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terça-feira, 27 de setembro de 2022

Eleições 2022: Política externa: o que dizem os planos de governo dos candidatos à Presidência

Muito vago e sem tocar no essencial do momento: a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

 

Política externa: o que dizem os planos de governo dos candidatos à Presidência

Textos divulgados pelas campanhas dos quatro presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas mostram diferenças de abordagem nas relações internacionais; compare.

Por G1

25/09/2022

 


Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet — Foto: Carla Carniel/Reuters, Evaristo Sa/AFP e Andre Penner/AP

Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet — Foto: Carla Carniel/Reuters, Evaristo Sa/AFP e Andre Penner/AP 

A relação do Brasil com os outros países é um dos temas presentes nos planos de governo dos candidatos à presidência nas eleições de 2022. Confira o que cada um deles pretende fazer: 

 

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Em seu plano de governo, o candidato do PT diz pretender recuperar a soberania do Brasil, o que, segundo ele, exige uma política externa ativa e nobre. "O Brasil era um país soberano, respeitado no mundo inteiro. Ao mesmo tempo, contribuía para o desenvolvimento dos países pobres, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia", afirma o documento. 

Lula acredita na integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe como formas de manter a segurança regional e de promover o desenvolvimento da região por conta das possíveis complementariedades produtivas das nações. 

"É [preciso] trabalhar pela construção de uma nova ordem global comprometida com o multilateralismo, o respeito à soberania das nações, a paz, a inclusão social e a sustentabilidade ambiental, que contemple as necessidades e os interesses dos países em desenvolvimento, com novas diretrizes para o comércio exterior, a integração comercial e as parcerias internacionais", diz o plano de governo. 

Entre as propostas de Lula, estão: 

  • Reconstruir a cooperação internacional Sul-Sul 18 com América Latina e África;
  • Defender a ampliação da participação do Brasil nos assentos dos organismos multilaterais;
  • Fortalecer novamente o Mercosul, a Unasul, a Celac e os Brics;
  • Retomar e ampliar as políticas públicas para a população brasileira no exterior e seus direitos de cidadania a partir de acordos bilaterais, em condições de reciprocidade, para reconhecimento de direitos e uma vida melhor para as populações migrantes;
  • Estabelecer livremente as parcerias que forem as melhores para o país, "sem submissão a quem quer que seja".

 

Jair Bolsonaro (PL)

Bolsonaro afirma, em seu plano de governo, que a nação buscará interações ainda maiores com países que tenham valores compatíveis com os do Brasil. Entre esses princípios, estão, segundo o candidato: ambiente democrático, como eleições livres e transparentes; liberdade de associação; de opinião e de imprensa; segurança jurídica; igualdade e respeito aos poderes constituídos e sua independência constitucional. 

O documento destaca o papel da capacidade das Forças Armadas, principalmente de Defesa, nas relações internacionais. "Além de alinhada com a política externa, deve servir de indutora para assuntos como domínio de tecnologia de ponta por meio de projetos estratégicos", afirma o plano de governo. 

Entre as propostas de Bolsonaro, estão: 

  • Participar de acordos e operações internacionais, notadamente aqueles que busquem a paz, como as missões patrocinadas pela ONU;
  • Ampliar e aperfeiçoar as parcerias econômicas, bilaterais ou multilaterais e viabilizar outras ainda mais ambiciosas;
  • Criar condições para atrair investimentos internacionais que auxiliem no desenvolvimento econômico, na geração de empregos e no bem-estar social;
  • Buscar parcerias comerciais e tecnológicas com aquelas nações que ofereçam respostas às necessidades do país;
  • Ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Entrar na OCDE, segundo o candidato, trará uma série de benefício econômicos para o Brasil. "Essa adesão facilitará negócios porque ela é vista como selo de boas práticas políticas, econômicas e diplomáticas, garantindo segurança e estabilidade nas relações comerciais com outros países", diz o documento. 

Dentre as vantagens do ingresso na OCDE, está a possibilidade de estreitar acordos econômicos com nações que são mais desenvolvidas, além de integrar os acordos internacionais. Essa adesão facilitará negócios porque ela é vista como selo de boas práticas políticas, econômicas e diplomáticas, garantindo segurança e estabilidade nas relações comerciais com outros países. 

 

Ciro Gomes (PDT)

O plano de governo do candidato Ciro Gomes não menciona propostas referentes à diplomacia brasileiro ou às relações internacionais. O documento afirma apenas que "as negociações comerciais e diplomáticas seguirão dois princípios essenciais: a defesa dos interesses nacionais e a soberania do país". 

 

Simone Tebet (MDB)

Quando o assunto são as relações internacionais, o plano de governo da candidata do MDB à presidência tem como um dos principais intuitos melhorar a imagem do Brasil perante as outras nações. 

"Recuperar o prestígio da diplomacia brasileira nos diversos foros internacionais, intensificando a participação do país nos trabalhos das Nações Unidas, particularmente nos que se destinam a: (1) mitigar as mudanças climáticas; (2) promover o desenvolvimento sustentável; (3) garantir a paz e a segurança internacionais; (4) combater o tráfico de armas e de drogas, a corrupção, o terrorismo e a guerra cibernética, entre outras questões globais; e (5) reformar a Carta da ONU e ampliar seu Conselho de Segurança", afirma o documento. 

Entre as propostas de Tebet, estão: 

  • Revigorar a atuação do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC);
  • Facilitar os fluxos bilaterais de pessoas, bens, serviços, investimentos e tecnologia;
  • Implementar redução gradual de tarifas aduaneiras;
  • Ampliar o grau de abertura comercial e de internacionalização da economia brasileira;
  • Promover a integração física e os investimentos em infraestrutura na América do Sul;
  • Consolidar e aprofundar o Mercosul;
  • Avançar no processo de acesso à OCDE.

 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O BRICS ainda serve para alguma coisa? - comunicado inócuo e ridiculo dos chanceleres

 O BRICS ainda serve para alguma coisa? 

Seus chanceleres realizaram a proeza de se reunir à margem da AGNU e IGNORAR COMPLETAMENTE a mais relevante questão da agenda mundial do momento, que causou crise econômica, energética e sobretudo HUMANITÁRIA. Nem uma palavra sobre a maior crise di sistema internacional, afetando gravemente a paz e a segurança internacionais, assim como a economia mundial e todos os equilíbrios dela decorrentes, em especial nos setores energético e alimentar, exclusivamente por CULPA de um dos membros do BRICS e do Conselho de Segurança da ONU, nomeadamente a Rússia, responsável pela mais flagrante violação da Carta da ONU e do Direito Internacional. 

