segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Bill e Melinda Gates e os tres mitos sobre a pobreza - The Wall Street Journal

Vale um comentário, mas virá em seu tempo.
Paulo Roberto de Almeida 

Os mitos da pobreza, segundo Bill e Melinda Gates

The Wall Street Journal, 20/01/2014

Com base em quase qualquer indicador, o mundo está melhor agora do que jamais esteve antes. Os níveis de pobreza extrema foram reduzidos pela metade nos últimos 25 anos, a mortalidade infantil está em queda e muitos países que por um longo tempo dependeram da ajuda externa são hoje autossuficientes.
Então, por que tantas pessoas parecem pensar que a situação global está piorando? Grande parte da razão é que muitos se agarram a três mitos altamente prejudiciais sobre a pobreza e o desenvolvimento global. Não se deixe levar por eles.
PRIMEIRO MITO: Os países pobres estão condenados a permanecerem pobres.
Eles realmente não estão. A renda familiar e outros indicadores de bem-estar humano estão subindo em quase todos os lugares, inclusive na África.
Considere, por exemplo, a Cidade do México. Em 1987, quando a visitamos pela primeira vez, a maioria das casas não tinha água potável e vi muitas vezes pessoas caminhando longas distâncias para encher jarros de água, algo parecido à zona rural da África. O executivo que dirigia o escritório da Microsoft MSFT -1.38% na Cidade do México mandava os filhos para fazer exames nos Estados Unidos, para verificar se a poluição não estava afetando a saúde deles.
Crianças brincam numa escola primária em Dacar, no Senegal. A mortalidade infantil está em queda e muitos países que por um longo tempo dependeram da ajuda externa são agora autossuficientes, escrevem Bill e Melinda Gates.
Hoje, a Cidade do México está impressionantemente diferente, exibindo imponentes arranha-céus, um ar mais limpo, novas estradas e pontes modernas. Você ainda encontra bolsões de pobreza, mas quando visitamos a cidade agora, pensamos: "Uau, a maioria das pessoas aqui é de classe média. Que milagre." Vemos uma transformação semelhante em Nairóbi, Nova Delhi, Xangai e muitas outras cidades ao redor do mundo.
Em nossas vidas, a imagem global de pobreza foi completamente redesenhada. A renda per capta na Turquia e no Chile é similar a dos EUA em 1960. A Malásia está quase lá e o Gabão também. Desde 1960, a renda real per capta da China se multiplicou por oito; a da Índia quadruplicou; a do Brasil quase quintuplicou. E o minúsculo Botsuana, com uma gestão perspicaz de seus recursos minerais, viu a renda per capta real se multiplicar por 30. Uma nova classe de países de renda média que mal existia 50 anos atrás agora inclui mais da metade da população do mundo.
E isso é verdade mesmo na África. A renda anual per capta na África subiu 33% desde 1998, de pouco mais de US$ 1.300 para quase US$ 2.200 hoje. Sete das dez economias que mais cresceram nos últimos cinco anos estão na África.
Nossa previsão é a seguinte: Até 2035, não haverá quase nenhum país pobre no mundo. Sim, alguns países mal afortunados ficarão para trás por causa de guerras, realidades políticas (como a Coreia do Norte) ou geografia (como os países sem litoral da África Central). Mas todos os países da América do Sul, Ásia e América Central (exceto, talvez, o Haiti) e a maioria dos da região costeira da África se tornarão nações de renda média. Mais de 70% dos países terão uma renda per capta maior do que a da China hoje.
SEGUNDO MITO: A ajuda externa é um grande desperdício.
Na verdade, é um investimento fenomenal. A ajuda externa não só salva vidas, mas também estabelece as bases para o progresso econômico duradouro no longo prazo.
Muitas pessoas pensam que a ajuda externa representa uma fatia grande dos orçamentos dos países ricos. Quando os pesquisadores perguntam a americanos quanto do orçamento federal vai para a ajuda externa, a resposta mais comum é "25%". Na verdade, é menos que 1%. (Mesmo a Noruega, o país mais generoso do mundo, doa menos de 3%.) O governo dos EUA gasta mais que o dobro em subsídios aos agricultores do país do que em ajuda internacional para projetos de saúde. E investe acima de 60 vezes mais em gastos militares.
