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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

A história se repete como farsa - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

Dois Capitólios, ambos criminosos, o de Washington mais mortal, o de Brasília mais destruidor.

 

A HISTÓRIA SE REPETE COMO FARSA

 

Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 10/01/2023


A invasão do Congresso norte-americano no dia 6 de janeiro de 2021 foi repetida, como farsa, no domingo, dois dias e dois anos depois, de maneira muito mais grave, porque atingiu, com criminosa destruição, também o Supremo Tribunal Federal (STF) e a sede do governo, o Palácio do Planalto. O ponto comum entre os dois eventos é o inconformismo de grupos políticos radicais com o resultado das eleições presidenciais.

O que explica essa ocorrência tão grave no começo do novo governo e que tanta reação causou no exterior? Não há dúvida de que houve falha no tratamento das informações de inteligência, além de omissão das autoridades do governo do Distrito Federal (DF) e incompetência na proteção e na segurança da Praça dos Três Poderes. A tentativa de destruição do Estado de Direito resulta de causas mais profundas.

A divisão política e social do País, com crescente radicalismo por parte de grupos minoritários, está na base de grave crise política que terá desdobramentos sérios, inclusive pelo aparelhamento da máquina estatal com a contaminação ideológica das instituições públicas, como no caso dos agentes de segurança, tanto federais como do DF. O desrespeito às instituições caracteriza um estado de anomia por parte de uma parcela radical da sociedade brasileira. Depois do ocorrido no domingo, a ideia de convergência, união e pacificação, anseio de muitos e promessa de campanha, fica mais difícil de ser alcançada.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, depois de muitas horas, a exemplo de Donald Trump, procurou se dissociar dos atos violentos, mas acentua a divisão ao comparar o que aconteceu no domingo às ações da esquerda em 2013 e 2017. A responsabilidade política do ex-presidente foi apontada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. A responsabilidade jurídica terá de ser apurada. O governo observou que o ocorrido foi um ato terrorista e uma tentativa de golpe nunca registrada na história do País. A tentativa de eventual condenação de Bolsonaro por suas ações contra o resultado das urnas deverá acirrar os ânimos ainda mais.

A reação do governo federal tem de ser rápida para apurar as responsabilidades do crime e punir os culpados pelos atos de terrorismo. Algumas decisões foram prontamente tomadas: a intervenção federal na área de segurança por 30 dias no governo do Distrito Federal, a ser apreciada pelo Congresso; a prisão de quase 300 invasores em flagrante e 1.500 nos acampamentos; a investigação sobre os mandantes e financiadores do movimento; a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso; o pedido de cessão de membros das Forças Armadas para completar as forças que garantirão a lei e a ordem. O Judiciário determinou o afastamento do governador do DF por 90 dias e o fim dos acampamentos em frente e nas adjacências dos quartéis.

A crise desencadeada pela invasão e destruição de Brasília gerou forte turbulência política e piora no ambiente dos entendimentos que o novo governo está desenvolvendo para ampliar a margem de governabilidade. O radicalismo político deverá continuar e a oposição ao governo Lula vai se acirrar no Congresso e nas ruas. O presidente Lula terá de criar um clima político estável para a condenação dos criminosos e para impedir a repetição dessas ações.

Um dos fatores mais importantes para a difícil superação da turbulência deverá ser a firme manifestação da autoridade presidencial em todas as áreas, para liderar os esforços para o fortalecimento das instituições do centro democrático e para a retomada da agenda econômica e social.

Do ponto de vista político, um dos fatores mais sensíveis, com importante repercussão na evolução das ações do governo Lula, é o relacionamento entre civis e militares. Alguns fatos indicam a incerteza dessa relação: a politização de parte dos militares da ativa, como se viu concretamente na recusa do comandante da Marinha em participar da posse do seu substituto nomeado pelo presidente Lula, apesar das gestões do ministro da Defesa; a complacência até ontem das lideranças das Forças Armadas em relação à permanência dos acampamentos de seguidores de Bolsonaro que se multiplicaram em frente a quartéis militares; e o fato de Lula ter optado por não convocar ação das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), talvez pela incerteza da reação dos militares. A não manifestação das Forças Armadas durante os acontecimentos, contudo, foi um dos poucos aspectos positivos de toda a crise. Se tivesse havido uma efetiva tentativa de golpe às instituições, a não interveniência das Forças Armadas – que haviam dado mostras de que não tomariam partido, nem sairiam das linhas constitucionais – frustrou a expectativa. As instituições, bem ou mal, saíram fortalecidas.

Outra importante consequência da crise é a mudança da agenda, que deixa a economia e a governabilidade em um segundo plano para dar relevância à defesa das instituições e do Estado Democrático de Direito. As tensões deverão aumentar e ter desdobramentos em todos os níveis. As ações do Executivo, do Legislativo e do Judiciário contra os invasores, organizadores, financiadores e incentivadores tornarão a divisão do País ainda mais acentuada e radicalizada.

PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS DE DEFESA E SEGURANÇA NACIONAL (CEDESEN)

 

 

 

 


Um 2023 especialmente complicado para muitos países e não apenas a Ucrânia: guerras, crises, recessão, fome, desastres humanitários

 By Ishaan Tharoor with Sammy Westfall 
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The Washington Post, January 11, 2023

 For many Western policymakers, the Russian invasion of Ukraine is the all-defining crisis of the moment. That’s understandable: An open war in Europe of this scale marked an epochal moment on the continent, realigning grand strategy in major European capitals and reinvigorating the transatlantic alliance. Meanwhile, the war’s ripple effects — shocks to supply chains, energy markets and global food systems — have fed into other crises far away, from West Africa to South Asia.

But there’s a lot more to worry about in the world. Two recent studies — one by a think tank, the other by a humanitarian international organization — lay out the challenges that should vex global policymakers in 2023.

 

The annual Preventive Priorities Survey, released by the Council on Foreign Relations (CFR), polled more than 500 U.S. government officials, policymakers and academics on the likelihood of certain events transpiring this year and what their impact would be on U.S. interests. It sorted these contingencies into a three-tiered ranking of potential hot spots and crises — at least from the vantage point of Washington.