Os cinco chanceleres ainda defenderam o respeito à ONU e ao Direito Internacional. HIPÓCRITAS!

Paulo Roberto de Almeida


Nota nº 156 do Itamaraty

23 de setembro de 2022

Reunião de Ministros de Relações Exteriores e Relações Internacionais do BRICS nas margens da 77ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas - 22 de setembro de 2022  

1. Os Ministros de Relações Exteriores e Relações Internacionais do BRICS realizaram sua reunião anual às margens da 77ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA77) em 22 de setembro de 2022, presidida pela África do Sul, em sua capacidade de próximo país a assumir a presidência do BRICS em 2023.

2. Os ministros trocaram opiniões sobre as principais questões globais e regionais da agenda das Nações Unidas (ONU) nas esferas de desenvolvimento político, de segurança, economia, finanças e desenvolvimento sustentável, bem como sobre as atividades intra-BRICS. Os ministros discutiram as possibilidades de apoio mútuo de suas iniciativas na 77ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA). Expressaram apoio à cooperação contínua de membros do BRICS em áreas de interesse mútuo, inclusive por meio de intercâmbios regulares entre suas missões permanentes junto à ONU.

3. Os ministros tomaram nota da resolução anual da AGNU sobre o tema “Combater a glorificação do nazismo, neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada”.

4. Os ministros reiteraram seu compromisso com o multilateralismo por meio da defesa do direito internacional, inclusive os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas como sua pedra angular indispensável, e com o papel central da ONU em um sistema internacional no qual os estados soberanos cooperam para manter a paz e segurança, promover o desenvolvimento sustentável, garantir a promoção e a proteção da democracia, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos.

5. Os Ministros reafirmaram seu compromisso de fortalecer e reformar o sistema multilateral, especialmente da ONU e seus principais órgãos, a fim de tornar as instituições e instrumentos de governança global mais inclusivos, representativos, participativos, revigorados e democráticos, e facilitar uma participação maior e mais significativa dos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos, especialmente da África, nos processos e estruturas de tomada de decisão globais e torná-los mais sintonizado com as realidades contemporâneas.

6. Os ministros também enfatizaram a importância de garantir o trabalho inclusivo e eficaz do sistema de governança global e, nesse sentido, o papel do G20 como o principal fórum multilateral no campo da cooperação econômica, que abrange os principais países desenvolvidos e em desenvolvimento num patamar de igualdade e mutuamente benéfico. Nesse contexto, expressaram sua visão firme de que o G20 deveria continuar funcionando de maneira produtiva, concentrando-se na entrega de resultados concretos, tomando decisões por consenso. Elogiaram a atual presidência da Indonésia pela condução eficaz dessa plataforma e se comprometeram a fornecer uma contribuição construtiva para o êxito da próxima cúpula do G20, em Bali, em 15 a 16 de novembro de 2022.

7. Os Ministros apreciaram o papel da Índia e do Brasil como membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) para 2021-2022 e 2022-2023, respectivamente. A presença de quatro países do BRICS no CSNU oferece uma oportunidade para aumentar ainda mais o peso do nosso diálogo sobre questões de paz e segurança internacionais e para uma cooperação contínua em áreas de interesse mútuo.

8. Os Ministros recordaram o Documento Final da Cúpula Mundial de 2005 e reafirmaram a necessidade de uma reforma abrangente das Nações Unidas, inclusive seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representatividade dos países em desenvolvimento, de modo a que possa responder adequadamente aos desafios globais. China e Rússia reiteraram a importância que conferem ao status e ao papel do Brasil, Índia e África do Sul nas relações internacionais e apoiaram sua aspiração de desempenharem papeis mais relevantes na ONU.

9. Os Ministros enfatizaram seu compromisso com o importante papel das organizações internacionais e com a melhora de sua eficácia e seus métodos de trabalho, bem como com o aprimoramento do sistema de governança global, e concordaram em promover um sistema mais ágil, eficaz, representativo e responsável que possa oferecer melhores resultados no terreno, enfrentar os desafios globais e servir melhor aos interesses de todos os estados membros.


10. Os Ministros conclamaram pela implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável nas suas três dimensões – econômica, social e ambiental – de forma equilibrada e integrada, por meio da mobilização dos meios necessários à implementação da Agenda 2030.


11. Os Ministros saudaram a Cúpula da Educação Transformadora convocada pelo Secretário-Geral da ONU de 16 a 19 de setembro de 2022. Reafirmaram que os países do BRICS estão comprometidos com a implementação da Agenda 2030 da ONU para a Educação, promovendo a acessibilidade e a equidade da educação, acelerando o desenvolvimento da qualidade da educação e da capacitação, incentivando o intercâmbio entre os jovens, fortalecendo o cultivo do conhecimento sobre desenvolvimento sustentável, e proporcionando contribuições do BRICS para a governança global.


12. Os Ministros reiteraram que os objetivos, princípios e disposições da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e seu Acordo de Paris, em particular o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades à luz de diferentes circunstâncias nacionais, devem ser honrados. Reafirmaram seus esforços nacionais e conjuntos para promover a implementação do Acordo de Paris e, a nesse sentido, destacaram a importância do cumprimento, entrega e urgência dos compromissos dos países desenvolvidos de fornecer financiamento confiável, adequado, previsível, oportuno, novo e adicional, bem como transferência de tecnologia para ajudar os países em desenvolvimento a combaterem as mudanças do clima. Também manifestaram preocupação com as tentativas de vincular a segurança à agenda de mudanças do clima e lembraram que a UNFCCC, incluindo as sessões anuais da COP, é o fórum internacional adequado e legítimo para discutir a questão das mudanças climáticas, considerando todos os seus aspectos. Saudaram os esforços e expressaram seu total apoio à próxima Presidência egípcia da COP27, e se comprometeram a trabalhar para o êxito da COP27.


