quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O BRIC e a economia mundial (2006) - Paulo Roberto de Almeida

Abaixo uma entrevista que eu dei para o jornalista Lourival Sant'Anna do jornal O Estado de São Paulo em NOVEMBRO de 2006, quando ainda não se cogitava de se ter um BRIC diplomático, ou pelo menos quando ainda não existiam movimentações nesse sentido, mas quanto Lavrov e Celso Amorim já trabalhavam nesse sentido (e eu desconhecia esses encontros até então reservados).
O Estadão fez um editorial em cima dessa entrevista logo depois, o que deixou o chanceler Celso Amorim especialmente furioso comigo.
Encontrando-o no final do ano ocasionalmente, disse que estava voltando ao MRE para trabalhar sob sua gestão. Ele apenas me disse secamente:
"– É, mas a sua entrevista ao Estadão não lhe ajudou em nada."
Virou as costas e saiu. Nunca mais falei com ele.
Paulo Roberto de Almeida


O BRIC e a economia mundial
Algumas questões de atualidade

Entrevista concedida ao jornalista
Lourival Sant’Anna – O Estado de São Paulo
Paulo Roberto de Almeida
Rio de Janeiro, 9 de novembro de 2006
Publicada na edição d’O Estado de São Paulo em 04.12.06, caderno Economia, pág. B7, sob o título “O Bric é só um exercício intelectual”. 

Por que o senhor tirou o “B” do Bric?
Esse Bric não existe. É uma construção arbitrária, que não se sustenta em nenhum arranjo político-diplomático, em nenhuma configuração efetiva internacional. É um exercício puramente intelectual de um banco de investimentos, o Goldman Sachs, que criou essa figura, sem justificativa em si, a não ser pelo peso específico de cada um desses países. Eles não interagem entre si, não atuam de forma coordenada para fins desse exercício feito pelo banco, que é a emergência econômica, como massa atômica específica, de cada um desses países na economia mundial. Ou seja, eles terão inevitavelmente um grande peso, inclusive o Brasil, que é pouco dinâmico, mas cada um por sua própria conta. A rigor, há também a Indonésia, que está um pouco diminuída hoje, mas vai emergir; a África do Sul, o México – grandes países que, somados à China, à Índia e ao Brasil, conformariam um G-11 ou G-13 da economia mundial. Isso é relevante, em termos de coordenação da agenda econômica mundial, mas não há nenhum exercício político-diplomático de coordenação entre Brics, ou Rics. Cada um tem uma forma específica de inserção na economia mundial. Cada um tem interesses nacionais, que não são necessariamente divergentes, mas não são coincidentes.

Mas o senhor disse também que Índia e China estão ingressando no Hemisfério Norte.
Não, eu disse que, para efeitos de economia mundial, a Índia e a China fazem parte do Hemisfério Norte.

Por quê?
Porque essa nova geografia comercial, que se anuncia como relevante para o Sul, já existe: são os emergentes asiáticos exportando para o Norte desenvolvido – Estados Unidos e Europa. Para todos os efeitos imagináveis, o destino econômico da China está intimamente ligado ao dos Estados Unidos. Os americanos dependem da transferência de recursos asiáticos para continuar sustentando a sua avidez de consumo. A China depende enormemente da capacidade comercial deficitária americana, ou seja, que os Estados Unidos continuem comprando dela. Do catálogo do Wal Mart, 80% ou mais é chinês ou pode ser feito na China. E a China tem um papel deflacionista extremamente importante na economia mundial. Assim como a Inglaterra no século 19 ofereceu mercadorias baratas a todo o mundo, a China exerce hoje esse papel.

E a Índia?
A Índia já é outra coisa. Também é intimamente integrada aos Estados Unidos, pelas redes de engenheiros, pelos seus executivos que trabalham na Califórnia ou na Costa Leste, que vão alimentar a nova economia da inteligência e do conhecimento. A China é basicamente um laboratório, um ateliê ou uma fábrica. A Índia é basicamente um escritório de concepção e desenho.
Os indianos desenham aquilo que lhes foi encomendado desde o Vale do Silício, podendo inclusive agregar algo mais.
Mas o que é desenhado na Califórnia também o é por engenheiros indianos. Há uma simbiose completa entre concepção e desenho americano, ou ocidental, e a nova Índia, que está emergindo paulatinamente e vai ser uma potência em software e em conhecimento também.