Intriguingly, the report noted that for the first time since 2008, when the survey of foreign policy elites started being conducted, “the possibility of a foreign terrorist organization inflicting a mass casualty attack on the United States or a treaty ally was not proposed as a plausible contingency.” In other words, “from the perspective of those responding, the 9/11 era is over,” Paul Stares, head of CFR’s Center for Preventive Action, said at a Tuesday briefing.

 

The seven most pressing threats in 2023 enumerated by the survey are as follows: The advent of “a severe cross-strait crisis” that pulls the United States into a confrontation with China over Taiwan; an escalation in the Ukraine war that sees “unconventional weapons spillover into neighboring countries”; a cyberattack hitting U.S. critical infrastructure; economic collapse and social unrest within Russia because of the toll of the war, leading to a destabilizing spiral; North Korea stepping up its testing of nuclear weapons and long-range ballistic missiles; Israel’s right-wing government taking covert or direct action against Iran’s nuclear program, with diplomacy over Tehran’s nuclear capabilities at a dead end; and the possibility of natural disaster and social unrest in Central America spawning a new surge of migration to the United States.

“Every conversation I’ve had about Ukraine over the course of the year has at some point moved to Taiwan,” said Suzanne Maloney, vice president and director of foreign policy at the Brookings Institution, a leading think tank. Speaking at the same CFR briefing, Maloney gestured to the widespread feeling of concern in Washington that China is priming itself for an invasion of the island democracy at its doorstep.

 

This rundown of what’s most vexing U.S. policymakers still misses a whole other world of crisis. Last month, the International Rescue Committee unveiled its annual emergency watch list of 20 countries most at risk of humanitarian calamity. Ukraine, though in the grips of a ruinous war, is only 10th in the IRC ranking. Other countries are in even more dire conditions: At the top of the list are the Horn of Africa nations of Somalia and Ethiopia, stricken by drought and war. Hundreds of thousands of people are already living under famine conditions in these two countries, with aid agencies warning of far greater depredations to come. In Somalia, close to half the population is already in need of humanitarian assistance.

Then there’s Afghanistan, which dropped from the top spot on the watch list only because of the severity of the crises in East Africa. The economic collapse that was compounded by the takeover of the Taliban has immiserated much of the country. The political impasse over Kabul — the Taliban are international pariahs and have their foreign reserves frozen by U.S. sanctions — is only making things worse. “Despite efforts to engage the [Taliban government], a plan to address Afghanistan’s economic collapse has not been agreed upon,” the IRC noted. “With almost the entire population now living in poverty and preparing for another long winter, an escalation in humanitarian need is a risk in 2023.”

 

As I reported earlier, for humanitarian organizations, the war in Ukraine has been a double tragedy — triggering a cascading series of pressures that impacted poor nations elsewhere, while also leading the entreaties of aid agencies last year to fall on somewhat deaf ears. We knew for months that Somalia faced a devastating epidemic of hunger, but humanitarian officials say the funding and international response has come late.

The 20 countries on the IRC watch list account for some 90 percent of people in the world who need humanitarian assistance, 81 percent of people who have been forcibly displaced from their homes, 80 percent of those who are acutely food insecure and only 1.6 percent of global gross domestic product. Their precarity is, in and of itself, a reflection of vast inequities that shape the global system.

“Most of the crises in Watchlist countries are not new,” IRC President and CEO David Miliband wrote in a foreword to the annual report. “But the fact that these crises are protracted does not make them any less urgent. The primary reason we are seeing worrying new record levels of need is because three key accelerators of crisis — armed conflict, climate change and economic turmoil — are driving long-standing crises to new extremes. And, in some instances, they are sparking new crises as well.”

Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana - Paulo Roberto de Almeida

 Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana em 2022

Paulo Roberto de Almeida 

4087. “Uma nota pessoal sobre mais uma postura vergonhosa de nossa diplomacia”, Brasília, 22 fevereiro 2022, 2 p. Comentários a nota do Itamaraty e a declaração feita no CSNU a propósito da invasão da Ucrânia pela Rússia, com referência à nacionalização dos hidrocarburos na Bolívia em 2006. Postado no blog Diplomatizzando (link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/02/uma-nota-pessoal-sobre-mais-uma-postura.html).

4098. “Renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil”, Brasília, 7 março 2022, 5 p. Breve ensaio para o blog científico International Law Agendas, do ramo brasileiro da International Law Association (ILA; http://ila-brasil.org.br/blog/), para edição especial sobre “A política externa brasileira frente ao desafio da invasão russa na Ucrânia”, a convite de Lucas Carlos Lima, coeditor do blog, com base nas notas e declarações do Itamaraty com respeito aos debates no CSNU e na AGNU. Publicado, na condição de membro do Conselho Superior do ramo brasileiro da International Law Association, no blog eletrônico International Law Agendas (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/); blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/uma-renuncia-infame-o-abandono-do.html). Relação de Publicados n. 1442. 

 

4099. “Quando o dever moral nascido do sentido de Justiça deve prevalecer sobre o “pragmatismo” que sustenta o crime”, Brasília, 9 março 2022, 1 p. Comentário sobre a postura objetivamente favorável do governo brasileiro ao agressor no caso da guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/quando-o-dever-moral-nascido-do-sentido.html).

4107. “O conflito Rússia-Ucrânia e o Direito Internacional”, Brasília, 16 março 2022, 12 p. Respostas a questões colocadas por interlocutor profissional sobre a natureza do conflito e suas consequências no plano mundial. Disponível Academia.edu (link: https://www.academia.edu/73969669/OconflitoRussiaUcraniaeoDireitoInternacional2022); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/o-conflito-russia-ucrania-e-o-direito.html).