Uma queixa comum sobre a ajuda externa é que boa parte dela é desperdiçada com corrupção — e, obviamente, parte dela é. Mas as histórias de horror que ouvimos — de que a ajuda internacional só é usada para construir novos palácios para ditadores — vêm de uma época em que a ajuda era projetada para ganhar aliados para a Guerra Fria, em vez de melhorar a vida das pessoas.
O problema, hoje, é muito menor. Corrupção em pequena escala, como aquele funcionário do governo que apresenta despesas falsas de viagem, é uma ineficiência que equivale a um imposto sobre a ajuda. Devemos tentar reduzi-la, mas eliminá-la é tão difícil quanto eliminar os desperdícios de qualquer programa estatal — ou mesmo de qualquer empresa. Suponha que a corrupção em pequena escala corresponda a um imposto de 2% sobre o custo de salvar uma vida. Devemos tentar reduzir isso. Mas, se não pudermos, deveríamos parar de tentar salvar essas vidas?
Ouvimos muita gente pedindo o encerramento dos programas de ajuda quando um dólar é perdido para a corrupção. Mas quatro dos últimos sete governadores de Illinois foram parar na cadeia por corrupção e ninguém está exigindo que as escolas desse Estado americano sejam fechadas ou que se paralise a construção de suas rodovias.
Também ouvimos críticos reclamar que a ajuda internacional torna os países dependentes da generosidade estrangeira. Mas esse argumento se baseia apenas nos casos de países mais complicados, que ainda lutam para serem autossuficientes. Aqui está uma lista compilada rapidamente de ex- grandes beneficiários da ajuda internacional que vêm crescendo tanto que hoje quase não recebem mais ajuda: Brasil, México, Chile, Costa Rica, Peru, Tailândia, Ilhas Maurícias, Botsuana, Marrocos, Singapura e Malásia.
Ajuda também impulsiona melhorias na saúde, agricultura e infraestrutura que se correlacionam fortemente com o crescimento de longo prazo. Um bebê nascido em 1960 tinha uma chance de 18% de morrer antes de seu quinto aniversário. Para uma criança nascida hoje, esse risco é menor que 5%. Em 2035, será de 1,6 %. Não conseguimos pensar em nenhuma outra melhoria comparável no bem-estar humano ocorrida nos últimos 75 anos. Um desperdício? Não acreditamos que seja.
TERCEIRO MITO: Salvar vidas leva à superpopulação.
Desde pelo menos Thomas Malthus, em 1798, que as pessoas se preocupam com cenários apocalípticos em que a oferta de alimentos não consegue acompanhar o crescimento da população. Esse tipo de pensamento já causou um monte de problemas no mundo. A ansiedade sobre o tamanho da população mundial tem uma tendência perigosa de substituir a preocupação pelos seres humanos que compõem essa população.
Deixar crianças morrerem agora para que elas não padeçam mais tarde não é apenas cruel. É também uma estratégia que não funciona.
Pode ser surpreendente, mas os países que têm mais mortes também estão entre as populações que mais crescem no mundo. Isso ocorre porque as mulheres desses países tendem a ter o maior número de filhos.
Quando mais crianças sobrevivem, os pais decidem ter famílias menores. Considere a Tailândia. Por volta de 1960, a mortalidade infantil começou a cair. Logo, por volta de 1970, depois que o governo investiu em um forte programa de planejamento familiar, as taxas de natalidade começaram a cair. No curso de apenas duas décadas, as mulheres tailandesas passaram de uma média de seis filhos para apenas dois. Hoje, a mortalidade infantil na Tailândia é quase tão baixa quanto a dos EUA, e as mulheres tailandesas têm uma média de 1,6 filho. Esse movimento de queda nas taxas de mortalidade seguida por queda nas de natalidade é observado na grande maioria dos países do mundo.
Salvar vidas não leva à superpopulação. É exatamente o oposto. A criação de sociedades onde as pessoas têm acesso à saúde básica, relativa prosperidade, igualdade fundamental e acesso a contraceptivos é o único caminho para um mundo sustentável.
Mais pessoas, especialmente líderes políticos, precisam entender os equívocos por trás desses mitos. O fato é que, se você olhar para a questão como um indivíduo ou um governo, as contribuições para a promoção da saúde e desenvolvimento internacional oferecem um retorno surpreendente. Todos nós temos a oportunidade de criar um mundo onde a pobreza extrema é a exceção e não a regra.
Este texto é uma adaptação da próxima carta anual da Fundação Bill & Melinda Gates, da qual os autores são copresidentes. Gates é também presidente do conselho de administração da Microsoft.

