Meu amigo Adriano Pucci colocou a seguinte frase no seu Facebook:
I don't judge people based on race, creed, color or gender.
I judge people based on speeling, grammar, punctuation, and sentence structure.
Grammarly Cards
Aproveitando a deixa, eu diria o seguinte: não voto em quem não sabe falar, em quem atenta contra as regras mínimas da gramática, em quem não sabe construir uma frase simples que tenha sujeito, verbo e complemento, ponto.
Ponto não: não voto em quem não sabe pensar...
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Livros, livros, autores, escritores: Bienal do livro de Sao Paulo
Uma parte da programação:
Bienal
do Livro de São Paulo
De
22 a 31 de agosto acontece a 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Algumas
dicas na programação :
Sexta-feira, 22 de
agosto:
17h - "Cozinhando com Palavras
- Pão Nosso",
com Luiz Américo de
Camargo (N500, Alameda N - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos
antes no local)
Sábado,
23 de agosto:
16h
- "Criação ilustrada", com Renata Bueno
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
16h -
Lançamento do livro O pirata e o
farmacêutico, de Henning Wagenbreth
(no Estande do Goethe-Institut São Paulo)
16h - "Ilustração
Brasileira", com Fernando Vilela,
Roger Mello,
Odilon Moraes
e Renato Moriconi (mediação)
(Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos
antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
18h - Bate-papo com Kiera Cass
(Arena Cultural - H201 - para o bate-papo * Não é necessário pegar senha.
Sujeito à lotação do local.
19h30 - Sessão de autógrafos com Kiera Cass
(Arena Cultural - H201- * É necessário pegar senha para participar da sessão de
autógrafos. 500 senhas serão distribuídas no mesmo dia, a partir das 10h, no
Espaço de Autógrafos (J200). A senha é pessoal, individual e intransferível. A
senha dará acesso à área reservada para autógrafos na Arena Cultural após o
bate-papo. Cada portador de senha terá direito a autografar 2 (dois) livros da
série A Seleção (edição nacional). Por questão de tempo, fotos só serão
permitidas com o fotógrafo oficial do evento. Câmeras pessoais e selfies não
serão permitidas. As fotos oficiais serão postadas no Facebook da Editora
Seguinte até 3 dias após a data do evento.
Domingo,
dia 24 de agosto:
14h
- "Narrativas de assalto: o universal no novo gênero policial", com
Pablo De Santis, Raphael Montes
e Joca Reiners Terron
(mediação) (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30
minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
15h30 - Sessão de
autógrafos de Dias perfeitos,
com Raphael Montes (Estande da Companhia das Letras)
16h - "Quase
romance, quase memória", com Carlos Heitor Cony, e Ruy Castro
(Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes
do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
17h - "Cozinhando com
palavras" e sessão de autógrafos de Pitadas da Rita,
com Rita Lobo
(N500, Alameda N - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes no local)
20h
- "O lugar da crítica literária", com Hans Ulrich
Gumbrecht e Silviano Santiago
e Rogério Pereira (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso
gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
20h -
Sarau "70 anos de Paulo Leminski",
com os atores Elias Andreato, Ana Lucia Torre, Ana Cecília Costa e Leonardo
Miggiorin (L700, Alameda L - Retirar senhas 30 minutos antes no local)
Segunda-feira, 25
de agosto
14h
- "São Paulo Metrópole Musa", com Maria José Silveira, Cristiano
Mascaro, Carlos Augusto
Calil e Cunha Júnior (mediação) (Salão de ideias - L298, Alameda L -
Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salã
;o de Ideias)
17h - "Fala sério! #SQN - Games e Literatura", com
Flávia Gasi, David de Oliveira Ramos e Daniel Pelizzari
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
18h -
"Ficção e memória na encruzilhada do tempo", com Mary Del Priore,
Alberto Mussa, Cao Hamburguer e
Cassiano Elek Machado (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso
gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
Terça-feira,
26 de agosto:
14h
- "Ateliê Bolonha", com Renato Moriconi
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
14h - "O
papel do escritor brasileiro hoje: ouvi-los ou vê-los?", com Patrícia
Melo, Cristovão Tezza, Noemi Jaffe
e Raquel Cozer (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso
gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
16h -
"Ironia fundamental", com Antonio Prata,
Gregorio Duvivier,
Xico Sá
e Ubiratan Brasil (Salão de ideia s - L298, Alameda L - Retire seu ingresso
gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
17h30 -
Sessão de autógrafos com Antonio Prata, Gregorio Duvivier e Xico Sá (Estande da
Companhia das Letras)
16h - "Biografias e Biografados", com Paulo Cesar de
Araújo (Arena Cultural by Correios)
17h30 - Sessão de autógrafos
com Paulo Cesar de
Araújo (Estande da Companhia das Letras)
18h - "O absoluto da
poesia", com Elisa Lucinda, Carlos Nejar e Angélica Freitas
(Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos
antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
19h - "Quem faz
conta", com Andrea del Fuego,
Índigo e Júlian Fuks
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
20h -
"Tertúlia Latino América", com Elsa Osorio, Socorro Acioli
e Joca Reiners Terron
(mediação) (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30
minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
Quarta-feira,
27 de agosto:
14h
