quinta-feira, 10 de março de 2022

Comemoração do Bicentenário da Independência na Assembleia Legislativa do Paraná - Deputado Luiz Fernando Guerra

 O deputado mencionou o meu nome como possível participante.

Deputado Guerra quer que a Assembleia Legislativa participe das ações em comemoração do Bicentenário da Independência Parlamentar solicitou a realização de Sessão Solene no dia 11 de agosto.

08/03/2022 14h35  | por Assessoria parlamentar

Deputado Luiz Fernando Guerra (PSL).

Deputado Luiz Fernando Guerra (PSL).

Créditos: Orlando Kissner/Alep

O Brasil vai comemorar o Bicentenário da Independência (1822-2022). O Governo Federal, através da Secretaria Especial da Cultura, a Câmara dos Deputados e o Senado estão coordenando estratégias de comunicação padronizada baseada nos conceitos de “soberania, liberdade e independência”. Também foi divulgado o Manual de Identidade Visual do selo Bicentenário da Independência, criado pelo Governo. O selo traz a imagem de um punho segurando uma espada, em alusão ao gesto que Dom Pedro I teria feito ao declarar a independência do país em 7 de setembro de 1822.

O deputado Luiz Fernando Guerra protocolou requerimento na sessão da Assembleia Legislativa do Paraná solicitando para que o Poder Legislativo promova a indicação de representação parlamentar para integrar a Comissão Especial de Apoio às Celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil no Paraná (Comissão do Bicentenário no Paraná), colegiado formado no último dia 16 de fevereiro e que conta com a participação de diversas entidades civis organizadas, com representatividade das áreas cívico-culturais, profissionais e empresariais paranaenses, sob a presidência do desembargador aposentado Paulo Roberto Hapner, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGP).

Na mensagem justificativa da proposição o deputado destaca que o Bicentenário da Independência é uma das principais efemérides de 2022 em termos históricos.

As celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil, que ocorrem neste ano, terão participação de diversas entidades representativas do Paraná, que se propõem atuar em parceria com os órgãos públicos nesse evento magno para a nacionalidade. A Comissão do Bicentenário no Paraná conta com cerca de 40 entidades participantes que estruturaram a organização colegiada e participativa, sob a liderança do desembargador Paulo Hapner, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, que vai se articular com os poderes públicos – Governo do Estado, Exército Brasileiro, Assembleia Legislativa, e Prefeitura de Curitiba, entre outros.

A reunião de lançamento  da Comissão do Bicentenário no Paraná registrou a participação de entidades como o Instituto Histórico e Geográfico, Movimento Pró-Paraná, a Liga da Defesa Nacional, Instituto Democracia e Liberdade, Observatório Paranaense de Cultura, Associação Paranaense de Imprensa, Academia Paranaense de Letras, Centro de Estudos Brasileiros do Paraná, Frente D. Pedro II e Instituto de Relações Internacionais do Paraná, dentre os quais foram escolhidos os órgãos de coordenação do projeto.

A programação oficial prevê palestras de diversas representatividades como o professor português Fernando Araújo, estudioso das relações Portugal/Brasil; do diplomata brasileiro Paulo Roberto de Almeida; de historiadores, juristas e outros acadêmicos. Ainda, contará com solenidades comemorativas à exemplo da Sessão Solene requerida pelo deputado Luiz Fernando Guerra para ocorrer na data de 11 de agosto (Dia do Advogado) na Assembleia Legislativa do Estado, no Instituto Histórico e Geográfico, além de exposição pública no Palácio Iguaçu, dentre outras ações, conforme a evolução das questões restritivas sanitárias.

Segundo a organização a proposta é reforçar a importância dos feitos da geração que elaborou e consolidou a Independência (o Príncipe Dom Pedro, a Princesa Leopoldina, o ministro José Bonifácio), mais a contribuição anterior e seguinte, dos formadores da Nação; além de um ciclo de debates sobre as perspectivas atuais do Brasil na cambiante ordem internacional.

