sexta-feira, 5 de abril de 2013

Duas noticias contraditorias (como sempre ocorre no Brasil): mas a razao existe e e' real...

Na verdade, não são duas notícias, mas uma só: a queda do capitalista-maravilha Eike XXX, o que é absolutamente normal no mundo dos negócios.
Mas, vejamos primeiro os headlines:



Bem, a primeira parte é comum e frequente: capitalistas bem sucedidos e outros mal-sucedidos acontecem todos os dias numa economia de mercado. Cada um assume suas responsabilidades pelos seus próprios negócios.
A segunda parte é que nos deixa preocupados. Se o governo está preocupado, parece que ele vai perder alguma coisa, e talvez queira evitar, colocando dinheiro público numa empresa privada.
O meu, o seu, o nosso dinheiro, como diria Arminio Fraga.
Por que, como, com quais intenções e motivos?
Assim é esse novo governo, tão carinhoso com os seus capitalistas preferidos...
Mas a razão existe, e ela é deveras preocupante. Muito preocupante. A explicação vem logo abaixo, por um economista que foi do Banco Central...
Paulo Roberto de Almeida

Ação da OGX, de Eike Batista, acumula queda de 60% no ano

5 de abril de 2013 | 13h30
Agência Estado
As ações da petrolífera OGX, do grupo do empresário Eike Batista, mantinham nesta sexta-feira o comportamento de queda dos últimos dias e renovavam suas mínimas históricas.
No início da tarde, a ação perdia 12,6%, a R$ 1,73, renovando a mínima histórica do dia, de R$ 1,95, registrada no pregão anterior.
A OGX registrava a maior queda do Ibovespa, que recuava 0,6% no mesmo horário.
No mês de abril, as ações já apresentam queda de 24,24% e no ano o tombo vai a 60%.
Ontem, o papel caiu mais de 10% e encerrou cotado a R$ 1,98, após a agência de classificação de risco Standard & Poors reduzir o rating de crédito corporativo da OGX de “B” para “B-”, com perspectiva negativa, por conta do fraco desempenho operacional da companhia.
Outras ações de empresas de Eike Batista seguiam o movimento de baixa. A mineradora MMX perdia 2,63%, enquanto a empresa de logística LLX caía 0,50%.
Fora do Ibovespa, a companhia de construção naval e serviços para o setor de petróleo OSX perdia 7,75%, enquanto a empresa de energia elétrica MPX tinha queda de 1,39%.
A crise que se abateu sobre a petroleira de Eike é acompanhada com preocupação pelo governo que, segundo fontes do Planalto, considera “ruim” a disseminação para outras empresas do grupo. Mas, não há intenção de uma operação de salvamento que envolva o governo.
Mercado
O retrato da OGX na Bolsa hoje difere bastante daquele do seu ingresso no mercado, quando a demanda pelos papéis superou em dez vezes a oferta, diante da grande expectativa dos investidores com as promessas de sucesso de Eike. Na época, a captação de R$ 6,7 bilhões em oferta pública de ações foi a maior já realizada no Brasil. Passados cinco anos, o mercado castiga os papéis por motivo oposto: a frustração com estimativas de produção não confirmadas desencadeou um ceticismo generalizado com relação à capacidade de Eike de captar recursos necessários à continuidade da operação.
“Uma coisa é emprestar para empresa que está folgada. Outra é para quem está com necessidade de caixa. É muito mais caro e difícil”, afirmou o economista do Banco Espírito Santo (BES) Oswaldo Telles. A percepção do mercado é que, após o relatório da S&P e diante da indisposição do governo com Eike, o empresário terá dificuldade de captar recursos e também de cumprir a promessa de aportar US$ 1 bilhão até 30 de abril de 2014.
A desvalorização das ações da OGX vem ocorrendo desde junho do ano passado, data em que a empresa anunciou resultados para o campo de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, bastante inferiores às estimativas. A primeira grande desvalorização aconteceu em junho daquele ano, quando a empresa recalibrou de 50 mil para 5 mil barris por dia a vazão dos dois primeiros poços na área.
Na quarta-feira, houve o rebaixamento da nota de crédito pela Standard & Poor’s de B para B-. E, hoje, a pá de cal veio com a notícia divulgada pela colunista Dora Kramer, de O Estado de S.Paulo, de que o governo não está disposto a ceder aos apelos de Eike por um socorro financeiro.
“Destacamos em relatórios há algum tempo a necessidade de a OGX receber o US$ 1 bilhão de Eike, além do dinheiro de caixa previsto para até o fim do ano. Mas é preciso que acreditar que o controlador terá esse dinheiro disponível”, afirmou Telles.
Depois da associação com o banco BTG Pactual (também credor do grupo em mais de R$ 1,5 bilhão), Eike iniciou, por sua empresa de energia, a MPX, uma reestruturação, com venda de 24,5% de sua participação ao grupo alemão E.ON, por R$ 1,4 bilhão. O bilionário reduziu sua fatia na empresa de 53% para 28,5% e agora prepara uma oferta pública para elevar o capital da empresa. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que também é acionista da MPX, com pouco mais de 10%, não deve acompanhar o aumento, disseram fontes ao Broadcast. O mais provável é que o banco estatal tenha sua participação diluída.
Analistas
No fim de março, o Bank of America Merril Lynch havia rebaixado o preço-alvo das ações da OGX a R$ 1, após o anúncio de que a produção em Tubarão Azul em fevereiro ficou aquém da de janeiro. A resposta do presidente da petroleira, Luiz Carneiro, foi que “são bastante grandes os desafios para uma jovem empresa de petróleo e gás. O campo de Tubarão Azul estabilizou antes do esperado”, como afirmou, em teleconferência de apresentação do resultado financeiro de 2012.
Para Ricardo Correa, diretor da corretora Ativa, que seguiu hoje o fluxo de venda das ações da petroleira de Eike, a informação de que a presidente Dilma não está disposta a abrir concessões ao empresário foi lida pelo mercado como uma confirmação dos temores de que Eike está em dificuldades financeiras.
Para acalmar o mercado, uma saída seria a empresa levar adiante a promessa de venda de ativos feita por Carneiro aos investidores, durante a apresentação do resultado do ano passado. A avaliação é que, com essa medida, a empresa conseguirá gerar caixa e reduzir a sua necessidade de investimento.
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Eike Batista vira fator de risco para toda a economia
 4 de Abril de 2013

Sem petróleo, sem minério e sem crédito, o bilionário brasileiro já fica a ver navios. Consta que ele e seu novo parceiro, André Esteves, do BTG Pactual, pediram socorro à presidente Dilma Rousseff e receberam um rotundo não como resposta. Com dívidas bilionárias, o "império X" começa a ser rebaixado por agências de risco e contamina projetos de outras empresas brasileiras que tentam captar recursos internacionais.

