quinta-feira, 20 de junho de 2013

Os industriais domesticados da FIESP - Editorial Estadao

Empresários, via de regra, são pessoas focadas exclusivamente nos seus negócios, procurando extrair o máximo de lucros para suas contas privadas ou para a distribuição aos acionistas. Todo o mais deveria ser secundário: políticas públicas, balanço de pagamentos, preocupações sociais, nada disso deveria interferir na busca compulsiva de negócios lucrativos, que sempre podem ser facilitados por um bom ambiente de negócios, estabilidade econômica, câmbio favorável, etc.
Mas persiste a impressão de que o mundo microeconômico pode conviver em bons termos com o mundo macroeconômico, desde que este não atrapalhe a boa marcha do primeiro. E quando atrapalha?
Bem, aí os empresários, se possível unidos, devem pedir aos poderes públicos que consertem o que está errado, do contrário terá de despedir empregados, o setor recolherá menos impostos, etc.
Curioso é quando os empresários não conseguem fazer um diagnóstico correto da situação e se unir para pedir rumos adequados aos poderes públicos.
Esse tipo de cegueira parece caracterizar a FIESP atual, o que talvez se explique por razões eleitorais. Afinal de contas, seu líder máximo, que já foi discretamente social-democrata, depois virou socialista (!!!???), voltou a ser de direita, mas o que lhe interessa mesmo é uma carreira política, o que pode estar em choque com suas funções empresariais (se é que tem alguma).
O editorial do Estadão tenta entender por que a FIESP destoa das outras duas entidades empresariais do setor industrial que menciona. Acaba chamando a FIESP de "bolivariana". Será?
Acho que é só confusão mental, a mesma que está presente nas manifestações de rua.
Paulo Roberto de Almeida

Uma Fiesp bolivariana?
 Editorial O Estado de S. Paulo, 20/06/2013

Ou o Brasil busca novos acordos comerciais ou ficará isolado, alertaram recentemente duas das mais importantes entidades empresariais, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi). O País é membro do Mercosul, um bloco marcado pelo protecionismo interno, por uma tarifa externa cheia de furos e por acordos preferenciais com parceiros em geral pouco significativos. O Mercosul é hoje muito mais um empecilho do que uma estrutura capaz de ter peso nas decisões internacionais, disse na terça-feira o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade. Opinião muito diferente aparece em estudo recém-lançado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo o documento, entender a participação do Brasil no Mercosul como um impeditivo a acordos preferenciais de comércio é apontar um falso problema. Além disso, os vizinhos do Cone Sul são apontados como "a prioridade da política comercial brasileira".
A frase do presidente da CNI é muito mais realista que a avaliação oposta. A opinião da Fiesp é mais alinhada com a do governo e mais adequada às boas relações com o ministro Guillermo Moreno, chefe do protecionismo argentino. Para justificar a prioridade atribuída ao Mercosul, os autores do estudo apontam a expansão do intercâmbio do Brasil com os membros do bloco. Desde o lançamento do Mercosul até 2011, essa corrente de comércio aumentou de US$ 4,5 bilhões para o valor recorde de US$ 47 bilhões, "com uma pauta altamente concentrada em produtos manufaturados". Faltou mostrar se o crescimento teria sido muito menor, se o bloco tivesse permanecido como área de livre comércio, sem os compromissos e amarras de uma união aduaneira.
Essas amarras limitam, sim, as possibilidades de acordos internacionais mais variados e comercialmente mais vantajosos. As limitações teriam sido mais evidentes se o governo brasileiro tivesse buscado esses acordos mais ativamente, em vez de se restringir a uma política terceiro-mundista. "O Brasil", segundo nota recente da CNI, "tem 22 acordos preferenciais, a maioria pouco relevante." Chile, Colômbia, México e Peru têm, cada um, mais de 50, muitos deles com parceiros de grande importância.
Segundo o estudo da Fiesp, o Brasil poderia "estruturar acordos-quadro amplos, com listas e cronogramas de desgravação diferenciados" para permitir a adesão gradual dos outros membros do Mercosul. Em outras palavras: pode-se contornar os limites da união aduaneira, por meio de compromissos menos ambiciosos que os acordos de livre comércio e sempre levando em conta a incorporação progressiva dos demais sócios do bloco. O principal problema continuaria sendo a resistência argentina, um dos principais obstáculos, por exemplo, à conclusão das negociações com a União Europeia.
Ainda segundo o estudo, o Brasil, com seu peso, "tem plenas condições de liderar o Mercosul" em negociações com países ou regiões de fora do bloco. Se tem essas condições, por que deixou de usá-las até hoje? Em termos práticos bem claros, o documento da Fiesp é mais um estímulo à manutenção da desastrosa diplomacia comercial dos últimos dez anos.
Mas o documento contém algo mais grave que argumentos discutíveis e propostas irrealistas. "Não apenas as regras do Mercosul são suficientemente flexíveis para acomodar as prioridades dos membros - vide a suspensão do Paraguai do bloco -, como há formas construtivas para acomodar as circunstâncias individuais de cada Estado." Mais que discutível, essa frase parece uma confissão: a Fiesp considera um exemplo de flexibilidade o golpe vibrado contra o Paraguai para que se pudesse admitir a Venezuela pela porta dos fundos?