Para o deputado Luiz Fernando Guerra no ano do Bicentenário da Independência, o objetivo é valorizar nossa História, ressaltar nossos valores sempre com Independência, Soberania e Liberdade como norte, afirmou.


O mundo confrontado à loucura de um único déspota - Tom Friedman (NYT)

 Só existe uma maneira de interromper a marcha da insensatez: os militares  russos tomarem o controle militar do Kremlin para depor o insano tirano. Como eles não o farão, o mundo caminhará to the brink…

Paulo Roberto de Almeida


Putin Has No Good Way Out, and That Really Scares Me

Thomas L. Friedman

The New York Times – 10.3.2022

 

If you’re hoping that the instability that Vladimir Putin’s war on Ukraine has wreaked on global markets and geopolitics has peaked, your hope is in vain. We haven’t seen anything yet. Wait until Putin fully grasps that his only choices left in Ukraine are how to lose — early and small and a little humiliated or late and big and deeply humiliated.

I can’t even wrap my mind around what kind of financial and political shocks will radiate from Russia — this country that is the world’s third-largest oil producer and possesses some 6,000 nuclear warheads — when it loses a war of choice that was spearheaded by one man, who can never afford to admit defeat.

Why not? Because Putin surely knows that “the Russian national tradition is unforgiving of military setbacks,” observedLeon Aron, a Russia expert at the American Enterprise Institute, who is writing a book about Putin’s road to Ukraine.

“Virtually every major defeat has resulted in radical change,” added Aron, writing in The Washington Post. “The Crimean War (1853-1856) precipitated Emperor Alexander II’s liberal revolution from above. The Russo-Japanese War (1904-1905) brought about the First Russian Revolution. The catastrophe of World War I resulted in Emperor Nicholas II’s abdication and the Bolshevik Revolution. And the war in Afghanistan became a key factor in Soviet leader Mikhail Gorbachev’s reforms.” Also, retreating from Cuba contributed significantly to Nikita Khrushchev’s removal two years later.

In the coming weeks it will become more and more obvious that our biggest problem with Putin in Ukraine is that he will refuse to lose early and small, and the only other outcome is that he will lose big and late. But because this is solely his war and he cannot admit defeat, he could keep doubling down in Ukraine until … until he contemplates using a nuclear weapon.

Why do I say that defeat in Ukraine is Putin’s only option, that only the timing and size are in question? Because the easy, low-cost invasion he envisioned and the welcome party from Ukrainians he imagined were total fantasies — and everything flows from that.

Putin completely underestimated Ukraine’s will to be independent and become part of the West. He completely underestimated the will of many Ukrainians to fight, even if it meant dying, for those two goals. He completely overestimated his own armed forces. He completely underestimated President Biden’s ability to galvanize a global economic and military coalition to enable Ukrainians to stand and fight and to devastate Russia at home — the most effective U.S. coalition-building effort since George H.W. Bush made Saddam Hussein pay for his folly of seizing Kuwait. And he completely underestimated the ability of companies and individuals all over the world to participate in, and amplify, economic sanctions on Russia — far beyond anything governments initiated or mandated.

When you get that many things wrong as a leader, your best option is to lose early andsmall. In Putin’s case that would mean withdrawing his forces from Ukraine immediately; offering a face-saving lie to justify his “special military operation,” like claiming it successfully protected Russians living in Ukraine; and promising to help Russians’ brethren rebuild. But the inescapable humiliation would surely be intolerable for this man obsessed with restoring the dignity and unity of what he sees as the Russian motherland.

Incidentally, the way things are going on the ground in Ukraine right now, it is not out of the realm of possibility that Putin could actually lose early and big. I would not bet on it, but with every passing day that more and more Russian soldiers are killed in Ukraine, who knows what happens to the fighting spirit of the conscripts in the Russian Army being asked to fight a deadly urban war against fellow Slavs for a cause that was never really explained to them.

