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quinta-feira, 16 de março de 2023

China de Xi Jinping persegue maior relevância global - Joe McDonald (OESP)

 China de Xi Jinping persegue maior relevância global


Governo chinês tem sido cada vez mais assertivo desde que líder assumiu o poder, em 2012

Por Joe McDonald

ESTADÃO 13/03/2023


O presidente Xi Jinping conclamou a China a desempenhar um papel maior nos assuntos globais nesta segunda-feira, 13, após o governo chinês marcar um golpe diplomático ao se posicionar como anfitrião das negociações que produziram acordo entre Arábia Saudita e Irã no sentido da reabertura de suas relações diplomáticas.


Xi não deu detalhes sobre os planos do Partido Comunista, governante, no discurso que pronunciou na legislatura cerimonial da China. Mas o governo chinês tem sido cada vez mais assertivo desde que Xi assumiu o poder, em 2012, e pediu mudanças no Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras entidades que, segundo Pequim, não refletiam os desejos de países em desenvolvimento.


A China deveria “participar ativamente na reforma e construção do sistema de governança global” e promover “iniciativas globais de segurança”, afirmou Xi, o líder chinês mais poderoso em décadas. Isso adicionará “energia positiva à paz mundial e ao desenvolvimento”, afirmou.


Na sexta-feira, Xi foi nomeado para exercer mais um mandato na presidência cerimonial, após romper com a tradição, em outubro, e se outorgar um terceiro mandato de cinco anos como secretário-geral do partido governante, colocando-se a caminho de se tornar líder vitalício.


O Congresso Nacional do Povo cimentou no domingo o domínio de Xi, endossando a indicação de seus apoiadores para primeiro-ministro e outras graduadas funções, em uma mudança que ocorre a cada década. Xi escanteou possíveis rivais e povoou os cargos mais graduados do partido governante com seus apoiadores.


O novo primeiro-ministro, Li Qiang, tentou tranquilizar empreendedores na segunda-feira, mas não deu detalhes sobre possíveis planos para melhorar as condições após o governo de Xi passar a década recente fortalecendo empresas estatais que controlam os setores bancário, energético, metalúrgico e das telecomunicações, entre outros.


Os comentários de Li ecoaram promessas feitas por outros líderes chineses nos últimos seis meses de apoiar empreendedores que gerem empregos e riqueza. Eles prometeram simplificar regulações e impostos, mas não deram nenhuma indicação de que pretendam controlar empresas estatais que, reclamam os empreendedores, drenam seus lucros.


O partido governante “tratará empresas de todos os tipos de propriedade igualmente” e “apoiará desenvolvimento e crescimento de empresas privadas”, afirmou Li. “Nossos principais quadros em todos os níveis devem cuidar sinceramente das empresas privadas e servi-las.”


Anteriormente, autoridades chinesas indicaram a realização de operações antimonopólio e de segurança de dados que retiraram dezenas de bilhões de dólares do valor de mercado das ações do gigante do comércio online Alibaba Group, e outras empresas de tecnologia estavam fechando. Mas os empreendedores se animaram novamente em fevereiro, quando um banqueiro famoso, que desempenhava um papel importante nos contratos do setor de tecnologia, desapareceu. A empresa de Bao Fan afirmou que ele está “cooperando em uma investigação”, mas não deu detalhes.


Li afirmou que criação de emprego será prioridade de Pequim, conforme o governo tenta ressuscitar o crescimento econômico, que despencou para 3% no ano passado, ao segundo menor nível em décadas. A meta oficial de crescimento para este ano é de “aproximadamente 5%”.


‘Dividendo demográfico’

O primeiro-ministro afirmou estar confiante de que a China será capaz de prosperar enquanto sua força de trabalho encolhe. O número de possíveis trabalhadores com idades entre 15 e 59 anos caiu mais de 5% em relação ao pico registrado em 2011, um declínio excepcionalmente abrupto para um país de renda média.


Segundo Li, ainda que a China esteja perdendo seu “dividendo demográfico” de trabalhadores jovens, mais educação significa que o país está ganhando um “dividendo em talentos”. Ele disse que cerca de 15 milhões de pessoas ainda ingressam anualmente na força de trabalho. “Recursos humanos abundantes ainda são a vantagem notável da China”, afirmou ele.


No exterior, a força de Pequim tem se construído sobre o volume de crescimento da China e sua posição enquanto segunda maior economia a promover iniciativas de comércio e infraestrutura que, preocupam-se Washington, Tóquio, Moscou e Nova Délhi, expandirão a influência estratégica dos chineses à sua custa.


Esses esforços incluem a Iniciativa Cinturão e Rota, para a construção de portos, ferrovias e outras infraestruturas relacionadas ao comércio em um arco de países que se estende do Sul do Pacífico até Ásia, África e Europa. A China também está promovendo iniciativas em comércio e segurança.


Uma Iniciativa Global de Segurança revelada em fevereiro afirmou que a China está “pronta para conduzir cooperação bilateral e multilateral em segurança com todos os países”. Pequim se ofereceu para ajudar países africanos a resolver disputas e estabelecer “um novo enquadramento de segurança no Oriente Médio”.


