terça-feira, 24 de agosto de 2010

Os Brasilianistas, versão 2010

Os comentários abaixo, sobre as características atuais dos pesquisadores e estudiosos do Brasil no exterior, foram elaborados para responder a questões de um jornalista.
Paulo Roberto de Almeida

Há uma crença, em diferentes meios, de que os brasilianistas andavam “desaparecidos” e que, não mais que de repente, com o governo Lula, eles voltaram à berlinda, ou novos brasilianistas vieram substituir os antigos, que já estavam aposentados há muito.
Nada mais equivocado. Os brasilianistas continuam onde sempre estavam: fazendo pesquisas sobre o Brasil em universidades americanas (com menor incidência em outras universidades, de países europeus, por exemplo), dando cursos de pós-graduação e orientando trabalhos de mestrado ou de doutoramento em temáticas brasileiras, viajando regularmente ao Brasil e mantendo programas de cooperação com departamentos, faculdades ou institutos de estudo e de pesquisa no Brasil.
A impressão equivocada de que eles tinham “saído de cena” se prende, na verdade, à própria situação política brasileira desde a redemocratização. Os brasilianistas foram relevantes, em certa medida, durante o regime militar e certa “repressão” – na verdade mais constrangimentos do que obstáculos absolutos – a estudos sobre os militares, por exemplo, ou sobre os movimentos de esquerda e outros temas considerados sensíveis durante aquele período. Os brasilianistas não tinham problemas, aparentemente, em manter contato com a imprensa e dar entrevistas sobre questões econômicas e políticas, às quais era dado o devido destaque nos meios de comunicação do Brasil, mais, aparentemente, do que pesquisas ou entrevistas de seus colegas brasileiros. Embora essa seja apenas uma impressão subjetiva, sem maior fundamentação na realidade, ela tinha alguma razão de ser, inclusive pelo acesso de alguns brasilianistas a personalidades do regime, aparentemente fora do alcance dos pesquisadores brasileiros (o que também não corresponde inteiramente à verdade).
Não existe uma “nova onda” de brasilianistas, embora a própria evolução do Brasil – social, política, econômica e internacional –, de um lado, e as novas tendências metodológicas e temáticas na academia americana, de outro lado, tenham levado os estudos brasileiros nas universidades americanas a novos focos de interesse.
É preciso considerar que os brasilianistas “clássicos”, se assim podemos chamá-los – correspondendo à geração conhecida como “filhos de Fidel”, ou seja, os que receberam ajuda governamental para aumentar o conhecimento americano sobre os países da região que poderiam conhecer evolução similar à de Cuba – trataram de realizar pesquisas de largo espectro, produzindo obras de síntese sobre o desenvolvimento econômico e político do Brasil que se tornaram incontornáveis na bibliografia especializada. Pode-se também dizer que eles participaram do processo de estabelecimento e consolidação dos programas de pós-graduacao no Brasl, naquela época (início dos anos 1960) ainda inexistentes ou iniciantes. Uma vez realizada a “substituição de importações” na área de pós-graduação, o Brasil se tornou menos dependente dessas vozes e opiniões. Na redemocratização, sua importância pareceu diminuir, mas eles continuaram onde sempre estiveram, fazendo seu trabalho metódico e bem fundamentado de pesquisa e elaboração de trabalhos sobre o Brasil.
Deve-se esclarecer que os brasilianistas “só existem” no Brasil, pois nos EUA eles são professores de suas especialidades respectivas, dando aulas de graduação de história, ciências políticas, antropologia, etc. Na pós-graduação, eles podem focar mais diretamente no Brasil, e alguns se tornam quase exclusivos nessa área, mas nunca totalmente.
Nas últimas décadas, as universidades americanas foram “assoladas” por novos campos e novos métodos de pesquisa, como micro-história, gênero, história cultural, etc, o que explica, também, que os novos brasilianistas tenham se dedicado a novas temáticas que seus orientadores da geração anterior. O termo brasilianista só deveria ser aplicado, de fato, se as novas gerações fizessem do Brasil seu foco principal de estudo, o que nem sempre é o caso. Não existe uma demanda específica por brasilianistas nas universidades americanas, sendo mais comum os estudos latino-americanistas (e quase todas as faculdades de humanidades mantêm programas interdisciplinares, geralmente historiadores, sociólogos e antropólogos, de estudos latino-americanos).
Surgem, assim, trabalhos específicos sobre a mulher, sobre os homossexuais, sobre aspectos de nossa história cultural e, crescentemente, sobre estudos de meio ambiente. Também se conservam as velhas especialidades, com trabalhos sobre movimentos sociais, história e sistema político, desenvolvimento econômico e outros na mesma linha tradicional. Samba e futebol podem ser, e são estudados, mas mais pelo enfoque cultural, ou antropológico, que não tem nenhuma conotação “exótica”, e sim com apoio em metodologias consagradas nesses campos de estudo.
Pode-se dizer que o campo de estudos brasileiros se caracteriza hoje por uma intensa troca de experiências e intercâmbio de estudos especializados entre brasileiros e “estrangeiros”, tanto que os encontros de especialistas de estudos brasileiros – seja na Latin American Studies Association, LASA, ou a própria BRASA – reúnem igual número de “estrangeiros” (ou americanos), e brasileiros.
Pode-se dizer que o interesse pelo Brasil cresceu muito nos últimos anos no plano jornalístico, e talvez isso tenha reflexos no meio acadêmico, mas seria preciso uma averiguação mais cuidadosa. Certamente a presença de Lula à frente do Brasil, sua forte projeção no exterior – bem mais no plano jornalístico, volta-se a sublinhar – pode ter sido responsável por esse aparente “renascimento” dos estudos brasileiros, inclusive em países não tradicionais no campo (como a China, por exemplo). Mas os programas acadêmicos seguem ritmo próprio, que não é direta ou imediatamente impactado pela realidade jornalística. Pode-se, provavelmente, detectar maior afluxo de estudiosos da língua portuguesa do Brasil nos programas de letras, mas a abertura ou consolidação de novos campos de estudo, com recrutamento adicional de novos pesquisadores e professores focados exclusivamente nos estudos brasileiros se faz em ritmo mais lento, correspondendo aos interesses dos próprios pesquisadores dentro do campo mais consagrado de estudos latino-americanos.
De novo mesmo na área brasilianista é a criação do Instituto de Estudos Brasileiros Jorge Paulo Lemann (Lemann Institute for Brazilian Studies), na Universidade do Illinois em Urbana-Champaign, dirigido pelo professor Joseph Love, um historiador consagrado da primeira geração. Mas, se trata de uma iniciativa do conhecido investidor brasileiro para estimular o intercâmbio acadêmico nos dois sentidos, e talvez até para formar quadros de qualidade nos problemas do Brasil dos dois países, sem a mesma conotação dos antigos programas “brasilianistas” da era da Guerra Fria. Acredito que esse Instituto, que deverá acolher o Secretariado da Brazilian Studies Association em 2011, e realizar o próximo congresso da Brasa naquela cidade em 2012, constituirá um importante fator de estímulo aos estudos brasileiros nos EUA, podendo acolher também pesquisadores de diversos outros países. Trata-se de excelente iniciativa capaz de moldar a próxima geração de estudiosos brasileiros nos EUA, quando a primeira – dos quais um dos principais representantes é o Professor Werner Baer, que é justamente, “Lemann Professor of Economics” da University of Illinois at Urbana-Champaign – já está praticamente se aposentando quando não chegando ao seu termo lógico.