 Um dos principais problemas da economia brasileira, e, por tabela, do governo Dilma Rousseff, hoje tem nome e sobrenome. Chama-se Eike Batista, rebaixado ontem pela agência de risco Standard & Poors para o nível B-, com perspectiva negativa, equivalente ao de um pré-calote. Eike prometia petróleo e entregou poços secos aos seus investidores. Prometia uma nova Vale e entregou morros inoperantes. Prometia o maior complexo industrial e portuário da América Latina e no seu porto do Açu há apenas um pier construído. Prometeu um grande estaleiro e, na prática, é ele quem começa a ficar a ver navios.

 Aparentemente, este seria um problema de natureza apenas privada. Ocorre que Eike hoje deve mais de R$ 10 bilhões ao BNDES e outros bilhões a bancos como Itaú, BTG Pactual e Bradesco. Sua quebra poderia desencadear um risco de natureza sistêmica. No seu relatório, a Standard & Poors avisa que, se nada for feito, a OGX, principal empresa de Eike, queimará todo o seu caixa em 2013. Ou seja: não terá mais fôlego para rodar. E os bancos não parecem mais dispostos a colocar dinheiro nos projetos do empresário.

 Como o risco é real, o bilionário e seu novo parceiro, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, decidiram pedir a ajuda, é claro, ao governo federal. Receberam da presidente Dilma um rotundo não como resposta, como informa a jornalista Dora Kramer, na nota publicada nesta quinta-feira no Estado de S. Paulo:

 Nem pensar. A presidente Dilma Rousseff ouviu, e negou socorro do governo ao empresário Eike Batista. Da reunião-apelo participaram representantes do BNDES, Itaú, Bradesco, BGT-Pactual e o próprio Eike, em dificuldades para honrar as dívidas com todos eles.

 Dilma ainda alertou que se algo de pior vier a acontecer aos negócios do empresário símbolo (pelo jeito com pés de barro) da prosperidade nacional, isso afetará ainda mais a disposição interna e externa do setor privado para investir no Brasil.

 Dilma tirou o time de campo e avisou a Eike e Esteves que eles devem se virar por conta própria, o que fará com que o bilionário comece a liquidar seus ativos e suas concessões. Até porque um envolvimento ainda maior do governo tem potencial para gerar grande confusão. Recentemente, o embaixador brasileiro em Cingapura disse ter sido pressionado pelo ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, a transferir um estaleiro do grupo Jurong, já em construção no Espírito Santo, para o Rio de Janeiro.

 Ciente dos riscos, o governo Dilma parece querer distância de Eike, mas o problema é que a má experiência de investidores com o grupo EBX ameaça projetos de outras empresas. "O investidor simplesmente cansou de ser roubado", disse ao 247 um diretor de um grande banco de investimentos. Outro empresário, que pretendia captar recursos para projetos de infraestrutura, disse que a janela do mercado internacional se fechou. "Eike conseguiu contaminar o Brasil", afirma.

 Leia, abaixo, um trecho de reportagem do Valor Econômico sobre o rebaixamento de Eike:

 SÃO PAULO - A Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito da OGX de ‘B’ para ‘B-’, devido a preocupações com a maturação dos projetos da companhia e de seu perfil de liquidez restrito. A perspectiva é negativa, o que indica que a agência de classificação de risco vê possibilidade de novos rebaixamentos no médio prazo.

 “Apesar de a companhia não ter vencimentos de dívida significativos até 2018, esperamos que ela queime todo seu caixa durante 2013”, afirmaram os analistas da S&P em nota. Ao fim do ano, a OGX tinha US$ 1,6 bilhão em caixa, valor que, na avaliação da agência, deve ser consumido em investimentos e pagamento de juros.

 Com isso, alerta a S&P, a OGX precisará exercer o aumento de capital de US$ 1 bilhão mediante exercício de opção de compra do controlador Eike Batista, ou vender alguns ativos para reduzir a pressão sobre o caixa no próximo ano e manter seu nível atual de investimentos. “Não esperamos que a produção gere um fluxo de caixa operacional suficiente para continuar financiando os projetos e o pagamento de juros”, afirmam.

Stalin: a political killer, for communism (Economist)

Soviet history
Stalin and his cursed cause
The Economist, March 30th 2013

High five for communism
Stalin’s Curse: Battling for Communism in War and Cold War. By Robert Gellately. Knopf; 464 pages; $32.50. Oxford University Press; £20. Buy from Amazon.com; Amazon.co.uk

FIRST and foremost, Stalin was a communist, who believed that the sacred cause justified the most extreme measures: what non-believers would call unparalleled barbarity. This central message in Robert Gellately’s masterly new book is an uncomfortable one for those who believe that Stalinism was an aberration, or a reaction to mistakes made by the West. It is facile to say Stalin was simply a psychopath, that he believed in terror for terror’s sake, or that the Red Tsar’s personality cult replaced ideology. A Leninist to his core, he was conspiratorial, lethal, cynical and utterly convinced of his own rightness.

“Stalin’s Curse” draws mainly on German and Russian archives, plus numerous first-hand accounts, and the author’s formidable interpretative skills. Unlike other biographies that have focused on the most sensational episodes in the dictator’s life, it sets Stalin firmly in the historical context: the rise (and eventual fall) of what the author calls the “Red Empire”.

Mr Gellately’s latest work has a good claim to be the best single-volume account of the darkest period in Russian history. It is part of a crop of excellent new accounts of the era. It sits well with Timothy Snyder’s 2010 book, “Bloodlands” (about mass killings) and Anne Applebaum’s “Iron Curtain” (which deals with eastern Europe after 1944 and which came out last year). It is also a worthy successor to his “Lenin, Stalin, Hitler: The Age of Social Catastrophe” (2008), which compared and contrasted the three monsters.

Stalin’s supposed strategic genius gets short shrift, along with his generalship. Because communist doctrine said all imperialists were equal, Stalin failed to see that the Western powers were not the same as Nazi Germany, and might even be useful allies against it. For all his paranoia and cynicism, the Soviet leader was determinedly friendly to Adolf Hitler, apparently believing that close ties with the Soviet Union made a Nazi attack less likely. But Hitler saw it the other way round: relying on Soviet imports endangered his long-term goal of destroying communism.

