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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A realidade e a percepção: como distinguir uma da outra? - Paulo Roberto de Almeida


A realidade e a percepção:
Como distinguir uma da outra?

Paulo Roberto de Almeida 

Pessoas normais são influenciadas pelo que leem, ouvem, veem, sobretudo na televisão, e agora, crescentemente, nos meios digitais de comunicação e de informação. Daí a importância da propaganda e da publicidade (as duas não devem ser confundidas) na formação de imagens, conceitos, de opiniões.
O PT, partido formado em boa parte por quadros conscientes dos efeitos da propaganda política sobre as grandes massas, aprendeu, desde sempre, a importância de dispor de uma eficiente máquina de propaganda (e não tanto de publicidade, pelo menos não a verdadeira) para obter vitórias políticas e eleitorais.
O que se assistiu, na última década (mais exatamente nos últimos doze anos) foi a uma campanha maciça de propaganda destinada justamente a enaltecer os feitos dos governos lulo-petistas, servindo, paralelamente, para ampliar os recursos do partido com oportunidades inéditas de faturamento semilegal, como evidenciado em diversos casos de contratações suspeitas ou claramente superfaturadas.
Uma comparação dos gastos “publicitários” dos governos anteriores com os recursos mobilizados e executados sob os governos lulo-petistas revelaria, justamente, um crescimento exponencial desses gastos, muito acima do simples crescimento do PIB, bem mais do que a inflação e até superiores ao aumento – já por si exagerado – dos gastos públicos em geral, todos eles em escala ascendente. A população brasileira não tem consciência da evolução especialmente exorbitante desses gastos, e certamente se espantaria se lhe fosse apresentada uma tabela comparando, por exemplo, a expansão da propaganda indevida – que se tenta disfarçar como publicidade governamental – com o crescimento (ou até a diminuição relativa) das despesas em saúde, educação, transportes ou segurança pública.
A realidade desses setores é amplamente negativa, como revelado nas manifestações espontâneas da classe média (nova ou velha, não importa muito agora) de junho de 2013, mas a percepção que a população tem do governo e dos governantes é sem dúvida, amplamente mais favorável do que deveria ser, fruto, justamente, da intensa propaganda feita em favor desses governos, pelos próprios. Essa percepção é parte tornada ainda mais distante da realidade por obra de uma classe de jornalistas amplamente favorável ao governo, o que também é fruto de anos e anos de uma formação deficiente nas faculdades de jornalismo, maciçamente dominadas por uma ideologia antimercado e pró-intervenção do Estado na economia.
Esses dois fatores básicos – gastos excessivos em propaganda governamental e atitude favorável de repórteres e jornalistas – explicam a grande distância entre a boa imagem do governo e o seu péssimo desempenho na maior parte dos gastos públicos. O esforço governamental, sobretudo partidário, continua de forma ainda mais intensa, e deve produzir resultados eleitorais compatíveis com os recursos investidos. Como se diz na linguagem publicitária, a propaganda é a alma do negócio. Nunca antes na história do Brasil o negócio político vendeu sua alma para assegurar a continuidade de um poder construído em grande medida sobre a base de imagens falsas.
Provavelmente, como também se acredita no meio político, as percepções são mais importantes do que os fatos. E não existe nenhuma dúvida de que as versões mais frequentes são aquelas apoiadas na propaganda mais intensa. Recursos não faltam para isso, ao que parece...

Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 22 de setembro de 2014, com base em texto de:
Montreal, 4-5 de julho de 2014

O que está em jogo nestas eleições: alternância ou barbarie?


O que está em jogo nestas eleições:
Reflexões de circunstância e de alguma constância

