O post abaixo é uma reprodução (devidamente autorizada, por mim mesmo), de um texto meu.
Trata-se de um trabalho que elaborei tão logo retornei de Washington, no final de 2003, e que foi postado neste blog quase dois anos depois, sempre para atender, de modo mais amplo, a demandas efetuadas através de meu site, ou por correspondência direta, por grande número de candidatos à carreira diplomática.
Parece que ele teve, e ainda tem, grande sucesso, pois até hoje foram acumulados muitos comentários em sua "encarnação-postagem" anterior.
Esta é unicamente a razão de por que ele vai postado novamente aqui.
Sequer o reli, pois certamente teria muita coisa a acrescentar ou modificar, em função justamente das perguntas colocadas no post original (aqui).
Pretendo retornar aos temas proximamente.
Paulo Roberto de Almeida
A formacao e a carreira do diplomata: Uma preparação de longo curso e uma vida nômade
(673: sábado, 30 de dezembro de 2006)
Paulo Roberto de Almeida
A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em decorrência da maior inserção internacional do Brasil e dos avanços da globalização e da regionalização. Os candidatos têm em geral procurado os cursos de graduação em relações internacionais. Cabe indagar se esses cursos fornecem a preparação adequada para o concurso do Itamaraty e, alternativamente, considerando que apenas um número restrito será admitido na carreira, se eles fornecem os instrumentos necessários para lograr uma boa colocação no setor privado, que é ainda o grande “absorvedor” da oferta universitária.
Não é tampouco certo que um curso de graduação em relações internacionais seja a melhor via de acesso à carreira diplomática, uma vez que os requerimentos de entrada são mais amplos, ou mais específicos, do que a grade curricular desses cursos, ainda desiguais e com ênfases distintas nos vários estados: alguns são teóricos, voltados para a pesquisa em política mundial, outros colocam ênfase no comércio internacional e no chamado global business (o que pode ser uma orientação correta, se pensarmos que as relações econômicas internacionais compõem o essencial da agenda contemporânea). Os cursos tradicionais — direito, economia ou administração, com um complemento em línguas — podem ser mais útil ao aspirante à carreira, já que ele poderá se exercer também nas profissões pertinentes. Ele pode, depois, buscar uma especialização em relações internacionais, familiarizando-se com os debates teóricos e com a agenda da política mundial.
Em todo caso, o candidato à carreira pode não receber num curso de graduação, ou num preparatório de seis ou doze meses, o conhecimento de que necessita para atender aos requisitos do concurso do Instituto Rio Branco. Ele precisa ter sólida formação, feita geralmente de anos de acumulação de cultura humanista e de incontáveis leituras. Mais do que qualquer curso ex-catedra, o importante é o esforço individual do candidato, que será idealmente um auto-didata. Um curso de preparação à carreira pode ajudar, ao transmitir um “conhecimento mastigado” e alguma “segurança psicológica”. Mesmo vindo de família modesta e carente de aperfeiçoamentos no exterior ou em cursos de línguas, o candidato motivado pode suprir lacunas pessoais ou de ambiente social ao construir o seu próprio curso, mediante um sério programa de estudos sistemáticos, feito da bibliografia sugerida pelo IRBr, da leitura diária de um jornal econômico e do acesso constante à Internet (como The Economist, Financial Times, Foreign Affairs e outros).
Nos últimos anos, o Instituto Rio Branco tem selecionado um em cada oitenta ou cem candidatos: a seleção é portanto rigorosa e a grande maioria deverá buscar uma outra profissão dentro da área, na espera de poder um dia ingressar na carreira. O mercado é basicamente constituído pelo setor privado, e cabe ao jovem ter consciência disso desde o início. Algumas faculdades mantêm cursos com perfil excessivamente acadêmico, feito de matérias teóricas ou de disciplinas voltadas para os grandes equilíbrios geopolíticos do cenário internacional, como se todos os seus egressos fossem passar a vida discutindo as teorias realista ou racionalista de relações internacionais ou resolvendo algum problema no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essa não é a realidade da agenda mundial, que, mesmo em sua vertente negocial, é feita mais de questões de comércio internacional do que de problemas relativos ao poder mundial.
Algumas especializações podem responder melhor ao perfil específico para uma inserção nos mercados regionais de trabalho. Uma cidade como Brasilia, governamental e diplomática por excelência, chama naturalmente uma formação centrada nas disciplinas diretamente ligadas à diplomacia (direito, história, línguas, economia internacional), para um trabalho no governo, nas organizações internacionais ou no meio acadêmico. Métropoles como São Paulo e Rio de Janeiro, onde se localizam a maior parte das empresas internacionais brasileiras e o grosso das multinacionais (em atividades diversas dos serviços e da indústria), requerem formações voltadas para o chamado global business, com matérias de comércio exterior, finanças internacionais etc. No sul do país, mais voltado para atividades do agribusiness e em contato direto com os parceiros do Mercosul, as especializações podem estar no comércio internacional (inclusive normas relativas ao Mercosul), em questões fitossanitárias e no domínio da língua espanhola.
Alguém dotado de conhecimento acadêmico, de uma boa disposição para o auto-aprendizado e de senso prático em algumas das áreas mencionadas tem chances de subir em qualquer profissão, à medida em que sua experiência de vida o colocar em contato com pessoas dotadas de densidade nessas áreas. Nunca se deve chegar num primeiro emprego como se não se necessitasse de treinamento ou de aperfeiçoamento técnico e profissional. Atitudes do tipo “eu sei fazer”, “eu sei tudo”, “deixa comigo”, geralmente conduzem a desastres, ou pelo menos a situações de constrangimento funcional.
A carreira diplomática é única nos seus requisitos de entrada, não apenas em termos da bagagem intelectual acumulada ao longo de anos de estudo, mas também no sentido em que o diplomata deve exibir algumas qualidades de convivência e de interação social que serão importantes no desempenho ulterior. Por isso os exames de ingresso na carreira envolvem disciplinas tradicionais, mas também entrevistas com banca examinadora que julga as aptidões do candidato para aquele tipo de profissão: a maturidade entra em linha de conta nesse contexto, o comportamento social, assim como a própria aparência pessoal.
Meu trabalho como servidor público federal, na carreira de diplomata, teve início em dezembro de 1977, por meio de um concurso direto, o que, aliado ao fato de já possuir mestrado, dispensou-me de frequentar o curso de preparação mantido pelo Instituto Rio Branco. Desde essa época (um quarto de século já), servi no exterior em diversas missões diplomáticas e no Brasil (Ministério das Relações Exteriores, em Brasília), geralmente na área econômica. Em postos, estive nas embaixadas em Berna, Belgrado e Paris, ademais das delegações do Brsil em Genebra e Montevidéu (Aladi). Mais recentemente fui chefe da Divisão de Política Financeira e de Desenvolvimento do Itamaraty, de 1996 a 1999, e desde outubro daquele ano até outubro de 2003 fui Ministro Conselheiro na Embaixada em Washington, o mais importante dos postos externos do Ministério das Relações Exteriores. Paralelamente ao exercício regular das atividades profissionais, pude manter, ainda que de maneira alternada, minha carreira acadêmica, o que me habilitou não apenas a ministrar cursos em universidades do Brasil e do exterior, como também a fazer pesquisas e manter uma produção de livros e artigos que hoje compõe a bibliografia especializada no campo das relações internacionais. Uma amostra dessa produção pode ser vista em minha página pessoal: www.pralmeida.org.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de janeiro de 2004
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Addendum (em 2010):
Não se aplicam mais os comentários acima a respeito com "entrevista com banca examinadora". Tal requisito foi suspenso desde o segundo ano da administração Lula, não se sabe bem por quais motivos (eu entendo que por "cansaço" da banca...). Existem apenas provas impessoais (ou seja, não identificadas) e o Ministério, a rigor, só vai conhecer e identificar o candidato depois que ele já tiver sido admitido e entrado no serviço exterior brasileiro.