- "Criação ilustrada", com Renata Bueno
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
16h - "Homero, e
James Joyce
por seus tradutores", com Caetano Galindo,
Trajano Vieira, Berthold Zilly e Felipe Lindoso (mediação) (Salão de ideias -
L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes do debate, na
bilheteria do Salão de Ideias)
17h - "Quem faz conta", com Daniel Munduruku
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
18h -
"Exílio, deslocamento e linguagem na literatura", com Paloma Vidal, Sérgio Sant’Anna,
Luciana Hidalgo e Josélia Aguiar(mediação) (Salão de ideias - L298, Alameda L -
Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão
de Ideias)
20h - "Relatos do oriente", com Milton Hatoum,
Elias Khoury, Safa A-C Jubran e Diogo Bercito (mediação) (Salão de ideias -
L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes do debate, na
bilheteria do Salão de Ideias)
Quinta-feira,
28 de agosto:
14h
- "Primeiras leituras para todas as idades", com Ziraldo,
Eva Funari
e Pedro Bandeira (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso
gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
16h -
"Território Língua Portuguesa", com Adbulai Sila, Inês Pedrosa, Luiz Ruffato
e Susana Ventura (mediação) (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu
ingresso gratuito 30 minutos an tes do debate, na bilheteria do Salão de
Ideias)
17h30 - Sessão de autógrafos com Luiz Ruffato
(Estande da Companhia das Letras)
18h - "Violência como herança no Brasil
contemporâneo", com Vladimir Safatle, Jaime Ginzburg, Luiz Eduardo Soares,
Paulo Markun (mediação) (Salão de ideias -
L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes do debate, na
bilheteria do Salão de Ideias)
20h - "A copa fora de campo", com
Andrew Jennings, Antônio Lassance, Juca Kfouri e Paulo Vinicius
Coelho (mediação) (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu
ingresso gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de
Ideias)
Sexta-feira,
29 de agosto:
12h
- "Ateliê Bolonha", com Renato Moriconi
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
14h -
"Cultura musical: cultura do Brasil", com Zuza Homem de Mello, Chico César,
Cacá Machado e Humberto Werneck (mediação)
(Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos
antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
16h - "O roteiro nos
quadrinhos", com David Mairowitz, Marcello Quintanilha, Gabriel Bá e Fábio
Moon e André Conti (mediação) (Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu
ingresso gratuito 30 minutos antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
17h - "Quem faz conta", com Ilan Brenman
(Espaço Imaginário - retirar senhas 30 minutos antes no local)
20h -
"1964: outras perspectivas", com Almino Affonso, Marcos Napolitano e Marcos Nobre
(Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos
antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
Sábado,
30 de agosto:
13h -
"Carta ao Pai",
espetáculo Baseado na correspondência que o escritor tcheco Franz Kafka escreveu
ao seu pai (Anfiteatro - L700, Alameda L - Retirar senhas 30 minutos antes no
local)
15h - Bate-papo com Sally Gardner
(Arena Cultural by Correios)
18h - "Das páginas para as telas: a
adaptação literária para roteiros de cinema e TV", com Marçal Aquino,
Maria Adelaide Amaral, George Moura e Cassiano Élek Machado (mediação) (Salão
de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos antes do
debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
20h - "Diálogos sobre a
fotografia e outras narrativas", com Sebastião Salgado
e José Luiz Peixoto
(Salão de ideias - L298, Alameda L - Retire seu ingresso gratuito 30 minutos
antes do debate, na bilheteria do Salão de Ideias)
21h às 22h - Sessão de
autógrafos com Sebastião Salgado e José Luiz Peixoto no
Espaço de autógrafos (J200). É necessário pegar senha para participar da sessão
de autógrafos. As senhas serão distribuídas no mesmo dia, a partir das 10h, no
estande da Editora Companhia das Letras (D500). A senha é pessoal, individual e
intransferível. A senha dará acesso apenas à sessão de autógrafos na Arena
Cultural. Cada portador de senha terá direito a autografar 2 (dois) livros, são
eles: Da minha terra à
Terra (Editora Paralela – Companhia das Letras – D500) e/ou Genesis
(Taschen/Paisagem F600). Por questão de tempo, fotos não serão permitidas.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Eleicoes 2014 e o Fim do Brasil: os paradoxos do governo
O pessoal do "Fim do Brasil", consultoria Empiricus, ataca outra vez.
Mas não é para afundar o Brasil, e sim para salvá-lo dos malucos que estão no comando da economia.
Vão conseguir?
Não sei, mas vocês têm mais notícias abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Mas não é para afundar o Brasil, e sim para salvá-lo dos malucos que estão no comando da economia.
Vão conseguir?
Não sei, mas vocês têm mais notícias abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Os 4 paradoxos do Governo Dilma
00:12- Sala cheia
Agradeço a presença de todos em nosso evento, realizado esta manhã em São Paulo. Além da tese sobre O Fim do Brasil, apresentada pelo Felipe Miranda, o expediente contou com um debate econômico construtivo entre Eduardo Giannetti, Mansueto Almeida e Marcos Lisboa.
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Faço das palavras de Masueto as minhas: independentemente de quem venha governar, é preciso ao menos ouvir os contrapontos. Um debate econômico aberto só tem a agregar.