Também no mês passado, a China pediu um cessar-fogo na guerra da Rússia contra a Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, elogiou o posicionamento chinês, mas afirmou que o sucesso de uma trégua necessitaria ações, mais que palavras. Pequim recusou-se a criticar o ataque do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia e acusou países ocidentais de provocar a invasão.


O governo de Xi desafiou EUA e Austrália no início de 2022 quando assinou um acordo com as Ilhas Salomão que permitirá que navios da Marinha e de forças de segurança da China permaneçam estacionados no país do Pacífico Sul.


O ministro de Relações Exteriores, Qin Gang, alertou Washington na semana passada a respeito da possibilidade de “conflito e confrontação” se os EUA não mudarem de curso nas relações, que têm sido tensionadas por conflitos sobre Taiwan, direitos humanos, Hong Kong, segurança e tecnologia.


Autossuficiência

Xi pediu na segunda-feira desenvolvimento tecnológico mais ágil e mais autossuficiência, em um discurso carregado de terminologias nacionalistas. Ele mencionou oito vezes o “rejuvenescimento nacional” ou restaurar à China seu lugar de direito enquanto líder econômica, cultural e política. Ele afirmou que, antes do partido governante assumir o poder, em 1949, a China estava “reduzida a um país semicolonial, semifeudal, sujeito a intimidação de outros países”.


“Finalmente nos livramos da humilhação nacional e o povo chinês é mestre de seu próprio destino”, afirmou Xi. “A nação chinesa se levantou, enriqueceu e está se fortalecendo.”


Xi também conclamou seu país a “alcançar indefectivelmente” o objetivo da “reunificação nacional”, uma referência à reivindicação de Pequim sobre Taiwan, a ilha democrática e autogovernada, como parte de seu território, a ser unificada obrigatoriamente à China, pela força se necessário.


O presidente da Micronésia, um arquipélago a leste das Filipinas, acusou a China de “guerra política”, em uma carta de 9 de março obtida pela Associated Press. David Panuelo afirmou que Pequim estava usando espionagem e propinas em um esforço para garantir que a Micronésia fique do lado da China ou neutra em um possível conflito com Taiwan. O Ministério das Relações Exteriores da China negou as alegações. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO


https://www.estadao.com.br/internacional/china-de-xi-jinping-persegue-maior-relevancia-global-leia-a-analise/ 

quarta-feira, 15 de março de 2023

Blog Diplomatizzando: algumas estatísticas (seguidores, postagens, comentários, visualizações) - Paulo Roberto de Almeida

 Blog Diplomatizzando: algumas estatísticas: 

Levantamento efetuados em 15/03/2023

Paulo Roberto de Almeida

Seguidores: 919

Postagens: 25.463

Comentários: 9.311

Todo o período: 9.961.005

Hoje: 1.594

Ontem: 1.412

Este mês: 20.199

Mês anterior: 41.741

De 8/03 a 14/03/2023: 10 mil visualizações 

 

Postagens mais acessadas: 

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Colaborações com a revista Crusoé: artigos publicados de Paulo Roberto de Almeida - 37

 

 

Embates diplomáticos, or else... China-EUA e a guerra da Ucrânia - Signal GZero newsletter

 Signal GZero newsletter, March 15, 2023

Biden to Xi: We should talk…when you’re ready

President Biden speaks with Chinese President Xi Jinping virtually in the Roosevelt Room at the White House on Nov. 15, 2021. Demetrius Freeman/The Washington Post)

President Biden speaks with Chinese President Xi Jinping virtually in the Roosevelt Room at the White House on Nov. 15, 2021. Demetrius Freeman/The Washington Post)

Don’t call it a reset.

But the White House made clear Monday that President Biden wants to talk with Chinese President Xi Jinping sooner rather than later, reviving efforts to shore up lines of communication and defuse some tensions in The World’s Most Important Bilateral Relationship (™).

“I can’t give you a date because there’s no date set,” national security adviser Jake Sullivan said. “But President Biden has indicated his willingness to have a telephone conversation with President Xi once they’re back and in stride coming off the National People’s Congress.”

That annual legislative convention, which wrapped up Monday, formally gave Xi an unprecedented third presidential term. He has also filled senior government posts with loyalists who will strengthen his hand as he grapples with an economy that appears to be faltering.

My colleague Ellen Nakashima reported “a U.S. official said that Sullivan was ‘trying to signal’ willingness to reengage. ‘I know the president wants to be clear that we want to keep the lines of communication open.'”

“The official, who spoke on the condition of anonymity due to the matter’s sensitivity, said it is likely a conversation between the two leaders will eventually take place. But, the official cautioned, ‘it takes two to have a call.’”

 

China hasn’t yet agreed, in other words.

BALLOON TENSIONS

A Biden-Xi call would be the most visible effort yet to overcome the latest flare-up of tensions, sparked in late January by a Chinese spy balloon that lazily hovered over sensitive U.S. military sites across several states before a U.S. fighter jet took it down off the South Carolina coast.

Waterballoon (The Daily 202 isn’t going to mindlessly tack on the usual scandal suffix “-gate” when this is available) led Secretary of State Antony Blinken to cancel a visit to China at the last minute.

  • And last week, Xi delivered his sharpest, most direct public criticisms of the United States, saying America and its Western allies “have implemented all-round containment, encirclement and suppression against us.”
  • On Monday, he vowed to build his military into “a great wall of steel” to protect Chinese economic and security interests.