13. Os Ministros reiteraram que era imperativo garantir o acesso a contramedidas médicas seguras, de qualidade, eficazes e acessíveis, incluindo vacinas, diagnósticos, tratamentos e produtos médicos essenciais para pessoas de todos os países, especialmente países em desenvolvimento, inclusive os menos desenvolvidos entre eles, bem como garantir a distribuição equitativa de vacinas e a vacinação rápida, para preencher globalmente a lacuna de imunização. Apoiaram o protagonismo da Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à pandemia de COVID-19, bem como tomaram nota de iniciativas como o ACT-Accelerator e seu COVAX Facility. Reconheceram a decisão da 12ª Conferência Ministerial da OMC (MC12) sobre o Acordo TRIPS e a decisão de discutir, no prazo de seis meses, sua extensão para abranger a produção e o fornecimento de diagnósticos e tratamentos para o COVID-19. Ressaltaram a necessidade de continuar a fortalecer a cooperação para os métodos de testagem, a terapêutica, a pesquisa, a produção e o reconhecimento mútuo de vacinas em bases recíprocas, a pesquisa sobre sua eficácia e segurança à luz de novas variantes do vírus de COVID-19, e de abordar questões novas e emergentes que afetam os deslocamentos de pessoas, por meio do reconhecimento do documento nacional de vacinação contra o COVID-19 e respetivas testagens, especialmente para fins de viagens internacionais. Instaram todos os países, agências internacionais e organizações filantrópicas para que adquiram vacinas e doses de reforço de fabricantes em mercados emergentes e países em desenvolvimento, inclusive países do BRICS, para garantir que as capacidades de fabricação que estão sendo desenvolvidas sejam mantidas. Em consonância com a Declaração Ministerial sobre a Resposta da OMC à Pandemia de COVID-19 e Preparação para Pandemias Futuras, os Ministros também destacaram a importância de se promover a transferência de tecnologia que contribua para a capacitação ao desenvolvimento de soluções para crises de saúde pública além do COVID-19, inclusive aquelas relacionadas a epidemias e doenças tropicais. Modelos colaborativos de pesquisa e desenvolvimento devem ser buscados para construir parcerias mais fortes e sustentáveis entre os países, com vistas a tornar os frutos da pesquisa e inovação acessíveis a uma parcela mais ampla da população global.


14. Os Ministros reafirmaram seu compromisso com o multilateralismo e com o sistema multilateral de comércio com a OMC em seu centro. Reiteraram a forte e urgente necessidade de fortalecer e reformar o sistema multilateral, inclusive a ONU, a OMC, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras organizações internacionais. Os Ministros reiteraram ainda seu compromisso de fortalecer o sistema multilateral de comércio da OMC, que é baseado em consenso e regras, transparente, não discriminatório, aberto, livre e inclusivo, com tratamento especial e diferenciado para os países em desenvolvimento, inclusive os PMDs, e observaram que o protecionismo e o unilateralismo contrariam as regras e o espírito da OMC. Instaram todos os Estados a se absterem de promulgar e aplicar quaisquer medidas econômicas, financeiras ou comerciais que não estejam de acordo com as regras da OMC, o direito internacional e a Carta da ONU e que impeçam a plena realização do desenvolvimento econômico e social, particularmente nos países em desenvolvimento. Também enfatizaram a prioridade e a urgência de restaurar um mecanismo de solução de controvérsias da OMC completo e em bom funcionamento até 2024, conforme estabelecido no documento final da MC12.


15. Os Ministros comprometeram-se a respeitar a soberania e integridade territorial de todos os estados, enfatizaram seu compromisso com a resolução pacífica de diferenças e disputas entre países por meio do diálogo e da consulta, e apoiaram todos os esforços conducentes à solução pacífica de crises. Reafirmaram seu compromisso com os esforços coletivos para a solução pacífica de controvérsias por meios políticos e diplomáticos e reconheceram o papel do CSNU como o principal responsável pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Ressaltaram ainda o imperativo de abster-se de quaisquer medidas coercitivas não baseadas no direito internacional e na Carta da ONU.


16. Os Ministros manifestaram preocupação com os conflitos crescentes e contínuos em muitas partes do mundo. Reiteraram a necessidade de pleno respeito ao direito internacional humanitário e à prestação de ajuda humanitária de acordo com os princípios básicos de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência estabelecidos na resolução 46/182 da AGNU. Os Ministros recordaram as suas posições nacionais sobre a situação na Ucrânia expressas nas instâncias apropriadas, nomeadamente o CSNU e a AGNU.


17. Os Ministros expressaram forte condenação ao terrorismo em todas as suas formas e manifestações, a qualquer tempo, em qualquer lugar e por quem quer que o tenha cometido. Reconheceram a ameaça proveniente do terrorismo, do extremismo e da radicalização. Comprometeram-se a combater o terrorismo em todas as suas formas e manifestações, incluindo o movimento transfronteiriço de terroristas e redes de financiamento do terrorismo e seus locais de refúgio. Reiteraram que o terrorismo não deve ser associado a nenhuma religião, nacionalidade, civilização ou grupo étnico. Reafirmaram seu compromisso inabalável de contribuir ainda mais para os esforços globais de prevenção e combate à ameaça do terrorismo com base no respeito ao direito internacional, em particular à Carta das Nações Unidas e aos direitos humanos, enfatizando que os Estados têm a responsabilidade primária no combate ao terrorismo, com as Nações Unidas continuando a desempenhar um papel central e coordenador nesta área. Também enfatizaram a necessidade de uma abordagem abrangente e equilibrada de toda a comunidade internacional para efetivamente conter as atividades terroristas, que representam uma grave ameaça, inclusive no atual ambiente pandêmico. Rejeitaram padrões duplos no combate ao terrorismo e ao extremismo conducente ao terrorismo. Apelaram para a rápida finalização e adoção da Convenção Abrangente sobre o Terrorismo Internacional no âmbito da ONU e pelo lançamento de negociações multilaterais sobre uma convenção internacional para a repressão de atos de terrorismo químico e biológico, na Conferência de Desarmamento. Saudaram os resultados da 7ª Reunião Plenária do Grupo de Trabalho de Combate ao Terrorismo do BRICS e suas cinco reuniões de subgrupos.


18. Os Ministros saudaram a primeira Reunião Ministerial Anticorrupção do BRICS realizada virtualmente em 13 de julho de 2022. Encorajaram o Grupo de Trabalho Anticorrupção do BRICS a fortalecer a cooperação, inclusive o compartilhamento de experiências e informações sobre questões de anticorrupção entre os países do BRICS, com base na ampla consulta e no consenso, e a explorar outras áreas de cooperação contra a corrupção.


19. Os Ministros reiteraram seu compromisso de fortalecer ainda mais a cooperação dentro do Grupo de Trabalho Antidrogas do BRICS, de acordo com o regime internacional de controle de drogas existente.