Bresil, les priorites economiques, apres six ans de crise internationale - Interview PRAlmeida, Radio France Culture

Acabo de me ouvir, não narcisisticamente, mas simplesmente porque recebi da Radio France Culture o link da emissão, como registrado abaixo, gravada no último dia 15 de janeiro, quando eu também coloquei neste blog um texto completo, em Francês, que havia preparado como apoio.
Comparando os dois, texto e emissão gravada, vejo que saiu bastante diferente, mas acho que se completam.
Falando nisso, não pretendo me comparar a Chateaubriand, mas o fato de me ouvir, me fez lembrar uma frase dele, que preciso localizar no conjunto de sua obra (vários volumes da Pléiade):

Quand je me regarde, je me désole...
Quando je me compare, je me console...

Eh bien, écoutons...

“Brésil. Les priorités économiques, après six ans de crise internationale”, 
interview à la radio France Culture, avec le Journaliste Thierry Garcin. Émission le 20 Janvier 2014 : 06 :45hs de Paris 

Texto de apoio divulgado no blog Diplomatizzando (“Le Brésil dans l’économie mondiale”, 15/01/2014, link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/01/le-bresil-dans-leconomie-mondiale.html). 
Relação de Trabalhos n. 2555. Relação de Publicados n. 1121.  


Petrobras, energia: os companheiros mataram a estatal e afundaram pre-sal: conseguiram...

Os companheiros amavam tanto a Petrobras que a ocuparam inteiramente, a ponto de asfixiá-la por completo, e inviabilizar seu desenvolvimento normal, como companhia comercial que era. Virou um feudo do partido totalitário, uma vaca petrolífera, tornada estéril pelas políticas alopradas, em todas as áreas.
Também mexeram, para pior, na lei do petróleo de 1997, por ganância, cupidez, desejo de extorquir dinheiro.
As condições mudaram desde que foi descoberto o pré-sal.
Se os companheiros idiotas tivessem leiloado imediatamente as áreas do pré-sal, segundo aquela legislação (excelente por sinal, pois deixava o risco todo com os investidores estrangeiros), o Brasil teria arrecadado bilhões de dólares, e o petróleo já teria jorrado.
Demoraram 4 anos para fazer um novo regime (estúpido, pois obriga a Petrobras a participar de qualquer prospecção), demoraram mais de 5 anos para fazer leilões pela ANP, e agora o mercado do petróleo está mudando rapidamente.
Basta o barril cair a menos de 80 dólares -- e isso pode ocorrer rapidamente -- que o do pré-sal não valerá mais nada, pois o custo de extração supera esse valor.
Companheiros estúpidos, idiotas, criminosos econômicos, é isso que eles merecem como novas gentilezas...
Paulo Roberto de Almeida