Where Stalin excelled, again and again, was in ruthlessness and attention to detail. He paid minute attention to extending Soviet rule in places conquered at the war’s end. He took great interest in details of science and cultural policy, fearing even the faintest breach in communist omniscience. The results might be disastrous: but they were in accordance with communist theory, which was what mattered.

Mr Gellately, a professor in Florida, has a deft touch with detail. For all the havoc he wreaked on the countryside, Stalin knew next to nothing about it (he seems to have visited farms only once, in 1928). During their furious conquest of Germany, the Red Army soldiers avenged their homeland’s suffering in an orgy of destruction. An eyewitness describes their taking “axes to armchairs, sofas, tables and stools, even baby carriages”. Individual stories are recounted with understated sympathy. But the scope of the suffering is inconceivable. An all but forgotten post-war famine in the Soviet Union killed 1m-2m people. Communism probably killed around 25m: roughly the same toll of death and destruction as that wrought by the Nazis.

Aside from the chief villain, Western leaders too come in for quiet but deserved scorn. Both Franklin Roosevelt and Harry Truman failed to grasp their counterpart’s malevolence. Winston Churchill made casual deals that consigned millions of people to slavery and torment. The foreigners thought Stalin was a curmudgeonly ally to be coaxed and cajoled. He treated them as enemies to be outwitted. Far from provoking Stalin into unnecessary hostility, the Western powers were not nearly tough enough.

Some of the strongest passages of the book concern Stalin’s final years: the sharpening contrast between his obsessive paranoia and his analytical powers; the looming anti-Semitism, and the beginnings of a massive new arms build-up. Little of that came to fruition, sparing the world untold new horrors. But what Stalin did achieve was quite bad enough.

Stalin: um criminoso leninista, metodico

HISTÓRIA SOVIÉTICA
A ideologia de Stálin e sua causa maldita
Livro sobre Stálin estabelece o ditador firmemente dentro do contexto histórico
Opinião e Notícia, 5 de abril, 2013

Em primeiro lugar, Stálin era um comunista que acreditava que a causa sagrada justificava as medidas mais extremas: o que seria chamado pelos incréus de barbaridade sem precedentes. A mensagem central do magistral novo livro de Robert Gellately, Stalin’s Curse: Battling for Communism in War and Cold War, desconfortará aqueles que acreditam que o stalinismo foi uma aberração ou uma reação a erros do Ocidente. É fácil dizer que Stalin era simplesmente um psicopata, que ele acreditava no terror pelo terror, ou que o culto à personalidade do Czar Vermelho eclipsou a ideologia. Um profundo leninista, Stalin era conspiratório, letal, cínico e absolutamente convencido de suas razões.

Stalin’s Curse tem como fontes principais os arquivos alemães e russos, além de numerosos relatos de primeira mão e a formidável capacidade interpretativa do autor. Diferentemente de outras biografias que se concentraram nos episódios mais sensacionais da vida do ditador, esta estabelece Stalin firmemente dentro do contexto histórico: a ascensão (e finalmente a queda) do que o autor chamada de “Império Vermelho”. O trabalho mais recente de Gellately pode reivindicar com tranquilidade o título de melhor volume único da fase mais obscura da história russa.

O suposto gênio estratégico de Stálin não recebe muito crédito, bem como suas capacidades como general. Stálin logrou sucesso, repetidas vezes, devido a uma atenção obsessiva aos detalhes e à crueldade. Ele tratou com muito cuidado a questão de estender o domínio soviético em lugares conquistados ao fim da guerra.

Durante a furiosa conquista da Alemanha, os soldados do Exército Vermelho vingaram o sofrimento de sua pátria em uma orgia de destruição. O escopo do sofrimento é inconcebível. E a praticamente esquecida fome pós-guerra da União Soviética matou entre 1 milhão e 2 milhões de pessoas. O comunismo provavelmente matou cerca de 25 milhões de pessoas: aproximadamente o mesmo número de mortes causadas pelos nazistas.

Texto traduzido e adaptado da Economist por Eduardo Sá
Fonte: The Economist-Stalin and his cursed cause

O fascismo em construcao no Brasil - Reinaldo Azevedo

Não concordo com tudo o que diz esse jornalista, já disse isso muitas vezes. Nem, talvez, com o seu estilo. Mas reconheço que ele toca em questões reais, concretas, que também me preocupam.
Uma delas é o que eu já chamei, com perfeita consciência sobre o significado dos conceitos e sobre sua pertinência ao caso brasileiro, de fascismo em construção.
Na economia já é uma evidência aplastante, digamos assim. É o Estado quem determina como vai ser a economia, não os agentes privados e os consumidores livres, que de resto não existe no Brasil. Somos obrigados a só consumir o que o Estado nos autoriza. A forma mais evidente do fascismo econômico é a Receita Federal e toda a burocracia encarregada da regulação econômica, Anvisa incluída. São os pequenos agentes fascistas, sem armas, sem botas pretas, sem uniformes, apenas com seus regulamentos restritivos.
Na política já está sendo o caso, com o patrulhamento do politicamente correto e com o falso progressismo dos gramscianos de araque, os marquissistas de opereta, que nunca leram Marx nem Gramsci, mas que repetem um conjunto de sandices que envergonharia os velhos marxistas.
Apenas por isso posto este texto. Ele é um alerta.
Paulo Roberto de Almeida

A imprensa brasileira, com medo da regulação e assediada por patrulhas internas e externas, está se tornando uma agente da ditadura do falso consenso: emburrece o debate, sataniza a divergência e lincha pessoas por delito de opinião. Ou: Beijo na boca não pode ser a outra forma do escarro
Reinaldo Azevedo, 05/04/2013

Ontem você encararam com galhardia um texto longo. Aí eu me animo, né? Mais um do mesmo porte. Quem me detesta já desiste; quem gosta faz a festa.
*
Um deputado que não pensa segundo os cânones de certa militância política assume uma comissão da Câmara. Tem início uma campanha para esmagá-lo, à qual adere quase toda a imprensa, ao arrepio de qualquer fundamento que orienta a boa prática jornalística. O secretário particular de um governador de estado emitiu, antes ainda de ocupar a atual função, opiniões políticas distintas daquelas consideradas “progressistas”. Um colunista de jornal se sente no direito de cobrar desculpas desse governador, e o veículo no qual ele trabalha dá início a uma campanha de desmoralização do funcionário. Um senador, possível candidato à Presidência da República, chama o, digamos, “evento” de 1964 de “revolução”, e tem início uma patrulha agressiva porque, sustenta-se, o certo seria chamar de “golpe”. Pessoas e forças políticas que se oponham às posições consideradas “corretas”, quando não ignoradas, são impiedosamente ridicularizadas, tratadas como idiotas, vistas como expressões do atraso. A democracia brasileira está doente, e o nome dessa doença é intolerância. A imprensa, que deveria denunciá-la, transformou-se em agente do linchamento da divergência. Com medo a regulação, assediada por patrulhas internas e externas, torna-se, a cada dia, mais refém dos grupos de pressão e das militâncias organizadas. Quando não é ativamente fascitoide, é de uma pusilanimidade espantosa. Fecho este parágrafo assim: não existe esta sociedade de um lado só em nenhum lugar do mundo — ou, para ser mais preciso, em nenhuma democracia do mundo. Sociedade de massa de um lado só é fascismo.

