O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Morre Mauro Boianovsky, professor de economia da UnB - Pedro Sales (Congresso em Foco)

 Enorme perda. Tenho dezenas de trabalhos dele em meu computador.

Morre Mauro Boianovsky, professor de economia da UnB

Pedro Sales

Congresso em Foco, 21/02/2024

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/morre-mauro-boianovsky-professor-de-economia-da-unb/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification

O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Boianovsky morreu na manhã desta quarta-feira (21), aos 64 anos, em decorrência de câncer. Referência no campo de História do Pensamento Econômico, foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo, conforme lista elaborada pela Universidade de Stanford e pelo repositório de dados Elsevier em 2023.

Formado em Economia pela UnB, em 1979, Mauro fez mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e doutorado em Cambridge, na Inglaterra. Era professor titular na Universidade de Brasília, onde lecionava Teoria do Desenvolvimento Econômico, na graduação, e História do Pensamento Econômico na pós-graduação.

Com a morte de Mauro, o Brasil perde duas referências da área da economia no mesmo dia. Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, também morreu nesta quarta-feira.


Imigração italiana ao Brasil: 150 anos - Gabriel Rodrigues

Imigração italiana ao Brasil: 150 anos  


Há 150 anos, imigração italiana foi pioneira e transformou o Brasil 

Cultura e economia brasileiras foram impactadas pela chegada dos imigrantes, que atravessaram o oceano em busca de uma vida melhor 

Grupo de italianos as vésperas de embarque para o Brasil (Museu da Imigração/Reprodução) 

Por Gabriel Rodrigues 

O Tempo, 21 de fevereiro de 2024 | 03h00 


(Fotos disponíveis no URL original do artigo, abaixo)


https://www.otempo.com.br/especiais/150-anos-da-imigracao-italiana-no-brasil/a-chegada-ao-brasil/ha-150-anos-imigracao-italiana-foi-pioneira-e-transformou-o-brasil-1.3331317

Uma história de 150 anos que começa com uma viagem de um mês e meio em condições precárias, nos fundos de um navio, agarrando-se à família e à esperança de um futuro do outro lado do oceano. Assim chegavam cerca de 400 italianos à costa brasileira em 21 de fevereiro de 1874, pioneiros de um movimento que atraiu 1,4 milhão de pessoas em 50 anos. A travessia, realizada no navio La Sofia, de Gênova rumo ao Espírito Santo, alterou para sempre não somente a vida de cada um desses desbravadores, mas a cultura e a economia brasileiras, que ganharam contornos italianos inegáveis desde então.

“Há um processo muito profundo nas imigrações, uma amálgama, uma mudança entre aqueles que estão no local e aqueles que chegam, caso eles se permitam se transformar”, introduz a professora de história da Universidade de Caxias do Sul (USC) Terciane Ângela Luchese. A decisão de sair de seu país, especialmente em uma época em que a travessia era tão perigosa e precária, não se explica por simples capricho dos migrantes, sublinha a pesquisadora. Foram abalos profundos nos dois países que abriram caminho para esse movimento.

A imigração italiana para o Brasil não é um deslocamento isolado, mas parte de um momento que historiadores chamam de grandes migrações internacionais do século 19, explica Luchese. Como outras nações europeias, a Itália vivia um processo de unificação tardia, com diferentes povos em conflito no território cujos limites ainda se consolidavam. Ao mesmo tempo, a Revolução Industrial e o turbilhão de um capitalismo em formação empurrava milhares de pessoas para a pobreza. “A instabilidade gera o desejo pela imigração. Outro contexto é o hábito de migrar internamente na Europa. Muitos imigrantes italianos tinham tido experiências de trabalhar temporariamente na França, na Suíça, na Inglaterra”, pontua a historiadora.

Os italianos foram pioneiros e abriram caminho para outros fluxos de migração em massa no Brasil, enfatiza o coordenador de formação do Museu do Café, Henrique Trindade. “Eles foram responsáveis por transformar o fenômeno migratório em um movimento de massa. São os italianos, de fato, a enfrentar em conjunto os primeiros grandes obstáculos das fazendas de café no interior de São Paulo, por exemplo, e que começam a se organizar para tentar melhorar de vida, a ter certa poupança para enviar aos parentes que ficaram na Itália ou para reconstruir sua vida no Brasil”, elabora. 

Deste lado do Atlântico, o Brasil vivia sua própria revolução. O tráfico de pessoas escravizadas estava proibido desde 1850, e a abolição se aproximava. Assim, o país procurava uma nova mão de obra e estimulava a vinda de imigrantes. Um dos programas de incentivo prometia terras aos italianos sob uma espécie de financiamento que se arrastava pelos anos.

“O pagamento durava 15, 25 anos. Encontramos diferentes modos de contrato e de sobrevivência”, completa Luchese. “Há um dissenso muito grande entre aquele sonho, o desejo de se tornar proprietário de terra e ter uma vida melhor, e a realidade. Havia o mito da prosperidade. Era uma terra com vegetação subtropical ou mata atlântica, sem nenhuma referência habitacional próxima, e assim muitas permaneceram por anos”.

Nesse processo, os imigrantes começavam a se perceber, eles próprios, como um grupo unido. “Muitos se enxergavam como lombardos, sicilianos, tinham muitas identidades. Quando chegam ao Brasil, começam a ser chamados de italianos”, menciona a historiadora. Se, naquela época, a identidade italiana estava sendo construída, hoje é um alicerce herdado inclusive pelos descendentes de imigrantes. A Embaixada da Itália no Brasil estima que 32 milhões de brasileiros têm descendência italiana, e são tantos os pedidos de cidadania que o Judiciário de municípios italianos já se diz sobrecarregado.

Brasil e Itália, uma afinidade de séculos

Não raro, ouve-se de brasileiros que visitam a Itália pela primeira vez que se sentem, em certa medida, em casa, rodeados por um povo tão caloroso quanto o do Brasil. Para o embaixador da Itália, Alessandro Cortese, a afinidade entre os países remonta há séculos, antes mesmo de 1874.

“Não podemos esquecer que a imigração italiana para o Brasil começou muitos anos antes. Por exemplo, a última Imperatriz do Brasil, Teresa Cristina, era italiana (napolitana), e entre os imigrantes ilustres, antes mesmo dos anos 70 do século 19, destaca-se um certo Giuseppe Garibaldi”, comenta, em referência ao chamado “herói de dois mundos”, que lutou tanto na unificação da Itália quanto foi uma peça-chave na Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul.