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01:12- Giannetti e os 4 paradoxos do governo
1. O governo estatizante quebrou as duas principais estatais do país
2. O governo com viés nacional desenvolvimentista foi responsável pela maior desindustrialização da história 3. O governo com a bandeira de reduzir os juros vai entregar o país com a Selic maior do que pegou 4. O governo com bandeira de crescimento entregou o menor crescimento do PIB de todo regime republicano (considerando Collor+Itamar como um ciclo de 4 anos)
01:56- Lisboa e as injustiças com o governo
Por sua vez, Marcos Lisboa, além de ressaltar a importância da transparência e da meritocracia nas políticas públicas, citou algumas injustiças cometidas com o governo atual, dentre elas:
+ o argumento de que o governo é refratário com os empresários: segundo Lisboa não é; o governo conversa com os empresários, mas conversa demais, a portas fechadas e concede benefício a alguns (em detrimento ao prejuízo de outros)
+ a crítica ao modelo de crescimento baseado em consumo: para Lisboa o modelo nunca foi baseado em consumo, mas sim em investimento; mas não deu certo.
02:22- Mansueto e o ajuste
Dentre diversos pontos, Mansueto destacou o problema das contas públicas e alguns dos truques utilizados para maquiar (ou, postergar) as discrepâncias. Para ele existe sim espaço para um ajuste firme no balanço do governo. Mas disse não acreditar em expressivos ajustes fiscais de curto prazo.
Para ler mais sobre o evento:
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Eleicoes 2014: mercados sao contra o continuismo
Mercado precifica cenário ‘todos contra o PT’
Apesar de todas as incertezas que cercam o quadro político depois da morte de Eduardo Campos, as ações da Petrobras sobem 4% hoje.
O mercado está fazendo o seguinte cálculo:
1. Com Marina Silva candidata, o segundo turno é garantido.
2. Mesmo que o segundo turno seja entre Dilma e Marina, o PSDB muito provavelmente a apoiaria. Os tucanos não nutrem por Marina o horror que ela frequentemente manifesta em relação a eles. Além disso, figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reconhecendo a fragilidade partidária de um Governo Marina Silva, provavelmente incentivariam o PSDB a ajudá-la no Congresso e com equipe de governo.
3. Na política econômica, a equipe que aconselhava Campos e foi herdada por Marina — Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende — tem total afinidade com o time do PSDB, capitaneado por Armínio Fraga.
4. Na parte de energia e infraestrutura, dá-se a mesma afinidade. O economista Adriano Pires (pelo PSDB) e Alexandre Rands (pelo PSB) têm dito coisas na mesma direção.
Em linha com esta tese, as ações da Eletrobras sobem hoje, mas bem menos. No setor de energia, Marina Silva e o PSDB têm posturas diferentes, particularmente em relação ao tipo de reservatórios nas hidrelétricas. Marina é uma crítica das hidrelétricas na Amazonia e favorável aos reservatórios a fio d’água, que armazenam menos energia.
Por Geraldo Samor
Eleicoes 2014: diretrizes de Aecio Neves para a Politica Externa
Existe um documento de diretrizes do governo Aécio Neves depositado no TSE. Dele retiro apenas a parte de Política Externa, p. 56-57.
Acredito que sejam mais de campanha do que de governo, mas enfim, todo mundo tem o direito de meter a sua colher na política externa, como aliás já fazem os companheiros desde 2002 (isso).
Parece pouca coisa, mas é pouco mesmo. Não poderia ser maior, dada as características do documento, mas poderia ser melhor...
Paulo Roberto de Almeida
VI.II. POLÍTICA EXTERNA
A nova política externa que queremos implantar no Brasil, levando em conta as transformações mundiais e regionais do século XXI, terá por objetivo restabelecer o seu tradicional caráter de política de Estado, visando o interesse nacional, de forma coerente com os valores fundamentais da democracia e dos direitos humanos.
DIRETRIZES:
1. A política externa será conduzida com base nos princípios da moderação e da independência, que sempre nos serviram bem, com vistas à prevalência dos interesses brasileiros e dos objetivos de longo prazo de desenvolvimento nacional.
2. Reavaliação das prioridades estratégicas à luz das transformações do cenário internacional no século XXI. Devem merecer atenção especial a Ásia, em função de seu peso crescente, os EUA e outros países desenvolvidos, pelo acesso à inovação e tecnologia, ao mesmo tempo em que deverá ser ampliada e diversificada a relação com os países em desenvolvimento.
3. Reexame das políticas seguidas no tocante à integração regional para, com a liderança do Brasil, restabelecer a primazia da liberalização comercial e o aprofundamento dos acordos vigentes e para, em relação ao Mercosul, paralisado e sem estratégia, recuperar seus objetivos iniciais e flexibilizar suas regras a fim de poder avançar nas negociações com terceiros países.
4. Definição de nova estratégia de negociações comerciais bilaterais, regionais e globais, para por fim ao isolamento do Brasil, periodizando a abertura de novos mercados e a integração do Brasil às cadeias produtivas globais.
5. Nas organizações internacionais, o Brasil deverá ampliar e dinamizar sua ação diplomática nos temas globais, como mudança de clima, sustentabilidade, energia, democracia, direitos humanos, comércio exterior, assim como novos temas, como terrorismo, guerra cibernética, controle da internet, e nas questões de paz e segurança, inclusive nas discussões sobre a ampliação do Conselho de Segurança.
