segunda-feira, 22 de abril de 2013

Integracao Regional: novo livro - Paulo R. Almeida

Acabo de receber o meu livro: um pouquinho magro, para o meu gosto, mas foi o que me solicitaram fazer: curtinho, simples, acessível, essas coisas... 
Parece que os alunos de hoje não gostam de muita leitura, e querem coisas mais elementares.
Não sei se me conformei ao padrão...




Paulo Roberto de Almeida
Integração Regional: uma introdução
São Paulo: Saraiva, 2013, 192 p.;
Coleção: Temas Essenciais em R.I., vol. 3
Coordenadores: Antonio Carlos Lessa, Henrique A. de Oliveira
ISBN: 978-85-02-19963-7



Índice



Prefácio                       xi

Sumário                       xv

Capítulo 1. Introdução: Regionalismo,
um fenômeno complexo da economia mundial    1
     1.1 O regionalismo e a economia mundial  3
     1.2 Acordos regionais preferenciais           6
     1.3 Como surgiram, como funcionam e quais são os tipos?           10
            Questões para discussão         10
            Para saber mais            11

Capítulo 2. O conceito de regionalismo e os processos de integração   13
     2.1 Parceiros voluntários    15
     2.2 O novo regionalismo    16
     2.3 O papel dos mercados nos processos de integração    18
            Questões para discussão         21
            Para saber mais            22

Capítulo 3. Por que acordos regionais? Para quê integração econômica?        23
     3.1 Os motivos da integração econômica   25
     3.2 Os efeitos negativos da adesão a um bloco comercial  26
     3.3 Benefícios da integração           27
     3.4 A globalização              31
     3.5 A “imitação” dos modelos bem sucedidos       35
     3.6 Esquemas de integração, um processo dinâmico          37
            Questões para discussão         38
            Para saber mais            39

Capítulo 4. Como são os acordos regionais?
Que tipos de integração econômica existem?       41
     4.1 Os processos de integração econômica            42
     4.2 Cooperação intergovernamental e cooperação supranacional –
           exemplos históricos      43
     4.3 Tipos de integração econômica            45
         4.3.1 Acordos de integração superficial 46
                  4.3.1.1 Área de preferencia tarifária (APT)          46
                  4.3.1.2 Zona de Livre Comércio (ZLC)    46
         4.3.2 Acordos de integração profunda   47
                  4.3.2.1 União Aduaneira (UA)     47
                  4.3.2.2 Mercado Comum (MC)   48
                  4.3.2.3 União Econômica e Monetária (UEM)    49
     4.4 Perspectivas da regionalização e da globalização         50
            Questões para discussão         52
            Para saber mais            52

Capítulo 5. Por que não integrar: razões antigas e modernas, boas e más       53
     5.1 Examinando os efeitos adversos dos esquemas de integração  55
     5.2 A influência das teorias econômicas nas políticas de comércio internacional 57
     5.3 O pensamento latino-americano           60
     5.4 A integração na América Latina           61
     5.5 Uma avaliação complexa          63
            Questões para discussão         64
            Para saber mais            65

Capítulo 6. Como se processa a integração no plano internacional?    67
     6.1 O itinerário contemporâneo dos blocos econômicos    69
     6.2 O mercado comum       72
     6.3 Globalização com regionalização          74
            Questões para discussão         82
            Para saber mais            83

Capítulo 7. O futuro do regionalismo comercial: mais do mesmo?      85
     7.1 Diferentes visões do livre comércio     87
     7.2 As alternativas parciais de liberalização           88
     7.3 Os infratores do sistema          90
     7.4 O protecionismo, fator prejudicial à saúde do sistema            91
     7.5 Os pontos positivos das tendências atuais      92
     7.6  A marcha da insensatez           94
            Questões para discussão         96
            Para saber mais            96

Conclusão: Do Zero ao Infinito?     97
     As bondades do livre comércio, em perspectiva teórica e prática  99
     As maldades da discriminação contra terceiros: uma ameaça sempre presente      101
     O grande salto para a frente do regionalismo comercial     103

Cronologia da integração no contexto internacional      107
     Experimentos de integração no sentido lato anteriores ao GATT 108
     O sistema multilateral de comércio: integração em marcha lenta    111
     A integração na América Latina: muitas declarações, pouca integração     118
     Fim do socialismo, impulsos na globalização e na regionalização  123
     Desenvolvimentos da integração nas Américas      127
     Multiplicação, expansão e dispersão dos experimentos integracionistas   130

Glossário                   143

Bibliografia comentada       169 

Disponível no site da Editora: www.saraivauni.com.br
link: http://www.saraivauni.com.br/Obra.aspx?isbn=9788502199637

The Economic Consequences of Mister Lula - talk at Brazil Lemann Institute of the University of Illinois (1 May)

Por enquanto só o título da palestra, depois a própria:


CENTER FOR LATIN AMERICAN & CARIBBEAN STUDIES

LEMANN INSTITUTE FOR BRAZILIAN STUDIES

UNIVERSITY OF ILLINOIS AT URBANA-CHAMPAIGN



Wednesday, May 1st, 2:00pm-3:30pm

Paulo Roberto de Almeida, Sociologist and Diplomat

Brazilian Foreign Policy: The Economic Consequences of Mister Lula

http://www.clacs.illinois.edu/lemann/events/default.aspx

A Avaaz virou linha auxiliar do MST; pior: virou servical de alguns bestalhoes ecoloesquizofrenicos...