4109. “Avançamos moralmente desde os embates de nossos ancestrais na luta pela sobrevivência?”, Brasília, 19 março 2022, 1 p. Considerações sobre a imoralidade e barbaridade dos atos que estão sendo cometidos pelas tropas de Putin na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/avancamos-moralmente-desde-os-embates.html).

 4131. “Consequências econômicas da guerra da Ucrânia”, Brasília, 19 abril 2022, 18 p. Notas para desenvolvimento oral em palestra-debate promovida no canal Instagram do Instituto Direito e Inovação (prof. Vladimir Aras), no dia 21/04/22. Nova versão reformatada e acrescida do trabalho 4132, sob o título “A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais”, com sumário, anexo e bibliografia. Divulgado preliminarmente na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/77013457/AguerradaUcrâniaeassançõeseconômicasmultilaterais2022) e anunciado no blog Diplomatizzando (20/04/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/04/a-guerra-da-ucrania-e-as-sancoes.html). Transmissão via Instagram (21/04/2022; 16:00-17:06; link: https://www.instagram.com/tv/CcoEemiljnq/?igshid=YmMyMTA2M2Y=); (Instagram: https://www.instagram.com/p/CcoEemiljnq/).

4143. “Quão crível é a ameaça de guerra nuclear da Rússia no caso da Ucrânia?”, Brasília, 2 maio 2022, 3 p. Rememorando o caso dos mísseis soviéticos em Cuba. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/quao-credivel-e-ameaca-de-guerra.html).

4152. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 11 maio 2022, 16 p. Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/OBrasileaguerradeagressãodaRússiacontraaUcrânia2022) e no blog Diplomatizzando (13/05/2022: xc>chttps://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes.html). Divulgado igualmente na página do Centro de Liberdade Econômica das Faculdades Mackenzie (link: https://www.mackenzie.br/liberdade-economica/artigos-e-videos/artigos/arquivo/n/a/i/o-brasil-e-a-guerra-de-agressao-da-russia-contra-a-ucrania). vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc). Relação de Publicados n. 1452.

 

4153. “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil”, Brasília, 11 maio 2022, 5 p. Notas para exposição oral na palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Divulgado no blog Diplomatizzando (14/05/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes14.html); vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc).

4165. “Os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: o Brasil afronta o Direito Internacional e a sua história diplomática”, Brasília, 3 junho 2022, 7 p. Texto de apoio a participação em seminário do Instituto Montese sobre os “100 dias de guerra na Ucrânia”, com gravação prévia antes da apresentação. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/100-dias-de-guerra-de-agressao-da.html); emissão divulgada em 10/06/2022, 14h05 (link: https://www.youtube.com/watch?v=CEs-kG1hOjk; exposição PRA de 44:37 a 52:30 minutos da emissão). Relação de Publicados n. 1454.

 4168. “O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 9 junho 2022, 6 p. Posfácio ao livro A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira, e revisão geral, eliminando todas as tabelas, agora com 187 p. Apresentação no blog Diplomatizzando (11/06/2022; link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/meu-proximo-kindle-sobre-miragem-dos.html). Publicado em 12/06/2022 Brasília: Diplomatizzando, 2022; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4; Preço: R$ 25,00;

 4171. “O Brasil está perdendo o rumo em sua postura enquanto nação civilizada?”, Brasília, 12 junho 2022, 5 p. Nota sobre a postura diplomática do Brasil em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, aproveitando para apresentar o livro sobre o Brics, incluindo os dois sumários e o índice não numerado. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-brasil-esta-perdendo-o-rumo-em-sua.html).

4189. “O futuro do grupo BRICS”, Brasília, 30 junho 2022, 9 p. Texto conceitual sobre os caminhos enviesados do BRICS pós-guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e reflexivo sobre as ordens alternativas no campo econômico e político. Elaborado a propósito de webinar promovido pelo IRICE (embaixador Rubens Barbosa) sobre “O futuro do grupo Brics” (30/06/2022), na companhia do presidente do NDB, Marcos Troyjo, e da representante da Secretaria de Comércio Exterior do Itamaraty, Ana Maria Bierrenbach. Postado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-futuro-do-grupo-brics-ensaio-por.html). Vídeo do evento disponível no canal do IRICE no YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=9Q9l8i4gyX4 ). Relação de Publicados n. 1464.

4206. “Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa”, Brasília, 24 julho 2022, 2 p. Nota sobre a postura de Lula em relação à questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/07/a-proxima-politica-externa-do-brasil.html ). 

4217. “A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a postura do Brasil”, Brasília, 14 agosto 2022, 10 p. Breve paper sobre a diplomacia brasileira no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, para participação em seminário híbrido sobre o posicionamento dos Estados latino-americanos frente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, organizado pelo prof. Nitish Monebhurrun, no Ceub, no dia 17 de agosto, 9h30 (<nitish.monebhurrun@gmail.com>; link do seminário: meet.google.com/gkc-szgz-prt). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/84817949/4127AguerradeagressaodaRussiacontraaUcraniaeaposturadoBrasil2022) e no blog Diplomatizzando (15/08/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/08/os-estados-latino-americanos-frente-ao.html). 

4227. “Relação de materiais no Diplomatizzando sobre a guerra na Ucrânia”, Brasília, 2 setembro 2022, 3 p. Listagem dos materiais mais interessantes sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e seu impacto geopolítico. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/materiais-sobre-guerra-de-agressao.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/86055975/4227_Materiais_no_Diplomatizzando_sobre_a_guerra_de_agressao_a_Ucrania_2022_).

 4245. “O Brasil deixou de fazer parte da comunidade internacional? Desde quando?”, Brasília, 28 setembro 2022, 2 p. Nota sobre a postura do Brasil em face das violações da Rússia na sua guerra de agressão contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/o-brasil-deixou-de-fazer-parte-da.html).

 4249. “Carta aberta ao Sr. Presidente da República”, Brasília, 7 outubro 2022, 1 p. Indagação a respeito de nossas obrigações constitucionais e internacionais, no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/10/carta-aberta-ao-sr-presidente-da.html).

