quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O Bolsa-Empresario: distribuicao de renda as avessas - Carlos E. Gonçalves e Mauro Rodrigues

 Mais um dos muitos crimes econômicos companheiros: retirar dinheiro de todos os brasileiros, mesmo dos mais pobres, para entregar aos ricos, aos privilegiados, aos amigos do rei.
Que vergonha lulopetistas...
Paulo Roberto de Almeida

Um conto de duas Bolsas
Por Carlos E. Gonçalves e Mauro Rodrigues
Valor Econômico, 14/01/2016

Recentemente, o governo aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2016, que prevê um superávit primário de 0,5% do PIB. Em tempos de vacas magérrimas, optou-se por não reajustar o programa Bolsa Família - o que é uma má notícia. Foi anunciado também o fim do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), apelidado carinhosamente de Bolsa Empresário - essa sim uma boa notícia.

O Bolsa Família, penalizado no orçamento de 2016 por conta da penúria arrecadatória, alivia a dura situação dos mais pobres do nosso país, tanto direta como indiretamente. A condicionalidade desse programa obriga os pais a investirem no capital humano dos filhos, o que ajuda a combater a perpetuação intertemporal da pobreza. Além disso, se o programa de fato afetar a oferta de trabalho de mães com rendimento muito baixo, levando-as a sair do mercado de trabalho para cuidar dos filhos, o salário das não-mães pobres que permanecem no mercado se eleva. E como essas se encontram nas camadas inferiores da pirâmide de renda, a desigualdade cai. Finalmente, o programa, por ser focado, não sai assim tão caro: R$ 30 bilhões por ano.

Já o Bolsa Empresário, que nada mais é que dinheiro subsidiado do BNDES para empresas domésticas e externas, é uma péssima ideia. Seu custo? No melhor cenário possível, mais ou menos os mesmos R$ 30 bilhões por ano, em subsídios creditícios. A lógica do programa é tirar dinheiro de todos os brasileiros via orçamento federal - o governo emite dívida para levantar recursos que são repassados ao BNDES - ou via poupança forçada (leia-se FAT), e transferi-los a taxas amigas, menores que as taxas às quais o Tesouro se financia, para algumas empresas eleitas - as ditas amigas do Rei. Sem exageros, trata-se de um Robin Hood às avessas, que deveria causar horror a quem se diz de esquerda ao invés de angariar apoio.

Enquanto o BNDES emprestar recursos subsidiados, o governo seguirá tirando dos pobres para dar aos ricos

Na verdade, é até mesmo pior que isso: o Bolsa Empresário não apenas distribui renda na direção contrária; ele, além disso, leva a uma má alocação da poupança nacional. É verdade que a empresa X que recebeu grana barata do BNDES pode investir mais, mas veja que essa grana é retirada do mercado via emissão de dívida pública (ou sequestro da poupança do trabalhador, remunerada a taxas reais negativas). A contrapartida do empréstimo à X é que a esses recursos deixam de ir, via sistema financeiro privado, para outra empresa, a Y. Mas por que isso é um problema para a sociedade como um todo e não apenas para Y?

O sistema financeiro privado tem por objetivo maximizar o lucro. Assim seus empréstimos são decididos com base na qualidade/risco da empresa ou do projeto em questão. E o banco além disso monitora de perto o uso dos recursos; se a coisa não vai bem, ele retira a linha de crédito para minimizar perdas. Já o BNDES é controlado pelo governo, seu objetivo não é necessariamente maximizar lucro. Claro que a qualidade do devedor e a natureza do projeto importam, mas esses são apenas uma parte da história. Outros critérios como, por exemplo, o incentivo à formação de Monopólios Nacionais (eufemisticamente chamados de "Campeões" Nacionais) também estão por trás das decisões de crédito do banco, que é um agente do governo.

Um parêntese: a tal estratégia dos Campeões Nacionais deixaria os vilões de Sherwood com inveja: tira-se dinheiro dos pobres para fomentar o surgimento de monopólios que, por sua vez, tornam ainda mais dura a vida do pobre consumidor. O pobre apanha duas vezes com a mesma cajadada!

Quando esse tipo de crédito dirigido assume proporções jabuticabais, empresas produtivas e que deveriam crescer - justamente porque atendem melhor o interesse dos consumidores -, encolhem por ausência/encarecimento de crédito (caso elas não tenham acesso aos fundos do BNDES). Do outro lado, tantas outras que deveriam encolher por serem improdutivas, ficam por aí vivíssimas da silva por conta de um custo de capital artificialmente baixo - respiração artificial. O resultado final você já antecipou: a economia como um todo se torna menos produtiva, o país cresce menos do que poderia.

O bem-vindo fim do PSI não significa o fim do Bolsa Empresário, infelizmente. Enquanto o BNDES continuar a emprestar recursos subsidiados, o governo seguirá tirando dos pobres para dar aos ricos. Por fim, talvez ainda mais difícil de aceitar, nesse ano de vacas famélicas, seja o fato de o governo ter retirado da LDO a proposta de zerar os empréstimos subsidiados a países estrangeiros. Não tem dinheiro para os mais necessitados, mas tem para os "perfeitos idiotas latino-americanos"?! A desculpa de que cortar esse crédito levaria a uma queda das nossas exportações é esfarrapada, é um efeito irrelevante e de curta duração. Se o país V deixa de comprar nossos bens assim subitamente, entram menos dólares, a taxa de câmbio se deprecia e o Brasil exporta mais de outros bens para outros lugares governados por não-idiotas.