Antigamente, muito antigamente a Avaaz era uma iniciativa de almas cândidas interessadas nas boas causas da humanidade: direitos humanos, corrupção, justiça, igualdade, enfim, essas bondades que todo mundo quer e poucos conseguem implementar.
Depois de ter sido conquistada (assaltada seria o nome mais correto) por militantes das causas esquizofrênicas ela passou a ser mais uma organização "social" a serviço dos companheiros de ideias totalitárias, embora pretendidamente progressistas.
Tem uma coisa que faz muito mal à inteligência: ecologista ignorante, ou ideológico. Geralmente eles são antimercado, o que já é um sinal que algo não funciona bem entre as duas orelhas desses novos cruzados da vida pura.
Agora eles se juntaram ao MST e a um bando de trogloditas da agricultura de subsistência (geralmente a mais danosa ao meio ambiente) para demonizar uma empresa de engenharia genética, que trabalha, nesta ordem, para obter lucro, e para oferecer sementes mais produtivas aos produtores rurais. Se essas sementes são, ou não, danosas ao meio ambiente ou à saúde humana, cabe às autoridades, munidas de relatórios científicos, decidir.
Mas os reacionários da causa perdida não pretendem isso: eles querem simplesmente proibir a empresa de trabalhar, já tendo decidido, a priori, e ideologicamente, que seus produtos são nefastos.
Nefastas são suas posições, ideias (se eles têm alguma), movimentações.
A Avaaz é uma linha auxiliar do MST, apenas isto. Ela foi reduzida a isto...
Vejam abaixo sua campanha mentirosa, deformada, fraudulenta.
Paulo Roberto de Almeida 


Caros membros da Avaaz,

Uma mega empresa está gradualmente tomando conta do nosso estoque de comida e colocando o futuro dos alimentos do planeta em perigo. Mas nós podemos virar o jogo contra as empresas que, como a Monsanto, continuam a pressionar por políticas que priorizam seus lucros, ao invés do bem-estar das pessoas. Comprometa-se com uma doação no valor de R$4 agora a ajudar a parar esta perigosa dominação da nossa política e dos nossos alimentos: 

Uma mega empresa está gradualmente tomando conta do nosso estoque global de alimentos, envenenando nossa política e colocando o futuro da comida do planeta em perigo. Para impedir que isso aconteça, temos que desmascará-los e desarticular a rede de controle global da Monsanto.

Monsanto, a gigante química que nos deu venenos como o Agente Laranja e DDT, tem um esquema superlucrativo. Primeiro passo: desenvolver pesticidas e sementes geneticamente modificadas (GM) projetadas para resistir aos mesmos pesticidas, patentear as sementes, proibir os agricultores de replantar suas sementes ano após ano e, em seguida, enviar espiões para investigar e processar os agricultores que não cumprirem essas diretrizes. Segundo passo: gastar milhões em lobby com funcionários do governo e contribuir para campanhas políticas, colocar ex-figurões da Monsanto em altos cargos no governo, e, em seguida, trabalhar com eles para enfraquecer os regulamentos e colocar os produtos da Monsanto nos mercados mundiais.

Como a lei dos EUA permite que as empresas gastem quantias ilimitadas para influenciar a política, muitas vezes isso significa que elas podem comprar as leis que quiserem. No ano passado, a Monsanto e empresas gigantes de biotecnologia gastaram absurdos US$45 milhões para acabar com uma iniciativa que rotularia produtos GM na Califórnia, ainda que 82% dos estadunidenses queiram saber se estão comprando GM ou não. Neste mês, a empresa ajudou a forçar a aprovação da "Lei de Proteção da Monsanto", que impede os tribunais de proibirem a venda de um produto, mesmo que este produto tenha sido aprovado pelo governo por um equívoco.

O poder da Monsanto nos EUA serve de base para que a empresa exerça seu domínio ao redor do mundo. No entanto, corajosos agricultores e ativistas da UE, do Brasil, da Índia e do Canadá estão resistindo e começando a vencer.

Estamos em um ponto de inflexão global. Se quantidade suficiente de nós nos comprometer-se com uma doação no valor de R$4 agora, poderemos unir forças para romper o controle da Monsanto sobre nossa política e comida e ajudar a acabar com a apropriação dos nossos governos pelas grandes corporações. A Avaaz só irá processar sua doação se conseguirmos o suficiente para fazer uma diferença real:


A Monsanto está na linha de frente de uma verdadeira tomada da agricultura industrial - atropelando os pequenos agricultores e pequenas empresas, enquanto grandes fazendas de monocultura sugam os nutrientes da terra, diminuem a diversidade genética, e criam a dependência de fertilizantes, pesticidas e outros produtos químicos. A ironia é que não é claro que a dizimação da agricultura natural e sustentável tenha trazido qualquer aumento no rendimento das culturas. Apenas mais lucro para as empresas. Nossos governos deveriam intervir, mas o lobby da Monsanto impede que eles façam qualquer coisa.

O monopólio da Monsanto é de cair o queixo: eles possuem patentes sobre mais de 96% das sementes transgênicas plantadas nos EUA. E, além das preocupações sobre saúde e segurança, as mesmas patentes permitem que a Monsanto impeça qualquer agricultor ou cientista de testar suas próprias sementes! Ainda assim, alguns países conseguiram proibir ou restringir produtos da Monsanto.

Eles afirmam que seus produtos custam menos, mas muitas vezes os agricultores são atraídos para contratos plurianuais - os preços dos grãos sobem, são levados a comprar novas sementes a cada temporada e usar mais herbicidas para manter a plantação livre das "super ervas-daninhas". Na Índia, a situação é tão calamitosa que uma área de produção de algodão tem sido chamada de "o cinturão do suicídio", pois dezenas de milhares dos agricultores mais pobres tiraram suas vidas para escapar de uma dívida tenebrosa.

Mas os agricultores e cientistas também estão reagindo e vencendo. Um grupo na Índia ajudou alcançar a vitória de três batalhas em torno de patentes de produtos que não eram geneticamente modificados contra corporações e, no Brasil, cinco milhões de agricultores processaram a Monsanto pela coleta injusta de royalties, tendo recebido uma indenização de $2 bilhões! Cientistas estão fazendo campanha a favor dos modelos de agricultura sustentável e, só na semana passada, 1.5 milhão de nós aderiu à luta contra as patentes convencionais na UE.

