sábado, 11 de setembro de 2010

Adios comandante? Ahora si...

Sim, desta vez é o Fidel.
Mas se ele não disse adiós, tampouco disse algo inteligível, o que permite duvidar de sua integridade mental. Não que ele esteja maluco, agora. Sempre foi, e continua achando que o capitalismo vai acabar. Um caso de esquizofrenia aguda que vem de longe...
Claro, o capitalismo não funciona: se funcionasse direito para enriquecer a todos, Cuba não teria se convertido ao socialismo.
O que funciona mesmo é o socialismo: o método mais rápido, mais certeiro e mais eficaz para converter a todos em pobres e miseráveis, com exceção da nomenklatura. Isso os socialistas brasileiros já perceberam: tanto que nem querem ouvir falar em socialismo, só querem ser sócios do capitalismo dos outros...
Paulo Roberto de Almeida

Fidel dice ahora que lo que no funciona es el capitalismo
Emilia C. de Paula
El País, 11/09/2010

Enmienda a la totalidad. Fidel Castro aseguró ayer que el socialismo cubano sí tiene validez, lo que no funciona, a su juicio, es “el sistema capitalista” que “ya no sirve ni para Estados Unidos, ni para el mundo, al que conduce de crisis en crisis, que son cada vez más graves, globales y repetidas”. El líder comunista no pudo ser más rotundo al matizar sus recientes declaraciones al periodista norteamericano Jeffrey Goldberg, a quien dijo, en una entrevista en la revista The Atlantic, que “el modelo cubano no funciona ni siquiera para nosotros”. Castro aseguró que el reportero no inventó la frase, pero que le malinterpretó absolutamente.

El ex mandatario cubano, de 84 años, dio su versión de lo sucedido en la entrevista durante la presentación de un libro autobiográfico suyo en La Habana. Según Castro, Goldberg le pregunto “si el modelo cubano era algo que aún valía la pena exportar”. A su entender, la pregunta llevaba “implícita la teoría de que Cuba exportaba la revolución”. Fue entonces cuando le respondió que “el modelo cubano” ya no les funcionaba ni a ellos.

“Se lo expresé sin amargura ni preocupación. Me divierto ahora al ver como él lo interpretó al pie de la letra y consultó con [la académica norteamericana] Julia Sweig, que lo acompañó y elaboró la teoría que expuso”, afirmó. Según Castro, “lo real” es que su “respuesta significaba exactamente lo contrario de lo que ambos periodistas norteamericanos interpretaron”. “Mi idea, como todo el mundo conoce, es que el sistema capitalista ya no sirve ni para Estados Unidos, ni para el mundo, al que conduce de crisis en crisis, que son cada vez más graves, globales y repetidas, de las cuales no puede escapar”.

Declaración matizada
El ex presidente cubano también desechó las interpretaciones de Goldberg sobre lo que le dijo sobre la crisis de los misiles. El periodista norteamericano le preguntó si había valido la pena haber pedido en 1962 al líder soviético Nikita Jruschov, durante la crisis de los misiles, que atacara a Estados Unidos con armas nucleares si era necesario. Según Fidel, le contestó textualmente: “Después de haber visto lo que he visto y de haber sabido lo que ahora sé, no valía la pena en lo absoluto”.

Castro dijo que lo que él recomendó a Jruschov era que si “EEUU invadía Cuba”, en ese momento con armas nucleares rusas, “no debía dejarse dar el primer golpe”.

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E uma crônica à propos:

CASTRO NEGA CASTRO E CONFIRMA NIEMEYER
Janer Cristaldo, Sábado, Setembro 11, 2010

E não é que Niemeyer tinha razão? Fidel Castro veio a público para dizer que não disse o que disse. Não nega a entrevista concedida ao jornalista Jeffrey Goldberg, da revista americana The Atlantic. Mas acha que Goldberg foi longe demais. "Me divirto agora ao ver como ele interpretou ao pé da letra. Sigo pensando que Goldberg é um grande jornalista. Não inventa frases, as transfere e as interpreta", disse, segundo o site oficial cubadebate.cu, sem trocadilhos.