Mas isso é uma pequena Índia.
Claro, estou falando da incorporação de uma pequena parte da Índia na economia de mercado.

Mas não atrapalha (a exclusão social)?
Atrapalha internamente.

E externamente?
Não. A Índia vai continuar com milhões de miseráveis durante muito tempo, assim como a China. O que elas já fizeram em termos de crescimento econômico é extraordinário. A China tirou 200, 300 milhões de camponeses de uma miséria abjeta para uma pobreza aceitável, e os transformou em operários. A Índia também tirou algumas centenas de milhares de pessoas da miséria. Mas a miséria indiana ainda é monumental, e vai continuar pelas décadas futuras. Mas isso não importa para a economia mundial, e sim os grandes fluxos transnacionais de comércio, bens, serviços.

Mas, no caso da China, isso não foi às custas de um câmbio artificialmente baixo e de salários baixos até para o poder de compra chinês?
Esses são fatores conjunturais. Acredito que a China tem uma boa manipulação de sua política econômica, inclusive para efeitos cambiais e comerciais. Tem uma boa manipulação da sua agenda financeira – reservas, investimentos externos. Mas tudo isso é superestrutura, é espuma. O mais importante é o papel da China como produtora de bens correntes no mundo globalizado.

E como ela conseguiu isso?
Ela se inseriu na divisão internacional do trabalho. Quando acabou o socialismo, no fim dos anos 80, o impacto da incorporação dos ex-socialistas na economia mundial não foi muito grande, porque esses países eram pouco competitivos - tinham uma participação ridícula no comércio de bens e de tecnologia internacional - e inexistentes no plano financeiro. O impacto econômico da inserção do ex-bloco socialista no PIB mundial foi de 10% ou 15%, se tanto. Agora, o impacto da incorporação do exército industrial de reserva ex-socialista na divisão mundial do trabalho provavelmente supera um quarto da mão de obra-de-obra total do mundo. É muito relevante no plano da alocação de investimentos para fins de produção, montagem de produtos, enfim, tudo o que requer mão-de-obra. A China, também, em algum momento, vai ficar um pouco cara, e aí outros países vão ser incorporados. Acredito que, na parte industrial, a China mantenha a sua preeminência mundial nas próximas décadas.
Ela está repetindo a história japonesa de copiar para depois criar.

A China vai virar um imenso Japão, neste século ainda?
É sempre diferente. A China produz mais engenheiros do que qualquer país do mundo. Quem produz patentes, inovação tecnológica, são engenheiros. A China vai construir um poder econômico nos seus próprios termos, que não necessariamente vai se dar no vácuo ou na decadência ocidental, e sim em extrema osmose com o Ocidente. As teses de hegemonias, declínios e substituição de impérios não são muito válidas hoje, porque não se tem mais uma economia baseada apenas nas matérias-primas ou na força bruta das máquinas. Como a economia é do conhecimento, tudo isso tende a se disseminar. Quem está perdendo, na verdade, são os operários americanos e ocidentais. Mas as empresas ocidentais vão continuar tão fortes quanto antes, inclusive utilizando mão-de-obra chinesa, claro, para o que for necessário.

E a inserção brasileira?
O Brasil vai continuar sendo um grande fornecedor de commodities, o que é bom; um grande fornecedor de energias renováveis, e isso é excelente. Mas o Brasil é um país de lento crescimento. É um país moderno. Mas todos os nossos problemas são made in Brazil. Não têm nada a ver com a globalização. Nada do que é externo é estratégico para os problemas brasileiros atuais. São deficiências próprias: previdenciárias, educacionais, organizacionais, corrupção, gasto público... A globalização até ajuda. Mas, como o Brasil é um pouco avestruz, introvertido, recusa a competição, recusa acordo comercial, nossa indução à reforma vai ser muito mais lenta. Tanto o Mercosul como os acordos hemisféricos são muito menos importantes para o Brasil como mercado do que como estabilização econômica e indução à reforma, à competição e à inovação. Como continuamos introvertidos, nosso processo de reforma vai ser muito lento. Não é que não haja consenso entre as elites quanto a uma agenda de reformas. Não há sequer consciência de que a reforma é necessária, nos planos tributário, fiscal e educacional.