A paralisia da Petrobrás

20 de janeiro de 2014 | 2h 05

Editorial O Estado de S.Paulo
Submetida pelo governo do PT a uma política de preços que a asfixia financeiramente e a uma estratégia que a força a investir maciçamente na área do pré-sal sem ter recursos suficientes para isso, a Petrobrás não está conseguindo acompanhar as rápidas transformações pelas quais passa o mercado mundial de energia. Está perdendo grandes oportunidades e pode estar comprometendo sua capacidade de manter-se, a médio prazo, entre as principais empresas mundiais do setor. O fato de, em 2013, os Estados Unidos terem deixado de ser seu principal comprador de petróleo, que passou a ser a China, é para ela o sinal mais eloquente das mudanças no mundo da energia.
Nos últimos anos os EUA haviam se tornado fortemente dependentes de países dos quais importavam petróleo maciçamente, como a Arábia Saudita. Mas, com o aumento rápido de sua produção interna de gás e de óleo de xisto, essa dependência vem se reduzindo rapidamente, o que poderá ter consequências políticas.
Relatórios internacionais indicam que já em 2015 os EUA poderão tornar-se o principal produtor mundial de gás natural, à frente da Rússia. Em 2017, poderão superar a Arábia Saudita na produção de petróleo (deverão continuar atrás da Rússia nesse caso). E é possível que, de grandes importadores, se tornem exportadores líquidos de combustível em meados da próxima década.
Em algum momento, a rápida mudança do papel dos EUA na produção mundial de gás e óleo alterará também - para o bem ou para o mal dos diferentes agentes do mercado - as cotações desses produtos. Há o risco de as novas cotações tornarem inviáveis projetos em andamento de exploração de petróleo cujos custos baseiam-se no preço atual do óleo, de US$ 90 a US$ 120 o barril. Estudos combinando o aumento da produção em áreas novas, como a do pré-sal, com a eventual redução da demanda de petróleo convencional, em razão do aumento da produção a partir do xisto, não afastam a possibilidade de o preço do barril cair para US$ 50.
Tudo isso poderá ocorrer em intervalo relativamente curto. Basta ver que a fatia do gás de xisto na produção de gás natural dos EUA pulou de 4% a 5% do total em meados da década passada para 34% em 2012. A projeção da agência oficial americana de estudos de energia é de que, em 2040, o gás de xisto responda pela metade da produção do país. O impacto do aumento da produção de gás de xisto sobre os preços foi notável. Em 2008, a cotação do gás natural estava em cerca de US$ 13 por milhão de BTU (British Thermal Unit, tradicional medida de energia) e atualmente está em cerca de US$ 4.
No caso do petróleo, a fatia do xisto já está perto de 30% do total produzido nos Estados Unidos. É possível que, mesmo com o aumento do óleo de xisto, os EUA continuem sendo importadores líquidos de óleo pelo menos até 2040, mas em proporção bem menor do que a atual. A redução das importações, já em curso, teve como resultado mais visível para o Brasil a queda das exportações da Petrobrás para os EUA.
Nenhuma dessas mudanças foi levada em conta pelos integrantes do governo do PT que - desde o primeiro mandato de Lula, iniciado em 2003, até agora - impuseram o atual modelo de gestão à Petrobrás. Ela hoje arca com as consequências técnicas, financeiras e operacionais desse modelo.
Usada para a acomodação de interesses partidários, a empresa perdeu parte de sua capacidade gerencial em razão de nomeações de natureza política. Transformada em instrumento de combate à inflação, foi submetida a uma política de severo controle dos preços dos derivados de petróleo, que lhe impôs perdas substanciais, porque teve de produzir e importar - pois não ampliou sua capacidade de refino para atender à demanda crescente - a um custo maior do que o valor dos produtos que vende. A política de exploração do petróleo do pré-sal impôs obrigações técnicas e financeiras a que ela não consegue responder com a eficiência e a presteza necessárias.
Nesse quadro, dificilmente poderia acompanhar as rápidas mudanças que ocorrem em todo o mundo.

A China desacelera; os companheiros se preocupam: quem podera' nos salvar? - Le Monde



La croissance chinoise à son plus bas depuis 13 ans

Le Monde.fr |  • Mis à jour le  |Par 

L'économie chinoise a enregistré une croissance de 7,7 % sur l'ensemble de l'année 2013. Il s'agit d'un niveau équivalent à celui affiché en 2012 par la deuxième économie mondiale. C'est aussi le plus bas depuis treize ans.

