sexta-feira, 22 de abril de 2011

Diplomatizzando: Dos BRICS ao BRIS?: ilusoes anti-hegemonicas (inclusive do Brasil)

Diplomatizzando: Dos BRICS ao BRIS?: ilusoes anti-hegemonicas (inclusive do Brasil)

Paraninfo nao apareceu na formatura: ficou constrangido pelos direitos humanos?

Gesto incompreensível esse de, sendo paraninfo escolhido pela turma de formandos, sequer aparecer para cumprimentar os diplomados, limitando-se a enviar uma mensagem (certamente preparada por outros), dizendo o que pensa de si mesmo...
Deve ser constrangimento pelas diferenças apontadas pela imprensa -- aliás constatadas por todos os que lêem -- no sentido de haver uma diferença marcante entre sua política externa -- de amizade com ditadores e violadores dos direitos humanos -- e a da sua sucessora, de comprometimento firme com a defesa dos direitos humanos.
Paulo Roberto de Almeida

Dilma atrela diplomacia a direitos humanos
Lisandra Paraguassu
O Estado de S. Paulo, 20 de abril de 2011

Em discurso no Itamaraty, presidente diz que tema será defendido ‘sem concessões’

BRASÍLIA - Em contraste com o tom contemporizador com países violadores dos direitos humanos adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff mostrou nesta quarta-feira, 20, que o tema está no centro da política externa brasileira.

Apesar das preocupações com as reformas das instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas, ou com a sempre presente necessidade de atrair investimento e tecnologia para o País, Dilma declarou, no primeiro discurso sobre relações internacionais de seu governo, que o tema será promovido e defendido "em todas as instâncias internacionais sem concessões, sem discriminações e sem seletividade".

O discurso foi dirigido a uma plateia de formandos do Instituto Rio Branco e diplomatas, na cerimônia de conclusão de curso da turma de 2010 do instituto. Pela primeira vez, a presidente falou claramente sobre o que considera objetivos da política externa brasileira no seu governo. E afirmou que, apesar de ver a preocupação com os direitos humanos como algo que já existia no governo Lula, o assunto será, "mais ainda agora", uma preocupação do governo brasileiro.

Lula, escolhido paraninfo da turma, mandou um texto de apenas uma página, que foi lido pelo assessor para Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia. Nele, o ex-presidente louvou as ações do Itamaraty durante seus dois mandatos e definiu como mera "continuidade" de seu governo a gestão Dilma no campo da política externa.

A presidente deixou clara, também, a importância que dá à reforma das Nações Unidas, especialmente ao seu Conselho de Segurança - tema de interesse especial do Brasil, que espera, com essa reforma, obter uma vaga permanente no conselho. "No momento em que debatemos como serão a economia, o clima e a política internacional no século 21, fica patente também que, do ponto de vista da segurança, a ONU também envelheceu", sustentou a presidente.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sera que o Brasil aguenta mais 4 ou 8 anos de Republica Sindical?

Não sei se aguenta, provavelmente sim, embora tenha de locupletar a chamada "nova burguesia do capital alheio". Mas assim vai crescer pouco e continuar a ser arrastar penosamente em direção à modernidade.
Do que eu tenho certeza é de uma coisa: a mediocridade intelectual continuará pujante e desfilando nos salões da República com cada vez mais vigor.
Avançando para trás, parece ser o destino do Brasil nos próximos anos.
Paulo Roberto de Almeida

Companheiro de toga
DIEGO ESCOSTEGUY E MURILO RAMOS
Revista Época, 21/04/201

O governo nomeia para o STJ Antônio Ferreira, advogado sem currículo – mas ligado ao PT

APARELHAMENTO
A carreira de Antônio Carlos Ferreira, advogado próximo ao PT e ao Sindicato dos Bancários, deslanchou quando Lula assumiu a Presidência. Agora, essa proximidade o levou ao STJ
O advogado Antônio Carlos Ferreira formou-se numa faculdade que nem sequer consta da lista das 87 recomendadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Não fez mestrado. Em 30 anos de carreira, nunca publicou um artigo jurídico. Só teve um grande cliente: a Caixa Econômica Federal, onde entrou há mais de 25 anos. Nas poucas e magras linhas de seu currículo oficial, porém, não há menção ao dado mais relevante de sua trajetória: desde 1989, ele é filiado ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, entidade alinhada com o Partido dos Trabalhadores. Militante informal do partido, Antônio Carlos fez carreira na Caixa com a ajuda dos companheiros. Em 2000, a pedido do atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, tornou-se chefe do setor jurídico do banco no Estado de São Paulo. Quando Lula assumiu a Presidência, três anos depois, o PT emplacou Antônio Carlos no comando da Diretoria Jurídica da Caixa – uma posição para lá de poderosa, da qual dependem todos os grandes negócios do banco.