- Minha idéia – continuou o tiranete – como todo o mundo conhece, é que o capitalismo já não serve para os Estados Unidos, nem para o mundo, ao qual conduz de crise em crise, que são cada vez mais graves, globais e repetidas, das quais não consegue escapar.

Ah bom! Não falava do socialismo. Quando disse que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba, não queria dizer que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba. Pura interpretação do jornalista. O que queria dizer era que o capitalismo não serve nem mais para os Estados Unidos. Hugo Chávez, Chico Buarque, Ariano Suassuna, Luis Fernando Verissimo, Lula, dona Dilma, Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim e Tarso Genro podem respirar aliviados. A utopia continua viva. Niemeyer, o decano do stalinismo no continente, tinha razão. Castro não poderia ter dito tal bobagem.

Só não deve ter convencido os cubanos, que há meio século sabem que o regime cubano não serve para Cuba.

Adios comandante?

Não, não é o Fidel, apenas Mister Chávez, que parece enfrentar dificuldades nas eleições de 26 de setembro.
A julgar por esta pesquisa:

Encuesta-KELLER-3er-Trimestre-2010.pdf

Vejam vocês mesmos:


Enfim, parece também que ele está disposto a manipular os resultados, como já fez com a lei eleitoral e afastando vários candidatos da oposição sob pretextos diversos.
Ele também recusou observadores eleitorais de outros países. Agora só falta proibir jornalistas...

Com os nervos a flor da pele...

É o que se poderia dizer desta matéria de imprensa:

Petista confunde "fralda" com "fraude" e encerra entrevista
GRACILIANO ROCHA DE PORTO ALEGRE

A presidenciável Dilma Rousseff (PT) confundiu as palavras "fraude" e "fralda" e encerrou entrevista coletiva em sua primeira aparição pública após o nascimento do neto em Porto Alegre.
Sem participar de atos de campanha desde anteontem para acompanhar o parto de Paula, sua filha única, Dilma disse no início da entrevista, em tom de brincadeira, que gostaria de falar de fraldas e mamadas do neto Gabriel.
Cerca de 25 minutos depois, um repórter começou a fazer uma pergunta sobre "fraldas" e foi cortado pela candidata, que aparentemente pensou que ele se referia ao escândalo da Receita.
"Eu não falo mais sobre fraudes, vocês me desculpem, vocês perguntem isso para o meu adversário [José Serra, do PSDB], que isso é a pauta dele", afirmou a candidata antes de deixar a sala.
Segundo Dilma, o nascimento de Gabriel foi momento mais feliz de sua vida. "Os avós sempre me disseram que a gente fica meio bobo [com os netos]. Estou hoje meio boba", disse.

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Não deixa de ser engraçado, mas também revelador...

11 de Setembro: um outro aniversario, bem mais feliz...

Neste 11 de setembro comemoramos...?

Já sei, vocês vão dizer rememoramos, pois que comemorar seria indevido, os terríveis ataques terroristas contra os Estados Unidos, em Nova York e Washington, responsáveis pela morte de milhares de pessoas, no dia 11 de Setembro de 2001.

Antes disso, rememorávamos o golpe do general Augusto Pinochet contra o governo constitucional de Salvador Allende, com o apoio ativo do governo dos mesmos Estados Unidos e da ditadura militar do Brasil, também com a morte de milhares de pessoas, a começar do próprio presidente Allende (que tudo indica se suicidou).

Mas, antes, bem antes, e hoje ainda, para nossa informação, comemoramos o lançamento do primeiro número da revista Veja, em 11 de Setembro de 1968, ao preço de NCr$ 1 (um cruzeiro novo). Para quem não se lembra, o cruzeiro novo foi a moeda que substituiu o cruzeiro lançado em 1942 e aposentado por excesso de inflação (com o devido corte de três zeros para o seu relançamento com o novo nome provisório; depois continuamos trocando de moeda e cortando zero, pois a inflação foi se acelerando).