Para além da gastronomia, que incorporou a pizza (em uma versão abrasileirada), a lasanha e o panetone, por exemplo, a afinidade cultural do Brasil e da Itália é mais profunda, atesta o embaixador. "Não se trata apenas da partilha de uma matriz latina comum, que também deriva da considerável presença portuguesa, mas é uma influência mais refinada, que pode ser observada na busca pela beleza, na tradição artística, na poesia e na arquitetura. Basta mencionar os nomes de grandes artistas ítalo-brasileiros, como Portinari, Alfredo Volpi, Anita Malfatti e Lina Bo Bardi”, conclui.


Vandalismo diplomático (Lula-Holocausto) - Editorial Estadão

 De O Estado de São Paulo:

Vandalismo diplomático

Ao dizer que guerra de Israel contra os terroristas do Hamas equivale ao Holocausto, Lula avilta a História, a memória dos judeus assassinados pelos nazistas e os interesses do Brasil

Editorial Estadão 

Por Notas & Informações

20/02/2024 | 03h00

O presidente Lula da Silva não precisou de mais do que um punhado de frases carregadas de ranço ideológico e antissemitismo para fazer do último domingo um dia infame na história da diplomacia brasileira. Ao dizer que a guerra de Israel contra os terroristas do Hamas se assemelha ao Holocausto, Lula, a um só tempo, vandalizou a História, a memória das vítimas da indústria da morte nazista e os interesses do Brasil. Nem os mais ferozes inimigos de Israel ousaram ir tão longe nas críticas à campanha militar conduzida pelos israelenses na Faixa de Gaza – uma campanha que decerto inclui atos que podem ser classificados como crimes de guerra, mas que nada tem a ver, nem sob licença poética, com o assassinato sistemático dos judeus europeus na 2.ª Guerra.

Durante uma entrevista coletiva na Etiópia, onde esteve para a Cúpula da União Africana, Lula afirmou que “o que está acontecendo em Gaza (as mortes de civis) não existiu em nenhum outro momento histórico”, a não ser, segundo o petista, “quando Hitler resolveu matar os judeus”. Das duas, uma: ou Lula é profundamente ignorante ou está de má-fé.

A hipótese benevolente, a da ignorância, é remota. Custa acreditar que Lula, que está no terceiro mandato presidencial, desconheça a natureza e a singularidade do Holocausto, talvez a maior tragédia humana do século 20. Por isso, a hipótese da má-fé é a mais plausível, sobretudo porque, é forçoso dizer, Lula mal escondeu que tinha lado nesse conflito ao relutar, por semanas, em reconhecer o ataque do Hamas como o ato de terrorismo que foi, além de subscrever a frágil acusação de “genocídio” contra Israel apresentada à Corte Internacional de Justiça pela África do Sul.

Fiel ao discurso esquerdista raivoso contra o Ocidente, Lula sempre dá um jeito de deslegitimar Israel. O estado da arte dessa tentativa de deslegitimação é atribuir a Israel – fundado sobre as cinzas dos milhões de judeus assassinados nas câmaras de gás – crimes semelhantes aos da Alemanha nazista.

Não haveria nenhum problema se Lula fosse líder estudantil e estivesse numa assembleia de centro acadêmico, que é o lugar ideal para esse tipo de discurso inconsequente. Mas Lula é o presidente da República, e suas falas são consideradas, por quem as ouve, como manifestação do Estado brasileiro. Assim, até prova em contrário, Lula alinhou o Brasil ao Hamas – que, não por acaso, elogiou a fala do presidente brasileiro.

O Hamas, convém lembrar, é um movimento que defende a eliminação física dos judeus – em outras palavras, genocídio. No dia 7 de outubro do ano passado, lançou um ataque covarde e particularmente cruel contra civis israelenses, que incluiu tortura, estupros e o sequestro de bebês. Para enfrentar o previsível contra-ataque israelense, os terroristas do Hamas se escondem entre a população civil palestina, usando hospitais como quartéis, com o objetivo evidente de provocar o maior número possível de mortes de inocentes e usá-las em sua campanha de propaganda contra Israel e os judeus.

Nada disso foi levado em conta por Lula. O presidente também não levou em conta o fato de que os judeus assassinados pelos nazistas na 2.ª Guerra não haviam atacado a Alemanha ou qualquer outro país, diferentemente do que fez o Hamas em outubro passado; não levou em conta que os nazistas mataram milhões de judeus não em bombardeios ou em tiroteios em zonas densamente povoadas, mas em campos de extermínio cuidadosamente projetados para otimizar esse processo, num deliberado projeto genocida, algo que nem remotamente está acontecendo em Gaza; e finalmente não levou em conta que o Brasil, tradicionalmente neutro nos conflitos no Oriente Médio, perderá qualquer capacidade de fomentar o diálogo ao comparar Israel à Alemanha nazista.

Isso ficou claro, aliás, quando o governo israelense chamou o embaixador brasileiro em Tel-Aviv para “uma conversa dura de repreensão”, além de declarar Lula uma persona non grata em Israel até que haja uma retratação formal do petista. De fato, Lula deveria se retratar, mas será surpreendente se o fizer. Não é do feitio de um demiurgo reconhecer que errou.

O Impacto no Setor de Defesa Brasileiro Frente ao Desgaste das Relações com Israel Marcelo Barros (Defesa TV)

 O Impacto no Setor de Defesa Brasileiro Frente ao Desgaste das Relações com Israel

Marcelo Barros

Defesa TV, 20/02/2024

Recentemente, o estremecimento nas relações entre Brasil e Israel emergiu como uma fonte de preocupação significativa para o Exército Brasileiro. A tensão, que se desenrola no âmbito político-estratégico, coloca em xeque a continuidade de valiosos projetos de cooperação, especialmente aqueles ligados à transferência de tecnologia de ponta na área de defesa. Este cenário desafiador acena com a possibilidade de impactos negativos em acordos cruciais para a modernização e capacitação das forças armadas brasileiras.