Isso significa, eventualmente, que um daqueles robôs japoneses treinados em fazer provas -- na verdade, um computador superpoderoso capaz de acumular as milhares de leituras requeridas para as provas -- eventualmente treinado por um desses cursinhos em que abunda este nosso Brasil concurseiro, ou até um candidato autista, desses capazes de decorar listas telefônicas inteiras, no limite um doido super-estudioso, qualquer um desses personagens pode vir a ser, atualmente, um diplomata do Brasil. Temos até uma ala dos Napoleões malucos...
Just kidding...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Por que o Brasil avança tão pouco? - artigo Paulo R. Almeida
Um dos meus artigos, mais recentemente publicados. Transcrito abaixo.
Volta ao mundo em 25 ensaios: 18. Por que o Brasil avança tão pouco: sumário das explicações possíveis
Brasília, 8 janeiro 2010, 3 p. Continuidade da série, discutindo criticamente as razões do baixo crescimento do Brasil. Revisão em Shanghai, 14.04.2010.
Ordem Livre (13 de setembro de 2010).
Relação de Originais: 2092; Publicados: 990.
Não é preciso retomar aqui todas as estatísticas sobre o crescimento e o desenvolvimento do Brasil nas últimas décadas: os dados disponíveis confirmam que o Brasil foi um dos países que mais cresceu no mundo, nos primeiros 80 anos do século XX. Cresceu em termos nominais até mais do que o Japão, tendo sido, no entanto, "penalizado" no crescimento da renda per capita pela sua maior "vitalidade" demográfica; mas estagnou a partir das crises da dívida e da instabilidade macroeconômica e nunca mais recuperou um ritmo adequado de crescimento desde então. A expansão dos anos recentes foi mais o resultado da demanda externa – e da extraordinária valorização dos produtos brasileiros de exportação, em especial as commodities – do que de um processo deliberado e planejado de aumento da capacidade produtiva.
A razão é muito simples: o Brasil cresce pouco porque investe muito pouco, e investe pouco porque o estado extrai recursos em demasia da sociedade, diminuindo a capacidade do setor privado de se expandir e criar empregos, renda e riqueza. Sim, acredito que ninguém que lê estas linhas acredite que o estado crie riqueza: ele apenas extrai uma parte da riqueza gerada no setor privado, por empresários e trabalhadores, para fazer aquilo que os estados normalmente fazem: prestar serviços coletivos e contribuir para a criação de um bom ambiente de negócios, capaz de, justamente, gerar ainda mais renda e riqueza. Ora, se o estado se apropria de uma parte desproporcionalmente elevada da renda gerada na sociedade, ele diminui proporcionalmente o volume de investimentos necessários à expansão da oferta agregada (para empregar termos que os adoradores do estado compreendem bem).
É sabido que, no Brasil, o estado se apropria de mais de 38% do PIB gerado a cada ano; provavelmente mais do que isso, pois precisamos computar também a parte que ele gasta com a dívida pública que não é coberta pelo superávit primário, de aproximadamente 3%; ou seja, o estado “gasta” 41% da renda nacional, o que representa cerca de 10 a 12 pontos percentuais a mais do que países com níveis semelhantes de renda per capita. Não existe, assim, a menor possibilidade de que o Brasil possa crescer a taxas maiores, com esse nível de extração de recursos.
Claro, a outra explicação possível, preferida daqueles que apreciam o papel "indutor" do estado no processo de crescimento e de desenvolvimento, é aquela que diz que as forças livres do mercado, deixadas à espontaneidade natural do sistema capitalista, não poderiam realizar o tipo de desenvolvimento requerido pela sociedade brasileira; ou seja, equilibrado, socialmente justo, com redistribuição dos benefícios para o conjunto da população brasileira, em lugar do velho modelo concentrador que tivemos durante décadas no Brasil. As mesmas pessoas preconizam maior nível de investimento público, controle estrito das áreas abertas ao investimento estrangeiro, criação de estatais e distribuição de renda por meio de mecanismos públicos, ou centralmente administrados, em lugar de fazê-lo pelas "forças cegas do mercado", que segundo eles seriam normalmente concentradoras de renda.
Interessante observar – mas para isso eu não encontro resposta nos textos que defendem a filosofia acima descrita – que o Brasil nunca foi um país no qual imperassem as forças livres do mercado. Ao contrário: tudo o que sabemos é que, até onde a vista alcança para trás, o Brasil sempre foi um dos países mais estatizados, dirigistas e administrativamente controlados do mundo em desenvolvimento. Desde que se acelerou o processo de industrialização, a partir dos anos 1950, nunca houve no Brasil aquilo que se poderia chamar de "forças livres do mercado" atuando de maneira desimpedida para criar uma economia capitalista em moldes clássicos, ou seja, com grau limitado de intervenção estatal e com muita competição nos mercados. Ao contrário, o estado sempre comandou uma fração importante da formação do PIB, como ele determina, por sua ação regulatória, indução fiscal, suporte financeiro e até por coerção direta, muitas decisões no setor privado da economia; e não poderia ser de outro modo: capitalistas, cartorialistas ou não, não conseguem competir com, ou contra, essa força indiscutível que é o estado.
Em síntese, eis o quadro que é possível traçar para o pífio crescimento do Brasil nos anos recentes. E que não se venha argumentar que no período militar o estado era muito mais intervencionista e que mesmo assim o crescimento era inegável. Seria necessário reconsiderar os dados exatamente como eles são: de fato os militares – ou melhor, tecnocratas a serviço de militares nacionalistas e, obviamente, desenvolvimentistas – presidiram a uma das fases de maior intervencionismo estatal na vida econômica do país, com significativo aumento da carga fiscal. Acontece apenas que o próprio estado investia uma grande parte do que arrecadava da sociedade, o que evidentemente não ocorre hoje. A parte dos investimentos produtivos nas despesas públicas caiu a níveis irrisórios; e, no entanto, a carga fiscal continua aumentando, quase um ponto percentual do PIB a cada ano; nessas condições, fica difícil crescer. Não encontro outra explicação mais plausível para o baixo grau de desenvolvimento econômico do Brasil nas últimas décadas.
Existem, evidentemente, outras linhas explicativas para o nosso parco avanço econômico e social, entre elas os baixos níveis de educação formal e de qualificação técnica da população brasileira, o que diminui sensivelmente o crescimento da produtividade da economia como um todo. Este pode ser um fator relevante, posto que o Brasil vive praticamente em situação de estabilidade macroeconômica desde uma década e meia, sem grandes crises desde então (mesmo as crises financeiras no plano externo foram contornadas por meio de pacotes preventivos de ajuda do FMI, e não redundaram em inadimplência ou moratória por parte do Brasil).
A única conclusão lógica que consigo tirar de todas as explicações possíveis, e plausíveis, para o não desenvolvimento brasileiro – acima de certo patamar, entenda-se – é a de que o estado, outrora promotor desse desenvolvimento, converteu-se em poderoso obstrutor das possibilidades de crescimento sustentado, tanto pelo grau exageradamente elevado de extorsão fiscal, como pelos níveis absurdamente altos de intrusão regulatória no que deveria ser uma economia capitalista de mercado. Sim, tenho a impressão de que ninguém hoje em dia, nem mesmo os militantes do PCdoB ou do PSOL, alimenta a ilusão de que o Brasil venha converter-se, no futuro previsível, em uma economia socialista. Se isso é verdade, também tenho a impressão de que aqueles que acreditam na ação benéfica e "corretora" do estado, para fins de desenvolvimento, são em muito maior número, e detêm muito mais poder, do que os que acreditam que uma economia de mercado mais livre seja o melhor caminho para o desenvolvimento do Brasil.
A bem da verdade, acredito que nem mesmo os capitalistas brasileiros sejam verdadeiramente capitalistas, posto que eles estão sempre indo a Brasília, diretamente ou por meio de suas associações de classe, pedir alguma medida de favor (sob forma creditícia) ou obstrutora (uma tarifa contra a concorrência estrangeira) que lhes garanta alguma reserva de mercado ou alguns ganhos monopolistas durante algum tempo mais. Acho que eles não percebem que o que o Estado lhes dá com uma mão, por um lado, retira por outro, com a outra mão, de toda a sociedade brasileira.