Se é esse o caso, o alinhamento vai muito além da sujeição aos padrões de uma diplomacia econômica de quinta categoria. Envolve também o aplauso a uma política de apoio aos governos mais perigosos para a democracia na região. Será a Fiesp bolivariana?

The Great Degeneration, by Niall Ferguson (book review) - George Melloan

That maxim applies to the writings of the economic historian Niall Ferguson. The 49-year-old Glaswegian scholar isn't someone to be dismissed as some sort of eccentric or deft provocateur. He teaches at Harvard University and is a fellow at the Hoover Institution; he has written many weighty books and articles and has created five television documentary series. One, "The Ascent of Money," won an international Emmy in 2009. As a Scot, he views America with a certain detachment not available to native sons and daughters.[image]


The Wall Street Journal, June 20, 2013

A Jeremiad to Heed

U.S. future obligations exceed future revenues by $200 trillion, and state and local governments face $38 trillion in unfunded obligations.

The Great Degeneration
By Niall Ferguson
(Penguin Press, 174 pages, $26.95)

Doomsayers are never popular, but sometimes they're right. The original jeremiads uttered by the biblical prophet Jeremiah were on the money. His fellow Judeans were vanquished and enslaved by the Babylonians, just as he had warned. Moral: Don't take jeremiads lightly.
With a focus on the United States, "The Great Degeneration" warns that Western civilization has entered into a period of decline due mainly to the strangling of private initiative by the ever-encroaching state. "We are living through a profound crisis of the institutions that were the keys to our previous success—not only economic, but also political and cultural—as a civilization," he writes.
The threatened institutions are representative government, the free market, the rule of law and civil society. Mr. Ferguson is dismayed at the explosion of public debt, the destruction of markets by excessive regulation, the replacement of the rule of law by "a rule of lawyers," and the decay of civil society as represented in part by the decline of thousands of private, voluntary organizations (Rotarians, Elks, et al.) that have contributed so much to social order and progress in America.
"We humans live in a complex matrix of institutions . . . ," Mr. Ferguson writes. "Once—I'm tempted to date it from the time of the Scottish enlightenment—this matrix worked astonishingly well, with each set of institutions complementing and reinforcing the rest. That, I believe, was the key to Western success in the eighteenth, nineteenth and twentieth centuries. But the institutions in our times are out of joint."
The most worrisome evidence of decline, he believes, is the "crisis of public debt," with government budgets out of control in the U.S. and Europe. He sees outsize debt as a symptom of the "betrayal of future generations: a breach of Edmund Burke's social contract between the present and the future." Should this news leak out to college-bound American youths they might well be moved by resentment to challenge the progressive orthodoxies that infest so many campuses.
When it comes to health care and Social Security in its various forms, it is not at all clear that the government will be able to keep its promises. By Mr. Ferguson's reckoning, U.S. future obligations under present law exceed future revenues by $200 trillion (calculated at current value), "nearly thirteen times the debt as stated by the U.S. Treasury." That figure doesn't include the unfunded obligations of state and local governments, estimated at $38 trillion.
Of course, future obligations stretch over many years, and the burden consists mainly of debt service, not the debt itself. But the numbers are so huge that just the carrying charges will likely make them unmanageable without painful adjustments. One adjustment that already seems inevitable is a reduction of Medicare and Social Security benefits to future generations. The Federal Reserve also has a solution—inflation, yet another form of pain. And then there is the Obama all-purpose remedy, higher taxes. One way or another, tomorrow's citizens will pay for today's excesses.
Mr. Ferguson worries as well about the erosion of the rule of law. Not only do politicians increasingly flout the Constitution, but they are creating a proliferation of unwise and unenforceable laws and regulations. Lawyers on congressional staffs write massive pieces of legislation for other lawyers to implement and still others to interpret for clients. Thus, lawyers rule.
The Brobdingnagian Dodd-Frank Act meddles with global finance, something that Friedrich Hayek would have called a "complex system" beyond the power of mere mortals to control. Billions of transactions of infinite variety can't be managed by a law, even one that ran to 2,700 pages in its original draft. To attempt such a thing is stupid, costly and dangerous. Mr. Ferguson cites the Darwinian principle that, in the natural world, a small input in a complex system "can cause huge, unanticipated consequences." Financial systems, he argues, are much the same.

