quinta-feira, 24 de julho de 2014

Mercosul desmoralizado? - Blog Denise Chrispim Marin

Mercosul desmoralizado

Blog Denise Chrispim Marin

O Estado de S. Paulo, 24/07/2014


Mercosul é irrelevante, dizem. É mesmo? Então, deve acabar, ser demolido, desmontado? Deve desaparecer? Ou ser fortalecido? Mas, como? Fato é que essas perguntas não são há muitos anos respondidas, e o debate sobre o Mercosul não tem passado do nível  superficial. Ninguém sabe o que fazer com o patrimônio de acordos entre os quatro [...]
Mercosul é irrelevante, dizem. É mesmo? Então, deve acabar, ser demolido, desmontado? Deve desaparecer? Ou ser fortalecido? Mas, como? Fato é que essas perguntas não são há muitos anos respondidas, e o debate sobre o Mercosul não tem passado do nível  superficial. Ninguém sabe o que fazer com o patrimônio de acordos entre os quatro sócios originais, que vai além do comércio, e com os compromissos do bloco com outros países. O velho Mercosul pode ser tudo, menos irrelevante. Que o diga a indústria brasileira.  A dificuldade em saber que destino dar a ele deve-se à pobreza das políticas econômica e exterior dos governos de seus países-membros.
A reunião de Cúpula do Mercosul em Caracas, nos dias 28 e 29, será a de número 46. Deveria ser a 47ª. Não será a 47ª por causa do desleixo e da negligência dos seus sócios plenos, que descuidam há mais de 10 anos dos objetivos de aprofundar e dar mais consistência à integração regional. O Mercosul tornou-se um bloco isolado do mundo e internamente fraco. Suas regras têm sido contornadas, dilapidadas, ignoradas.
A reunião de cúpula de dezembro de 2013, na qual Caracas deveria ter entregue à Argentina a presidência pró-tempore do bloco, foi tão postergada que acabou esquecida. A Venezuela, justo o país que ingressou no Mercosul pela porta dos fundos em 2012, ficou um ano inteiro na presidência do bloco, que por regra deve ser semestral. Nenhum dos outros sócios se queixou, e poucos analistas se importaram com essa falha. Caracas avançou sobre o período da Argentina. Buenos Aires, que desafiou tantas vezes o Brasil na formulação e na aplicação das regras comerciais do bloco, deixou passar seu período sem uma única crítica.
O Brasil cederá seu direito ao semestre, e a presidência pro tempore será entregue ao Paraguai, o sócio suspenso do bloco em 2012 e punido com a negação de seu direito de votar sobre a adesão plena da Venezuela.
O Mercosul vem perdendo suas forças desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que muito acudiu à sua defesa retórica, mas que o preteriu em favor do lançamento da Unasul. Já estava falho e combalido pelos sucessivos desacertos entre Brasil e Argentina e pelas pressões paralisantes do Paraguai e do Uruguai, embrulhadas no conceito de “assimetria”. Nos últimos três anos e meio, o Mercosul teve destino pior: foi desmoralizado pelo governo da presidente Dilma Rousseff.
O ingresso da Venezuela, sem a conclusão prévia de sua adequação à Tarifa Externa Comum (TEC), às regras do livre comércio e ao patrimônio histórico do Mercosul, derrubou por terra o sentido original desse projeto de integração. O procedimento foi um dos mais tristes episódios da história diplomática do Brasil. A adesão da Bolívia, possivelmente na próxima semana, não se dará de forma muito diferente. Virão outros, igualmente pelos fundos e pelas janelas.
O comunicado final da 45ª reunião de cúpula, em Montevidéu, deu vazão a manifestações políticas que fariam melhor figura nas declarações da Alba, o bloco político bolivariano. Houve rechaço à vistoria do avião do presidente boliviano Evo Morales, em Viena. Cinco dias depois, as forças policiais bolivianas vistoriaram o avião que levara o ministro da Defesa, Celso Amorim, a La Paz. Houve também rechaço à espionagem e violação de privacidade pela agência americana NSA. Houve ainda clamor para a “preservação” do crescimento econômico dos países do Mercosul – algo que nem Brasil, nem Argentina e nem Venezuela poderão cumprir em 2014.
O único tema importante não negligenciado foi a reincorporação do Paraguai, que jamais deveria ter sido suspenso. O Banco do Sul, iniciativa tão reverenciada nos dias de lançamento do banco dos Brics, pode vir a entrar em operação em breve e ser aclamado como a grande iniciativa de integração. Mas não está vinculada ao Mercosul e, mais do que alavancar a integração física da América do Sul e diminuir as assimetrias, tenderá a servir de boia de salva-vidas aos países que erraram e insistiram no erro ao conduzir sua economia. A 46ª cúpula deve repetir promessas. Mas certamente não dará mais peso nem destino sensato ao Mercosul.