Essa Veja trazia na Capa, vermelha, a foice e o martelo, e correspondia a uma fase em que o comunismo parecia efetivamente espalhar-se pelo mundo, embora com rebeliões em seu próprio seio, como evidenciava a "primavera de Praga" (logo esmagada pelos tanques soviéticos) e a "dissidência" romena (além da já antiga cisão entre os dois grandes, China e URSS).

Não sou especialmente fã da Veja -- pelo fato de ler muitos jornais e revistas estrangeiros, bem mais completos -- e fui um assinante por muito pouco tempo, esporadicamente, pois ela não me acrescenta muita coisa, depois de ler toda a imprensa diária na semana toda. Mas reconheço seu papel inestimável no jornalismo brasileiro, pois seus furos de reportagens, suas matérias de fundo sobre os grandes temas de nossa época, o jornalismo investigativo que a levou a grandes denúncias (até agora), sempre foram características inegáveis dessa revista popular e de amplo alcance.

Meus cumprimentos pelo aniversário, o 42., de sua longa trajetória de sucesso.
Toda ela, aliás, digitalizada (o que me permitiu, justamente, ler o primeiro número publicado).
Vida longa...

Paulo Roberto de Almeida
(11.09.2010)

Como perder uma aposta, mesmo contra a logica e o interesse publico (e ate o privado...)

Querem ver como é fácil perder uma aposta?
Eu mesmo, vou fazer, e aposto que vou perder.
Mas, confio na honestidade das pessoas, no interesse público, privado e partidário, até eleitoral, acreditando que seria melhor, para o governo, para sua credibilidade pública, para sua legitimidade política, para sua segurança institucional, para uma vitória tranquila para sua candidata, enfim, por tudo aquilo que a república mafiosa mais preza em seu itinerário político, que é a sua continuidade indisputada e indiscutível.
Qual é a aposta, afinal?
Simples, esta:

Aposto que o governo vai -- se ainda não o fez, no momento em que escrevo estas linhas, quase meio dia de um sábado, em Brasília, dia de descanso de trabalho, mas quem é do ramo não descansa -- retomando: aposto que o governo vai demitir, pela ordem:

1) A "doutora" Erenice Guerra, atual ministra-chefe da Casa Civil;

2) O "doutor" Cartaxo, atual Secretário da Receita Federal (essa já deveria ter sido demitido há muito tempo; aliás, desde quando as primeiras notícias sobre vazamentos, consultas indevidas, lambanças generalizadas na sua butique vieram à tona).

Estão feitas as apostas, portanto duas, e não apenas uma (como sou otimista!).
Minha aposta é que o governo vai demitir esses dois personagens, não tanto pelo que efetivamente fizeram -- o que resta ser esclarecido devidamente, pois como dizem, suspeita não é crime -- mas pelo que já saiu publicado na imprensa e de comentários subsequentes, que deixam os personagens, e por extensão o governo, em muito má situação (se isso ainda fosse possível).

Quer agora apostar, caro leitor, que vou perder a aposta? Aliás, ambas as duas, se me permitem a redundância (no caso deste governo, qualquer licença poética é cabível).
Conhecendo também o que vai por aí, não é muito difícil perder.
Vale um livro, em qualquer sentido...

Paulo Roberto de Almeida
(11.09.2010)

Como fazer a mentira prosperar impunemente...

Fácil: basta que a imprensa deixe de fazer o seu papel. Ou que os repórteres e jornalistas sejam coniventes com a mentira.
A questão é muito simples.
Políticos, de qualquer partido -- mas de alguns partidos em particular -- são mentirosos contumazes. Digamos que seja uma segunda natureza deles.
OK, isso é conhecido. Por isso mesmo, a cada afirmação de um político, sobretudo em época eleitoral, a imprensa deveria checar as afirmações e, se a afirmação representar, não a expressão de meros desejos vagos, mas uma clara violação da verdade factual, efetuar imediatamente um desmentido, puramente objetivo.
Tenho, como todos sabem, certa alergia à burrice, mas tenho ainda mais ojeriza à mentira e, sobretudo, horror quando ela é feita de má-fé, propositadamente, como fraude deliberada, o que já constitui desonestidade intelectual (ainda que este último adjetivo não se aplica em se tratando de certas pessoas).
Não contem comigo para que a mentira prevaleça. Por isso mesmo, sem dispor de acesso direto -- inclusive por impossibilidade logística e geográfica -- aos pronunciamentos mais mentirosos da temporada -- é a estação das mentiras, sabemos, embora para alguns seja o ano inteiro -- recorro ao jornalista conhecido para manter minha campanha de combate à mentira.
Paulo Roberto de Almeida