The author's argument that civil society is undergoing decay is no less depressing. As government has grown, civil society has withered, he asserts. Robert Putnam's "Bowling Alone" (2000) recorded a sharp decline in participation in civic organizations between the 1960s and late 1990s—for example, a 61% drop in PTA membership. The French author Alexis de Tocqueville marveled at the scope of American civil society in the 19th century, the many associations that owed their "birth and development" not to law but to individuals freely joining forces. Mr. Ferguson agrees with Tocqueville that "the state—with its seductive promise of 'security from the cradle to the grave'—was the real enemy of civil society."
Mr. Ferguson borders on glibness when he touches lightly on such treacherous matters as income disparities and population shifts. But on the whole his intellectual virtuosity is refreshing. "The Great Degeneration" won't be popular in the Obama White House or other centers of power. Jeremiah wasn't popular with the elders of Judea either. They tossed him in jail for his sedition. They had reason later to be sorry.

Mr. Melloan, a former columnist and deputy editor of the Journal editorial page, is the author of "The Great Money Binge: Spending Our Way to Socialism."
A version of this article appeared June 20, 2013, on page A19 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: A Jeremiad To Heed.

Resenha de "Integracao Regional", Paulo Roberto de Almeida (eu mesmo) - Cairo Junqueira

Resenha do livro: “Integração Regional: uma introdução.”, de Paulo Roberto de Almeida, por Cairo Junqueira

 
 
 
 
 
 
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ALMEIDA, Paulo Roberto de (2013). Integração Regional: uma introdução. São Paulo: Saraiva, 192 p. (Coleção Temas Essenciais em R.I.). ISBN 978-85-02-19963-7