Given the resistance of Ukrainians everywhere to the Russian occupation, for Putin to “win” militarily on the ground his army will need to subdue every major city in Ukraine. That includes the capital, Kyiv — after probably weeks of urban warfare and massive civilian casualties. In short, it can be done only by Putin and his generals perpetrating war crimes not seen in Europe since Hitler. It will make Putin’s Russia a permanent international pariah.

Moreover, how would Putin maintain control of another country — Ukraine — that has roughly one-third the population of Russia, with many residents hostile to Moscow? He would probably need to maintain every one of the 150,000-plus soldiers he has deployed there — if not more — forever.

There is simply no pathway that I see for Putin to win in Ukraine in any sustainable way because it simply is not the country he thought it was — a country just waiting for a quick decapitation of its “Nazi” leadership so that it could gently fall back into the bosom of Mother Russia.

So either he cuts his losses now and eats crow — and hopefully for him escapes enough sanctions to revive the Russian economy and hold onto power — or faces a forever war against Ukraine and much of the world, which will slowly sap Russia’s strength and collapse its infrastructure.

As he seems hellbent on the latter, I am terrified. Because there is only one thing worse than a strong Russia under Putin — and that’s a weak, humiliated, disorderly Russia that could fracture or be in a prolonged internal leadership turmoil, with different factions wrestling for power and with all of those nuclear warheads, cybercriminals and oil and gas wells lying around.

Putin’s Russia is not too big to fail. It is, however, too big to fail in a way that won’t shake the whole rest of the world.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Quando o dever moral nascido do sentido de Justiça deve prevalecer sobre o “pragmatismo” que sustenta o crime - Paulo Roberto de Almeida

Quando o dever moral nascido do sentido de Justiça deve prevalecer sobre o “pragmatismo” que sustenta o crime

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

A diplomacia brasileira atual “esqueceu” — ou fizeram-na esquecer — a grande lição de Rui Barbosa em 1916: não existe, não pode existir imparcialidade entre a Justiça e o crime. Não pode haver “equilíbrio” em face de atos não provocados de brutal agressão unilateral. A única atitude moral possível é a condenação, a denúncia do agressor, a solidariedade com e a ajuda ao agredido!

O governo Bolsonaro é objetivamente solidário com o agressor, fingindo uma “neutralidade” que favorece o crime e a impunidade do criminoso, justificando sua atitude vil como se fosse “imparcialidade” quando de fato é conivente com atos bárbaros, ao se opor ao mínimo possível, que são sanções econômicas contra o meliante. Também pratica uma atitude covarde, ao se opor ao fornecimento de armas defensivas ao agredido, o que significa dizer que este deve se deixar dominar pelo mais poderoso.

Existe uma aliança objetiva entre os “neutros” de esquerda e de direita, ao se mostrarem coniventes com o agressor.

A única coisa ainda não esclarecida é se a postura indigna da diplomacia decorreu da imposição dos decisores políticos ou se foi elaboração própria, uma tergiversação imoral ao escolher os conceitos mais ambíguos para esconder o abandono do Direito Internacional.

Minha denúncia foi feita em termos bastante claros: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/uma-renuncia-infame-o-abandono-do.html?m=1

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4099: 9 março 2022, 2 p.

 

 

Quando a Europa se “militarizou” em favor da Ucrânia - Jean-Pierre Stroobants (Le Monde)

 

«Il fallait faire vite» : des sanctions contre la Russie à l’armement de l’Ukraine, les quatre jours qui ont bouleversé l’Union européenne

Entre le 24 février, lorsque les chefs d’Etat et de gouvernement, réunis à Bruxelles, ont écouté le poignant appel à l’aide de Volodymyr Zelensky, et l’annonce d’une aide européenne pour l’armement de Kiev, le 27 février, l’UE a vécu un tournant dans son histoire. 
Par Jean-Pierre Stroobants (Bruxelles, bureau européen)
Le Monde, 8/03/2022
Un instructeur explique à un jeune civil comment charger un fusil d’assaut dans un entrepôt de Lviv (Ukraine), le 8 mars 2022.
Un instructeur explique à un jeune civil comment charger un fusil d’assaut dans un entrepôt de Lviv (Ukraine), le 8 mars 2022. LUCAS BARIOULET POUR « LE MONDE »

Ce sont les quatre journées qui ont changé l’Union européenne (UE), qui ont gommé des décennies de « soft power » et ont fait basculer l’Europe dans le rôle inattendu d’un fournisseur d’armes. Quatre journées qui marqueront un tournant dans son histoire.