Se um dia o PT conseguir emplacar o “controle social da mídia” (algum controle virá, fiquem certos; lembro que o projeto defendido pelo partido numa resolução do Diretório Nacional prevê controle de conteúdo), não terá tanto trabalho assim. Restará uma cidadela ou outra a colonizar, a domesticar, a domar, a dominar, a esmagar. O que Hugo Chávez conseguiu na Venezuela por meio da violência está sendo paulatinamente conquistado pelos petistas no Brasil por meio da cooptação e da ocupação das redações por uma forma de militância política que já dispensa a carteirinha de filiação. A fantasmagoria imaginada por Gramsci (que ele achava ser a redenção da humanidade, o tarado!) começa a se materializar. O teórico comunista italiano afirmava que o “Príncipe” moderno não era mais, obviamente, aquele de Maquiavel. O “Moderno Príncipe” era o partido político. E ele sintetizou, então, como seria a sociedade sob o comando dessa força — eu não resisto à provocação — verdadeiramente satânica:
“O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o seu poder ou para opor-se a ele. O Moderno Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume”.

Bingo! É a definição do totalitarismo perfeito. Na sociedade antevista por Gramsci, é impossível pensar fora dos limites do que estabelece, então, esse “Moderno Príncipe”. Desaparecem as noções de crime e de virtude. Esse ente de razão dirá quando cada ato é o quê, de sorte que, sob certas circunstâncias, pode-se tomar o crime por virtude e a virtude por crime. A verdade desse coletivo passa a ser o imperativo categórico.

Naquele longo texto de ontem, em que afirmei que a causa gay está sendo usada como ponta de lança de uma ação maior contra a democracia representativa, comentei um texto de Vladimir Safatle (aquele humanista que toma um nascituro por uma lombriga). Ele chama a ação fascitoide contra Feliciano (e não! Eu não concordo com o deputado) de “o primeiro embate”. Segundo Safatle, as ações contra o parlamentar representam uma “profunda discussão” sobre “a sociedade que queremos”. Por alguma estranha razão, o seu “nós” — ele se refere aos brasileiros — não inclui o “eles”. O seu “nós”, de uma sociedade que chama “radicalmente igualitária”, exclui os que pensam de forma diferente porque seriam apenas manifestações do atraso. Trata-se da reiteração do pior lixo produzido pelas esquerdas em sua história. Foi com essa visão de mundo que o comunismo se tornou a maior máquina de matar que a civilização conheceu. Subjacente a esse pensamento está a convicção de que a humanidade tem um sentido e uma direção — no artigo, ele sugere que até a história tem uma moral intrínseca — e caminha segundo alguma lei da evolução. E, é evidente, a esquerda estaria no comando desse processo; estaria aí para acelerar a história. Como bom esquerdista, Safatle nem aprendeu nada nem esqueceu nada.

Sou, no entanto, realista e reconheço que eles estão avançando. Safatle mesmo só se tornou colunista fixo de jornal depois de ter tido a ousadia de especular, num artigo, sobre as virtudes da ação terrorista como um campo pouco explorado de um humanismo alternativo. Ele resenhava o livro de um delinquente intelectual chamado Slavoj Zizek. E, o que não me surpreendeu, conseguiu piorar o original. Vejo o noticiário de TV, leio jornais, revistas, sites… Escolhas políticas, valores ideológicos de grupos, patrulhas as mais odientas, tudo aparece como se estivéssemos diante de verdades universais. Nos dias de hoje, também o “Moderno Príncipe” de Gramsci passou por um aggiornamento. As minorias formam as células, que se organizam na rede, que é o partido. Aquilo que Marina gostaria de fazer, o PT já fez. Faz sentido. Ela é de lá. É que tem mais ambições do que o permitido…

Poder-se-ia, ao menos, constatar, ainda que isso não mudasse o caráter autoritário do que está em curso: “Pô, Reinaldo, vivemos nesse mundo sem contraditório, mas reconheça que o Brasil está uma maravilha; estamos no caminho certo!” Pois é. Não estamos! Um país que não debate, que vive da reiteração das mesmas verdades, que sataniza o conflito de ideias, que busca eliminar a divergência, vai dar em quê?

Voltando ao começo
O governador Geraldo Alckmin indicou para seu secretário particular um jovem advogado chamado Ricardo Salles. Não sei a idade, mas deve estar na casa do 30, 30 e pouquinhos. Não participou, portanto, do golpe militar de 1964. Antes de ser indicado para a função, integrou um grupo chamado “Endireita Brasil” — que era público, não clandestino. Ainda que pareça exótico aos ignorantes convictos, existe uma direita democrática. Já houve um tempo em que jornalistas sabiam quem era Churchill e ignoravam a Beyoncé da época, seja lá quem for essa… Frases ditas por Salles num debate no Clube Militar foram escandalosamente retiradas do contexto e lhe atribuíram o que não disse: ele teria negado a existência de tortura durante o regime militar. Não negou. Também se noticia em tom de escândalo o fato de que criticou os rumos tomados pela Comissão da Verdade. Mais: em algum momento, ele teria chamado a presidente Dilma de terrorista — o que ele nega. Não se reproduziu texto nenhum seu com essa afirmação.

Marcelo Rubens Paiva, colunista do Estadão e filho do deputado Rubens Paiva — que desapareceu em janeiro de 1971, sequestrado pela ditadura — passou a pedir a cabeça de Salles, campanha endossada de maneira mais do que indiscreta pelo Estadão, por meio de reportagens. Marcelo foi além e exigiu, imaginem só!, uma “retratação” de Alckmin. De súbito, parecia que o governador e seu secretário eram, sei lá, dois agentes da ditadura.