Lula já não preside o país; agora, só faz campanha. No palanque, espanca a verdade, mas eu a resgato
Reinaldo Azevedo, 11.09.2010

Leiam o que vai no Estadão Online. Volto em seguida:

Por Francisco Carlos de Assis, da Agência Estado:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente nesta sexta-feira, 10, a gestão do PSDB na área educacional no Estado de São Paulo, nos últimos anos, num ataque indireto ao presidenciável tucano José Serra e a Geraldo Alckmin, candidato da legenda ao Palácio dos Bandeirantes neste pleito. Sem citar nomes, Lula alfinetou: “A elite que governou São Paulo nunca se importou em colocar os pobres para estudar nas universidades”. E emendou: “Isso é uma vergonha para a elite que governou São Paulo nos últimos anos.”

O presidente, que participou na manhã de hoje da inauguração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), em Suzano, na região leste da Grande São Paulo, também atacou de maneira indireta o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. “Tivemos presidente doutor com pós-graduação no exterior que não construiu uma universidade (no Brasil). Claro, ele já tinha aprendido. Para quê ensinar para os outros?”, ironizou, arrancando aplausos da maioria do público de cerca de 300 pessoas. E salientou que o povo brasileiro quer ter o direito de ser “doutor, engenheiro e não só pedreiro”.

Ainda nas críticas à “elite que governou São Paulo”, o presidente disse que só eles achavam que tinham direito de fazer graduação aqui e depois fazer pós-graduação em Chicago, Paris ou Londres. Enquanto isso, os pobres não tinham sequer direito de terminar o ensino fundamental. Segundo Lula, São Paulo é um dos Estados mais ricos da federação e tem uma das melhores universidades do País, que é a USP, mas infelizmente apenas 96 mil estudantes podem cursá-la.

O presidente lembrou que só o ProUni - programa de sua gestão - já possibilitou o ingresso de 194 mil alunos no ensino superior em São Paulo e no País a abrangência deste programa é de 704 mil alunos. E disse que seu governo atende a todos, independentemente de partido. “Vocês podem viajar por todo o País e perguntar para qualquer prefeito de qualquer partido, até do DEM e PSDB (adversários do PT nessas eleições majoritárias) se já negamos qualquer verba que eles foram pedir.” E voltou a alfinetar: “Enquanto a elite queria construir pontes e viadutos para colocar nomes de mães e tias, nós estamos construindo saneamento básico.”

Em Suzano, Lula falou também aos jovens, dizendo que eles não devem ter preguiça para estudar e cursar uma universidade. “Para constituir família, casar e ter filhos, tem que ter estudo e uma boa renda.” E citou as mulheres, maioria do eleitorado no País, destacando que elas também devem estudar para não depender dos maridos e companheiros. “A gente tem que ficar com a pessoa porque gosta e não em troca de um prato de feijão. A mulher não tem que agüentar desaforo dos homens. Elas podem ganhar mais que os homens sim.”

Comento [Reinaldo Azevedo]:
Deixarei de lado as considerações de Lula sobre as relações entre homens e mulheres porque teria de entrar num capítulo que me desviaria do essencial. Quem sabe um dia um desses historiadores da intimidade se interesse pelos sucessos sentimentais da companheirada. Porque vocês sabem: uma “nova era”, como apontam os “inteliquituais”, costuma ter até o seu próprio padrão sexual, certo? Vamos ao que poderia haver de sério e relevante em sua fala.

O Estado de São Paulo é um dos poucos a ter universidades estaduais e é o único que tem três delas, inclusive a USP, a maior e mais importante do país. E o número de vagas se expandiu durante os governos tucanos, atacados com ferocidade bucéfala.