Por que o Brasil se tornou um inferno para qualquer empresário? Por isto...

Imagino que grandes empresas mantenham um batalhão de advogados tributaristas, contabilistas e outros burocratas, todos eles empenhados em descobrir, a cada dia, no Diário Oficial, o que a Receita andou aprontado no dia anterior. Depois se trata de verificar como era antes, adaptar-se às mudanças, preparar os novos registros nos livros, sob pena de multas e notificações por contravenção à legislação aplicável.
E como fazem os médios, pequenos e micro empresários?
Não sei, sinceramente não sei.
Eu só sei que é por isso que o Brasil permanece um país subdesenvolvido e um dos piores lugares no mundo para ser empresário.
Vejam a portaria abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

No ultimo dia 01/07/2014, através do Ato Declaratório nº 19/2014, a Subsecretaria de Arrecadação e Atendimento – Coordenação – Geral de Arrecadação e Cobrança instituiu o Código de Receita – 3864 – Multa por Atraso/Erro/Omissão – Siscoserv para recolhimento das seguintes multas:

Por atraso:
a) R$ 500,00 (quinhentos reais) por mês-calendário ou fração, relativamente às pessoas jurídicas que estiverem em início de atividade ou que sejam imunes ou isentas ou que, na última declaração apresentada, tenham apurado lucro presumido ou pelo Simples Nacional; (esta multa vale para pessoa jurídica de direito público).
b) R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) por mês-calendário ou fração, relativamente às demais pessoas jurídicas;
c) R$ 100,00 (cem reais) por mês-calendário ou fração, relativamente às pessoas físicas;
d) A multa por atraso será reduzida à metade, quando a obrigação acessória for cumprida antes de qualquer procedimento de ofício.

POR INFORMAÇÃO – INEXATA
a) 3% (três por cento), não inferior a R$ 100,00 (cem reais), do valor das transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa jurídica ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta;

b) 1,5% (um inteiro e cinco décimos por cento), não inferior a R$ 50,00 (cinquenta reais), do valor das transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa física ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta. (vale também para pessoa jurídica de direito público).

Cansaram?
Eu já desisti de tentar consertar essa coisa...

Robert E. Lucas: The Wealth of Nations in the 21st Century - YouTube

Robert Lucas é um dos grandes economistas americanos, ou do mundo, simplesmente.
Mas ele parece ser melhor no papel do que no microfone. Sua exposição num encontro de Barcelona é muito importante, sobre a riqueza das nações desde o século 18 até o futuro previsível.
Mas ele parece ser um péssimo expositor.
Seria melhor tentar conseguir o seu paper, ou sua apresentação, e postar aqui.
Quem fizer isso ganha um pirulito.
Por enquanto esta apresentação meio difícil em YouTube, feita em Barcelona no dia 21/03/2014.
Paulo Roberto de Almeida

https://www.youtube.com/watch?v=5oOgx_JF9ww

Renuncia de soberania? Era como antigamente se dizia...

Dilma transformou a Granja do Torto em Embaixada da Ditadura de Cuba no Brasil

Coluna de Polibio Braga, 23/07/2014
Ao lado, a granja do Torto. Na foto abaixo, Raul despacha com o presidente da Bolívia, Evo Morales. 



No âmbito das visitas de altíssimo nível que tiveram no Brasil, semana passada, os líderes do Bric, da Unasul e da Celac, inclusive Putin, Cristina Kirchner e Maduro, o ditador cubano Raul Castro foi o único que teve o privilégio de ocupar a casa de campo da presidente da
República, Dilma Roussef, a Granja do Torto.. As fotos ao lado falam mais do que as notícias, demonstrando de que modo o ditador cubano recebeu chefes de Estado, despachou com auxiliares e governou desde a residência oficial de campo da Presidência.