Marcelo já andou me criticando por aí. Respondi com bom humor. Ele pode achar que não tenho o direito de pensar o que penso, mas defendo o direito que ele tem de pensar o que pensa. Na minha República, haveria pessoas como ele; na sua, desconfio que eu seria banido. Ele pode achar que assim seria porque é melhor do que eu. Prefiro achar que assim seria porque sou mais tolerante do que ele, ainda que eventualmente ele possa ser melhor do que eu.

Acho absolutamente compreensível que ele tenha uma percepção especialmente aguda, dura mesmo, daquele período. Certamente não foi fácil para ele e para sua família. Eu defendo a Lei da Anistia e acho um absurdo que a Comissão da Verdade esteja forçando a mão para ir além do que estabelece essa lei e a que criou a própria comissão. Mas me coloco na situação de Marcelo e me pergunto se eu também, vivendo o que ele viveu, não pensaria algo parecido. Tivessem sequestrado meu pai, seu corpo não tivesse aparecido até hoje, com a memória do sofrimento da família… Talvez eu quisesse revanche. Faço essa observação para deixar claro que não arbitro sobre questões e dores pessoais.

“Não é questão só pessoal; é também política!”, poderia objetar um indignado apressado. Sim, eu sei. Mas nem a dor de Marcelo o autoriza a cassar de alguém o direito à opinião. Tampouco o autoriza a cobrar do governador uma retratação. Por quê? Com base em quê? E, se é de política que estamos falando, indago: o filho de Rubens Paiva cobrou, alguma vez, retratação de Lula por sua proximidade com alguns próceres do regime militar, incluindo signatários do AI-5? Exigiu retratação de Fernando Haddad por ter se abraçado a Paulo Maluf na eleição para a Prefeitura de São Paulo — ou também Marcelo, a exemplo de Marilena Chaui, acha que, agora, “Dr. Paulo” deixou de ser um homem da ditadura para ser apenas um engenheiro? Salles não tem uma fatia do governo do Estado. Maluf tem um fatia da Prefeitura. Salles tem apenas uma opinião. Maluf é poder.

Sem jamais relativizar os fortes motivos que tem Marcelo, eu me pergunto em que medida o passado está sendo usado para cuidar de demandas que dizem respeito ao presente. Estou tratando de matéria de fato, não de opinião: em 2013 (e desde 2003), é o PT que está próximo de fiéis servidores da ditadura, não Alckmin ou o PSDB. O governador não participou do golpe, tampouco seu secretário, que talvez tenha nascido já na década de 80.

Comissão da Verdade
Tenta-se fazer um escarcéu porque Salles seria “crítico” da Comissão da Verdade. Eu também sou. E daí? E fui perseguido pela ditadura, o que não é o caso de boa parte dos patrulheiros. Alguns tontos nem sabem do que estão falando. O grupo começou os trabalhos anunciando que ignoraria o próprio texto que o instituiu. Existe para apurar também os crimes de grupos terroristas. Já deixou claro que não vai fazê-lo. O respeito à Lei da Anistia é pressuposto de sua existência. Paulo Sérgio Pinheiro, o coordenador da comissão — e outros membros se manifestaram nesse sentido —, já evidenciou o seu inconformismo com esse limite. A questão não é só de gosto, mas também jurídica. A Lei da Anistia é parte do arcabouço legal que instituiu a Constituinte no país. Ademais, anistia — e já houve outas — quer dizer esquecimento (no quer tange às questões criminais e políticas), não absolvição.

Ora, então não se pode ser um crítico da Comissão da Verdade — ou mesmo se opor à sua existência na esfera da opinião (já que nada se pode fazer a respeito) — sem que isso transforme o indivíduo num agente da ditadura? Tenham paciência!

Terrorismo
Salles nega que tenha chamado a presidente Dilma de “terrorista”. Acredito nele. Também já me atribuíram tal coisa, e nunca ninguém encontrou o texto. O que escrevi, sim, e escrevo de novo agora, é que ela pertenceu a dois grupos terroristas. A presidente não é, obviamente, terrorista. A militante Dilma Rousseff foi. Não é matéria de gosto, mas de fato. Claro, claro, sempre se pode argumentar que o Colina e a VAR-Palmares, que lutavam por uma ditadura comunista e mataram inocentes em sua trajetória, só queriam democracia. Essa é certamente a conclusão a que a Comissão da Verdade já chegou — daí que não vá investigar os crimes de organizações do gênero. Mas essa é só uma das mentiras que vai contar essa comissão.

Qual é o problema do nosso jornalismo em encarar os fatos? Dilma tem orgulho de sua biografia. Já deixou isso claro mais de uma vez. É ilegítimo que pessoas possam ter uma abordagem crítica, negativa se for o caso, sobre o seu passado? Por quê? Porque Salles pensa o que pensa, isso faz dele um agente da ditadura, um homem conivente com a tortura, alguém impossibilidade de exercer a função que exerce?

Um jornalismo que se entrega a essas especulações há muito abandonou o sua missão. Está fazendo campanha eleitoral antecipada.

Golpe ou revolução?
Nesta quinta, foi a vez de o senador Aécio Neves (PSDB-MG) entrar na dança. Num evento do seu partido, num dado momento, referiu-se a 1964 como “revolução”. A patrulha imediatamente apareceu: “Ah, ele chamou golpe de revolução”; “revolução é como os militares chamaram o seu golpe”. Ora, até outro dia, os mesmos jornais que davam curso a essa questão ridícula referiam-se, em editoriais, àquele período como “Regime Militar”, e ao golpe como “Movimento Militar de 64”. E não era por imposição da censura nenhuma!

Era evidente que o senador não estava fazendo uma escolha política. Referiu-se àquele tempo por uma das expressões pelas quais ficou conhecido. Nada além disso. A conversa mole que se seguiu é só mais uma manifestação desses tempos estúpidos, de embotamento da inteligência. Sem contar que foi Tancredo Neves um dos protagonistas do fim do regime militar.

E não que essas coisas não devessem ser debatidas. Desafio qualquer historiador a provar, com dados objetivos e exposição de critérios do que seja uma coisa e outra, que 1930 tenha sido uma “revolução” e 1964 “um golpe”. Aí o tontinho patrulheiro se assanha: “Lá vai o Reinaldo tentar provar que os militares fizeram revolução”. Não, Zé Mané! Eu afirmo que 1930 também foi GOLPE, escancarado sete anos depois. Não existe revolução sem povo! De resto, povo por povo, havia muito mais em 1964 do que em 1930. A República brasileira, como sabe qualquer estudioso, foi inaugurada com uma quartelada.