Paulo Roberto de Almeida (Shanghai, 25 de agosto de 2010)

As FARC na Unasul - BBC Brasil

No que depender de certas pessoas, a proposta será acolhida como uma "boa proposta" e instada a ser acolhida. Não preciso dizer quem...

Farc propõem reunião com Unasul sobre conflito na Colômbia
BBC Brasil, 23 de agosto de 2010

O ex-presidente Uribe iniciou uma ofensiva que enfraqueceu as Farc

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) divulgaram uma carta nesta segunda-feira em que propõe apresentar à Unasul (União de Nações Sul-Americanas) sua visão sobre o conflito na Colômbia.
"Presidentes, em qualquer data considerada por vocês apropriada, gostaríamos de apresentar nossa visão do conflito colombiano a uma assembleia da Unasul", disse a mensagem do maior grupo rebelde colombiano.
“O drama humano da Colômbia pede a mobilização e a solidariedade continentais.”

A proposta foi descartada pelo governo colombiano.

O vice-presidente do país, Angelino Garzón, rejeitou a ideia de intermediários para resolver o problema da guerrilha, que já dura quatro décadas, e disse que as Farc devem "dizer ao povo colombiano que a violência não tem sentido".

Segundo ele, os guerrilheiros devem liberar todos os reféns "incondicionalmente" e abandonar o terrorismo se quiserem iniciar negociações de paz com o novo governo, do presidente Juan Manuel Santos.

Proposta
As Farc vêm perdendo força nos últimos anos, quando o governo de Bogotá reforçou a presença militar em áreas da guerrilha, eliminando seus principais comandantes.

O grupo também vem sofrendo com deserções – embora, segundo analistas, ainda tenha força em áreas rurais, usando o tráfico de cocaína para financiar suas operações.

A última vez que o governo colombiano dialogou com as Farc foi entre 1999 e 2002, durante o governo do presidente Andrés Pastrana, quando o governo criou uma área desmilitarizada no sul do país, do tamanho da Suíça, para receber as negociações.

Mas elas fracassaram, e o sucessor de Pastrana, Álvaro Uribe, instituiu uma política de linha-dura, com o aval do governo americano.

Uribe encerrou neste ano seu período de oito anos na presidência colombiana com alta popularidade e viu Santos, seu candidato, sucedê-lo no cargo.

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Matéria no El Nuevo Herald (Miami):

Las FARC quieren la intervención de Unasur
Bogotá – AP – 24/08/2010

En un inusual mensaje regional, las FARC ratificaron su disposición al diálogo político y propusieron exponer su visión sobre el conflicto colombiano ante una cumbre de mandatarios de la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur), según un mensaje de la guerrilla que se dio a conocer el lunes.

“Aunque el gobierno de Colombia mantiene cerrada la puerta del diálogo con la insurgencia, acicateado por el espejismo de una victoria militar y la injerencia de Washington, queremos reiterar a la Unión de Naciones del Sur, Unasur, nuestra irreductible voluntad de buscar una salida política al conflicto”, dijo la jefatura de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC) en un comunicado.