Parafraseando nosso amigo Samuel Pessoa, é tanto erro e tanta falta de entendimento dos problemas econômicos do país, que dá vontade de sentar na sarjeta e chorar.

Carlos Eduardo Gonçalves é professor titular da USP e economista do PQ, www.porque.com.br
Mauro Rodrigues é professor livre-docente da USP e economista do PQ, www.porque.com.br

Previsões imprevidentes para 2016: ampliando a lista - Paulo Roberto de Almeida


Previsões imprevidentes para 2016: pela primeira vez a imprevisão ganha da previsão

Paulo Roberto de Almeida


Tá difícil pessoal. Os companheiros, no afã de conservar o monopólio do poder, estão se comportando de maneira imprevisível. Ou seja, eles arriscam, pela primeira vez, desmentir as minhas previsões imprevisíveis, o que será um tremendo fracasso para este colunista de ideias malucas, que fica sempre, irreligiosamente a cada ano, prevendo as coisas mais sensatas possíveis, só para ser desmentido pelos companheiros, que, sempre e invariavelmente, agem de forma insensata, contribuindo assim para o sucesso de minha empreitada pouco gloriosa.
Como sabem todos os 18 leitores que me seguem, sou especialista em coisas impossíveis, ou contrarianistas: tentar prever o que jamais será realizado. Pois bem: nestes doze ou treze anos de previsões insensatas (ou seja, sensatas), tenho sido invariavelmente desmentido (isto é, confirmado) pelos companheiros, que insistem em meter os pés pelas mãos a cada ano, o que me deixa bem contente, pois afinal de contas eles sempre colaboram, amplamente, com a minha aposta na sua insensatez.
Ora pois, como diriam os gajos da terrinha, não é que, premidos pelas agruras do momentos, pelas circunstâncias adversas, eles resolveram se comportar desta vez, e estão arriscando pela primeira vez me desmentir, logo eu, que só conto a verdade, ou seja, que eles são incapazes de acertar qualquer coisa?
Eles já começaram pagando pedaladas, estão gostando das privatizações, ficaram de não roubar demais, enfim, estão conseguindo desmentir as melhores (quero dizer, as piores) previsões sobre o seu comportamento tresloucado. Está certo que no final de 2014, eu tinha apostado que em 2015 eles iriam tentar a honestidade, mas acho que essa foi forte demais para eles. Já no terceiro mês, deu aquele comichão, e eles começaram a roubar em outras áreas, ainda não detectadas pela Lava Jato, inclusive porque na Petrobras – quase completamente destruída – e em Abreu e Lima – já custou vinte vezes o orçamento inicial, e não vai conseguir ser rentável antes de 2095 – as possibilidades de “contribuições voluntárias e legais” foram tremendamente reduzidas com esse bando de procuradores e policiais em volta dos potes de ovos de ouro. Tiveram de voltar – pelo menos por enquanto – para a merenda das crianças e para o recolhimento do lixo, duas coisas que tinham ficado bem para trás por suas taxas de rentabilidade muito limitadas. Enfim, quem não tem cão, caça com urubus, ou hienas, enfim, o que der e estiver à mão...
Pois é, minha gente, já não consigo mais fazem previsões imprevidentes como antigamente, pois tampouco se fazem petralhas como outrora: a verdade é que os melhores dentre eles estão sendo, infelizmente, colocados fora de circulação por uma justiça de classe, vingativa, seletiva, golpista, enfim, tudo aquilo que vocês sabem. Os próprios trapalhões da área econômica estão ficando quase sem receitas de novas artimanhas unicampistas, pois parece que as tradicionais já esgotaram seu prazo de validade. Como é que se pode fazer política econômica assim?
Estamos agora como numa velha canção: o que será que será?
Arriscando minha reputação – mas estou prevendo que os companheiros me desmentirão ainda este próximo ano, continuando a ser os mesmos imprevisíveis trapalhões de sempre – vamos alinhar algumas previsões imprevidentes para 2016.

1) Criação do programa Pedaladas Legais
Para se livrar de uma vez de todas essas chateações com pedidos de impeachment, e para contentar tantos governadores e prefeitos que também gastaram além da conta e que depois ficaram sem dinheiro para pagar médicos, enfermeiros, policiais, professores e todo esse povinho miúdo que só faz greve e perturba a paz dos eleitos com suas reivindicações abusivas, o governo federal já tem a solução para evitar o confronto com o TCU.
Basta criar o programa “Pedaladas Legais”, que é simplesmente uma espécie de cheque em branco avalizado pelo Congresso, a partir do qual os executivos dos três níveis da federação podem gastar à vontade, sempre que as necessidades o justificarem e houver imperiosos motivos sociais, como são todos os programas dos preclaros governos em favor da cidadania. Quando os montantes ameaçarem ultrapassar as dotações anteriormente autorizadas, basta os legislativos de cada esfera autorizarem um déficit legal, deixando o buraco para o futuro. Ninguém poderá dizer que foi por falta de vontade que o governo, como uma grande mãe para todos, deixou de fazer esta ou aquela bondade: com o programa Pedaladas Legais, tudo o que era complicado se torna mais simples, pois os legisladores não deixarão de cooperar com os executivos numa matéria que atende os mais legítimos anseios sociais, e as mais justas necessidades de todos os cidadãos de suas respectivas circunscrições eleitorais.
Estou seguro que o Adevogado General do PT, ops, o Advogado Geral da União saberá propor um projeto de lei, tão criativo ele é, que contemple os justos reclamos de executivos e legisladores por uma estrutura orçamentária flexível e manejável, como gostam todos os políticos e não deixam de apreciar os contribuintes, que estão sempre pedindo mais e mais pelo dinheiro que entregam voluntariamente aos respectivos governos em cada um dos níveis da federação. Esses contribuintes voluntários são um pouco como os cortadores de cana em Cuba, na época da colheita, la zafra, que está sempre precisando de braços, pois os tratores são poucos e sempre falta diesel. Os cubanos já têm uma piada para essas ocasiões: la participación es voluntaria, pero la voluntad es obligatoria. Ainda vamos chegar lá, aqui também...