De todas as áreas do governo Lula superfaturadas pela propaganda, a educação é certamente aquela em que se mente mais. Relembro alguns números que já publiquei aqui — números oficiais. Volto em seguida:
1 - Lula afirma por aí ter criado 13 universidades federais. É mentira! Com boa vontade, pode-se afirmar que criou apenas seis; com rigor, quatro. Por quê? A maioria das instituições que ele chama “novas universidades” nasceu de meros rearranjos de instituições, marcados por desmembramentos e fusões. Algumas universidades “criadas” ainda estão no papel. E isso, que é um fato, está espelhado nos números, que são do Ministério da Educação;

2 - Poucos sabem, certa imprensa não diz, mas o fato é que a taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais entre 1995 e 2002 (governo FHC) foi de 6% ao ano, contra 3,2% entre 2003 e 2008 - seis anos de mandato de Lula;

3 - Só no segundo mandato de FHC, entre 1998 e 2003, houve 158.461 novas matrículas nas universidades federais, contra 76.000 em seis anos de governo Lula (2003 a 2008);

4 - Nos oito anos de governo FHC, as vagas em cursos noturnos, nas federais, cresceram 100%; entre 2003 e 2008, 15%;

5 - Sabem o que cresceu para valer no governo Lula? As vagas ociosas em razão de um planejamento porco. Eu provo: em 2003, as federais tiveram 84.341 formandos; em 2008, 84.036;

6 - O que aumentou brutalmente no governo Lula foi a evasão: as vagas ociosas passaram de 0,73% em 2003 para 4,35% em 2008. As matrículas trancadas, desligamentos e afastamentos saltaram de 44.023 em 2003 para 57.802 em 2008;

7 - Sim, há mesmo a preocupação de exibir números gordos. Isso faz com que a expansão das federais, dada como se vê acima, se faça à matroca. Erguem-se escolas sem preocupação com a qualidade e as condições de funcionamento, o que leva os estudantes a desistir do curso. A Universidade Federal do ABC perdeu 42% dos alunos entre 2006 e 2009.

8 - Também cresceu espetacularmente no governo Lula a máquina “companheira”. Eram 62 mil os professores das federais em 2008 - 35% a mais do que em 2002. O número de alunos cresceu apenas 21% no período;

9 - No governo FHC, a relação aluno por docente passou de 8,2 para 11,9 em 2003. No governo Lula, caiu para 10,4 (2008). É uma relação escandalosa! Nas melhores universidades americanas, a relação é de, no mínimo, 16 alunos por professor. Lula transformou as universidades federais numa máquina de empreguismo.

Voltei
Um dia talvez a imprensa chegue ao requinte de não permitir que uma mentira prospere. O sujeito diz um batatada ou um dado impreciso, isso é informado ao leitor, e os dados corretos são fornecidos em seguida — não precisa haver uma bendita ou maldita opinião no texto. Só a informação. Um dia, talvez até a oposição faça isso.

E uma palavra sobre o ProUni: trata-se do maior programa da história brasileira de repasse de dinheiro público para entidades mantenedoras do ensino privado. Seria eu contra o ensino privado? Eu não! Sou a favor de privatizar até Jardim da Infância, embora não seja uma proposta muito influente. Agora, se é para repassar dinheiro público para quem quer que seja, é preciso exigir um padrão mínimo de qualidade no serviço oferecido. É o caso do ProUni? Não é.

Instituições que têm um desempenho ridículo no antigo “provão”, que foi desmoralizado pelo governo Lula, continuam a receber o leite de pata. O governo, com efeito, tem pagado para que os pobres estudem em verdadeira cabeças de porco disfarçadas de universidades.

Ninguém diz? Eu digo! O presidente continuará a sustentar as suas barbaridades por aí sem ser confrontado porque, afinal, “não se pode bater no Lula ou se perde voto”? Pois é. Ainda bem que não sou candidato a nada. Aquele blogueiro oficial e pançudo ironizaria: “É a turma dos 2%…” É bobagem, mas tudo bem. Fosse assim, já seriam 4 milhões de pessoas, não é mesmo? Um bom recomeço, certamente.