20. Ao mesmo tempo em que enfatizaram o formidável potencial das TICs para o crescimento e o desenvolvimento, os Ministros reconheceram as novas possibilidades que as TICs trazem para atividades e ameaças criminais, e expressaram preocupação com o nível e complexidade crescentes do uso indevido e criminoso das TICs. Saudaram o trabalho em andamento no Comitê Intergovernamental Aberto Ad Hoc de Peritos da ONU para elaborar uma convenção internacional abrangente para combater o uso das TIC para fins criminosos e reafirmaram seu compromisso de cooperar na implementação do mandato adotado pela resolução 75/282 da Assembleia Geral da ONU.


21. Os Ministros reiteraram a necessidade de todos os países cooperarem na promoção e proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, de acordo com os princípios da igualdade e respeito mútuo. Concordaram em continuar a tratar todos os direitos humanos, inclusive o direito ao desenvolvimento, de maneira justa e igualitária, nas mesmas condições e com a mesma ênfase. Concordaram em fortalecer a cooperação em questões de interesse comum, tanto dentro do BRICS quanto em fóruns multilaterais, incluindo a Assembleia Geral das Nações Unidas e o Conselho de Direitos Humanos, levando em consideração a necessidade de promover, proteger e cumprir os direitos humanos de maneira não seletiva, não politizada e construtiva, e sem padrões duplos.


22. Os Ministros tomaram nota das deliberações iniciais sobre o processo de expansão do BRICS e concordaram em continuar as discussões, conforme instruído pela XIV Cúpula do BRICS, para esclarecer os princípios norteadores, normas, critérios e procedimentos para este processo de expansão por meio do canal dos sherpas, com base em ampla consulta e consenso.


23. Os Ministros expressaram seu caloroso agradecimento à China pelo sucesso da XIV Cúpula do BRICS, realizada virtualmente, em 23 de junho de 2022. Saudaram o Diálogo de Alto Nível sobre Desenvolvimento Global realizado virtualmente em 24 de junho de 2022, como um testemunho da natureza aberta e inclusiva da Parceria BRICS, incluindo a cooperação BRICS Outreach/BRICS Plus.


24. Os Ministros foram informados sobre os preparativos da África do Sul para a presidência do BRICS em 2023. Brasil, Rússia, Índia e China estenderam seu total apoio à África do Sul para a presidência do BRICS em 2023 e para a realização da XV Cúpula do BRICS. Os Ministros também aguardam com expectativa a Reunião dos Ministros das Relações Exteriores e Relações Internacionais do BRICS na África do Sul em 2023.

Eleições 2022: O dever dos neutros 2 - Rubens Ricupero (FSP)

Não li o primeiro "O Dever dos Neutros", mas vou procurar, para colocar nesta mesma postagem. 

O dever dos neutros 2

Escolha agora é entre a esperança ou o agravamento da barbárie

Rubens Ricupero

Diplomata, é ex-embaixador do Brasil em Washington (1991-1993) e Roma (1995) e ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda (1993-1994 e 1994, governo Itamar Franco); titular da Cátedra José Bonifácio, da USP

Entre justiça e injustiça, não se pode ser neutro. Com termos semelhantes a esses, que evocavam a posição de Rui Barbosa na Primeira Guerra Mundial, escrevi artigo publicado nesta Folha pouco antes do segundo turno de 2018 ("O dever dos neutros", 11/10/18).

Encontro-me na mesma posição, com a diferença de escrever antes do primeiro turno. Na época, afirmei que não podia ser neutro entre valores e contravalores, democracia e autoritarismo, meio ambiente e devastação. Tudo o que temia se revelou mil vezes pior. À luz da experiência dos horrores destes quatro anos, nem eu, nem ninguém, tem o direito de não escolher entre a esperança de um governo que salve o pouco que sobrou dos ideais da Constituição de 1988 e a continuação e o agravamento da barbárie que estamos sofrendo.

O princípio de uma terceira via não está em jogo porque ela não existe mais. Existiu antes e se chamou Marina Silva, mas foi triturada pelo moinho dos marqueteiros. Em 2018, ainda se podia ignorar que Jair Bolsonaro encarnaria a mais grave contestação ao sistema eleitoral democrático. Agora não, depois da repetição infinita da ameaça do presidente de não reconhecer nem o resultado do primeiro turno. A prudência aconselha evitar condições propícias à contestação. Quanto mais cedo e mais decisiva for a vitória da democracia, menos espaço haverá para seus inimigos.

Já inquieta a transição demasiada longa para a transmissão do poder. Não é mais a loucura da República Velha, que elegia o presidente em março para empossá-lo em 15 de novembro. A espera atual continua longa demais. Favorece os conspiradores, como se viu na eleição de Juscelino Kubitschek em 1955, a primeira em que votei. Quem garantiu então o respeito ao resultado foi um general legalista no Ministério da Guerra. Não preciso dizer que hoje não se pode contar com a mesma situação.

Votar, porém, não basta. Ao escolher a chapa Lula-Alckmin, é preciso deixar claro que votamos em favor de aliança suprapartidária em favor da democracia, não para consagrar a volta de um partido ou de políticas envelhecidas. Ao se aliar ao ex-governador paulista, Lula reconheceu que sozinho nem ele nem seu partido tem força para ganhar, ou no caso de vitória, para governar.

No Brasil atual, nenhum partido, nenhuma posição pura de esquerda e direita, goza de hegemonia. O que existe é maioria em favor de temas cruciais: democracia, Estado de Direito, Constituição de 1988, combate à fome, à pobreza, à desigualdade, ao desemprego, ao racismo e ao machismo; proteção aos indígenas, promoção do acesso de todos à educação, à saúde, à cultura e à ciência; crescimento sustentável com redistribuição e responsabilidade fiscal.

Deve servir-nos de alerta o exemplo da monarquia, em que todos eram contra a escravidão, mas não chegavam a acordo sobre quando e como aboli-la. O consenso sobre os fins é sempre mais fácil que sobre os meios. O futuro governo terá de empreender a árdua tarefa de reconstruir sobre a terra arrasada. Terá de governar num mundo e país que não são mais os mesmos de 2003.

Contará com a oposição de algo antes inexistente: uma extrema direita aguerridaarmada e com apoio em influentes setores sociais. Terá, por exemplo, de enfrentar na Amazônia a resistência do lobby ruralista, de grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais. Precisará negociar com o Congresso novo pacto orçamentário que elimine as emendas secretas e sem racionalidade. Não poderá adiar novamente uma reforma tributária que abra caminho à redistribuição da excessiva concentração de renda no topo. Tampouco atingirá tal objetivo sem reforma profunda do sistema político, partidário e eleitoral.