“We believe there is competition, and we welcome that competition,” Sullivan told reporters aboard Air Force One on the way to California. Biden was headed there to celebrate a deal to equip Australia’s navy with nuclear-powered submarines, a response to Chinese ambitions.

  • “But there is no need for conflict, there is no need for confrontation, there is no need for a new Cold War,” Sullivan said. “And we will look to work with China in areas where it’s in our mutual interests and the wider world’s interest to do so.”

Sullivan also played down bipartisan anger in Waterballoon’s aftermath, saying it “has come from voices, of course, not within the U.S. administration” and underlining “President Biden sets the terms of this relationship, and he sets the tone for this relationship for the U.S. government.”

CHINESE DIPLOMACY

If it happens, the call will come after two interesting developments in China’s international diplomatic outreach.

 
  • China helped broker an agreement last week between regional archrivals Saudi Arabia and Iran to reestablish diplomatic relations. The deal, which Xi appears to have personally worked for, was seen as a major success for Beijing.

And the Wall Street Journal’s Keith Zhai reported Xi “plans to speak with Ukrainian President Volodymyr Zelensky for the first time since the start of the Ukraine war, likely after he visits Moscow next week to meet with Russian President Vladimir Putin.”

“A direct conversation with Mr. Zelensky, if it happens, would mark a significant step in Beijing’s efforts to play peacemaker in Ukraine, which have so far been met with skepticism in Europe.”

“The new surge of diplomacy reflects a conviction on the part of Mr. Xi and the Communist Party that China can offer an alternative to the U.S.-led model of international relations by relying on commercial ties rather than military might to sway the decisions of other countries,” Zhai wrote.


Exposição Marielle Franco no Congresso

 Assassinato, legado social e trajetória política de Marielle Franco são tema de exposição no Congresso Nacional


Organizada pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, a exposição é aberta ao público de 15 a 23 de março, na Câmara Federal, e depois será levada a assembleias legislativas de outros estados do Brasil

 

BRASÍLIA – No próximo dia 14 de março será inaugurada a exposição “Marielle Franco – Nesse lugar”, uma amostra do acervo biográfico da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada na mesma data em 2018, aos 38 anos.

A exposição inédita na Câmara Federal, organizada pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, se soma a outras organizações brasileiras e estrangeiras como a Anistia Internacional, no objetivo de memória política da vereadora, uma das principais vozes da população periférica da cidade do Rio de Janeiro.

“Marielle Franco – Nesse lugar” também reforça a afirmação de protesto da família da parlamentar, amigos, sociedade, organizações no Brasil e no mundo contra a impunidade dos mandantes do assassinato de Marielle, que também vitimou de forma trágica o assessor da parlamentar, o motorista Anderson Gomes.

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco é contudente sobre o que representa a exposição e espera contribuir com a difusão da memória de Marielle, lembrar da luta por justiça sobre o seu assassinato e inspirar mais pessoas na construção de projetos coletivos que gerem impacto social positivo e que transformem a realidade das pessoas.

Quando foi assassinada, Marielle exercia seu mandato de vereadora há um ano e três meses. Ela foi eleita em 2016 e imediatamente passou a incomodar ainda mais os inimigos da democracia. Marielle foi assassinada por ser mulher, uma ativista social e política, parlamentar pelo PSOL e uma liderança periférica em ascensão. A história de luta de Marielle começou na comunidade da Maré, no Rio, e hoje seu legado político faz parte da história política e social do Brasil, e uma referência mundial.
Em sua memória e para celebrar seu legado, serão apresentadas as ações do mandato de Marielle, com referências ao contexto histórico em que se desenvolveu seu projeto político. O período da vida política de Marielle abordado na exposição vai da sua campanha, 2016, até sua última atividade já como vereadora da cidade do Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018.

As mortes de Marielle e Anderson são somadas aos casos de homicídios não esclarecidos no Brasil. Para se ter ideia, apenas 37% dos homicídios praticados no País em 2019 – último ano com dados disponíveis, foram esclarecidos. O índice, que era de 44% em 2018, é da pesquisa Onde Mora a Impunidade, do Instituto Sou da Paz.

A pesquisa ressalta que o Estudo Global Sobre Homicídios, da Organização das Nações Unidas (ONU), com dados de 2019, mostra que a média global de esclarecimento de homicídios é de 63%. Na Europa é 92%; Oceania, 74%; Ásia, 72%; África, 52%; e Américas, 43%. O critério utilizado foi a capacidade das instituições policiais de identificar pelo menos um suspeito do crime.

Com acesso livre para o público de 15 a 23 de março, a abertura da exposição ocorrerá logo após Sessão Solene in Memorian a Marielle Franco e Anderson Gomes, no Plenário da Câmara dos Deputados, no dia 15, às 10 horas. A Sessão foi requerida pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) e contará com a presença de familiares, parlamentares e é aberta ao público.

Multimídia: memória política de Marielle

Além da exposição, a Fundação Lauro Campos & Marielle Franco lança também um livro no segundo semestre de 2023 e um site exclusivo para manter viva a trajetória e memória de Marielle. O trabalho foi viabilizado pela Fundação Lauro Campos & Marielle Franco, que é presidido pela advogada Natália Szermeta. A fundação é um braço de estudo e pesquisa do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), sigla de Marielle, e desenvolve atividades nas esferas da teoria e da cultura, fornecendo subsídios para a militância e estimulando a formulação teórica dos quadros partidários, funcionando como uma espécie de usina de ideias.