Com esse ensino fundamental, o Brasil pode se inserir na economia mundial?
Nós achamos que nossos problemas econômicos são graves, por causa da falta de uma agenda de reformas. No plano educacional, é pior do que possamos imaginar, e tendente à deterioração ainda. A situação é muito pior do que as estatísticas revelam. Não é apenas do ponto de vista organizacional e de investimentos, mas no plano mental, de preparação dos professores. Temos enormes problemas pela frente, que não serão resolvidos facilmente. Sou extremamente pessimista quanto às possibilidades do Brasil de concorrer numa economia globalizada, na medida em que nossa situação educacional é pavorosa. Nós não estamos preparados para capacitar a mão-de-obra, no plano puramente industrial, nem para enfrentar as exigências da modernidade, da inovação tecnológica. No plano científico, até que temos muita capacidade. Nossos cientistas são tão bons ou até melhores que os estrangeiros. Mas a vinculação do sistema científico com o tecnológico é muito precária. Não há um sistema inovador autogerado. É muito induzido pelo Estado. E o Estado deixou de ser uma solução e passou a ser um problema enorme. Um estudo com países da OCDE para o período 1960 a 1996 mostra que o ritmo de crescimento está correlacionado à carga fiscal. Países com carga fiscal de até 25% do PIB tiveram crescimento anual de 6,6%; aqueles com carga fiscal superior a 60% do PIB, de apenas 1,6%.

Porque não têm como investir.
Exatamente. A despoupança estatal é um fator extremamente negativo. E, no plano tributário, a incidência sobre o lucro e o trabalho é fator de desemprego, informalidade e não-crescimento. Veja o caso da Irlanda. Ela saiu do perfil europeu clássico e enveredou pelo caminho da eficiência, da baixa tributação sobre os lucros e sobre o trabalho. Saltou de metade da renda per capita européia para acima da média. A China impressiona porque é grande. Mas a Irlanda, em termos de transformação estrutural, é um caso único na história econômica mundial.

Quanto ao R do Bric, a Rússia tem problemas institucionais?
Exato. A Rússia é relevante por seu poderio atômico. Não foi incorporada ao G-7 por ser uma economia de mercado, o que obviamente ela não era, mas porque poderia causar problemas. Ela não faz parte do G-7 econômico, mas do G-8 político, que adota resoluções um pouco inócuas. A Rússia não conta economicamente, a não ser por sua energia. Como ela é importante no equilíbrio geopolítico asiático e europeu e no plano energético mundial, claro que ela fará parte daquele esquema de coordenação. Mas ela precisa fazer suas reformas internas para ser incorporada na OMC e na OCDE.


Brasil, isolado e sem liderança regional - William Waack (Estadão)

No canto da foto

Potências dos Brics estão no pesado jogo mundial de poder, e o Brasil?