“Señores presidentes: cuando lo estimen oportuno estamos dispuestos a exponer en una asamblea de Unasur nuestra visión sobre el conflicto colombiano”, agregó “el secretariado”, o jefatura de siete comandantes de las FARC en su pronunciamiento, difundido en el sitio de internet de la Agencia de Noticias Nueva Colombia (Anncol), que suele divulgar comunicados de laguerrilla.

Tradicionalmente, las FARC han manifestado su disposición al diálogo o conversaciones de paz con los sucesivos gobiernos colombianos, y en contadas ocasiones hacen tal manifestación a la comunidad internacional en cartas abiertas, como la conocida el lunes.

El gobierno del presidente Juan Manuel Santos, que asumió el cargo el 7 de agosto, ha dicho que su administración está abierto al diálogo con la insurgencia, pero sólo si ésta da señales concretas de paz como el cese de los ataques armados, detiene los secuestros y extorsiones, así como manifiesta su deseo de deponer las armas.

Consultado por reporteros en la casa de gobierno sobre la iniciativa de la guerrilla, el vicepresidente Angelino Garzón ratificó la postura oficial de que la insurgencia debe primero cesar sus actos violentos.

“Esa violencia no tiene sentido, no tiene justificación”, dijo el funcionario, al desestimar además una eventual participación de terceros países para un diálogo.

“El propio Presidente de la República ha dicho que él, para construir caminos de paz, no necesita intermediarios”, indicó Garzón.

Las FARC, surgida en 1964, es actualmente la guerrilla activa más antigua de la región.

A miopia da política externa brasileira - Rubens Ricupero

Devo dizer, de imediato, que não concordo com o título dado pelo autor. Miopia é uma condição não provocada: ela existe, ou surge, independentemente da vontade do portador. Neste caso, talvez se trate de cegueira voluntária, ou viseiras deliberadas, se não for perversão política e compulsão ideológica para estar ao lado de ditaduras abjetas...
Paulo Roberto de Almeida

Miopia moral
Rubens Ricupero
Gazeta do Povo, Domingo, 22 de agosto de 2010.

Quem faz elos estratégicos com regimes ditatoriais vende a própria alma e joga fora valores éticos

Cumplicidade interna com a corrupção sob pretexto de governabilidade e complacência externa com tiranos e violadores de direitos humanos em nome do realismo são as manchas principais da situação que se vive hoje no Brasil.

Nos dois casos, os valores morais e o aperfeiçoamento da democracia são sacrificados a ganhos imediatistas. É a miopia moral que se concentra nos lucros perto e não enxerga os prejuízos a maior distância.

Em artigo intitulado ‘A democracia precisa de confiança’, o ‘clarificador da cultura política’ italiana Norberto Bobbio explicava porque nenhum regime democrático sobrevive à corrupção sistêmica e institucionalizada.

A condição da possibilidade da democracia, ensinava, é a confiança recíproca entre os cidadãos e destes nas instituições. A corrupção generalizada aniquila a confiança e provoca a degeneração das instituições, incapazes de funcionar bem.

Cedo ou tarde o processo termina por destruir os governos. O suicídio de Vargas em 1954 resultou da ocasião oferecida pela corrupção ao moralismo lacerdista. Em 1992, sem interferência do moralismo, de novo a corrupção conduziu-nos a crise gravíssima.

Uma estratégia eleitoral baseada em aliança com partidos estruturalmente dependentes da corrupção pode até ganhar eleições no presente ao custo de semear desgraça e crise futuras.

Quem promove tais estratégias assume grave responsabilidade perante a história; quem vota por elas não ignora que contribui para pôr em risco todos os avanços recentes no país.

Não é moralismo cumprir quase o dever médico de alertar que o mesmo vírus de doença passada acabará por produzir efeito igual no organismo da nação.

No plano externo, chamar de estratégica relações com regimes ditatoriais que condenam mulheres ao apedrejamento pode também conquistar aplausos ideológicos ou lucros comerciais. Contudo, quem faz isso vende a própria alma, jogando fora os valores éticos e arruinando o prestígio nascido do exemplo.

Os americanos desmoralizaram os ideais de sua diplomacia com o apoio a ditadores militares na América Latina e os crimes no Iraque.

Para o Brasil, país que não é potência militar nem econômica, só dispondo do poder da persuasão e do exemplo, ainda é mais grave, pois nos empobrecemos do nosso único trunfo e riqueza.

No exterior já se multiplicam artigos afirmando que o Brasil é o melhor amigo dos tiranos e que nossa política errática e irresponsável ameaça a aspiração a membro permanente do Conselho de Segurança.

Argentina e México, também candidatos da América Latina, são exemplares na atuação no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, contrastando com o Brasil, aliado de Cuba, Paquistão e demais bloqueadores da investigação e luta contra as piores violações na Coreia do Norte, Irã, Congo, Sri Lanka, Darfur etc.

Alega o governo preferir agir em silêncio, mas, quando podia, nada fez para ajudar a liberar prisioneiros em Cuba. Pressionado pela opinião, teve de intervir de público em favor da condenada no Irã.

Essa incoerência revela calculismo oportunista e confusão de valores. O calculismo, porém, tem fôlego curto: no longo prazo liquidará a governabilidade e o prestígio externo.

Rubens Ricupero é diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.