Entenda o nome da exposição

“Marielle Franco – Nesse lugar”, nome que dá título ao evento, é uma referência a uma expressão muito usada pela vereadora. Antes considerado um vício de linguagem nos seus discursos, foi incorporada como uma metáfora de uma política fortemente ancorada no território do Rio de Janeiro, mas também no lugar de fala para os debates de gênero, raça e classe em todos os espaços.

Túnel da exposição

Um túnel colorido de cerca de 8 metros de extensão ocupa o Espaço do Servidor, próximo à entrada do Anexo II da Câmara Federal, e traz uma linha do tempo com os eventos realizados por Marielle Franco, conectados por trechos de discursos e textos publicados no período. A ideia é remeter o visitante à atmosfera agitada, majoritariamente feminina, colorida e quase caótica de um mandato que durou apenas um ano, mas que debateu inúmeras pautas e incidiu verdadeiramente na política carioca.

Para a realização do evento, a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco contou com o apoio da Liderança do PSOL na Câmara dos Deputados, que escolheu o Espaço do Servidor, uma área ampla e de fácil acesso e visualização dos parlamentares, funcionários e visitantes que visitam a Casa, para receber a estrutura.
A exposição conta ainda com uma versão online, interativa, onde é possível ver não só as fotos e trechos expostos no túnel, como também vídeos e áudios dos momentos selecionados. De acordo com a Fundação LCMF, é o primeiro produto de um projeto de memória do partido que deve contar ainda com a publicação de um livro com os principais discursos da vereadora e ações de promoção da memória do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
As fotos e textos apresentados formam uma seleção inédita, feita a partir dos arquivos da Câmara Legislativa do Rio de Janeiro, dos jornais e revistas do período e das redes sociais da vereadora.
A convite da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, a curadoria ficou a cargo de Fernanda Chaves, sobrevivente do assassinato, e Priscilla Brito, também ex-integrante do mandato de Marielle. Ana Marcela Terra, Jaime Cabral e Lorena Gonçalves foram responsáveis pela pesquisa. Toda a concepção visual da exposição ficou a cargo de Cesar Paciornik e Evlen Lauer. A produção é de Madu Krasny.

MP do Rio nomeia integrantes para investigar morte de Marielle Franco Agência Brasil, 04/03/2023

O procurador-geral de Justiça do Estado do Rio, Luciano Mattos, nomeou os novos integrantes da força-tarefa que acompanharão as investigações sobre os mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

O crime completa cinco anos no dia 14 de março e ainda não houve conclusão sobre mandantes e motivações.

As investigações da Polícia Civil e do MPRJ apontaram o sargento reformado e expulso da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) Ronnie Lessa como o autor dos disparos, com colaboração do ex-policial militar Élcio Queiroz.

Eles estão presos preventivamente desde 2019 e respondem por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima) e pela tentativa de homicídio contra uma assessora de Marielle, que também estava no veículo e sobreviveu.

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terça-feira, 14 de março de 2023

Política externa brasileira em tempos de isolamento diplomático, Article by Ana T. L. Marra et ali.

Isolamento diplomático é um eufemismo: o Brasil anos sumido porque isso contraria de discutir os fundamentos conceituais das diplomacia brasileira. Autononomia é um deles, mas ainda não se chegou lá.

Pautlo Roberto de Almeida


 Resenha
Sousa, Ana Teresa Lopes Marra de; Azzi, Diego Araujo; Rodrigues, Gilberto Marcos Antonio (orgs.) (2022) Política externa brasileirem tempos de isolamento  diplomático. Rio de Janeiro, Telha, 192 pp.

Cuadernos de Política Exterior Argentina (Nueva Época), 136, diciembre 2022, pp. 143-145; ISSN 0326-7806 (edición impresa) - ISSN 1852-7213 (edición en línea)