William Waack, O Estado de S.Paulo 
14 de novembro de 2019 | 05h00 

Quando apareceu a sigla Brics, em 2006, pensava-se na redistribuição do poder global para além das potências como Estados Unidos e o bloco europeu. Avaliava-se o novo peso e importância dos “mercados emergentes” ali representados, mas dentro da ordem vigente. De fato, a redistribuição de poder ocorreu e está avançando, mas não pelo que os Brics fizeram como “bloco” de atuação, e não da forma benigna como se imaginava. 
É interessante notar que a ênfase recente nos encontros dos líderes do Brics tem sido na cooperação tecnológica e comercial entre eles mesmos, e menos nas fascinantes questões geopolíticas. Nem poderia ser diferente: no retrato dos cinco reunidos em Brasília estão três países (China, Índia e Rússia) centrais na luta atual pela redistribuição de poder global, cada vez mais conflituosa, e dois (África do Sul e Brasil) que jogam na periferia. 
Cada um por si, China e Rússia são as grandes forças revisionistas que contribuíram decisivamente para liquidar a “paz profunda” internacional do período de 25 anos que começou em 1989 com a queda do Muro de Berlin e terminou em 2014 com a anexação da Crimeia por Moscou. As posturas agressivas dos “revisionistas”, com forte conteúdo nacionalista, sugerem uma continuidade entre o mundo da Guerra Fria (de 1946 a 1989) e o mundo que ressurge depois desses 25 anos de “paz profunda”, período já batizado de “pós-Guerra Fria”. 
Assim como no mundo da Guerra Fria, no atual predomina a acirrada competição entre as principais potências por aumentar sua segurança. No período que se inicia em 2014 as potências voltam a conduzir as relações entre si sob a perspectiva de eventual conflito armado. Ou seja, após um período de pouca competição por segurança as relações internacionais se parecem de novo com o que sempre aconteceu. 
Os “revisionistas” enxergam os Estados Unidos como bem menos formidável, sobretudo depois da grave crise financeira de 2008. Na Europa e na Ásia (e, recentemente, no Oriente Médio), Rússia e China foram testando os limites e a solidez das alianças até aqui conduzidas pelos americanos, cada vez mais desafiados abertamente (de certa maneira, Trump os ajudou). Não que a relação entre China e Rússia seja tranquila – ou entre Índia e China –, mas eles convergem na contestação de dois pilares da ordem americana dos últimos 70 anos: um conjunto de regras internacionais e a defesa da democracia como valor universal. 
É nesse mundo multipolar muito mais perigoso, instável e imprevisível que África do Sul e Brasil têm de encontrar como fincar o pé. A África do Sul enfrenta competição da China por influência na sua própria área de atuação mais próxima. Além dessa, divide com o Brasil outra característica: o grau da crise doméstica, que parece fazer com que esses dois gigantes do Hemisfério Sul olhem apenas para dentro de si mesmos. 
No caso do Brasil, a perda de importância e liderança regional registrada sobretudo a partir do segundo mandato de Dilma – agravando a estapafúrdia ideia do confronto “Norte-Sul” – ficou clara em todos os episódios recentes de turbulência e confusão entre os vizinhos, sobre os quais a antiga influência brasileira praticamente deixou de existir. Putin parece ter mais peso sobre o que acontece na Venezuela do que o Brasil. 
Na foto do jogo do qual participam os integrantes do Brics o Brasil aparece no cantinho. Não é palco, parte ou tem atuação decisiva em qualquer dos principais conflitos que estão redistribuindo o poder global. Frases de efeito em redes sociais ou “alinhamento automático” que o próprio governo sugere em relação a Washington não são pilares de política externa. O Brasil não só corre atrás da liderança perdida: diante da velocidade das mudanças lá fora, parece ainda perdido na busca de seu papel.

Os novos autoritários: livro de Michel Duclos



EUROPE / MONDE
Les nouveaux autoritaires - portraits des nouveaux "hommes forts"
Par Michel Duclos
CONSEILLER SPÉCIAL - GÉOPOLITIQUE, ANCIEN AMBASSADEUR
BLOG Institut Montesquieu, 12 NOVEMBRE 2019

Nous avions demandé l’année dernière à un certain nombre de bons auteurs de dresser pour nos lecteurs, en deux séries successives, les portraits de toute une galerie d’"hommes forts", autocrates, chefs populistes et dictateurs caractéristiques de notre temps. Ces textes, dûment actualisés, et complétés par un avant-propos substantiel de notre conseiller spécial géopolitique, Michel Duclos, sont devenus un livre Le monde des nouveaux autoritaires publié conjointement par l’Institut Montaigne et les éditions de l’Observatoire. Ce livre est disponible en librairie à partir du 14 novembre. Nous avons demandé à Michel Duclos de nous en faire une présentation en répondant à trois questions.