6. Revalorização do Itamaraty na formulação de nossa política externa, subsidiando as decisões presidenciais. Ao mesmo tempo, serão garantidos o contínuo aprimoramento de seus quadros e a modernização da sua gestão.
Acredito que sejam mais de campanha do que de governo, mas enfim, todo mundo tem o direito de meter a sua colher na política externa, como aliás já fazem os companheiros desde 2002 (isso).
Parece pouca coisa, mas é pouco mesmo. Não poderia ser maior, dada as características do documento, mas poderia ser melhor...
Paulo Roberto de Almeida
VI.II. POLÍTICA EXTERNA
A nova política externa que queremos implantar no Brasil, levando em conta as transformações mundiais e regionais do século XXI, terá por objetivo restabelecer o seu tradicional caráter de política de Estado, visando o interesse nacional, de forma coerente com os valores fundamentais da democracia e dos direitos humanos.
DIRETRIZES:
1. A política externa será conduzida com base nos princípios da moderação e da independência, que sempre nos serviram bem, com vistas à prevalência dos interesses brasileiros e dos objetivos de longo prazo de desenvolvimento nacional.
2. Reavaliação das prioridades estratégicas à luz das transformações do cenário internacional no século XXI. Devem merecer atenção especial a Ásia, em função de seu peso crescente, os EUA e outros países desenvolvidos, pelo acesso à inovação e tecnologia, ao mesmo tempo em que deverá ser ampliada e diversificada a relação com os países em desenvolvimento.
3. Reexame das políticas seguidas no tocante à integração regional para, com a liderança do Brasil, restabelecer a primazia da liberalização comercial e o aprofundamento dos acordos vigentes e para, em relação ao Mercosul, paralisado e sem estratégia, recuperar seus objetivos iniciais e flexibilizar suas regras a fim de poder avançar nas negociações com terceiros países.
4. Definição de nova estratégia de negociações comerciais bilaterais, regionais e globais, para por fim ao isolamento do Brasil, periodizando a abertura de novos mercados e a integração do Brasil às cadeias produtivas globais.
5. Nas organizações internacionais, o Brasil deverá ampliar e dinamizar sua ação diplomática nos temas globais, como mudança de clima, sustentabilidade, energia, democracia, direitos humanos, comércio exterior, assim como novos temas, como terrorismo, guerra cibernética, controle da internet, e nas questões de paz e segurança, inclusive nas discussões sobre a ampliação do Conselho de Segurança.
6. Revalorização do Itamaraty na formulação de nossa política externa, subsidiando as decisões presidenciais. Ao mesmo tempo, serão garantidos o contínuo aprimoramento de seus quadros e a modernização da sua gestão.
O Brasil para ingles ver - Michael Reid, da Economist, escreve sobre o nosso pais...
...e parece ter entendido muita coisa, embora seu texto tenha os mesmos lugares comuns e as mesmas simplificações que muitos trabalhos da nossa academia ou as análises dos nossos economistas mais sensatos (o que por definição exclui todos os do governo).
Não querendo ser malvado, detectei alguns erros no texto.
Este aqui, por exemplo:
"A abertura do comércio promovida pelo presidente Fernando Henrique na década de 90 foi radical pelos padrões brasileiros, mas não se comparada a de muitos outros países da América Latina."
ERRADO: A abertura comercial, com redução da tarifas, foi promovida pelo presidente Fernando Collor, contra a posição dos industriais e dos burocratas, aliás até dos diplomatas, que achavam que o Brasil tinha de "negociar no Gatt" uma redução de tarifas que na média era de 44%, e em vários casos ia a mais de 100% (sem falar da proibição absoluta de importar certos itens).
O FHC promoveu foi o fechamento comercial, pois assim que ele tomou posse, começou a proteger automóveis, brinquedos e outras coisas, com tarifas altas e novas proibições, inclusive absurdas cotas tarifárias para automóveis, que infernizaram a vida dos nossos diplomatas na OMC (voltaram a fazer agora a mesma coisa, com outros mecanismos).
O Brasil de FHC seguiu a Argentina, numa absurda taxa estatística de 3% a mais sobre a tarifa normal, e logo começaram os desvios (no nosso caso sempre para cima) em diversas outras linhas tarifárias.
Não, Michael Reid, FHC não promoveu abertura comercial, ao contrário. Ele começou o fechamento outra vez.
Fico por aqui, se não vou obrigar o jornalista a revisar muito o seu livro antes de soltar na praça.
Quaisquer que sejam os seus erros, eles não são nada comparados aos cometidos pelos companheiros, e não só em economia.
O Brasil entre o arcaico e o moderno
Trecho de" Brasil: A Ascensão Turbulenta de uma Potência Global", livro do jornalista Michael Reid, da revista inglesa The Economist, sobre os maiores desafios da economia brasileira, com publicação prevista para setembro.