Assim caminha (ou não) o Brasil...
Volta ao mundo em 25 ensaios: 18. Por que o Brasil avança tão pouco: sumário das explicações possíveis
Brasília, 8 janeiro 2010, 3 p. Continuidade da série, discutindo criticamente as razões do baixo crescimento do Brasil. Revisão em Shanghai, 14.04.2010.
Ordem Livre (13 de setembro de 2010).
Relação de Originais: 2092; Publicados: 990.
Não é preciso retomar aqui todas as estatísticas sobre o crescimento e o desenvolvimento do Brasil nas últimas décadas: os dados disponíveis confirmam que o Brasil foi um dos países que mais cresceu no mundo, nos primeiros 80 anos do século XX. Cresceu em termos nominais até mais do que o Japão, tendo sido, no entanto, "penalizado" no crescimento da renda per capita pela sua maior "vitalidade" demográfica; mas estagnou a partir das crises da dívida e da instabilidade macroeconômica e nunca mais recuperou um ritmo adequado de crescimento desde então. A expansão dos anos recentes foi mais o resultado da demanda externa – e da extraordinária valorização dos produtos brasileiros de exportação, em especial as commodities – do que de um processo deliberado e planejado de aumento da capacidade produtiva.
A razão é muito simples: o Brasil cresce pouco porque investe muito pouco, e investe pouco porque o estado extrai recursos em demasia da sociedade, diminuindo a capacidade do setor privado de se expandir e criar empregos, renda e riqueza. Sim, acredito que ninguém que lê estas linhas acredite que o estado crie riqueza: ele apenas extrai uma parte da riqueza gerada no setor privado, por empresários e trabalhadores, para fazer aquilo que os estados normalmente fazem: prestar serviços coletivos e contribuir para a criação de um bom ambiente de negócios, capaz de, justamente, gerar ainda mais renda e riqueza. Ora, se o estado se apropria de uma parte desproporcionalmente elevada da renda gerada na sociedade, ele diminui proporcionalmente o volume de investimentos necessários à expansão da oferta agregada (para empregar termos que os adoradores do estado compreendem bem).
É sabido que, no Brasil, o estado se apropria de mais de 38% do PIB gerado a cada ano; provavelmente mais do que isso, pois precisamos computar também a parte que ele gasta com a dívida pública que não é coberta pelo superávit primário, de aproximadamente 3%; ou seja, o estado “gasta” 41% da renda nacional, o que representa cerca de 10 a 12 pontos percentuais a mais do que países com níveis semelhantes de renda per capita. Não existe, assim, a menor possibilidade de que o Brasil possa crescer a taxas maiores, com esse nível de extração de recursos.
Claro, a outra explicação possível, preferida daqueles que apreciam o papel "indutor" do estado no processo de crescimento e de desenvolvimento, é aquela que diz que as forças livres do mercado, deixadas à espontaneidade natural do sistema capitalista, não poderiam realizar o tipo de desenvolvimento requerido pela sociedade brasileira; ou seja, equilibrado, socialmente justo, com redistribuição dos benefícios para o conjunto da população brasileira, em lugar do velho modelo concentrador que tivemos durante décadas no Brasil. As mesmas pessoas preconizam maior nível de investimento público, controle estrito das áreas abertas ao investimento estrangeiro, criação de estatais e distribuição de renda por meio de mecanismos públicos, ou centralmente administrados, em lugar de fazê-lo pelas "forças cegas do mercado", que segundo eles seriam normalmente concentradoras de renda.
Interessante observar – mas para isso eu não encontro resposta nos textos que defendem a filosofia acima descrita – que o Brasil nunca foi um país no qual imperassem as forças livres do mercado. Ao contrário: tudo o que sabemos é que, até onde a vista alcança para trás, o Brasil sempre foi um dos países mais estatizados, dirigistas e administrativamente controlados do mundo em desenvolvimento. Desde que se acelerou o processo de industrialização, a partir dos anos 1950, nunca houve no Brasil aquilo que se poderia chamar de "forças livres do mercado" atuando de maneira desimpedida para criar uma economia capitalista em moldes clássicos, ou seja, com grau limitado de intervenção estatal e com muita competição nos mercados. Ao contrário, o estado sempre comandou uma fração importante da formação do PIB, como ele determina, por sua ação regulatória, indução fiscal, suporte financeiro e até por coerção direta, muitas decisões no setor privado da economia; e não poderia ser de outro modo: capitalistas, cartorialistas ou não, não conseguem competir com, ou contra, essa força indiscutível que é o estado.
Em síntese, eis o quadro que é possível traçar para o pífio crescimento do Brasil nos anos recentes. E que não se venha argumentar que no período militar o estado era muito mais intervencionista e que mesmo assim o crescimento era inegável. Seria necessário reconsiderar os dados exatamente como eles são: de fato os militares – ou melhor, tecnocratas a serviço de militares nacionalistas e, obviamente, desenvolvimentistas – presidiram a uma das fases de maior intervencionismo estatal na vida econômica do país, com significativo aumento da carga fiscal. Acontece apenas que o próprio estado investia uma grande parte do que arrecadava da sociedade, o que evidentemente não ocorre hoje. A parte dos investimentos produtivos nas despesas públicas caiu a níveis irrisórios; e, no entanto, a carga fiscal continua aumentando, quase um ponto percentual do PIB a cada ano; nessas condições, fica difícil crescer. Não encontro outra explicação mais plausível para o baixo grau de desenvolvimento econômico do Brasil nas últimas décadas.
Existem, evidentemente, outras linhas explicativas para o nosso parco avanço econômico e social, entre elas os baixos níveis de educação formal e de qualificação técnica da população brasileira, o que diminui sensivelmente o crescimento da produtividade da economia como um todo. Este pode ser um fator relevante, posto que o Brasil vive praticamente em situação de estabilidade macroeconômica desde uma década e meia, sem grandes crises desde então (mesmo as crises financeiras no plano externo foram contornadas por meio de pacotes preventivos de ajuda do FMI, e não redundaram em inadimplência ou moratória por parte do Brasil).
A única conclusão lógica que consigo tirar de todas as explicações possíveis, e plausíveis, para o não desenvolvimento brasileiro – acima de certo patamar, entenda-se – é a de que o estado, outrora promotor desse desenvolvimento, converteu-se em poderoso obstrutor das possibilidades de crescimento sustentado, tanto pelo grau exageradamente elevado de extorsão fiscal, como pelos níveis absurdamente altos de intrusão regulatória no que deveria ser uma economia capitalista de mercado. Sim, tenho a impressão de que ninguém hoje em dia, nem mesmo os militantes do PCdoB ou do PSOL, alimenta a ilusão de que o Brasil venha converter-se, no futuro previsível, em uma economia socialista. Se isso é verdade, também tenho a impressão de que aqueles que acreditam na ação benéfica e "corretora" do estado, para fins de desenvolvimento, são em muito maior número, e detêm muito mais poder, do que os que acreditam que uma economia de mercado mais livre seja o melhor caminho para o desenvolvimento do Brasil.
A bem da verdade, acredito que nem mesmo os capitalistas brasileiros sejam verdadeiramente capitalistas, posto que eles estão sempre indo a Brasília, diretamente ou por meio de suas associações de classe, pedir alguma medida de favor (sob forma creditícia) ou obstrutora (uma tarifa contra a concorrência estrangeira) que lhes garanta alguma reserva de mercado ou alguns ganhos monopolistas durante algum tempo mais. Acho que eles não percebem que o que o Estado lhes dá com uma mão, por um lado, retira por outro, com a outra mão, de toda a sociedade brasileira.
Assim caminha (ou não) o Brasil...
Elites do Brasil; voce falou elites?: isso que esta ai?