Qui sont les nouveaux autoritaires ?
Le président de la République, dans son interview à The Economist mentionne les "autoritaires de notre voisinage" : la Russie et la Turquie. Il se réfère aussi souvent à la Chine. M. Poutine, M. Erdogan, M. Xi figurent naturellement en bonne place dans le livre Le monde des nouveaux autoritaires de même qu’ils étaient centraux dans les deux séries de portraits que nous avions publiées sur le blog de l’Institut Montaigne l’année dernière.
Pour nous cependant, ces trois personnages s’inscrivent dans un panorama plus général. Ils illustrent, ainsi que l’avait noté de son côté la revue Foreign Affairs dans son édition de septembre-octobre, la prévalence d’un nouveau type de dirigeants politiques emblématiques de notre époque : les "hommes forts", qui exercent un pouvoir personnel en écartant le plus possible tout contrepoids à leur autorité. En présentant les portraits de 19 de ces "nouveaux autoritaires" - Bolsonaro, Kaczynski, Modi, Netayahou, Salvini, Trump, Duterte, Erdogan, Kagame, Khamenei, Maduro, Orban, Assad, MbZ et MbS, Kim Jong-un, Poutine, Sissi, Xi Jinping - nous faisons apparaître trois traits caractéristiques de l’air de notre temps :
Ils illustrent [...] la prévalence d’un nouveau type de dirigeants politiques emblématiques de notre époque : les "hommes forts", qui exercent un pouvoir personnel en écartant le plus possible tout contrepoids à leur autorité.
Ces personnages viennent d’horizons très différents : les uns se conforment au rôle de dictateurs assumés (Poutine ou Xi, mais aussi Sissi en Egypte, Mohamed ben Salman en Arabie saoudite, Mohamed Ben Zayed pour les Emirats arabes unis), d’autres sont des dirigeants populistes opérant dans des démocraties anciennes et fortes (le cas le plus frappant étant Donald Trump bien sûr), d’autres encore, également souvent qualifiés de populistes, dirigent des démocraties en voie de régression(Erdogan, Orban, Bolsonaro, Modi pour la Turquie, la Hongrie, le Brésil et l’Inde) ;
À des degrés évidemment divers, les nouveaux autoritaires partagent un logiciel antilibéral qui transcende les différences de régimes. Et aussi une boîte à outil antilibérale, où l’on retrouve – encore une fois dans des proportions variables – le nationalisme, la kleptocratie, le dédain pour l’état de droit, la personnalisation du pouvoir qui prétend incarner le peuple, la mise à l’écart des corps intermédiaires etc.

Ce sont des personnages modernes en ce sens que les "vrais autoritaires" ont rafraîchi leur modèle(respect de certaines formes de la démocratie en Russie, adoption du capitalisme en Chine) tandis que les "populistes" glissant vers l’autoritarisme ne contestent pas la démocratie mais, dans un étonnant renversement, se prétendent plus démocrates que les autres en se voulant les représentants du peuple contre le "système" (ou les "élites").

L’autoritarisme est-il le "nouveau totalitarisme", c’est-à-dire l’équivalent de ce que fut le totalitarisme à l’époque de la guerre froide ?
L’émergence des nouveaux autoritaires a d’abord des conséquences géopolitiques :
Le nationalisme qui est leur commun dénominateur affaiblit la coopération internationale (le "multilatéralisme") ;

Des liens de connivence existent entre eux, là aussi indépendamment des camps en présence, générant de nouvelles alliances plus ou moins occultes : la Russie soutient les populistes européens (financements, cyber-attaques) tandis que ceux-ci sont tentés de favoriser l’influence chinoise (5G) ;