Embora as autoridades brasileiras, inclusive, a própria presidente Dilma Rousseff, falem muito na necessidade de aumentar os investimentos do setor privado e estimular a produtividade e a competitividade, elas acreditam que esses fatores podem e devem ser induzidos pelo governo. "A presidente acredita piamente que todo problema tem uma solução governamental", comenta o economista José Roberto Mendonça de Barros. Em 2011, quando a valorização do real estava no auge, Dilma anunciou um pacote de medidas destinadas a ajudar a indústria, batizado de Brasil Maior. Algumas medidas eram razoáveis, tais como incentivos para que universidades e empresas colaborassem na área de pesquisa. O Ciência sem Fronteiras, programa de Dilma para que brasileiros estudem no exterior, também fazia sentido. O plano, no entanto, incluía duas medidas polêmicas. A primeira era o aumento em 30 pontos percentuais do imposto sobre carros importados de montadoras com uma fábrica no Brasil. A segunda era a eliminação de imposto sobre os salários dos setores de vestuário, calçados, móveis e software. Em lugar de premiar os vencedores, objetivo de qualquer política industrial, parecia um pacote de socorro para fracassados (embora o corte de impostos sobre a folha de pagamentos tenha sido depois estendido para outros setores).
UMA CÓPIA MALFEITA
Os críticos acusam o governo de pegar a onda do capitalismo de Estado — que, segundo Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, nunca chegou a desaparecer por completo no Brasil. "E um modelo que enfatiza a concessão de benefícios a determinadas empresas, em vez de deixar o mercado funcionar. É um modelo ruim que, associado ao protecionismo, fica ainda pior", entende ele. Para o professor Sergio Lazzarini, da escola de negócios Insper, em São Paulo, o governo começou a usar estatais para regular os mercados de petróleo, eletricidade e bancos, fazendo com que essas empresas passassem a registrar prejuízos. Todas essas medidas contrastam com a bem-sucedida política industrial sul--coreana, evocada por Luciano Couti-nho, presidente do BNDES, e outras autoridades brasileiras. A política sul--coreana tinha como principal meta impulsionar as exportações a fim de obrigar as empresas a competir no exterior. E, passado um período limitado de tempo, o governo asiático foi implacável no corte de subsídios.
A abertura do comércio promovida pelo presidente Fernando Henrique na década de 90 foi radical pelos padrões brasileiros, mas não se comparada a de muitos outros países da América Latina. Mesmo após a queda das barreiras, a economia brasileira permaneceu relativamente fechada. As tarifas médias continuaram superiores às de Coreia do Sul, China e Taiwan, por exemplo, e ainda foram elevadas depois de 2008. O custo de importação de um contêiner para o Brasil é excepcionalmente alto. Contratos públicos e muitos setores têm regras de conteúdo nacional. Em 2012, as importações corresponderam a apenas 13% do PIB, o valor mais baixo entre os 176 países acompanhados por um estudo do Banco Mundial. A Coreia do Sul, a potência industrial e tecnológica admirada pela equipe econômica de Dilma, é muito mais aberta, com exportações e importações equivalentes a 58% e 54% do PIB, respectivamente. O pendor protecionista é arraigado entre as autoridades brasileiras. Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, destaca as falhas nessa abordagem: "E patético você olhar tanta reclamação contra importação. Temos algo muito peculiar no Brasil, que é essa enorme abertura para investimento estrangeiro da qual não resulta em exportação. Fico abismado quando vejo nossa presidente dizer "vamos proteger nosso mercado". E quem está explorando nosso mercado são as multinacionais, que têm aqui lucros extraordinários".
O Brasil tem mesmo alergia ao liberalismo. Roberto Campos, um dos mais importantes economistas liberais do país, morto em 2001, escreveu que "assumir explicitamente o liberalismo é tão alienígena em um país com cultura dirigista quanto fazer sexo em público". (Ele mesmo começou sua carreira na vida pública como funcionário do governo dirigista de Juscelino Kubitschek.) Há razões para isso — e é por causa delas que o Brasil é diferente dos Estados Unidos, com os quais tantas vezes gosta de se comparar. Dos tempos coloniais à ditadura, a manutenção da coesão de um vasto território de geografia difícil — onde o estabelecimento de comunicações e as condições para a vida humana abundante e saudável apresentavam enormes dificuldades — foi uma preocupação permanente dos governantes. Por isso, no Brasil, foi o Estado que criou a nação, e não a nação que criou o governo, como nos Estados Unidos. Do mesmo modo, diferentemente da América espanhola, os governantes brasileiros sempre tiveram consciência da necessidade de consultar os notáveis locais, a fim de conservar a unidade nacional e evitar a secessão.
A escravidão — e o temor da revolta dos escravos — foi outra causa da necessidade de uma frente unida, além de distorcer as prioridades do Estado de tal maneira que retardou por séculos o desenvolvimento do país, condenando--o ao status de eterno país do futuro. A conseqüência trágica de uma sociedade de senhores e escravos foi que o Estado, quando começou a desenvolver a economia, não tratou de investir na educação, saúde e segurança da grande massa de brasileiros mais pobres. Foi somente a partir de 1988 que o país decidiu se propor uma sociedade em que o Estado de Direito fosse aplicado igualmente a todos.
ESTADOS UNIDOS DO SUL?