Os manuais de história, ao abordarem o processo político e social brasileiro ao longo dasdécadas, costumam sintetizar os governos a partir de suas características principais, ficando a política externa, na maior parte das vezes, alijada de referências. Provavelmente este não será ocaso do governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), dada a enorme inflexão de sua política externa,e a atenção que fatores domésticos e o próprio presidente da República despertaram nacomunidadinternacional. isolamentdiplomáticbrasileirneste período, as ações prejudiciais ao interesse nacional praticadas em todas as frentes de atuação internacional, são ostemas centrais do livro organizado por Ana Teresa Lopes Marra de Sousa, Gilberto MarcosAntonio Rodrigues e Diego  Araújo    Azzi, docentes da Universidade Federal do  O abraço do  (UFABC).    A obra resulta de reflexões realizadas pelo Observatório de Política Externa Brasileira (OPEB),constituído por docentes e discentes do Bacharelado e do Programa de Pós-Graduação emRelações Internacionais da UFABC. Os capítulos analisam diversas facetada inserçãointernacional brasileira, focadas especialmente no ano de 2021, uma vez que já foram lançadosanteriormente dois volumes que centraram atenções nas primeiras movimentações do governoBolsonaro no sistema internacional, e em sua atuação frente à pandemia de Covid-19. Todos ostextos foram coordenados por docentes e receberam a contribuição dos discentes vinculados aoreferido observatório.O primeiro capítulo, coordenado por Giorgio R. Schutte, demonstra a falta de visão estratégicana inserção econômica do Brasil que, ao contrário de países como China e EUA, se pautou pelaausência de investimento público em áreas econômicas estruturais, e pela manutenção de políticas neoliberais evidenciadas, por exemplo, nos leilões de infraestrutura na política de preços da Petrobrás. Os autores refletem sobre a necessidade de reversão deste cenário, a partir de uma projeção internacional baseada em uma economia soberana e sustentável. O capítuloseguinte, coordenado por Lucas Tasquetto, trata das interações entre a política externa brasileirae os temas de saúde e propriedade intelectual, explicitando a ruptura da tradição brasileira dedefesa dos interesses dos países em desenvolvimento no campo da saúde e do comérciointernacional. A posição do Brasil na Organização Mundial do Comércio, contrária à suspensãotemporária da propriedade intelectual sobre as vacinas contra a Covid-19, é um dos exemplosmais eloquentes dessa inflexão.O abandono de tradições no campo multilateral se mantém como tema relevante nos capítulosque tratam da política ambiental e de direitos humanos do Brasil. Os docentes Diego A. Azzi eOlympio Barbanti Jr. coordenam o texto que aborda a mudança de postura do Brasil nasnegociações mundiais sobre o clima e o meio-ambiente. Nessa seara o país passou de ativo partícipe para ator isolado, que causa preocupações na comunidade internacional. Gilberto M.A. Rodrigues coordena o texto acerca da desconstrução doméstica e internacional dos direitoshumanos, relatando como se deram as alianças com países de extrema-direita e a inflexão dosvotobrasileiros em âmbito multilateral, em queses como direitos damulheres,reconhecimento de direitos dos povos originários e das minorias LGBTQIA+. O texto tambémanalisdescasgovernamentacom pauta de direitos humanono enfrentamentà pandemia, tomando como referência, entre outras ações, as nebulosas negociações políticas paraa compra de vacinas.
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Cuadernos de Política Exterior Argentina (Nueva Época), 136, diciembre 2022, pp. 143-145ISSN 0326-7806 (edición impresa) - ISSN 1852-7213 (edición en línea)
As relações entre Brasil e EUA são centrais em dois capítulos. Flávio R. de Oliveira analisa asinterações entre as Forças Armadas brasileiras e os Estados Unidos, e traça um panoramahistórico dessa aproximação, adensada a partir de 2019. O capítulo descreve episódios recentes,comencontro de liderançacastrenses norte-americanabrasileiras, os exercíciosconjuntos praticados pelas Forças Armadas de ambos os países, com atenção especial àquelesrealizados na costa africana. Já as relações bilaterais entre Brasil e EUA, a partir da posse de JoeBiden, são analisadas no capítulo coordenado por Tatiana Berringer, no qual argumenta-se que,embora tenha havido ajuste de posição ideológica com a derrota de Donald Trump, não houvemudança no perfil de subordinação passiva do Brasil ao imperialismo. São abordados temasconflituosos e divergentes entre os governos Biden e Bolsonaro, como os referentes à políticaambiental e aos projetos econômicos.As relações entre Brasil e China são discutidas no capítulo coordenado por Ana Teresa L. M.Sousa, que avalia os desafios enfrentados, especialmente pelo Brasil, diante da interdependênciaeconômica e das assimetrias cada vez maiores com o gigante asiático. Os impasses nas relaçõescom a África são o alvo do capítulo coordenado por Mohammed Nadir e Flávio Francisco, quedemonstra as contradições entre o descaso governamental com a política africana e os interesseseconômicos do agronegócio no continente. A presença de igrejas brasileiras neopentecostais emAngola e África do Sul, é abordada de forma a denunciar a instrumentalização dos recursosdiplomáticos no favorecimento a esse setor, que se constitui em uma das bases internas desustentação do governo Bolsonaro.O texto sobre a América Latina foi escrito por Gilberto Maringoni, que tece interessantesconsiderações sobre a imprecisão do termo “progressista” para denominar os governos latino-americanos em vigência no início do século XXI. O autor observa que tais governos forammarcados por avanços sociais, mas também pela incapacidade de alterar as estruturas dedependências históricas da região. O capítulo analisa as recentes vitórias da centro-esquerda naAmérica Latina, e isolamento do Brasil frente essa realidade. O diplomata Antonio CottasFreitas, idealizador do Programa “Diplomacia para a Democracia”, assina o posfácio, no qual elenca as ações necessárias para a retomada de uma inserção internacional baseada na soberania e na democracia.Os textos evidenciam, em maior ou menor grau, como as demandas pragmáticas ou ideológicas de grupos domésticos adentraram a formulação da política externa, e chamam à reflexão sobre as fragilidades de uma política pública que, ao responder aos desejos e visões de mundo dos setores dominantes a partir de 2019, comprometeu o interesse nacional.O livro que aqui apresentamos cumpre o desafio de lidar com as limitações inerentes às avaliações de processos em andamento, mas certamente se constituirá em uma fonte documental relevante para futuros pesquisadores, especialmente para aqueles que desejarem entender como os contemporâneos a esse período enxergaram a inflexão do Brasil no cenário internacional, em suas múltiplas dimensões. A obra também se constitui em exemplo notável das potencialidades dos projetos extensionistas na formação de excelêncidos estudantedas Universidades públicas brasileiras. A interação entre docentes e discentes do OPEB no processo de elaboração dos textos mostra a viabilidade de uma produção de conhecimento baseada na pluralidade, e na defesa de uma inserção altiva e soberana do Brasil no mundo.