O Cerne da Questão

O cerne da preocupação reside nos projetos conjuntos em áreas críticas como armamentos e sistemas de comunicação, nos quais a tecnologia israelense desempenha um papel fundamental. Integrantes da força militar alertam para as consequências adversas que uma eventual deterioração completa das relações poderia acarretar, afetando a implementação e evolução dessas iniciativas colaborativas.

Nos siga no InstagramTelegram ou no Whatsapp e fique atualizado com as últimas notícias de nossas forças armadas e indústria da defesa.

Avaliação Estratégica

Apesar das discussões estarem, por ora, limitadas à esfera político-estratégica, sem desdobramentos práticos imediatos, a situação é monitorada com grande atenção. Diplomatas e especialistas reconhecem que o setor militar estaria entre os mais impactados por uma ruptura, dada a importância dos equipamentos e programas israelenses para as capacidades defensivas do Brasil.

Perspectivas e Implicações

Segundo Paulo Roberto de Almeida, diplomata e professor, estamos diante de uma “guerra diplomática” entre governos que, por suas naturezas erráticas, tornam o futuro da colaboração bilateral incerto. Ele sugere que, enquanto os acordos comerciais podem permanecer inalterados, aqueles estabelecidos diretamente entre os Estados correm riscos de interrupção. Essa distinção entre transações comerciais e acordos governamentais é crucial para entender as possíveis trajetórias dessa relação.

O Silêncio e a Vigilância

Até o momento, o Exército Brasileiro manteve-se reservado, sem emitir comentários específicos sobre as tensões. Este silêncio reflete a delicadeza do assunto e a necessidade de uma avaliação cuidadosa dos próximos passos, à medida que as implicações de uma escalada no desentendimento poderiam redefinir aspectos importantes da política de defesa nacional e da cooperação internacional em tecnologia militar.


Atitudes de Lula em questões internacionais prejudicam Brasil na política externa - R7, Portal Correio

Atitudes de Lula em questões internacionais prejudicam Brasil na política externa, dizem especialistas

Presidente brasileiro se tornou 'persona non grata' para Israel após comparar ações de defesa israelense ao nazismo

Os gestos e as atitudes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm prejudicado o Brasil na área da política externa, avaliam especialistas consultados pelo R7. Os exemplos citados são as declarações sobre as ações de defesa de Israel, que o considerou “persona non grata”, do conflito entre Rússia e Ucrânia e a tentativa de relativizar o regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela. As informações são do R7, parceiro nacional do Portal Correio.

Desde o início do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, Lula tem buscado o papel de conciliador, visando um cessar-fogo permanente na região. A mesma atitude tem sido tomada em relação à guerra da Rússia na Ucrânia. Nas principais ocasiões, o petista enviou o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, para se reunir com membros de ambos os governos na tentativa de se buscar uma solução.

Lula registrou diversas dificuldades para colocar em prática seu plano de o Brasil ser protagonista e pacificador nas questões internacionais voltadas para a área da segurança. O líder brasileiro criticou os Estados Unidos, por supostamente alimentar a guerra na Ucrânia, e recebeu uma repreenda da Casa Branca, que afirmou que o Brasil estava “papagueando” o discurso adotado pela Rússia para negar que tem culpa.

O episódio mais recente e polêmico ocorreu nessa segunda-feira (19), quando Israel classificou Lula como “persona non grata” no país até que haja uma retratação sobre as declarações feitas pelo presidente brasileiro.

No fim de semana, o petista comparou as ações de defesa israelense no conflito contra o grupo terrorista Hamas ao nazismo. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler decidiu matar os judeus”, afirmou o petista na ocasião.

Depois do mal-estar causado pela fala do presidente, o governo israelense tornou Lula “persona non grata” no país. O embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi chamado por Lula para consultas e embarca para o Brasil nesta terça (19). 

“Cada vez que o presidente Lula viaja ao exterior, traz estragos e prejuízos em termos de política externa. E são episódios tristes para os brasileiros, que compõem tradicionalmente um povo pacífico, aberto e amigo com as demais nações. No caso de Israel, os gestos parecem fechar as portas aos israelenses e desrespeitam os judeus que em solo brasileiro estão. É uma tremenda ofensa”, avalia a professora de direito da Universidade de São Paulo (USP) Maristela Basso.

“Por outro lado, acirra também a polarização no país, uma vez que, aqueles que seguem o pensamento ideológico-partidário de Lula, se sentem autorizados à revanche antissemita. É extremamente prejudicial nas relações internacional e interna, porque serve de combustível para a eventual prática de crime”, acrescenta.

Para a professora de direito da USP, os gestos de Lula fazem com se que perca completamente o espaço de conciliador que o Brasil buscava ocupar entre países que estão em disputa, como Israel e Palestina e Rússia e Ucrânia.

“Perdeu a credibilidade. Essas manifestações são incompatíveis com o posto de líder, de conciliador. Qualquer pretensão que se tinha, de ser o protagonista, de ocupar espaço de liderança, acabou”, argumenta.

Outro episódio citado pelos especialistas trata-se do regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela. No ano passado, Lula disse que o ditador merece mais respeito, apesar de o governo dele ser conhecido por episódios de violação de direitos humanos, censura à imprensa e prisão a opositores. O petista evitou dizer se o país vizinho é uma democracia, mas destacou que a situação política do país não pode sofrer interferência de outras nações.

Para o diplomata e diretor de Relações Internacionais do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, Paulo Roberto de Almeida, as declarações do presidente podem prejudicar a política externa brasileira.

“A declaração de Lula é absolutamente equivocada nos planos histórico, diplomático e político. Não há equiparação possível ao Holocausto, que foi organizado por um Estado contra uma determinada população. Foi um massacre. Não há precedentes na história”, avalia.

“Temos duas questões que caracterizam o [mandato] Lula 3, que deveria ser mais maduro pelas experiências dos mandatos anteriores. O que a gente repara é que tem havido tensões internas e externas que derivam das posturas típicas do PT. No campo econômico, o intervencionismo que vimos em casos como a Vale e a Petrobras. No campo da política externa, o que se nota são posições mais próximas do partido [PT] que as da diplomacia brasileira,” explicou.

“Quando Lula cita o Holocausto, isso ultrapassa a linha do aceitável por ser um fato único na história da humanidade. O Holocausto é algo inimaginável até em relação a outros genocídios, por ter sido um projeto estatal do hitlerismo de eliminar todos os judeus. Isso é algo inédito na humanidade. Essa palavra ‘Holocausto’ o Lula pronunciou por ignorância histórica e causou um choque no povo judeu.”