Não se trata de uma defesa da tese de que o Brasil tem de imitar os Estados Unidos. Nos tempos de Tiradentes, em Minas Gerais, se ansiava por uma república jeffersoniana. Desde então, os brasileiros comparam seu país com seu alter ego do Norte. Muitos lamentam, como o escritor brasileiro Viana Moog, morto em 1988, que o Brasil tenha produzido bandeirantes extra-tivistas em vez de trabalhadores pioneiros. O Brasil, porém, não pode mudar sua história ou, pelo menos no curto prazo, sua cultura. Na verdade, o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos raros liberais do país, entende que, se o Brasil não se tornou como os Estados Unidos, "foi essencialmente por não querer" — por não se dispor a sacrificar a alegria e sua abordagem tranqüila da vida em prol da acumulação de capital e da prosperidade futura. Ele propõe que o Brasil ofereça ao mundo um conjunto diferente e menos materialista de valores do que o estilo de vida americano, como mostra o recente compromisso do país com o ambientalismo.
Sem dúvida, a conversão nas duas últimas décadas para políticas mais preocupadas com a proteção do meio ambiente marca o fim de uma longa marcha, de mais de quatro séculos, para ocupar o vasto território brasileiro, iniciada com jesuítas e bandeirantes. A agricultura do país já confia mais no aumento da produtividade do que na incorporação de novas terras. Ainda há, entretanto, muitos pobres. O país não poderá renunciar, por um bom tempo, à busca do crescimento econômico.
Também vale ressaltar que a crítica ao renascimento do nacional-desenvolvimentismo não constitui um argumento em prol de um Estado mínimo "neoliberal" (ou seja, neoconservador). O Brasil não é Singapura. É um país grande demais, com demasiadas desigualdades sociais e regionais, para que essa opção seja viável (ainda que os brasileiros tenham muito a aprender com a determinação daquele país com a inovação, a abertura e a seguridade social). Pelo contrário, trata-se de uma convocação para que o Brasil retome o consenso social-democrata que tanto êxito obteve de 1994 a 2006, com sua combinação de economia amplamente liberal com maior ênfase na política social e na redução das desigualdades. Se o Brasil não abandonar seu recente flerte com o renascimento do Estado corporativo e não voltar a se empenhar na criação de uma regulamentação eficaz, não conseguirá atender às demandas de seus cidadãos — detentores de um poder cada vez maior — por mais oportunidades, melhores serviços e maior qualidade de vida. E uma pena, embora talvez fosse inevitável, que o debate no seio do movimento de oposição que se alastrou por São Paulo no fim da década de 70 tenha levado à fundação de dois partidos rivais — o PT e o PSDB. De maneiras diferentes, ambos constituíram forças modernizadoras, mas tornaram-se polos opostos na política, cada qual obrigado a aliar-se às forças arcaicas do peemede-bismo e seus congêneres. Como observou o economista Mario Henrique Simonsen em 1987, "o grande debate nacional não é entre esquerda e direita, mas entre o moderno e o arcaico". Ainda é verdade. A eleição de outubro poderá produzir uma mudança de rumo. Quer isso ocorra ou não, o povo, que pouco a pouco adquire mais educação e, sob certos aspectos, torna-se mais empreendedor, poderá interferir na condução das políticas públicas.
Em três ocasiões nos últimos 25 anos, os brasileiros foram em grande número às ruas, em protestos pacíficos contra o status quo. Embora não tenham conseguido as eleições diretas para presidente que demandaram em 1984, a democracia veio rápido. Em 1992, provocaram a deposição do presidente Fernando Collor, ainda que não a sua punição, por seu desprezo pelo Estado de Direito. Será que vão obter a melhoria dos serviços públicos e a maior responsabilização política que exigiram em 2013? Deve ser essa a pauta do debate político no país nos anos que antecederão o bicentenário da Independência, em 2022. Quase pela primeira vez em sua história, os brasileiros agora querem refazer seu país de baixo para cima, como um país de cidadãos iguais, não de privilégios patrimoniais. Isso colocou o Estado corporativo na defensiva, e dá motivos para esperar que as conquistas das duas últimas décadas serão construídas e ampliadas em uma nova fase da história brasileira."
Não querendo ser malvado, detectei alguns erros no texto.
Este aqui, por exemplo:
"A abertura do comércio promovida pelo presidente Fernando Henrique na década de 90 foi radical pelos padrões brasileiros, mas não se comparada a de muitos outros países da América Latina."
ERRADO: A abertura comercial, com redução da tarifas, foi promovida pelo presidente Fernando Collor, contra a posição dos industriais e dos burocratas, aliás até dos diplomatas, que achavam que o Brasil tinha de "negociar no Gatt" uma redução de tarifas que na média era de 44%, e em vários casos ia a mais de 100% (sem falar da proibição absoluta de importar certos itens).
O FHC promoveu foi o fechamento comercial, pois assim que ele tomou posse, começou a proteger automóveis, brinquedos e outras coisas, com tarifas altas e novas proibições, inclusive absurdas cotas tarifárias para automóveis, que infernizaram a vida dos nossos diplomatas na OMC (voltaram a fazer agora a mesma coisa, com outros mecanismos).
O Brasil de FHC seguiu a Argentina, numa absurda taxa estatística de 3% a mais sobre a tarifa normal, e logo começaram os desvios (no nosso caso sempre para cima) em diversas outras linhas tarifárias.
Não, Michael Reid, FHC não promoveu abertura comercial, ao contrário. Ele começou o fechamento outra vez.