Apenas um enorme protesto, global e unificado, pode enfrentar frente a frente a Monsanto e o controle dos nossos governos pelas grandes corporações. Vamos expor este poder de comando sobre nossas democracias, ajudar os agricultores a lutar, desafiar leis e patentes injustas, e enfrentar de igual para igual o lobby das corporações. Comprometa-se com uma doação no valor de R$4 e apoie um plano de ação agora:


Nosso tempo está se esgotando. Para enfrentarmos enormes crises ambientais, climáticas e alimentares, precisamos de uma agricultura sustentável e de inovação - mas isso é mais bem feito por diversos agricultores e cientistas que sabem o que funciona melhor em diferentes ecossistemas, ao invés de um bloco empresarial impulsionado por seu próprio lucro, que busca o controle do futuro de nossos alimentos.

Este Golias das corporações está aumentando seu poder em todo o mundo. Mas se nossa forte comunidade de 21 milhões de membros permanecer unida, teremos uma chance. Membros da Avaaz resistiram repetidas vezes contra os maiores vilões do mundo, e venceram. Agora é hora de crescer ainda mais e salvar nossas políticas da influência de interesses especiais, proteger nossa oferta de alimentos, e obter justiça para os agricultores pobres.

Com esperança e determinação,

Alice, Oli, Joseph, Ricken, Pascal, Chris, Michelle, Emily, e toda a equipe da Avaaz Mais informações:

Grãos do descontentamento (em inglês) (Texas Observer):

Monsanto processa pequeno agricultorpara proteger a patente das sementes (em inglês) (The Guardian):

Divulgadas as contribuições políticas (em inglês) (Monsanto):

A verdadeira Lei de Proteção da Monsanto: como gigantes da GMcorrompem reguladores e consolidam seus poderes (em inglês) (ThinkProgress):

Lei de Proteção da Monsanto coloca as empresas de comidas GM acima dos tribunais federais (em inglês) (The Guardian):

Biodiversidade para alimentos e agricultura (em inglês) (UN Food and Agriculture Organization):

A colheita do medo da Monsanto (em inglês) (Vanity Fair):

Wikileaks mostra como os EUA pressionam por produtos GM na UE (em inglês) (The Guardian):

USDA dá sinal verde para semente de milho GM inútil (em inglês) (Mother Jones):

Fontes adicionais (em inglês) (Avaaz):

A Avaaz é uma rede de campanhas globais de 21 milhões de pessoas que se mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem questões políticas internacionais. ("Avaaz" significa "voz" e "canção" em várias línguas). Membros da Avaaz vivem em todos os países do planeta e a nossa equipe está espalhada em 18 países de 6 continentes, operando em 17 línguas. Saiba mais sobre as nossas campanhas aqui, nos siga no Facebook ou Twitter.

Você está recebendo essa mensagem porque assinou a campanha "Community Petitions Site" no dia 2012-09-28 usando o seguinte endereço de email: pralmeida@me.com.
Para garantir que as mensagens da Avaaz cheguem à sua caixa de entrada, por favor adicione avaaz@avaaz.org à sua lista de contatos. Para mudar o seu endereço de email, opções de idioma ou outras informações pessoais, entre em contato conosco, ou clique aqui para descadastrar-se.

Para entrar em contato com a Avaaz, não responda este email, escreva para nós no link www.avaaz.org/po/contact.

==========

Eu escreveria a eles: dizendo que eles são linha auxiliar dos neandertais do MST...
Paulo Roberto de Almeida 

Margareth Thatcher, seu legado e a América Latina - Paulo Roberto de Almeida


Margareth Thatcher, seu legado econômico e a América Latina

Paulo Roberto de Almeida

Recebi, de um estudante de jornalismo preparando reportagem sobre a morte da ex-primeira-ministra Margareth Thatcher e seu legado econômico, as seguintes perguntas para responder:
2) A crise econômica de 2008 é uma comprovação de que o modelo econômico da ex-primeira-ministra era falho? De que forma os críticos ao neoliberalismo se apropriam das crises econômicas dos últimos anos para fundamentar seus argumentos contra Thatcher?
3) Qual é o legado deixado por Thatcher? Esse legado pode ser classificado em positivo ou negativo? 

Como as perguntas encontram-se na ordem exatamente inversa de importância substantiva, e de relevância jornalística, altero sua ordem e passo a responder sumariamente o que segue abaixo. Como também sei que apenas parte reduzida de minhas respostas será aproveitada na matéria em preparação, permito-me postar neste blog a integralidade de meu texto.