Le produit intérieur brut (PIB) a atteint ce même niveau de 7,7 % de progression sur le dernier trimestre 2013, selon les statistiques officielles, publiées lundi 20 janvier.
L'objectif d'une croissance de 7,5 % du PIB, que s'était fixé Pékin, est donc franchi, alors que des doutes s'étaient fait entendre au cours de l'année.
La croissance chinoise avait en effet continué à accuser, pendant toute la première moitié de l'année 2013, une décélération engagée depuis deux ans.
Le tournant est intervenu au troisième trimestre, après que le gouvernement a dévoilé, en juillet, un mini-plan de relance.
Ce dernier a été construit sur trois axes : suspendre la fiscalité des très petitesentreprises pour préserver les emplois ; réduire les contraintes administratives pesant sur les exportateurs ; et accélérer l'investissement dans les infrastructures urbaines, notamment dans la construction de lignes de métro.
Ces mesures de soutien ont eu l'effet escompté entre juillet et septembre : l'économie chinoise est remontée d'un coup de 7,5 % à 7,8 % de croissance.
Leur appui se fait également ressentir sur la fin de l'année : la production industrielle progresse de 9,7 % en décembre sur un an, les ventes de détail de 13,6 %, et l'investissement dans les infrastructures est en hausse de 19,6 % sur l'ensemble de l'année 2013.
UN NIVEAU DE CROISSANCE SIMILAIRE CETTE ANNÉE
Les économistes s'interrogent désormais sur l'objectif de croissance que se fixera Pékin pour 2014, qui sera révélé officiellement après le Nouvel an chinois, c'est à dire en mars.
Mais ce chiffre aurait d'ores et déjà été débattu en décembre, lors d'une conférence à huis clos des dirigeants du Parti communiste sur les questions économiques.
Il semble que le chiffre de 7 % aurait été évoqué à cette occasion. Mais que le plus probable est que pouvoir chinois retienne un objectif similaire au résultat de 2013, soit 7,5 % de croissance du PIB.
Nombre de banques tablent sur un scénario similaire.

Eleicoes 2014: o PSB pretende socializar o Brasil, conforme o seu programa (Veja)

Até as eleições passadas, que eu me lembre, as imprensa sequer se debruçava sobre os programas partidários, e provavelmente nunca sobre o do PSB, talvez porque o PSB nunca teve candidato próprio, e agora tem.
Eu conduzo este exercício desde as primeiras eleições livres da redemocratização, e vou atualizar meus trabalhos sobre a questão.

Revista Veja, 18/01/2014

Eleições 2014
Programa do PSB prevê estatização de indústrias e fazendas e até o fim do ensino particular; parceria com grupo de Marina Silva também pode causar dor de cabeça ao presidenciável
Gabriel Castro, de Brasília

A construção de uma candidatura presidencial envolve esforços múltiplos, como a formação de alianças, a arrecadação de fundos, a montagem de palanques regionais robustos e a definição de um programa consistente de governo. Eduardo Campos (PSB) vai bem em alguns deles, mas enfrentará dificuldades em outros. O governador de Pernambuco não poderá recorrer à base ideológica do PSB se quiser apresentar um discurso modernizador. Além disso, o relacionamento com os aliados da Rede Sustentabilidade, o quase partido idealizado pela ex-senadora Marina Silva, pode causar problemas ao projeto do presidenciável, especialmente nas coligações estaduais.
Adequar o discurso à prática será uma das missões de Campos nos próximos meses. Os fundamentos teóricos do estatuto do Partido Socialista Brasileiro ainda ecoam o discurso da Guerra Fria. As ideias expostas pelo PSB em seu programa começam pela "abolição do antagonismo de classes". No Brasil dos sonhos do PSB, o Estado não apenas interviria na economia: ele assumiria as rédeas de toda a produção industrial, das exportações e da divisão das riquezas. Instituições privadas de ensino com fins lucrativos estariam com os dias contados.
O programa partidário tem entre seus pontos centrais a estatização dos "meios de produção", o que inclui indústrias e propriedades rurais. Prega a cartilha: "A socialização realizar-se-á gradativamente, até a transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas". No campo, os donos de grandes propriedades teriam de ceder espaço a cooperativas controladas pelo Estado. O texto cita ainda outras medidas impensáveis, como a "nacionalização do crédito e das operações de seguro" e a "exclusividade da navegação de cabotagem, inclusive fluvial, para os navios brasileiros".
Campos não pode nem afirmar que discorda das ideias do PSB: ele é o próprio presidente da legenda, que teve em seu avô, Miguel Arraes (1916-2005), um de seus principais nomes. O pré-candidato à Presidência – que fez parcerias com a iniciativa privada em sua gestão à frente do Estado – nunca se preocupou em patrocinar uma mudança programática.