Fico por aqui, se não vou obrigar o jornalista a revisar muito o seu livro antes de soltar na praça.
Quaisquer que sejam os seus erros, eles não são nada comparados aos cometidos pelos companheiros, e não só em economia.
Será que ele falou do totalitarismo dos neobolcheviques?
Acho que não. Esses ingleses acham que todo mundo é democrata, como eles...
Bando de ingênuos...
Paulo Roberto de Almeida
Embora as autoridades brasileiras, inclusive, a própria presidente Dilma Rousseff, falem muito na necessidade de aumentar os investimentos do setor privado e estimular a produtividade e a competitividade, elas acreditam que esses fatores podem e devem ser induzidos pelo governo. "A presidente acredita piamente que todo problema tem uma solução governamental", comenta o economista José Roberto Mendonça de Barros. Em 2011, quando a valorização do real estava no auge, Dilma anunciou um pacote de medidas destinadas a ajudar a indústria, batizado de Brasil Maior. Algumas medidas eram razoáveis, tais como incentivos para que universidades e empresas colaborassem na área de pesquisa. O Ciência sem Fronteiras, programa de Dilma para que brasileiros estudem no exterior, também fazia sentido. O plano, no entanto, incluía duas medidas polêmicas. A primeira era o aumento em 30 pontos percentuais do imposto sobre carros importados de montadoras com uma fábrica no Brasil. A segunda era a eliminação de imposto sobre os salários dos setores de vestuário, calçados, móveis e software. Em lugar de premiar os vencedores, objetivo de qualquer política industrial, parecia um pacote de socorro para fracassados (embora o corte de impostos sobre a folha de pagamentos tenha sido depois estendido para outros setores).
UMA CÓPIA MALFEITA
Os críticos acusam o governo de pegar a onda do capitalismo de Estado — que, segundo Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, nunca chegou a desaparecer por completo no Brasil. "E um modelo que enfatiza a concessão de benefícios a determinadas empresas, em vez de deixar o mercado funcionar. É um modelo ruim que, associado ao protecionismo, fica ainda pior", entende ele. Para o professor Sergio Lazzarini, da escola de negócios Insper, em São Paulo, o governo começou a usar estatais para regular os mercados de petróleo, eletricidade e bancos, fazendo com que essas empresas passassem a registrar prejuízos. Todas essas medidas contrastam com a bem-sucedida política industrial sul--coreana, evocada por Luciano Couti-nho, presidente do BNDES, e outras autoridades brasileiras. A política sul--coreana tinha como principal meta impulsionar as exportações a fim de obrigar as empresas a competir no exterior. E, passado um período limitado de tempo, o governo asiático foi implacável no corte de subsídios.
A abertura do comércio promovida pelo presidente Fernando Henrique na década de 90 foi radical pelos padrões brasileiros, mas não se comparada a de muitos outros países da América Latina. Mesmo após a queda das barreiras, a economia brasileira permaneceu relativamente fechada. As tarifas médias continuaram superiores às de Coreia do Sul, China e Taiwan, por exemplo, e ainda foram elevadas depois de 2008. O custo de importação de um contêiner para o Brasil é excepcionalmente alto. Contratos públicos e muitos setores têm regras de conteúdo nacional. Em 2012, as importações corresponderam a apenas 13% do PIB, o valor mais baixo entre os 176 países acompanhados por um estudo do Banco Mundial. A Coreia do Sul, a potência industrial e tecnológica admirada pela equipe econômica de Dilma, é muito mais aberta, com exportações e importações equivalentes a 58% e 54% do PIB, respectivamente. O pendor protecionista é arraigado entre as autoridades brasileiras. Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, destaca as falhas nessa abordagem: "E patético você olhar tanta reclamação contra importação. Temos algo muito peculiar no Brasil, que é essa enorme abertura para investimento estrangeiro da qual não resulta em exportação. Fico abismado quando vejo nossa presidente dizer "vamos proteger nosso mercado". E quem está explorando nosso mercado são as multinacionais, que têm aqui lucros extraordinários".
O Brasil tem mesmo alergia ao liberalismo. Roberto Campos, um dos mais importantes economistas liberais do país, morto em 2001, escreveu que "assumir explicitamente o liberalismo é tão alienígena em um país com cultura dirigista quanto fazer sexo em público". (Ele mesmo começou sua carreira na vida pública como funcionário do governo dirigista de Juscelino Kubitschek.) Há razões para isso — e é por causa delas que o Brasil é diferente dos Estados Unidos, com os quais tantas vezes gosta de se comparar. Dos tempos coloniais à ditadura, a manutenção da coesão de um vasto território de geografia difícil — onde o estabelecimento de comunicações e as condições para a vida humana abundante e saudável apresentavam enormes dificuldades — foi uma preocupação permanente dos governantes. Por isso, no Brasil, foi o Estado que criou a nação, e não a nação que criou o governo, como nos Estados Unidos. Do mesmo modo, diferentemente da América espanhola, os governantes brasileiros sempre tiveram consciência da necessidade de consultar os notáveis locais, a fim de conservar a unidade nacional e evitar a secessão.