p. 144

O clube do atraso: Lula 3 e os esquerdistas anacrônicos sabotam a acessão do Brasil à OCDE - Editorial OESP

O clube do atraso

Ao sabotar a candidatura à OCDE, lulopetismo mostra desprezo à governança política e econômica
O Estado de S. Paulo, 14/03/2023

O “custo Bolsonaro” foi salgado. O ostracismo diplomático e ambiental causou duros impactos colaterais à economia. Agora, alardeiam os petistas, “o Brasil voltou”. É relativo: voltou a alguns lugares; de outros, se afasta.

Sintomaticamente, na semana em que abriu 16 vagas diplomáticas na Venezuela, o governo desidratou a delegação junto à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já na posse, extinguiu a secretaria responsável pela candidatura do Brasil à OCDE. No encontro com o presidente Joe Biden, os americanos incluíram na minuta do comunicado o apoio a essa candidatura, mas a comitiva brasileira solicitou sua remoção. Gradualmente, o ingresso à OCDE volta à geladeira onde jazeu nos governos petistas.

A OCDE é um fórum de políticas públicas baseadas em evidências. Seus 38 membros incluem as principais democracias do mundo e respondem por 70% do PIB global e 80% do comércio e investimentos. O ingresso do Brasil – a segunda maior democracia do Ocidente e uma das maiores economias do mundo – é natural. O País já integra vários comitês e é um parceiro-chave. A solicitação de acesso, encaminhada pelo governo Temer, ativou a avaliação da consonância das instituições nacionais aos princípios do grupo.

A participação serve de “selo de qualidade” ao mercado internacional, comprovando regras que promovem um ambiente de negócios seguro, aberto e competitivo, equilíbrio fiscal, transparência nas contas públicas, estabilidade jurídica, políticas de inovação tecnológica, combate à corrupção e investimentos sociais e ambientais. Dos seis candidatos, o Brasil tem os maiores índices de aderência às convenções da OCDE. O Ipea estima que o ingresso agregaria 0,4% ao PIB anual.

Mas o “custo Lula” começa a cobrar seu preço. Desdenhando a OCDE como “clube dos ricos”, Lula já recusou um convite para ingressar na organização em 2007. Em coletiva com o chanceler (premiê) alemão, Olaf Scholz, se disse disposto a discutir “condições de entrada”, mas não como “um país menor”.

Ninguém sabe o que Lula quis dizer, porque nem ele sabe: é só um pretexto cozido no caldo de ressentimentos petista para melar o processo. A OCDE não tem membros com poderes especiais, como os do Conselho de Segurança da ONU. Ela mesma não tem poderes reais: não empresta dinheiro, como o FMI, nem arbitra disputas, como a OMC. Sua força está no aconselhamento e na persuasão. O Brasil, como um dos maiores países em desenvolvimento e uma potência agrícola e ambiental, estaria numa posição privilegiada para influenciar diretrizes relacionadas à sustentabilidade.

Em resumo, a adesão aos padrões da OCDE de racionalização e moralização da governança pública não implica ônus – exceto para políticos demagogos, economistas heterodoxos e empresários corporativistas. Não à toa, marcos que se aproximam desses padrões – como a autonomia do Banco Central ou as Leis das Estatais e das Agências Reguladoras – são ameaçados pelo governo e os rebanhos fisiológicos cortejados por ele.

A OCDE resume assim sua missão: “Melhores políticas para melhores vidas”. Mas o PT não quer o Brasil nesse clube.

A nova ordem internacional e o Brasil - Rubens Barbosa (OESP)

 Concordo com a parte histórica sobre a volta da Guerra Fria. Discordo RADICALMENTE da hipócrita “neutralidade” do Brasil, objetivamente pró-Putin. Como disse Rui Barbosa, não há neutralidade ou imparcialidade entre a Justiça e o crime. O Brasil é PARTE do Ocidente e deve DEFENDER a Carta da ONU e sua própria Constituição. Não precisa aderir à guerra, mas tem a OBRIGAÇÃO de condenar a Rússia e EXIGIR a retirada das tropas invasoras, aliás desde a Crimeia, que Dona Dilma ignorou, ao arrepio da tradição brasileira de estrita adesão ao Direito Internacional.

Paulo Roberto de Almeida 

A nova ordem internacional e o Brasil
O Estado de S. Paulo | Espaço Aberto
14 de março de 2023

Rubens Barbosa

Depois da bipolarização da guerra fria, com a queda do muro de Berlim em 1989 e o fim da União Soviética em 1991, surgiu uma nova ordem global. Emergiu um mundo unipolar com os EUA como a única superpotência e com a globalização financeira, econômica e comercial, gerando a expansão econômica liberal e o crescimento da economia global. Essa ordem mundial começou a mudar na primeira década do século 21 com a volta da China como potência e o início da disputa com os EUA pela hegemonia global.