As elites e a antidemocracia
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 15/09/10
O presidente Lula tem razão: as elites são perigosas, mas não tanto por negarem aos pobres o acesso à escola. Esse tipo de elite já não existe nos Estados mais desenvolvidos. Sobrevive, ainda vigorosa, nos fundões do País, nas áreas controladas pelos velhos condôminos do poder. É quase toda vinculada ao governo petista, sócio das oligarquias mais atrasadas e corruptas. Vejam, por exemplo, quem é governo e quem é oposição no Congresso e como se negociam e se distribuem cargos na administração, direta e indireta. Essa gente é sem dúvida perigosa. Mas a mais temível é provavelmente a outra elite, a do Brasil industrializado, emergente e candidato a potência econômica internacional.
Essa classe não se opõe à educação para todos, até porque depende, cada vez mais, de mão de obra qualificada ou pelo menos em condições de receber treinamento. Diplomados, pós-graduados, poliglotas e cada vez mais integrados no mercado internacional, líderes desse grupo têm exibido uma assustadora semelhança com os novos integrantes da classe média e com os beneficiários da Bolsa Família e de programas afins: mostram-se encantados com a prosperidade presente, otimistas em relação ao curto prazo e nem um pouco preocupados com a centralização do poder e com o risco, cada vez mais evidente, de um mergulho num autoritarismo de recorte populista.
Alguns dos melhores comentaristas políticos do Brasil têm exibido um espantoso otimismo. Segundo sua análise, lambanças no governo, como a violação de sigilo fiscal, pouco significam para a maioria dos eleitores, por causa do peso de suas preocupações imediatas. A explicação parece bem fundada. Os mais pobres continuam batalhando pela sobrevivência. Outros procuram consolidar a condição de recém-egressos da pobreza. Outros, ainda, estão satisfeitos porque a economia cresce, há mais empregos e a combinação de salários e crédito facilita o acesso a um padrão mais alto de consumo.
Essa interpretação pode ser sustentável, mas conta apenas uma parte da história. A indiferença mais notável não é a desses grupos pobres, egressos da pobreza ou mesmo de uma classe média pouco atenta a questões institucionais e pouco preocupada com as liberdades democráticas. A indiferença escandalosa é a da elite econômica das áreas mais industrializadas do País.
Porta-vozes desse grupo se mexeram recentemente. Mas não para protestar contra o uso partidário de órgãos do Estado, não para denunciar o voluntarismo da política econômica, nem para criticar o presidente Lula, cada vez mais enrolado na confusão de seu cargo com a condição de líder petista.
Mexeram-se para apoiar as operações parafiscais do BNDES e seus padrões muito discutíveis de seleção dos beneficiários. Alguns o defenderam como se alguém houvesse proposto sua extinção. Mas ninguém havia apresentado essa tolice. Da mesma forma, nenhuma pessoa razoavelmente informada negaria a necessidade de mais financiamentos de longo prazo. Os alvos da crítica eram outros: a promiscuidade entre o Tesouro e o banco, a concentração das aplicações, a obscuridade dos critérios e o uso de meios públicos para objetivos definidos de forma nada transparente.
Essa é uma elite estranha. Sustenta bandeiras com ar de modernidade, pregando a reforma tributária, a segurança jurídica, a redução dos entraves burocráticos e a expansão dos investimentos em educação e pesquisa. Propõe a adoção de uma política de competitividade. Mas defende, ao mesmo tempo, um câmbio administrado para sua conveniência, uma política monetária feita sob medida e, de vez em quando, intervenções protecionistas, sem o cuidado, sequer, de examinar as várias ações permitidas pelas normas internacionais.
A maior parte dessa elite permaneceu silenciosa quando o governo apresentou o famigerado Decreto dos Direitos Humanos. Quando interveio, limitou-se a discutir um ou dois tópicos, sem dar sinais de haver notado a extensão das barbaridades propostas naquele documento de 92 páginas - quase um esboço de uma constituição autoritária, com propostas de "democracia direta", sujeição da pesquisa e do investimento a sindicatos e ONGs e controle dos meios de comunicação.
As ameaças contidas nesse documento não estão superadas. Serão retomadas, porque são essenciais para o projeto de poder de seus autores. Mas quem se interessa por isso? Não, certamente, os beneficiários atuais e potenciais de todas as bolsas - não só aquelas destinadas aos pobres, mas também as oferecidas à elite, como a Bolsa Subsídio, a Bolsa Conteúdo Nacional e tantas outras.
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 15/09/10
O presidente Lula tem razão: as elites são perigosas, mas não tanto por negarem aos pobres o acesso à escola. Esse tipo de elite já não existe nos Estados mais desenvolvidos. Sobrevive, ainda vigorosa, nos fundões do País, nas áreas controladas pelos velhos condôminos do poder. É quase toda vinculada ao governo petista, sócio das oligarquias mais atrasadas e corruptas. Vejam, por exemplo, quem é governo e quem é oposição no Congresso e como se negociam e se distribuem cargos na administração, direta e indireta. Essa gente é sem dúvida perigosa. Mas a mais temível é provavelmente a outra elite, a do Brasil industrializado, emergente e candidato a potência econômica internacional.
Essa classe não se opõe à educação para todos, até porque depende, cada vez mais, de mão de obra qualificada ou pelo menos em condições de receber treinamento. Diplomados, pós-graduados, poliglotas e cada vez mais integrados no mercado internacional, líderes desse grupo têm exibido uma assustadora semelhança com os novos integrantes da classe média e com os beneficiários da Bolsa Família e de programas afins: mostram-se encantados com a prosperidade presente, otimistas em relação ao curto prazo e nem um pouco preocupados com a centralização do poder e com o risco, cada vez mais evidente, de um mergulho num autoritarismo de recorte populista.
Alguns dos melhores comentaristas políticos do Brasil têm exibido um espantoso otimismo. Segundo sua análise, lambanças no governo, como a violação de sigilo fiscal, pouco significam para a maioria dos eleitores, por causa do peso de suas preocupações imediatas. A explicação parece bem fundada. Os mais pobres continuam batalhando pela sobrevivência. Outros procuram consolidar a condição de recém-egressos da pobreza. Outros, ainda, estão satisfeitos porque a economia cresce, há mais empregos e a combinação de salários e crédito facilita o acesso a um padrão mais alto de consumo.
Essa interpretação pode ser sustentável, mas conta apenas uma parte da história. A indiferença mais notável não é a desses grupos pobres, egressos da pobreza ou mesmo de uma classe média pouco atenta a questões institucionais e pouco preocupada com as liberdades democráticas. A indiferença escandalosa é a da elite econômica das áreas mais industrializadas do País.
Porta-vozes desse grupo se mexeram recentemente. Mas não para protestar contra o uso partidário de órgãos do Estado, não para denunciar o voluntarismo da política econômica, nem para criticar o presidente Lula, cada vez mais enrolado na confusão de seu cargo com a condição de líder petista.
Mexeram-se para apoiar as operações parafiscais do BNDES e seus padrões muito discutíveis de seleção dos beneficiários. Alguns o defenderam como se alguém houvesse proposto sua extinção. Mas ninguém havia apresentado essa tolice. Da mesma forma, nenhuma pessoa razoavelmente informada negaria a necessidade de mais financiamentos de longo prazo. Os alvos da crítica eram outros: a promiscuidade entre o Tesouro e o banco, a concentração das aplicações, a obscuridade dos critérios e o uso de meios públicos para objetivos definidos de forma nada transparente.
Essa é uma elite estranha. Sustenta bandeiras com ar de modernidade, pregando a reforma tributária, a segurança jurídica, a redução dos entraves burocráticos e a expansão dos investimentos em educação e pesquisa. Propõe a adoção de uma política de competitividade. Mas defende, ao mesmo tempo, um câmbio administrado para sua conveniência, uma política monetária feita sob medida e, de vez em quando, intervenções protecionistas, sem o cuidado, sequer, de examinar as várias ações permitidas pelas normas internacionais.