Um sindicato de assaltantes dos recursos publicos: ela mesmo, a FIESP (2)

Desfaçatez em escala industrial
MARCELO DE PAIVA ABREU
O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/08/10

Decididamente, há algo de podre no reino da Dinamarca. A farta lubrificação fiscal promovida pelo governo para eleger a sua candidata tem feito os agraciados com as suas benesses perder a compostura na defesa de seus interesses privados, quase sempre tentando confundi-los com os interesses do País.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) concedeu memorável entrevista (jornal Valor de 17/8), em que defende as políticas públicas que o Brasil deveria adotar. As importações deveriam ser "penalizadas", controladas quantitativa e qualitativamente, o Brasil teria que, "de alguma forma, se fechar". "O duro é aumentar salário para o cara consumir bem importado." "Importação benéfica para o país é aquela que complementa além do limite (que é possível) produzir. Se há demanda para 105 e produzimos 100, assim os 5 vêm de fora, para equilibrar a inflação." A taxa Selic deveria ser reduzida para permitir a desvalorização cambial. "A nossa taxa deveria ser um ou dois pontos porcentuais acima da inflação."
"Precisamos de três bancos como o BNDES para atender à demanda por investimentos." "Essa discussão sobre o BNDES é secundária e inoportuna."
Não há qualquer referência às raízes microeconômicas das dificuldades competitivas da indústria. Tudo é resultado da política macroeconômica indevidamente restritiva e do dumping praticado pelos nossos parceiros comerciais.

O primitivismo é estarrecedor. O modelo de crescimento advogado combina acesso a fontes de financiamento subsidiado do investimento, insumos baratos e reserva de mercado. Tudo apresentado como se fosse novidade e bom para todos nós. Em que isso se diferenciaria do que foi feito no passado? Muitas décadas de protecionismo redundaram em gordos lucros para os cartórios protecionistas e muito pouca inovação. Como é mesmo que essa tradição seria contrariada? O entendimento do presidente da Fiesp do que seja comércio internacional é uma completa sandice: os preços não têm função, o papel das
importações é meramente residual. Há clara tolerância quanto à aceleração inflacionária. O que se prega não tão veladamente é o abandono do regime de metas de inflação. Não interessa quem paga a conta da proteção ou da inflação. E o lamento vem de um empresário cujos negócios vêm sendo beneficiados por notável aumento de preços de commodities.

Em vista da pobreza da argumentação, a entrevista não é eficaz nem mesmo como defesa de interesses setoriais. Se a Fiesp desejasse seriamente abrir caminho para a redução de juros, deveria concentrar suas baterias na contenção de gastos públicos. E a agenda para reduzir o custo Brasil é longa: melhoria da infraestrutura, incentivos à inovação com o uso de subsídios seletivos. Não há objeção a gasto público efetivamente contracíclico - e não fantasiado de contracíclico - nem a defesa comercial sem viés protecionista.

A entrevista veio na esteira de um manifesto em defesa do BNDES, assinado por entidades que congregam empresas que se beneficiam dos empréstimos a taxas subsidiadas do próprio BNDES. Que valor efetivo pode ter manifestação que simplesmente afirma o seu apoio a um sistema que lhe permite acesso a benefícios que não são universalmente disponíveis. Tenho certeza de que 190 milhões de brasileiros assinariam um documento que expressasse a sua preferência por maior volume de recursos do que hoje dispõem. Tal documento, ao simplesmente expressar um axioma conhecido sobre o comportamento dos
agentes econômicos, seria tão trivial quanto o manifesto dos comensais da farra do BNDES.

O manifesto foi duramente criticado por analistas que questionaram a concessão de subsídios a projetos de duvidoso interesse público, a falta de transparência que cerca as operações do banco e as artimanhas que estão sendo utilizadas pelo governo para violar as suas próprias metas fiscais. E não é que surgem agora defensores ardorosos do manifesto e que pretendem inaugurar uma nova era no processo de mistificação da opinião pública? A história é assim. Funcionário de empresa multinacional é diretor de uma associação de classe signatária do manifesto pró-BNDES e também professor universitário. O manifesto, uma simples variante da frase trivial "prefiro mais dinheiro a menos", foi duramente criticado. A reação do diretor é vestir a pele de professor e, sem explicitar a sua condição de diretor da entidade signatária, defender o manifesto. Haja conflito de interesses...

Em tempo: os argumentos, sejam do professor, sejam do diretor, são péssimos. Os empréstimos do BNDES são subsidiados com base em qualquer análise econômica aceitável. A tentativa de ocultar o óbvio rentismo industrial com base na denúncia de rentismo financeiro é pífia. A taxa Selic poderia ser reduzida se os gastos públicos fossem disciplinados. Alternativamente, poderia ser abandonado o regime de metas de inflação, mas parece haver falta de coragem para usar este argumento publicamente.

É o país do "quero o meu", defendido com ares de que é bom para todos. Às favas com o interesse público. E danem-se os conflitos de interesses.

Marcelo de Paiva Abreu é DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE,
É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO.