. Dilma foi criticada pela oposição, que já esqueceu o assunto.

. O deputado Mendonça Filho, criticou o governo:

- Este privilégio a Cuba tem viés ideológico, denotando a submissão ideológica dos governos do PT ao regime ditatorial de Fidel Castro.

. A hospedagem inusitada é a parte mais visível de laços estreitos que os governos Lula e Dilma estabeleceram com Havana, cuja pedra de toque é o programa “Mais Médicos”, um verdadeiro tráfico moderno de escravos brancos, já que os profissionais são mantidos sob vigilância no Brasil, sem direito a passaportes e a deslocamentos, garfeados em 90% dos seus salários pelo governo de Cuba.


. A oposição acha que a Granja do Torto converteu-se em Embaixada da Ditadura no Brasil. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Os mandarins da Republica estao afundando a republica, exatamente como ocorreu com a China...

A China é um caso extraordinário de uma grande civilização, de uma nação que se elevou muito antes das demais no caminho das realizações artísticas e culturais, do refinamento de costumes e de gostos -- independentemente da miséria da maior parte da população, um imenso contingente de camponeses analfabetos sobrevivendo no límite mínimo do depauperamento -- e da construção de um Estado "weberiano" bastante avançado para qualquer padrão que se julgasse na escala histórica, patamares de progressos materiais e culturais que a Europa só alcançaria a partir do Renascimento e de maneira mais afirmada desde o início da revolução industrial.
Foi justamente nesse período mais "recente" que a China mergulhou numa inevitável decadência, que nnao foi apenas aquela da troca de dinastias e de conflitos entre os senhores da guerra. Essa decadência foi em grande medida causada por imperadores incompetentes, mas sobretudo por uma classe de mandarins que, por mais eficiente que fosse, começou a corromper os costumes do Império, precipitando todo o país numa posição de decadência material e espiritual, o que facilitou sua conquista e humilhação por poderes estrangeiros.
Mas, atenção, existem decadências e decadências. A da China é diferente da Grã-Bretanha pré-Thatcher, inviabilizada pelo fabianismo de gerações de distributivistas associados -- tories, wigs, trabalhistas -- e ambas são diferentes da decadência argentina, que ainda não acabou: esta foi provocada por lideranças incompetentes apenas, mas sobretudo por todo um exército de assaltantes do Estado, os militantes peronistas, mafiosos de um outro tipo, o da república sindical, que aparentemente também surgiu entre nós.
Será que os nossos mandarins também vão afundar a república, auxiliados pelos peronistas de botequim que existem por ai?
Paulo Roberto de Almeida

Risco para Dilma faz ministro do TCU recuar sobre adiamento da votação
G1, O Glob, 23/07/2014

O ministro Benjamin Zymler recuou da tentativa de adiar a votação no Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, por conta do risco de inclusão do nome da presidente Dilma Rousseff entre os que poderiam ser responsabilizados pelos prejuízos com o negócio.

Após o voto do relator José Jorge que apontou prejuízos de quase US$ 800 milhões na aquisição, Zymler pediu vista, o que adiaria a discussão sobre o tema. Mesmo com o pedido de vista, que deveria interromper a discussão, outros ministros atropelaram e decidiram votar, acompanhando o relator.

Quando o ministro substituto André Luiz de Carvalho sugeriu a confecção de um voto paralelo com a inclusão dos nomes dos integrantes do Conselho da Petrobras, entre eles o da presidente Dilma, Zymler retirou o pedido de vista e acompanhou o relator.

Durante o processo de votação, o ministro José Múcio Monteiro, que já foi ministro das Relações Institucionais do governo Lula, chegou a trocar rápidas palavras com Benjamin Zymler.

Na avaliação de ministros do TCU ouvidos pelo Blog, era melhor votar o relatório do ministro José Jorge que indicou a responsabilidade da diretoria da Petrobras pelo prejuízo do que correr o risco de perder no voto para o relatório que pudesse incluir Dilma e os demais conselheiros.

Os ministros deixaram claro que os conselheiros e Dilma ainda poderão ser incluídos entre os responsáveis caso surjam novas evidências ao longo do andamento do processo.

