quarta-feira, 30 de março de 2016

Memorial pragmatico de reforma da nacao - Paulo Roberto de Almeida, com base em Varnhagen

O artigo abaixo foi publicado, num formato ultra-resumido, na  revista Conselhos (São Paulo: Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo; ano 6, n. 35, fevereiro-março 2016, p. 48-51; ISSN: 2178-1583; link: http://www.fecomercio.com.br/upload/pdf/2015/13/Conselhos-35.pdf).
Mas, por critérios editoriais próprios à revista, teve de ser resumido e perdeu este caráter abrangente. Reproduzo aqui o original produzido para a revista, e nunca publicado integralmente, a despeito de ter sido aproveitado em outro artigo publicado em Mundorama.
Paulo Roberto de Almeida 


Memorial Pragmático para a Reforma da Nação

Paulo Roberto de Almeida

A data de 17 de fevereiro de 2016 marca o ducentésimo aniversário do nascimento do diplomata, homem público e patrono da historiografia brasileira Francisco Adolfo de Varnhagen, nascido nesse dia de 1816 em Sorocaba, SP. Filho de um engenheiro alemão, que tinha vindo ao Brasil logo após a transferência da corte portuguesa para iniciar a fundição de ferro no país, ele se formou em Portugal, onde concluiu o curso de engenharia militar em 1834. Desde cedo, entretanto, inclinou-se para os estudos de história; suas pesquisas na Torre do Tombo permitiram-lhe a identificação de Gabriel Soares de Sousa como o autor do até então anônimo Roteiro do Brasil, a primeira descrição dos domínios portugueses nas Américas, no século XVI, o que lhe valeu ser aceito na Academia de Ciências de Lisboa, em 1838. Dois anos depois decidiu voltar ao Brasil, tendo sido aceito no recém fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em 1841, por decreto imperial foi designado para levantar documentos relativos aos tratados de limites da América Portuguesa, nos arquivos coloniais portugueses e espanhóis.
Antes mesmo de concluir a obra que o consagrou definitivamente, História Geral do Brasil antes de sua separação e Independência de Portugal (Madri, 1854-1857), Varnhagen compôs e publicou, em 1849, na capital espanhola, um opúsculo não assinado, “dado à luz por um amante do Brasil”, pomposamente intitulado “Memorial orgânico que à consideração das assembleias Geral e provinciais do Império apresenta um brasileiro”. Essa obra possui um enfoque diferente dos livros que o identificaram como o grande historiador da nacionalidade e da identidade do Brasil, mas ela apresenta as mesmas concepções: um entranhado patriotismo, o engajamento no processo de reformas tendentes a “civilizar” o Brasil e a consciência – a despeito de ser um liberal e propugnador da iniciativa privada na área econômica – de que o Estado tinha um papel a cumprir como promotor de grandes obras de organização nacional, nomeadamente no terreno da infraestrutura e da defesa. O historiador Arno Wehling resumiu as seis propostas de Varnhagen para a “reforma do Brasil” – inclusive a da mudança da capital para um local central, como adotado cem anos depois – numa tabela organizada segundo a mesma metodologia seguida pelo historiador-estadista:

Memorial Orgânico, de Francisco Adolfo de Varnhagen (1849)
Problemas
Motivos
Solução
Limites por definir com nove países
Indefinição das fronteiras
Negociações bilaterais
Capital litorânea
Deslocada em relação ao país, sem boas fortificações
Capital no interior do país
Escassez de comunicações e de mercado interno
Insuficiente ação provincial e inexistência de ação nacional
Articulação de comunicações e rotas comerciais (ferrovias)
Divisão de províncias do Império
Desigualdades regionais, sem desenvolvimento nas províncias do interior, tributação irracional
Redivisão territorial, com critérios de equilíbrio e equivalência (departamentos); reforma tributária
Fragilidade da defesa do país
Ausência de pensamento estratégico para a defesa
Maior alocação de recursos, identificação de pontos cruciais, territórios militares
Heterogeneidade da população
Extensão da escravidão africana, forte contingente de índios não aculturados
Colonização indígena e europeia, proteção no cruzamento de raças
Fonte: Arno Wehling, “O conservadorismo reformador de um liberal: Varnhagen, publicista e pensador político”, in: Lucia Maria Paschoal Guimarães e Raquel Glezer (orgs.), Varnhagen no Caleidoscópio (Rio de Janeiro: Fundação Miguel de Cervantes, 2013), p. 160-201, cf. p. 174.