Nada disso será possível sem ampla aliança que supere o sectarismo partidário ou ideológico. O governo não poderá se dar ao luxo de desperdiçar nenhuma colaboração no esforço paciente de construir consenso sobre meios, prioridades e prazos. Depois de quatro anos de demolição, é preciso abertura de espírito para acolher todos os que se disponham a trabalhar na reconstrução do Brasil.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. 


Dia do profissional de relações Internacionais: entrevista com o professor Oliver Stuenkel (FGV-SP)

Parabéns aos internacionalistas pelo seu dia

 

Dia do profissional de Relações Internacionais: dados quantitativos são tendência na área, diz professor

A função do profissional de Relações Internacionais é focar em carreiras globais, investindo na integração de conhecimentos teóricos e metodológicos na resolução de problemas concretos da política internacional e da economia global.

Hoje, 26 de setembro, é comemorado o dia do profissional de Relações Internacionais. Para homenageá-los, o FGV Notícias conversou com Oliver Stuenkel, professor da Escola de Relações Internacionais (FGV RI).

De acordo com Oliver, houve uma mudança significativa no curso de Relações Internacionais no que diz respeito ao preparo dos alunos, as disciplinas e inclusive a escolha profissional a ser seguida. “Antigamente era, acima de tudo, um curso preparatório para futuros diplomatas. Mas hoje, cada vez mais alunos trabalham no setor privado, em organizações internacionais, na sociedade civil. E essas são áreas onde novas tecnologias têm um grande impacto”, disse ele.

Para ver a entrevista assista ao vídeo
 

Dia do profissional de Relações Internacionais: dados quantitativos são tendência na área, diz professor

De acordo com Oliver, houve uma mudança significativa no curso de Relações Internacionais no que diz respeito ao preparo dos alunos, as disciplinas e inclusive a escolha profissional a ser seguida.

https://portal.fgv.br/noticias/dia-profissional-relacoes-internacionais-dados-quantitativos-sao-tendencia-area-diz

Como a aceleração digital impactou a área de Relações Internacionais?

As novas tecnologias têm um grande impacto sobre a disciplina das Relações Internacionais e aqui na FGV a gente sempre enfatiza a necessidade de se adaptar a essas novas realidades, inclusive para assegurar que nossos alunos estejam competitivos no mercado de trabalho.

Então, houve muitas mudanças tecnológicas. Hoje em dia, muitos analistas de geopolítica operam com modelos bastante sofisticados utilizando Big Data, por exemplo. Nesse sentido, a graduação de RI mudou em função dessas transformações.

Como era a área antes desse boom da aceleração digital?

Antigamente, o curso de Relações Internacionais era, acima de tudo, preparatório para futuros diplomatas. Essa é uma área mais tradicional, que enfatiza bastante a história da geopolítica, com ênfase em negociações diplomáticas e política internacional. Mas, hoje, cada vez mais alunos trabalham no setor privado, em organizações internacionais, na sociedade civil, e essas são áreas que as novas tecnologias têm um grande impacto.

Então, nesse sentido, a área, como um todo, mudou profundamente, o que explica o motivo de termos atualmente análise quantitativa, por exemplo, pois muitos trabalham conjuntamente com economistas ou até mesmo em funções antigamente exercidas por economistas.

Qual foi o principal desafio e o principal benefício dessa aceleração digital na área? 

O principal benefício das novas tecnologias é que conseguimos processar e monitorar os processos com muito mais facilidade. Quer dizer que, além de fazer uma análise qualitativa, agora existem modelos sofisticados para avaliar, por exemplo, o impacto das sanções ocidentais impostas contra a Rússia em função da invasão à Ucrânia.

Então, nesse sentido, dá para fazer, inclusive, previsões bastante concretas sobre, de que forma, o cenário internacional impacta o crescimento da economia brasileira e de que forma isso impactará a taxa de aprovação, o comportamento do Brasil no âmbito externo.

Agora, isso também traz muitos desafios porque, além de manter contatos numa rede de diálogos com outros tomadores de decisão, nós também precisamos ficar a par de novas tecnologias e novas ferramentas que nos ajudam a analisar o que está acontecendo.

Como a área de Relações Internacionais contribuiu para a aceleração digital?

Acima de tudo diria que a área de Relações Internacionais tem tido uma contribuição importante para quantificar tomadas de decisão no setor privado. Por exemplo, questões políticas que sempre são difíceis de mensurar, muitas vezes, são um pouco vagas, mas, cada vez mais, sobretudo na área de análise de risco político, a nossa área tem conseguido oferecer insumos importantes para que empresas, governos e a sociedade civil possam tomar decisões com maior confiança.  

O que muda na formação dos novos profissionais da área com a aceleração digital?

Tradicionalmente, quem estudava Relações Internacionais conseguia evitar o mundo quantitativo. Então, eram, geralmente, pessoas que gostavam muito de história, diplomacia, geografia. Mas, agora, com essas novas tecnologias, sobretudo na área de big data, nossa capacidade maior de avaliação em grandes quantidades de dados, conseguimos avançar muito em áreas como opinião pública, questões de consumo no Brasil, tendências econômicas globais.

Isso também requer que estudantes de Relações Internacionais tenham uma compreensão sofisticada de temas como econometria, estatística, probabilidade. Em geral, o mundo da matemática tornou-se muito mais importante. Então isso muda, torna a área mais desafiadora, mas também aumenta muito a capacidade de fazer uma contribuição real no mercado de trabalho.  

Quais habilidades os profissionais devem estar atentos com esse boom digital?
 

Tem várias áreas hoje que são fundamentais na hora de preparar um bom profissional de Relações Internacionais. É preciso ter uma noção clara das novas tecnologias, seja na área de programação, na utilização de modelos de regressão ou na capacidade de processar grandes quantidades de dados.

Quais são as novas opções de carreiras que surgiram com a aceleração digital?

A maioria dos egressos da FGV atuam no setor privado que é uma novidade, de certa maneira, porque é um curso que, tradicionalmente, preparava os alunos para o serviço diplomático e o setor público. Mas hoje, muitas empresas contratam analistas de RI para interpretarem desafios geopolíticos, para que uma empresa, por exemplo, do agronegócio brasileiro, possa se adequar a uma nova realidade depois da invasão Russa à Ucrânia,  pois eleva o custo dos fertilizantes. Ou a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que produz desafios, mas também, muitas oportunidades. Então, esse tipo de monitoramento é algo fundamental hoje.