Existe um conflito Israel e Palestina? Nota do Itamaraty

Por certo, que existe, e ele é velho, ou antigo, longo, terrível, mas no momento atual o que parece existir é uma invasão da faixa de Gaza por tropas do IDF contra terroristas do Hamas, e certamente Israel está exercendo força desproporcional, vitimando um número enorme de civis inocentes.
Tudo isso é certo, mas não deveria impedir que as palavras, os conceitos, os termos exatos fossem empregados, certo?
Enfim, cada um tem o direito de interpretar a realidade como vê, mas quanto mais exatas forem as palavras, me parece melhor...
Ao que parece, além do "conflito entre Israel e Palestina", existe um conflito de conceitos e um uso estranho das palavras...
Paulo Roberto de Almeida

Conflito entre Israel e Palestina
Nota do Itamaraty, 23/07/2014 -

O Governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.

O Governo brasileiro reitera seu chamado a um imediato cessar-fogo entre as partes.

Diante da gravidade da situação, o Governo brasileiro votou favoravelmente a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre o tema, adotada no dia de hoje.

Além disso, o Embaixador do Brasil em Tel Aviv foi chamado a Brasília para consultas.
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Addendum, em 24/07/2014:

Agencia EFE 24/07/2014 10h27 - Atualizado em 24/07/2014 15h09

Israel chama Brasil de 'anão diplomático' por convocar embaixador

Brasil classificou de 'inaceitável' a violência em Gaza e pediu explicações.
Declaração foi feita por porta-voz do ministério das Relações Exteriores.

Do G1, em São Paulo
   Israel lamentou nesta quinta-feira (24) a decisão do Brasil de chamar para consultas seu embaixador em Tel Aviv, uma decisão que, segundo o governo israelense, "não contribui para encorajar a calma e a estabilidade na região" e chamou o país de "anão diplomático" por causa do gesto.
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Yigal Palmor, disse que a decisão brasileira “não reflete o nível de relação entre os países e ignora o direito de Israel defender-se”. De acordo com a publicação "The Jerusalem Post", Palmor afirmou que a medida "era uma demonstração lamentável de como o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua a ser um anão diplomático".
“Israel manifesta o seu desapontamento com a decisão do governo do Brasil de retirar seu embaixador para consultas", diz comunicado da chancelaria israelense. "Esta decisão não reflete o nível das relações entre os países e ignora o direito de Israel de se defender. Tais medidas não contribuem para promover a calma e estabilidade na região. Em vez disso, elas fornecem suporte ao terrorismo, e, naturalmente, afetam a capacidade do Brasil de exercer influência. Israel espera o apoio de seus amigos na luta contra o Hamas, que é reconhecido como uma organização terrorista por muitos países ao redor do mundo".
O governo brasileiro convocou para consultas o embaixador em Tel Aviv após considerar "inaceitável a escalada de violência" e condenar "energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza".
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou nesta quinta-feira (24), em entrevista à TV Globo, que o Brasil reconhece o direito de defesa de Israel, mas que as ações militares na Faixa de Gaza devem ser feitas com "proporcionalidade". O ministro criticou mortes de crianças e civis e as classificou como "inaceitáveis".
"O Brasil, desde o início, condenou tanto o lançamento de foguetes pelo Hamas, e nós fomos abundantemente claros com relação a isso, como condenamos tambem a reação de Israel. Nós não contestamos o direito de defesa que Israel tem. É um direito que ele tem. Nós contestamos a desproporcionalidade entre uma coisa e outra. Morreram cerca de 700 pessoas na Faixa de Gaza, a grande maioria delas civis e um número também bastante alto de mulheres e crianças. Isso não é aceitável e é contra isso que nós nos manifestamos", afirmou o ministro.
A Confederação Israelita do Brasil também divulgou uma nota nesta quinta manifestando sua “indignação” com a posição brasileira. A confederação diz compartilhar da “preocupação do povo brasileiro e expressa profunda dor pelas mortes nos dois lados do conflito. Assim como o Itamaraty, esperamos um cessar-fogo imediato.”
Entretanto, o grupo critica o governo brasileiro por eximir “o grupo terrorista Hamas de responsabilidade no cenário atual. Não há uma palavra sequer sobre os milhares de foguetes lançados contra solo israelense ou as seguidas negativas do Hamas em aceitar um cessar-fogo. Ignorar a responsabilidade do Hamas pode ser entendido como um endosso à política de escudos humanos, claramente implementada pelo grupo terrorista e que constitui num flagrante crime de guerra, previsto em leis internacionais.”
Nos 17 dias de ofensiva militar em Gaza, pelo menos 733 palestinos e 35 israelenses morreram. Além disso, 4.600 palestinos ficaram feridos.
Saiba mais

A lenta decadencia de certas sociedades: aplicavel ao Brasil?