Inspirados no exemplo que Varnhagen nos legou, com apenas 34 anos de idade, pode-se traçar um “memorial” para uma nova reforma da nação, com base na mesma metodologia tripartite: uma primeira parte de “enunciados” dos problemas, uma segunda de “justificativas” e uma terceira de propostas de soluções ou de “remédios”:

Memorial Pragmático para a Reforma da Nação (2016)
Problemas
Motivos
Solução
Retrocesso econômico, desorganização produtiva
Desindustrialização,  exportações de commodities
Esforço concentrado em ganhos de produtividade
Descolamento dos mercados internacionais
Perda de competitividade por excesso de tributação
Reforma tributária, redução da carga fiscal, globalização
Deficiências de infraestrutura
Inexistência de ação estatal por inépcia e falta de recursos
Privatização extensiva em todas as áreas de logística
Desigualdades regionais persistentes
Políticas de “desenvolvimento regional” baseadas em induções equivocadas
Atendimento das vantagens comparativas ricardianas nas especializações regionais
Fragilidade da defesa do país
Inadequações do pensamento estratégico para a defesa; autonomia sem base no PIB
Maior alocação de recursos, mas busca de sinergias na cooperação com aliados
Heterogeneidade da população em termos de capacitação profissional
Deficiências graves na qualidade da educação de base; professores ineptos
Reforma radical do ensino público; acolhimento de imigrantes
Fonte: Paulo Roberto de Almeida, inspirado no “Memorial Orgânico” de Varnhagen.

Os problemas atuais do Brasil são quase os mesmos de 165 anos atrás; as soluções também muito se parecem. Faltam os estadistas...

[Anápolis, 26 de dezembro de 2015, 2 p.]

Venezuela: novo impasse entre Parlamento e Executivo bolivariano; o que vao fazer Mercosul e Unasul?

Não seria o Executivo bolivariano que está provocando uma "ruptura democrática", ao prometer vetar uma anistia aprovada pelo Parlamento? O Mercosul e a Unasul pretendem fazer alguma coisa? Ou vão ficar calados, como é o mais provável? A situação tende a ficar mais tensa no país, e o assunto pode cair na OEA, se os órgãos regionais, supostamente destinados a promover a cooperação, a democracia, etc, não fizerem nada. Vamos acompanhar a posição brasileira nessa questão. A CREDN-SF pretende se interessar pelo assunto?
Paulo Roberto de Almeida


CONTROLADO PELA OPOSIÇÃO

Parlamento da Venezuela aprova anistia para presos políticos

Presidente venezuelano já prometeu, no entanto, vetar a lei

Parlamento da Venezuela aprova anistia para presos políticos
Condenado a quase 14 anos de prisão, Leopoldo López é o principal líder opositor preso na Venezuela (Fonte: Reprodução/Agência Brasil)
O Parlamento da Venezuela, que é controlado pela oposição, aprovou nesta terça-feira, 29, a lei de anistia para políticos presos.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, já prometeu, no entanto, vetar a lei, por considerar que ela beneficia pessoas que cometeram graves delitos.
O anúncio da aprovação do projeto foi feito pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Henry Ramos Allup. A medida foi recebida por aplausos pela bancada opositora e por protestos por parte dos deputados chavistas.
A lei de anistia visa beneficiar particularmente um grupo de 76 presos políticos que foram detidos durante protestos contra o presidente Nicolás Maduro em fevereiro de 2014. Entre eles está Leopoldo Lópes, que foi condenado a quase 14 anos de prisão por incitação à violência na onda de protestos naquele ano, que deixou 43 mortos e 878 feridos no país.
Maduro reiterou nesta terça que não vai promulgar a lei de anistia aprovada pelo Parlamento venezuelano, uma vez que o projeto teria como objetivo “proteger assassinos, criminosos, narcotraficantes e terroristas”. “Por aqui não passam, façam o que fizerem”, ressaltou o presidente da Venezuela.
Leia também: Oposição lança campanha para derrubar Maduro
Leia também: Venezuela condena Leopoldo López a quase 14 anos de prisão

Marcelo de Paiva Abreu sobre o Day-After: como deveria ser um governo Temer?