Paulo Roberto de Almeida

Eleições, todas elas, são, majoritariamente, um retrato instantâneo da realidade em que se vive, e, num segundo plano, mas de forma inconsciente ou minimizada, uma projeção utópica do futuro que se deseja. Ou seja, se espera que políticos – mandatários ou representantes do povo – possam fazer pelos seus eleitores aquilo que gostaríamos que eles fizessem por nós, todos nós. Trata-se, portanto, de um reflexo da conjuntura em que se vive e de uma esperança depositada num cenário prospectivo, que se imagina ser melhor do que o atual.
Os militantes da causa, e os true believers (existe certa identidade entre as duas categorias), votam pelos chefes, pelas palavras de ordem que lhes são passadas e que eles incutem como obrigação pessoal, quaisquer que sejam a dita conjuntura e os cenários prospectivos que eles possam traçar individualmente: eles são obedientes e determinados, mas também são poucos, no conjunto dos eleitores e sozinhos não poderiam determinar um resultado eleitoral, a não ser marginalmente, ou em circunstâncias excepcionais. Na maior parte das vezes, eleições são o resultado da expressão majoritária de eleitores comuns, cidadãos trabalhadores, pessoas simples, que sempre fazem algum tipo de cálculo quanto à melhor representação de seus interesses.
Eleitores, em geral, mesmo os mais ignorantes e deseducados politicamente, votam de acordo com os seus interesses materiais, não de acordo com crenças abstratas, salvo aquela minoria de militantes disciplinados e de true believers, já mencionados.
A massa dos eleitores brasileiros é constituída por pessoas da baixa classe média e dos chamados estratos populares, ou seja, pessoas e famílias com renda não superior a 2,5 salários mínimos, que compram quase tudo pelo famoso sistema dos “dez vezes sem juros”, e que possuem uma educação elementar, talvez rústica, para empregar uma palavra neutra. Muitos integram aqueles analfabetos funcionais de que falam algumas pesquisas sobre a capacidade de leitura e compreensão (mínimas) de grande parte da população adulta (talvez mais de um terço). Mesmo os que completaram mais de um ciclo de estudos, não internalizaram de verdade sua educação formal, e retiram a maior parte de sua percepção do mundo dos meios audiovisuais de comunicação e de informação, que são os canais abertos de massa, rádios populares e, crescentemente, a internet. Todos eles possuem celulares, mesmo camponeses e garis de rua, e todos eles possuem uma compreensão razoável do que seja um político: um sujeito que está ali para tirar vantagens pessoais a cada quatro anos, mas que pode, eventualmente, trazer algum benefício ao eleitor e à sua família, geralmente um emprego no Estado, o asfalto, a iluminação pública, a saúde, a segurança.
Eleições são momentos de acordos tácitos entre os candidatos e os eleitores, os primeiros mentindo desbragadamente, os segundos fingindo que acreditam, mas esperando tirar mais vantagens do candidato A do que do candidato B.
As eleições brasileiras de 2014 não serão diferentes na forma e nas modalidades de suas predecessoras, com a distinção atual de que o partido hegemônico construiu uma formidável máquina eleitoral – graças ao uso indiscriminado e inescrupuloso de recursos públicos, legal e ilegalmente – e faz absoluta questão de continuar mantendo controle sobre o poder, de uma forma ou de outra (e provavelmente mais de outra do que de uma). Sendo um partido true believer, mas especificamente neobolchevique e não religioso – ou religioso à sua maneira –, ele acha que encarna os interesses populares, e que é o único capaz de transformar o Brasil à sua imagem e semelhança. O que seria isso?: idealmente, uma sociedade igualitária, voltada para a promoção social e a inclusão dos mais pobres na sociedade de consumo, junto com a limitação do que ele percebe serem as perversidades econômicas e as iniquidades sociais naturalmente vinculadas ao capitalismo. Eles acreditam sinceramente nisso, mas apenas os militantes da causa, e esta é a sua legitimação política aos olhos de seus eleitores potenciais.
Na prática, e de forma muito diferente da imagem idealizada, os oligarcas que dominam o partido, com a ajuda de apparatchiks profissionais – exatamente segundo o modelo bolchevique – constituem uma associação voltada exclusivamente aos seus interesses pessoais, e que não hesitam, e sobretudo não hesitarão, em usar quaisquer meios disponíveis para preservar e aumentar esse poder de que dispõem atualmente. Nesse sentido, eles correspondem etimologicamente ao que se poderia chamar de máfia, ou seja, uma entidade inescrupulosa voltada para a defesa exclusiva dos interesses dos oligarcas que a compõem, e para a expansão de sua riqueza e poder, de todos os tipos.
De fato, seu comportamento é o de uma máfia, mas que atua não exclusivamente pelo segredo e na clandestinidade, escondendo os seus crimes (o que eles também fazem, sem nenhuma hesitação). Como partido político, que é sua face mais visível, eles também atuam de forma aberta – embora não desprezem os meios ilegais quando necessário, e em outras circunstâncias também – e têm a missão de conquistar seus devotos mais fiéis, como uma igreja de true believers, enfim. Aparentemente, ele foram bem sucedidos, pois conseguiram criar um formidável curral eleitoral que responde pelo nome de Bolsa Família. É isso que torna estas eleições diferentes das precedentes.
O que está em jogo, portanto, nestas eleições, é a continuidade da máfia no poder, ou uma alternância eleitoral, o que se afigura difícil. A pequena educação política da população brasileira parece indicar que a máfia será bem sucedida em seu projeto de continuidade do poder. É isto que está em jogo em outubro de 2014.

Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 21 de setembro de 2014

Across the Empire, 2014 (24): Toronto: cultura e pequenos prazeres...


Across the Empire, 2014 (24): Toronto: cultura e pequenos prazeres...

Paulo Roberto de Almeida

Toronto estava em festa neste fim de semana, inclusive com a praça do Legislativo fechada para as comemorações da batalha de York, contra os americanos. Em todo caso, preferimos passar o dia no que estava programado para esta cidade: a visita ao novo museu das imediações, Aga Khan, como já antecipado.

Não vou resumir aqui a história do homem ou de sua religião, pois todos podem encontrar muita informação sobre tudo isso, e sobre o museu, na internet. Em todo caso, uma recomendação: Carmen Lícia comprou este livro, que detalha a história dos ismaelitas. Custou exatamente 85 dólares canadenses na lojinha do museu e é um livro imponente (mais 11,05 de imposto, ou seja, um total de $ 96,05).
Eu conheci um pouco da história dos ismaelitas por circunstâncias fortuitas: em 1971 ou 1972, eu estudando na Bélgica, aquele ditador de circo chamado Ido Amin Dada – uma espécie de predecessor do Hugo Chávez – para compensar sua absoluta incompetência em matéria econômica – exatamente como o Chávez, aliás – resolveu encontrar um bode expiatório a quem culpar pelos problemas econômicos que ele mesmo criou em Uganda: resolveu então expulsar todos os imigrantes da época inglesa, que em geral eram trabalhadores do subcontinente indiano, entre eles paquistaneses da seita ismaelita. Algumas dezenas, ou centenas, foram parar na Bélgica. Conheci então uma jovem ismaelita, cujo nome nunca esqueci – por uma razão muito simples, ela se chamava Ruhina – e que me relatou a história de sua família e da imigração de seus antepassados para Uganda, inclusive pormenores da seita ismaili, já com menções a Aga Khan, o benfeitor da comunidade. Muito simpática, e nos entendíamos numa mistura de inglês e de francês, o que bastava para aferir o drama imenso daquelas milhares de família que tiveram, do dia para a noite, abandonar tudo, para buscar uma nova vida em outros países. Imagino como deve ter sido a expulsão dos judeus e dos mouros da península ibérica, a de vários outros povos submetidos a ditadores sanguinários – como Hitler, Stalin e os Castros – e fico pensando como a humanidade ainda comporta seres tão primitivos quanto esses brutos. Mas voltemos ao museu Aga Khan
O museu tinha de tudo o que pessoas cultas podem desejar: exposições de alta qualidade, música ao vivo, uma lojinha muito diversificada (onde comprei uma gravata de seda manufaturada com a temática do museu, bastante cara, por sinal) e Carmen Lícia comprou vários livros, além de um par de brincos na mesma temática, aliás que combinam com um colar que compramos no museu de Detroit, também muito bonito), pessoal simpático, instalações muito confortáveis, com garagem subterrânea (totalmente indispensável num país que neva 1 metro de altura, com 40 negativos). Recomendo altamente, como aliás Carmen Lícia, que aparece nesta foto sorridente.
Endereço para os distraídos: 77 Winford Drive, Toronto, ON M3C 1K1. 
Fizemos dezenas de fotos, Carmen Lícia provavelmente mais de duas centenas, de todos os objetos interessantes fotografáveis, com plaquetas informativas bilíngues.
Eu apareço na companhia deste barbudo, que é o Fathali Shah Qajar, um governante iraniano (ou persa) do início do século 19.
Carmen Lícia preferiu ficar entre esse casal de príncipes iranianos do mesmo período.