O trabalho que segue foi elaborado por mim no final de 2013, e apenas divulgado neste blog e em um ou outro desses boletins digitais que circulam alegremente no ciberespaço, sem receber ISSN ou qualquer outro crédito editorial. Não importa: não escrevo primariamente para ser publicado e divulgado amplamente, mas apenas por necessidade interna, primariamente, depois como forma de sistematizar algumas reflexões pessoais a partir de algumas leituras ou observações do momento, em último lugar, para alinhar argumentos que espero racionais em benefício dos mais jovens, que sempre podem aprender alguma coisa com quem já leu bem mais do que eles (pelo tempo, não por alguma inteligência especial) ou que tem mais experiência de vida, por ter viajado e aprendido algumas coisas ao redor do mundo, este nosso planetinha redondo, como diria um outro neófito.
Em todo caso, segue novamente reproduzido aqui, pois entendo que corresponde um pouco ao início de campanha eleitoral, no que ela possa ter de superficial, de mentiroso, de enganações, enfim, de todas essas maravilhas que nos prometem os candidatos. Como eu sou bem mais realista, prefiro deixar bem claro o que penso de toda essa malta e dos nossos problemas.
Paulo Roberto de Almeida


A degeneração, para os neófitos

Paulo Roberto de Almeida

Degeneração é um outro nome para a decadência, processos que podem atingir indivíduos, empresas, instituições públicas e privadas, sociedades ou comunidades nacionais, enfim, países inteiros, nações antigas e modernas, emergentes ou avançadas. Todos sabemos o que esses conceitos significam, mediante uma simples consulta aos dicionários ou à literatura da área: os registros disponíveis falam da erosão gradual dos costumes, da inoperância dos poderes constituídos, da corrosão progressiva das relações entre pessoas e grupos inteiros, da perda de dinamismo da base econômica, enfim da descrença generalizada das pessoas na validade e legitimidades dos valores e princípios que anteriormente davam sentido a uma determinada formação social.
Não é difícil reconhecer sinais de decadência, de retrocesso, ou mesmo de simples estagnação, na vida do país: baixo crescimento econômico, inovação declinante, dívidas crescendo, desigualdades persistentes ou em expansão, população em processo de envelhecimento, comportamentos desviantes ou antissociais. O que pode ter acontecido de errado? O mais provável é que as instituições nacionais estejam enfrentando um processo de degeneração contínua, o que se traduz em retrocesso no seu funcionamento e em nítido recuo na sua capacidade de organizar a vida do país.
E quais são as instituições que podem estar atravessando esse declínio? Elas são: o governo representativo, os mercados livres, o Estado de direito e a própria sociedade civil. Estas são as instituições fundamentais que construíram a prosperidade e o bem-estar da nação e que podem agora caminhar para um itinerário de estagnação ou até mesmo de retrocesso.
Estou falando do Brasil, certo? Não exatamente...
Estou simplesmente transcrevendo a orelha de um livro que leio agora (dentre vários outros), de Niall Ferguson, The Great Degeneration: How Institutions Decay and Economies Die (New York: Penguin Press, 2013), que trata exclusivamente das sociedades avançadas do Ocidente capitalista: Estados Unidos e Europa ocidental, basicamente. Para o conhecido historiador econômico, é a degeneração institucional que está por trás da estagnação econômica e do declínio geopolítico que dela decorrem. O livro analisa as causas dessa degeneração e suas profundas consequências para o modo de vida, o bem-estar e o futuro das populações dessas nações avançadas econômica e tecnologicamente e dispondo, ainda, de níveis de vida invejáveis para todos os demais povos do planeta. Mas os sinais se acumulam de negligência e de complacência com o lento declínio, observável a olhos vistos em alguns países, e detectável em diversos estudos de especialistas econômicos. O Ocidente, para Ferguson, está desperdiçando a herança institucional que erigiu durante séculos e que foi responsável pela sua preeminência mundial no último meio milênio. Para reverter a ruptura dos seus padrões civilizatórios, Ferguson recomenda reformas radicais e lideranças à altura dos desafios.