1) Qual é o legado deixado por Thatcher? Esse legado pode ser classificado em positivo ou negativo?
PRA: Nenhum legado de dirigente político pode ser visto de forma maniqueísta, ou bom ou mau, ou positivo ou negativo, ou branco ou preto. Isso se chama reducionismo, ou simplismo. Todo dirigente, nas circunstâncias dadas em que recebe o poder e inicia um governo, tem de enfrentar um conjunto de desafios que são de diversas ordens: conjunturais (se o país está em crescimento ou em recessão, por exemplo), estruturais (se o país conhece um processo sustentado de modernização e de melhorias sociais), ou sistêmicas (como funcionam os sistemas de saúde, de educação, de segurança, a logística e o ambiente dos negócios, a infraestrutura, etc.). Para cada um desses conjuntos de problemas, o novo dirigente tem de fornecer soluções, em parte baseados em seu programa eleitoral (de candidato), em parte com base na expertise de seus auxiliares (ministros e outros dirigentes), e em parte ainda em função das possibilidades do governo em questão (déficit ou superávit orçamentário, desequilíbrios nas contas públicas, situação do balanço de pagamentos, carências sociais, etc.).
O Reino Unido que Margareth Thatcher “herdou” dos trabalhistas, em 1979, era um país em perfeita decadência, como eu próprio constatei, visualmente, ao visitar a Inglaterra pouco antes de sua vitória eleitoral: um país sujo, em constantes greves, com serviços públicos funcionando precariamente, desemprego, delinquência, inflação, déficits interno e externo, desconfiança e desalento da população, pouca confiança na sua capacidade de cumprir requisitos de defesa estabelecidos pela OTAN, enfim, quase um país de Terceiro Mundo, que no começo daquela década ainda havia enfrentado uma crise série de desvalorização da libra.
Esse era o resultado de décadas de um pacto perverso entre a “CUT” e a “Fiesp” deles, entre patrões e sindicatos, a TUC, o Trade Union Congress, que fazia chantagem para conseguir aumentos reais de salários para os seus afiliados, mesmo que isso significasse mais inflação para o resto da população e o Labour (mas mesmo o Partido Tory, os Conservadores) eram complacentes com esse estado de coisas, levando o país à prostração. O dono do venerável e mais do que secular jornal Times não podia tomar decisões quanto à modernização do seu parque gráfico, pois era o sindicato dos gráficos que decidia quantos trabalhadores eram necessários para rodar o jornal diariamente. Sindicatos de ferroviários, eletricitários, condutores de ônibus e até coveiros mantinham a população refém de suas chantagens salariais. Esse era o país que Thatcher assumiu.
A continuidade desse estado de coisas, depois de duas ou três décadas de “consenso” socialdemocrata levaria o Reino Unido a uma decadência ainda mais forte: sua economia já tinha sido ultrapassada pela da Itália (ainda em crescimento) e se colocava entre as últimas da Europa pela baixa dinâmica de investimentos e inovações. Pouco depois, a colônia Hong Kong, com seus milhões de chineses morando em sampans no Rio das Pérolas, ultrapassaria a metrópole em renda per capita, o que terminou de humilhar a Grã-Bretanha.
Se considerarmos que depois de Thatcher a Inglaterra era um dos países mais dinâmicos da Europa, com o dobro do crescimento dos países continentais, e a metade de suas taxas de desemprego, com um setor financeiro renascido das cinzas, e o país acolhendo investimentos estrangeiros, podemos considerar que, sob esse ponto de vista, seu legado foi positivo. Tão positivo que o Labour, obrigado a corrigir seu programa econômico esquizofrênico (datado de 1919, e que ainda recomendava coletivização da economia) e a manter praticamente intactas todas as realizações econômicas da era Thatcher. Algo semelhante ocorreu no Brasil, com o pacto perverso da CUT com a Fiesp produzindo inflação desenfreada nos anos pré-Real, com o PT se opondo de maneira desleal ao programa de privatização e tentando sabotar o Plano Real, se opondo (até no STF) à Lei de Responsabilidade Fiscal, acusando mentirosamente o governo que terminava de ter deixado uma “herança maldita” (quando foi a própria campanha de Lula e a política econômica esquizofrênica do PT que produziram a crise de 2002), para finalmente roubar o “software” dos inimigos demonizados de forma fraudulenta e passar a governar exatamente com os mesmos instrumentos e ferramentas do governo anterior, mantendo todas as suas políticas. O Labour foi obrigado, como o PT o foi, a governar de forma mais racional e mais responsável. Esse foi o legado da Thatcher, como foi para o Brasil o legado de FHC e do PSDB para o governo de Lula e do PT.