Os iranianos, ou persas, nunca foram fundamentalistas, em matéria de religião, de arte, de música, de poesia, e até de afinidades etílicas que seriam condenadas em outras partes, pelo menos até chegar o bando de bárbaros guiados pelo Khomeiny.
Depois do museu, fomos ainda ao centro religioso, ao lado, e que aparece nesta foto escura que fiz ao cair da tarde. 

Estavam preparando uma reunião religiosa, mas ainda assim pude sentar na pequena biblioteca do local, para folhear este Atlas que fiquei com vontade de comprar, mas acabei não achando na lojinha do museu, quando voltamos a ele.

Carmen Lícia também viu frustrado seu desejo de comprar um sexto ou sétimo livro, que também folheou na biblioteca, mas que tampouco estava disponível no momento. Este aqui. Fica para encomendas na Amazon ou na Abebooks.

Depois, ainda percorremos a cidade, indo até essa imensa torre que distingue a cidade, no mesmo modelo da que tínhamos visto em Seattle, com o inevitável restaurante circular, etc.

Carmen Lícia me fotografou na fonte-cascata em frente da torre, com perfis metálicos de peixes (suponho que sejam os famosos salmões do Canadá), subindo as corredeiras dos rios para desovar a montante.

Finalmente, ainda circulamos pela cidade, e sem vontade de sair para um restaurante, passamos num comércio de Fine Foods e compramos um húmus e mais alguns apetrechos para um pequeno lanche ao cair da noite. Terminei mais uma garrafa de vinho, esta que vocês veem na foto, ao lado do azeite com trufas brancas, que ainda perfumou o meu húmus com alho grelhado e cebola...
Agora estou degustando uma legítima Miller, uma das cervejas mais famosas da região, enquanto termino de redigir estas notas.
Amanhã, ou dentro de algumas horas, empreendemos o caminho de volta, não sem antes passar novamente por Corning, onde está o maior museu do vidro do mundo.
Depois conto...

Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 21 de setembro de 2014

Eleicoes 2014: a mistificacao ordinaria dos totalitarios - Roger Scruton

Scruton e o "otimismo inescrupuloso" do PT

Blog do Orlando Tambosi, 21/09/2014
Tentando sufocar os críticos, a campanha petista lança uma cruzada em favor do "pensamento positivo". Em entrevista à Veja, o filósofo britânico Roger Scruton, autor de As vantagens do pessimismo, analisa os riscos do "otimismo inescrupuloso", cultivador de "fantasias convenientes":

Um ranheta contumaz que torce para que o Brasil dê errado. É essa a imagem que a candidata Dilma Rousseff tem de seus críticos, a julgar pela cruzada contra o pensamento negativo que o PT levou ao horário eleitoral essa semana. A campanha é estrelada por um boneco batizado Pessimildo, de sobrancelhas grossas, olhos cansados e queixo protuberante — parece uma mistura do Seu Saraiva, o personagem de Francisco Milani no Zorra Total; com Statler, o crítico rabugento dos Muppets; Carl, o viúvo solitário de Up - Altas Aventuras; e Gru, o vilão de Meu Malvado Favorito. No vídeo levado ao ar, Pessimildo passa a noite em claro "para ver o pior acontecer" e se diverte com a perspectiva de que o desemprego cresça no Brasil — o que, hoje, é bem mais do que uma perspectiva. Um narrador de tom jovial faz pouco caso do fantoche: "Vai dormir, vai'.

Pessimildo é uma caricatura, mas bastante reveladora das obsessões da campanha petista. Desde o início da corrida eleitoral, a presidente Dilma Rousseff tem atacado os "nossos pessimistas", que "desistem antes de começar". Para ela, como para seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, "pessimismo" se opõe a valores como "verdade", "vitória" e "progresso". "Pense positivo, pense Dilma (sic)", recomenda a campanha petista, à maneira dos manuais de autoajuda.

As armadilhas deste otimismo desmedido são analisadas em The Uses of Pessimism ("As Vantagens do Pessimismo", em edição publicada em Portugal), que o filósofo inglês Roger Scruton lançou em 2010. 