A maior parte dessa elite permaneceu silenciosa quando o governo apresentou o famigerado Decreto dos Direitos Humanos. Quando interveio, limitou-se a discutir um ou dois tópicos, sem dar sinais de haver notado a extensão das barbaridades propostas naquele documento de 92 páginas - quase um esboço de uma constituição autoritária, com propostas de "democracia direta", sujeição da pesquisa e do investimento a sindicatos e ONGs e controle dos meios de comunicação.
As ameaças contidas nesse documento não estão superadas. Serão retomadas, porque são essenciais para o projeto de poder de seus autores. Mas quem se interessa por isso? Não, certamente, os beneficiários atuais e potenciais de todas as bolsas - não só aquelas destinadas aos pobres, mas também as oferecidas à elite, como a Bolsa Subsídio, a Bolsa Conteúdo Nacional e tantas outras.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Leituras: bem, agora ja sei o que me espera - alguns milhoes de livros
Eu realmente tinha algumas dúvidas sobre o quanto me esperava como leituras, quando eu puder descalçar os sapatos, deitar-me numa rede (com boa iluminação geral, mas sem muita luz de frente) e desfrutar de tempo inteiramente livre para leituras, meu prazer favorito (ops, talvez obsessivo).
Agora já não tenho mais: a Google acaba de satisfazer minha curiosidade: alguns milhões de livros, dezenas deles...
Agora só preciso calcular o tempo que levará para eu ler metade disso...
Paulo Roberto de Almeida
Mundo tem 130 milhões de livros, diz Google
Folha de S.Paulo, 10.08.2010 (Com agências internacionais)
Pesquisa calculou apenas obras impressas e encadernadas e excluiu diferentes versões de um mesmo volume
Relatórios, documentos de governo e mapas foram descartados; pesquisa relativizou base de dados do ISBN
Uma pesquisa realizada pelo Google na semana passada divulgou que há 129.864.880 de livros no mundo. A pesquisa teve como base o Google Books, projeto de digitalização de livros da empresa.
Para chegar ao número, o Google coletou informações com mais de 150 fontes do mundo, incluindo bibliotecas, livrarias, catálogos coletivos nacionais e provedores comerciais.
O primeiro resultado desta triagem apontou a existência de quase 600 milhões de volumes no mundo.
A segunda etapa da contagem tentou identificar as várias edições de um mesmo livro ou então obras que são lançadas por editoras diferentes, com nomes distintos.
Segundo a equipe da pesquisa, o livro "Programando em Perl, 3ª edição", por exemplo, tem 96 registros diferentes em 46 fornecedores. Outro caso é "At the Mountains of Madness and Other Tales of Terror", de H.P. Lovecraft, lançado nos EUA por duas editoras diferentes.
Após a nova apuração, a quantidade caiu para 210 milhões de obras diferentes no mundo. Houve então uma nova avaliação, que excluiu textos impressos como relatórios, transcrição de gravações, mapas e outras publicações que não poderiam ser classificadas como livro.
O Google calculou, por fim, 146 milhões de exemplares impressos e encadernados. A última etapa da pesquisa excluiu documentos governamentais e folhetins e artigos autônomos que, na verdade, foram idealizados como um volume único.
Chegou-se ao número de 129.864.880 de livros diferentes no mundo. Os dados referem-se, porém, apenas até o último domingo.
Segundo o Google, o ISBN, sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país e a editora, foi apenas parcialmente considerado pela pesquisa, porque só passou a ser amplamente adotado no mundo no início dos anos 1970.
Agora já não tenho mais: a Google acaba de satisfazer minha curiosidade: alguns milhões de livros, dezenas deles...
Agora só preciso calcular o tempo que levará para eu ler metade disso...
Paulo Roberto de Almeida
Mundo tem 130 milhões de livros, diz Google
Folha de S.Paulo, 10.08.2010 (Com agências internacionais)
Pesquisa calculou apenas obras impressas e encadernadas e excluiu diferentes versões de um mesmo volume
Relatórios, documentos de governo e mapas foram descartados; pesquisa relativizou base de dados do ISBN
Uma pesquisa realizada pelo Google na semana passada divulgou que há 129.864.880 de livros no mundo. A pesquisa teve como base o Google Books, projeto de digitalização de livros da empresa.
Para chegar ao número, o Google coletou informações com mais de 150 fontes do mundo, incluindo bibliotecas, livrarias, catálogos coletivos nacionais e provedores comerciais.
O primeiro resultado desta triagem apontou a existência de quase 600 milhões de volumes no mundo.
A segunda etapa da contagem tentou identificar as várias edições de um mesmo livro ou então obras que são lançadas por editoras diferentes, com nomes distintos.
Segundo a equipe da pesquisa, o livro "Programando em Perl, 3ª edição", por exemplo, tem 96 registros diferentes em 46 fornecedores. Outro caso é "At the Mountains of Madness and Other Tales of Terror", de H.P. Lovecraft, lançado nos EUA por duas editoras diferentes.
Após a nova apuração, a quantidade caiu para 210 milhões de obras diferentes no mundo. Houve então uma nova avaliação, que excluiu textos impressos como relatórios, transcrição de gravações, mapas e outras publicações que não poderiam ser classificadas como livro.
O Google calculou, por fim, 146 milhões de exemplares impressos e encadernados. A última etapa da pesquisa excluiu documentos governamentais e folhetins e artigos autônomos que, na verdade, foram idealizados como um volume único.
Chegou-se ao número de 129.864.880 de livros diferentes no mundo. Os dados referem-se, porém, apenas até o último domingo.
Segundo o Google, o ISBN, sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país e a editora, foi apenas parcialmente considerado pela pesquisa, porque só passou a ser amplamente adotado no mundo no início dos anos 1970.
Tangos e tragedias; mas os argentinos sao os ultimos a rir...
Os argentinos, que tragédia, estão importando carne.
Inacreditável!
Depois de mais de três séculos exportando carne, tendo conquistado uma reputação exemplar nesse mercado, e tendo enfrentado, nos últimos anos, uma combinação perversa de estupidez econômica e de arrogância política, uma tragédia muito pior do aquela retratada nos tangos melodramáticos se abateu sobre os ganaderos argentinos.
Foi a isso que conduziu a política de congelamento de preços, de controle das exportações, de desestímulo completo ao setor.
Fazendas inteiras estao abatendo as matrizes e plantando soja, já que de outra forma os ganaderos não conseguiriam sobreviver.
Aconteceu na Argentina uma verdadeira tragédia econômica.
O mesmo aconteceria no Brasil se, em lugar de controlar apenas o MDA e o INCRA, o MST também determinasse a política agrícola do Brasil: em pouco tempo o Brasil reverteria a ser um país importador de alimentos, como já foi no passado, com controle de importações e outras medidas estúpidas como as adotadas pelos argentinos.
Paulo Roberto de Almeida
Com crise na pecuária, Argentina passa a importar carne do Uruguai
DCI - Da Redação, 15.09.2010
A importação de carne do Uruguai pela Argentina aumenta cada vez mais, marcando uma tendência, embora o volume não seja expressivo. Segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina, o país importou 991 toneladas de janeiro a julho em comparação com 599 toneladas em igual período de 2009. O resultado corresponde a uma alta de 65% e o volume já supera toda a compra do ano passado.
Os dados do Senasa são confirmados pelo Instituto Nacional de Carnes do Uruguai, embora com números ainda mais elevados. Em volume, segundo o instituto, as vendas passaram de 676 toneladas para 1.152 toneladas, com alta de 70,4%. Em valor, o desempenho saltou pouco mais de 80%, de US$ 1,2 milhão para US$ 2,2 milhões.
Para os especialistas, o ritmo das importações foi retomado e muitos temem que, no atual cenário de crise do setor, o volume possa chegar perto do verificado há dois anos. Em 2008, no auge do conflito entre o setor agropecuário e o governo de Cristina Kirchner por causa das retenções (impostos de exportações), o país importou 2.201 toneladas de carne. A maioria dos cortes uruguaios que a Argentina importa é o asado (costela), tradicional do churrasco. O grosso das importações atende à demanda das províncias fronteiriças, como Entre Ríos e Corrientes.