 4293. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 20 dezembro 2022, 1 p. Nota sobre a futura diplomacia do lulopetismo no tocante à guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/o-brasil-e-guerra-de-agressao-da-russia.html).

4301. “Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana”, Brasília, 10 janeiro 2023, 4 p. Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/selecao-de-trabalhos-sobre-guerra-de.html). 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4301, 10 janeiro 2023, 4 p.


 



segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Associação dos Diplomatas Brasileiros repudia os atos terroristas perpetrados em Brasilia em 8/01/2023

 

Nota de Repúdio aos Atos Inaceitáveis contra a Democracia - ADB/Sindical

 

A Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB/Sindical) repudia com veemência os atos terroristas ocorridos ontem (8/1), nas sedes dos três Poderes, em Brasília (DF). Esses atos inaceitáveis comprometeram gravemente a manutenção da ordem pública, além de representar um vil ataque à democracia brasileira e depredação das sedes das instituições na capital do País, que há 35 anos está inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, sendo sua conservação para as gerações atuais e futuras dever de toda a humanidade.

Os gravíssimos crimes cometidos no domingo afastam-se dos preceitos constitucionais da liberdade de expressão e manifestação pacífica, constituindo-se em verdadeira afronta ao Estado Democrático de Direito e à democracia brasileira, construída ao longo dos anos com o esforço, dedicação e sacrifício do povo brasileiro. 

Como representantes do Brasil no exterior, agradecemos as manifestações de solidariedade recebidas por parte dos mais diversos líderes mundiais, organizações internacionais, além das mídias nacionais e internacionais, cujo propósito é o de levar informação verdadeira e esclarecimento às pessoas acerca de fatos relevantes.

 

Esperamos que tentativas de subversão da vontade soberana do eleitor, por meio da violência e da destruição, não mais tenham continuidade. Apesar de cenas lamentáveis de destruição, acompanhadas com atenção por todo o mundo, as instituições brasileiras reafirmaram sua vigilância e solidez.

 

Que a paz seja prontamente restabelecida e os responsáveis sejam penalizados, conforme a Lei.

Ucrânia solicita veiculos blindados ao Brasil, em setembro; sem resposta até agora

 Eis o teor do pedido, feito em SETEMBRO DE 2022, e que permaneceu completamente sem resposta até hoje, 9 de janeiro de 2023:

Assunto: Veículo Blindado de Transporte de Tropas 6x6 Guarani

Excelentíssimo Senhor Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, a Ucrânia é uma nação soberana que possui no Brasil sua terceira maior comunidade na Diáspora. Possuímos profundos laços históricos e culturais com o povo brasileiro.

Desde 24 de fevereiro de 2022 estamos nos defendendo de uma guerra de agressão perpetuada pela Federação Russa, que visa destruir a Ucrânia como nação soberana e anexar regiões inteiras ao território russo. A agressão russa contra a Ucrânia é uma clara violação das leis internacionais e da Carta das Nações Unidas, da qual o Brasil é signatário.

Considerando o acima exposto, o Ministério da Defesa da Ucrânia vem através deste solicitar a aquisição de um lote de 100 até 1500 unidades do Veículo Blindado de Transporte de Tropas 6x6 Guarani, de produção nacional.

Os veículos serão pagos com fundos específicos destinados ao esforço de guerra e seriam utilizados pelas nossas forças de segurança em tarefas de transporte assegurando a proteção da população civil ucraniana sob ataque ilegal e indiscriminado de uma potência estrangeira.

Certo de sua compreensão, e aguardando uma resposta positiva do Ministério da Defesa da República Federativa do Brasil, agradeço e me coloco a disposição para outras informações necessárias.

O Brasil de Lula deve manter a vergonhosa política do Brasil de Bolsonaro, e ignorar completamente o Direito Internacional ao apoiar objetivamente aguerra de agressão de uma grande potência contra um país amigo do Brasil. 

Embaixador olavista e bolsonarista é exonerado do cargo na embaixada em Washington - Gabriel Bandeira (Metrópoles); carta de Paulo Roberto de Almeida

Antes da matéria abaixo, perrmito-me relembrar uma carta que escrevi ao bom diplomata Nestor Forster, quando ele foi nomeado embaixador em Washington: 

3760. “Carta aberta a meu bom aluno, Nestor Forster, embaixador do Brasil em Washington”, Brasília, 23 setembro 2020, 4 p. Cumprimentos ao novo embaixador e rememorando certas convicções do passado. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/carta-aberta-meu-bom-aluno-nestor.html). 


Itamaraty exonera embaixador do Brasil nos Estados Unidos


Nestor Forster foi indicado para o cargo pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e era defensor dos ideias do ex-presidente em Washington

Gabriel Bandeira
Metrópoles, 09/01/2023

O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, foi exonerado do cargo pelo Itamaraty em publicação do Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira (9/1). O diplomata assumiu a embaixada nos Estados Unidos por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ao longo da sua trajetória, Forster defendeu a imagem de Bolsonaro para a imprensa americana, ao advogar a favor, por exemplo, da política adotada pelo antigo governo no combate à pandemia. Nessa ocasião, o diplomata chegou a enviar uma carta ao jornal norte-americano The New York Times para elogiar o ex-presidente.

A decisão foi assinada por Mauro Vieira na última sexta-feira (6/1) e, portanto, não tem relação com os atos de vandalismo registrados em Brasília nesse domingo (8/1).

Antes de assumir a cadeira, Forster coordenou o encontro de Jair Bolsonaro com representantes da direita nos Estados Unidos, como Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump.

Na sua sala de trabalho, um cartaz escrito “torne os bebês não nascidos bons de novo” (em inglês, Make unborn babies great again) fazia referência direta aos slogan do ex-presidente dos Estados Unidos e transparecia o pensamento conservador e religioso do embaixador.

Além disso, o diplomata contou com experiências no governo do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando foi chefe do Setor de Política Comercial da embaixada em Washington entre 1992 e 1995 e chefe do Setor Financeiro da mesma pasta entre 2003 e 2006.