Il y a de surcroît un style de diplomatie "néo-autoritaire" comme on le voit pour le Nord-Est syrien : un coup de fil d’Erdogan à Trump scelle le sort des Kurdes de Syrie, après quoi le président turc rencontre Poutine à Sotchi pour finir le travail.
L’émergence des nouveaux autoritaires ne fait pas disparaître les lois de la géopolitique classique : la Chine et l’Inde resteront dans une situation de rivalité historique, les Russes ne vont pas se départir de leur méfiance à l’égard de la Chine etc. Cependant une géopolitique de l’ère des nouveaux autoritaires se met en place. Sa donnée de base est la suivante : la crise interne aux démocraties libérales, sous l’effet de la vague populiste, accentue l’effet du déplacement du rapport de forces dans le monde au détriment de l’Occident, que l’on observe depuis quelques années avec la montée en puissance de la Chine et d’autres émergents.
Sur un plan plus strictement idéologique, les défenseurs de la démocratie libérale se trouvent confrontés, avec les nouveaux autoritaires, à un triple défi :
La crise populiste, qui est endogène à nos sociétés démocratiques et qui implique de réinventer un modèle libéral adapté à notre temps (alors que les classes moyennes perdent pied depuis le triomphe de la globalisation) ;
Pour la première fois, le progrès économique, incontestable, époustouflant même, ne va pas de pair avec le progrès des libertés.
La crypto-idéologie véhiculée par le courant anti-libéral mondial et que Poutine, dans son interview au Financial Times a bien résumé : dans un monde beaucoup plus dur qu’autrefois, les valeurs traditionnelles, l’autorité, la nation rassemblée autour d’un chef, tout cela constitue (selon le "message poutinien") un viatique beaucoup plus protecteur des simples citoyens que les idées libérales ;

Le défi philosophique que constitue le succès de la Chine : pour la première fois, le progrès économique, incontestable, époustouflant même, ne va pas de pair avec le progrès des libertés. Un aspect du défi chinois retient particulièrement l’attention : l’exportation par la Chine dans des pays dirigés par des autoritaires de techniques de contrôle social de haute technologie.

Comment l’Europe – du moins l’Europe qui reste attachée à la démocratie libérale – peut-elle réagir ?
D’abord, une prise de conscience est nécessaire. Notamment en France, où il ne fait pas partie de nos traditions diplomatiques de tenir compte des différences de régimes politiques. Or aujourd’hui le courant antilibéral global – incarné par les nouveaux autoritaires - a atteint une masse critique telle qu’une réaction est nécessaire si nous voulons rester ce que nous sommes.
Ensuite, le plus important est sans doute de "tenir", de rester fidèles à nos principes : bien des événements dans le monde (en Algérie, au Liban, en Irak, à Hong-Kong, à Moscou, au Chili etc.) traduisent sans doute un malaise social planétaire ; ces événements indiquent aussi, comme cela a été aussi le cas des récentes élections en Turquie, que le modèle autoritaire n’offre ni protection contre la colère des peuples ni solutions aux problèmes qui provoquent cette colère. Une "crise du modèle autoritaire" est devant nous.
Enfin, l’Europe peut-être à la fois le laboratoire où s’élabore un nouveau libéralisme et une plateforme pour soutenir les sociétés civiles dans les pays de notre voisinage. Ce sont les sociétés civiles – comme d’ailleurs cela avait été le cas en Europe centrale dans les années précédant la chute du mur de Berlin – qui peuvent le mieux construire, au moins dans certains pays, des alternatives aux pouvoirs autoritaires.
L’ouvrage publié par l’Institut Montaigne et les éditions de l’Observatoire, Le monde des nouveaux autoritaires, ne développe pas ces pistes d’action (il y faudrait un autre livre). Il présente en revanche les pièces du dossier "nouveaux autoritaires" dont une bonne compréhension est un point de départ indispensable. La collection de portraits qu’il offre au lecteur est saisissante et ouvre, croyons-nous, des perspectives nouvelles à la réflexion.

O desmantelamento da coordenação macroeconômica na Europa - Adam Tooze

The German impasse

Adam Tooze dissects how the macroeconomic policy discourse is disabling necessary German, and European, steps forward.
German
Adam Tooze
The autumn of 2019 is a moment of anniversaries. The 30th anniversary of German unification has garnered much attention. Rather less remarked upon has been the ten-year anniversary of the eurozone crisis. It was in the autumn of 2009 that the Greek government shocked the world by announcing the scale of its budget manipulation.
Today the bond markets are calm. Greece recently issued debt at negative yields. But the politics of the eurozone continue to be turbulent and the unified Germany, by far the largest eurozone member, continues to be at the heart of it.
This year we have seen a battle over a budget for the eurozone. The decision by the European Central Bank in September to relaunch quantitative easing has proved highly controversial. Most recently the Germany Finance Ministry, headed by the social democrat Olaf Scholz, has launched an initiative to kick-start the negotiations over banking union.
The unceasing debate on issues of principle points to the unresolved and profoundly political nature of Europe’s monetary union. The set of difficulties is familiar. How to ensure the stability of the system? How to achieve convergence? How to pool risk without encouraging moral hazard? How to avoid a one-way ‘transfer union’?
In part the arguments are defined by structural differences which run along national lines—divisions between creditors and debtors. But they are also a matter of political interpretation. Divisions between left and right and differing visions of Europe are tied up with the representation of interests in a cruder sense.