Então por que 1930 é “revolução”, o ditador Getúlio Vargas é um herói, e 1964 é “golpe”, e os militares passam por esse processo de banditização? Por ideologia rasteira. Os nossos historiadores se debruçaram sobre 1930 e enxergaram ali o confronto entre progressistas e reacionários, entre o Brasil arcaico e o Brasil moderno. Como se chegou à conclusão — e nem contesto o mérito — de que houve um avanço, então é “revolução”. Já 1964 foi apenas “golpe” porque se entendeu que a nova ordem veio obstar a ascensão das camadas populares revolucionárias… As camadas populares revolucionárias não passavam de meia-dúzia de radicais, que não resistiram ao primeiro tiro. Aliás, não se disparou em 1964 tiro nenhum. Também a ambicionada “revolução socialista” não tinha… povo!

Um amante da objetividade é obrigado a indagar se os pobres brasileiros melhoraram ou pioraram de vida com o “golpe”. A pergunta pode ser feita ao metalúrgico Lula, depois sindicalista, que viveu a era do milagre e tinha, como já confessou em entrevista, o seu “carrinho”. Ia namorar de táxi, ele contou — um luxo a que o trabalhador brasileiro não se entrega ainda hoje.

O mesmo critério que chamou de “revolução” a ditadura inaugurada em 1930 — “é o moderno vencendo o arcaico” — poderia transformar em “revolução” também o movimento de 1964. Também nesse caso o “moderno vencia o arcaico”. Ah, mas, no regime militar, houve tortura e morte. E durante o Estado Novo? Ora…

Caminhando para a conclusão
O Brasil precisa é de mais debate, não de menos; o Brasil precisa é de mais divergência, não de menos; o Brasil precisa é de mais dissenso, não de menos. E precisa de mais respeito às regras do estado democrático e de direito, não de menos.

E olhem que isso tudo pode ser feito com muito beijo na boca.

Que as bocas se beijem como expressão da tolerância, não para ofender aquele de quem se discorda. Beijo na boca que ofende, modificando um pouco o que disse o poeta, é só a outra forma do escarro.

Alba: contra direitos humanos, democracia e controle de armas

Le Traité sur le commerce des armes oppose la majorité de l'Amérique latine aux pays de l'ALBA
Le Monde, 05.04.2013

Le Traité sur le commerce des armes, adopté par l'Assemblée générale des Nations unies le 2 avril, était à l'origine une initiative du Costa Rica, plus précisément de son ancien président Oscar Arias, Prix Nobel de la paix 1987. Ce petit pays d'Amérique centrale est un Etat démilitarisé : les forces armées ont été dissoutes en 1948, après une guerre civile, au profit de l'éducation, de la santé publique et du système de sécurité sociale, le plus performant des Amériques.

En 1995, Oscar Arias avait rassemblé un groupe de Prix Nobel de la paix qui avaient interpellé l'ONU sur la question des armes conventionnelles (soit tout ce qui n'est pas armement nucléaire, biologique ou chimique, objet d'autres textes ou instances internationaux).

En 2006, la machine onusienne s'est enfin mise en branle en vue de négocier le premier traité règlementant le juteux commerce des armes, évalué à 70 milliards de dollars (54 milliards d'euros) par an.

Les diplomates du Mexique et d'Amérique centrale ont réussi à inclure dans le traité les armes de poing et les armes légères, les plus utilisées dans l'inflation d'homicides dans la région. Aux Etats-Unis, la National Rifle Association n'a guère apprécié cette inclusion des « armes civiles », un concept dont on appréciera la subtilité...

Après une négociation laborieuse, le traité a été voté à l'ONU par 154 pays. Seuls la Corée du Nord, l'Iran et la Syrie ont voté contre. La plupart des pays exportateurs d'armes, Etats-Unis et pays européens en tête, ont approuvé ce texte qui tente de mettre un peu d'ordre dans la course aux armements. La Russie et la Chine, deux des principaux marchands d'armes au monde, ont pris la tête des 23 pays qui se sont abstenus.

Alors que l'Amérique latine était en pointe sur le sujet, cinq pays de la région ont choisi l'abstention : Cuba, Venezuela, Equateur, Bolivie et Nicaragua, qui forment l'Alliance bolivarienne pour les Amériques (ALBA). Selon l'ambassadeur cubain, le traité aurait des « lacunes légales », de « sérieuses limitations » et de « multiples ambigüités ».

L'ALBA a préféré s'aligner sur Moscou et Pékin plutôt que sur l'immense majorité de l'Amérique latine. Comme l'a dit Oscar Arias, « l'application du traité sera difficile, mais il vaut mieux avoir cet instrument plutôt que rien ».

L'ALBA minoritaire en Amérique latine

C'est la deuxième fois en quelques jours que les Etats de l'ALBA ont campé sur des positions contraires au reste de l'Amérique latine. Le débat sur la Commission interaméricaine des droits de l'homme, le 22 mars à Washington, avait opposé l'ALBA à toutes les autres nations des Amériques.

En dépit des coups de chapeau à Simon Bolivar et des déclarations lénifiantes dans des sommets régionaux sans lendemain, l'ALBA est non seulement minoritaire en Amérique latine, ce qu'on savait depuis le début, mais elle évolue à contre-courant des orientations prédominantes, sur des sujets aussi essentiels que les droits de l'homme, le désarmement ou l'ouverture économique et commerciale.

More of the same, and same of the more: Brazilian diplomacy - Marcelo de Paiva Abreu

Entre desejos e realidade
Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de S. Paulo, 1/04/2013

Beira a monotonia insistir em que o Brasil, na presidência de Dilma Rousseff, desistiu de ter política externa própria, inclusive no terreno econômico. O processo de satelitização de Brasília em relação a Buenos Aires é sem precedentes na história da diplomacia brasileira. Resulta, em parte, da reconhecida ojeriza da presidente ao Itamaraty, o que abre mais espaço para o miolomolismo de seus assessores diretos na área externa. Isso a despeito de sucessivos revezes: na pretendida mediação iraniana, na diplomacia hoteleira em Honduras, na trapalhada paraguaia, etc. A ênfase continua a ser em laços estreitos com o bolivarianismo, agora pós-chavista, e o neoperonismo na versão Fernández de Kirchner. Mas não se deve deixar de levar em conta a maleabilidade do Palácio dos Arcos às imposições do Planalto. Em outros tempos, a instituição ofereceu maior resistência às pressões dos donos do poder.

