Carta de Bandung (1955), o NAM adotou posições coletivas que refletiam o ciclo da descolonização afro-asiática. Depois, tornou-se um campo de concorrência diplomática entre China e Índia, até perder relevância. Já o "Sul global" não passa de uma fantasia acadêmica.

Quem estrutura o "Sul global"? A China, engajada no jogo de poder mundial com os EUA? A Índia, cuja rivalidade com a China produz alinhamentos duais, com os EUA e a Rússia? A Turquia, integrante da Otan que, para preservar sua influência geopolítica regional, mantém uma parceria limitada com a Rússia?

A autonomia brasileira no sistema internacional exige a rejeição da Guerra Fria 2.0 entre EUA e China e solicita a edificação de parcerias flexíveis baseadas no interesse nacional. Nossa política externa certamente não deve buscar "alinhamentos automáticos com grandes potências" –mas a condenação efetiva da guerra imperial russa não equivale a nenhum "alinhamento automático".

"Sul global" é uma tardia flor ideológica do terceiro-mundismo. No atual discurso lulista, funciona como pretexto sofisticado para a reiteração da política bolsonarista de solidariedade com Putin.


“A democracia como valor universal”, uma carta-manifesto que deveria ser institucional e que virou individual - Paulo Roberto de Almeida

Como Diretor de Publicações do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, sou apenas responsável pelas publicações do Instituto, entre eles a sua revista, desde que tal iniciativa conte com o apoio do restante da Diretoria. Aliás, não pedi para ser, nem postulei qualquer cargo na Diretoria, e apenas não recusei-me a colaborar quando meu nome foi indicado para assumir tal função, pois ela corresponde, em grande medida, às minhas afinidades eletivas e intelectualmente afetivas. 

Nessa condição, e observando os ataques contínuos e as ameaças golpistas do atual presidente contra as instituições democráticas, assim como as manifestações já expressas por diversas entidades – a começar pela USP, FIESP e Academia Paulista de Letras, entre muitas outras –, tomei a iniciativa de sugerir ao IHG-DF a apresentação de um manifesto seu.

Conhecendo a composição do IHG – que tem alguns remanescentes do democrático governo JK, saudosistas da ditadura militar, mas também democratas sinceros –, elaborei um texto bastante moderado, apenas defendendo a democracia, sem sequer mencionar o psicopata tendencialmente totalitário. No entanto, a "minha" (sim, porque eu fiz sozinho, sem consultar ninguém) carta-manifesto não obteve consenso para ser emitida em nome do IHG-DF. 

Permito-me transcrever na íntegra esse meu texto – não tenho porque esconder – e, depois, acrescentar algumas palavras a mais, que transmitem mais fielmente meu pensamento com respeito ao boçal que nos governa (e acho que já expressei muito claramente o que penso do candidato já fracassado a ditador).

A democracia como valor universal

 

Nota proposta em nome da diretoria do IHG-DF sobre as ameaças ao processo eleitoral, para ser divulgada antes do dia 11/08/2022 

 

O Brasil e os brasileiros estão assistindo, neste período pré-eleitoral de 2022, um clima de turbulência política inédito nos 37 anos decorridos desde a redemocratização do país, após o último episódio autoritário de nossa história republicana. Com efeito, não se tem notícias, em qualquer um dos pleitos eleitorais que se sucederam democraticamente desde a campanha presidencial de 1989, de tantas ameaças à livre e transparente manifestação do voto cidadão, como as que se manifestam desde algum tempo a propósito de mais um escrutínio presidencial e geral, no próximo mês de outubro. 

O Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal – inaugurado sob um regime de exceção, mas arvorando os princípios e valores altamente democráticos que tinham estado na origem da fundação de Brasília, no quinquênio de grande crescimento e de irrestritas liberdades sob o saudoso presidente Juscelino Kubitschek –, na sua condição de mais importante instituição cultural comprometida com a preservação e a defesa dos altos padrões democráticos que estiveram na origem desta capital federal, já desenhada nos projetos de Hipólito da Costa e de José Bonifácio, o primeiro estadista da nação e o patriarca do Estado independente, sente-se na obrigação de, por meio de sua diretoria, manifestar publicamente seu inarredável comprometimento com o regime democrático pelo qual lutaram os fundadores da nação, duzentos anos atrás, bem como os criadores da nova capital federal, há mais de seis décadas.

A diretoria do IHG-DF expressa sua postura de irrestrita defesa da democracia como valor universal, na certeza de que interpreta os sentimentos dos seus sócios, assim como os de toda a população brasiliense, como teriam feito Hipólito e Bonifácio, e como fizeram outros lutadores pela liberdade, no itinerário histórico desta grande nação que, no próximo dia 7 de setembro, completará 200 anos como Estado soberano. 

Pela plena vigência do Estado democrático de Direito!

A diretoria do IHG-DF

6 de agosto de 2022.

[Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4214: 5 agosto 2022, 1 p.]