Não se trata de defender a melancolia, a desesperança, a indiferença ou o ressentimento — o livro não tem nada de sombrio. Seu alvo é o "otimismo inescrupuloso". E, com frequência, o Otimildo da campanha petista é aquele que constrói sua mensagem com base em falácias, exageros, ilusões — ou na pura e simples manipulação da verdade e dos números. 

"Pessoas verdadeiramente alegres, que amam a vida e são gratas por esta dádiva, têm grande necessidade do pessimismo — em doses pequenas o bastante para que sejam digeríveis", escreve Scruton.

Pessimildo, o ranheta da propaganda petista.
Vai dar tudo certo - A primeira armadilha apontada pelo britânico é a "falácia da melhor das hipóteses". É o engano típico dos apostadores, que "entram no jogo com a plena expectativa de ganhar, levados por suas ilusões a uma situação irreal de segurança" - uma descrição aproximada do transe em que vive a área econômica do governo petista. O apostador só aparentemente assume riscos, escreve Scruton. No fundo, o que ele faz é bem o contrário: julgando-se predestinado, dobra a aposta convicto da vitória que acredita "merecer". Em 2011, logo após assumir, Dilma contava com que o país crescesse 5,9% ao ano - em média! - em seu governo. A poucos meses de concluir seu mandato, Dilma amarga resultados tão ruins que só podem ser comparados aos anos Collor e ao governo de Floriano Peixoto, nos primórdios da República. O país está em recessão técnica, mas nem isso abala o otimismo palaciano. Como o jogo, o irrealismo é em si uma espécie de vício, analisa o filósofo. 

Eu tenho um plano - Uma das falácias centrais analisadas por Scruton é a do planejamento, que consiste na crença de que sociedades podem ser organizadas como exércitos em torno de um plano desenhado por um poder central. Dessa armadilha deriva o furor regulatório dos burocratas e idealistas instalados na máquina pública. É a marca de regimes autoritários, claro, mas também envenena sólidas democracias. Para Scruton, o maior exemplo dessa falácia é incansável disposição dos arquitetos da União Europeia para editar marcos regulatórios cada vez mais detalhados e intrusivos, ignorando o "o modo como, pela lei das consequências não planejadas, a solução de um problema pode ser o início de outro". Scruton dá como exemplo a determinação de que o abate de animais na UE se faça na presença de um veterinário. O objetivo: remover da cadeia produtiva os animais doentes, possivelmente impróprios para o consumo. O resultado: onde o diploma de veterinário é difícil de obter, e o profissional, portanto, é muito bem remunerado, pequenos abatedouros se viram obrigados a fechar, pondo em dificuldades também os pequenos criadores.

Um corolário da falácia do planejamento é o inchaço da máquina pública. É sintomático que Dilma, uma notória "planejadora", tenha levado o primeiro escalão a abrigar 39 ministros, incluindo o da Pesca, para, segundo informou recentemente a presidente, não descuidar da tilápia. A falácia reside na crença de que um exército de iluminados tenha soluções, de canetada em canetada, para todos os problemas do país. E é grande o apelo desse falácia. "Todo mundo quer empurrar seus problemas para o estado, com a certeza de que há um plano para sua sobrevivência que não exija esforços de sua parte", afirma Scruton a VEJA. "Como digo em meu livro, não há como convencer as pessoas a abrir mão dessas falácias, e só um desastre pode momentaneamente incutir a verdade em suas mentes."

Eu tenho um sonho - A campanha eleitoral brasileira parece uma coleção das falácias analisadas por Scruton. Uma delas é particularmente recorrente: a utopia, uma visão de futuro em que os homens terão superado suas diferenças e resolvido todos os problemas. Marina Silva, a presidenciável do PSB, tem o discurso mais utópico da corrida presidencial – já se definiu como 'sonhática', por oposição aos políticos 'pragmáticos', e acredita que seu eventual governo poderia atrair os melhores quadros dos partidos brasileiro, incluindo os arquirrivais PT e PSDB.