Em meio ao clima de expectativas positivas quanto a um possível acordo comercial entre os EUA e a União Europeia (UE), pode ser detectado algum otimismo, em círculos empresariais nos EUA e no Brasil, em relação a ressuscitar a ideia de um acordo comercial entre o Brasil e os EUA. Tal otimismo está baseado em ilusões, com a intensidade do desejo prevalecendo sobre a realidade dos fatos.

A longa história das fracassadas negociações para alcançar a integração hemisférica é conhecida. A Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi objetivo importante para sucessivos governos dos EUA pelo menos desde o início da década de 1990. De Brasília, o projeto foi encarado com desconfiança por duas razões principais. No plano político, havia relutância quanto ao alinhamento a Washington e às possíveis limitações à diplomacia brasileira em escala global. No plano econômico, foi percebido bem cedo que o governo norte-americano não estava preparado para convencer os "interesses especiais" nos EUA, preponderantemente no setor agrícola, a fazer as concessões que seriam a contrapartida às possíveis concessões brasileiras no que se refere à proteção de bens industriais e às regras associadas a temas como propriedade intelectual, investimento direto, serviços e compras públicas. Era como se Washington pretendesse generalizar a estratégia de negociação adotada no Nafta, definida com base na maior competitividade da agricultura dos EUA em relação à mexicana. Mas, nas negociações da Alca, o Brasil era demandeur em agricultura e punha a agricultura norte-americana na defensiva. O outro tema econômico de interesse do Brasil era a limitação do escopo para o uso de medidas discricionárias de defesa comercial, tema que os EUA insistiam em que deveria ser tratado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Essas dificuldades já haviam emergido claramente no governo FHC. Com a posse do governo Lula, houve ênfase redobrada nas limitações políticas à integração hemisférica. A Alca virou anátema num quadro em que foi fortalecida a "política externa de massas". No plano econômico, a insistência dos EUA em retirar da mesa de negociações tanto subsídios agrícolas quanto defesa comercial, para tratamento na OMC, levou à proposta brasileira de fazer o mesmo com os temas não tradicionais. A Alca ficou tão "light" que se dissolveu no ar. Mas o funeral foi protelado até 2005.

A argumentação dos que acreditam que houve mudança significativa nas condições que ditaram o fracasso da Alca em 2005 está calcada em argumentos políticos e econômicos. No terreno político, alega-se que a consolidação do País como potência regional e seu avanço para tornar-se potência mundial teriam eliminado o risco de "cristalização da assimetria de poder entre EUA e Brasil". O diagnóstico deixa de lado a óbvia fragmentação que marca hoje a América Latina, entre o bloco chegado às diversas vertentes do populismo (Argentina, Bolívia, Brasil, Equador e Venezuela) e os países que têm adotado políticas mais consequentes: Chile, Colômbia, México e Peru. Também não parece razoável subestimar as fricções quanto à liderança regional entre Brasil e México. E as pretensões brasileiras em relação à diplomacia global têm sido marcadas por recorrentes decepções.

Por outro lado, e mais importante, não é possível perceber mudança significativa quanto à desconfiança do governo em relação a uma aproximação política aos EUA. Tal desconfiança talvez pudesse ser minorada pela ação de diplomatas profissionais, mas, com o Itamaraty perdendo espaço para o Planalto, isso se tornou bem pouco provável.

No terreno econômico, os argumentos estão centrados na ideia de que a ascensão da China teria tornado menos relevante o problema da concorrência norte-americana. E de que um possível acordo EUA-UE poderia atenuar o protecionismo agrícola nos EUA. Os argumentos não se sustentam. De fato, a concorrência chinesa tende a tornar mais entranhadas as resistências protecionistas da indústria brasileira. E, sendo a Europa notoriamente ineficiente na agricultura, é difícil perceber como um futuro acordo EUA-UE poderá contribuir para abrir o mercado agrícola norte-americano.

Os fatos mostram que o relançamento das negociações da Alca é muito improvável. A despeito dos desejos.

* Marcelo de Paiva Abreu é doutor em Economia pela Universidade de Cambridge e professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio.

Um dia o caldo engrossa, e como...: ainda o caso do assedio sexual de dois tarados desequilibrados...


Diplomatas brasileiros em Sydney são acusados de assédio moral e sexual

Gustavo Basso e Izabelle Mundim
Do UOL, em São Paulo

Após três denúncias feitas ao Itamaraty, oito funcionários do Consulado Geral do Brasil em Sydney, na Austrália apresentaram um abaixo-assinado pedindo a abertura de um processo administrativo disciplinar contra o embaixador e cônsul-geral Américo Dyott Fontenelle e o cônsul-adjunto do órgão, o conselheiro Cesar de Paula Cidade, acusados pelo grupo de assédio moral e sexual, homofobia, discriminação e abuso de poder.
  • Reprodução O embaixador Américo Fontenelle já havia sido investigado em 2007, quando era cônsul-geral em Toronto (Canadá)
Segundo as denúncias, o comportamento "agressivo, discriminatório e humilhante" dos dois diplomatas, transferidos para Sydney em 2010, fez com que oito funcionários do consulado pedissem demissão e seis solicitassem transferência do quadro permanente nos últimos dois anos. O texto do abaixo-assinado também cita "o assédio sexual sofrido e relatado durante os depoimentos pelas funcionárias Márcia Regina Monje de Castro, Viviane Hottume Jones e funcionária que recentemente demitiu-se".
Américo Fontenelle já foi investigado por assédio moral e sexual em 2007, quando atuava em Toronto, no Canadá, mas a sindicância acabou arquivada pela dificuldade de se obterem provas materiais, apesar dos "elementos testemunhais relevantes".
Fontenelle está em período de férias, não relacionado com o caso, e Cidade está sob licença-médica. Ambos devem voltar ao trabalho até o fim desta semana. À reportagem do UOL, Cidade afirmou que não irá se pronunciar enquanto não houver o resultado da investigação. Fontenelle não foi localizado.
Em março, o embaixador do Brasil no Kuwait, Roberto Abdalla, foi enviado a Sydney para analisar o caso. O diplomata apresentou seu relatório à Comissão de Ética, que, até o final de abril, deverá decidir sobre a abertura ou não de um processo de apuração ética, segundo o Itamaraty.
  • Reprodução O conselheiro César Cidade é acusado de ter atirado uma caneca em um ataque de raiva
Em entrevista ao UOL, funcionários relatam que Abdalla tentou dissuadi-los de prosseguir com as denúncias de assédio moral, o que, segundo o Itamaraty, não foi registrado oficialmente.
O funcionário Luis Henrique Neves, responsável pelo setor comercial e de investimentos do órgão, afirmou que Abdalla tentou convencê-lo de que os episódios que narrava não correspondiam às acusações. Ele diz ainda que, na semana anterior à visita do embaixador do Kuwait, Fontenelle advertiu os funcionários que Abdalla e ele eram grandes amigos e, por isso, a diligência não daria em nada.
"Meu depoimento ao embaixador do Kuait foi interrompido quando o cônsul-geral entrou, sem bater, perguntando a Roberto, como chamou Abdalla, se a feijoada do almoço estava boa", conta.
O oficial de chancelaria Alberto Pinho Amarilho disse que na entrevista com Abdalla, quando contava episódios vividos no órgão, ouviu do embaixador que era visível o quão fragilizado estava e que deveria procurar ajuda médica.
A assessoria de imprensa do Itamaraty afirmou que Abdalla não pode falar com a imprensa para não invalidar o sigilo da investigação, informação que foi repetida pela secretária do embaixador no Kuait, ao tentar contatá-lo.