Pois bem, o que isso tem a ver com o Brasil? Em 2002, em plena campanha eleitoral que se traduziu na mais importante mudança política já ocorrida na história republicana do Brasil em condições de pleno funcionamento democrático – ou seja, fora de golpes militares ou de revoltas civis – e que se traduziu pela vitória do principal partido de oposição ao regime em vigor, eu redigia os parágrafos finais de um livro que seria publicado no início de 2003, logo em seguida à posse do novo governo: A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex, 2003). Nele, escrito antes mesmo dos dois turnos das eleições de outubro daquele ano, eu já previa com segurança a vitória do candidato opositor e traçava um roteiro do que iria acontecer e do que se esperava que ocorresse a partir de 2003. Eu tinha certeza, por exemplo, da ruptura “neoliberal” no terreno econômico, obviamente em relação ao que recomendavam os economistas “aloprados” do PT, a maior parte ainda imbuídos daquela rústica esquizofrenia econômica que ainda caracteriza boa parte da esquerda acadêmica no Brasil, Eu também achava que os novos donos do poder – aqui sem qualquer ilusão – iriam realmente introduzir um novo estilo de fazer política no Brasil, não basicamente ético, como proclamava sua propaganda mistificadora, mas em todo caso diferente, e que tudo isso poderia ser um sinal promissor de uma grande transformação na vida da nação.
Como vários outros observadores, fui confirmado, para melhor, nas minhas antecipações econômicas e, como a maior parte dos analistas honestos, fiquei chocado, num cenário bem pior do que se poderia imaginar, com as fraudes políticas, o reino de mentiras e todos os crimes comuns logo cometidos pela nomenklatura que se apossou do poder naquela conjuntura. Não que eu tenha ficado absolutamente surpreendido com a possibilidade dessas transgressões, mas todos fomos surpreendidos pela extensão, amplitude e profundidade das falcatruas cometidas pelo grupo que pretendia reintroduzir a ética na vida política do Brasil. Ou seja, não foi uma surpresa total – pelo menos para os que acompanharam a vida política, sindical e a trajetória da esquerda no país, desde os anos 1960 – mas foi chocante descobrir quão baixo era possível descer na degeneração moral e nas patifarias políticas em tão pouco tempo.
Paradoxalmente, esse livro, que foi o que me deu maior prazer na redação e na reorganização de alguns materiais que já tinham sido preparados nos meses anteriores ao ano eleitoral, foi, no entanto, o que menor sucesso de público teve, provavelmente porque eu me encontrava no exterior no momento de sua publicação; depois, já de volta ao Brasil, e trabalhando no coração do Estado, não podia defender abertamente certas teses que foram sendo confirmadas ao longo dos meses e anos seguintes.
Estruturado em três partes, A Grande Mudança tratava, em primeiro lugar, de uma nova forma de fazer política no Brasil – mas eu estava apenas imaginando, e sugerindo medidas de correção de nossos principais defeitos, se eu mesmo fosse presidente – e, numa segunda parte, se ocupava da economia: nela eu já previa, em quatro capítulos revisionistas, a orientação abertamente “neoliberal” da gestão econômica, tese que me rendeu muitos apupos em seminários acadêmicos de que participei, para desgosto de certa esquerda alienada (como, por exemplo, no encontro de ciências sociais da Anpocs, em outubro de 2003). Numa terceira parte, eu tratava de temas internacionais, num sentido amplo: o fim do socialismo e suas consequências para o Brasil, a globalização e as negociações econômicas internacionais e regionais, com algum destaque para o projeto americano de acordo hemisférico de livre comércio, a malfadada Alca (que pronto seria implodida pelos novos governantes).
Não pretendo, obviamente, mais de dez anos depois de redigido aquele livrinho polêmico, retomar suas teses principais para confirmar ou corrigir meus argumentos em torno da economia, da política ou das relações internacionais do Brasil. Mas, na onda de euforia continuada – e bastante reforçada por doses maciças de propaganda enganosa – com o “sucesso” do governo em vigor, minha intenção agora é a de examinar, com minha lupa impiedosa e meu bisturi iconoclasta, o que eu considero ser, de fato, um retrocesso institucional, um dos mais profundos em nossa história republicana, e que não tem a ver, apenas, com o baixo crescimento e a perda de dinamismo da economia nacional, e sim com fatores políticos alimentados e reforçados pelo partido no poder.