O advogado especialista em direito internacional Bernardo Pablo Sukiennik argumenta que a classificação do brasileiro como ‘persona non grata’, como reação israelense, amplifica a crise gerada pelo petista.

“Isso quer dizer que essa pessoa, no caso o Lula, não é mais bem-vinda em Israel. Não há previsão de visita ao Estado, mas com essa nomenclatura estão deixando claro que, enquanto o governo for liderado por Isaac Herzog e Benjamin Netanyahu, ele não é bem-vindo lá”.

O diplomata Almeida avalia a reação israelense como grave, pois não há precedentes na histórica republicana brasileira deste tipo de movimento e, dessa forma, mostra a gravidade da situação.

“Após a ‘persona non grata’, a retaliação pode atingir acordos e tratados de cooperação entre os dois países. Não creio que chegue a muito, até porque perderiam muito comercialmente, mas pode ser que seja feita uma espécie de corretivo ao Brasil. Além de sinalizar aos demais líderes mundiais de que não vão aceitar manifestações com esse tipo de conteúdo.”

“Não necessariamente envolve romper acordos, porque não seria do interesse do governo nem de empresas israelenses que exportam ao Brasil, principalmente, na área de segurança, mas mostra um descontentamento para a manutenção, pelo menos temporária, de cooperação”, acrescenta Almeida.

Parlamentares evangélicos repudiaram as palavras de Lula

As Frentes Parlamentares Evangélicas (FPE) do Congresso Nacional e do Senado Federal
repudiaram as palavras de Lula. Em nota, os parlamentares disseram que comparar os ataques de Israel ao Hamas com o nazismo, que vitimou seis milhões de judeus, é provocar um conflito ideológico desnecessário.

“Com a ressalva do respeito às pessoas que inocentemente morrem, Israel, ao contrário de Hitler, está exercendo o seu direito de sobreviver diante de um grupo com o objetivo de eliminar os judeus”, diz o documento.

Para a FPE, “não é justo exigir que uma nação se mantenha passiva diante de um ataque covarde que estupra e mata jovens, idosos e crianças das formas mais horríveis e continua com a política de se esconder atrás de reféns (civis inocentes)”.

Ainda de acordo com a nota, as verbalizações do presidente “não representam o pensamento da maioria dos brasileiros e comprometem a política internacional de forma desnecessária”.

Receba todas as notícias do Portal Correio no WhatsApp

Posição do Brasil em Haia fica no meio do caminho entre direito e diplomacia - Lucas Carlos Lima (FSP)

Posição do Brasil em Haia fica no meio do caminho entre direito e diplomacia

Ausência de referências a eventos posteriores ao ataque do Hamas pode ser sinal de moderação à luz da tensão diplomática

Lucas Carlos Lima

Professor de direito internacional (UFMG), atuou perante

 a Corte Internacional de Justiça; organizador do livro

“A Jurisprudência da Corte Internacional de Justiça” (ed. Del Rey)


Folha de S. Paulo, 20/02/2024

Opiniões consultivas emitidas pela Corte Internacional de Justiça, o principal órgão judicial da Organização das Nações Unidas, são receptáculos do estado do direito internacional num determinado momento histórico. Apesar de não serem vinculantes como decisões em casos contenciosos iniciados por um Estado contra outro, elas possuem grande autoridade pois anunciam o conteúdo e alcance das normas jurídicas aplicáveis ao caso e servem como fonte para auxiliar a resolução de controvérsias futuras.

Essa é a razão pela qual nesta semana mais uma vez os olhos do mundo se voltam a Haia diante do pedido de opinião consultiva formulado pela Assembleia-Geral da ONU em janeiro de 2023 –ou seja, muito antes dos ataques perpetrados pelo Hamas contra Israel no 7 de Outubro– sobre consequências das ações de Israel nos territórios palestinos.

Juízes da Corte Internacional de Justiça (CIJ) durante audiência sobre a ocupação de Israel de territórios palestinos - Piroschka van de Wouw - 19.fev.2023/Reuters

As perguntas colocadas à Corte pela Assembleia foram duas. Em primeiro lugar, esclarecer quais são as consequências jurídicas decorrentes da "violação contínua por Israel do direito do povo palestino à autodeterminação, da sua prolongada ocupação, colonização e anexação do território palestino ocupado desde 1967", bem como da "adoção de legislação e medidas discriminatórias relacionadas".

Em um segundo momento, compreender como as referidas políticas "afetam o estatuto jurídico da ocupação e quais são as consequências jurídicas que decorrem desse estatuto para todos os Estados e para as Nações Unidas", visando também entender quais são as obrigações de todos os membros da comunidade internacional diante da situação.

É interessante notar que a linguagem empregada pela Assembleia-Geral faz referência às resoluções e normas internacionais anteriores (bem como a própria decisão de 2004 da Corte Internacional sobre a "Legalidade da Construção do Muro em Territórios Palestinos Ocupados" por Israel), que já estabeleceram a violação, por parte de Israel, de normas e obrigações de direito internacional.

A Assembleia busca, portanto, compreender quais são os efeitos e linhas de ação a serem tomadas diante da situação de violação de territórios ocupados por Israel em contrariedade ao direito internacional. Esse ponto foi alvo de crítica na manifestação de Israel, para quem as perguntas "representam uma clara distorção da história e da realidade atual do conflito israelo-palestino".

Muitos Estados e organizações internacionais resolveram participar do procedimento, apresentando sua posição sobre as perguntas colocadas pela Assembleia. Tal participação revela que os Estados são conscientes de que as suas posições são levadas em alta consideração pela Corte.

O Brasil não é exceção e apresentou suas considerações escritas e oralmente sobre o tema. É possível notar, nos últimos tempos e independente do governo, uma maior preocupação do Brasil em participar de procedimentos consultivos perante tribunais internacionais. Parece se difundir nos corredores de Brasília uma consciência da oportunidade que esses procedimentos representam de influenciar a ordem jurídica internacional.