2) Cristo Redentor entra no programa de concessões companheiras
Os companheiros ficaram tão entusiasmados com o seu programa de concessões – totalmente diferente das privatizações tucanas, como todos sabem – que passaram a imaginar tudo o que pode ser objeto de concessão pública, e não é que eles reservam algumas boas surpresas para 2016? Pois então, o Cristo Redentor, que passa por símbolo do Brasil, ou do Rio, o que seja, também vai entrar no programa de concessões companheiras. O lote, a montanha, os arredores, a floresta, as favelas simpáticas ao redor, a própria estátua – cela va de soi – serão cercados, com arames farpados e eletrificados (estilo nazista tropical), e o conjunto vai ser leiloado, segundo regras especiais que estão sendo desenhadas pelo MPOG, ou seja, o Ministério Petista de Obras do Governo, para que tudo seja perfeitamente concedido, regulado, e taxado, para que o governo companheiro, em lugar de gastar dinheiro com funcionários e os que mamam no negócio, passe a arrecadar impostos dos ganhadores, um pouco como se faz com as concessões de telefonia (que revertem 40% do faturamento em impostos).
O Cristo vai ficar muito mais vibrante a partir da privatização, ops, concessão, pois os novos administradores poderão promover bailes, festas, convescotes, reuniões abertas a todas as religiões e outros eventos sociais inclusivos. A estátua vai ganhar cores muito mais alegres do que atualmente, esse cinzento concreto que não tem graça nenhuma; poderão pintar um verdadeiro arco-íris no personagem, conforme os tempos

3) Companheiros aderem ao livre comércio... de talentos.
Com tantos países fazendo blocos em todas as partes, o Brasil companheiro vai inovar absolutamente, promovendo o que há de mais avançado e racional no campo da liberalização comercial: o livre-comércio unilateral. Em lugar de ficar negociando item por item com um monte de parceiros chatos, os companheiros vão promover o livre comércio do único item que não pode ser objeto de comércio, por ofender as boas consciências e as almas cândidas: o ser humano. Mas eles o farão de forma avançada, preservando todos os direitos íntimos da pessoa humana, sua privacidade e o respeito que se deve ter por cada um. Nada mais progressista do que exportar talentos, o que o Brasil tem de melhor: futebolistas, músicos de funk, cantores caipiras, trombadinhas, garotas de programa, políticos sem mandato, economistas da UniCamp, camponeses sem terra, trabalhadores sem teto, enfim, todas aquelas categorias que já entram nos programas de subsídios companheiros e que passarão doravante a ter o mundo como possibilidade de triunfo universal, graças a esta nova iniciativa companheira.

4) Protocolo aditivo à convenção da ONU sobre corrupção
Tendo em vista dúvidas persistentes e tratamento duvidoso pela Justiça em relação às doações legais que as empresas em geral, mas especialmente as estatais, possam fazer a partidos políticos, os companheiros vão propor, na próxima Assembleia Geral da ONU um protocolo aditivo à Anti-Bribery Convention, a convenção que visa induzir os países soberanos a coibir, controlar, vigiar e punir todas as doações que não estejam vinculadas a uma atividade econômica precisa e legítima. Existe uma clara ambiguidade nessas extorsões, ops, doações, pois só pelo fato de que países com certa predominância de compras governamentais e de empresas estatais podem estar sendo controlados por juízes muito zelosos partidos políticos legítimos podem estar sendo prejudicados por ações que deveriam ser consideradas dentro do fluxo normal de caixa dois, ops, de tesouraria, e avaliadas em conformidade com as intenções generosas de cada empresa doadora.
Para levantar essas ambiguidades, os companheiros diplomatas vão propor um projeto de resolução – que certamente recolherá a adesão entusiasta de muitos parceiros ditos estratégicos, como China, Venezuela, Rússia, Cuba, Equador, enfim, os suspeitos de sempre – preparatória a um verdadeiro protocolo aditivo à convenção anticorrupção. Todos os países têm o direito de organizar os negócios de seus partidos em total respeito à soberania nacional, especialmente as operações financeiras que são imprescindíveis para ao funcionamento normal de suas atividades, sobretudo a compra de equipamentos, pagamentos de salários, propinas, ops, contribuições para os sistemas de mensalão, ops, de coalizão que podem caracterizar certos regimes políticos. Isso vai da sobrevivência dos nossos apparatchiks, ops, nossos quadros, que têm o direito de trabalhar eticamente com o dinheiro dos contribuintes, quer dizer, a partir das doações legais. Enfim, os companheiros diplomatas saberão encontrar a linguagem apropriada para os projetos de resolução da AGNU e depois para o first draft do Protocolo Adicional.