Seismic shocks

The party-political system within which the crisis was managed has, in the process, suffered a series of seismic shocks. This was true first for the countries worst hit: Portugal, Ireland, Spain, Italy and Greece, not to mention Hungary and Romania. But political upheaval eventually came to France and to Germany too.
Following the shock election of 2017, which saw the Alternative für Deutschlandcatapulted into the Bundestag, the effort to form a German government left the French president, Emmanuel Macron—himself a product of the disintegration of the French party system—waiting in vain for an answer to his proposals on European reform. Two years later, the Grosse Koalition in Berlin is again hanging by a thread. And this has implications for the debate about the eurozone.  

Watch the latest Social Europe Video Podcast

As part of the ‘Groko’ negotiations in 2018, the SPD taking the Finance Ministry was arguably the most important shift in Merkel’s fourth government. From the outset the question has been what difference Scholz’s incumbency would make. The former finance minister, Wolfgang Schäuble, had articulated his conservative vision of European integration from an impregnable position within the Christian Democratic Union. The SPD talks a good game on Europe. But what would Scholz be able to do?
The SPD’s political base has suffered a shocking attrition. In the autumn of 2019, as he launched his proposal for a banking union, Scholz was campaigning to head a demoralised party, which routinely polls in fourth place behind the Greens and the AfD.
In the rapidly evolving landscape of German politics, the pro-European forces lack clear points of coalescence. By contrast, the Eurosceptic current is loud and vociferous. A large part of conservative, not to say nationalist, opinion in Germany furiously rejects the steps necessary to complete the monetary union.
This is most explicit in the AfD, which was founded as a party of protest against the steps taken in 2012 to save the currency zone. The party has since migrated from the euro, to migration and now green politics. But Euroscepticism is by no means limited to the AfD. It is pervasive also in the Free Democratic Party and segments of the CDU. In low-key form it expresses itself in common-or-garden prejudice against other eurozone members and, most recently, in resentment towards the allegedly punitive interest rates of the ECB.
Across a wide range of commentary on economic and financial affairs, scepticism and suspicion towards other eurozone members is assiduously fostered and reproduced. From the outside it is easily mistaken for triumphalism. It is, in fact, more often the reverse—a defensive rhetoric of resentment and betrayal.

Wave of indignation

Many German conservatives, led by the Bundesbank leadership, never reconciled themselves to the resolution of the crisis in 2012 by the ECB head, Mario Draghi, with his ‘whatever it takes’ commitment. The extraordinary wave of indignation unleashed against the current relaunch of QE is indicative of that fact. It stretches from the nationalist fringe of the CDU to the Bild Zeitung and the Bundesbank itself. Despite the outrageousness of the attacks, there has been barely a word in defence of the ECB from Merkel’s government.
Of course, as defenders of the ECB will insist, it acts not out of hubris or some perverse desire to unleash inflation on Germany’s hard-pressed savers, but because it fears the risk of deflation and it despairs of an appropriate fiscal response to the eurozone slowdown. But in Berlin, despite an increasingly loud chorus of dissent, Schäuble’s ‘black zero’ budgeting and the associated debt brake remain sacrosanct. And despite the fact that his ministerial experts clearly know better, Scholz has refused to move. Even the climate-policy package of 20 September will conform to the Schwarze Null.
Yes, it would make more sense if the eurozone had a fiscal capacity to match the monetary union. This was a key part of Macron’s Sorbonne proposals. On his way out of the ECB, Draghi has given his endorsement. But Germany, along with a coalition of northern-European states, cut this down to a pale shadow of what is required. Once again there was no substantial counter-steer from the SPD.
Failing discretionary budgetary action, stronger automatic stabilisers for the eurozone would help. An unemployment-insurance fund is one obvious mechanism. In 2018 Scholz did seize on this idea—unemployment insurance is an SPD issue. But his initiative had not been agreed with Merkel’s Chancellery. The usual objection was offered, that Germany would end up as a net payer. It would be a slippery slope to a transfer union. Even before it was discussed in Europe, the idea was dead on arrival in Berlin.