A forte estiagem no fim de 2008 e em 2009, somada à crise e às políticas de desestímulo do governo Kirchner, provocou uma retração de 50% no abate de bovinos. O rebanho teve uma redução de 10 milhões de cabeças nos últimos quatro anos.
As projeções são de que a Argentina deve produzir em 2010 2,6 milhões de toneladas de carne, abaixo dos 3,4 milhões de toneladas de 2009. O consumo de carne bovina, que chegou a ser de 70% do total anual de proteína animal há um ano, agora é de 56%.
Inacreditável!
Depois de mais de três séculos exportando carne, tendo conquistado uma reputação exemplar nesse mercado, e tendo enfrentado, nos últimos anos, uma combinação perversa de estupidez econômica e de arrogância política, uma tragédia muito pior do aquela retratada nos tangos melodramáticos se abateu sobre os ganaderos argentinos.
Foi a isso que conduziu a política de congelamento de preços, de controle das exportações, de desestímulo completo ao setor.
Fazendas inteiras estao abatendo as matrizes e plantando soja, já que de outra forma os ganaderos não conseguiriam sobreviver.
Aconteceu na Argentina uma verdadeira tragédia econômica.
O mesmo aconteceria no Brasil se, em lugar de controlar apenas o MDA e o INCRA, o MST também determinasse a política agrícola do Brasil: em pouco tempo o Brasil reverteria a ser um país importador de alimentos, como já foi no passado, com controle de importações e outras medidas estúpidas como as adotadas pelos argentinos.
Paulo Roberto de Almeida
Com crise na pecuária, Argentina passa a importar carne do Uruguai
DCI - Da Redação, 15.09.2010
A importação de carne do Uruguai pela Argentina aumenta cada vez mais, marcando uma tendência, embora o volume não seja expressivo. Segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina, o país importou 991 toneladas de janeiro a julho em comparação com 599 toneladas em igual período de 2009. O resultado corresponde a uma alta de 65% e o volume já supera toda a compra do ano passado.
Os dados do Senasa são confirmados pelo Instituto Nacional de Carnes do Uruguai, embora com números ainda mais elevados. Em volume, segundo o instituto, as vendas passaram de 676 toneladas para 1.152 toneladas, com alta de 70,4%. Em valor, o desempenho saltou pouco mais de 80%, de US$ 1,2 milhão para US$ 2,2 milhões.
Para os especialistas, o ritmo das importações foi retomado e muitos temem que, no atual cenário de crise do setor, o volume possa chegar perto do verificado há dois anos. Em 2008, no auge do conflito entre o setor agropecuário e o governo de Cristina Kirchner por causa das retenções (impostos de exportações), o país importou 2.201 toneladas de carne. A maioria dos cortes uruguaios que a Argentina importa é o asado (costela), tradicional do churrasco. O grosso das importações atende à demanda das províncias fronteiriças, como Entre Ríos e Corrientes.
A forte estiagem no fim de 2008 e em 2009, somada à crise e às políticas de desestímulo do governo Kirchner, provocou uma retração de 50% no abate de bovinos. O rebanho teve uma redução de 10 milhões de cabeças nos últimos quatro anos.
As projeções são de que a Argentina deve produzir em 2010 2,6 milhões de toneladas de carne, abaixo dos 3,4 milhões de toneladas de 2009. O consumo de carne bovina, que chegou a ser de 70% do total anual de proteína animal há um ano, agora é de 56%.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Ufa!: Fidel Castro salvou os ultimos true believers de serios problemas de consciencia...
Era o fim da picada: tudo ameaçava ruir. Ainda bem que o alívio veio rápido...
Um dos dois últimos dinossauros totalitários do finado socialismo estava causando um choque e uma depressão terrível nos, também últimos, verdadeiros crentes do nosso planeta.
Fidel Castro, um iconoclasta repentino -- mas felizmente temporário -- tinha ameaçado deixar no orfanato ideológico aquele punhado de fiéis do verdadeiro socialismo, os que só tinham Cuba como modelo (sim, pois o outro tirano está muito longe, e de todo modo não deixa ninguém entrar no seu gulag asiático).
Ainda bem que ele se redimiu rapidamente e disse que o jornalista americano -- só podia ser um americano -- tinha entendido al revés o que ele tinha falado: o que está em crise é o capitalismo, não o socialismo, pelo menos na sua modalidade especificamente cubana.
Para provar que o socialismo continua vivo, seu irmão Raul vai colocar meio milhão de trabalhadores cubanos num novo empreendimento socialista: a construção do "hombre nuevo", aquele que sobrevive mesmo sem a ajuda do Estado, o que convenhamos, depois de 50 anos de socialismo centralizado, já não era sem tempo.
O socialismo veio, justamente, para libertar o homem da exploração do capitalismo, e agora eles deixam de ser explorados pelo Estado, para se tornar seus próprios exploradores, num regime inédito nos anais da história econômica mundial.
Oiga Fidel: seus amigos brasileiros, entre eles dois frades dominicanos (assim dizem), meia dúzia de inteliquituais universitários, e toda a tropa do PSOL (deve dar mais de duas Kombis), respiram aliviados por essa importante correção ideológica.
Eles podem voltar a dormir tranquilos, sem essas ameaças de depressão, pesadelos inesperados e outros comichões ideológicos.
Vamos aguardar os próximos capítulos desta novela emocionante:
"Esqueçam o que eu disse" (com Fidel como único ator...).
Paulo Roberto de Almeida
PS: Como me lembra a Maria do Carmo Barbieri, no primeiro comentário a este post, faltou dizer que o Oscar Niemeyer já pode morrer tranquilo: seu herói, seu ídolo, não renega o socialismo...
================
Jornalista se diz surpreso com recuo de Fidel sobre modelo cubano
ESTEBAN ISRAEL - REUTERS
13 de setembro de 2010
Segundo Jeffrey Goldberg, líder já havia dito coisas parecidas sobre falência do sistema da ilha
Um jornalista norte-americano a quem Fidel Castro declarou que o sistema cubano já não serve mais afirmou nesta segunda-feira, 13, estar "surpreso" com a retificação apresentada pelo ex-presidente depois da publicação da entrevista.
Fidel diz ter sido mal interpretado por Goldberg
Fidel disse na sexta-feira que sua declaração a Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic Monthly, significava na verdade que é o capitalismo que não serve.
"Não sei como se pode interpretar a frase 'O modelo cubano já não funciona nem sequer para nós' como o contrário", disse Goldberg em teleconferência com jornalistas organizada pelo Conselho de Relações Exteriores, entidade de Washington que também participou da entrevista por intermédio da pesquisadora Julia Sweig.
"Surpreendeu-me o discurso em que (Fidel) disse ter sido mal interpretado, não só porque disse coisas parecidas antes, mas porque a realidade subjacente em Cuba mostra que o modelo cubano não funciona, e é por isso que estão começando uma experiência de privatização em grande escala", acrescentou.
Muitos analistas viram na entrevista de Fidel um sinal de reformas no regime comunista, agora dirigido por seu irmão Raúl.
Mas Fidel disse na sexta que suas palavras foram tomadas "ao pé da letra", e significavam "exatamente o contrário".
Na segunda-feira, no entanto, o governo anunciou que 500 mil empregos públicos serão extintos nos próximos seis meses, para dar mais espaço à iniciativa privada.
Fidel, de 84 anos, passou quatro anos afastado da vida pública, quando deixou a presidência para Raúl devido a problemas de saúde. Recentemente, voltou a aparecer, principalmente para fazer alertas sobre o risco de uma guerra nuclear envolvendo EUA, Israel e Irã.