Claro, a mobilização política terá sempre um forte acento otimista — Martin Luther King não teria feito história se, em vez de um sonho, tivesse apenas uma sugestão a dar... A falácia da utopia, contudo, vai bem além disso: acena, não com dias melhores, mas com o fim de todos os males. É uma promessa, por definição, irrealizável. Como o eleitor pode se precaver contra esse tipo de ilusão? "Não é fácil. Ninguém vota em pessimistas. Ainda assim é possível distinguir os políticos realistas – aqueles que reconhecem os problemas e estão preparados para encará-los, como Margaret Thatcher e Winston Churchill. Mas, claro, dependemos de uma cultura de seriedade e responsabilidade", diz Scruton. "Isso existe no Brasil?"

Pior não fica - A reportagem informa Scruton da existência do palhaço Tiririca, o deputado mais votado em 2010, candidato à reeleição em 2014, cujo slogan é "pior do que está não fica". É possível cultivar um pessimismo "esclarecido", sem sarcasmo, sem desistir da política? "Sim, é possível", responde Scruton. "Mas é mais provável que isso ocorra durante uma crise nacional, quando as pessoas precisam de liderança e por isso irão procurar qualidades morais, realismo e coragem nos políticos. O sarcasmo pode ser bem-sucedido em tempos de paz e riqueza, mas não em tempos de conflito e privação. O fato de que políticos no Brasil sejam vistos como piada sugere que as coisas no Brasil não estão tão mal."

As armadilhas do progresso - Expoente do pensamento conservador, Scruton dá especial atenção às armadilhas do "progressismo". O filósofo considera enganoso estender o entendimento que se tem do progresso na ciência a outras áreas. Que a ciência avance, por acumulação de conhecimento, é inegável. Mas é "questionável acreditar, por exemplo, que haja progresso moral contínuo, que avance à velocidade da ciência", escreve. Em um país na79ª posição no ranking do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, contudo, "progresso" é palavra de ordem no debate político. Como países emergentes devem lidar com a necessidade de se desenvolver, sem ceder às falsas esperanças? Scruton não é contra o progresso, é claro, mas lembra que algumas mudanças acontecem para pior. "Acho que é sempre necessário considerar o que as pessoas têm e aprender a dar valor a isso. Não virar as costas ao passado, aos costumes e às instituições que são a medida da felicidade das pessoas", diz. "É também necessário reconhecer o custo do progresso, em termos de prejuízos ambientais, migrações e desagregação das famílias. É necessário enfatizar esses aspectos para lembrar as pessoas das boas coisas que elas podem perder."

As armadilhas da igualdade - Uma das ciladas do otimismo inescrupuloso é o que Scruton chama de "falácia da agregação", que o filósofo ilustra com o seguinte exemplo: uma pessoa pode gostar de lagosta, chocolate e ketchup, mas isso não significa que deva combinar os ingredientes no mesmo prato. Para o filósofo, o lema da Revolução Francesa incorre na mesma falácia: só se promove a igualdade às custas da liberdade. Como países ainda tão desiguais como o Brasil devem enfrentar a questão? "É justo lutar pela igualdade quando as desigualdades, de modo manifesto, dividem e ameaçam a ordem social", responde Scruton. "Mas é errado acreditar que se pode perseguir a igualdade e a liberdade ao mesmo tempo. Para que haja uma sociedade mais igualitária, é preciso conter ambições e garantir que a renda seja distribuída, mesmo contra a vontade dos contribuintes."

Fantasias convenientes - Embora disseque todas as falácias do otimismo desmedido, Scruton não tem esperança de que "otimildos" recuem de suas ilusões. Ao contrário, eles se voltarão contra seus críticos e seguirão com suas fantasias convenientes, e com energia renovada, bradando por mais progresso, novos planos, mais belas utopias. Para tanto, recorrerão a diversos "mecanismos de defesa contra a verdade", afirma Scruton, como a inversão do ônus da prova e a transferência de responsabilidades. Como esses truques podem ser tão eficientes? "Nós todos evitamos a realidade quando ela é inconveniente. A verdade é uma disciplina difícil. É importante que cada sociedade acomode instituições - locais de debate, think tanks, universidades - onde a liberdade possa ser buscada a todo custo", diz. "Enquanto houver liberdade de expressão e de opinião, a verdade pode ser dita e, gradualmente, infiltrar-se na opinião pública. Mas isso leva tempo e é necessário que as pessoas aprendam a respeitar os que dizem a verdade." (Veja.com).