Antônio Carlos, um companheiro discreto e disciplinado, nunca criou problemas para o partido. Deu aval a contratos tidos como ilícitos pelo Ministério Público Federal, como no caso da multinacional de loterias Gtech, e testemunhou silenciosamente ações ilegais, como a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo. No caso da Gtech, acusada pelo MP de pagar propina ao PT para renovar por R$ 650 milhões um contrato com a Caixa, Antônio Carlos e sua equipe mudaram o entendimento jurídico sobre o assunto – o que permitiu a renovação exatamente nos termos pedidos pela multinacional, ainda no começo do governo Lula.

Anos depois, em 2006, ele jantava com o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, quando um assessor do banco entregou a Mattoso um envelope com os extratos bancários do caseiro que denunciara malfeitorias do ministro Antonio Palocci. O misterioso perdão milionário concedido pela Caixa ao grupo Bozano e ao Banco Santander, revelado por ÉPOCA na semana passada, também passou, sem nenhum questionamento, pelo crivo da turma de Antônio Carlos. (Por meio de sua assessoria, ele negou participação nos casos que passaram por sua área e disse não ter visto o conteúdo do envelope com os extratos bancários do caseiro.)

Antônio Carlos permaneceu na diretoria da Caixa até agosto do ano passado. Na última terça-feira, a presidente Dilma Rousseff o nomeou para uma vaga no Superior Tribunal de Justiça, o STJ, a segunda corte mais importante do país. Para ocupar esse cargo, a Constituição exige que o candidato detenha “notório saber jurídico” e “reputação ilibada”. Caberá agora ao Senado sabatiná-lo. A reputação foi colocada em xeque por sua atuação na Caixa. Com relação ao notório saber jurídico, é difícil encontrar lentes para enxergar esse atributo em Antônio Carlos – a não ser lentes vermelhas, partidariamente embaçadas.

Na Caixa, o novo ministro do STJ aprovou contratos irregulares, como o da multinacional Gtech
Ao comparar-se seu currículo ao dos demais 29 ministros da corte ou aos de seus concorrentes ao posto, as credenciais de Antônio Carlos parecem frágeis. Todos exibem cursos de pós-graduação ou, no mínimo, longa carreira no Judiciário. Foi, portanto, preciso muito lobby para que o nome de Antônio Carlos chegasse à mesa da presidente Dilma – lobby do PT e de ministros que foram ligados ao partido, como Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi uma espécie de retribuição. Como sempre tratou muito bem o poder, pelo poder também foi muito bem tratado. Quando Antônio Carlos era diretor jurídico da Caixa, o banco concedia generosos patrocínios para eventos do Judiciário. O banco deu R$ 40 mil para financiar a festa promovida para Dias Toffoli, quando ele conseguiu ser nomeado para o STF, em outubro de 2009. Antônio Carlos foi à festa, claro.

A indicação de Antônio Carlos veio de uma lista sêxtupla da OAB. Na votação entre seus pares, ele ficou em sexto. Encaminhou-se essa lista ao STJ. Antônio Carlos pulou para o primeiro lugar na lista enviada ao governo. Os dois competidores finais de Antônio Carlos apresentavam cursos de pós-graduação – mas pouca simpatia político-partidária. Em Brasília, é essa a linha que conta mais no currículo.

Cuba: tentando renovar o socialismo com "jovens" de 80 anos...