Muitos analistas dizem que a volta do veterano revolucionário à vida pública pode frear reformas planejadas por Raúl. Mas a pesquisadora Sweig disse na segunda-feira que não notou divergências entre os dois.
"Ele não está bloqueando os esforços do seu irmão. De muitas maneiras, os temas em que não se envolve e as coisas de que não falam indicam que ele aprova o caminho implementado por seu irmão", afirmou ela na mesma.
"Ele tem 84 anos, esteve muitíssimo doente, e parece estar abrindo um novo capítulo da sua vida, em que não se envolve no dia a dia do governo como antes."
Um dos dois últimos dinossauros totalitários do finado socialismo estava causando um choque e uma depressão terrível nos, também últimos, verdadeiros crentes do nosso planeta.
Fidel Castro, um iconoclasta repentino -- mas felizmente temporário -- tinha ameaçado deixar no orfanato ideológico aquele punhado de fiéis do verdadeiro socialismo, os que só tinham Cuba como modelo (sim, pois o outro tirano está muito longe, e de todo modo não deixa ninguém entrar no seu gulag asiático).
Ainda bem que ele se redimiu rapidamente e disse que o jornalista americano -- só podia ser um americano -- tinha entendido al revés o que ele tinha falado: o que está em crise é o capitalismo, não o socialismo, pelo menos na sua modalidade especificamente cubana.
Para provar que o socialismo continua vivo, seu irmão Raul vai colocar meio milhão de trabalhadores cubanos num novo empreendimento socialista: a construção do "hombre nuevo", aquele que sobrevive mesmo sem a ajuda do Estado, o que convenhamos, depois de 50 anos de socialismo centralizado, já não era sem tempo.
O socialismo veio, justamente, para libertar o homem da exploração do capitalismo, e agora eles deixam de ser explorados pelo Estado, para se tornar seus próprios exploradores, num regime inédito nos anais da história econômica mundial.
Oiga Fidel: seus amigos brasileiros, entre eles dois frades dominicanos (assim dizem), meia dúzia de inteliquituais universitários, e toda a tropa do PSOL (deve dar mais de duas Kombis), respiram aliviados por essa importante correção ideológica.
Eles podem voltar a dormir tranquilos, sem essas ameaças de depressão, pesadelos inesperados e outros comichões ideológicos.
Vamos aguardar os próximos capítulos desta novela emocionante:
"Esqueçam o que eu disse" (com Fidel como único ator...).
Paulo Roberto de Almeida
PS: Como me lembra a Maria do Carmo Barbieri, no primeiro comentário a este post, faltou dizer que o Oscar Niemeyer já pode morrer tranquilo: seu herói, seu ídolo, não renega o socialismo...
================
Jornalista se diz surpreso com recuo de Fidel sobre modelo cubano
ESTEBAN ISRAEL - REUTERS
13 de setembro de 2010
Segundo Jeffrey Goldberg, líder já havia dito coisas parecidas sobre falência do sistema da ilha
Um jornalista norte-americano a quem Fidel Castro declarou que o sistema cubano já não serve mais afirmou nesta segunda-feira, 13, estar "surpreso" com a retificação apresentada pelo ex-presidente depois da publicação da entrevista.
Fidel diz ter sido mal interpretado por Goldberg
Fidel disse na sexta-feira que sua declaração a Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic Monthly, significava na verdade que é o capitalismo que não serve.
"Não sei como se pode interpretar a frase 'O modelo cubano já não funciona nem sequer para nós' como o contrário", disse Goldberg em teleconferência com jornalistas organizada pelo Conselho de Relações Exteriores, entidade de Washington que também participou da entrevista por intermédio da pesquisadora Julia Sweig.
"Surpreendeu-me o discurso em que (Fidel) disse ter sido mal interpretado, não só porque disse coisas parecidas antes, mas porque a realidade subjacente em Cuba mostra que o modelo cubano não funciona, e é por isso que estão começando uma experiência de privatização em grande escala", acrescentou.
Muitos analistas viram na entrevista de Fidel um sinal de reformas no regime comunista, agora dirigido por seu irmão Raúl.
Mas Fidel disse na sexta que suas palavras foram tomadas "ao pé da letra", e significavam "exatamente o contrário".
Na segunda-feira, no entanto, o governo anunciou que 500 mil empregos públicos serão extintos nos próximos seis meses, para dar mais espaço à iniciativa privada.
Fidel, de 84 anos, passou quatro anos afastado da vida pública, quando deixou a presidência para Raúl devido a problemas de saúde. Recentemente, voltou a aparecer, principalmente para fazer alertas sobre o risco de uma guerra nuclear envolvendo EUA, Israel e Irã.
Muitos analistas dizem que a volta do veterano revolucionário à vida pública pode frear reformas planejadas por Raúl. Mas a pesquisadora Sweig disse na segunda-feira que não notou divergências entre os dois.
"Ele não está bloqueando os esforços do seu irmão. De muitas maneiras, os temas em que não se envolve e as coisas de que não falam indicam que ele aprova o caminho implementado por seu irmão", afirmou ela na mesma.
"Ele tem 84 anos, esteve muitíssimo doente, e parece estar abrindo um novo capítulo da sua vida, em que não se envolve no dia a dia do governo como antes."
Multiplicando a pobreza (o esporte favorito de politicos e alguns economistas...)
Opinião
O (sub)desenvolvimento não se improvisa
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 12/9/2010
No campo da liberdade econômica, somos reféns de uma mentalidade avessa ao lucro e temos alta admiração pelo intervencionismo.
Adam Smith, considerado o pai da moderna economia, deu à sua mais famosa obra, ainda em pleno século 18, o nome de Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. Dono de uma mente brilhante, não perdeu seu precioso tempo investigando as causas da pobreza das nações. Sabia que esta não tem causas, pois é o estado natural do ser humano e, consequentemente, das nações.
Durante a maior parte da história, a pobreza foi a regra, a condição existencial de nossos antepassados. Extraordinária mesmo sempre foi a riqueza. Infelizmente, entretanto, muita gente, ainda hoje, não compreendeu esta singela verdade, e continua perguntando, equivocadamente, o que causa a pobreza. Vários livros já foram escritos a respeito.
As respostas mais frequentes para esta falsa questão costumam ser completas falácias: Fulano é pobre porque Beltrano é rico ou a nação X é rica porque explora a nação Y. O raciocínio – se é que há algum – por trás destas enormidades, é que existe uma quantidade fixa de riqueza na natureza, da qual os ricos ficam com a maior parte.
Partidário dessa teoria, o senador Aloizio Mercadante lançou o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para o Prêmio Nobel da Paz de 2011. O principal argumento do parlamentar é o suposto sucesso do programa de transferência de renda, o Fome Zero, no combate à pobreza.
Nada poderia ser mais equivocado. Se tivesse lido Adam Smith e outros bons economistas, Mercadante saberia que o combate à pobreza se dá através da geração de riqueza, a qual é criada e multiplicada pelo homem através do empreendedorismo, da especialização, da divisão do trabalho e, acima de tudo, do mecanismo de trocas voluntárias.
Isso quer dizer que aqueles mais bem preparados para construir casas serão construtores; aqueles mais bem equipados para tratar os doentes serão médicos; uns fabricarão roupas, outros alimentos; uns darão aulas, outros serão policiais. E por meio do comércio voluntário todos acabarão se beneficiando.
Por isso, quem realmente desejar melhorar a condição de vida dos mais pobres deveria, em lugar de tentar tomar a riqueza dos ricos e distribuí-la aos pobres, pensar em estabelecer as condições necessárias para que o maior número possível de indivíduos possa juntar-se ao mundo dos criadores de riqueza.
A única forma de vencer a pobreza é criar o ambiente propício para o enriquecimento das sociedades, de forma que os ricos se tornem mais ricos e os pobres se tornem mais ricos. Tal ambiente requer um cenário com poucas restrições à atividade econômica privada e um sistema institucional que proteja, de maneira firme e intransigente, o direito de propriedade e o respeito aos contratos, gerando na sociedade um clima de confiança recíproco.