Em suas observações escritas bem como em sua sustentação pública no Palácio da Paz, a posição brasileira pode ser sintetizada nos seguintes pontos: (1) a Corte Internacional possui jurisdição e deve exercê-la para emitir uma opinião sobre as questões solevadas; (2) a ocupação israelense dos territórios palestinos viola o direito do povo palestino à autodeterminação, e o Brasil defende o caráter peremptório dessa norma; (3) Israel deve pôr fim à ocupação de territórios palestinos; (4) um Estado que viola o direito internacional deve oferecer a devida reparação, e tal princípio se aplica a Israel; (5) todos os Estados, e não apenas os envolvidos no conflito, devem se abster não apenas do reconhecimento dessa situação, mas também de atos que possam implicar tal reconhecimento; (6) nenhum Estado deve colaborar com as ações ou iniciativas israelenses relacionadas à ocupação ilegal dos territórios palestinos; (7) os Estados devem cooperar para pôr fim à ocupação, por meios legais, o mais rápido possível.

A posição brasileira parece alinhada com seus princípios constitucionais e internacionais de política externa jurídica e está em consonância com diversas outras manifestações de Estados em relação ao estado do direito internacional. Em algumas passagens os argumentos jurídicos poderiam ser melhor detalhados ou elaborados, oferecendo uma visão mais precisa e contundente da posição brasileira.

Embora os argumentos brasileiros se encontrem ancorados no direito internacional, em muitas passagens a posição brasileira parece mais um discurso diplomático que uma argumentação jurídica. A ausência de referências aos eventos posteriores ao ataque do Hamas parece também um sinal de moderação à luz da tensão diplomática que tomou o noticiário nesta semana.

Em alguns meses a Corte Internacional emitirá seu parecer sobre a questão. Se a decisão da Corte irá efetivamente influenciar o futuro da situação na Palestina é um questionamento bem mais complexo.



terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Que tal recorrer a um palavrão? - Dartagnan da Silva Zanela

 A LUZ DO LUAR SOBRE OS CEMITÉRIOS ESQUECIDOS

 

por Dartagnan da Silva Zanela (*)


Mário Souto Maior é o autor do “Dicionário do Palavrão e termos afins”, onde o mesmo reuniu, nada mais, nada menos, que três mil insultos que fazem parte da língua portuguesa, cujo imperador, segundo Fernando Pessoa, é o grande Padre Antônio Vieira.

 

Se o amigo leitor nunca consultou a referida obra, sugiro que o faça para, quem sabe, poder enriquecer mais o seu vocabulário com aquelas pérolas que não são assim tão preciosas.

 

Sim, eu sei, todo mundo sabe, não é de bom alvitre proferir impropérios, porém, há ocasiões em que essas são as únicas palavras que verdadeiramente podem ser ditas para expressar com clareza o que estamos sentindo.

 

Aliás, como certa feita havia dito Millôr Fernandes, todo mundo tem o sacrossanto direito ao “phoda-se”, pois é preferível dizer cobras e lagartos num momento de indignação do que ficar guardando potes e mais potes de fel e rancor no coração, para alimentar mesquinhas vinganças e outras coisinhas insalubres semelhantes.

 

Todavia, é importante lembrar que há uma diferença abissal, ontológica mesmo, entre um palavrão rasteiro, proferido no calor de uma troca de farpas, e ficar a torto e a direito chamando os desafetos e adversários de fascistas, nazistas, genocidas, racistas, machistas e etc.

 

Quando alguém adota esse tipo de subterfúgio, há um terrível ardil subjacente a essa ação.

 

Quando mandamos alguém para a casa do chapéu estamos apenas expressando nossa bílis num dado momento. Fica claro, a quem tiver olhos e ouvidos para testemunhar, que estamos insatisfeitos com algo ou alguém, que estamos desequilibrados e ponto final.

 

 

Agora, quando chamamos, levianamente, alguém de fascista, nazista ou algo que o valha, o mecanismo é bem outro. O que estamos fazendo é grudar um rótulo infame sobre uma pessoa e, ao fazer isso, estamos, ao mesmo tempo, difamando-a e descaracterizando o termo utilizado de, repito, uma forma leviana. Por isso, é importante não esquecermos que esse tipo de atitude é uma combinação sulfurosa de ignorância e malícia.

 

Creio que dá para perceber a diferença grintante que há entre utilizar um dos três mil termos catalogados por Mário Souto Maior e simplesmente taxar algum indivíduo de nazista e fascista. Creio que dá para perceber o tamanho da perversidade que se faz presente nesse gesto tão cínico quanto oportunista.

 

Não é à toa, nem por acaso, que George Orwell, em seu livro, “O que é o Fascismo? E outros ensaios”, nos chama a atenção para o perigo de ficarmos utilizando de forma indiscriminada esses termos como se eles fossem um punhado de insultos de botequim. Na real, isso seria uma faca de dois gumes.

 

Uma faca de dois gumes porque, primeiro, se está jogando uma pecha infame sobre uma pessoa. Aliás, já pararam pra pensar o que significa rotular alguém, que não é nazista, de nazista? Imagino que não. Falta empatia, apesar de se falar tanto nela, não é mesmo?

 

Não apenas isso, mas também falta borbotões de conhecimento a respeito do que foi realmente o Nacional-Socialismo, o Fascismo, o Holocausto e tutti quanti, tendo em vista que raras são as pessoas que realmente leram, ao menos, um livro sobre essas lúgubres páginas da história.

 

O segundo ponto, de acordo com Orwell, tão problemático quanto o primeiro, é o fato de que, de tanto esses termos serem usados forma maliciosa, de maneira inapropriada, para estigmatizar nossos desafetos, eles acabam perdendo o seu poder descritivo, a sua capacidade de captar e denunciar a realidade, tal qual ela é e aí, meu caro Watson, corremos o risco de não sermos capazes de reconhecer um nazista de verdade quando ele aparecer diante de nossos vistas. E aí, com o perdão da palavra, o buraco será bem mais embaixo.

 

Enfim, não abramos mão do nosso direito ao insulto, como diria o velho Millôr Fernandes, mas não sejamos levianos e maldosamente maquiavélicos ao exercê-lo. As vítimas do nazismo, no silêncio dos seus jazigos, agradecem e, as que sobreviveram e que ainda estão vivas, também.

 

(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “O SEPULCRO CAIADO”, entre outros livros.