2) A crise econômica de 2008 é uma comprovação de que o modelo econômico da ex-primeira-ministra era falho? De que forma os críticos ao neoliberalismo se apropriam das crises econômicas dos últimos anos para fundamentar seus argumentos contra Thatcher?
PRA: A crise de 2008 não tem nada a ver com um suposto modelo econômico de MT. Quem tem modelo econômico são acadêmicos de gabinete. Margareth Thatcher tinha um imenso desafio a resolver, o que ela fez, não aplicando algum modelo econômico, como gostam certos economistas teóricos e keynesianos de botequim, mas sim algumas ideias bem simples, como aliás se encarregam de lembrar que a filha de um quitandeiro chegou a ser primeira-ministra: um país, um governo, não pode viver acima de seus meios (e isso vale para uma casa, para uma empresa e para a economia nacional); uma empresa privada, buscando lucro, sempre será mais eficiente do que qualquer governo tentando prestar um serviço coletivo; uma empresa estatal sempre será deficitária, e buscará recursos no governo; sindicatos são máquinas de criar desemprego e reservas de mercado, assim como o fazem patrões protegidos da concorrência interna (por carteis) ou externa (por tarifas altas e protecionismo regulatório); concorrência sempre é boa para satisfazer os consumidores; controles de preços nunca dão certo; taxar muito o trabalho provoca desemprego; taxar muito o capital gera desinvestimentos e fuga de capitais; manipular juros e câmbio acabam dando em desastres e o melhor é deixá-los o mais possível próximos do equilíbrio de mercado; um país não pode estacionar no processo de modernização, e sim continuar sempre inovando e sendo competitivo para simplesmente não ser ultrapassado por economias mais dinâmicas; enfim, um conjunto de ideias simples que eram bem mais pragmáticas do que teóricas.
Se algum modelo havia em suas “receitas” para corrigir o país decadente que era o Reino Unido esse era o da economia liberal, cujos fundamentos ela foi buscar em Ludwig Von Mises e em Friedrich Hayek. Isso não tem nada a ver com neoliberalismo, um falso conceito inventado pela esquerda órfã do desastre socialista para tentar encontrar um rótulo qualquer para aqueles que estavam revertendo décadas de políticas keynesianas que levaram os países à estagnação e à crise. Se tratava de liberalismo clássico, apenas isso, aquele fundamentado em Adam Smith, David Ricardo, James e John Stuart Mill, e nos já citados economistas da escola liberal alemã ou austríaca.
A crise de 2008, como várias outras crises – basta ler o clássico de Charles Kindleberger, Pânicos, Manias e Crises – foi criada por uma bolha, como sempre ocorre (financeira, da bolsa, de títulos do governo, etc.). Desta vez foi a bolha imobiliária que precipitou a crise bancária americana e daí para o resto do mundo, pelo funcionamento em rede dos mercados financeiros. Quem criou a crise foram os governos, ao manterem juros artificialmente baixos, ao estimular indevidamente e exageradamente a construção imobiliária, ao expandir o crédito acima da capacidade de endividamento das família (e ao oferecer garantias falsas para casos de insolvências), enfim, ao manipular os mercados e os indicadores macroeconômicos. Ora, a economia liberal se coloca frontalmente contrária a todas essas manipulações do governo e prega, justamente, juros de mercado, garantias reais, investimento sustentado em ativos financeiros existentes, não em crédito criado artificialmente pelos governos; os liberais verdadeiros pregam inclusive falências bancárias, em caso de sobre-exposição dos bancos, assim como se coloca contra o monopólio emissionista dos governos, gerador de inflação e de desvalorização da moeda, deixando todos bem mais pobres.
Os supostos críticos do neoliberalismo deveriam dirigir suas baterias contra os governos, não contra os economistas liberais. Afinal de contas são os governos que fixam as taxas de juros, que emitem moeda, que expandem o crédito, que dão garantias aos compradores de casa (ao avalizar seus títulos hipotecários), são eles que manipulam o câmbio, não os mercados, que simplesmente reagem segundo as reações espontâneas e não coordenadas de milhares de agentes econômicos individuais, que estão sempre buscando valorizar ou aumentar seus ativos atuando de maneira especulativa. Os supostos crises do neoliberalismo estão totalmente equivocados em suas críticas a mercados desregulados, pois a regulação dos governos, e das instituições multilaterais – como BIS ou FMI, por exemplo – é muito intensa e extensa, apenas que feita por burocratas, que não podem, obviamente, prever todos os movimentos de milhares de agentes econômicos disputando fatias de ganhos especulativos nos mercados.
Os keynesianos são os mais equivocados de todos, pois eles acreditam que governos podem, impunemente, produzir bondades, apenas “injetando liquidez” nos mercados, ou seja, emitindo dinheiro, produzindo inflação, déficit ou dívida pública. O próprio conceito macroeconômico de Keynes é equivocado, ao ignorar as lições mais elementares da microeconomia, como a lei da oferta e da procura e do equilíbrio dos mercados. Não foi o neoliberalismo, nem a austeridade que provocou as crises na Grécia, na Irlanda ou em Portugal, e sim a prodigalidade gastadora dos governos, sua irresponsabilidade no tratamento da política monetária, as bondades distribuídas de forma irresponsável pelos políticos sob a forma de altos salários para os funcionários públicos, as pensões generosas, os muitos seguros sociais existentes (que levam a um exército de assistidos com o dinheiro público, ou seja, de todos), etc. Nenhum banqueiro ou especulador de Wall Street obrigou a Grécia a se endividar de forma irresponsável; foram seus governos que tomaram recursos externos (sob a cobertura do euro e das taxas de juros mais favoráveis) acima da capacidade do país, que dispunha de produtividade abaixo do aceitável para atuar da forma como fizeram seus dirigentes.
Não há tampouco legitimidade nas críticas dos sociais-democratas contra a política social de Margareth Thatcher, pois ela legou um país mais organizado, com mais investimentos e maior nível de renda, ultrapassando novamente a Itália e a França. Os problemas que advieram depois, muito depois, em 2008-2009, não têm nada a ver com a sua gestão, terminada em 1991, e continuada integralmente sob Tony Blair (assim como Lula continuou com as políticas de FHC, que estão sendo desmanteladas, todavia, a partir de 2006).