Meu objetivo é puramente analítico, uma vez que não pertenço, nem nunca pertencerei, a qualquer partido ou agrupamento político, incapaz que sou de me submeter à disciplina de qualquer programa que possa ser elaborado por algum movimento determinado, de qualquer orientação política ou ideológica que seja. Sou por demais libertário para me dobrar às conveniências eleitorais de qualquer liderança política, pretendendo, ao contrário, manter minha independência de pensamento seja qual for o partido ou a coalizão que ocupar o poder, agora em 2014 ou mais adiante.
O que tenciono fazer, nos meses de campanha eleitoral, é justamente me libertar da ditadura dos eventos correntes e das pesquisas de opinião para refletir sobre o que é o Brasil atualmente, como ele chegou ao estado atual de retrocesso institucional, e como ele poderia avançar, no terreno econômico, político e educacional, com base em análises totalmente descompromissadas com as plataformas eleitorais e resolutamente orientadas para uma crítica radical da atual situação de erosão moral e decadência política em nosso país. Para isso, não necessito do modelo analítico de Niall Ferguson para poder examinar o caso do Brasil; mas acredito, sim, que a clara decadência do governo representativo, o retrocesso visível em relação às reformas econômicas que vínhamos experimentando desde os anos 1990, a perda do sentido do respeito à lei e a deformação completa da noção de sociedade civil, sob a nova hegemonia dos “companheiros”, são elementos importantes do que chamei de grande retrocesso no Brasil.
A esses quatro grandes fatores podemos acrescentar diversos outros, entre eles aquilo que eu também já chamei de “mediocrização” do estabelecimento universitário no Brasil, que na verdade percorre toda a cadeia do ensino, do primário ao pós-doutorado, em especial nas ciências sociais e humanidades (mas a que não estão imunes outras vertentes da pesquisa especializada. Ela é obra, em grande medida, das “saúvas freireanas”, ou seja aquela classe de pedagogos deformados, inspirados na obra de um dos nossos grandes idiotas, Paulo Freire, e que o elevaram à condição de “patrono da educação brasileira”.
O Brasil tem, por certo, muitas outras causas que explicam sua atual decadência institucional e seu renitente retrocesso econômico, que poderão ser examinadas com maior ou menor grau de detalhe. O importante seria destacar, neste momento, meu compromisso com uma análise empiricamente embasada, meu engajamento com um trabalho intelectual voltado para a busca de soluções factíveis, não utópicas (como em geral a esquerda costuma fazer), para os problemas do Brasil, e a irrenunciável postura de independência em relação a quaisquer forças ou movimentos voltados para a luta político-partidária e a conquista do poder. Sequer aspiro à condição de “conselheiro do príncipe”, pois sou um péssimo conselheiro – devido a minha brutal sinceridade – e não pretendo servir a nenhuma liderança política. Minha vocação está unicamente voltada para o estudo e a compreensão dos problemas brasileiros e a aplicação das soluções mais racionais, do ponto de vista da eficiência econômica e da justiça social, para os desafios detectados. Não tenho nenhuma ilusão de que quaisquer propostas que eu possa ter venham a ser implementadas, não que elas sejam exatamente utópicas, mas porque o Brasil carece de estadistas que possam liderar um processo de reformas que julgo necessário e até indispensável se quisermos inverter a nossa trajetória atual de decadência e de retrocesso.
Os dados estão lançados em face de um cenário ainda altamente incerto em seus desdobramentos eleitorais, e o meu roteiro de navegação ainda está sendo traçado. Em mais alguns meses veremos se o diário de bordo traz algumas propostas inteligentes. Ao trabalho, daqui para a frente.

Hartford, 14 de Dezembro de 2013.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...