5) O governo companheiro vai conseguir equilibrar as contas nacionais
Não é nada, não é nada, trata-se de um feito extraordinário: contrariando os mais afoitos – aqueles que tinham “lido” Samuelson e Prebisch de “orelha”, e nunca, jamais, conseguiram ler Keynes de verdade – os companheiros no poder vão conseguir dar um cavalo de pau nas despesas públicas e não produzir mais déficits ou grandes aumentos da dívida pública, invertendo o sentido da contabilidade nacional em mais ou menos 7 ou 8% do PIB. Glória, glória nas alturas, eles vão entrar no Guinness das “rating agencies”, aquelas que não têm nenhuma importância, e que só ficam dando notas negativas por que se submetem aos especuladores de Wall Street.

6) Os companheiros renovam sua promessa de não mais roubar
Eu sei que no ano passado, ou seja, no decorrer de 2015, eles já tinham prometido moderar seu apetite por esses fabulosos contratos das estatais, com ênfase numa certa companhia de petróleo que já tinha ficando entre as maiores do mundo, mas que já foi rebaixada para a condição de “junk status”. Todos sabemos que é muito duro, pois afinal de contas eles têm um bocado de compromissos sociais – com as próprias famílias dos companheiros, pois algum já estão na terceira ou quarta mulher – mas eles prometeram que vão se redimir, se esforçar, pedir desculpas a nação, negociar um plano de indenização do que roubaram, aproveitar os acordos de leniência tão justamente e legitimamente necessários para evitar recessão e desemprego, e vão jurar que essa coisa de roubar à larga é comportamento do passado. Inclusive porque o passado nunca passou de verdade em certas esferas companheiras: em pleno julgamento do Mensalão, e com apparatchiks na cadeia – o Stalin Sem Gulag em pessoa, por exemplo – alguns deles continuavam organizando o assalto à petroleira, também conhecido como Petrolão (que é apenas a pontinha da pontinha do imensa iceberg da corrupção companheira).

7) A Justiça aumenta sua produtividade em 350%
Preocupado com sua imagem perante a nação, o Judiciário, do mais modesto rábula ao mais recente supreminho companheiro, empreende um esforço extraordinário para reduzir os prazos de decisões finais para todos os litígios e acusações elevados à apreciação desse insigne poder. O conjunto dos funcionários e servidores dessa deusa cega – e que portanto não consegue olhar onde deposita ou para onde aponta aquela sua famosa espada durona – fizeram um pacto conjunto, nacional, federal, regional, de alcance ilimitado, para a duplicação, dentro de uma determinada meta – não anunciada, mas que prometem dobrar, assim que atingirem essa meta não especificada – a sua já elevada produtividade no trabalho. Vão começar por reduzir de 8 (OITO) a apenas 4 (QUATRO) anos a duração do tempo médio que os cidadãos e as empresas precisam esperar para que a dita Justiça, essa da espada cega, resolva qualquer pendência judicial, de qualquer natureza ou complexidade. Ou seja, aquele seu caso, que antes poderia demorar do simples ao dobro, quer dizer entre quatro e dezesseis anos, a partir deste ano da graça de 2016 só vai demorar, na média, entre dois e oito anos para ser resolvido.
Os referidos magistrados, funcionários e todos os servidores da Justiça, de qualquer justiça, se declararam favoráveis a resolver todos os casos pendentes de apreciação e julgamento em todas as cortes normais, excepcionais e especiais em qualquer foro, inclusive aquelas contas das campanhas presidenciais de 2014, de 2010 e de 2006, que parecem ter conhecido financiamentos esdrúxulos, por acaso coincidentes com operações de doações legais e de outros tipos de uma famosa empresa petrolífera.
Mais ainda, extremamente inquieta em que os recentes aumentos de salários, de gratificações, subsídios ou quaisquer outros benefícios que se agreguem aos montantes globais de remuneração em seu favor, e levando em conta, por patriotismo exacerbado, o péssimo estado atual (e futuro) das finanças públicas, a casta do Judiciário e todos os seus agregados resolveram aceitar uma redução linear desses vencimentos, em pelo menos 30% dos montantes totais. Eles dizem que isso vai ser feito independentemente de qualquer teto constitucional, que em determinadas esferas parece ter virado piso, e já ninguém respeita mais, sequer o próprio Judiciário. Não é desconhecido de ninguém que os digníssimos magistrados, supreminhos ou supremões, recebem, além dos maiores salários deste país rico (em inovações constitucionais), uma série enorme, aliás desconhecida, de outros subsídios e ajutórios (educação, moradia, alimentação, transporte, toga, terno, ceroulas), que juntando tudo, vai muito além da Taprobana, ou seja, do que ganham os membros da Suprema Corte do Império. Todo esse volume de subsídios e benefícios, que agregam aos seus já altos salários, se estendem por toda a cadeia da categoria, dos ditos supremões ao mais humilde agente de portaria, que provavelmente ganha mais do que um general três estrelas (que nunca chegará ao teto).