3) Gostaria de saber se houve de fato alguma influência da política econômica de Thatcher na América Latina. Caso essa influência seja real, de que forma ela ocorreu?
PRA: Não, redondamente não. Se houve, foi tardia, equivocada, incompleta, ou implementada fora dos parâmetros. A América Latina já estava em crise bem antes de MT começar seu ciclo de mudanças de política econômica exclusivamente talhada para a situação do seu país, sem nada a ver com a situação dos países latino-americanos. A crise destes tinha a ver com o esgotamento das políticas de crescimento para dentro, com forte introversão econômica, excessivo protecionismo, manipulações exageradas dos governos nos mercados de capitais, laboral, no câmbio, nas políticas relativas ao investimento estrangeiro (fortemente restringido, como aliás todo o comércio) e dezenas de outros exemplos de dirigismo excessivo, estatizações e monopólios abusivos, controles de preços, de estoques, tributação excessiva e outros pecados mais ou menos mortais. Mais do que tudo, os países abusaram da liquidez financeira provocada pela alta dos preços do petróleos e a reciclagem de petrodólares para se endividarem além da conta (aproveitando os juros baixos, aliás abaixo da inflação, ou seja negativos), e a partir da elevação dos juros pelo Federal Reserve, em 1979, se descobriram incapazes de honrar, sequer suas dívidas, mas o simples pagamento do serviço da dívida. Ou seja, os problemas dos países latino-americanos tinham algo a ver, mas em nada deviam à decadência inglesa pré-Thatcher.
Da mesma forma, a solução encontrada não se encontrou num suposto modelo “thatcheriano” de política econômica, e sim em respostas desenhadas pelos próprios países, com a ajuda do FMI e de economistas liberais, no sentido de inverter todas aquelas políticas descritas acima. A reversão começou no México, logo em seguida à sua crise da dívida externa (1982), num momento em que as políticas econômicas de Thatcher sequer tinham começado a fazer efeito, o que só ocorreu a partir de meados da década; depois as mesmas políticas foram aplicadas no Chile e paulatinamente em outros países (mas o Brasil e a Argentina foram os mais tímidos, ou incompetentes, em aplicá-las, e por isso conheceram crises hiperinflacionárias, desvalorizações cambiais, mudanças de moedas e outros desastres, já bem depois que Thatcher abandonou o governo inglês. É um mito que os países latino-americanos tenham aplicado suas políticas, inclusive porque elas eram inaplicáveis fora do contexto britânico, com exceção, talvez, das privatizações de monopólios estatais, o que aliás respondia simples bom senso (as estatais eram ineficientes, deficitárias e não atendiam aos consumidores), e não por que isso fosse determinado por sofisticadas teorias econômicas.
Esse amálgama indevido, fantasmagórico, inexistente, totalmente equivocado entre um suposto “thatcherismo” econômico, mais a chamada “reaganomics” – que tampouco existiu, pois o presidente era um ignorante em econômica, se contentando com algumas ideias simples, geralmente liberais, mas sobretudo pragmáticas, um pouco como Thatcher, aliás – e o famoso “Consenso de Washington”, e a alegada influência dessas ideias “neoliberais” – um conceito equivocado, como já se disse – na América Latina são construções surrealistas criadas por uma esquerda desprovida de ideias claras sobre os processos econômicos, e que se compraz em colar rótulos vazios em dirigentes que aplicam políticas que contradizem seu keynesianismo de botequim. O chamado “Consenso de Washington”, por falar nele, é posterior ao início da fase de reformas em alguns países da América Latina, e visa, justamente, condensar num conjunto de ideias simples (mais uma vez) os ensinamentos de quase dez anos de reformas econômicas na região. Ele está orientado pelos mesmos princípios: equilíbrio fiscal, baixa inflação, orçamentos realistas, taxas de juros e de câmbio bem mais determinadas pelos mercados do que pelos governos, privatização e desmonopolização, abertura a comércio e aos investimentos, proteção dos ativos proprietários, etc. Nunca falou da liberalização dos movimentos de capitais ou da abertura financeira, como parece ignorar a esquerda. E, tanto quanto o “thatcherismo”, ele nunca foi aplicado na América Latina como se fosse um modelo prêt-à-porter, aplicável em quaisquer circunstâncias. Esse é outro mito, e uma outra mentira de certa esquerda, que manifestamente não entende de economia ou de processos reais de governança econômica (geralmente acadêmicos que atuam com base apenas em slogans políticos).
O único exemplo, provavelmente, de políticas à la Thatcher aplicadas na região se referem, como já indicado anteriormente, às privatizações de monopólios estatais, mas isso era uma decorrência da própria situação falimentar dessas empresas, não que houvesse um manual thatcheriano para empreender essas medidas (tanto porque cada processo foi diferente de um país a outro, provocando resultados bons e outros maus). Abertura a investimentos nem é uma ideia thatcheriana, e sim uma velha realidade da região (e de todas as outras), enterrada durante a grande dominação keynesiana, nacionalista e protecionista das décadas de 1930 a 1980, e retomada a partir de então.
Infelizmente, a América Latina atualmente – não todos os países – parece retornar aos velhos tempos: fechamento econômico, protecionismo comercial, dirigismo econômico, reestatizações, controles de preços, manipulações cambiais, etc. O Brasil, também infelizmente, parece ter acompanhado a Argentina no seu retorno ao velho protecionismo dos anos 1970; espera-se apenas que ela não a acompanhe no retorno muito mais nefasto aos anos 1930: controles de capitais, distorções cambiais, centralização estatal de várias operações financeiras externas, o que seria um bilhete certo para o desastre econômico, que é para onde está apontada a Argentina. Nem se mencione, aqui, o desastre econômico da Venezuela, um país destinado ao desastre do seu socialismo petrolífero.
Uma Thatcher faria bem a vários países da América Latina: infelizmente não se criam líderes políticos com perfil de estadista facilmente, sendo bem mais prolífica a fauna de demagogos, populistas e falastrões (e seus conselheiros econômicos que merecem o título de keynesianos de botequim).

Paulo Roberto de Almeida (Hartford, 22 de abril de 2013)

Navios demoram mais de dois meses para carregar nos portos brasileiros...

Seria trágico se não fosse catastrófico para o comércio brasileiro.
Em uma aula, na quarta-feira passada, para alunos de um curso de MBA na Connecticut University Business School, que me perguntavam sobre o agronegócio brasileiro, eu confirmei o que sabia, ou seja: o Brasil realmente é um "killer" em produtividade agrícola e que, pelo menos até a porteira da fazenda a soja brasileira era mais barata do que a soja americana. Depois, acrescentei, os custos de transporte até o porto encareciam a nossa soja.
Não sabia, e não falei, dessa triste realidade dos portos brasileiros. Se soubesse, aliás, teria vergonha em relatar tal descalabro.
Paulo Roberto de Almeida

Mais uma empresa chinesa desiste da soja brasileira

Preocupado com apagão logístico, senador Blairo Maggi negocia na China com importadores, que ameaçam suspender compra do produto 