Amizade com Olavo de Carvalho
Quando Olavo de Carvalho faleceu, em janeiro do ano passado, o embaixador utilizou as redes sociais para lamentar a morte do filósofo de extrema-direita.

“É uma perda imensurável para o Brasil e todos que o conheceram. Através de sua obra, ele deixa um legado eterno”, escreveu na época.

Forster era amigo próximo do pensador. Foi por meio do diplomata, inclusive, que Olavo e Ernesto Araújo, antigo ministro de Relações Exteriores de Bolsonaro, se encontraram presencialmente pela primeira vez, como revelou o jornal O Estado de São Paulo.

Exoneração de cônsul em Nova Iorque
A mesma publicação oficial que exonerou Forster também comunicou a saída de Maria Nazareth Farani Azevêdo do cargo de cônsul do Brasil em Nova Iorque.

Farani Azevêdo foi representante brasileira permanente em assembleias das Nações Unidas e contou com mais de 20 anos de atuação em Genebra.

A diplomata ficou conhecida depois de discutir com o ex-deputado Jean Willys (PT) durante assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2019, quando o antigo parlamentar responsabilizou Jair Bolsonaro pela morte da vereadora Marielle Franco.

O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, ainda não indicou quem assumirá os dois cargos vagos. No caso da Embaixada de Washington, a nomeação precisa passar pelo Senado Federal.


De repente, o mundo descobre um brasileiro pouco cordial - Paulo Roberto de Almeida (Revista Crusoé)

 Meu artigo na Crusoé, escrito no calor da hora: 

De repente, o mundo descobre um brasileiro pouco cordial 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

Publicado na revista Crusoé (9/01/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/diario/de-repente-o-mundo-descobre-um-brasileiro-pouco-cordial/).


Surpresa! Um Brasil violento aparece nas manchetes da imprensa mundial

A famosa expressão do historiador Sérgio Buarque de Holanda, sobre o brasileiro cordial, tantas vezes mal interpretada, mas muitas vezes mais repetida à exaustão, não deve ser muito conhecida no exterior, mas o fato é que mundo tinha exatamente essa imagem do brasileiro médio: um cidadão pacato, folgazão, amigo de todos, sempre disposto à música e à diversão e bem mais associado às imagens de praias e do Carnaval do que ao trabalho duro. A despeito de um ex-presidente carrancudo, mal-educado e inimigo da natureza, prevalecia a noção de que o brasileiro comum era um cidadão simpático, acolhedor, propenso ao futebol-arte, antes que a esses esportes brutos ou à luta livre, apreciados pelos americanos.

O Capitólio tupiniquim do 8 de janeiro veio desmentir, ou desvelar, o ledo engano. A invasão e a depredação, não de apenas um, mas de três poderes simultaneamente, levaram às primeiras chamadas do noticiário internacional, e às primeiras páginas dos jornais, assim como das novas mídias, imagens deploráveis de novos bárbaros tentando derrubar pela força um novo governo legitimamente eleito pouco mais de dois meses antes. Não se deploram mortos como no Capitólio dos trumpistas, mas o cenário de destruição depois da passagem dos hunos bolsonaristas foi ainda mais devastador do que em Washington. De repente, quase sem aviso, o que eram “manifestações de protesto” – segundo os apoiadores dos vândalos – se converteram em cenas de fúria desenfreada, prontamente reproduzidas em quase todos os canais de informação nos quatro cantos do planeta.

A reação de muitas autoridades mundiais foi também imediata. Poucos minutos após a transmissão das primeiras imagens, declarações, notas e mensagens de indignação e de solidariedade passaram a ser prontamente divulgadas pelos mesmos canais da mídia mundial. Da Argentina à Venezuela, passando por Cuba e Estados Unidos, no hemisfério, da Áustria ao Timor Leste, ao redor do mundo, chefes de Estado, de governo, diretores de organizações multilaterais e de organismos regionais emitiram notas e fizeram pronunciamentos em defesa da democracia brasileira e condenando o que parecia ser, e talvez fosse efetivamente, uma tentativa golpista, no mais puro estilo Donald Trump, inclusive com as mesmas indecisões exibidas pelos órgãos de segurança nos dois casos. O mundo foi então apresentado à face menos risonha do brasileiro supostamente cordial e boa praça, aparecendo em seu lugar um bando de trogloditas enrolados na bandeira nacional. Tudo isso muito pouco depois que o mundo deplorou, de forma unânime, o desaparecimento do rei do futebol, o maior atleta do mundo, o brasileiro mais conhecido do mundo, o “passaporte Pelé”, que salvou a vida de mais de um repórter trabalhando em zonas inóspitas e perigosas.

Como foi a reação mundial aos eventos inéditos da baixa política brasileira?

Imediatamente após as primeiras notícias de Brasília, pelo menos cinco autoridades da União Europeia – os presidentes do Conselho, da Comissão e do Parlamento comunitário, o comissário de relações exteriores e o representante diplomático acreditado no Brasil – emitiram notas, declarações e tuites lamentando o evento e hipotecando solidariedade. Assim também fizeram vários governos europeus na pronta sequência. Na América Latina, não só líderes nacionais dos executivos, mas responsáveis de outros poderes, inclusive do judiciário, também se manifestaram prontamente. Dos Estados Unidos, tanto o presidente Joe Biden e o Secretário de Estado saíram em defesa da democracia no Brasil, além do diretor da OEA e dos conselhos editoriais dos grandes jornais e organismos sediados em Washington; da capital americana, o novo diretor do BID, o brasileiro Ilan Goldfajn, tuitou sua mensagem no primeiro minuto. Letônia, Malta, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Celac, também emitiram seus comunicados. Comissões de juristas, responsáveis de ONGs humanitárias e o próprio Conselho de Segurança da ONU tampouco faltaram na lista das primeiras manifestações de preocupações com a estabilidade democrática no Brasil.