 

Parece que o antissemitismo voltou à "moda" - Livro: The New American Anti-Semitism: The Left, the Right, and the Jews, Benjamin Ginsberg

 

The New American Anti-Semitism: The Left, the Right, and the Jews is a powerful call to action—one that boldly confronts one of the most pressing issue of our day. 

This NEW RELEASE is for anyone and everyone concerned with the rising threat of bigotry and hatred in our country. It’s a harsh but necessary wake up call… not only for Jews, but for all Americans.
 
Surprisingly, the most virulent form of anti-Semitism today is the result of toxic identity politics and anti-Israeli sentiment coming from today’s political Left.
 
Perhaps the most persecuted people in all of history, Jews have stood tall in the face of unprecedented persecution in all places, at all times. Their culture’s rigorous emphasis on education and achievement catapults them to the upper echelons of the societies in which they live.
 
But their success too often breeds resentment and jealousy, leading to an ugly anti-Semitism that has led, historically, to unspeakable violence.
 
In this urgent new work, Dr. Benjamin Ginsberg—political scientist, professor, and bestselling author—exposes the ugly face of this new, progressive anti-Semitism (which is also thriving in Europe).
 
To combat it, he urges American Jews to form new political alliances, particularly with evangelical Christians.
 
The stakes of not doing so, says Ginsberg, are horrifically high—not only for the survival of the Jewish people, but for America’s survival.
 
Jews have been good for America; and America has been good to the Jews.
 
But things can change ... and Jews can never afford to forget their history.


Lula-Holocausto: uma sucessão de equívocos, da parte de Lula e, sobretudo, do governo de Israel - Felipe Igreja (Rádio CBN)

Uma longa entrevista que concedi ao repórter Felipe Igreja, da Rádio CBN, e que foi transmitida oralmente em horário que desconheço (e que não ouvi), a propósito dos episódios certamente infelizes em torno da questão "Lula-Holocausto", acabou transformando-se, na versão escrita da matéria da Rádio, numa única frase minha, na qual eu "explicava" a reação exagerada do governo de Israel – persona non grata, a Lula – como sendo uma postura preventiva do governo ultradireitista, no sentido de dissuadir outros dirigentes de se associarem a protesto de Lula contra os massacres do Exército de Israel contra a população civil de Gaza. Transcrevo o que veio na matéria escrita, mas sem o link para a emissão oral na Rádio. (PRA)


Lula se reúne com assessor internacional após ser declarado 'pessoa indesejada' em Israel
Os dois debatem a crise gerada pela fala do presidente, ao comparar as ações militares de Israel em Gaza com o holocausto.
Por Felipe Igreja
Brasília, 19/02/2024 13h26


Depois de ser declarado pessoa indesejada em Israel, o presidente Lula se reúne com o assessor internacional, Celso Amorim, no Palácio da Alvorada. Os dois debatem a crise gerada pela fala do presidente, ao comparar as ações militares de Israel em Gaza com o holocausto do exército nazista na Segunda Guerra Mundial.
A avaliação da chancelaria brasileira e de interlocutores do planalto é que de fato Lula não deveria ter feito a comparação e que não há como comparar o holocausto com outro evento, mas que a fala do presidente foi feita de improviso, sem representar uma fala formal.
A avaliação agora é que Israel está escalando ao crise, ao declarar Lula persona non grata e convocar o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, para uma reunião no museu do Holocausto ao invés da chancelaria. Diplomatas não entendem porque convocar o embaixador brasileiro para um local público e dizem ainda que não há histórico de um presidente brasileiro ter sido declarado pessoa indesejada por algum outro país.
Para o diplomata Paulo Roberto de Almeida, a reação de Israel é exagerada, mas pode ser entendida ainda como uma ação preventiva, para evitar que dirigentes de outros países façam falas contra os israelenses.
Mais cedo, o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, disse que Lula é uma personalidade indesejável em Israel até que ele peça desculpas e se retrate de suas palavras. Até o momento o Itamaraty não se pronunciou de forma oficial, mas avaliação é que um pedido formal de desculpas ainda não está no radar, embora o embaixador Rubens Ricupero, em entrevista ao jornal da CBN, tenha avaliado que essa seria uma solução possível.
Lembrando que ontem, no fim da viagem ao Egito e à Etiópia, na África,, Lula se referiu às ações militares de Israel na Faixa de Gaza como genocídio e chacina contra os civis palestinos e depois comparou o que ocorre em Gaza com o holocausto nazista.


Quando Einstein e Hannah Arendt condenaram israelenses - 1948

Quando Einstein e Hannah Arendt condenaram israelenses

No dia 2 de dezembro de 1948, o jornal americano The New York Times publicou uma carta, assinada por Albert Einstein, Hannah Arendt e Sidney Hook, entre outros, condenando as ações de Menachem Begin, líder do novo Partido da Liberdade, em visita aos Estados Unidos.                                                                                                                   

Entre os fenômenos políticos perturbadores de nossos tempos está a emergência no recém criado Estado de Israel do ''Partido da Liberdade'' (Tenuat Haherut), um partido político estreitamente assemelhado em sua organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidosl Nazista e Fascista.

Ele foi formado a partir de membros e seguidores do antigo Irgun Zvai Leumi, uma organização terrorista, facção direitista e organização chauvinista na Palestina.

A visita atual de Menachem Begin, líder deste partido, aos Estados Unidos é, obviamente, calculada no sentido de dar a impressão de apoio americano ao seu partido, por ocasião do advento das eleições israelitas e para cimentar laços políticos com os elementos Sionistas conservadores dos Estados Unidos.

Vários americanos de reputação nacional têm emprestado seu nome para dar boas vindas a sua visita. É inconcebível que aqueles que se opõem ao fascismo no mundo, se corretamente informados sobre a história política e perspectivas de Mr. Begin, possam acrescentar seus nomes e apoio ao movimento que ele representa.

Embora esse irreparável perigo ocorra pela forma de contribuições financeiras, manifestações públicas a favor de Begin ou pela criação na Palestina da impressão de que um grande segmento da América apóia os elementos fascistas em Israel, o público americano deve ser informado sobre a historia e os objetivos do Sr. Begin e do seu movimento.

As promessas públicas do Partido de Begin não correspondem, quaisquer que sejam, ao seu caráter real. Hoje falam de liberdade, democracia e antiimperialismo, enquanto até recentemente pregavam abertamente a doutrina do Estado Fascista. É em suas ações que o partido terrorista denuncia o seu caráter real; de suas ações do passado podemos julgar o que dele pode ser esperado fazer no futuro.