O leitor deste blog Vicente Formigli forneceu-me a versão html deste artigo do Prof. Marcelo de Paiva Abreu. Muito grato...
Comparto de todos os argumentos e recomendações dele, mas iria além.
Michel Temer precisaria desaparelhar completamente TODO o Estado, e dar ordens a seus auxiliares da Inquisição (se tiver algum) para sanear toda a máquina do Estado, eu disse toda, pois se trata de uma medida de profilaxia necessária, do contrário petistas, petralhas e assemelhados vão sabotar o seu governo.
Eu acho que ele precisaria ordenar perseguição criminal contra TODOS, sobretudo e principalmente contra o mafioso chefe, pois esses caras querem continuar roubando.
Não acho que ele vá fazer isso.
Em todo caso, numa próxima postagem, vou colocar minha lista de tarefas...
Paulo Roberto de Almeida

O dia seguinte

MARCELO DE PAIVA ABREU*
As controvérsias sobre o impeachment de Dilma Rousseff certamente ocuparão muitas décadas do debate público sobre os dias tormentosos que vive o País. Desde já, as tentativas de traçar paralelo entre a situação atual e a crise que precedeu a deposição de João Goulart se revelaram sem fundamento. Certamente há alguma diferença entre um golpe militar e a substituição de um presidente de acordo com o rito constitucional.
Levando tudo em conta, são dois os cenários básicos a analisar quanto ao dia seguinte à decisão sobre o impeachment pelo Congresso Nacional. Ou a presidente sobrevive ao impeachment ou é de fato afastada e sucedida por Michel Temer. Isso envolve deixar de lado a hipótese que tem sido aventada por segmentos mais inconformados do PT quanto a assegurar “na marra” a sobrevivência política da presidente. A última vez que se ouviram tais destemperos, os resultados não foram exatamente os esperados. Será excesso de otimismo pressupor que a crise política não resultará em tal convulsão política e social?
A eventual sobrevivência política da presidente com a derrota do impeachment resultaria em continuidade do atual quadro de desgoverno, que poderia, em princípio, durar até 2018. Evitar derrotas no Congresso não removeria, entretanto, a possibilidade de cassação da chapa Rousseff-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E, caso ocorresse essa improvável sucessão de vitórias do governo, é difícil de imaginar que a presidente possa reverter a atual débâcle política e econômica, embora não sejam nada claros os formatos que assumiriam as crises futuras.
Caso o impeachment seja aprovado, é essencial que Michel Temer seja capaz de mobilizar ampla frente suprapartidária, compondo um gabinete de “salvação nacional”. Isso é condição necessária, mas longe de suficiente, para que seja possível implementar programa econômico capaz de reverter a atual crise. A aguda crise política está ofuscando a percepção de quão grave é a crise econômica, com alta probabilidade de persistir até 2018 e, além disso, sinalizando um desempenho econômico medíocre em prazo mais longo.
A escolha de uma equipe econômica que explicite além-fronteiras o fim da insistência em expansionismo fiscal com o objetivo (frustrado) de assegurar o desenvolvimento é importante como ponto de partida. Mas a tarefa à frente é monumental. A reversão da crise obriga a sinalização de austeridade fiscal com resultados imediatos. Será inevitável o aumento da carga tributária, viabilizado pela maior legitimidade do novo governo, e corte na carne de despesas. O pacto político com base ampla deverá permitir, inclusive, o corte de despesas mandatórias. Como já se disse, o ambiente não está muito distante da situação grega no passado recente. A agravante é que, em contraste com a Grécia, que foi incentivada a retomar o caminho da prudência pelas disciplinas da União Europeia, no Brasil, a prudência deve ser gerada essencialmente por autodisciplina. No longo prazo, a reforma fiscal necessária inclui profunda reforma previdenciária, maior tributação de heranças, eliminação de regimes especiais na taxação de rendas, entre outras.
A composição de um governo baseado em nova coalizão terá de incluir segmentos dos partidos que apoiaram o governo Rousseff antes da sua desagregação. Se possível, até os quadros do PT que não escondem o seu agudo desapontamento com as práticas corruptas adotadas pelo partido e que comprometeram seu compromisso com a redistribuição de renda e de oportunidades.
Similarmente, a composição de uma nova coalizão deve repudiar a inclusão de forças antidemocráticas que têm explicitado seu radicalismo em manifestações recentes associando o impeachment ao golpe militar de 1964. O novo governo deve insistir no estrito respeito à legalidade, a despeito das incitações de radicais de direita e do esperneio do fisiologismo petista.

*DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO


Ricupero defende preservacao de politicas sociais num novo governo, post-PT - Entrevista

O problema com esse tipo de preocupação, aparentemente necessária do ponto de vista social, é que o Brasil está consolidando um exército de assistidos e expectativas crescentes nas supostas bondades estatais que condenam o país ao baixo crescimento, e a população a uma postura típica de tutelados pelo Estado.
Não creio que existem neoliberais no Brasil, e mesmo que existissem, nenhum neoliberal conseguiria aplicar uma política neoliberal verdadeira no país. Não teria condições de sequer ser concebida, pois a patrulha ideológica, o Congresso mentalmente retartado e outras forças políticas se encarregariam de inviabilizar qualquer política nesse sentido.
Em qualquer hipótese, considero este alerta do ex-ministro uma restrição ideológica, pois parte de um slogan falso, "neoliberal", para condenar eventuais políticas de corte liberal.
Paulo Roberto de Almeida

Eventual governo Temer não pode ter neoliberal na Fazenda, diz ex-ministro
MARIANA CARNEIRO
FOLHA DE SÃO PAULO, 29/03/2016

Em 3 de setembro de 1994, uma conversa informal do então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, vazou aos telespectadores que tinham parabólicas. À espera de entrar no ar num telejornal, Ricupero soltou a frase: "O ruim a gente esconde, o bom a gente fatura".

Era início do Plano Real, que entrara em vigor em julho daquele ano. Cada palavra poderia pôr em risco o ambicioso programa, e Ricupero perdeu o cargo.

Hoje, 21 anos após o episódio, Ricupero diz que falou "bobagens", mas incomparáveis às conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vieram a público com a divulgação das escutas telefônicas da Lava Jato.

O ex-ministro afirma ainda que só a garantia dos direitos sociais à camada mais pobre da população será capaz de dar a um eventual governo de Michel Temer a calma necessária para uma retomada da economia.



Folha - O sr. foi afastado do cargo devido à revelação de uma conversa em que dizia "o ruim a gente esconde".

Rubens Ricupero - Meu caso é até parecido, porque eu não estava dando uma entrevista, eu estava conversando de maneira distendida, não sabia que a câmera estava ligada. E eu disse muitas bobagens pelas quais eu assumi a responsabilidade e me desculpei. Foi um erro grande e imediatamente telefonei ao Itamar [Franco] e pedi que fosse exonerado. Mas, comparado a isso, parece coisa de jardim de infância.
O que se revela nas conversas [de Lula] são ações ilegais, de obstrução da Justiça e, em alguns casos, crimes capitulados no Código Penal. Em um país mais "normal", a esta altura, o governo já teria caído.
As pessoas que foram capturadas nessas gravações são os que foram mais duros e cruéis comigo e com minha família naquele momento.

Na sua opinião, qual deverá ser o desfecho?

Vejo dois aspectos, um de curto prazo e outro mais estrutural, de longo prazo. O de curto é o que acontecerá com Dilma, Lula e o atual governo. Isso provavelmente vai se resolver entre agora e fins de maio, seja pelo impeachment, seja pela investigação no tribunal eleitoral.