Tout démarre avec un long silence, beaucoup d’émotion et quelques larmes. Jeudi 24 février, les chefs d’Etat et de gouvernement sont réunis en sommet à Bruxelles, dans le bâtiment Europa. Ils viennent d’écouter Volodymyr Zelensky, le président ukrainien, tee-shirt vert olive et visage marqué, qui s’est adressé à eux par visioconférence et a formulé un poignant appel à l’aide, comme celui qu’il adressera la semaine suivante au Parlement européen.

« Cela a été un choc », dira l’un des présents. Une vive discussion s’engage alors quant à la nature de la riposte à opposer au Kremlin. Et, pour une fois dans cette enceinte, il ne s’agit pas de négocier à la baisse, mais à la hausse, le projet de conclusions, le texte final pesé au trébuchet, habituellement livré à la presse après de longues heures de palabres.

Mais pour éviter toute mauvaise surprise et toute remise en question d’une unanimité acquise après ce qu’un haut fonctionnaire appelle le « long massage » de certains dirigeants, le président du Conseil, Charles Michel, a rompu avec la tradition. Il a fait diffuser le communiqué au milieu de la réunion. La salle de presse pourra, pour une fois, aller se coucher tôt, après avoir conclu que ce deuxième train de sanctions qui vise, pour l’essentiel, l’industrie russe, le secteur de l’énergie, des banques et quelques personnalités, est éloigné de la « bombe atomique » qu’évoquaient certains. Celle que réclamait Volodymyr Zelensky.


(…)


Personagens da história da liberdade: Roberto Campos - Live com Paulo Roberto de Almeida

 Minha live mais recente, a convite do líder do Movimento SC Livre, de Santa Catarina, Rafael Ary, e do deputado Bruno Souza, fundador do movimento.


1443. “A atualidade de Roberto Campos”, Palestra e debate sobre o personagem símbolo da liberdade no Brasil, no Movimento SC Livre (08/02/2022; link: https://youtu.be/L70hyLaBnYQ); Relação de Originais n. 4090.



A atualidade de Roberto Campos

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor; diretor de publicações no IHG-DF.

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

palestra no Movimento SC Livre, sobre o economista e diplomata; em módulo formativo nomeado “Personagens da História da Liberdade”; dia 8/03; 20:00hs.

Link para a aula: https://youtu.be/L70hyLaBnYQ

 

 

Livros PRA: O Homem Que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017); A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018).

Conceito chave: ecletismo; liberdade é um conceito genérico e abstrato

Anos 1940: Oswaldo Aranha o considerava comunista

Anos 1950: planejamento econômico, Comissão Mista Brasil-EUA, BNDE, Plano de Metas de JK; renúncia da presidência do BNDE (acordo com FMI; construção de Brasília);

1961-64: embaixador em Washington; de Jânio ao parlamentarismo e ao presidencialismo;

Anos 1964-67: grandes reformas, que só podiam ser feitas pelo Estado: PAEG (redução gradual da inflação, sem metodologia FMI), criação do BC, reformas financeiras (correção monetária, scala mobile italiana; efeitos delongados, inerciais), novo sistema tributário (racionalidade, para investimentos), BNH, uma nova Lei de Terras (tributação sobre terras ociosas), mercado de capitais, investimentos estrangeiros (recusa da limitação de remessa de lucros, garantias aos investidores, Convenção de NY-1959, aceita 30 anos depois)