O que esperar para o futuro?

A minha percepção é que as mudanças tecnológicas serão cada vez mais rápidas e terão um impacto cada vez maior. Além disso haverá a necessidade de trabalhar com equipes globais, com pessoas em lugares totalmente diferentes, com visões de mundo muito diferentes. Também há uma necessidade de atuar em várias áreas muito diferentes que tradicionalmente eram cobertas por profissões distintas.

Conheça o curso de graduação da FGV RI.

Essa matéria faz parte da série especial Conexões para o futuro: Dia do Profissional de Relações Internacionais iniciada em 22 de julho no Dia do Cientista Social.


domingo, 25 de setembro de 2022

Eleições 2022: entre o crime e a Justiça, não se pode ser neutro - Rubens Ricupero (FSP)

 O embaixador Ricupero se pronuncia claramente em favor da defesa dos valores democráticos e da reconstrução do país em seus fundamentos políticos e econômicos, inclusive partidarios, a partir das eleições do próximo domingo. Mas ele começa citando Rui Barbosa, que se referia ao caso da Bélgica neutra invadida pelas tropas bárbaras do Império alemão na Grande Guerra de 1914-18, a caminho de atacar a França republicana. Isso nos leva diretamente ao caso da bárbara invasão de Putin contra a Ucrânia: não se pode ser neutro entre o crime e o Direito Internacional. 



sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Diante de Rússia e EUA, chanceler do Brasil condena abusos 'de todas as partes' na Ucrânia

 Posição HIPÓCRITA do chanceler e CONTRÁRIA ao Direito Internacional. Rui Barbosa dizia em 1916 que não se pode ser neutro entre o CRIME e a Justiça.

Posição contrária a todas as tradições da diplomacia brasileira. Vergonha!

Paulo Roberto de Almeida 

 

Diante de Rússia e EUA, chanceler do Brasil condena abusos 'de todas as partes' na Ucrânia

Carlos França repete neutralidade em reunião do Conselho de Segurança da ONU com Lavrov e Blinken

Folha de S. Paulo, 25/09/2022

WASHINGTON - Um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, ameaçar usar armas nucleares contra o Ocidente, o chanceler do Brasil, Carlos França, voltou a defender a posição brasileira de neutralidade na Guerra da Ucrânia ao pedir respeito ao direito internacional "por todas as partes" do conflito.

França falou ao Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira (22), em reunião convocada durante a Assembleia-Geral da entidade para discutir a Guerra da Ucrânia. O encontro colocou frente a frente os chefes das diplomacias russa, Serguei Lavrov, americana, Antony Blinken, e chinesa, Wang Yi —e dos demais países com assento no órgão, além do chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba.

Carlos França repetiu habituais apelos por um cessar-fogo e um acordo de paz, mas não se referiu diretamente à Rússia nenhuma vez no seu breve discurso, de menos de dois minutos.

"Ao longo desses sete meses [desde o começo da guerra], este conselho recebeu inúmeros relatórios de violações sérias de direitos humanos nas zonas de conflito, inclusive contra grupos vulneráveis de mulheres e crianças", afirmou. "O Brasil condena os abusos e defende uma investigação imparcial dos fatos, de modo que os responsáveis respondam por suas ações. Também reiteramos nosso pedido por completo respeito às leis humanitárias internacionais por todas as partes."

A posição é ambígua, já que há uma série de registros de violações cometidas por parte de tropas russas, mas Moscou também acusa as forças ucranianas de desrespeitarem os direitos humanos sobretudo nas regiões próximas à fronteira de maioria étnica russa, como o Donbass.

Assim como fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) em discurso na Assembleia-Geral na terça (20), França criticou as sanções à Rússia e afirmou que "não é hora de acentuar visões ou isolar as partes [envolvidas]". Para o chanceler, "os riscos de escalada crescente pelas dinâmicas do conflito são simplesmente altos demais e as consequências para a ordem mundial, imprevisíveis."

Na quarta (21), Putin foi à TV dizer que a Rússia "também tem vários meios de destruição" e que iria "usar todos os meios à disposição" para proteger o país. "Isto não é um blefe", ressaltou.

O discurso deu o tom da reunião do Conselho de Segurança desta quinta. "A ideia de um conflito nuclear, antes impensável, virou assunto de debate —e isso é totalmente inaceitável", afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Em discurso muito mais duro que o do chanceler brasileiro, o diplomata português disse que é preciso investigar "um catálogo de crueldades" cometidas no conflito, que incluiria execuções sumárias, violência sexual e tortura contra civis e prisioneiros de guerra. 

O português também criticou os planos de referendo em regiões ocupadas pela Rússia e disse que "qualquer anexação de um território de um Estado por outro como resultado de ameaça ou uso da força é uma violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional."

A Rússia é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que têm poder de veto em deliberações do órgão, junto com EUA, França, China e Reino Unido. O Brasil ocupa hoje uma das dez cadeiras temporárias.

Serguei Lavrov, no entanto, não ouviu o discurso crítico de Guterres nem o de outros chanceleres porque entrou no salão apenas no momento de sua fala —antes, outro representante de Moscou estava à mesa. Antony Blinken, por outro lado, permaneceu no recinto para ouvir o russo.

Ao conselho, Lavrov defendeu a invasão da Ucrânia e repetiu os argumentos de que Moscou está restabelecendo direitos desrespeitados nas regiões de maioria russa. Ele voltou a dizer que o governo ucraniano é tomado por neonazistas —informação de resto distante da realidade— que assumiram o poder após o que chamou de golpe de Estado de 2014 com apoio do Ocidente, quando um presidente pró-Moscou foi derrubado após intensa mobilização popular.

O diplomata, que já foi embaixador da Rússia nas Nações Unidas e, alvo de sanções, recebeu visto para viajar aos EUA para a Assembleia-Geral de última hora, criticou o envio de armas do Ocidente à Ucrânia e afirmou que os países apoiadores de Kiev também são parte do conflito. "Os EUA e seus aliados, com o conluio de organizações internacionais de direitos humanos, estão encobrindo crimes do regime de Kiev."