Porém, mesmo que haja o impeachment e um novo governo se instale, há um segundo tempo. Não se resolverá o problema real, que é o sistema político brasileiro, o conjunto de regras que organizam os partidos, as eleições e o sistema de campanhas e votação. Por esse sistema, o poder se conquista e se mantém por eleições cada vez mais caras.

Qualquer pessoa que se sentar na cadeira de Dilma vai ter que lidar com dezenas de partidos no Congresso e criar uma base aliada. Com esse sistema fragmentado, nenhum partido é inocente. Há apenas gradações de inocência. Alguns são mais corrompidos do que outros.

Isso vale para o PSDB também?

Vale para todos, a não ser que haja um partido que se financie sem recursos do governo, da economia privada ou de lobistas. Mas isso não quer dizer que sejam todos sejam igualmente culpados.

Eu fui ministro duas vezes do presidente Itamar Franco (PMDB) e ele jamais fez esse tipo de política com o Congresso. É claro, ele era político e era capaz de distribuir cargos de acordo com a necessidade de constituir uma base. Mas ele não usava o poder público para obter recursos financeiros.

Para curar isso, seria necessária uma reforma do sistema eleitoral e de partidos, reduzindo o número de partidos e proibindo a reeleição.

O impeachment pode cessar a crise política e econômica?

Está cada vez mais claro que o impeachment é inevitável, embora não seja a solução que eu prefira. Eu preferiria uma solução que nascesse de eleições diretas. Mas, se de fato a decisão de [rompimento] do PMDB for tomada, é difícil imaginar que seja possível deter a marcha.

Ainda que ocorresse a manutenção deste governo, a situação econômica seria cada vez mais insuportável. A frustração com o impeachment levaria a um agravamento rápido das variáveis financeiras, o dólar subiria.
Mas o impeachment não elimina as incertezas. Suprime uma variável, que é ligada à permanência ou não de Dilma no poder. Mas as outras incertezas, relacionadas à investigação, não desaparecem.

E as incertezas econômicas?

Mesmo que ocorra um impeachment, que não é a solução desejável, pode haver condições para o início de uma recuperação econômica. O grande problema hoje é de credibilidade e se Michel Temer assume com algumas precondições básicas... O governo tem que deixar claro, desde o primeiro momento, que os pobres e vulneráveis, os mais dependentes de ajuda, não serão prejudicados.

Não se pode, por exemplo, escolher um ministro da Fazenda que seja totalmente insensível em matéria social e política. Não pode ter o perfil neoliberal clássico; tem que ser alguém que diga que as conquistas [sociais] serão preservadas. Neste momento, a variante social é muito importante e acredito que um político como o Temer deve compreender isso.

Há semelhanças entre agora e quando Itamar assumiu?

Quando Collor caiu, havia unanimidade contra ele. As manifestações em favor de Dilma e de Lula foram impressionantes, notáveis. Por isso, insisto nesses valores, que de fato têm consistência, que são os valores da inclusão social. Não se deve permitir que a mudança que se processa sacrifique esses valores. Não atentar contra os direitos dos mais vulneráveis é fator fundamental para criar situação de calma e de recuperação econômica.

Se isso for feito, ele [Temer] terá condições razoáveis de, em dois anos, reconstruir as coisas até que um novo presidente seja eleito.

terça-feira, 29 de março de 2016

Meridiano 47, Journal of Global Studies: primeiro número de 2016

Voilà: o mais recente número desse instrumento singelo mas poderoso de divulgação da produção brasileira em RI. Meus cumprimentos aos editores e aos autores.
Paulo Roberto de Almeida

Dear [eu],

New articles are published in Meridiano 47- Journal of Global Studies - see at http://www.meridiano47.info.

Meridiano 47 follows the continuous publishing model, in which the articles are published to the extent that their review process and  editorial production are completed, increasing the possibilities of exposure, qualified sharing and citations.