8) Os industriais da FIESP param de reclamar do aumento de juros
A cada reunião do Copom, eles faziam sempre igual: emitiam uma nota reclamando do aumento dos juros. Aproveitavam para reclamar da taxa de câmbio e para pedir desvalorização do real, para “ganhar competitividade”, diziam eles. Como nem uma coisa nem outra acontecia, eles invariavelmente exigiam aumento de tarifas aduaneiras e mais um antidumping contra produtos chineses. Agora, eles continuam reclamando da concorrência chinesa, mas ganharam tudo (ou quase tudo) o que a FIESP queria: protecionismo alfandegário, desvalorização da moeda, menos baixa dos juros, que vão continuar aumentando até onde a vista alcança. Pela primeira vez em décadas, o pessoal da FIESP promete não reclamar dos juros. Vamos ver quanto tempo eles suportam o torniquete do Copom e aguentam esses juros na estratosfera.

9) O PSOL reconhece que Cuba pode não ser um modelo para o Brasil
Não só o PSOL: todos os da esquerda, e mais os companheiros de viagem e os gramscianos da linha auxiliar, sempre defenderam acerbamente o modelo cubano, como o nec plus ultra para saúde e educação, inclusive em matéria de “mídia” democrática. Não mais! Em 2016 eles prometem fazer críticas aos companheiros cubanos, aos aliados bolivarianos e outros da mesma fauna, e tudo por uma razão muito simples: com o fim do mensalão soviético aos camaradas cubanos, com a baixa do petróleo que atingiu duramente os bolivarianos chavistas, acabaram aqueles convites generosos para férias revolucionárias, quando os camaradinhas do Brasil podiam desfrutar de praia, sol, lagosta e mojito, sem gastar praticamente nada. A crise chegou no ponto mais sensível dos revolucionários, o bolso, e com isso diminuiu proporcionalmente o ardor militante. Em 2016 Raul Castro e Nicolás Maduro não serão poupados pelos psolistas e psolões.

Com essas e outras medidas e decisões inesperadas, 2016 será um ano muito melhor para o regime duradouro dos companheiros e para todos os seus aliados de coração, sem ameaças golpistas, sem risco de quebradeira econômica, sem perda de direitos adquiridos e de conquistas sociais, e sem o mimimi da oposição, que não tem moral nenhuma para reclamar das iniciativas companheiras, pois eles já fizeram igual em matéria de trapalhadas governamentais, embora com muito menos competência do que os companheiros. Estes prometem continuar fazendo o que sabem fazer de melhor, como nunca antes se fez no Brasil.
Vamos que vamos! Com todas essas imprevisões imprevisíveis, o ano que se inicia promete ser o melhor da década, para ninguém esquecer de nada, pois as surpresas são garantidas. Eu conto com os companheiros para não me fazerem perder, pela primeira vez, minha aposta nas previsões imprevidentes, que já se tornaram uma marca registrada deste blog.
Feliz 2017, ops, 2016 a todos, que o ano sorria segundo os desejos de cada um...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília,  31 de dezembro de 2015, 5 p.
Revisão ampliada, 14 de janeiro de 2016, 8 p.

PS.: Para as previsões anteriores, ver estas duas postagens:

Preparando as previsões imprevidentes para 2016: conferindo as de 2015:

e

Preparando as previsões de 2016: algum retrospecto pode ser útil:

Leitura: dos prazeres das pesquisas em bibliotecas, retomar velhos livros...

Para fins de um trabalho sobre os duzentos anos do nascimento de Francisco Adolpho de Varnhagen, em 17 de fevereiro de 1816, em Sorocaba, SP, onde seu pai tinha ido montar a fábrica de ferro de São João de Ipanema, a pedido de D. João VI, retirei da biblioteca do Itamaraty a maior obra do nosso historiador-diplomata, dito pai da historiografia brasileira, e, folheando delicadamente o volume, chego à capa final, no envelope antigamente reservado aos empréstimos.
E o que encontro lá, com data marcada para devolução em 3 de julho de 1998?
A minha assinatura, seguida do meu número de leitor, exatamente 469.
Não é um prazer saber que já "frequentamos" um livro importante em épocas passadas?
Será que aprendi alguma coisa naquela primeira leitura?
Acho que achei o livro muito chato, com seu estilo prolixo, linguagem empolada, mas em todo caso, leio agora com maior atenção, e prazer...
Feliz aniversário Varnhagen!
Estou preparando algumas surpresas para você.
Que tal um seminário e um livro inteiro?
Acho que vou escrever um capítulo sobre um aspecto importante de sua atividade e pensamento.
Depois volto ao assunto.
Por enquanto fiquem com a imagem da folha de expediente, edição de 1956, com a ficha de empréstimo gentilmente assinada por mim.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de janeiro de 2016

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Hangout sobre Politica Internacional, Roque Callage, Cezar Roedel e Paulo Roberto de Almeida

Hangout sobre Política Internacional, no dia 15/01/2016, as 15hs, com a participação dos ProfessoresCezar Roedel e Roque Callage Neto, do RS, e deste escriba, no seguinte URL:
https://www.youtube.com/watch?v=UwUyGwoI9wI

Falta uma estrategia? Pois nao, aqui tem uma... - Marcos Troyjo, Paulo Roberto de Almeida