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, defendeu a postura de Washington e atacou a ameaça nuclear russa. "Que o presidente Putin tenha escolhido esta semana, quando a maioria dos líderes globais está reunida na ONU, para colocar lenha na fogueira demonstra seu total desprezo pela Carta das Nações Unidas", afirmou.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/09/diante-de-russia-e-eua-chanceler-do-brasil-condena-abusos-por-todas-as-partes-na-ucrania.shtml?fbclid=IwAR2xGeTS1CdohLhkPAwtmn4kTBkPssj9JMQtNgdAmQOnv3oGhqNCrJKuluQ

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Livros sobre os 200 anos da independência do Brasil, organização, autoria de José Theodoro Mascarenhas Menck, nas edições da Câmara dos Deputados

 Meu amigo historiador e jurista, colega no, e secretário geral do, Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF), José Theodoro Mascarenhas Menck, organizou ou escreveu pessoalmente diversos volumes no contexto da Comissão da CD de comemorações dos 200 anos da independência do Brasil, que relaciono abaixo: 

Livros na coleção do Bicentenário da Câmara dos Deputados

"D. Pedro I, entre o voluntarismo e o constitucionalismo", em dois volumes; o primeiro volume cuida da vida do Imperador; o segundo, trata de aspectos da controvertida personalidade do Príncipe, com textos também de dois eminentes  sócios acadêmicos, Luiz Henrique Cascelli de Azevedo e Bernardo Felipe Estellita Lins. 

Também figuram na coleção: "A Imprensa no processo de Independência do Brasil"; "D. Leopoldina, Imperatriz e Maria do Brasil"; "Primeiras Eleições Gerais no Brasil (1821)"; "D. João VI e a construção das bases do Estado Nacional"; "José Bonifácio de Andrada, Patriarca da Nacinalidade", "O constitucionalismo e o fim do absolutismo régio", todos disponíveis na Biblioteca digital da CD.



A nação que se perdeu a si mesma - Paulo Roberto de Almeida

 A nação que se perdeu a si mesma

Paulo Roberto de Almeida 


Um reconhecimento, e uma frustração, em face dos maiores desafios que se apresentam ao Brasil atual, tanto no plano da política interna, quanto no da política externa


Infelizmente, as elites nacionais, mas sobretudo as duas principais corporações de Estado, os militares e os diplomatas, parecem ter perdido qualquer senso moral e qualquer coragem no desempenho de suas respectivas obrigações.  

Digo isso com tristeza, pois esperava que os diplomatas tivessem mais hombridade ou honestidade intelectual na defesa dos valores e princípios que deveriam ser os nossos, se alguma vez o foram.

O regime republicano já foi várias vezes violado e humilhado, na completa indiferença, quando não com a conivência, dos militares, que outrora o proclamaram.

Os padrões de conduta da diplomacia nacional já foram recorrentemente espezinhados, na aparente indiferença do seu corpo profissional, que demonstra estar alheio à violação dos grandes princípios que já foram os seus no passado.


Estarei exagerando, ou o Brasil, representado por suas supostas elites, já perdeu a sua alma? 

Qual era ela, exatamente?


Paulo Roberto de Almeida

Ribeirão Preto, 22/09/2022

Sobre a furada chantagem nuclear do tirano de Moscou - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre a furada chantagem nuclear do tirano de Moscou:


Não acredito que o grau máximo de insanidade do tirano de Moscou consiga se sobrepor à racionalidade última dos generais russos encarregados da segurança do botão nuclear. 

Teriam de primeiro decidir: jogar o quê contra quem, onde e com qual objetivo estratégico? 

Alguma razão especificamente tática? 

A ameaça é pura bazófia, e se trata, sim, de um blefe, talvez o último do czar que pretendia ser Pedro o Grande, talvez até Ivan o Terrível, e que pode terminar como Nicolau II. 

Não vale o argumento de que a Rússia se encontra em mais uma postura defensiva, como em face de Napoleão e de Hitler. Desta vez ela É a potência agressora!

Minha única dúvida é sobre se a Rússia, derrotada militarmente, finalmente se encaminhará, ainda que muito lentamente, para uma nova democracia de fachada — como ocorreu entre fevereiro e outubro de 1917, objeto de um artigo de Max Weber — ou se recrudescerá nos seus instintos totalitários que foram a marca distintiva do regime bolchevique, mais até do que o absolutismo czarista.

Putin, em última instância, pode ser o aprendiz de feiticeiro que libertará a Rússia de sua doença senil do imperialismo, mas acredito mais num impasse histórico de dimensão e duração indefinidas. Ou seja, a humanidade continuará vivendo dramas não muito distantes da guerra de Troia.

À falta de um Heródoto ou de um Tucídides, talvez apareça algum novo poeta cego…

Paulo Roberto de Almeida

Ribeirão Preto, 22/09/2022

A Cornered Vladimir Putin Is More Dangerous Than Ever - Roger Cohen (NYT)

 The New York Times – 22.9.2022

A Cornered Vladimir Putin Is More Dangerous Than Ever

In a major speech, he recast the war in Ukraine and made clear it could spread.

Roger Cohen

 

Vladimir V. Putin’s menacing televised address on Wednesday was much more than a bid to change the course of his faltering war against Ukraine. It attempted to invert a war of aggression against a neighbor into one of defense of a threatened “motherland,” a theme that resonates with Russians steeped in patriotic history.

Mr. Putin, Russia’s president, aimed at nothing less than altering the meaning of the war for his country, raising the stakes for the entire world. He warned the West in unmistakable terms — “this is not a bluff” — that the attempt to weaken or defeat Russia could provoke nuclear cataclysm.

Rattling his nuclear saber, accusing the West of seeking to “destroy” his country and ordering the call-up of 300,000 military reservists, Mr. Putin implicitly conceded that the war he started on Feb. 24 has not gone as he wished. He painted the Ukrainians as mere pawns of the “military machine of the collective West.”

By veering far from his original objective of demilitarizing and “de-Nazifying” all of Ukraine, he made a nonsense of the Kremlin’s far-fetched claims that the war was proceeding according to plan, and tacitly acknowledged something he had always denied: the reality and growing resistance of a unified Ukrainian nation.

But Mr. Putin cornered is Mr. Putin at his most dangerous. That was one of the core lessons of his hardscrabble youth that he took from the furious reaction of a rat he cornered on a stairwell in what was then Leningrad.

“Russia won its defensive wars against Napoleon and Hitler, and the most important thing Putin did here from a psychological perspective was to claim this, too, is a defensive war,” said Michel Eltchaninoff, the French author of “Inside the Mind of Vladimir Putin.” “It was an aggressive war. Now it’s the defense of the Russian world against the Western attempt at dismemberment.”