Nesse ambiente, a fortuna é privilégio daqueles que melhor e mais rapidamente identificam os desejos dos consumidores, produzem bens e serviços para atendê-los e administram com maior eficiência e zelo os seus negócios.
Por que a confiança interpessoal é fundamental? Ora, toda transação econômica é feita por meio de acordos de vontade que visam a adquirir, resguardar, transferir ou conservar direitos de propriedade. Os contratos podem ser expressos ou tácitos, porém a expectativa subjacente é o cumprimento do pactuado, já que, caso contrário, a contratação não teria nenhum sentido.
Com efeito, em sociedades onde o imperativo ético não é regra, as relações pessoais tendem à desconfiança, e as transações econômicas tornam-se complicadas e caras.
É claro que uma sociedade de confiança não nasce do nada. Os indivíduos precisam ser incentivados a confiar uns nos outros. É aí que entra o fundamental papel do governo, pois nós só estaremos propensos a confiar nos demais se tivermos certeza de que, em caso de necessidade, basta chamar a polícia ou apelar à Justiça e elas agirão com presteza em nossa defesa e na defesa das nossas propriedades. Eis por que, no sistema capitalista, a segurança pública, a segurança jurídica e o Estado de Direito são tão importantes para a prosperidade de qualquer nação.
No Brasil, infelizmente, estamos ainda muito longe desse ambiente ideal. No campo da liberdade econômica, somos reféns de uma mentalidade francamente avessa ao lucro e nutrimos grande admiração pelo intervencionismo.
Paralelamente, a economia informal avança sem barreiras. A falsificação e a pirataria correm soltas, sem que as autoridades, os prejudicados e a população em geral tomem qualquer atitude. Basta percorrer as ruas das principais capitais do País para verificar a total impunidade com que camelôs vendem mercadorias pirateadas, quando não contrabandeadas ou roubadas.
Como o respeito aos contratos e o próprio Estado de Direito não estão plenamente assentados, nem em termos das instituições formais (leis e Justiça) nem das informais (ética), a insegurança jurídica grassa, fazendo com que os custos de transação no Brasil estejam entre os maiores do mundo. A consequência mais nítida disso tudo é a nossa baixíssima competitividade no mercado global.
Como dizia Nelson Rodrigues, de quem "roubei" o título acima, "o subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos".
Malgrado a jactância dos atuais governantes em torno dos supostos resultados econômicos e sociais do País, o fato é que ainda temos um longo caminho a percorrer, até que consigamos deixar a pobreza e o subdesenvolvimento definitivamente para trás.
João Luiz Mauad é empresário e colunista do site www.midiaamais.com.br
O (sub)desenvolvimento não se improvisa
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 12/9/2010
No campo da liberdade econômica, somos reféns de uma mentalidade avessa ao lucro e temos alta admiração pelo intervencionismo.
Adam Smith, considerado o pai da moderna economia, deu à sua mais famosa obra, ainda em pleno século 18, o nome de Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. Dono de uma mente brilhante, não perdeu seu precioso tempo investigando as causas da pobreza das nações. Sabia que esta não tem causas, pois é o estado natural do ser humano e, consequentemente, das nações.
Durante a maior parte da história, a pobreza foi a regra, a condição existencial de nossos antepassados. Extraordinária mesmo sempre foi a riqueza. Infelizmente, entretanto, muita gente, ainda hoje, não compreendeu esta singela verdade, e continua perguntando, equivocadamente, o que causa a pobreza. Vários livros já foram escritos a respeito.
As respostas mais frequentes para esta falsa questão costumam ser completas falácias: Fulano é pobre porque Beltrano é rico ou a nação X é rica porque explora a nação Y. O raciocínio – se é que há algum – por trás destas enormidades, é que existe uma quantidade fixa de riqueza na natureza, da qual os ricos ficam com a maior parte.
Partidário dessa teoria, o senador Aloizio Mercadante lançou o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para o Prêmio Nobel da Paz de 2011. O principal argumento do parlamentar é o suposto sucesso do programa de transferência de renda, o Fome Zero, no combate à pobreza.
Nada poderia ser mais equivocado. Se tivesse lido Adam Smith e outros bons economistas, Mercadante saberia que o combate à pobreza se dá através da geração de riqueza, a qual é criada e multiplicada pelo homem através do empreendedorismo, da especialização, da divisão do trabalho e, acima de tudo, do mecanismo de trocas voluntárias.
Isso quer dizer que aqueles mais bem preparados para construir casas serão construtores; aqueles mais bem equipados para tratar os doentes serão médicos; uns fabricarão roupas, outros alimentos; uns darão aulas, outros serão policiais. E por meio do comércio voluntário todos acabarão se beneficiando.
Por isso, quem realmente desejar melhorar a condição de vida dos mais pobres deveria, em lugar de tentar tomar a riqueza dos ricos e distribuí-la aos pobres, pensar em estabelecer as condições necessárias para que o maior número possível de indivíduos possa juntar-se ao mundo dos criadores de riqueza.
A única forma de vencer a pobreza é criar o ambiente propício para o enriquecimento das sociedades, de forma que os ricos se tornem mais ricos e os pobres se tornem mais ricos. Tal ambiente requer um cenário com poucas restrições à atividade econômica privada e um sistema institucional que proteja, de maneira firme e intransigente, o direito de propriedade e o respeito aos contratos, gerando na sociedade um clima de confiança recíproco.
Nesse ambiente, a fortuna é privilégio daqueles que melhor e mais rapidamente identificam os desejos dos consumidores, produzem bens e serviços para atendê-los e administram com maior eficiência e zelo os seus negócios.
Por que a confiança interpessoal é fundamental? Ora, toda transação econômica é feita por meio de acordos de vontade que visam a adquirir, resguardar, transferir ou conservar direitos de propriedade. Os contratos podem ser expressos ou tácitos, porém a expectativa subjacente é o cumprimento do pactuado, já que, caso contrário, a contratação não teria nenhum sentido.
Com efeito, em sociedades onde o imperativo ético não é regra, as relações pessoais tendem à desconfiança, e as transações econômicas tornam-se complicadas e caras.
É claro que uma sociedade de confiança não nasce do nada. Os indivíduos precisam ser incentivados a confiar uns nos outros. É aí que entra o fundamental papel do governo, pois nós só estaremos propensos a confiar nos demais se tivermos certeza de que, em caso de necessidade, basta chamar a polícia ou apelar à Justiça e elas agirão com presteza em nossa defesa e na defesa das nossas propriedades. Eis por que, no sistema capitalista, a segurança pública, a segurança jurídica e o Estado de Direito são tão importantes para a prosperidade de qualquer nação.
No Brasil, infelizmente, estamos ainda muito longe desse ambiente ideal. No campo da liberdade econômica, somos reféns de uma mentalidade francamente avessa ao lucro e nutrimos grande admiração pelo intervencionismo.
Paralelamente, a economia informal avança sem barreiras. A falsificação e a pirataria correm soltas, sem que as autoridades, os prejudicados e a população em geral tomem qualquer atitude. Basta percorrer as ruas das principais capitais do País para verificar a total impunidade com que camelôs vendem mercadorias pirateadas, quando não contrabandeadas ou roubadas.
Como o respeito aos contratos e o próprio Estado de Direito não estão plenamente assentados, nem em termos das instituições formais (leis e Justiça) nem das informais (ética), a insegurança jurídica grassa, fazendo com que os custos de transação no Brasil estejam entre os maiores do mundo. A consequência mais nítida disso tudo é a nossa baixíssima competitividade no mercado global.
Como dizia Nelson Rodrigues, de quem "roubei" o título acima, "o subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos".
Malgrado a jactância dos atuais governantes em torno dos supostos resultados econômicos e sociais do País, o fato é que ainda temos um longo caminho a percorrer, até que consigamos deixar a pobreza e o subdesenvolvimento definitivamente para trás.
João Luiz Mauad é empresário e colunista do site www.midiaamais.com.br
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