Como se vê, o ideário do partido de Eduardo Campos não deve ajudar muito a divulgação do candidato que se apresenta como um bom gestor público e um político livre das amarras ideologizantes. Mas os integrantes do PSB minimizam o problema.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) diz que, mais do que no programa, o partido vai se basear no exemplo demonstrado por seus governadores, como o próprio Eduardo Campos e o governador Renato Casagrande, do Espírito Santo. "Eu acho que o programa do PSB já é praticado nas nossas gestões, e são programas que mostram que nós praticamos um socialismo moderno", afirma. Delgado admite, no entanto, que alguns pontos mais radicais podem atrapalhar: "Nós temos um congresso previsto para fevereiro. Talvez nós precisemos atualizar essas linhas que não são mais imagináveis numa sociedade competitiva como a de hoje".
O incômodo é ainda maior para Paulo Bornhausen, secretário de Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina e herdeiro de uma política que nunca esteve no campo político da esquerda. Ele admite que seu ingresso no PSB – acompanhado do pai, o ex-governador Jorge Bornhausen, que foi presidente do extinto PFL (hoje Democratas) – não ocorreu por causa da solidez programática dos socialistas: "O que me encantou foi essa possibilidade de estar ao lado do Eduardo Campos, que é um reformador, um político moderno, um homem atualizado, e uma pessoa que tem a capacidade de fazer as modificações de que o Brasil precisa", diz Paulo Bornhausen.
A dissonância entre as propostas do candidato e as ideias do partido são apenas mais um exemplo do caos em que se transformou a organização partidária no Brasil. O Partido Socialista Brasileiro teve entre seus filiados, até o ano passado, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf – potencialmente, o primeiro alvo dos socialistas caso eles chegassem ao poder central. Hoje, Skaf migrou para o PMDB para disputar o governo de São Paulo. Vanderlan Cardoso, pré-candidato do PSB ao governo de Goiás, é outro milionário que resolveu aderir à legenda. "A estrutura política do Brasil é esquizofrênica", reconhece Paulo Bornhausen.

Rede – As bandeiras do PSB também estão em desarmonia com as da Rede, o movimento político de Marina Silva. Apesar de ter um conteúdo ideológico amorfo, o grupo marinista, que migrou para o PSB depois de não conseguir o registro partidário na Justiça Eleitoral, não prega soluções tão extremistas para a economia – até porque há grandes empresários patrocinando a Rede.
Além disso, o programa do PSB não faz menção ao meio-ambiente. Na verdade, o programa utópico dos socialistas prevê a manutenção das grandes propriedades rurais (que passariam a ser geridas por cooperativas) e, ao mesmo tempo, a criação de novas áreas de plantio no entorno de cada cidade. É quarto item na categoria "reivindicações imediatas": "Libertação de uma área em torno das cidades, vilas e povoados, destinada à produção de gêneros de imediato consumo alimentar local".

A harmonização das propostas de PSB e Rede deve ser formalizada apenas depois que a chapa majoritária estiver definida. O mais provável é que Marina Silva se candidate a vice-presidente. A partir desse acerto (que pode sair em fevereiro), os candidatos devem apresentar aos eleitores sua base programática. 
Pedro Ivo, uma das lideranças nacionais da Rede, diz que as divergências ideológicas não incomodam porque a parceria tem foco em 2014: "Estamos discutindo o futuro programa da campanha de Eduardo Campos, e não o do PSB. Não há nenhuma preocupação", diz. Os integrantes do grupo de Marina Silva se fiam na garantia de que a plataforma presidencial terá a defesa do meio-ambiente como um dos pontos centrais. O acerto foi feito durante o processo de adesão da ex-senadora ao partido socialista.

De qualquer forma, quando resolveram se filiar à legenda de Eduardo Campos, Marina e seus aliados automaticamente consignaram seu apoio ao que diz o item 10 do manifesto do PSB: "O partido admite a possibilidade de realizar algumas de suas reivindicações em regime capitalista, mas afirma sua convicção de que a solução definitiva dos problemas sociais e econômicos (...) só será possível mediante a execução integral do seu programa".