Ataque sobre Deir Iassin

Um exemplo chocante foi seu comportamento na vila árabe de Deir Iassin. Esta vila, distante das principais estradas e circundada por terras judaicas,p não tomou nenhuma parte na guerra e chegou a contrariar o lado árabe que queria usar a vila como sua base.

Em 9 de abril (The New York Times) bandos terroristas atacaram esta vila pacifista, que não era um objetivo militar na luta, matando a maioria de seus habitantes — 240 homens, mulheres e crianças — e mantiveram alguns deles vivos para desfilarem como cativos através das ruas de Jerusalém.

A maior parte da comunidade judaica ficou horrorizada com aquela ação e a Agência Judaica mandou um telegrama de pesar ao Rei Abdulah da Trans-Jordânia. Contudo, os terroristas, longe de se envergonharem de seu ato, ficaram orgulhosos com aquele massacre, divulgado amplamente e convidaram os correspondentes estrangeiros no país para testemunharem os cadáveres amontoados e a devastação geral em Deir Iassin.

O acontecimento de Deir Iassin exemplifica o caráter e as ações do Partido da Liberdade.

No interior da comunidade judaica eles têm propugnado uma mistura de ultra nacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial. Como outros partidos fascistas eles têm sido usados para esmagar as greves e têm-se dedicado à destruição de sindicatos livres. Em seu lugar eles têm proposto sindicatos corporativistas no modelo fascista italiano.

Durante os últimos anos da esporádica violência antibritânica, os grupos IZL e Stern inauguraram um reino de terror na comunidadel Judaica Palestina. Professores foram espancados por se pronunciarem contra eles, adultos foram alvejados por não deixarem suas crianças juntar-se a eles. Por métodos de gangsterismo, açoites, quebra-vidraças e roubos em larga escala, os terroristas intimidavam a população e exigia-lhe pesado tributo.

Os membros do Partido da Liberdade não têm nenhuma participação nos logros construtivos na Palestina. Eles não reivindicam nenhuma terra, nenhuma construção de habitações e apenas depreciam a atividade defensiva judaica. Seus esforços de imigração muito propagandeado foram diminutos e devotados principalmente para atraírem compatriotas fascistas.


Discrepâncias Observadas

As discrepâncias entre os bravos clamores que estão sendo feitos agora por Begin e seu partido e a história de sua performance no passado da Palestina não portam a marca de um partido qualquer. Este é o selo de um Partido fascista, pelo qual o terrorismo e o embuste são os meios e o ''Estado Regente'' é o objetivo.

À luz das considerações anteriores, é imperativo que a verdade sobre o Sr. Begin e seu movimento seja tornado conhecido neste país. É de toda maneira trágico que a liderança maior do Sionismo Americano tenha se recusado a participar da campanha contra os esforços de Begin, ou mesmo de expor aos seus constituintes os perigos para Israel do apoio a Begin.

Os abaixo assinados, portanto, através deste meio de publicidade apresentam alguns fatos salientes que dizem respeito a Begin e seu Partido; e recomendam a todos os interessados a não apoiarem esta última manifestação do fascismo.

Nova York, 2 de dezembro de 1948

Isidore Abramowitz,

Albert Eistein

Hannah Arendt,

Abraham Brick,

Rabino Jessurun Cardozo,

Herman Eisen,

Hayim Fineman,

M. Gallen,

HH. Harris,

Zelig S. Harris,

Sidney Hook,

Fred Karush,

Bruria Kaufman,

Irma L. Lindheim,

Nachman Maisel,

Seymour Melmam,

Myer D. Mendelson,

Harry M. Oslinsky,

Samuel Pitlick,

Fritz Rohrlich,

Louis P. Rocker,

Ruth Sagis,

Itzhak Sankowsky,

I.J. Shoenberg,

Samuel Shuman,

M. Singer,

Irma Wolfe,

Stefan Wolfe.

A versão deste documento online foi copiada de um microfilme da edição impressa do The New York Times, pesquisada pela professora universitária Laura Nader e outros acadêmicos na Universidade de Berkeley, Califórnia. Uma versão escaneada pode ser vista, em formato .pdf, em Proquest: University Microfilms

O indesejável retorno das alucinações diplomáticas - Paulo Roberto de Almeida

O indesejável retorno das alucinações diplomáticas

Paulo Roberto de Almeida


A diplomacia brasileira sofreu um bocado sob as alucinações antiglobalistas dos idiotas que a comandaram no governo anterior. Para traduzir o impacto da franja lunática no corpo dos diplomatas profissionais escrevi um livro, em 2019, chamado “Miséria da Diplomacia: a destruição da Inteligência no Itamaraty” (livremente disponivel em minha página em Academia.edu).

Ela agora vai provavelmente sofrer de novo sob as alucinações partidárias do lulopetismo de volta ao poder. Os diplomatas começam a lamentar as novas derrapagens em curso.

Pergunto-me que titulo devo dar ao novo livro que pretendo escrever sobre os novos desvios da política externa pela ação desenfreada dos companheiros no terreno sensivel da política externa.

Sugestões podem ser feitas neste mesmo canal.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 20/02/2024

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Diplomacia em Frangalhos - Hélio Schwartsman (FSP)

DIPLOMACIA EM FRANGALHOS

Quando fala de improviso, Lula parece mais diretor de grêmio estudantil do que presidente da República

Hélio Schwartsman

FOLHA DE S. PAULO, 19/02/2924


"Ah, Luiz Inácio Lula da Silva... 

Quando ele segue o roteiro preparado pelo Itamaraty, ainda é possível enxergar uma posição minimamente coerente com a tradição diplomática brasileira. Foi o caso do discurso que ele fez no sábado (17) na abertura da cúpula da União Africana em Adis Abeba. Ali, sem deixar de criticar Israel, também condenou os ataques do Hamas e pediu a libertação imediata de todos os reféns.