Como mencionei acima, em função do caráter amplamente moderado do texto acima, para exatamente ser aprovado consensualmente pelos membros da Diretoria, e em função de sua não aprovação, sinto-me inteiramente livre para não só revelar o texto, tal como escrito de um só impulso, mas também para emitir minha opinião pessoal sobre a mesma questão, ou seja, a defesa da democracia.

Devo dizer, em primeiro lugar, que não concebo como alguém possa ser contrário à defesa da democracia, a não ser que seja um apoiador do psicopata autoritário, que considera que o manifesto da USP – quem sabe até o da FIESP – é "de esquerda". 

Apenas trogloditas autoritários podem considerar que é normal ter um presidente da República – que não merece esse título – que ataca as instituições democráticas em geral e o sistema de votação que o elegeu em particular.

Acho que não preciso acrescentar mais nada, pois tudo está dito: estamos sendo governados por um troglodita autoritário, que desejaria ser ditador, mas não vai conseguir. Ele vai causar confusão e, em minha opinião, merece cadeia, não apenas por isso, mas também pelo comportamento genocida que teve durante a pandemia.

Como sempre, assino embaixo do que escrevo, que reflete exatamente o que penso.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 9 de agosto de 2022




 

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Milicos do Bozo ficam sem os seus brinquedinhos bélicos: EUA cortam exportações de armas ao Brasil - Renato Alves (O Tempo)

 Os EUA, já os principais defensores da Ucrânia na resistência contra a guerra de agressão do tirano de Moscou ao país da Europa oriental, se tornaram, com as proibições às exportações de armas às FFAA do Brasil, os principais defensores da democracia no país, contra as ameaças de golpe do psicopata perverso. 

Mais um golpe nos seus milicos amestrados. Vão aprender?

Paulo Roberto de Almeida

EUA suspendem venda de mísseis ao Brasil por ameaças de Bolsonaro, diz agência

Negócio, que envolveria cerca de US$ 100 milhões, começou a ser tratado quando o presidente dos EUA era o republicano Donald Trump, aliado de Jair Bolsonaro

Por Renato Alves

O Tempo, 8 de agosto de 2022 | 13h38 

O governo dos Estados Unidos decidiu segurar a entrega de mais de 200 mísseis antitanque portáteis Javelin às Forças Armadas brasileiras devido às preocupações parlamentares norte-americanos com o futuro da democracia no Brasil diante das declarações do presidente Jair Bolsonaro contra o sistema eleitoral e a favor de regimes autoritários. A informação é da agência Reuters.

Os mísseis Javelin são um dos modelos mais avançados do planeta e ganharam mais notoriedade com a guerra na Ucrânia. A arma tem sido fundamental na resistência ucraniana contra o avanço das tropas russas.

Os Javelin usados pelos ucranianos foram enviados por Berlim e Washington para ajudar Kiev na luta contra Moscou. Fabricados pelas gigantes bélicas Lockheed Martin e Raytheon, ele pesa mais de 15 kg e permite ataques diretos (posição horizontal) ou superiores contra tanques.

Com alcance entre 65 metros a 4 km de distância, o Javelin é considerado uma arma perigosa porque consegue atingir até helicópteros voando em baixa altitude. O treinamento para uso é mínimo e é uma arma difícil de ser detectada por radares, por conta do tamanho e mobilidade.

No caso do Brasil, a aquisição dos Javelin começou a ser tratada quando o presidente dos EUA era o republicano Donald Trump, aliado de Jair Bolsonaro. O negócio, que envolveria cerca de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de R$ 500 milhões), vinha sendo mantido sob sigilo, segundo a Reuters.

O Departamento de Estado norte-americano – órgão responsável pela diplomacia dos Estados Unidos – deu seu aval para a venda no fim de 2021, quando o democrata Joe Biden já havia assumido a presidência do país, ainda de acordo com a agência de notícias.

A venda e compra dos mísseis subiu no telhado após parlamentares democratas tomarem conhecimento da transação e alertarem Biden sobre as ameaças da gestão Bolsonaro à democracia brasileira, inclusive com declarações sobre um possível apoio das Forças Armadas do Brasil para a mudança de regime caso Bolsonaro perca as eleições deste ano.

Na semana passada, congressistas dos EUA revelaram que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, pode ser incluído nas investigações sobre a invasão ao Capitólio por ter se reunido com mentores do ataque dia antes do episódio sangrento que atentu contra a democracia norte-americana.

Em visita a Brasília no mês passado, onde esteve para participar de uma cúpula dos ministros da defesa das Américas, o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, afirmou em discurso que os EUA esperam eleições brasileiras “limpas e justas” como são desde a redemocratização. Recado similar já havia sido dado pelo conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, em visita a Bolsonaro no ano passado.

O Palácio do Planalto e o Ministério da Defesa não responderam aos pedidos de comentário da Reuters. O Departamento de Estado dos EUA também permanece em silêncio.

https://www.otempo.com.br/politica/governo/eua-suspendem-venda-de-misseis-ao-brasil-por-ameacas-de-bolsonaro-diz-agencia-1.2712559