Um dos temas mais amplos e, talvez, mais recentes na área de Relações Internacionais seja a integração regional. Os processos de criação de instituições e a formação de blocos regionais, embora datados de longa data, podem ser considerados como traços característicos da Política Internacional Contemporânea. Do mesmo modo, tal atualidade torna-se visível no ambiente acadêmico, haja vista que a integração regional é base disciplinar de diversos cursos, abrangendo até mesmo a Economia, o Direito, a Ciência Política e a Sociologia.
Como maneira de consolidar e resumir a importância desses estudos, a recente lançada “Coleção Temas Essenciais em Relações Internacionais”, organizada pelos professores doutores Antônio Carlos Lessa e Henrique Altemani de Oliveira, além de tratar de questões envolvendo estudos introdutórios e teóricos das Relações Internacionais, dedica o terceiro volume em sua totalidade à integração regional. O desafio, bem como a responsabilidade, de escrever essa obra ficou a cargo de Paulo Roberto de Almeida, diplomata de carreira, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas, professor de Economia Política do Centro Universitário de Brasília (Uniceub) e exímio pesquisador sobre relações econômicas internacionais e política externa brasileira.
Em “Integração Regional: uma introdução”, Almeida sintetiza um extenso rol de estudos teóricos, sobretudo a respeito do Mercado Comum do Sul (Mercosul), da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e das negociações multilaterais presentes no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), com sua vivência prática de negociações internacionais e do funcionamento interno dos processos de integração regional.
Ao todo, a obra é dividida em sete capítulos, além do prefácio, da conclusão e de dois complementos, sejam eles uma breve cronologia da integração no contexto internacional e um glossário com os principais termos utilizados ao longo do livro com o intuito de dirimir possíveis dúvidas do leitor. Vale ressaltar que, ao final de cada seção e do livro, Almeida disponibiliza uma série de “questões para discussão” e algumas indicações bibliográficas, respectivamente, para facilitar o aprendizado em sala de aula. Afinal, conforme apontado pelo próprio autor, trata-se da sistematização introdutória sobre termos, conceitos e blocos regionais.
No primeiro capítulo intitulado “Introdução: Regionalismo, um fenômeno complexo da Economia Mundial”, o autor dá início à temática predominante no livro: muito mais do que dissertar sobre integração regional, Almeida foca-se nos processos de integração econômica regional e, porque não dizer, internacional. Aqui, além de enumerar e apresentar os acordos regionais de integração (regionalismo) tendo como base dados do Banco Mundial, o autor abre caminho para expor seu objetivo principal, ou seja, “[...] explicar como surgiram, como funcionam e quais são os tipos atuais de acordos regionais, qual seu papel no quadro do sistema multilateral de comércio e quais seus impactos, atuais e futuros, na economia mundial” (p. 10).
De tal sorte, em “O conceito de regionalismo e os processos de integração” discorre-se a respeito do histórico de integração regional exemplificados pela Liga Hanseática (séculos XIII ao XVIII) e pelo Zollverein (1834). Posteriormente, fala-se sobre o novo regionalismo e o papel apresentado pelo mercado nesse processo marcado pelo acordo geral de comércio do GATT/OMC desde 1947, em Genebra, até os dias atuais com o impasse da Rodada Doha, acompanhada por 155 países na cidade supracitada.
Continuando com o raciocínio, Almeida nomeia o capítulo três com duas perguntas: “Por que acordos regionais? Para que integração econômica?”. Aqui são conceitualizados termos como integração e integração econômica. Além disso, apresentam-se os efeitos negativos e os benefícios de tais processos, com destaque para eficiência na produção, aumento de barganha no plano internacional, coordenação de políticas fiscais e monetárias e pleno emprego. Por fim, aglutina-se um fenômeno mais amplo e mundial, a globalização, a qual é caracterizada pela intensificação de vínculos comerciais e pelos níveis crescentes de fluxos de capitais entre empresas, como fator de propulsão ao dinamismo integracionista.
Na quarta seção, “Como são os acordos regionais? Que tipos de integração econômica existem?”, são apresentadas breves distinções entre os tipos de cooperação intergovernamental e supranacional, sendo a primeira caracterizada pela ausência de renúncia das soberanias estatais em prol do avanço integracionista, a qual é bastante característica do Mercosul. Logo após, Almeida cita, distingue e caracteriza os principais tipos de integração econômica, sejam eles: Área de Preferência Tarifária (APT), Zona de Livre-Comércio (ZLC), União Aduaneira (UA), Mercado Comum (MC) e União Econômica e Monetária (UEM). Ressalta-se, ainda, o apontamento do autor sobre a UEM, dizendo que não existe nenhum exemplo histórico para tal tipologia, até porque a União Europeia (UE) não tem total adesão ao Euro por parte dos Estados-membros.