'Bola da Vez'

Viviane Jones, auxiliar administrativa do consulado desde novembro de 2011, já havia trabalhado lá entre 2006 e 2007, e disse que suas experiências até então eram positivas.
Em entrevista ao UOL, ela contou que, na segunda passagem, foi alertada pelos colegas sobre o comportamento dos novos chefes. "Eles estão sempre atrás de você, atrás da porta, ouvindo", afirmou, ressaltando que já no primeiro dia ouviu gritos por chegar atrasada.
Segundo ela, Fontenelle costumava fazer piadinhas e falar coisas inadequadas às mulheres. "Já fazia com as mulheres que estavam lá. Quando cheguei, passei a ser a bola da vez. Ele gosta de chegar de surpresa, sorrateiro, dando susto, e falar algo ao ouvido ou tocar de modo invasivo", disse Viviane.
Em um dos episódios, ressaltou ela, quando estava abaixada na cozinha, o cônsul-geral entrou e, ao vê-la, disse "você está em uma posição muito sugestiva". Viviane disse que saiu rapidamente do local.
As denúncias narram episódios de gritos, xingamentos tanto entre o embaixador e o conselheiro quanto com funcionários do consulado e até com pessoas que iam ao local atrás de serviços. Amarilho, funcionário do Itamaraty deslocado para Sydney em fevereiro de 2012, contou já ter sido ofendido por deixar migalhas de pão na cozinha e ter presenciado Cidade atirar uma caneca contra uma porta de vidro.
Segundo o oficial, é comum "funcionários tratarem de assuntos consulares complexos através de sussurros e gestos, evitando assim o envolvimento repressivo e contra-producente, tanto por parte do embaixador, quanto do conselheiro".
Viviane afirmou ainda que a maioria dos chineses que davam entrada em visto ou tentava se informar era considerada "golpista, 171, imigrante ilegal".
Luis Henrique Neves diz que para "evitar desgastar a imagem do Brasil" agenda visitantes sempre após as 15h. Segundo ele, os episódios agressivos se concentram, sobretudo, no período da manhã.

Ofensas homofóbicas

Em entrevista ao UOL, o brasileiro Helio Milani, gerente de uma loja de departamentos e morador de Sydney há nove anos, afirmou que é visível o constrangimento dos funcionários com os gritos e discursos preconceituosos dos chefes da embaixada. Ele contou que visitou o consulado em dezembro de 2012 para pedir informação a respeito de visto de permanência no Brasil para seu parceiro, australiano. Quem o atendeu foi Vivane Jones.
Segundo Milani, após questionada, Viviane foi se esclarecer com Cidade sobre o procedimento a ser adotado. A resposta do conselheiro pôde ser ouvida da recepção, onde estava o visitante: "Já falei para esse bando de 'veado' que isso não é 'veadeiro'. Que vá se informar na Polícia Federal". Milani disse que houve mais palavrões e ofensas no discurso.
Após sair do consulado sem a informação que procurava, Milani fez uma reclamação formal ao Itamaraty, mas não recebeu nenhum esclarecimento ou pedido de desculpas pelo episódio. Até hoje ele não sabe se o parceiro tem ou não direito a visto de permanência no Brasil equivalente ao que ele tem, por causa da união estável, na Austrália.

Pressão "extramuros"

Segundo Alexey van der Broocke, presidente do Sinditamaraty (Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores), as denúncias contra Fontenelle vão além dos casos que ganharam visibilidade: o de Toronto, no Canadá, e o mais recente, de Sydney, na Austrália. "A impunidade do caso de Toronto o incentivou a continuar", afirmou.
Segundo ele, o Itamaraty tem dificuldade de lidar com os casos devido ao corporativismo. "Recebemos diversas denúncias de assédio, e muitas delas não têm visibilidade nem mesmo no interior dos consulados. Os funcionários locais são os mais vulneráveis, pelo risco de demissão", disse Broocke. "O assédio é institucional, cultural nas embaixadas. E também é sofrido pelos diplomatas que, enquanto tentam subir de cargo, vivem sob pressão."
Broocke também conta que muitos diplomatas temem ter a imagem relacionada aos episódios de assédio.
Nesta quinta-feira (4), durante a participação do ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, funcionários associados ao Sinditamaraty farão um protesto. O presidente do sindicato acredita que, para que desta vez os acusados sejam punidos, o ministro deve manifestar um parecer "imparcial".
"O corporativismo do Itamaraty é o responsável pela impunidade, por isso nossa esperança é o parecer do ministro e, caso isso não aconteça, recorreremos a outros caminhos", afirma Broocke.
Ele afirmou ainda que os funcionários de Sydney foram orientados a registrarem as acusações junto à Ouvidoria do Ministério do Planejamento para "registrar a denúncia 'extramuros', tirá-la do Itamaraty".
A assessoria de imprensa do Itamaraty explicou que o órgão só divulgará um posicionamento oficial se o caso for analisado pela Comissão de Ética.
Em 21 de fevereiro de 2013, funcionários do Itamaraty em Brasília fizeram uma manifestação contra o assédio moral dentro dos escalões do ministério, no Brasil e no exterior.
A Aflex (Associação Internacional dos Funcionários Locais do Ministério das Relações Exteriores no Mundo), que representa funcionários em embaixadas brasileiras no exterior, já recebeu mais de 50 denúncias relacionadas a assédio moral e abuso de poder desde sua criação, em 2011.

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