Maravilha de renovação: o dirigente que acaba de ser nomeado tem 84 anos...
Mais vigor impossível...
Interessante que o novo dirigente, que tem 80, disse que o socialismo vai continuar, que capitalismo nunca voltará a Cuba.
Assim seja...
Paulo Roberto de Almeida

Cuba muda para ficar igual
Editorial - O Estado de S.Paulo
21 de abril de 2011

Uma economia tentando sobreviver - ou melhor, existir - mediante lenta e limitada abertura para o mercado - que, por sinal, não existe - sob o comando da mão de ferro da velha-guarda de Sierra Maestra. Na política, nenhuma perspectiva imediata de liberalização. Esta é a Cuba que emerge do 6.º Congresso do Partido Comunista Cubano (PCC), encerrado na terça-feira em Havana, que aprovou um documento programático, Linhas da Política Econômica e Social, contendo mais de 300 pontos que deverão orientar os ajustes a serem feitos no modelo econômico da ilha que nunca funcionou.

O 6.º Congresso do PCC, convocado depois de 14 anos, também elegeu oficialmente Raúl Castro para as funções que já vinha exercendo desde 2006, de secretário-geral do Comitê Central do partido. Contrariando a expectativa de que a oportunidade poderia ser aproveitada para iniciar a renovação do comando do país, para a segunda secretaria, antes ocupada por Raúl, foi nomeado o general José Ramon Machado, de 84 anos, que também é o primeiro vice-presidente. No mesmo dia foi divulgado documento por meio do qual o ex-presidente Fidel Castro renunciou formalmente à chefia suprema do PCC - da qual estava afastado, bem como da presidência, por motivos de saúde, desde 2006 -, anunciou que não mais ocupará cargos no partido ou no governo e conclamou a juventude cubana a continuar "construindo o socialismo".

Desde que substituiu o irmão, Raúl Castro tem anunciado medidas destinadas a enfrentar o estado de catalepsia econômica, em que o país mergulhou desde que, com o fim da União Soviética, 20 anos atrás, Havana parou de receber regularmente os generosos recursos com que Moscou mantinha sua cabeça de ponte comunista na América Latina. Mas, mais uma vez se evidencia que, pelo menos enquanto os Castros e a velha-guarda de 1959 continuarem no poder, o que certamente acontecerá enquanto viverem, está afastada qualquer possibilidade de uma economia de mercado na ilha. Raúl Castro foi categórico em seu pronunciamento no encerramento do congresso: "Assumo minha última tarefa com a firme convicção e compromisso de honra, que o primeiro-secretário do comitê central do Partido Comunista de Cuba tem como sua principal missão defender, preservar e prosseguir aperfeiçoando o socialismo e não permitir jamais o retorno do regime capitalista". Assim, o sistema econômico cubano continuará se baseando na planificação e "na propriedade socialista dos meios fundamentais de produção", mesmo que se venha a levar em conta "as tendências do mercado". O que se pode esperar, segundo o presidente, é a "atualização do modelo" com maior autonomia às empresas estatais e maior estímulo à entrada de capital estrangeiro no país.

O isolamento de Cuba pós-URSS ajuda a entender, mas não é suficiente para explicar a paralisia econômica das duas últimas décadas. O maior problema é que a radicalização do modelo comunista, durante os mais de 30 anos em que o que restou da diáspora da economia cubana para a Flórida após a vitória da revolução sobreviveu praticamente às expensas de Moscou, acabou deixando o país inabilitado para a tarefa de produzir ele próprio a riqueza de que necessita para prosperar. Ainda hoje, a maior parte dos bens de produção e de consumo, principalmente alimentos, de que a ilha necessita é importada.

Não obstante, timidamente, Havana começa a adotar medidas liberalizantes elementares como a permissão para que a população compre e venda imóveis residenciais, da mesma forma como foi autorizada, há pouco tempo, a adquirir telefones celulares e computadores pessoais, etc. Resta saber com o que os cubanos, que ganham em média, US$ 20 por mês, poderão comprar mais do que podem comprar hoje.

Além do mais, esse "poder de compra" ainda será afetado pelas medidas de contenção de despesas que o governo já anunciou, como a demissão de 500 mil funcionários públicos ociosos ou a distribuição dos cartões de racionamento apenas para os mais necessitados. Sem falar, é claro, num mínimo de liberdade política, de respeito aos direitos humanos. Tudo isso certamente terá que esperar pela era pós-Castros.

Argentina: ditadura economica a caminho

Argentina's economy
Lies and Argentine statistics
Stalinist practices in Buenos Aires

The Economist, April 20th 2011

MOST Argentines reacted with a shrug when their government began doctoring its consumer-price index in 2007. Cooking the books cost holders of the country’s inflation-linked bonds at least $2.3 billion last year. But anyone else who needed to know the true inflation rate simply turned to a clutch of private economists who drew on their own price surveys, data from provincial governments and other official statistics. They reckon that inflation is now running at about 25%. That is far above the 10% reported by INDEC, the government statistics agency, but less than the 30% wage increases public employees have received in recent years.