Em “Por que não integrar: razões antigas e modernas, boas e más”, Almeida discorre sobre dois temas principais: os efeitos adversos da integração aliados às explicações das teorias econômicas nas políticas de comércio internacional e a integração regional na América Latina. Passando por Alexander Hamilton até Raul Prebisch, Bertil Ohlin e Paul Krugman, o autor evidencia seu conhecimento e preocupação com a Economia Internacional. Acerca da América Latina, traça o histórico de integração desde a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) até os desdobramentos do Mercosul, afirmando que neste último bloco ainda há “[...] aplicação de salvaguardas de maneira arbitrária ou mesmo ilegal” (p. 63), fato que fomenta as dificuldades intrínsecas ao seu esquema de integração.
Ademais, no sexto capítulo nomeado “Como se processa a integração no plano internacional?”, colocam-se em contraponto os acordos regionais com a teoria do comércio internacional. Indaga-se até que ponto a formação de blocos econômicos regionais vai ao encontro da tão evidenciada liberalização econômica mundial. Além de fazer um breve apanhado histórico da integração europeia desde os tempos da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), Almeida pontua sobre o “regionalismo aberto” caracterizado por compreender inúmeros países, abranger porção significativa dos trâmites de capitais internacionais e estar sob o guarda-chuva das regras da OMC. Vale destacar, finalmente, o apontamento do autor sobre os novos rumos da integração regional: antes dita como essencialmente comercial, vem adquirindo uma nuance cada vez mais política.
No sétimo capítulo, “O futuro do regionalismo comercial: mais do mesmo?”, reflete-se sobre o que se deve esperar dessas novas configurações regionais nos próximos anos. Novamente, Almeida mostra sua preocupação com o multilateralismo econômico vigente e construído nas últimas décadas, enfatizando, com conhecimento de causa, que há uma crise no sistema de comércio internacional. Atores importantes, dentre eles os Estados Unidos, e grande parcela dos países não respeitam as regras por eles mesmos criadas no âmbito da OMC. E complementa afirmando: “É certamente um paradoxo, e provavelmente uma ironia da história, que o país que mais lutou por uma ordem econômica multilateral, os Estados Unidos, esteja, hoje, na origem dos mais sérios ataque a essa ordem [...]” (p. 90).
Mesmo assim, Almeida passa uma visão otimista ao final da obra. Além da inovação institucional e da possibilidade de avançar no diálogo para solucionar barganhas econômicas, a integração regional e sua liberalização interna mobilizam fatores de produção e diminuem custos entre as partes envolvidas. Todavia, ao mesmo tempo em que o processo de formação de blocos regionais é benéfico para a consolidação de acordos preferenciais, ele freia as forças da globalização com um modus operandi particularista e protecionista.
Na “Conclusão: do zero ao infinito?”, o autor trata da atualidade da possível assinatura de um acordo de livre-comércio entre dois gigantes, a UE e os Estados Unidos. Mas, por que, afinal, tomar esse exemplo para concluir e resumir o livro? Porque ele retoma os ensinamentos passados ao longo da obra e ainda serve como guia para estudos futuros. De mais importante, cita-se o fato dessa possível aliança, se concretizada, ser a maior zona de livre-comércio recíproca do mundo, trazendo uma possível solução para os impasses da Rodada Doha em aberto desde 2001. Protecionismo comercial, desvalorização de capitais, controles econômicos, aumento do desemprego, dentre outros, continuarão a ser temas centrais da integração regional e do bem-estar de milhões de pessoas.
Como apontado pelo próprio autor, “Integração Regional: uma introdução”, é uma tentativa de refletir sobre méritos econômicos e virtudes políticas sob o manto em que se organizam as sociedades contemporâneas. É uma obra imprescindível para graduandos que querem compreender um pouco do debate desde integração econômica até integração regional, protecionismo até liberalização comercial, regionalismo mercosulino até integração europeia. Por trazer questões ao debate, indicar e comentar bibliografias, além de esboçar um glossário, o livro pode servir como manual para disciplinas e estudantes de Relações Internacionais e, principalmente, Economia Política Internacional. Mesclando conhecimento empírico e teórico, o diplomata e professor Almeida soube colocar em poucas páginas um vasto histórico da integração regional tanto como processo de formação de blocos por parte de Estados quanto como tema acadêmico a ser abordado nas salas de aula. Em comunhão com os outros dois volumes da “Coleção Temas Essenciais em Relações Internacionais”, cumpre dizer que são de extrema importância para a construção das Relações Internacionais aqui no Brasil.
Referência
ALMEIDA, Paulo Roberto de (2013). Integração Regional: uma introdução. São Paulo: Saraiva, 192 p. (Coleção Temas Essenciais em R.I.). ISBN 978-85-02-19963-7
Cairo Gabriel Borges Junqueira é Mestrando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB e Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (cairojunqueira@gmail.com).