Basta, porém, que Lula comece a falar de improviso para comportar-se não como presidente da República mas como diretor de grêmio estudantil, desfiando os mais ignorantes chavões da esquerda. Foi o que ele fez no domingo (18), ao equiparar as operações de Israel em Gaza ao Holocausto nazista. É difícil até listar o número de instâncias em que a comparação é errada. Hitler, com base numa concepção essencialista de hierarquias raciais, se pôs a eliminar todos os judeus da Europa. Israel reage, ainda que desproporcionalmente, a um ataque terrorista.

Não estou sugerindo que Israel seja inimputável. Eu mesmo critico quase que semanalmente a mão pesada do governo Netanyahu. Penso que imperativos morais e legais exigiriam que as ações militares fossem muito mais cuidadosas, mesmo que isso implique retardar o objetivo legítimo de reduzir a capacidade do Hamas de atacar Israel.

Lula, ao dizer que Tel Aviv repete Hitler, desfere contra os israelenses um golpe abaixo da cintura. É algo que contradiz o argumento que o próprio presidente sempre invoca para justificar a mansidão com que trata violações cometidas por aliados seus, como Maduro e Putin: não se pode ser muito veemente nas declarações para não perder o poder de influenciar.

Na administração Bolsonaro padecíamos do problema oposto, que era a adesão automática às mais extremas posições do governo Netanyahu. Para quem olha de fora esse zigue-zague, a conclusão inescapável é que o Brasil não mantém uma política externa séria.


Livro: O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional - André Heráclio do Rego (coord). Lançamento

Recebido do meu amigo e colega André Heráclio do Rego, coordenador deste livro, no qual colaborei com um capítulo. (PRA)

Prezados amigos, tenho a satisfação de convidá-los para o lançamento do livro que organizei, "O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional", no próximo dia 22 de fevereiro, no IHG-DF, 19hs.

Independência resgata heróis para a História
 
Organizada pelo diplomata André Heráclio do Rêgo, coleção de 11 ensaios reúne especialistas que mostram a amplitude do 7 de Setembro de 1822.
 
Diplomata, escritor e historiador André Heráclio do Rêgo lança "O Movimento da Independência - Homens e Mulheres na Conquista da Autonomia Nacional”. A obra reúne ensaios de especialistas com visão plural sobre os processos históricos como os da Revolução Pernambucana, da guerra de independência na Bahia e do decisivo empoderamento feminino de que foram protagonistas a arquiduquesa Leopoldina e a primeira militar brasileira, Maria Quitéria.
 A obra nasceu de um seminário realizado na Câmara dos Deputados em comemoração ao bicentenário da independência do Brasil , em 2022. “O movimento da Independência, expressão criada pelo historiador e diplomata Oliveira Lima, não se limitou ao episódio do grito do Ipiranga ou às negociações políticas na corte. Trata-se de um processo muito mais complexo e longo, que envolveu inclusive projetos diferentes de Independência, como foi o caso da Revolução de 1817”. Quem explica é André Heráclio, doutor em Estudos Portugueses, Brasileiros e da África Lusófona pela Universidade de Paris Nanterre e sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
 O livro, que reúne 11 textos, é uma contribuição às raras iniciativas para comemorar uma das mais importantes datas, assevera o organizador.   No primeiro, “A política joanina no Brasil, centralização e consolidação do estado”, de autoria de Arno Wehling, presidente de honra do IHGB e acadêmico da ABL, o foco é a centralização e a consolidação do Estado. O segundo, do diplomata Paulo Roberto de Almeida, é dedicado a “Hipólito da Costa: o primeiro estadista do Brasil”, que se destacou por suas ideias pioneiras sobre a construção do Estado.
 “Dom João VI entre a história e a memória nos 200 anos da nação”, terceiro ensaio, é da autoria de Jurandir Malerba, professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e mostra como Dom João VI atuou decisivamente para a solução monárquica e centralizadora que se adotou com a Independência. 
Já a Revolução Pernambucana de 1817 é tratada no ensaio “José Bonifácio e outro projeto para o Brasil”, de autoria do organizador. O Patriarca da Independência foi uma figura central na construção do Brasil, mas seu projeto não é era o único. “Havia outro, anterior ao dele, o dos revolucionários pernambucanos de 1817, que propugnava uma outra Independência, caracterizada pela República e pelo federalismo”, destaca André Heráclio.
Os dois ensaios seguintes têm como personagem principal a imperatriz Leopoldina, e projetam a mulher não apenas na Independência do Brasil, mas na sociedade de seu tempo. O primeiro, de autoria de Maria Celi Chaves Vasconcelos é também uma busca pela participação feminina na política nacional. O ensaio seguinte, também sobre Leopoldina, é de autoria da historiadora Denise G Porto: “A imperatriz austríaca e a viajante inglesa: entre cartas e tristezas, a história de uma amizade nos tempos da Independência”.
Dom Pedro I, marido de dona Leopoldina, centraliza o que Theodoro Menck, doutor em História das Relações Exteriores pela Universidade de Brasília (UnB),  chama “diversas independências”, e que contraria a crença de que a independência raiou apenas no dia 7 de setembro de 1822 às margens do Ipiranga. Outro ensaio sobre Dom Pedro I é de Luiz Carlos Villalta, doutor e mestre em História Social e professor da UFMG.
O incipiente poder feminino também aparece nos ensaios subsequentes. O primeiro, do doutor em História Ibérica pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS-Paris) Paulo de Assunção, “Amélia de Leuchtenberg, a nobre imperatriz do Brasil”, busca resgatar a trajetória dessa personagem feminina da elite, quase desconhecida no século 19 e nos dias atuais. O segundo, do pesquisador e dramaturgo Maurício Melo Júnior, traz a epopeia de Maria Quitéria, que fugiu de casa, disfarçou-se de homem e alistou-se no Exército para lutar. O livro se conclui com um ensaio do renomado jurista Ives Gandra Martins, professor de Direito da Universidade Mackenzie, que resume o percurso histórico do período da Independência até os dias de hoje.
 
Sobre André Heráclio do Rêgo – diplomata, historiador e escritor, é graduado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, tem mestrado em Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos pela pela Universidade de Paris Nanterre, doutorado em Estudos Portugueses, brasileiros e da África Lusófona pela mesma universidade e pós-doutorado na Universidade Católica de Lisboa, em História Social, e no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo. Sócio de várias instituições acadêmicas, entre as quais o IHGB, o IAHGP, o IHGSP, o IHGDF, o IHGP e a Sociedade de Geografia de Lisboa.