Um sindicato de assaltantes dos recursos publicos: ela mesmo, a FIESP

Quando eu escrevi neste mesmo espaço, pouco tempo atrás, que a FIESP era um sindicato de ladrões, e que seu presidente era um idiota, um dos leitores me escreveu preocupado, para dizer que eu podia ser processado por calunia e difamação.
Bem, não sei por que alguém poderia ser processado apenas por dizer a verdade, talvez não da forma que escrevi, mas em termos outros, disfarçados, para dizer a mesma coisa.
Acho que posso voltar aos meus termos habituais para acompanhar a leitura desta entrevista do mesmo personagem, sobre os mesmos problemas. Não preciso acrescentar nada ao que já disse. O próprio personagem se encarrega de confirmar o que eu penso dele.
Paulo Roberto de Almeida

''É preciso restringir o investimento chinês no Brasil''
Marcelo Rehder e David Friedlander
O Estado de S.Paulo, 23.08.2010

Benjamin Steinbruch, dono da CSN e presidente da Fiesp, diz que chineses podem 'tirar os competidores do jogo' e defende restrições à compra de terras e reservas minerais

"Eu não apareço na mídia com frequência. Isso não quer dizer que não seja ativo"

O empresário Benjamin Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), defende restrições à onda de compra de terras e reservas minerais brasileiras por empresas da China. Dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), diz que, como os chineses já são os maiores compradores de minério de ferro do mundo, se também dominarem a produção, "poderão tirar os outros do jogo".
Para o empresário, os asiáticos fazem concorrência desleal, porque possuem apoio maciço do governo de seu país. "É o Estado, não é iniciativa privada."

Steinbruch tem interesse direto no tema, já que mineração é uma das prioridades da CSN, que tem planos ambiciosos para o setor. Mas suas críticas têm o peso da instituição que o coloca hoje como uma das principais lideranças do empresariado nacional. Nesta entrevista, ele também fala dos planos para a CSN e da experiência de presidir a Fiesp, cargo que assumiu com a licença do titular Paulo Skaf para concorrer ao governo de São Paulo.

Além de inundar o mercado com seus produtos, a China está comprando muitos ativos no Brasil. Isso incomoda os empresários?
A China investiu muito em títulos do Tesouro americano e agora busca desesperadamente trocar parte desses papéis por ativos. Começou pela África, onde comprou tudo que podia e agora está comprando na América Latina, inclusive no Brasil. O capital chinês de médio e longo prazos para investimento é muito bem-vindo. Mas é preciso cuidar de setores estratégicos.

Quais seriam esses setores?
Por exemplo, a China comprar reservas de minério no Brasil, sendo ela o principal cliente do País, precisa ser considerado de forma diferente. A China é uma força no mundo. A partir do momento que ela tenha o domínio sobre a matéria-prima, sendo a maior consumidora de minério, ela pode tirar os outros do jogo. Dependendo do preço de transferência que adote, quebra com todo mundo. Setores estratégicos têm de ter algum controle do governo. É preciso dizer aquilo que pode e aquilo que não pode ser comprado por capital estrangeiro.

O sr. está falando em restringir a compra de terras ou minas?
Eu restringiria. Se for uma coisa da iniciativa privada, é um direito indiscutível. Mas, a partir do momento que atrás de quem compra está o Estado, é uma coisa de governo contra governo. Não vejo com bons olhos nenhum país vindo aqui comprar ativos no Brasil.

O sr. não está exagerando?
Vou contar um fato que me causou surpresa. No projeto da ferrovia Transnordestina tentamos comprar terras para induzir o desenvolvimento de plantio de grãos na região. Para nossa surpresa, encontramos grandes propriedades sendo tocadas por chineses. Eles já produzem grãos no interior do Piauí e de Pernambuco, coisa que nós, idealizadores do projeto, não sabíamos.

O sr. acha que os principais candidatos à Presidência aceitariam fazer esse tipo de intervenção?
Qualquer presidente tem de ter essa preocupação, porque é uma questão de soberania nacional. Independentemente de partido, estilo ou filosofia, é algo que tem de ser analisado e resolvido de maneira muito rápida, porque depois que comprarem não adianta fazer mais nada.

O sr. tem defendido o BNDES, mas a atuação do banco não está concentrada em poucas empresas?
Existe concentração porque não temos empresas globalizadas. É preciso fortalecer as empresas brasileiras para termos uma presença lá fora.

No caso dos frigoríficos, que é foco de críticas, o banco deu muito dinheiro para os grandes, enquanto os pequenos e médios se queixam de falta de acesso...
Não sei se é o que está acontecendo. Mas se a pequena e a média não estão sendo apoiadas, acho que está errado. Agora, essa posição do BNDES de fortalecer empresas brasileiras exportadoras de carne nos países importadores faz todo sentido estratégico. O nosso desafio é virar uma potência. Para isso, temos de fazer o que os outros países fizeram e deu certo. Não precisa melhorar, basta copiar.

O sr. quis internacionalizar a CSN. Tentou comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus e a cimenteira portuguesa Cimpor, mas não deu. Vai continuar tentando?
Temos de continuar, um dia vai dar certo. Mas é preciso ser racional. Se fosse pagar o que não vale, a gente teria levado. Sempre tive muita vontade de comprar a Corus. Fui até onde deu. Não deu para levar, o que posso fazer? Na Cimpor foi a mesma coisa. A gente vai continuar tentando.

Está olhando outros negócios?
Estou. Basicamente aquilo que completa o que a gente faz: aço, cimento e mineração. É claro que, se aparecer alguma coisa muito boa, vamos estudar.

Onde está procurando?
Num primeiro momento, nos Estados Unidos e na Europa.