Sobre as manifestacoes de "massa" (talvez muita massa e pouco cerebro) - Rodrigo Constantino

Não tenho tempo, por excesso de trabalho em outras frentes (como revisar um livro de 500 páginas, por exemplo, texto por texto, linha por linha), para comentar os eventos correntes, como se diz, ou seja, dizer o que penso sobre as "manifestações" (triplas aspas) em curso no Brasil, um ajuntamento heteróclito de vontades diversas, caminhando em direções muito diferenciadas, com espertalhões aqui e lá, vândalos em alguns cantos, e muitas pessoas de bem, sinceramente indignadas com o quadro lamentável oferecido hoje no país -- corrupção, desfaçatez de políticos, corrupção, ineficiência das políticas públicas, corrupção, vida cara, corrupção, serviços públicos vagabundos, corrupção, baixo crescimento, corrupção, inflação, corrupção, queda nos indicadores educacionais, corrupção, ameaças às liberdades por dirigentes totalitários, corrupção, etc, e chega, pois eu teria de ficar relatando todos os nossos males e desastres -- não tenho tempo, retomo, para falar de tudo isso, embora meus posts já deixam muito claro o que penso a respeito, pela minha escrita ou a de outros.
Não há muito o que dizer, por enquanto, dessa enorme transpiração, com muito pouca inspiração, a não ser que existe muita confusão mental, em quase todos os participantes, a maioria porque sabe o que não quer, mas ainda não sabe o que quer, exatamente e como conseguir, e uma minoria porque sabe bem o que quer, mas seus objetivos são tão malucos e perversos que nem vale a pena falar deles.
Na falta de tempo, portanto, faço o que mais faço aqui, postar algum material reflexivo.
Aliás, provavelmente 90% do material aqui postado é de terceiros, pois eu não vivo para ficar escrevendo no blog o dia inteiro, fazendo-o apenas nos intervalos ou no curso de leituras rápidas, que me permitem apenas e tão somente fazer comentários iniciais muito rápidos, depois de ler alguma matéria interessante que penso deva merecer registro neste blog (um repositório, ou biblioteca, de ideias e problemas).
Consoante esse espírito, portanto, vou postar uma mensagem de um amigo e um artigo de outro amigo.
Raivosos opositores podem comentar, desde que seja quanto aos argumentos, não atirando sobre o mensageiro, ou xingando o blogueiro, muitas vezes anonimamente.
Esse pessoal é tão canhestro que não consegue conviver com a liberdade de ideias.
Eu, por exemplo, leio tudo o que eles escrevem, mas eles só leem o que eles mesmos escrevem, e quando é diferente ficam com raiva e saem atirando.
Triste. Mas assim é mundo.
Mais da metade do mundo vive sem liberdade e na pobreza, justamente devido a esses energúmenos.
A parte do mundo que é rica e próspera é constituída de democracias de mercado, perfeitamente capitalistas (ainda que com muito besteirol keynesiano).
Dito isto, vamos aos materiais...
Paulo Roberto de Almeida

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Charles de Gaulle, ex-presidente francês, dizia que uma nação se ergue com conhecimento da língua pátria (já que não é possível expressar qualquer compreensão do mundo à sua volta sem conhecer bem sua forma de expressar isso aos outros); alta cultura e cristianismo. (Para quem dúvida que o Cristianismo seja necessário nessa lista, leia o capítulo 5 do evangelho de Mateus e apenas imagine sua aplicação em âmbito nacional...).

O Brasil tem vaguíssima noção dos três, talvez, hoje, zero a respeito de alta cultura...

A política apenas reflete o que está na cultura do país. A cultura é o rio mais profundo que irriga toda uma nação. Uma boa cultura gera excelentes frutos para a política, economia, saúde e para tudo o mais. Cultura não é adorno que se põe sobre uma nação. É o fundamento da mesma, sem o qual nada mais pode ser feito.

Alguém já viu por aí um novo Manuel Bandeira? Um Guimarães Rosa? Um Joaquim Nabuco? Um Machado de Assis? Um Gustavo Corção? Um Carlos Drummond? Um Gilberto Freire? 

Brasileiro sonega imposto, arruma "TV a gato", pirateia o que pode etc. De onde vêm nossos políticos, nossos governantes, se não de nossas próprias casas?

Será uma semana, um mês de protestos suficientes para mudar uma situação que já dura décadas de falecimento cultural segundo o padrão citado por De Gaulle?


Abraços.
Gustavo Carneiro de Mendonça

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Posted: 18 Jun 2013 06:53 AM PDT
Rodrigo Constantino

“A raiva e o delírio destroem em uma hora mais coisas do que a prudência, o conselho, a previsão não poderiam construir em um século.” (Edmund Burke)

Não vou sucumbir à pressão das massas. É claro que eu posso estar enganado em minha análise cética sobre as manifestações, mas se eu mudar de idéia – o que não só não ocorreu ainda, como parece mais improvável agora – será por reflexões serenas na calma de minha mente, e não pelo “linchamento” das redes sociais.

Ao contrário de muitos, eu não vejo nada de “lindo” em cem mil pessoas se aglomerando nas ruas. Tal imagem me remete aos delicados anos 60, que foram resumidos por Roberto Campos da seguinte forma: “É sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’...”