Sincerely,

The Editorial Team
Meridiano 47, Journal of Global Studies

------------------------
New content avaliable
------------------------

Editorial
--------
Meridiano 47:  reinvenção e redefinição com inovação contínua na comunicação científica em Relações Internacionais no Brasil, by Antônio Carlos Lessa
http://goo.gl/pS5oeu

Articles
--------
É o Itamaraty uma instituição total?, by  Rogério de Souza Farias
http://goo.gl/xwBk7b

The Pro Homine Principle as a fundamental aspect of International Human Rights Law, by Dilton Ribeiro & Valerio de Oliveira Mazzuoli
http://goo.gl/YqoqNI

A “máquina diplomática cultural” da Quarta República francesa e o Brasil (1946-1958), by Hugo Rogelio Suppo
http://goo.gl/JvNq77

Relação França-Brasil: o legado da Missão Militar Francesa (1920-1940) para o Exército Brasileiro, by Adriana Iop Bellintani
http://goo.gl/U24Kha

Alguns aspectos conceituais da geopolítica: breve investigação entre o clássico e o moderno no pensamento geopolítico, by José Alexandre Altahyde Hage & Lucas De Marco Fernandes
http://goo.gl/QVSzMi

Estados Unidos, URSS/Rússia e os equilíbrios e desequilíbrios estratégicos e militares entre 1989 e 2016, by João Fábio Bertonha
http://goo.gl/qvv52u

Padrões sustentáveis de produção e consumo: resíduos sólidos e os desafios de governança do global ao local, by Thais Maria Machado Lemos Ribeiro & Cristina Y A Inoue
http://goo.gl/Iba5FR

Análise dos Esforços de Modernização do Aparelho Militar no Brasil, China, Índia e dos Projetos Estratégicos Brasileiros, by Deywisson Ronaldo Oliveira de Souza &  Marcos Aurélio Guedes de Oliveira
http://goo.gl/edHXP7
_______________________________________
Meridiano 47  - http://www.meridiano47.info
E-mail: meridiano47@ibri-rbpi.org

Varnhagen: 200 anos do nascimento - Seminario no Instituto Rio Branco, 1/04/2016

Seminário "Varnhagen (1816-2016): diplomacia e pensamento estratégico"
A Fundação Alexandre de Gusmão realizará o seminário “Varnhagen (1816-2016): diplomacia e pensamento estratégico”, no Instituto Rio Branco, em Brasília, em 1º de abril de 2016, a partir das 15 horas.

O seminário homenageia o bicentenário de nascimento do diplomata Francisco Adolfo de Varnhagen, considerado um dos patronos da historiografia brasileira. O evento é fruto de parceria com o Instituto Rio Branco (IRBr), Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Universidade de Brasília (UnB) e Instituto Martius-Staden.