Intense consultation

Will the banking union be any more successful? Once again the Finance Ministry has acted without approval from the Chancellery. But this time the proposal is clearly well-prepared. By all accounts, consultation has been intense. Nor is banking union an obvious SPD issue. It ought to please the business lobby. And it has not escaped notice that on this issue at least it may be time to re-evaluate the idea that risk-sharing is a one-way street.
Italy’s banks may still be worrisome. But who knows what risks lurk in the accounts of Deutsche and Commerz? The idea of a European resolution of Deutsche Bank is far-fetched but its troubles certainly make the idea of European risk-pooling easier to sell to the German public.
Assuming it isn’t shot down by the chancellor’s office or sacrificed to the vociferous savers’ lobby of the Sparkassen, the proposal may actually help restart the negotiations. The details are bound to be highly controversial. The most obvious point of contention is Scholz’s blunt declaration that sovereign debts are not risk-free assets and should therefore be backed by capital in bank balance sheets. To which the response ought to be: well that depends.
To all intents and purposes Bunds surely are risk-free. If the others are not, it is because the ECB’s willingness to back them depends on politics, above all in Germany. Under crisis conditions, those were precisely the kind of words Schäuble used to use to raise the pressure on the debtor countries. And it begs the question: if sovereign debt in general is not safe, how does the German Finance Ministry expect the European financial system to function? If not national sovereign debt, what will serve as its safe asset?
A ministry ‘non-paper’ deflects this question into a discussion of concentration ratios and risk weightings. Rather than a single safe asset, it talks about a ‘safe portfolio’ of sovereign bonds which banks across the eurozone would hold. Without elaboration, perhaps in the direction of a synthetic safe asset, no one in Berlin can expect the French or the Italians to find this attractive.
But that is not the point. The point of the Scholz initiative is to open the door to further negotiation. What is crucial is to escape from the so-called banking-union roadmap of 2016 Schäuble bequeathed to his successors. This made any discussion of risk-pooling by way of common deposit insurance conditional on a receding horizon of risk-reduction measures.
The significance of the Scholz paper is that it offers negotiations not in sequence but on all the key issues or risk-reduction and risk-sharing at once. That may seem excruciatingly minimal. Given the prevailing mood in Berlin that may be for the best. In terms of the politics of the eurozone it is actually a huge step.

Chain reaction

What happens next depends on who is actually in office in Berlin. Scholz’s rivals for the SPD leadership are seen as likely to end the Groko. That would quite likely unleash a chain reaction on the CDU side. Participants in the right-wing fronde against Merkel and her designated successor, Annegret Kramp-Karrenbauer, are rumoured to be thinking of the party conference in Leipzig on 23 November as the occasion for a coup. The upshot would be unprecedented turmoil. An early German general election in 2020 would be fought with neither the CDU nor the SPD with consolidated party leadership.
Would a change be for the better? The most likely option for government would revolve around the Greens. They are fresh but they are also untried. As far as the eurozone is concerned, it is far from obvious that the Greens have plausible candidates for the Finance Ministry or even the Ministry of Economic Affairs.
And who would be their partners? Green-red-red is not inconceivable, but would involve working out relations with Die Linke, a truly radical proposition. The far more likely option is black-green, which would be the closest that Germany could now produce to a grand coalition. But that begs the question: which CDU would the Greens be dealing with? What will eurozone policy look like if an heir to Schäuble is in the saddle, harried by the liberal FDP and the AfDon the right?
The only thing that is for sure is that the basic questions will continue to be political all the way down.

This article is a joint publication by Social Europe and IPS-Journal

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...