Eu confesso aos leitores: tenho medo da turba! Eu tenho medo de qualquer movimento de massas, pois massas perdem facilmente o controle. Em clima de revolta difusa, sem demandas específicas (ao contrário de “Fora Collor” ou “Diretas Já”), o ambiente é fértil para aventureiros de plantão. Um Mussolini – ou um juiz de toga preta salvador da Pátria – pode surgir para ser coroado imperador pelas massas.

Alguns celebram a ausência de liderança, se é mesmo esse o caso. Cuidado com aquilo que desejam: sem lideranças, há um vácuo que logo será preenchido. As massas vão como bóias à deriva. E sem rumo definido, não chegaremos a lugar algum desejado. Disse Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas:

Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.

Muito me comove a esperança de alguns liberais que pensam que o povo despertou e que será possível guiá-lo na direção do liberalismo. Não vejo isso nos protestos, nas declarações, nos gritos de revolta. Vejo uma gente indignada – e cheia de razão para tanto – mas sem compreender as causas disso, sem saber os remédios para nossos males. Que tipo de proposta decente e viável pode resultar disso?

Estamos lidando aqui com a especialidade número um das esquerdas radicais, que é incitar as massas. Assim como a década de 60 no Brasil, tivemos o famoso e lamentável Maio de 68 na França, quando apenas Raymond Aron e mais meia dúzia de seres pensantes temiam os efeitos daquela febre juvenil. A Revolução Francesa, a Revolução Bolchevique, é muito raro sair algo bom desse tipo de movimento de massas. Os instintos mais primitivos tomam conta da festa. Por isso acho importante resgatar alguns alertas de Edmund Burke em suas Reflexões sobre a Revolução em França, a precursora desses movimentos descontrolados.

Não ignoro nem os erros, nem os defeitos do governo que foi deposto na França e nem a minha natureza nem a política me levam a fazer um inventário daquilo que é um objeto natural e justo de censura. [...] Será verdadeiro, entretanto, que o governo da França estava em uma situação que não era possível fazer-se nenhuma reforma, a tal ponto que se tornou necessário destruir imediatamente todo o edifício e fazer tábua rasa do passado, pondo no seu lugar uma construção teórica nunca antes experimentada?

Não se curaria o mal se fosse decidido que não haveria mais nem monarcas, nem ministros de Estado, nem sacerdotes, nem intérpretes da lei, nem oficiais-generais, nem assembléias gerais. Os nomes podem ser mudados, mas a essência ficará sob uma forma ou outra. Não importa em que mãos ela esteja ou sob qual forma ela é denominada, mas haverá sempre na sociedade uma certa proporção de autoridade. Os homens sábios aplicarão seus remédios aos vícios e não aos nomes, às causas permanentes do mal e não aos organismos efêmeros por meios dos quais elas agem ou às formas passageiras que adotam.

Se chegam à conclusão de que os velhos governos estão falidos, usados e sem recursos e que não têm mais vigor para desempenhar seus desígnios, eles procuram aqueles que têm mais energia, e essa energia não virá de recursos novos, mas do desprezo pela justiça. As revoluções são favoráveis aos confiscos, e é impossível saber sob que nomes odiosos os próximos confiscos serão autorizados.

A sabedoria não é o censor mais severo da loucura. São as loucuras rivais que fazem as mais terríveis guerras e retiram das suas vantagens as conseqüências mais cruéis todas as vezes que elas conseguem levar o vulgar sem moderação a tomar partido nas suas brigas.

São importantes alertas feitos pelo “pai” do conservadorismo. Ele estava certo quanto aos rumos daquela revolução, que foi alimentada pela revolta difusa, pela inveja, pelo ódio. Oportunistas ou fanáticos messiânicos se apropriaram do movimento e começaram a degolar todo mundo em volta. Se a revolução é contra “tudo que está aí”, então quem é contra ela é a favor de “tudo que está aí”. Cria-se um clima de vingança, revanchismo, que é sempre muito perigoso. As partes íntimas da rainha morta foram espalhadas pelos locais públicos, eis a imagem que fica de uma turba ensandecida.

O PT tem alimentado há décadas um racha na sociedade brasileira. Desde os tempos de oposição, e depois enquanto governo (mas sempre no palanque dos demagogos e agitadores das massas), a esquerda soube apenas espalhar ódio entre diferentes grupos, segregar indivíduos com base em abstrações coletivistas, jogar uns contra os outros. Temos agora uma sociedade indignada, mas sem saber direito para onde apontar suas armas. Cansada da política, dos partidos, do Congresso, dos abusos do poder, as pessoas saem às ruas com a sensação de que é preciso “fazer algo”, mas não sabe ao certo o que ou como fazer.