A escravidão — e o temor da revolta dos escravos — foi outra causa da necessidade de uma frente unida, além de distorcer as prioridades do Estado de tal maneira que retardou por séculos o desenvolvimento do país, condenando--o ao status de eterno país do futuro. A conseqüência trágica de uma sociedade de senhores e escravos foi que o Estado, quando começou a desenvolver a economia, não tratou de investir na educação, saúde e segurança da grande massa de brasileiros mais pobres. Foi somente a partir de 1988 que o país decidiu se propor uma sociedade em que o Estado de Direito fosse aplicado igualmente a todos.
ESTADOS UNIDOS DO SUL?
Não se trata de uma defesa da tese de que o Brasil tem de imitar os Estados Unidos. Nos tempos de Tiradentes, em Minas Gerais, se ansiava por uma república jeffersoniana. Desde então, os brasileiros comparam seu país com seu alter ego do Norte. Muitos lamentam, como o escritor brasileiro Viana Moog, morto em 1988, que o Brasil tenha produzido bandeirantes extra-tivistas em vez de trabalhadores pioneiros. O Brasil, porém, não pode mudar sua história ou, pelo menos no curto prazo, sua cultura. Na verdade, o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos raros liberais do país, entende que, se o Brasil não se tornou como os Estados Unidos, "foi essencialmente por não querer" — por não se dispor a sacrificar a alegria e sua abordagem tranqüila da vida em prol da acumulação de capital e da prosperidade futura. Ele propõe que o Brasil ofereça ao mundo um conjunto diferente e menos materialista de valores do que o estilo de vida americano, como mostra o recente compromisso do país com o ambientalismo.
Sem dúvida, a conversão nas duas últimas décadas para políticas mais preocupadas com a proteção do meio ambiente marca o fim de uma longa marcha, de mais de quatro séculos, para ocupar o vasto território brasileiro, iniciada com jesuítas e bandeirantes. A agricultura do país já confia mais no aumento da produtividade do que na incorporação de novas terras. Ainda há, entretanto, muitos pobres. O país não poderá renunciar, por um bom tempo, à busca do crescimento econômico.
Também vale ressaltar que a crítica ao renascimento do nacional-desenvolvimentismo não constitui um argumento em prol de um Estado mínimo "neoliberal" (ou seja, neoconservador). O Brasil não é Singapura. É um país grande demais, com demasiadas desigualdades sociais e regionais, para que essa opção seja viável (ainda que os brasileiros tenham muito a aprender com a determinação daquele país com a inovação, a abertura e a seguridade social). Pelo contrário, trata-se de uma convocação para que o Brasil retome o consenso social-democrata que tanto êxito obteve de 1994 a 2006, com sua combinação de economia amplamente liberal com maior ênfase na política social e na redução das desigualdades. Se o Brasil não abandonar seu recente flerte com o renascimento do Estado corporativo e não voltar a se empenhar na criação de uma regulamentação eficaz, não conseguirá atender às demandas de seus cidadãos — detentores de um poder cada vez maior — por mais oportunidades, melhores serviços e maior qualidade de vida. E uma pena, embora talvez fosse inevitável, que o debate no seio do movimento de oposição que se alastrou por São Paulo no fim da década de 70 tenha levado à fundação de dois partidos rivais — o PT e o PSDB. De maneiras diferentes, ambos constituíram forças modernizadoras, mas tornaram-se polos opostos na política, cada qual obrigado a aliar-se às forças arcaicas do peemede-bismo e seus congêneres. Como observou o economista Mario Henrique Simonsen em 1987, "o grande debate nacional não é entre esquerda e direita, mas entre o moderno e o arcaico". Ainda é verdade. A eleição de outubro poderá produzir uma mudança de rumo. Quer isso ocorra ou não, o povo, que pouco a pouco adquire mais educação e, sob certos aspectos, torna-se mais empreendedor, poderá interferir na condução das políticas públicas.
Em três ocasiões nos últimos 25 anos, os brasileiros foram em grande número às ruas, em protestos pacíficos contra o status quo. Embora não tenham conseguido as eleições diretas para presidente que demandaram em 1984, a democracia veio rápido. Em 1992, provocaram a deposição do presidente Fernando Collor, ainda que não a sua punição, por seu desprezo pelo Estado de Direito. Será que vão obter a melhoria dos serviços públicos e a maior responsabilização política que exigiram em 2013? Deve ser essa a pauta do debate político no país nos anos que antecederão o bicentenário da Independência, em 2022. Quase pela primeira vez em sua história, os brasileiros agora querem refazer seu país de baixo para cima, como um país de cidadãos iguais, não de privilégios patrimoniais. Isso colocou o Estado corporativo na defensiva, e dá motivos para esperar que as conquistas das duas últimas décadas serão construídas e ampliadas em uma nova fase da história brasileira."
Mundorama encontra Paulo Roberto de Almeida (ou vice versa)
Não tinha reparado, só agora, mas no fundo, no fim, ao término, in fine da postagem da resenha do meu livro por uma mestranda do Irel-UnB, havia linkagem para materiais antigos publicados em Mundorama, e que levam ao meu nome.
(Mas só isso? Ando escrevendo pouco..., ou o pessoal está distraído.)
Aqui vão eles:
(Mas só isso? Ando escrevendo pouco..., ou o pessoal está distraído.)
Aqui vão eles:
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