Revisão de expectativas: anti-estatismo ao sair do governo

1967 em diante: críticas à estatização, intervencionismo exacerbados, três orçamentos: fiscal, monetário, estatais, subsídios anti-Gatt, financiamentos estatais às Xs, dezenas de estatais produtivas

Constituição de 1967: colaboração no capítulo econômico

1974-82: Embaixador em Londres: intelectuais; José Guilherme Merquior;

1982-1998: parlamentar: Senador MS na Constituinte; cavaleiro solitário; deputado pelo RJ;

1989-1991: queda do muro de Berlim; teve razão antes do tempo; Raymond Aron;

1998: ABL: teve vitórias e decepções

2001: morte e legado

2017: 100 anos do nascimento; homenagens, PRA e Ives Gandra, Paulo Rebello de Castro

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4090: 25 fevereiro 2022, 1 p.


terça-feira, 8 de março de 2022

A Resolução da ONU além do que os olhos podem ver - Lucas Carlos Lima (OESP)

 A Resolução da ONU além do que os olhos podem ver

Os 141 Estados favoráveis prepararam o terreno para as batalhas diplomáticas, políticas e jurídicas que se seguirão

Lucas Carlos Lima 

O Estado de São Paulo, 06/03/2022

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,a-resolucao-da-onu-alem-do-que-os-olhos-podem-ver,70003998338

 

Na diplomacia e nas relações jurídicas internacionais há certos atos que guardam significados para além do que um mero perpassar de olhos pode sugerir. A Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas adotada no dia 02 de março por 141 votos favoráveis, 5 contrários e 35 abstenções é um desses atos. Não obrigatória por natureza, exortatória por definição, ainda assim a Resolução é eloquente. Nos detalhes diz muito, e num conflito de argumentos jurídicos, pesa a balança para um dos lados da narrativa.

 

A longeva e bem definida técnica dominada por juristas internacionalistas sugere que não basta que a natureza não-vinculante  da resolução do órgão democrático da ONU não encerra os debates: o texto, o contexto e os precedentes são significativos. Sobre este último, trata-se de uma Resolução invocando a vetusta resolução “Unindo para a paz” de 1950. Nas raras vezes em que deu o ar da graça para acomodar crises internacionais, tal resolução fazia com que se lesse, mutatis mutandis, que “o balanço de competências da ONU se altera, a Assembleia vai agir com poderes do Conselho, que está emperrado”.

 

Quanto ao texto, a escolha de verbos é loquaz e noticia-se que Brasil foi jogador importante no exercício de se encontrar termos capazes de impedir confrontação demasiada. O voto brasileiro veio acompanhado de uma explicação que pode ser traduzida por “não é o texto que queríamos, mas dadas as circunstâncias, não se pode votar contra”. Tal posição pode ser lida sob diferentes ângulos. Por um lado, serviria de aceno ao diálogo com Moscou; mantém-se a porta aberta. Por outro, se alinha à posição majoritária, engrossando o coro sobre o descabimento dos argumentos que ressoam do lado de lá do muro.

 

Isso porque o texto da Resolução é contundente e significativamente mais severo do que o adotado em relação à anexação da Crimeia em 2014, por exemplo. Não é todo dia que se lê num documento da ONU que um de seus órgãos “lamenta nos termos mais fortes a agressão da Federação Rússia contra a Ucrânia em violação ao Artigo 2.4 da Carta”. Nesse sentido, a alta adesão de 145 Estados é ainda mais significativa: construiu-se consenso na maioria em torno de um texto austero o qual possui implicações do ponto de vista legal. 

 

A Resolução reafirma seu compromisso com a soberania, independência, unidade e integridade territorial (também marítima) ucraniana. Para a Rússia, a Resolução deplora em vez de condenar, e demanda a retirada de tropas e o fim das violações, recordando que existem princípios obrigatórios que norteiam a vida e a amizade dos Estados. O texto não se esquece da Bielorrússia, cujo uso ilícito da força também é lastimado. Em abstrato, a Resolução condena violações ao direito humanitário e pede o respeito aos princípios básicos do direito internacional. Eis a premissa básica da resolução: as normas reconhecidas devem ser respeitadas e não se pode retroceder naquilo que foi estabelecido. 