19 de abril de 2013 | 22h 14
Cláudia Trevisan, correspondente
 
PEQUIM - Mais uma empresa chinesa cancelou a compra de soja do Brasil por atrasos na entrega do produto, afirmou nesta sexta-feira em Pequim o senador Blairo Maggi (PPS-MT), que se reuniu com vários importadores para avaliar o impacto do apagão logístico nacional sobre o humor de seu principal cliente agrícola. 
Maggi não revelou o nome da companhia chinesa nem o tamanho da carga, mas disse que são "vários navios" destinados a uma esmagadora de soja que importa o produto por meio de uma trading do Japão.
Esse é o segundo caso em um mês de cancelamento causado por atrasos dos embarques no Brasil, onde navios estão esperando em média 65 dias para ser carregados nos portos - cada dia parado custa US$ 25 mil.
"É o fim do mundo", disse Maggi, que está entre os maiores produtores de soja do Brasil. Segundo ele, "é muito ruim" a percepção dos importadores chineses em relação aos problemas logísticos brasileiros.
Concorrência. O setor teme que os atrasos nos embarques levem os clientes chineses a optar pelo produto americano quando houver excesso de oferta no mercado - neste ano, os estoques mundiais estão em níveis historicamente baixos em razão da quebra da safra de soja nos Estados Unidos. "Estamos perdendo a credibilidade", disse Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), que acompanhou Maggi na visita à China.
Segundo o senador, eles ouviram a mesma mensagem de todos os importadores com quem se reuniram: "Eles nos disseram que darão preferência à soja americana em detrimento da brasileira, por causa da previsibilidade no embarque".
Neste ano, essa opção é limitada pela restrição da oferta nos EUA. Mas, se não houver problema na próxima safra, Silveira prevê mais 15 milhões a 20 milhões de toneladas no chamado "estoque de passagem". Em sua opinião, a maior parte dessa "sobra" poderá ficar encalhada no Brasil.
Há um mês, a maior importadora chinesa de soja, Sunrise, cancelou a compra de quase 2 milhões de toneladas do produto por causa de atrasos nos embarques em portos brasileiros.
Na época, o gerente de grãos e óleos da empresa, Shao Guorui, disse ao Estado que a Sunrise analisava a possibilidade de compensar o cancelamento dos contratos com a aquisição de soja na Argentina a partir de abril.
Segundo ele, a companhia deveria ter recebido seis navios em fevereiro e seis em março, mas a chegada dos carregamentos foi adiada para abril, em razão do apagão logístico que atinge os portos nacionais. A China é o principal consumidor da soja brasileira e adquiriu quase 70% dos US$ 17,5 bilhões exportados no ano passado.
Maggi ressaltou que a demora nos embarques gera prejuízos às processadoras de soja chinesas, que enfrentam dificuldades para cumprir os contratos com os clientes. O senador deu o exemplo da esmagadora Cofco, que paralisou a operação de uma fábrica por não ter recebido o produto comprado do Brasil no prazo previsto. "O navio está há 65 dias parado no Porto de Santos. Depois que for carregado, vai demorar mais 30 dias para chegar à China", observou.

Paraguai: depois das eleicoes, novas definicoes diplomaticas?

Editorial (sempre violentamente anti-brasileiro) do principal jornal paraguaio.
Antes uma pequena notícia:
Relações Exteriores
Patriota: não há data para retorno do Paraguai aos blocos regionais