E isso porque o cenário econômico começou a piorar. Imagina quando a bolha de crédito fomentada pelo governo estourar, ou se a China embicar de vez. Imagina se nossa taxa de desemprego começar a subir aceleradamente. É um cenário assustador. Alguns pensam que nada pode ser pior do que o PT, e eu quase concordo. Mas pode sim! Pode ter um PSOL messiânico, um personalismo de algum salvador da Pátria, uma junta militar tendo que reagir e assumir o poder para controlar a situação. Não desejamos nada disso! Temos que retirar o PT do poder pelas vias legais, pelas urnas, respeitando-se a ordem social e o estado de direito.

O desafio homérico de todos que não deixaram as emoções tomarem conta da razão é justamente canalizar essa revolta para algo construtivo. Mas como? Como dialogar com argumentos quando cem mil tomam as ruas e sofrem o contágio da psicologia das massas? Alguém já tentou conversar com uma torcida revoltada em um estádio de futebol? Boa sorte!


Por ser cético quanto a essa possibilidade, eu tenho mantido minha cautela e afastamento dessas manifestações. Muita gente acha que o Brasil, terra do pacato cidadão que só quer saber de carnaval, novela e futebol, precisa até mesmo de uma guerra civil para acordar. Temo que não gostem nada do gigante que vai despertar. Ele pode fazer com que essa gente morra de saudades do "homem cordial". Não se brinca impunemente de revolução. Pensem nisso, enquanto há tempo.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Bravo: eles ganharam a reducao: o povo vai pagar, mesmo os que nao sabem disso...

Brilhante Brasil, consegue andar para trás a cada vez:


Tarifa congelada a R$ 3 eleva subsídio para transportes em SP a R$ 8,6 bilhões nos próximos quatro anos

Todos vão pagar a conta, e incorporar o prejuízo, de uma forma ou de outra, mesmo os que não pagam passagem, não usam ônibus, ou supostamente andam de graça ou com passagem reduzida.
De uma forma ou de outra, todos vão pagar, sendo que a carga mais pesada sempre acaba com os mais pobres...
Brilhante, eles conseguiram.
O Brasil é um país de estadistas, ao contrário...
Paulo Roberto de Almeida

Viva a deseducacao brasileira (por enquanto...)

Sempre é um conforto saber que ainda temos criminosos analfabetos, como evidenciado, por exemplo, na mensagem abaixo, sem o devido link para capturar incautos:



Ministério Publico Federal
Setor de Administração Federal Sul - SAFS, Quadra 2, Lote 3, edifício Adail Belmonte, CEP 70070-600 Horário de funcionamento: segunda a sexta, 9h às 19h Telefone nº (61) 3366-9100 e Fax nº (61) 3366-9151.


Processo Nª 0002.316.1220/201302-65


Intimação de comparecimento - Justiça Federal




O MPF (Ministério Público Federal), vem por meio desta, lhe convocar para esclarecimento do processo Nª  0002.316.1220/201302-65 , o mesmo se refere ao crime do ART 171 e 155 em desfavor do vossa pessoa.
O mesmo pode comparecer na presença de seu advogado para melhor esclarecimentos para a justiça, faz saber que o não comparecimento do mesmo, acarretará, desobediência judicial.


Mas atenção, assim como a deseducação caminha célere, e a olhos vistos, entre os graduados, os pós-graduados, e agora até entre pós-docs, alguns bandidos vão chegar a ter algum curso superior, e assim passar a escrever mais ou menos corretamente, o que pode enganar um número maior de incautos.
Vamos pedir para o MEC continuar com o seu programa de deseducação generalizada em massa, presencial, online, à distância, enfim, fazer melhor aquilo que ele já faz pior.
Queremos bandidos ignorantes...
Paulo Roberto de Almeida

Reflexao do dia: o pais e seus dirigentes - Paulo Roberto de Almeida

Já se sabia que o Brasil era um país sem lei: ninguém se sente obrigado a respeitar a legalidade, a começar pelo próprio Estado, o principal infrator da lei.
Agora se descobre, também, que o país não tem estadistas, só medíocres.
A nação vai pagar um alto preço por isso.

Paulo Roberto de Almeida 
19/06/2013

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