In Mr. Putin’s telling, that imagined world imbued with some inalienable Russian essence has grown in size. He said Russia would support imminent referendums in four regions of Ukraine on whether to join Russia — votes denounced by Ukraine and the West as a sham, and a likely prelude to annexation.

The Kremlin has signaled that if it absorbs that territory, the Ukrainian counter-offensives underway in the east and south to recapture territory seized by Russia would be considered attacks on Russian soil, justifying any level of retaliation, up to and including a nuclear response.

The State of the War

“If the territorial integrity of our country is threatened, we will of course use all means at our disposal to defend Russia and our people,” Mr. Putin said.

His speech, which may of course be a bluff despite his denial, nevertheless placed before the West a dilemma that has been inherent in its policy from the start of the war: How far can intense military and logistical support of Ukraine — effectively everything short of NATO troops on the ground — go without setting off nuclear confrontation?

“I believe the nuclear threat is a bluff but it gives Putin a means to terrify the West, and accentuate divisions about providing arms because some may now view that as too dangerous,” said Sylvie Bermann, a former French ambassador to Russia.

Hours after the speech in Moscow, President Biden denounced Mr. Putin’s “overt nuclear threats” against Europe, describing them as “reckless.” Addressing the United Nations General Assembly, he said the West would be “clear, firm and unwavering” in its resolve as it confronts Mr. Putin’s “brutal, needless war” in Ukraine.

“This war is about extinguishing Ukraine’s right to exist as a state, plain and simple,” Mr. Biden said. He continued: “Whoever you are, wherever you live, whatever you believe, that should make your blood run cold.”

A game of brinkmanship has begun with the American and Russian leaders seeking to outmaneuver each other as the war festers. If Ukraine and its Western backers have the advantage for now, that edge is by no means secure.

Seven months into the war, its resolution appears more distant than ever and its reverberations more dangerous. Perhaps not since the Cuban missile crisis six decades ago have American and Russian leaders confronted each other so explicitly and sharply on the danger of nuclear war.

As Olaf Scholz, the German chancellor, has said, the United States and its Western allies have been trying to use “all means possible” to help Ukraine “without creating an uncontrollable escalation.” But the risk of that escalation, possibly the start of World War III, just grew, because what constitutes a strike “inside Russia” may now be defined differently by Mr. Putin.

Full of anger and venom, portraying Ukraine as the headquarters of neo-Nazis and the West as a giant engine of “Russophobia,” Mr. Putin appeared as deluded about the neighbor he attacked as he was in his Feb. 24 speech that announced the war.

He has downsized Russia’s military ambitions in Ukraine — upended by the Russian defeat in Kyiv and recent battlefield setbacks in the northeast — without downsizing his obsessions over Russian humiliation at the breakup of the Soviet Union three decades ago.

On Wednesday, as in February, he accused the Ukrainian authorities, falsely, of genocide against ethnic Russians. He boasted of nuclear weapons that are “more advanced” than the West’s. He made wild allegations about the threat to Russia. He alluded, for example, to “statements by some high-ranking representatives of leading NATO states about the possibility and admissibility of using weapons of mass destruction — nuclear weapons — against Russia.”

There is no evidence of this.

Mr. Putin “claimed he had to act because Russia was threatened. But no one threatened Russia and no one other than Russia sought conflict,” Mr. Biden said.

The speeches came on the eve of a winter that will be hard in Europe, with inflation and energy costs rising, and days before an Italian election Sunday in which a far-right candidate, Giorgia Meloni, is the favorite. The European extreme right has generally been sympathetic to Moscow, although Ms. Meloni’s own position appears to be evolving.

Up to now, Mr. Biden has been very effective in cementing Western unity. But while the Biden administration has little apparent faith in diplomacy with Moscow at this stage, France and Germany still seek the dialogue with Russia that President Emmanuel Macron of France mentioned in his speech on Tuesday to the United Nations, a dialogue judged necessary, he said, because “we seek peace.”

Not at any price, however. Mr. Macron’s position has hardened. He presented a stark picture of a world hovering on the brink of war and brutal division as a result of Russia’s “imperial” aggression.

He said the world was close to “an enlarged era of conflict, a permanent one, where sovereignty and security will be determined by force, by the size of armies.” It was imperative, he insisted, that those remaining neutral — an apparent reference to India and China, among others — speak out.

“Those who are silent today are, despite themselves, or secretly, serving the cause of the new imperialism,” Mr. Macron said.

The Russian attempt to rebuild the imperium lost at the dissolution of the Soviet Union finds itself at a treacherous crossroads. After multiple military setbacks, Mr. Putin spoke from a weaker position than the one he held seven months ago.

“The situation is very dangerous because Putin is in a trap,” Ms. Bermann said.

 

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Quem vai colocar o guizo no pescoço geopolítico do gato? - Paulo Roberto de Almeida

 Quem vai colocar o guizo no pescoço geopolítico do gato?

Paulo Roberto de Almeida


A pergunta correta é esta: quantos milhares de russos mais o tirano de Moscou sacrificará na sua inútil e custosa guerra de agressão contra a Ucrânia, antes de ser detido em sua insanidade militar especial? 

Quem enfrentará Putin, o neoczar que está destruindo seu próprio país? 

Esta é uma tarefa que incumbe unicamente ao povo russo, que se encontra paralisado por duas razões principais: muitos estão ingenuamente convencidos de que Putin está efetivamente comprometido com a defesa necessária da Rússia contra um ataque da Otan, e todos sabem que qualquer resistência aos projetos do tirano sofrerá imediata repressão das forças de segurança e condenação por uma justiça inteiramente a seu serviço.

O lento desenrolar de mais uma tragédia numa história nacional que comporta basicamente expansionismo imperialista e brutal regime autoritário. 

Toynbee e Duroselle, se estivessem vivos, certamente teriam riquíssimos materiais sobre o declínio dos impérios. Também Shakespeare encontraria suporte para mais um drama exemplar. Não sei se Tolstoi gastaria tinta com um personagem tosco e claramente tomado por uma megalomania doentia. 

O fato é que a comunidade mundial está terrivelmente paralisada em face do mais dramático desafio aos fundamentos do Direito Internacional e aos princípios básicos da Carta das Nações Unidas. 

A ONU  será desacreditada como o foi, em seu tempo, a Liga das Nações, pela inoperância da maior parte dos seus membros?


Ribeirão Preto, 22/09/2022