Alianças – As alianças estaduais são outro obstáculo à harmonia entre os dois partidos: a Rede não aceita parcerias com o PSDB, por exemplo, e pode atrapalhar os planos do PSB em São Paulo. Lá, o partido pretendia apoiar a reeleição do tucano Geraldo Alckmin, mas o grupo de Marina se opõe – porque defende o lançamento de uma candidatura própria, com o deputado Walter Feldman ou a ex-prefeita Luiza Erundina.
Já o PSB não quer trocar a coligação com o candidato favorito por um projeto aventureiro. "Marina é uma mulher idônea, com uma história de vida linda, mas a sensação que ela passa para o eleitor comum é de que tanto faz se ganha ou se perde, o que importa é a luta", diz Márcio França, presidente do PSB paulista.
A própria Marina já afirmou que, nos Estados em que o acerto não for possível, o melhor seria PSB e Rede adotarem soluções distintas: "Existirão alguns momentos em que poderemos caminhar juntos com o PSB e outros não. Somos dois partidos independentes", afirmou ela, em outubro.
Acontece que os acordos estaduais, como em São Paulo, são fundamentais para o projeto presidencial de Campos, que poderia ser favorecido pela aliança estadual com os tucanos.  A formação de um palanque frágil no maior colégio eleitoral do país poderia prejudicar o projeto presidencial. Além disso, Marina tem condicionado o lançamento de uma candidatura própria do PSB e da Rede ao governo paulista para, em troca, assumir desde já o posto de vice na chapa presidencial – o que ajudaria o projeto de Eduardo.
Os desacertos se repetem em outras partes do país. Um cenário semelhante se desenha no Maranhão: o PSB tem um acordo com Flávio Dino (PCdoB), enquanto a Rede apoia a candidatura da deputada estadual Eliziane Gama (PPS). Mais uma vez, surge o dilema entre um palanque forte para a candidatura presidencial e o lançamento de uma candidatura própria para marcar posição.
No Distrito Federal, o PSB deve lançar o senador Rodrigo Rollemberg ao governo. Mas o deputado Reguffe, filiado ao PDT e adepto da Rede, também já iniciou sua caminhada eleitoral. Ele é o preferido de Marina. Até agora, não há sinal de que alguns dos lados vai ceder. 
Campos vai ter de decidir se intervém nos diretórios estaduais ou deixa que cada unidade da federação decida como agir: "Dada as circunstâncias, acho que a definição não vai sair antes da convenção estadual, em junho", diz Márcio França.
O que o PSB pensa para o Brasil
1. Abolição das classes sociais
O programa do PSB prega o "estabelecimento de um regime socialista acarretará a abolição do antagonismo de classe". É um eco da pregação marxista pelo fim do suposto conflito entre as classes sociais – e a favor a sobrevivência apenas de uma: a dos proletários

2. Estatização dos meios de Produção
Aplicada a cartilha do Partido Socialista Brasileiro, todos os meios de produção, incluindo indústrias e fazendas, serão retirados das mãos de seus donos e estatizados. "A socialização realizar-se-á gradativamente, até a transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas".

3. Taxação progressiva
"Serão suprimidos os impostos indiretos e aumentados, progressivamente, os que recaiam sobre a propriedade territorial, a terra, o capital, a renda em sentido estrito e a herança, até que a satisfação das necessidades coletivas possa estar assegurada sem recurso ao imposto". Enquanto o Estado assume o controle dos meios de produção, os impostos sobre a propriedade serão elevados progressivamente. O objetivo é sufocar a livre iniciativa.

4. Comércio exterior estatal
Exportadores e importadores terão com o que se preocupar caso Eduardo Campos resolva ser fiel ao programa partidário do PSB. Nesse caso, as transações internacionais serão exclusividade do governo. Diz o programa do partido: "O comércio exterior ficará sob controle do Estado até se tornar função privativa deste". 

5. Fim da educação privada

Aplicada a cartilha socialista, as instituições de ensino com fins lucrativos estariam com os dias contados. Eis o que o PSB quer: "Plano nacional de educação que atenda à conveniência de transferir-se gradativamente o exercício desta ao Estado e de suprimir-se, progressivamente, o ensino particular de fins lucrativos".

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