O sr. vai mesmo desmembrar os ativos da CSN e abrir o capital das empresas resultantes?
A CSN, como as grandes empresas brasileiras, precisa se tornar um conglomerado mundial. A ideia é que a CSN tenha os seus cinco negócios abertos em bolsas: mineração, siderurgia, cimento, infraestrutura e logística, e energia. É claro que é um negócio trabalhoso desmembrar uma empresa grande e transformar em cinco.

Quando isso vai acontecer?
A gente vai fazer uma de cada vez. O que está mais maduro é a mineração, mesmo porque nós temos uma outra empresa de mineração em parceria com japoneses, coreanos e chineses, que é a Namisa. Temos 60% e eles, 40%. A ideia é juntar Namisa com Casa de Pedra e abrir o capital. É um projeto de 110 milhões de toneladas de minério de ferro, uma quantidade muito significativa.

O sr. já tinha anunciado isso para o primeiro semestre. Não deu certo?
A gente está trabalhando bastante nisso. A Namisa tem vários sócios, até conseguir convergir para fazer a unificação dos negócios demora mesmo. Está demorando mais do que a gente previa. Mas todos estão de acordo que vale a pena. Acho que sai agora no segundo semestre.

O sr. gostou da cadeira de presidente da Fiesp? Pensa em se candidatar na eleição do ano que vem?
A cadeira é igual, sabia? Mas a Fiesp é uma instituição muito forte. Engloba a indústria de todo o País, não só a paulista. Aqui passam presidentes, ministros, reis, príncipes, gente humilde... É uma experiência muito rica, não tem como não gostar. Agora, poder ficar é outra coisa. A Fiesp precisa de uma participação muito ativa, exige muito tempo. Minha prioridade é o grupo de empresas que a gente tem.

Como o sr. vê as críticas de que a Fiesp ficou acéfala depois da saída de Paulo Skaf?
Eu não me considero um cara acéfalo nem os diretores que estão aqui. É uma interpretação equivocada porque a maneira de ser de cada um é diferente. Eu não apareço na mídia com frequência. É meu estilo. Isso não quer dizer que a gente não seja ativo.

E o fato de não ter feito debates com os candidatos a presidente, como era tradição na casa?
A gente prefere uma abordagem direta. Estamos falando com os candidatos em separado. Eu acho que hoje é mais eficiente a gente ter essa postura de abordagem direta.

E o que vocês têm levado aos candidatos?
Aquilo em que a gente acredita. O modelo da produção e do emprego. Com todo respeito ao ministro da Fazenda, hoje o Brasil precisa de um ministro do Desenvolvimento mais forte que o da Fazenda. A parte financeira do País está resolvida. O que temos de desenvolver agora é a produção e o emprego. Isso é o que vai nos fazer diferentes.

Por que o sr. foi contra a filiação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA, uma sociedade entre a Vale e a alemã ThyssenKrupp) ao Instituto Aço Brasil?
Anos atrás, fomos sócios da Thyssen Krupp num projeto aqui, mas houve divergências, compramos a parte deles e ficou por aí. Quando a Thyssen veio para o Brasil com a CSA, agora, tirou 200 pessoas da CSN de uma só vez. E tirou só da CSN. Eu fui no Instituto Brasileiro de Aço e coloquei a discussão. Disse na mesa: "Eu posso tirar 200 pessoas da Gerdau, posso tirar 200 pessoas da Usiminas, desde que pague mais."

Qual o problema, então?
Numa mesa em que nós sentamos para discutir estratégia, sermos amigos, não faz sentido um ficar agredindo o outro. Então, o instituto decidiu que a CSA só seria aceita quando começasse a produzir aço no País. Só que ela tentou entrar antes e outros membros quiseram aceitar. Daí eu falei: "Não foi isso o combinado lá atrás. Então, a gente sai e a CSA entra". Como pediram para ficar, a CSN se licenciou do instituto. Não fizemos isso por nós, mas por todos os brasileiros. Não pense que se formos para os Estados Unidos a gente chega lá fazendo estripulia no mercado deles. Não pode.

Ano passado o presidente Lula implicou com Roger Agnelli para forçar a Vale a investir em siderurgia. Esta semana ele pegou no seu pé numa cerimônia da ferrovia Transnordestina por causa do atraso nas obras...

Ele saiu satisfeito com o que viu. A Transnordestina é uma obra complicada. São 1.728 quilômetros de ferrovia, envolvendo três Estados. Houve dificuldades em várias etapas, como desapropriação, parte ambiental, projeto. Demorou mais do que ele esperava, mas agora estamos a plena carga.

Mas, no discurso, Lula foi bem irônico. Disse que homens como o sr. não são queridos pela população mais humilde porque têm privilégios nos governos. Ou que o sr. não fazia ideia de quanto era xingado...

O presidente é muito espontâneo. Tinha uma massa grande de trabalhadores e ele estava emocionado. Ele brinca muito, interage com o povo. Não fez nada por mal, acho que ele saiu de lá contente.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Humor unido, jamais dará boa coisa...

Estou de acordo com a campanha, mas o slogan é doloroso. Humor unido só pode dar porcaria. O melhor humor sempre é individual, personalíssimo...
Meu slogan seria este: "Colabore: ridicularize um político, ou mais de um..."
Paulo Roberto de Almeida

Río: los humoristas marcharon para que los dejen hacer chistes sobre los candidatos
Por Eleonora Gosman
San Pablo. Corresponsal
Clarín.com, Lunes 23 de agosto de 2010

Se concentraron en la capital carioca para repudiar una medida de la Justicia Electoral que impide burlarse de aspirantes o de partidos políticos. “El humor unido jamás será vencido”, corearon los manifestantes.