O tom geral é de condenação à tentativa de golpe, ainda que os militares brasileiros – tão criticados no passado por uma das ditaduras mais longevas da América Latina – tenham permanecido estranhamente silenciosos durante a ascensão dos golpistas claramente ligados ao presidente derrotado em outubro passado. A maior parte das manifestações é de confiança, ainda que puramente formal, na solidez democrática das instituições públicas, embora o mundo conheça o nosso histórico de impeachments, bem ou malsucedidos. O presidente da Argentina, Alberto Fernández – o primeiro a receber uma próxima visita de Lula – deu uma entrevista ao vivo, e à quente, à BandNews na qual não descartou cumplicidades em altos escalões das instituições públicas para que a tentativa de golpe chegasse tão longe no ataque ao coração das principais instituições do Estado brasileiro, o que nenhum outro dirigente estrangeiro ousou ainda aventar. De fato, os golpistas não teriam chegado tão longe se não contassem com uma sólida rede de apoios, tanto entre dirigentes do setor privado apoiadores da agenda reacionária de Bolsonaro, quanto da conivência de comandantes no alto escalão das Forças Armadas, amplamente beneficiadas pelas prebendas do ex-chefe.

O que o atentado frustrado à democracia implica para a imagem do Brasil no mundo?

O baixo crescimento brasileiro, as declarações estatizantes e contra o equilíbrio fiscal do presidente recém-empossado e a própria possibilidade de recessão na economia mundial já sinalizavam, desde a formação do governo nas últimas semanas de 2022, perspectivas pouco auspiciosas para a atração de investimentos diretos suscetíveis de criar novos empregos e de dinamizar as exportações, via programas de reindustrialização do setor produtivo. Ameaças de instabilidade política podem representar caução redobrada por parte de empresários interessados no mercado local e, sobretudo, de fundos de investimento apenas financeiros, pois que temerosos de novas turbulências políticas que afetem as reformas mais esperadas pelos mercados: tributária, regulatória, do próprio Mercosul, que ainda é, a despeito de todos os contratempos, a segunda união aduaneira mais relevante no mundo, depois da UE.

Por outro lado, a pronta reação das autoridades, a responsabilização dos responsáveis pelos atos atentatórios às instituições e a inédita união – talvez de circunstância – entre os três poderes na defesa da democracia apontam para uma convergência de intenções, na classe política, no sentido de eliminar pela raiz esse tipo de ameaça antidemocrática, pois que poucos parlamentares de direita – e eles são muitos nesta nova legislatura – ousarão apoiar ou enveredar por uma oposição doravante identificada como propensa à quebra das instituições ou da normalidade democrática. Pode-se até dizer, com alguma suspeita de subjetividade em defesa da democracia, que diminuiu sobremaneira a possibilidade de consolidação de uma extrema-direita no país, retornando o sistema político brasileiro ao usual costumeiro, que é a da alternância entre governos oligárquicos ou populistas, sempre controlados, em última instância, por uma maioria conservadora no Congresso.

De todo modo, pode também ter diminuído a confiança dos grandes parceiros do Brasil no Ocidente desenvolvido numa rápida recondução do país aos canais centrais que se espera de um país plenamente integrado aos cânones usuais dos sistemas democráticos: um governo dispondo da confiança da maioria da população para empreender grandes reformas que são urgentemente demandadas numa agenda quase consensual de governança, em especial no domínio ambiental, a área que mais sofreu sob o desgoverno destruidor anterior. Nessa mesma linha, a relutância do Brasil em seguir o Ocidente na condenação veemente da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, assim como declarações do presidente e do seu principal assessor internacional contrárias a uma rápida adesão do Brasil à OCDE podem turvar um cenário que se apresentava como claramente favorável a esse retorno do país ao antigo grande protagonismo diplomático internacional que vinha praticamente desde o início da redemocratização. O terceiro-mundismo de Lula, sua adesão à fantasmagoria de um tal de Sul Global e a aliança no quadro do BRICS não perturbaram gravemente esse protagonismo.

Pelo menos para a fração democrática do mundo, Trump e Bolsonaro representaram – talvez ainda representem – ameaças à necessária convergência de valores na governança das democracias de mercado, o que se converte em uma agenda ainda mais crucial, no momento em que duas grandes autocracias parecem sinalizar uma competição mais agressiva vis-à-vis o Ocidente liberal, no sentido de oferecer uma outra “ordem mundial” que não é exatamente aquela desenhada em Bretton Woods, instituída em San Francisco e mantida contra ventos e marés durante o longo período de confrontação na geopolítica bipolar dos anos de Guerra Fria. Já a aliança do Brasil e da Índia no quadro do BRICS a essas duas potências autoritárias enfraquece a necessária unidade do campo democrático na defesa de valores e princípios que sempre foram os da diplomacia brasileira, desde o Barão do Rio Branco, de Rui Barbosa, de Oswaldo Aranha, de San Tiago Dantas e de Celso Lafer no quadro do multilateralismo atual, que tem como eixo central a defesa intransigente do Direito Internacional.

As primeiras reações de Lula aos dramáticos eventos do Capitólio bolsonarista deram ao mundo a impressão de um dirigente partidário mais voltado para o lado ideológico dos embates contra seus atuais inimigos, do que a reafirmação do tino racional de um líder político com estatura de estadista mundial, como ele era visto até o presente momento. Espera-se, de modo otimista, que ele faça de suas próximas visitas já programadas – à Argentina, aos Estados Unidos e à China – novas plataformas para a plena reinserção do Brasil ao mundo e não apenas reafirme o Brasil num papel de mero protagonista típico de um país emergente, ainda lutando para reformar uma democracia de baixa qualidade. Oxalá!

Paulo Roberto de Almeida

[Brasília, 4300: 9 janeiro 2023, 4 p.; 8500 caracteres.]


domingo, 8 de janeiro de 2023

Sobre a eterna questão dos papéis respectivos do Estado e dos mercados na dinâmica social - Paulo Roberto de Almeida

Seis anos atrás, questionamentos de alunos e debates nas redes sociais me levaram a redigir pequena nota sobre a eterna questão dos papéis respectivos do Estado e dos mercados na dinâmica social.