Marcos Troyjo, no seu artigo semanal da FSP, reclama da falta de uma estratégia clara por parte do governo lulopetista que nos assalta atualmente. Concordo, mas se formos esperar por uma, esperaremos muito: os caras estão mais perdidos do que cego em tiroteio, como se diz, e não se pode esperar que desse mato saia cachorro, nem coelhos.
Eles, na verdade, estão matando cachorro a grito, atirando para todo lado, sobretudo contra os brasileiros, todos eles, pobres (ICMS, aumentos de tarifas públicas em todos os setores, sobretudo eletricidade), classe média (imposto de renda, impostos sobre serviços, combustíveis) ou empresários (torniquete nos recolhimentos, aumento de juros, fim de subsídios, etc.), e até contra os pobres beneficiários do curral eleitoral das supostas bolsas-pobre (com aumento generalizado da inflação).
Portanto, não esperem nada do lulopetismo.
Transcrevo abaixo o seu artigo, mas antes permito-me colocar a minha "estratégia" para o Brasil sair do buraco.
Resumi a natureza das medidas num artigo escrito em inglês, ainda não publicado, do qual transcrevo a última parte, apenas algumas linhas:
" Uncertainty, and insecurity, those are the words of the moment in Brazil. How an entrepreneur can make plans for a year, two years, or five years ahead? This complex set of problems require, at the same time: (a) urgent measures that have to be adopted in terms of fiscal adjustment, followed by (b) medium term decisions that have to be taken aiming to a certain number of reforms pointing to confidence building measures to facilitate the return of investments, and (c) the launching of a long term program of structural adjustments in order to create a new institutional framework looking for the recovery of competitiveness of the Brazilian industry, and creating a solid basis for a productivity overhaul of the economy.
Who will deliver all that? No guesses for the moment…" (Hartford, October 13, 2015)

Mas, dez anos atrás, eu já alinhava o meu conjunto de reformas, que pode constituir uma estratégia para "salvar" o Brasil. Antes precisamos expulsar os petralhas do poder, pois com eles não podemos esperar nenhuma reforma consistente, só continuação do desgoverno, da corrupção e da roubalheira.

1. Reforma política, a começar pela Constituição: seria útil uma “limpeza” nas excrescências indevidas da CF, deixando-a apenas com os princípios gerais, remetendo todo o resto para legislação complementar e regulatória. Operar diminuição drástica de todo o corpo legislativo em todos os níveis (federal, estadual e municipal), retirando um custo enorme que é pago pelos cidadãos; Proporcionalidade mista, com voto distrital em nível local e alguma representação por lista no plano nacional, preservando o caráter nacional dos partidos.
2. Reforma administrativa com diminuição radical do número de ministérios, e atribuições de diversas funções a agências reguladoras. Privatização dos grandes monstrengos públicos que ainda existem e são fontes de ineficiências e corrupção, no setor financeiro, energético, e outros; fim da estabilidade no serviço público.
3. Reforma econômica ampla, com diminuição da carga tributária e redução das despesas do Estado; aperto fiscal nos “criadores de despesas” irresponsáveis que são os legislativos e o judiciário; reforma microeconômica para criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, ao lucro e para diminuir a sonegação e a evasão fiscal.
4. Reforma trabalhista radical, no sentido da flexibilização da legislação laboral, dando maior espaço às negociações diretas entre as partes; extinção da Justiça do Trabalho, que é uma fonte de criação e sustentação de conflitos; Retirada do imposto sindical, que alimenta sindicalistas profissionais, em geral corruptos.
5. Reforma educacional completa, com retirada do terceiro ciclo da responsabilidade do Estado e concessão de completa autonomia às universidades “públicas” (com transferência de recursos para pesquisa e projetos específicos, e os salários do pessoal remanescente, mas de outro modo fim do regime de dedicação exclusiva, que nada mais é do que um mito); concentração de recursos públicos nos dois primeiros níveis e no ensino técnico-profissional.
6. Abertura econômica e liberalização comercial, acolhimento do investimento estrangeiro e adesão a regimes proprietários mais avançados.
(Brasília, 15 de dezembro de 2005)

Paulo Roberto de Almeida
PS.: Pois é, vai demorar um bocado para implementar reformas do tipo que eu menciono acima. Mais ou menos duas ou três gerações, ou seja, entre 75 e 100 anos. Não me esperem até lá...


'É a ausência de estratégia, estúpido!'
MARCOS TROYJO
FSP, 13/01/2016

No Brasil há muito sofrimento, pouco sacrifício

Num recente texto publicado no UOL, o professor Carlos Primo Braga, do IMD (Suíça), relembra uma conhecida ação de marketing político que se notabilizou durante a disputa pela Casa Branca no início dos anos 1990 entre George Bush, que buscava reeleição, e o jovem governador do Arkansas, Bill Clinton.

Um dos estrategistas de Clinton, James Carville, explorou a conjuntura de estagnação do produto norte-americano ao propor o bordão "É a economia, estúpido!".

A frase viralizou e, mais que isso, ajudou a criar a contraposição entre um governante de perfil "velha economia" (Bush) e uma estrela ascendente da política (Clinton) que já se associava à nascente revolução da internet e suas empresas "pontocom".

Primo Braga compõe uma interessante analogia com o atual momento brasileiro. No nosso caso, para além de uma conjuntura internacional adversa –aumento das taxas de juros internacionais, desaceleração da China etc –, contribuem também o esgotamento da modalidade brasileira de capitalismo de Estado, tal como implementada pelo lulopetismo, e as barbeiragens na condução macroeconômica dos últimos seis anos.