 ==========

Itaipú y Yacyretá, prioridades para el nuevo gobierno

Editorial ABC Color, 22/04/2013
Desde que el dictador Alfredo Stroessner entregó servilmente a Brasil y Argentina el control discrecional de las usinas hidroeléctricas binacionales mediante sendos tratados negociados a espaldas del pueblo soberano, la política exterior paraguaya asumió una postura timorata y claudicante.
Esa miserable entrega de nuestra soberanía hecha por el déspota hizo que perdiéramos nuestra raison d’État, aceptando implícitamente la condición de “prisionero geopolítico” que ambas naciones limítrofes históricamente buscaron imponernos por diversos medios a través de una perversa diplomacia coercitiva. Humillante maleficio que hasta ahora nuestros gobernantes no han sido capaces de deshacer y que es la causa principal de nuestro rezago económico.
La recuperación del valor de esa razón de Estado original y su inteligente aplicación a los desafíos del presente son las dos grandes tareas que tiene por delante el gobierno del presidente electo Horacio Cartes. Resulta obvio que la renovación de nuestra diplomacia debe llevar en cuenta los grandes cambios de circunstancias que han tenido lugar con el paso del tiempo, tanto en la vida nacional como en la región y el mundo. La diplomacia contemporánea del Paraguay debe estar en consonancia con riesgos y oportunidades desconocidos a los fundadores de la primera República de la América del Sur. Pero sería un error desestimar la acertada visión que ellos tuvieron en su tiempo de los hechos y de las circunstancias que gravitaron en torno a los intereses nacionales, o considerar que esa óptica ya no sirve para anticipar muchos de los dilemas que hoy enfrenta nuestra nación en un mundo globalizado y una región ideológicamente fragmentada.
Por más de que en última instancia se admita que la visión diplomática de los Padres de la nacionalidad en su intransigente defensa de la soberanía nacional ya no se adecua a los tiempos actuales, ella, no obstante, seguirá reflejando cierto credo de autoestima acerca de la significación del Paraguay en la historia suramericana; lo que fue, lo que es y lo que será como Estado pivot enclavado entre dos grandes naciones, tradicionalmente rivales, que seguirán tapujándose por la primacía de sus intereses en nuestro país.
Más aún, con las grandes usinas hidroeléctricas compartidas, que constituyen componentes clave de la seguridad nacional de los países condóminos, Paraguay se ha convertido para ellos en un imprescindible aliado estratégico, por más que hasta ahora por arrogancia se nieguen a reconocer esta irónica realidad geopolítica. Si hasta hoy ellos se muestran reacios a reconocer como corresponde cuán importante es el Paraguay para sus intereses, eso se debe también, en gran medida, a que nuestra diplomacia no ha sido suficientemente hábil para colocarse a la altura de los desafíos y oportunidades que permanentemente tenemos en las relaciones con nuestros vecinos y socios.
En ese sentido, nuestra diplomacia debe convencer a Brasilia y Buenos Aires de que acepten a nuestro país como un socio estratégico, en vez de considerarlo un coto de caza, como hasta ahora. Lo que de ninguna manera aceptamos más los paraguayos es que nuestros vecinos y socios pretendan continuar explotando descaradamente nuestros recursos naturales engatusándonos con lisonjas y prebendas. La piedra angular de la diplomacia paraguaya ha sido siempre el principio de que todos los países son iguales y que todas las naciones tienen su dignidad. Ni Francia ni López aceptaron jamás que Brasil o Argentina les escribieran libretos de comportamiento ni roles a cumplir, y el Mariscal Francisco Solano López prefirió sucumbir al frente de sus últimos soldados antes que someterse a la voluntad de los verdugos de nuestra patria.
En más de 200 años de vida independiente, solo el autócrata Alfredo Stroessner embarró esa límpida tradición diplomática del Paraguay con la vil entrega de nuestra soberanía en ITAIPÚ y YACYRETÁ, mediante la firma de tratados leoninos diseñados por Brasil y Argentina para apropiarse indebidamente de la valiosa energía eléctrica generada en las gigantescas usinas construidas no con el dinero de los contribuyentes brasileños y argentinos –como falazmente han pregonado siempre nuestros socios– ,sino con recursos propios autogenerados por las propias centrales impulsadas por las aguas del caudaloso río Paraná de las que Paraguay es copropietario en partes iguales con sus vecinos ribereños.
El nuevo gobierno debe reinventar la diplomacia de Carlos Antonio López como la primera línea de defensa de los intereses nacionales, con la mira puesta en el desarrollo del país hasta el máximo nivel posible, posibilitando que el Estado genere las condiciones para proporcionar prosperidad y felicidad a los ciudadanos, incluido lo atinente a otros estándares, como democracia y derechos humanos, sin caer en desvaríos ideológicos perturbadores. Ese debe ser el máximo objetivo del gobierno colorado de Horacio Cartes si aspira a producir el cambio que lleva aguardando la expectante ciudadanía desde hace más de un cuarto de siglo. La clave del éxito diplomático del nuevo gobierno será la habilidad para combinar el credo nacional paraguayo a nivel estratégico, con la prudencia y flexibilidad inherentes a las relaciones internacionales.
La nación paraguaya fue y continúa siendo una sociedad pacífica, porque tiene la profunda convicción de que la lógica de la fuerza es siempre enemiga de la libertad. Por eso se ha adherido invariablemente a los principios universales que rigen las relaciones internacionales para defender sus derechos e intereses, tanto en lo político como en lo comercial, dejando siempre en claro que por ningún motivo está dispuesta a renunciar a su libertad de acción para proteger su soberanía y sus legítimos intereses. Prueba de esta determinación es que sus fronteras son íntegramente fronteras de guerra, regadas con la sangre generosa de sus hijos.
En última instancia, el desafío que enfrenta la diplomacia paraguaya de cara a la actual crisis del Mercosur no pasa por el dilema de retirarse o permanecer dentro del mismo, sino por la forma en que nosotros los paraguayos concebimos nuestra responsabilidad como país socio y los métodos para precautelar nuestros derechos dentro del bloque comercial, a modo de asegurarnos que nuestros socios no vuelvan a pisotear los acuerdos solemnemente concertados, ni valerse de los mismos para inmiscuirse en nuestros asuntos internos, violentando impunemente nuestra soberanía.
En cuanto a la indignante situación que el país sobrelleva en ITAIPÚ y YACYRETÁ desde hace cuarenta años, llegada es la hora de poner fin a esa claudicación de soberanía que la nación paraguaya tiene el derecho de repudiar porque la humilla, y le perjudicó y le perjudica en sus legítimos intereses. Para el efecto, nuestra diplomacia debe adoptar un curso de acción pragmático. Más allá de las inequidades y abusos de los respectivos tratados que deben ser rectificados, lo que ahora el nuevo gobierno debe exigir al Brasil y a Argentina es la revisión de los mismos y un acuerdo que nos restituya nuestra soberanía hollada en virtud de los leoninos tratados. De hecho, Paraguay debe reclamar el fin del manejo arbitrario de las usinas por parte de nuestros socios y la libertad de disponer libremente de la energía eléctrica que le pertenece. Si Argentina y Brasil se niegan –como es seguro que suceda– invocando el lírico principio del “pacta sunt servanda” con que siempre corrieron a los timoratos Presidentes de la República paraguayos, nuestro Gobierno debe recurrir sin más demora a las instancias internacionales de justicia, como la Corte de La Haya y la Organización Mundial de Comercio, en demanda de sus justos reclamos.
Mientras tanto, con litigio o sin litigio en proceso, las usinas binacionales continuarán operando normalmente. Y como ellas interceptan el espectro de la seguridad nacional de Brasil y Argentina, más temprano que tarde, ambos socios tendrán que atender nuestro justo reclamo. La problemática de ITAIPÚ y YACYRETÁ configura el máximo desafío que tiene por delante el gobierno del presidente electo Horacio Cartes. Un histórico desafío que desde la defenestración del tirano Alfredo Stroessner ningún Presidente de la República se ha animado a encarar, más por venalidad que por falta de determinación.
La memoria colectiva de esta humillación que sufre desde hace cuarenta años la nación paraguaya nos remite al coraje que tuvo el presidente boliviano Evo Morales cuando se le plantó al bravucón presidente del Brasil, José Ignacio “Lula” da Silva, exigiéndole el fin de la inicua explotación comercial de que era víctima Bolivia por parte de ese país con el mísero precio que le pagaba por su gas. Brasil se resistió a la justa exigencia boliviana, amenazando incluso con el empleo de la fuerza militar, pero el presidente Morales se mantuvo firme en su demanda hasta obtener lo que exigía.
Llegó la hora en que el Paraguay también debe defender con dignidad y firmeza sus derechos y soberanía hoy pisoteados por Brasil y Argentina.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...