 

Não é a força dos verbos escolhidos, mas as informações que a Resolução avança que a transformam em um instrumento poderoso. O documento torna indisputáveis certos fatos: houve uma agressão, isto é, no linguajar jurídico, o mais severo uso da força prenunciado na Carta da ONU e em resoluções anteriores; (2) a Carta foi violada em relação à proibição do uso da força; (3) o uso da força foi ilícito, de modo que as escusas apresentadas até então pela Rússia foram rechaçadas; (4) a declaração sobre o status de Donetsk e Luhansk pela Rússia é ilícita; (5) voltam à baila os acordos de Minsk, responsáveis por apaziguar a crise russo-ucraniana de 2014. 

 

Duas consequências podem ser depreendidas e merecem atenção. Um, dentro da arquitetura jurídica a qual estrutura o sistema ONU: está-se diante de sérias violações, até mesmo das assim chamadas regras peremptórias do direito internacional. Dois, diante de violações às regras e princípios cardinais do sistema, algumas consequências especiais podem ser elencadas. A primeira é que os Estados violadores têm de cessar seus atos ilegais. Além disso, todo membro da comunidade internacional está sob o dever de não reconhecimento desses atos ilícitos. Terceiro, se há violações a regras, os atos tomados pelos membros da comunidade para que os violadores voltem a honrar suas obrigações – mesmo que em desacordo com o direito – são legitimáveis. Um manto de legalidade – com limites de proporcionalidade e necessidade – recobre as sanções impostas.

 

Em suma, os 141 Estados os quais votaram a favor da Resolução avançaram estrategicamente para além do texto e prepararam o terreno para as batalhas diplomáticas, políticas e jurídicas que se seguirão. Não obrigatória? Sim. Eloquente? Também. Uma vitória de Pirro? Os próximos passos do conflito responderão. Será invocada no futuro? Certamente.

 

Lucas Carlos Lima é professor de Direito Internacional da UFMG. Membro da Diretoria da ILA-Brasil. Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Cortes e Tribunais Internacionais CNPq/UFMG.

ILA Statement on the Ongoing and Evolving Aggression In and Against Ukraine (3 March 2022)

ILA Statement on the Ongoing and Evolving Aggression In and Against Ukraine 3 March 2022

As an Association committed to the international rule of law the International Law Association (ILA) deplores the flagrant violation of international law by Russia in its military action in and against Ukraine, a sovereign state and member of the United Nations.

Further to the statement issued by the Executive Chair of the ILA on 25th February 2022, the Association affirms its commitment to the rules of international law relating to the use of force including the legal obligation upon all states to comply with the principles set out in the United Nations Charter, especially article 2 (4) relating to the prohibition of the use of force against the territorial integrity and political independence of any state without a mandate from the Security Council, or in lawful self-defence.

The actions of the Russian Federation manifestly do not come within the exceptions to the prohibition of the use of force and as such are in breach of these peremptory norms of international law from which no derogation is permissible. Nor can political arguments detract from legal obligation.

Apart from being responsible for an internationally wrongful act – the unlawful use of force - the Russian Federation must also comply with its obligations under international humanitarian law and international human rights law. Failure to do so may constitute international crimes for which there is individual criminal responsibility as well as state responsibility under the Geneva Conventions, the laws and customs of war and human rights treaties. The Association welcomes the decision of the Prosecutor of the International Criminal Court to investigate the possible commission of war crimes and crimes against humanity.

It is evident that compliance with the law will not of itself safeguard international peace and security. Without it, however, not only is the stability of the international order threatened but so too are the lives and security of millions of civilians. The ILA joins with others for calling for an end to the use of force in Ukraine, for a peaceful settlement with meaningful participation by civil society, and for immediate humanitarian and other assistance to those displaced, injured and otherwise harmed, as well as long term justice.

International Law Association (ILA) 3 March 2022


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...