Detrás de carteles que exigían “Humor sin censura” medio centenar de cómicos y dibujantes marchó ayer por Copacabana en la capital carioca. Unos llevaban narices de payaso. Otros portaban máscaras con caricaturas de políticos brasileños que disputarán cargos electorales en los comicios generales del 3 de octubre próximo. La manifestación se originó en una polémica medida del Superior Tribunal Electoral brasileño que prohibió a radios, programas de TV y por extensión a contenidos de internet, “usar trucos, montajes o recursos de audio y vídeo que dejen en ridículo a candidatos , partidos o alianzas (electorales)”. Al mismo tiempo, veda “la producción de programas que tengan ese efecto”.

En estas presidenciales, el Tribunal se ha empeñado en imponer normas tan rígidas como imposibles de cumplir, con multas que afectaron a candidatos, partidos y al gobierno nacional. Lula, por ejemplo, fue penalizado en tres oportunidades. Pero esta vez enfrenta la revuelta de los humoristas, que debieron erradicar de sus programas televisivos y radiales todo lo que huela a chanza política so pena del castigo monetario.

La TV brasileña desarrolló varios programas de humor político en la última década. Al primero de ellos, llamado “Casseta y Planeta”, continuaron otras variantes como CQC (posterior al homónimo argentino del cuál extrajo el formato) y “Pánico en la TV”. La actriz Maria Clara Gueiros sintetizó por qué motivos esa medida del tribunal electoral es repudiable: “Es una línea de show que aproxima las personas a la política”. Si en la dictadura no fue posible, la comicidad en este terreno volvió con la democracia. “Que prohíban la vena del humor es un retroceso”, subrayó.

Dispuestos a imponer la devolución del “humor libre” los comediantes y dibujantes se encolumnaron seguidos de cientos de personas mientras coreaban: “El humor unido jamás será vencido” , en una paráfrasis de la consigna “el pueblo unido jamás será vencido” que se popularizó en los movimientos de protesta anti dictatoriales de fines de los `60 y comienzos de los `70. Como señalaban ayer medios periodísticos brasileños, el chiste político fue, en tiempos de dictadura, el medio ideal de expresión de resistencia. Con la vuelta de las democracias se convirtió en una suerte de polea de transmisión de la opinión pública hacia el poder.

La manifestación de Río de Janeiro ayer por la tarde tuvo la virtud de instalar en el público el debate por esa decisión de la justicia electoral. Cientos de cariocas se arremolinaron alrededor de los manifestantes, todos ellos conocidos personajes de TV, teatro y radio, lo que dio mucha más consistencia numérica a la marcha. “Es una ley insólita y antidemocrática. La democracia se reconquistó en Brasil con mucha lucha, mucha gente murió para que la sociedad viviese en un ambiente democrático”, sostuvo en un discurso el actor Lucio Mauro Filho. Otro colega, Bruno Mazzeo, agregó: “Es como si prohibieran hablar de fútbol en épocas de la Copa del Mundo”. Entre ellos, la presentadora Sabrina Sato del programa Pánico en la TV evaluó: “¿Quién vio un humorista que no pueda hacer chistes? Eso sí que parece una broma ¿no?”.

También indignado, Sérgio Malandro marcaba ayer: “El pueblo quiere reír y ¿quién tiene derecho a quitarle la diversión? La vida ya es muy dura y ¿cuál es el problema de hacer chistes con un diputado que ganó 100 veces la lotería?”.

Esta marcha, organizada por el grupo Comedia en Pie con la participación de los principales nombres del humor brasileño, puso de relieve la “inoperancia” del mundo político que no esbozó el más mínimo cuestionamiento. Desde el gobierno hubo mutis ante la decisión de la justicia electoral.

Pero tampoco los candidatos se sintieron obligados al menos a comentar que esa medida constituye un cerrojo. Los analistas que acompañaron los debates televisivos dijeron, justamente, que si algo caracterizó las presentaciones de los postulantes a la presidencia de Brasil fueron los medios tonos que impusieron los asesores en marketing. Hubo un esmero excesivo en preservar las imágenes de aquellos que pelean por suceder a Lula da Silva. En ese contexto, las empresas publicistas que montaron las campañas deben haber sentido alivio por la medida adoptada por el tribunal electoral.

Venezuela: muertos, mortes, deads, deaths, you choose...

Venezuela, More Deadly Than Iraq, Wonders Why
By SIMON ROMERO
The New York Times, August 22, 2010

CARACAS, Venezuela — Some here joke that they might be safer if they lived in Baghdad. The numbers bear them out.

In Iraq, a country with about the same population as Venezuela, there were 4,644 civilian deaths from violence in 2009, according to Iraq Body Count; in Venezuela that year, the number of murders climbed above 16,000.

Even Mexico’s infamous drug war has claimed fewer lives.

Venezuelans have absorbed such grim statistics for years. Those with means have hidden their homes behind walls and hired foreign security experts to advise them on how to avoid kidnappings and killings. And rich and poor alike have resigned themselves to living with a murder rate that the opposition says remains low on the list of the government’s priorities.