A guerra da Rússia na Ucrânia, o fato mais relevante desde a queda do muro de Berlim, em 1989, marca o início de uma nova era e, ao contrário da situação que prevaleceu nos últimos 20 anos, representa a prevalência da geopolítica, com ênfase na segurança nacional, sobre a economia e a globalização. Sem perspectiva para a suspensão das hostilidades na Ucrânia, é real a possibilidade de escalada do conflito com a utilização de armas nucleares táticas de consequências imprevisíveis. O rearmamento da Alemanha e do Japão, com o aumento dos gastos com defesa, o esvaziamento do G-7 e do G20, além dos custos elevados da energia, são outras características da nova ordem internacional, que ocorre simultaneamente à consolidação da nova ordem econômica global.

Nesse contexto, está se conformando um mundo dividido em tomo de novos eixos, com a perspectiva de confrontação do Ocidente (EUA e Europa) com a Eurásia (China, Rússia e outros países da Ásia). Emerge, na narrativa ocidental, um mundo bipolar, mas em outras bases, visto que a disputa entre Washington e Pequim não é sobre a supremacia ideológica ou militar, mas econômica, comercial e tecnológica, até aqui. Na visão chinesa e russa, surge uma ordem multipolar, pós-ocidental, a do Ocidente versus o resto do mundo. De um lado, acelerou uma aliança estratégica, sem limites, em todas as áreas entre a China e a Rússia e, de outro, fortaleceu a aliança dos EUA com os países membros da Otan com o apoio à Ucrânia.

Hoje, considerações de ordem geopolítica impactam sobre a política externa, de defesa e comercial de todos os países. Apesar da declaração de Joe Biden de que não vai pedir que os países escolham um lado na divisão global, não será surpresa se lealdades começarem a ser cobradas, sobretudo se houver uma escalada bélica e o conflito se ampliar além da Ucrânia. O governo de Washington está discutindo uma nova postura no relacionamento bilateral com a China e medidas contra países que ajudam a Rússia a contornar sanções. Restrições no comércio de semicondutores e de produtos de uso dual, como produtos eletroeletrônicos, de telecomunicações, de tecnologia da informação e de lazer, chips e sensores deverão surgir.

País tem de defendei* seus valores ocidentais e preservar seus interesses asiáticos. Será importante evitar alinhamentos automáticos

Os EUA estão em guerra não declarada em duas frentes com a Rússia e com a China. A Estratégia de Segurança Nacional norte-americana, recém-divulgada, e o discurso de Xi Jinping, no Congresso do Partido Comunista, confirmam isso. A guerra fria, do ângulo do establishment dos EUA, nunca terminou, e agora, no Congresso, adquire formas irracionais e paranóicas em relação à China. O ministro do Exterior chinês advertiu para os riscos de um conflito direto com os EUA, caso não cessem as medidas contra Pequim. As relações entre EUA e China encontram-se no nível mais baixo da História, com a crescente tensão em relação a Taiwan, a possibilidade de entrega de armas à Rússia e a expansão dos interesses da Otan no Mar do Sul da China, agravadas pelo incidente com balão chinês em território norte-americano e as medidas de restrições comerciais (semicondutores) anunciadas por Washington.

Caso esse cenário se confirme, países como o Brasil terão de enfrentar difíceis opções de política externa. O Brasil foi colocado pelos EUA como aliado estratégico extra-Otan e faz parte do Brics com a Rússia, índia, China e África do Sul. Compartilhando valores do Ocidente (democracia, livre comércio, imprensa livre) e com estreitos laços comerciais, econômicos, culturais e de defesa com os EUA e países europeus, o Brasil tem hoje interesses concretos a defender na Ásia, nossa maior parceira comercial. O Brasil tem de defender seus valores ocidentais e preservar seus interesses asiáticos. Ao contrário dos que defendem que o Brasil terá de escolher um lado - o dos EUA -, será importante evitar alinhamentos automáticos, livre de influências ideológicas e geopolíticas. O governo brasileiro já vem sendo confrontado com essas opções em votações nos organismos internacionais e em gestões diplomáticas, como no caso do não fornecimento de munição para tanques na Ucrânia e na autorização para navios de guerra iranianos entrarem em portos nacionais. Ativismo diplomático, contudo, como a iniciativa de criar um grupo da paz para a suspensão das hostilidades na Ucrânia, não terá êxito.

A grande maioria dos países em desenvolvimento da África, América Latina e Ásia tem-se manifestado contra a divisão do mundo. A exemplo da índia, o Brasil, reconhecendo as novas realidades mundiais, deveria manifestar formal e publicamente sua posição de independência em relação aos dois lados, acima de ideologias ou preferências partidárias, na defesa estrita de seus interesses políticos, econômicos e comerciais.

PRESIDENTE DO IRICE, É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS


Jornalistas russos contra a guerra e a ditadura de Putin (G1, O Globo)

 Em Brasília, jornalistas russos ligados a instituições que ganharam o Nobel da Paz pedem posição mais firme do Brasil contra a guerra

G1 - Globo
13 de março de 2023


Dois jornalistas russos, Pavel Andreyev e Kirill Martynov, de instituições que foram laureadas com o Nobel da Paz estão no Brasil para falar com autoridades sobre a guerra na Ucrânia e pedir uma posição mais firme do Brasil em relação à Rússia.