A presidential election looms in October and inflation, and the government’s denial of it, is perhaps the biggest threat to the prospect of President Cristina Fernández winning a second term. That may be why Guillermo Moreno, the thuggish commerce secretary, is moving to stamp out the unofficial, but widely trusted, price indices. To do so he has dusted off a decree, penalising misleading advertising, approved by a military dictatorship in 1983. In February he sent letters to 12 economists and consultants ordering them to reveal their methodology, on the grounds that erroneous figures could mislead consumers.

Some of Mr Moreno’s targets refused; the rest were analysed by INDEC, which predictably found their methods flawed. Seven of them were then ordered to pay the maximum fine of $123,000 (all have appealed). The financial threat is especially serious for Graciela Bevacqua, who lost her job as head of INDEC in 2007 for refusing to tamper with the price index. She now publishes her own inflation estimate with the help of a business partner and former students.

“The others are companies or foundations,” she says, “but we don’t have clients or assets. The only thing I own is my house where I live with my children. They’ll take it away if they continue with this.” Only one firm has stopped publishing its inflation estimate. So far Mr Moreno has merely succeeded in drawing attention to his own mendacity.

Ilusoes estatisticas: comparacoes economicas internacionais - Roberto Macedo

Um artigo simples, mas que coloca em correta perspectiva a comparação de dados em escala mundial.

''Ingana'' que engana
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 21 de abril de 2011

Quando países são comparados economicamente, um procedimento muito usado toma em cada caso, como porcentagem do PIB, algum montante de interesse. Como, por exemplo, o da carga tributária e o dos gastos públicos em saúde.

A interpretação dos resultados precisa ser cuidadosa, para evitar equívocos como o que apontarei mais adiante. De início vale lembrar que essas porcentagens nada dizem sobre quem e quantos, no mesmo exemplo, pagaram a conta dos impostos ou se beneficiaram dos referidos gastos. Em particular, elas não informam sobre o nível de renda ou de PIB por habitante de países comparados, às vezes levando a interpretações equivocadas e também a conclusões mal sustentadas ou mesmo injustificáveis.

Um caso de conclusões desse tipo ocorre frequentemente no Brasil, na comparação de sua carga tributária com a de outros países, sempre como porcentagem dos respectivos PIBs. Dessa comparação vêm conclusões nada lisonjeiras sobre as características dos serviços públicos no Brasil.

Assim, quem no Google buscar textos que simultaneamente se refiram à carga tributária e aos serviços públicos encontrará várias referências a um enganoso paradoxo assim formulado: como porcentagem do PIB o Brasil tem carga tributária alta e típica de países europeus, mas seus serviços públicos são comparáveis aos de países africanos.

Tal paradoxo costuma ser resumido mediante atribuição ao Brasil de características de um país imaginário de nome "Ingana", com carga tributária em porcentagem do PIB próxima à da Inglaterra e serviços públicos similares aos de Gana.

"Ingana" é um termo atribuído ao economista e professor Delfim Netto. Deve ter vindo de uma de suas espirituosas tiradas, pois acredito que saiba muito bem do que estarei afirmando em seguida, e não tem culpa se tanta gente está por aí como papagaio a repetir "Ingana", sem refletir sobre seu significado.

Para mostrar que é enganoso tomarei como similares as cargas tributárias do Brasil e da Inglaterra como porcentagens dos seus PIBs, porém qualificando-as em cada caso pelo valor do mesmo PIB, mas por habitante, também bem próximo do nível de renda médio de sua população. O resultado conclui que é melhor parar com essa repetição, pois "Ingana" não tem sustentação factual.