Para agravar ainda mais a desarrumação, acirrou-se a "guerra" entre o Planalto de Dilma e a Câmara de Eduardo Cunha, cuja principal batalha se afigura com a abertura do processo de impeachment.

Por isso tudo, a melhor interpretação do quadro brasileiro viria com um "É a política, estúpido!".

Zhang Duo - 30.nov.2015/Xinhua   
A presidente Dilma Rousseff e o líder chinês Xi Jinping se cumprimentam durante encontro em Paris
A presidente Dilma Rousseff e o líder chinês Xi Jinping se cumprimentam durante encontro em Paris
Longe de mim minimizar a complexa gestão macroeconômica cotidiana ou a importância do diálogo construtivo entre Executivo e Legislativo. Tampouco se deve subestimar uma conjuntura global adversa para exportadores de commodities.

A questão é que, caso se prolongasse o período de "largesse" do afrouxamento monetário no Ocidente, o preço das commodities agrícolas e minerais continuasse lá em cima e Planalto e Congresso trabalhassem em harmonia, isso não bastaria para pavimentar o caminho brasileiro a tornar-se um país de renda per capita superior a US$ 20 mil no espaço de uma geração.

Realisticamente, se consideramos o intervalo 1980-2020, o Brasil terá acumulado duas décadas perdidas em quarenta anos. É tempo demais relegado ao ferro-velho da história.

E vale ressaltar que, na década passada, ainda fomos extremamente beneficiados por reformas empreendidas na segunda metade dos anos 1990 e pela ascensão dramática da China, com seu robusto apetite pelas matérias-primas de que dispomos em abundância.

MUITO SOFRIMENTO, POUCO SACRIFÍCIO

O Brasil já conheceu o céu e o inferno em termos de conjunturas internacionais mais ou menos propícias; já se governou com mais ou menos coesão entre os Poderes. O que o país jamais adotou foi uma estratégia de economia política que lhe permitisse a inserção competitiva no cenário global.

Ter uma estratégia não é prerrogativa de sociedades politicamente fechadas. É bem verdade que podem se observar diferentes graus de "consenso forçado" nas experiências históricas de Cingapura, Chile ou China.

Também é correto, contudo, enxergar movimentos (muitas vezes corretivos) de estratégia para a prosperidade em sociedades abertas de diversas filiações culturais, como Espanha, Reino Unido, Coreia do Sul ou EUA.

Também não demanda poderes extraordinários de visão ou ensaios de futurologia. Exige uma liderança capaz de arregimentar uma boa equipe, diagnósticos minimamente corretos sobre a direção em que o mundo está indo, planos de ação e eficiente execução.

E, no limite, estratégia exige algum grau de sacrifício –um esforço em nome do que é sagrado. No Brasil, historicamente há muito sofrimento e pouco sacrifício.

Essas não são apenas transposições de manuais de administração de empresas para o campo do desenvolvimento internacional. São as inescapáveis precondições que se exigem para que os países decolem.

No novo jogo global em que estamos entrando –e que durará ao menos um quarto de século– os pontos cardeais da "reglobalização" encontram-se bem delineados. Fortalecimento dos acordos plurilaterais, proeminência da "Chíndia", a volta da geopolítica e novo ciclo de prosperidade movido pelo talento.

Para isso bastam ajustes na política cambial ou de juros? É suficiente o estabelecimento de alianças que permitam ao Planalto maioria no Parlamento? Tudo se obtém com mudanças de governo que favoreçam a volta da "confiança"?

Essas características, todas com considerável peso relativo, nem de perto englobam o tamanho dos desafios do país.

O melhor slogan a explicar o impasse brasileiro talvez seja "É a ausência de estratégia, estúpido!"

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2016/01/1728808-e-a-ausencia-de-estrategia-estupido.shtml
Mt2792@columbia.edu
@MarcosTroyjo

E ja que falamos de estatisticas, aqui as deste proprio blog Diplomatizzando

Pelas contas do Blogspot, e eu suponho que elas sejam fiáveis, as coisas estão no seguinte pé, em 13/01/2016:


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Os crimes econômicos do lulopetismo como destruição da democracia - Reinaldo Azevedo