Para mais informações: http://goo.gl/JHNxay

Os Miseraveis (nao os de Victor Hugo; os de agora) - Paulo Roberto de Almeida


Os Miseráveis

Paulo Roberto de Almeida

Não se pretende tratar aqui de pobreza, da ignorância ou da injustiça social no século XIX. Personagens e cenários são diferentes dos imortalizados por Victor Hugo no seu épico de tonalidades sombrias, mas que adquiriu luminosidade nos musicais do século XXI. Os nossos miseráveis estão longe de ser pobres, não sofrem nenhuma injustiça social e, se são ignorantes – politicamente falando –, praticam mesmo a velha desonestidade nos negócios públicos, exibindo a má-fé típica dos vilões da dramaturgia universal. Eles são os que permitiram a ascensão, sustentaram a hegemonia e estão comprometidos com a sobrevivência da maior quadrilha política que assaltou o Brasil pela via legal, mas que pretende se perpetuar no poder por todos os meios possíveis.
Descartando os rufiões titulares, vamos tratar dos responsáveis, em última instância, pelo sucesso circunstancial e pela sobrevida delongada da delinquência moral que tisnou a governança no Brasil e que foi responsável por um dos maiores casos de corrupção já vistos neste nosso planetinha redondo, como diria a peça chave do maior espetáculo de imoralidade da história política brasileira. Por ordem de importância eles são: (a) grandes banqueiros; (b) gramscianos da academia; (c) empresários estratégicos, a começar pelas construtoras; (d) militantes ignaros, neobolcheviques sem o saber; (e) aliados úteis e inúteis da incultura brasileira.
Nenhum projeto de poder se faz sem recursos, moeda sonante ou qualquer outro tipo de apoio financeiro, e por isso eu coloco os grandes banqueiros em primeiro lugar da minha escala de miseráveis. Banqueiros, mais do que empresários em geral, são os que possuem a visão macroeconômica, empregam os melhores consultores econômicos, trabalham com o recurso universal e fungível, capaz de se desdobrar em todas as esferas da vida pública (e privada também). Ao passo que empresários precisam estar ligados a um setor qualquer, e se fazem representar por associações especializadas num ramo determinado da atividade produtiva, ficando por força do ofício na microeconomia, os grandes banqueiros circulam altaneiros por todos os setores da economia, possuindo até uma osmose bem mais intensa com a esfera governamental, até nos seus antros mais sensíveis, como soem ser o Tesouro (pela emissão da dívida pública) e o Banco Central (pela supervisão do meio circulante e sua atuação nos mercados de créditos).
Desde o Renascimento, nenhum grande príncipe (ou candidato a) pode assentar o seu poder sem dispor de grandes banqueiros ao seu lado. Foi o que logo percebeu o candidato a condottiere, quando ainda transacionava (secretamente, inclusive) com os chefões do seu setor produtivo e, logo, com toda a representação dos industriais. Não existe campanha eleitoral sem ajuda dos financistas; eles foram generosos ao extremo com o dito príncipe, desde o início de sua irresistível ascensão, pois descobriram que poderiam ganhar dinheiro por via da dívida pública e outros mecanismos dos mercados financeiros. São os primeiros e grandes culpados da lista de miseráveis apoiadores dos traficantes da política nacional. São os últimos a pularem do barco.
Os gramscianos da academia veem em segundo lugar porque foram eles que deram legitimidade e aparência de credibilidade aos rústicos companheiros que não tinham, como era natural, a sofisticação do verbo e a clareza da escrita. Foram esses litterati de aluguel que se encantaram com o sindicalista carismático e, frustrados pelas aventuras anteriores do guevarismo urbano, se lançaram de corpo e alma no apoio dito intelectual à nova classe que se preparava para assaltar o céu do poder burguês. Esses gramscianos que não leram Gramsci possuíam uma vasta interface (inclusive de classe) com os guerrilheiros reciclados na política partidária, que ensinaram aos sindicalistas alternativos como construir uma máquina de conquista do poder, com alguns toques de clandestinidade e táticas stalinistas de administração, como soe acontecer.
Empresários no Brasil sempre foram historicamente dependentes do Estado, de medidas tarifárias, de subsídio, de regras de não-concorrência, que possam melhorar suas vantagens pouco competitivas. Mas há uma categoria de super-empresários que está umbilicalmente ligada ao Estado, pois são os que trabalham com as grandes encomendas do governo, na faixa dos sete dígitos ou mais. Empreiteiras, construtoras, o pessoal dos investimentos pesados são geneticamente corruptos de nascimento, em qualquer país, época ou circunstância. No Brasil a promiscuidade chega combinada ao patrimonialismo tradicional da classe política, que nos tempos mais recentes acabou virando um patrimonialismo do tipo gangster. Não surpreende, assim, que os maiores clientes da República de Curitiba sejam justamente esses grandes homens da pesada.
Ninguém precisa explicar o que são os militantes ignaros, pois eles constituem a terceira componente do partido neobolchevique, característica que eles exibem sem sequer ter lido uma linha sequer do grande deformador do marxismo no século XX, o homem que criou a engenharia social totalitária em atividade na pátria do socialismo durante setenta anos, até implodir por força de suas próprias contradições. Eles são a massa de manobra da organização criminosa, e farão tudo o que o seu mestre mandar, por mais contraditórios, ilógicos ou ridículos que sejam os seus slogans.
Finalmente, os companheiros de viagem são esses aspirantes a uma teta qualquer do Estado e que ficam subscrevendo manifestos – redigidos pelos gramscianos – em apoio à sobrevivência dos mafiosos. Eles conseguem falar de defesa da legalidade sem sequer se referir aos casos de corrupção que saltam aos olhos de todos e que levaram multidões às ruas do Brasil. Eles são ou não são miseráveis?


Brasília, 27/03/2016

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...