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8 de janeiro de 2017:

Algumas postagens, iniciadas ou não por mim, acabam criando vida própria, e se prolongam em discussões paralelas, altamente interessantes. Uma dessas discussões, recorrente (mesmo em aulas que dou), é a suposta oposição, ou equação binária, entre ESTADO e MERCADOS, com todas as consequências que podemos imaginar para a definição de políticas públicas. 

Por isso mesmo redigi um comentário numa dessas postagens, que transcrevo abaixo, pois pretende acabar com essa identidade que NÃO EXISTE, mercados de um lado, Estado de outro.

Percebo, mesmo entre certos "liberais", uma incompreensão muito grande sobre o que seja o Estado e o que sejam os mercados, geralmente colocando-os num mesmo patamar de intervenção teórica sobre a realidade, quando são duas coisas muito diferentes, ainda que aparentemente situadas numa mesma equação (mas isso é racionalização teórica). 

Economia de mercado é o que existe, naturalmente, em suas diversas formas, inclusive essa fração superior, mais sofisticada, que é o capitalismo. Sociedades desenvolvem naturalmente os mercados, pois esta é a tendência natural dos cidadãos, a divisão do trabalho e os intercâmbios. 

Estados são construções sociais, contratos coletivos, com todas as suas falhas. Governantes, ou seja, os que ocupam temporariamente o Estado, pretendem atuar como demiurgos, controlando essas relações de intercâmbio entre os agentes econômicos, e com isso podem deformar instituições que de toda forma se submetem ao direito, à força, à demagogia, a todo tipo de influência. 

Gostaria que as pessoas não falassem dos mercados como se fossem coisas controláveis pelas mãos do homens. Não, não são, e as tentativas nesse sentido acabam sempre redundando em menor eficiência dos mercados, ou em fenômenos tais como contrabando, mercado negro, elisão e evasão fiscal, etc.

Concluo dizendo que uma sociedade de mercados livres será sempre, sempre, SEM EXCEÇÕES, infinitamente superior a uma sociedade controlada pelo Estado, qualquer Estado, mesmo o mais democrático, o que geralmente não é o caso, por uma razão muito simples. 

A lógica de funcionamento dos mercados é totalmente oposta à lógica de funcionamento do Estado. Este costuma ser mais eficiente concentrando poder, monopolizando várias esferas da vida cidadã, e tentando fazer com que todos se comportem de maneira "adequada", seja lá o que isso queira dizer. A lógica dos mercados não é a concentração, e sim a atomização, a dispersão de iniciativas, a fragmentação de ofertas, a total multiplicidade de vontades, enfim, a famosa "mão invisível" de Adam Smith.

Por isso mesmo, mercados livres sempre vão produzir uma melhor situação de bem estar do que um Estado aparentemente ordenado. 

E a concentração econômica? Ela existe (monopólios, cartéis, etc.), mas não é feita pelos mercados, e só pode existir com a mão visível do Estado, como resultado de um complô entre capitalistas e príncipes. Ponto!

Paulo Roberto de Almeida 


Manifestações de Estados estrangeiros relativas às ações golpistas contra os poderes instituídos no Brasil

 Manifestações de Estados estrangeiros relativas às ações golpistas contra os poderes instituídos no Brasil

🇪🇺 União Europeia https://twitter.com/IgnacioYbanez/status/1612173182001111042?s=20&t=AJOwzcVUe4MiEz1kahwbDw

🇪🇺 União Europeia https://twitter.com/CharlesMichel/status/1612185788367650817?s=20&t=up-eKZJoIfPQIXzyTjRUhA

🇪🇺 União Europeia

https://twitter.com/josepborrellf/status/1612189082200821760?s=46&t=pP9T1WN0jTA1leOgsz-NWw

🇪🇺 União Europeia

https://twitter.com/UEnoBrasil/status/1612194341908541441?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇪🇺 União Europeia https://www.eeas.europa.eu/eeas/brazil-statement-high-representative-josep-borrell-anti-democratic-storming-government_en

Secretário Geral da OEA https://twitter.com/Almagro_OEA2015/status/1612166292840005634?s=20&t=bCKo1uhss86RxP-9WCXPlQ

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) https://twitter.com/cidh/status/1612195722149105665?s=48&t=RjXhXZ926GvFzqWJj7zPyg

Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos (CELAC) https://twitter.com/PPT_CELAC/status/1612177602927542272?s=20&t=oKXV-JQrnTnrzu2BilvkLg

🇦🇷 Argentina https://twitter.com/alferdez/status/1612181156459384832?s=20&t=oKXV-JQrnTnrzu2BilvkLg

🇦🇷 Argentina https://twitter.com/SantiagoCafiero/status/1612173730699960323?s=20&t=HP7imdyymhFNOrFxFULv5Q

🇦🇹 Áustria https://twitter.com/a_schallenberg/status/1612199834747813889?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇧🇪 Bélgica https://twitter.com/hadjalahbib/status/1612202543697862657?s=20&t=5_kDtn8MmHHNbsLLdARAfw

🇧🇴 Bolívia https://twitter.com/MRE_Bolivia/status/1612183654893244416?s=20&t=oKXV-JQrnTnrzu2BilvkLg

🇧🇴 Bolívia https://twitter.com/RogelioMayta_Bo/status/1612192407038332928?s=20&t=Qfxu7S2QBQnCrAKsLl3NSA

🇨🇱 Chile https://twitter.com/GabrielBoric/status/1612171319789117440?s=20&t=AJOwzcVUe4MiEz1kahwbDw

🇨🇱 Chile https://twitter.com/UrrejolaRREE/status/1612177956473917446?s=20&t=8lmYDJM8_1bCNzesxVOysQ

🇨🇱 Chile https://twitter.com/Minrel_Chile/status/1612178497312636928?s=20&t=8lmYDJM8_1bCNzesxVOysQ