A institucionalidade brasileira tem um depredador-chefe: chama-se Lula. Os advogados do poderoso chefão do PT não precisam ficar escarafunchando entrelinhas para ver como podem me processar. Perda de tempo. Ser depredador-chefe da institucionalidade não é um crime previsto no Código Penal, não é mesmo?
Os doutores não poderão alegar tratar-se de uma calúnia. Também não se cuida aqui de injúria ou difamação. Expresso apenas uma opinião, até porque o ex-presidente poderia dizer em sua defesa que, onde vejo depredação, o que se tem, na verdade, é a criação das bases para a redenção dos oprimidos. Eu e Luiz Inácio da Silva certamente temos opiniões muito distintas sobre… Lula! Sim, a cada nova revelação da Operação Lava Jato, cresce a figura de um verdugo das instituições democráticas em seu sentido pleno.
Por que isso?
Dados da delação premiada de Nestor Cerveró — que foram tornados públicos, não constituindo vazamento ilegal — apontam que Lula o nomeou para uma diretoria na BR Distribuidora como recompensa por este ter viabilizado que o grupo Schahin operasse o navio-sonda Vitória 10.000 — um contrato de US$ 1,6 bilhão. Cerveró fez o favorzinho quando era diretor da Área Internacional da Petrobras, de onde foi demitido logo depois.
Com esse acordo, o PT não precisou saldar uma dívida com o grupo, que já estava em R$ 60 milhões. O passivo decorria de um empréstimo de R$ 12 milhões feito ao partido em 2004, em nome de José Carlos Bumlai, o amigão de Lula, que serviu de mero laranja da operação. Vale dizer: a Petrobras pagou o empréstimo contraído pelo PT.
Mas isso realmente aconteceu?
Os diretores do grupo Schahin, que emprestaram o dinheiro e assinaram o contrato bilionário confirmam as duas transações. Bumlai, o amigão de Lula, admite ter sido mero laranja da operação e que o empréstimo nunca foi pago. Fernando Baiano, outro delator, já havia relatado rigorosamente a mesma história — inclusive sobre a nomeação de Cerveró para a BR Distribuidora como uma recompensa. Segundo Baiano, Bumlai acertou isso pessoalmente com Lula. Será que aconteceu? A pergunta é por que tanta gente iria mentir, inclusive se incriminando, ainda que num ambiente de delação premiada.
Mas a coisa não ficou por aí. Nesta terça, ficamos sabendo que, segundo o depoimento de Cerveró, “em meados de 2010, houve uma reunião na BR Distribuidora com a presidência, todos os diretores e o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL)”. Segundo o depoente, “a realização dessa reunião foi uma sugestão de Lula a Collor, que estava acompanhado por João Lyra, político e usineiro em Alagoas”.
O senador queria que a Petrobras fizesse a compra antecipada da safra dos usineiros do estado, o que contrariava norma da BR Distribuidora. A operação não aconteceu. Cerveró diz ter ficado sabendo que o Banco do Brasil liberou mais tarde um crédito de R$ 50 milhões para Lyra. O BB diz que a proposta realmente foi feita, mas que a instituição não autorizou a transação.
Notem: Alagoas teria sofrido com enchentes naquele 2010, e tal operação seria um socorro. É claro que, em tese, um presidente pode propor reuniões para minorar os efeitos locais de desastres naturais etc. Mas vocês vão perceber que não é disso que se trata.
Loteamento
Segundo a Procuradoria-Geral da República, em denúncia protocolada no STF contra o deputado Vander Loubet (PT-MS), Lula loteou a BR Distribuidora entre Collor e o PT. Rodrigo Janot afirma que, entre 2010 e 2014, foi criada “uma organização criminosa pré-ordenada principalmente ao desvio de recursos públicos em proveito particular, à corrupção de agentes públicos e à lavagem de dinheiro”. Na denúncia, informa a Folha, o procurador-geral afirma que Collor nomeou os responsáveis pelas diretorias da Rede de Postos e Serviços e de Operações e Logística: respectivamente, Luiz Cláudio Caseria Sanches e José Zonis. E as duas diretorias, segundo Janot, serviram de base para o pagamento de propina ao senador.
Já a diretoria Financeira e de Serviços e a de Mercado Consumidor ficaram com o PT, ocupadas, então, pelo próprio Cerveró e por Anduarte de Barros Duarte Filho. Também elas seriam bases de pagamento de propina.
Eis o modelo Lula de gestão. Ele nunca usou o Estado brasileiro para implementar políticas públicas de alcance universal — exceção feita ao bolsismo e suas variantes, que se transformam em máquinas de caçar votos. Todas as vezes em que seu nome aparece, o que se vê é sempre a lógica do arranjo, o uso do dinheiro público para conceder privilégios a entes privados, em troca, obviamente, de apoio político.
O desastre do petismo
O Brasil que caminha para a depressão econômica, com dois anos seguidos de forte recessão (teremos, sim!), depois de crescer 0,1% em 2014, é aquele que, a rigor, ficou sem governo digno desse nome nos últimos 13 anos, entrando agora no 14º. Apontem uma só política pública relevante que o PT deixará como herança, que modernize e formate o Estado, exceção feita à exacerbação de medidas de caráter compensatório para minorar os extremos da miséria. Dois anos seguidos de perda de riqueza, podendo chegar a três, vão consumir boa parte dos benefícios obtidos pelos mais pobres, o que evidencia que não eram sustentáveis.
O mais curioso é que parte considerável dos desastres que aí estão era evitável. A sua origem é fiscal. Decorre do descontrole da máquina. Ocorre que isso demandaria que o PT tivesse outra compreensão da democracia. Ou me corrijo: isso exigiria que o PT entendesse a democracia e aceitasse seus pressupostos. Isso lhe teria dado a chance até mesmo de corrigir erros de operação de política econômica, eventualmente não-dolosos.
Mas não! Lula chegou ao poder com a cabeça do sindicalista que, a partir de certo ponto da trajetória, impôs-se a tarefa de enterrar a velha-guarda e ocupar o gigantesco aparato assistencialista que cerca o mundo do trabalho e que confere a seus donatários um formidável poder político. No sindicalismo, feio é perder. Na política, a derrota é uma das essências da democracia porque é a existência da oposição que legitima o regime.
O que continua a ser espantoso, depois de tudo, é que o senhor Luiz Inácio Lula da Silva não seja nem mesmo investigado num inquérito. Essa foi uma das grandes vergonhas que o país herdou do mensalão. E, pelo andar da carruagem, pode ser também a herança vergonhosa que deixará a investigação do petrolão.

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