Then a front-page photograph in a leading independent newspaper — and the government’s reaction — shocked the nation, and rekindled public debate over violent crime.

The photo in the paper, El Nacional, is unquestionably gory. It shows a dozen homicide victims strewn about the city’s largest morgue, just a sample of an unusually anarchic two-day stretch in this already perilous place.

While many Venezuelans saw the picture as a sober reminder of their vulnerability and a chance to effect change, the government took a different stand.

A court ordered the paper to stop publishing images of violence, as if that would quiet growing questions about why the government — despite proclaiming a revolution that heralds socialist values — has been unable to close the dangerous gap between rich and poor and make the country’s streets safer.

“Forget the hundreds of children who die from stray bullets, or the kids who go through the horror of seeing their parents or older siblings killed before their eyes,” said Teodoro Petkoff, the editor of another newspaper here, mocking the court’s decision in a front-page editorial. “Their problem is the photograph.”

Venezuela is struggling with a decade-long surge in homicides, with about 118,541 since President Hugo Chávez took office in 1999, according to the Venezuelan Violence Observatory, a group that compiles figures based on police files. (The government has stopped publicly releasing its own detailed homicide statistics, but has not disputed the group’s numbers, and news reports citing unreleased government figures suggest human rights groups may actually be undercounting murders).

There have been 43,792 homicides in Venezuela since 2007, according to the violence observatory, compared with about 28,000 deaths from drug-related violence in Mexico since that country’s assault on cartels began in late 2006.

Caracas itself is almost unrivaled among large cities in the Americas for its homicide rate, which currently stands at around 200 per 100,000 inhabitants, according to Roberto Briceño-León, the sociologist at the Central University of Venezuela who directs the violence observatory.

That compares with recent measures of 22.7 per 100,000 people in Bogotá, Colombia’s capital, and 14 per 100,000 in São Paulo, Brazil’s largest city. As Mr. Chávez’s government often points out, Venezuela’s crime problem did not emerge overnight, and the concern over murders preceded his rise to power.

But scholars here describe the climb in homicides in the past decade as unprecedented in Venezuelan history; the number of homicides last year was more than three times higher than when Mr. Chávez was elected in 1998.

Reasons for the surge are complex and varied, experts say. While many Latin American economies are growing fast, Venezuela’s has continued to shrink. The gap between rich and poor remains wide, despite spending on anti-poverty programs, fueling resentment. Adding to that, the nation is awash in millions of illegal firearms.

Police salaries remain low, sapping motivation. And in a country with the highest inflation rate in the hemisphere, more than 30 percent a year, some officers have turned to supplementing their incomes with crimes like kidnappings.

But some crime specialists say another factor has to be considered: Mr. Chávez’s government itself. The judicial system has grown increasingly politicized, losing independent judges and aligning itself more closely with Mr. Chávez’s political movement. Many experienced state employees have had to leave public service, or even the country.

More than 90 percent of murders go unsolved, without a single arrest, Mr. Briceño-León said. But cases against Mr. Chavez’s critics — including judges, dissident generals and media executives — are increasingly common.

Henrique Capriles, the governor of Miranda, a state encompassing parts of Caracas, told reporters last week that Mr. Chávez had worsened the homicide problem by cutting money for state and city governments led by political opponents and then removing thousands of guns from their police forces after losing regional elections.

But the government says it is trying to address the problem. It recently created a security force, the Bolivarian National Police, and a new Experimental Security University where police recruits get training from advisers from Cuba and Nicaragua, two allies that have historically maintained murder rates among Latin America’s lowest.

The national police’s overriding priority, said Víctor Díaz, a senior official on the force and an administrator at the new university, is “unrestricted respect for human rights.”

“I’m not saying we’ll be weak,” he said, “but the idea is to use dialogue and dissuasion as methods of verbal control when approaching problems.”

Senior officials in Mr. Chávez’s government say the deployment of the national police, whose ranks number fewer than 2,500, has succeeded in reducing homicides in at least one violent area of Caracas where they began patrolling this year.

Still, human rights groups suggest the new policing efforts have been far too timid. Incosec, a research group here that focuses on security issues, counted 5,962 homicides in just 10 of Venezuela’s 23 states in the first half of this year.

Meanwhile, the debate over the morgue photograph published by El Nacional is intensifying, evolving into a broader discussion over the government’s efforts to clamp down on the news outlets it does not control.

The government says the photograph was meant to undermine it, not to inform the public. The authorities are also threatening an inquiry into “Rotten Town,” a video by a Venezuelan reggae singer that shows an innocent child struck down by a stray bullet. For all the government’s protests, the video has spread rapidly across the Internet since its release here this month.

Given the government’s stance in these cases, many here worry it is focusing on the messenger, not the underlying message.

Hector Olivares, 47, waited outside the morgue early one morning this month to recover the body of his son, also named Hector, 21. He said his son was at a party in the slum of El Cercado, on the outskirts of Caracas, when a gunman opened fire.

Mr. Olivares said Hector was the second son he had lost in a senseless murder, after another son was killed four years ago at the age of 22. He said he did not blame Mr. Chávez for the killings, but he pleaded with the president to make combating crime a higher priority.

“We elected him to crack down on the problems we face,” he said. “But there’s no control of criminals on the street, no control of anything.”

María Eugenia Díaz contributed reporting.

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