🇨🇱 Chile

https://twitter.com/Minrel_Chile/status/1612204259063529472?s=20&t=5_kDtn8MmHHNbsLLdARAfw

🇨🇴 Colômbia https://twitter.com/petrogustavo/status/1612160925859028992?s=20&t=OTg6I2UrYclnu7fVHLjTAA

🇨🇴 Colômbia

https://twitter.com/petrogustavo/status/1612178529491329030?s=20&t=8lmYDJM8_1bCNzesxVOysQ

🇨🇴 Colômbia

https://twitter.com/CancilleriaCol/status/1612190815610191878?s=20&t=Qfxu7S2QBQnCrAKsLl3NSA

🇨🇷 Costa Rica https://twitter.com/presidenciacr/status/1612201773288022019?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇨🇷 Costa Rica https://twitter.com/RodrigoChavesR/status/1612203327051239425?s=20&t=5_kDtn8MmHHNbsLLdARAfw

🇨🇷 Costa Rica https://twitter.com/CRcancilleria/status/1612200891175559169?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇨🇺 Cuba https://twitter.com/DiazCanelB/status/1612181838646185984?s=20&t=oKXV-JQrnTnrzu2BilvkLg

🇨🇺 Cuba

https://twitter.com/BrunoRguezP/status/1612177583600189440?s=20&t=S0cJ_DmFB97pAOmvhjGt5A

🇪🇨 Equador https://twitter.com/LassoGuillermo/status/1612183374570950657?s=20&t=oKXV-JQrnTnrzu2BilvkLg

🇪🇨 Equador https://twitter.com/CancilleriaEc/status/1612169789253865474?s=20&t=AJOwzcVUe4MiEz1kahwbDw

🇸🇮 Eslovênia https://twitter.com/MZZRS/status/1612203164526166022?s=20&t=5_kDtn8MmHHNbsLLdARAfw

🇸🇮 Eslovênia https://twitter.com/sloinbra/status/1612202116302479361?s=46&t=R8PXC4krmL02s_IkyjAfCQ

🇪🇸 Espanha https://twitter.com/sanchezcastejon/status/1612176277301039105?s=20&t=W8CC_r_gmpPE2l3A1CoCZA

🇪🇸 Espanha https://twitter.com/MAECgob/status/1612179596614533121?s=20&t=8bLQI_f4YoewinOI_7djmg

🇪🇸 Espanha https://twitter.com/EmbEspBrasil/status/1612185320409243652?s=20&t=up-eKZJoIfPQIXzyTjRUhA

🇪🇸 Espanha

https://twitter.com/EmbEspBrasil/status/1612185676958629889?s=20&t=up-eKZJoIfPQIXzyTjRUhA

🇺🇸 Estados Unidos https://twitter.com/SecBlinken/status/1612196735538937856?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇺🇸 Estados Unidos https://twitter.com/USAmbBR/status/1612180457348628481?s=20&t=oKXV-JQrnTnrzu2BilvkLg

🇺🇸 Estados Unidos https://twitter.com/EmbaixadaEUA/status/1612172052408201217?s=20&t=AJOwzcVUe4MiEz1kahwbDw

🇺🇸 Estados Unidos https://twitter.com/EmbaixadaEUA/status/1612190413644828673?s=20&t=-A_wc_am-6mk6b2gq_KY9A

🇫🇷 França https://twitter.com/EmmanuelMacron/status/1612194081672658949?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇮🇹 Itália https://twitter.com/Antonio_Tajani/status/1612195904890478592?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇱🇻 Letônia https://twitter.com/edgarsrinkevics/status/1612188770823979008?s=20&t=-A_wc_am-6mk6b2gq_KY9A

🇲🇹 Malta https://twitter.com/MinisterIanBorg/status/1612194894247755777?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇲🇽 México https://twitter.com/lopezobrador_/status/1612196516764200960?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇲🇽 México https://twitter.com/m_ebrard/status/1612165367991865346?s=20&t=OTg6I2UrYclnu7fVHLjTAA

🇵🇾 Paraguai https://twitter.com/MaritoAbdo/status/1612203710922326018?s=20&t=5_kDtn8MmHHNbsLLdARAfw

🇵🇾 Paraguai https://twitter.com/mreparaguay/status/1612203412946571266?s=20&t=5_kDtn8MmHHNbsLLdARAfw

🇵🇪 Peru https://twitter.com/CancilleriaPeru/status/1612185108919861259?s=20&t=up-eKZJoIfPQIXzyTjRUhA

🇵🇹 Portugal https://twitter.com/nestrangeiro_pt/status/1612180230562631685?s=20&t=8bLQI_f4YoewinOI_7djmg

🇬🇧 Reino Unido https://twitter.com/salqaq/status/1612187988825448449?s=20&t=Qfxu7S2QBQnCrAKsLl3NSA

🇩🇴 República Dominicana https://twitter.com/luisabinader/status/1612196096389808128?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇨🇭 Suíça https://twitter.com/SwissAmbBrazil/status/1612187842104692737?s=20&t=ZLQMVRlqV-D-U056LY5dKA

🇨🇭 Suíça https://twitter.com/SwissMFA/status/1612194348048814080?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇨🇭 Suíça https://twitter.com/EDA_DFAE/status/1612195360340062209?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇺🇾 Uruguai https://twitter.com/LuisLacallePou/status/1612191606068899840?s=20&t=Qfxu7S2QBQnCrAKsLl3NSA

🇺🇾 Uruguai https://twitter.com/MRREE_Uruguay/status/1612186819462041600?s=20&t=up-eKZJoIfPQIXzyTjRUhA

🇻🇪 Venezuela https://twitter.com/NicolasMaduro/status/1612192004741513228?s=20&t=Qfxu7S2QBQnCrAKsLl3NSA

🇻🇪 Venezuela https://twitter.com/CancilleriaVE/status/1612199035972235264?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw

🇻🇪 Venezuela https://twitter.com/yvangil/status/1612199280072167425?s=20&t=Jb1b8ITPLcyP5x_hb1Plnw