Pavel Andreyev é da organização de direitos humanos Memorial, ganhadora do Nobel no ano passado, e Kirill Martynov do jornal independente "Novaya Gazeta", que foi premiada em 2021.

Um terceiro jornalista russo, Konstantin Eggert, participa da viagem aos países latinos como um mediador dos eventos.

Os jornalistas estão em uma série de viagens pela América Latina organizada pela União Europeia. Depois de passarem por Uruguai e Argentina, chegaram a Brasília nesta semana.

O grupo ainda se reuniu com a Assessoria Especial de Assuntos Internacionais, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, com o Itamaraty e com parlamentares. Na sequência, o grupo vai a São Paulo e segue para o Chile, última parada na América do Sul.

Em entrevista à TV Globo, eles dizem acreditar que o Brasil pode ter um papel influente na resolução do conflito.

"Eu acho que todo país no mundo -- e um país tão importante como o Brasil, que é muito respeitado na área dos direitos humanos e democracia, que é algo que perdemos totalmente na Rússia durante os últimos anos sob o presidente Putin --, eu acho que toda democracia forte no mundo tem que compartilhar mensagens fortes para o presidente russo, [de que] esse tipo de guerra é inaceitável", afirmou Martynov.

"Eu entendo as ideias que o Brasil tem sobre ter relações normais com todos os países no mundo, isso é totalmente compreensível pra mim, mas ao mesmo tempo eu acho que ninguém pode ter relações normais com pessoas que sempre quebram as regras", disse.

Pavel Andreyev, da Memorial, acredita que o Brasil deveria ampliar sua participação na dissolução do conflito.

"Eu acho que o papel do Brasil deveria crescer, mas devem entender que "paz a qualquer preço" também não é aceitável, porque sem resolver as questões de direitos humanos não será possível manter essa paz. Então os interesses dos dois países devem ser discutidos", disse. "Eu acho que é muito importante que todos os países prestem atenção a esse tópico para pressionar o Kremlin a ir para a mesa real das discussões pela Paz."



Atualmente, a atuação dos jornalistas é feita de fora da Rússia. Eles falaram da pressão que sofreram enquanto atuavam no país natal e disseram que a única opção que consideraram possível foi o autoexílio. "Em março de 2022, nós tínhamos que escolher entre ir pra prisão e parar de trabalhar como jornalistas, ser totalmente silenciados, ou ir para o exílio e trabalhar de um país diferente", disse Kirill Martynov. "Optamos pela segunda opção, estamos no exílio."

Ele explica que o seu jornal, o "Novaya Gazeta", ainda tem repórteres que atuam de maneira anônima na Rússia que enviam informações anônimas para a equipe que atua no exterior. Kirill Martynov atua na Letônia, de onde coordena a operação.

"Nós publicamos histórias do exterior e tentamos levar informações de volta para os russos, porque esse é o único jeito que temos de informar nosso povo sobre o que realmente acontece no nosso país." 

Já a Memorial, organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada na Rússia em 1989, foi banida da Rússia em 2022 por uma decisão da Suprema Corte, mesmo ano em que foi reconhecida pelo Nobel. A alegação foi o descumprimento da lei sobre "ação de agentes estrangeiros".

A Rússia aprovou uma lei que obriga sites com alguma influência de países ou instituições estrangeiras a colocarem banners em toda publicação avisando de ação de agentes estrangeiros. A lei se tornou ainda mais restrita no final do ano passado, e recebeu mais críticas de organizações de defesa dos direitos humanos e liberdade de imprensa.

Meandros da globalização claudicante - Paulo Roberto de Almeida

 Meandros da globalização claudicante

Paulo Roberto de Almeida 

Como andamos de globalização nesta segunda Guerra Fria, agora econômica e tecnológica (por enquanto), diferente da primeira, geopolítica e radical, na confrontação imperial?


Interessante observar que a despeito da atual confrontação aberta EUA-China, os negócios não conseguem se separar um da outra completamente, o que nunca ocorreu na primeira Guerra Fria (inclusive pela mediocridade econômica da URSS).

Parece impossível, e não apenas aos EUA, contornar a China na atual globalização fragmentada, como muitos já explicaram.

O Brasil fica com a parte menor disso, apenas o fornecimento de commodities para satisfazer, parcialmente, a voracidade da gigantesca máquina industrial chinesa, hoje superior à dos EUA e UE combinadas. 


A China é realmente incontornável, sobretudo economicamente, hoje voltando, com o seu novo imperador, à arrogância do seu antigo Império do Meio até os Qing, superior, científica e tecnologicamente, e até administrativamente, aos “reinos bárbaros” do Ocidente, que viviam se guerreando entre si. Tanto lutaram que acabaram humilhando o Império quase imóvel, que agora promete ser tão poderoso para nunca mais ser humilhado pelos ocidentais. A Rússia atual, decadente e deformada, já é um vassalo menor (mas ainda dotado de mortíferas máquinas de guerra) nesse gigantesco empreendimento que deve levar a China à primazia econômica compartilhada com os EUA.

A Humanidade espera que não resolvam se confrontar nesse processo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 14/03/2023