Como efetuar tenebrosas transacoes (conta a pagar, mais adiante)

Lambança nas contas
Editorial - O Estado de S.Paulo
11 de setembro de 2010

O governo tem pronto mais um truque para manter a gastança, chegar ao fim do ano como se tivesse cumprido a meta fiscal e ainda fazer sua parte na capitalização da Petrobrás. A nova lambança envolverá a participação do Tesouro e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na mobilização de recursos para exploração do pré-sal. O resultado contábil da manobra será uma receita extraordinária para o governo. Com isso será mais fácil anunciar, dentro de alguns meses, o superávit fiscal planejado para 2010, um resultado equivalente a 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado obtido nos 12 meses terminados em agosto foi bem menor - 2,03% -, apesar do grande aumento da receita desde o fim da recessão.
A União deverá adiantar à Petrobrás, como cessão onerosa, 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal, avaliados em R$ 74,8 bilhões. Essa contribuição será, portanto, um empréstimo. Mas uma compra de ações desse mesmo valor deverá ocorrer como parte da capitalização. Essa compra será feita conjuntamente pelo Tesouro e pelo BNDES. Como a Petrobrás terá de pagar pelo direito de exploração dos 5 bilhões de barris, o dinheiro voltará para o governo.

O resultado para o Tesouro, no entanto, não será nulo. Parte da contribuição para o capital será realizada pelo BNDES. Com o pagamento da Petrobrás pelos barris de petróleo, a diferença entre os R$ 74,8 bilhões e o valor das ações compradas pelo banco ficará para o governo como receita não tributária.

A possibilidade de manobras desse tipo havia sido revelada no fim de agosto, quando um decreto, baseado na Medida Provisória (MP) 500, autorizou o Tesouro a transferir ações da Petrobrás para o BNDES e para a Caixa Econômica Federal. A MP havia permitido a transferência, a venda e a permuta de papéis da Petrobrás entre entidades federais, incluído o Fundo Soberano.

O objetivo principal dessas operações deveria ser, segundo as primeiras informações, o aumento da participação do Estado no capital da Petrobrás. Além de manter a maioria das ações com direito a voto, a União aumentaria a sua parcela das preferenciais. Também com essa finalidade, um decreto publicado na quarta-feira autorizou a troca de ações ordinárias da Petrobrás, pertencentes ao Tesouro, por papéis preferenciais da carteira do BNDES. O mesmo decreto facilita a participação do Fundo Soberano na capitalização.

Mas a concepção dessas manobras deve servir também a outro objetivo - a geração de receita extraordinária, para permitir o alcance da meta fiscal sem o recurso aos abatimentos previstos na lei orçamentária. O governo poderia abater da meta os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Seria apenas um disfarce, porque a despesa total seria, de toda forma, superior àquela compatível com o resultado planejado, inicialmente, para o pagamento dos juros da dívida pública. Truques desse tipo não enganam quem acompanha a evolução das contas do governo, mas o governo tem procurado manter, para efeito político, essa válvula de escape. Para alguma coisa a encenação pode servir.

Mas o secretário do Tesouro, Arno Augustin, anunciou há dias, numa entrevista ao Estado, a intenção do governo de chegar à meta sem recorrer ao abatimento dos gastos com o PAC. Para o leitor mais otimista, suas palavras indicariam o compromisso de cortar despesas menos importantes e buscar maior eficiência na gestão do dinheiro público. É difícil imaginar como a administração federal conseguiria resultados desse tipo depois de quase oito anos de gastança e desperdício.

Mas não é necessário gastar tempo com esse exercício de imaginação. O governo, segundo fontes federais, deverá recorrer a outros meios para chegar, contabilmente, ao superávit primário de 3,3%. Não precisará economizar nem buscar maior eficiência no uso do dinheiro pago pelo contribuinte. Poderá simplesmente recorrer a receitas extraordinárias inventadas como subproduto da capitalização da Petrobrás. Mas não se administra o Estado com truques desse tipo. Em prazo não muito longo, manobras como essa podem custar muito caro para o País.

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...