Recorrerei a dados de 2009 da Divisão de Estatísticas das Nações Unidas e, no caso da Inglaterra, tomados os do Reino Unido (RU), do qual faz parte. Nesse ano o Brasil mostrou um PIB de US$ 1,6 trilhão e o RU, um de valor não muito maior, de US$ 2,2 trilhões. Supondo, para simplificar, a mesma carga tributária, de 35% do PIB nos dois países, o valor da arrecadação total de impostos não mostraria também uma grande diferença. Esta, entretanto, torna-se evidente no fato de que no mesmo ano o RU aparece com 61,6 milhões de habitantes e o Brasil, com mais que o triplo disso, 193,7 milhões. Com isso, o PIB por habitante nos dois países ficou em US$ 35,2 mil e US$ 8,1 mil, respectivamente. Ou seja, dada a sua população bem menor e uma economia um tanto maior, no RU o PIB por habitante alcançou cerca de quatro vezes o do Brasil, revelando assim a maior diferença entre os dois países nesses dados.

Ora, calculando também a arrecadação tributária por habitante, no RU ela alcançou US$ 12,3 mil, enquanto no Brasil foi de apenas US$ 2,8 mil. Portanto, a conclusão inescapável é que, dada essa enorme diferença, não haveria como oferecer aos habitantes do Brasil, em quantidade e qualidade, os mesmos serviços públicos que o RU tem condições de oferecer. Aliás, no caso da saúde, pude conhecê-los quando na Inglaterra nasceu uma de minhas filhas. Quase tudo foi gratuito, tanto no parto como no pré e pós-natal, e de melhor qualidade que a de serviços privados pelos quais paguei em ocasião similar no Brasil.

E como Gana entrou nessa história? Entrou, como se diz, "de alegre", mas seus dados são muito tristes. Com um PIB per capita de apenas US$ 627, mesmo que arrecadasse os mesmos 35% do PIB - e deve estar muito longe disso -, teria apenas US$ 219 a gastar por habitante. O Brasil, como mostrado acima, teve mais de dez vezes esse valor em 2009.

Nunca fui a Gana, nem sei de outra forma sobre seus serviços públicos, mas apenas por esses números não vejo nenhum risco em concluir que devem ser muito piores que os do Brasil. Quanto a esses serviços o Brasil está num meio-termo e, felizmente, mais distante de Gana que do Reino Unido.

Fico por aqui nas comparações internacionais. Nessa discussão seria melhor se olhássemos nosso próprio umbigo. Então perceberíamos que uma das dificuldades é que aqui quase metade da carga tributária praticamente não esquenta nas mãos do governo, pois logo sai de seu caixa para os enormes pagamentos que faz de juros da dívida pública (cerca de 5% (!) do PIB) e gastos previdenciários (perto de 11% (!) do PIB). Além disso, na área federal gasta demais com deputados, senadores e funcionários dos três Poderes - e a presidente Dilma acaba de criar o 38.º (!) Ministério -, pagando salários e aposentadorias que mais lembram o que se ganha em países ricos do que o recebido aqui pelos que pagam essa conta.

Com tudo isso, não sobra muito para os serviços públicos em geral, que, vale repetir, não são os de Gana, mas tampouco podem ser os do Reino Unido. Talvez a minha filha que lá nasceu possa num futuro ainda distante recebê-los de forma similar aqui, no Brasil. Mas só se nosso país tomar juízo e perceber que isso só virá de um maior crescimento do PIB e de um melhor uso dos recursos governamentais. E certamente não virá de uma carga tributária ainda maior, pois já chegou a um ponto em que prejudica o próprio avanço da economia.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), SÓCIO DAS CONSULTORIAS MGSP E WEBSETORIAL, É PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP

Ilusoes cubanas: modelo chines so na ditadura do partido

Analyse
A Cuba, Raul Castro et l'armée maîtres du jeu et de l'économie
Le Monde, 20.04.2011

Le congrès du Parti communiste de Cuba (PCC), achevé mardi 19 avril, n'a pas dérogé aux rituels qui caractérisent les grands-messes des partis uniques. A en croire la propagande, 8 913 838 personnes auraient participé aux débats préparatoires... sur 11 millions d'habitants ! Ce congrès avait été repoussé à plusieurs reprises depuis 1997, sans doute faute d'accord sur la façon de sortir de la crise, après la fin des subsides soviétiques qui maintenaient artificiellement à flot l'économie de l'île.

Depuis l'annonce de la maladie de Fidel Castro, en juillet 2006, il a fallu près de cinq ans pour que son frère cadet, Raul Castro, s'empare de toutes les commandes. Il n'a pourtant pas perdu de temps : les équipes ont été rénovées au plus haut niveau, les fidèles du frère aîné ont été limogés sans ménagement, les forces armées ont élargi leur emprise sur les noyaux durs de l'économie. Les militaires et le général Raul Castro, leur ministre depuis 1959, sont désormais maîtres du jeu.