domingo, 21 de setembro de 2014

Seis invenções geniais que foram esquecidas - SuperInteressante

Tecnologia esquecida

Seis invenções geniais que foram esquecidas

Confira seis invenções fantásticas que, injustamente, não receberam a devida atenção

fonte | A A A
 
As contínuas evoluções tecnológicas facilitam dia após dia a vida de todos. Com isso, invenções se tornam obsoletas e esquecidas rapidamente. Na história da humanidade, esse descarte tecnológico de inventos – muitas vezes extraordinários – se tornou ainda mais claro. Confira seis invenções esquecidas e que se tornaram lendas tecnológicas:
1- Máquina de Antikythera
Historiadores afirmam que esse objeto foi o primeiro computador da história. Recebeu esse nome por ter sido descoberta em 1900 no meio dos destroços de um navio naufragado perto da ilha grega de Antikythera. A tecnologia do objeto, datado do século 2 a.C, desperta interesse de vários pesquisadores.
O mecanismo metálico da máquina de Antikythera era usado para realizar marcações das posições do Sol, Lua e planetas. Ele previa o movimento dos astros e de eclipses. Além disso, funcionava como calendário que mostrava determinadas datas.

2- Fogo grego
O fogo grego foi uma importante arma bélica utilizada pelos bizantinos no século 11. Com a sua utilização o Exército do Império Romano do Oriente venceu inúmeras batalhas no mar. Contudo, a origem desse importante armamento bélico é desconhecido. Por se tratar de um fogo que queima no mar, o crédito pela invenção é atribuído aos químicos de Constantinopla.
Entretanto, há relatos que um arquiteto da província de Fenícia, em 672, o teria criado. Até aos deuses gregos a criação do fogo grego é creditada. Por conta disso, até hoje, ninguém sabe como essa arma foi feita, e a composição química que permite que o fogo queime na água permanece desconhecida.

3- Vidro flexível
Como o próprio nome diz, esse material não quebra. O vidro flexível foi criado por um artesão romano na época do imperador Tiberius Caesar (42 a.C – 37 a.C). A história conta que esse artesão mostrou o invento ao imperador e, para testá-lo, derrubou o objeto no chão. Porém o ponto atingido ficou apenas amassado. Entretanto, o imperador Tiberius Caesar considerou que o novo material faria com que o ouro e prata perdessem o valor. Por conta disso, sentenciou o artesão à morte.
Hoje em dia, empresas e pesquisadores procuram um meio de recriar o objeto da lenda. A empresa norte-americana Corning anunciou, em 2013, o Willow Glass que é uma espécie de vidro ultrafino e flexível.

4- O primeiro sismoscópio
O primeiro equipamento desse tipo foi criado por Zhang Heng, astrônomo, matemática e engenheiro. A tecnologia criada por Zhang era composta por um grande vaso de bronze, com quase dois metros de altura. Nas laterais oito dragões, que representavam os pontos cardeais, e pequenas estátuas de sapo completavam o objeto.
Quando ocorria um tremor, uma bola saía da boca do dragão e cai no sapo, indicando a direção e o momento que ocorria o terremoto. Contudo, não existem documentos explicando o funcionamento dele e o aparelho original nunca foi encontrado. Em 2005, cientistas chineses recriaram o sismógrafo de Zhang e o testaram em terremotos reais. Tal os sismógrafos modernos e o antigo marcaram os mesmos dados.

5- O navio “bola rolante”
No século 20, era comum ler notícias da criação de projetos de navios que seriam movidos por rodas. Em 1933, uma proposta para a criação dessa tecnologia foi patenteada.
Com o nome de “the rolling ball” (a bola rolante), o navio seria construído em uma esfera de metal gigante e oca, conectada a um carro-navio por meio de uma estrutura em “y” invertido. A tripulação seria alocada nessa área. O projeto alçaria novas águas, em especial as do Oceano Atlântico.

6- Lentes preguiçosas
Essa invenção, criada pelo publicitário americano Clarence Warner, era para os leitores mais preguiçosos. Com o nome de Beds Specs (óculos de cama), essa invenção consistia em um prisma triangular que faria um ângulo de 70° graus para a visão. Essa angularidade permitia que uma pessoa com o livro apoiado sobre o corpo, enquanto deitada, tivesse uma leitura confortável.