Derrière la langue de bois du congrès se dessinent une privatisation partielle de l'appareil productif et la consolidation d'une économie mixte, avec deux domaines très différents. L'un, rentable, mise sur l'avenir. Il regroupe le tourisme, le nickel, demain le pétrole, une partie de l'agriculture. C'est le seul qui compte vraiment pour les militaires et leurs manageurs. Leur grand espoir, c'est le pétrole en eaux profondes - mais on en est encore à la phase exploratoire. Autre objectif : après le tourisme de masse, il s'agit d'attirer des vacanciers haut de gamme, en leur proposant des infrastructures de luxe. L'avenir passe aussi par les travaux en cours au port de Mariel, avec l'aide des Brésiliens, et la perspective d'une normalisation des relations avec les Etats-Unis.

Quant à l'autre domaine (tout ce qui reste), peu importe son évolution : les usines et les entreprises peuvent devenir des coopératives, être privatisées voire fermées si elles s'avèrent improductives. Impuissant à prolonger le dogme socialiste du plein-emploi, l'Etat patron se défausse sur les individus, sans aucun filet de sécurité. Travailler à son propre compte devrait être le débouché des 1,3 million de Cubains dont les emplois sont désormais considérés comme superflus. Malgré les contorsions rhétoriques, la propriété privée est rétablie, à condition de ne pas dépasser une certaine "concentration", qui reste à définir.

Toutefois, Raul Castro l'a dit au congrès, "il n'y aura pas de thérapie de choc". "Personne de sain d'esprit" à la direction cubaine ne songerait, par exemple, à éliminer d'un coup le carnet de rationnement, symbole de "l'égalitarisme", devenu une notion "nocive" pour le successeur de Fidel Castro. Alors qu'il pourfend la "mentalité d'inertie" et "l'immobilisme ", Raul Castro est obligé d'adapter le rythme des changements aux résistances de la société et des institutions. Il faudra cinq ans encore, prédit-il. Au congrès, il a annoncé pour bientôt la liberté de vente et d'achat des logements et des véhicules, l'extension des terres non cultivées proposées en usufruit et des crédits pour les travailleurs indépendants.

La politique de La Havane équivaut à une "perestroïka" sans "glasnost", commente le philosophe cubain Alexis Jardines, c'est-à-dire une restructuration de l'économie sans transparence ni ouverture politique. La comparaison avec le Vietnam ou la Chine vaut surtout pour le verrouillage institutionnel, symbolisé par le parti unique, car économiquement, les Cubains sont moins audacieux que leurs amis d'Hanoï ou de Pékin. Le virage économique comble les investisseurs étrangers déjà présents, européens ou canadiens, et aiguise l'impatience des Américains, freinés par leur propre embargo.

Cuba est un cas d'école, au moment où les révoltes arabes amènent l'Union européenne à s'interroger sur la relation entre diplomatie et droits de l'homme. En dépit de la libération de plus d'une centaine de prisonniers politiques (presque tous conduits à s'exiler), les libertés fondamentales ne sont pas respectées : ni la liberté d'expression, ni celle d'association, ni celle de manifestation, ni celle d'aller et venir. Le gouvernement détient le monopole des médias, qui ne font pas de l'information, mais de la propagande, et verrouille l'accès à Internet. Il conserve le monopole de l'éducation. Le Parlement est une chambre d'enregistrement, la justice est inféodée au pouvoir, le code pénal permet d'emprisonner quiconque pour sa "dangerosité" présumée ou des liens avec l'étranger.

Les investisseurs n'y voient là aucun défaut mais au contraire la garantie d'une paix sociale, avec des bas salaires défiant toute concurrence. La renégociation de la dette cubaine avec un petit nombre de pays (dont la France) en vue de nouveaux investissements montre l'intérêt que suscite La Havane. Les travailleurs indépendants et les petits entrepreneurs ne peuvent, eux, en faire autant avec les ressources de la diaspora cubaine (2 millions de personnes), contrairement aux Chinois et Vietnamiens, qui ont su profiter de l'épargne de leurs expatriés pour développer leurs propres projets et gagner de nouveaux marchés.

Paulo A. Paranagua (Service International)
Article paru dans l'édition du 21.04.11

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...