Tres ideas equivocadas: Putin-Russia, Obama-USA; China-potencia mundial - Moises Naim

Putin é um autocrata ao estilo dos seus predecessores czaristas; vai falhar, como eles falharam, em criar instituições sólidas, pois que pretende que elas sejam baseadas em sua vontade exclusiva. Ademais, a Rússia é um gigante com pés de barro, ou seja, um grande país, com enormes recursos naturais, mas com instituições frágeis, que não permitem que o país se integre naturalmente, e beneficamente, com o seu contexto regional, que deveria ser a Europa ocidental e toda a Ásia central. Como império, vai falhar, como já dizia Renouvin.

Obama, obviamente, é um perfeito social-democrata num país que preza muito mais o empreendedorismo individual, e tem reações isolacionistas reiteradas, em meio a impulsos para corrigir o que acha errado no mundo, mas que sente que podem colocar em perigo seu modo de vida. Idealismo tipicamente americano, que de toda forma deixaria o mundo melhor, se não existissem obstáculos formidáveis nesse mundo, justamente aqueles que derivam de autocratas como Putin, Xi Jin-ping e outros ditadores ordinários e vagabundos em outras paragens.

Finalmente, a China, de fato uma enorme potência econômica, mas que precisa de um Big Brother para conter os impulsos internos, anárquicos, de uma população que foi secularmente oprimida pelos mandarins, antes imperiais, hoje do Partido Comunista. Como sempre acontece em sua história, as dinastias duram enquanto o poder central for capaz de controlar o povo, com a ajuda de mandarins eficientes. Depois, estes se tornam corruptos, e alguém derruba o imperador para colocar outro em seu lugar. O imperador hoje é o Partido Comunista, com seus novos mandarins, tão corruptos quanto os das dinastias imperiais. Isso um dia acaba...
Paulo Roberto de Almeida

EL OBSERVADOR GLOBAL

Tres ideas equivocadas

Turbulencia geopolíticas, crisis económicas y convulsiones sociales no dan tiempo de pensar


En estos días es fácil equivocarse. La turbulencia geopolítica, las crisis económicas y las convulsiones sociales se suceden a tal velocidad que no da tiempo de pensar con calma y calibrar bien lo que está sucediendo en el mundo.
En este ambiente tan revuelto, algunas ideas han arraigado tanto entre expertos como en la opinión pública internacional. A pesar de su popularidad, varias de ellas están equivocadas. Por ejemplo, estas tres:
1. Vladímir Putin es el líder más poderoso del mundo. Por ahora. ¿Pero cuán duradero es el enorme poder que hoy concentra? No mucho. La economía rusa, que no iba bien desde antes del conflicto con Ucrania, se ha debilitado aún más debido a las severas sanciones impuestas por Estados Unidos y Europa. El valor del rublo ha caído a su mínimo histórico, la fuga de capitales es enorme (74.000 millones de dólares tan solo en el primer semestre), la inversión se ha detenido y la actividad económica se contrajo. El Kremlin ha debido echar mano de los fondos de pensiones para mantener a flote grandes empresas cuyas finanzas han colapsado al perder acceso a los mercados financieros internacionales. La producción de petróleo ha disminuido y las nuevas inversiones de las que depende la producción futura se han parado. Por otro lado, el machismo bélico de Putin le ha dado nueva vida y mayor protagonismo a una organización que él detesta y que estaba en vías de extinción: la OTAN. Y esta semana se confirmó el fracaso de Putin en detener el acercamiento de Ucrania a la Unión Europea, después de que el Parlamento de Kiev y la Eurocámara ratificaran un acuerdo de asociación. Putin seguirá siendo un líder importante y sus actuaciones tendrán consecuencias mundiales. Después de todo, preside autocráticamente uno de los países más grandes del mundo y su nacionalismo lo ha hecho muy popular entre los rusos. Pero su estrategia económica, sus relaciones internacionales y su política doméstica son insostenibles.
2. Obama fracasó. La popularidad de Obama es la mitad de la de Putin. La renuencia del presidente norteamericano a intervenir militarmente, de manera mucho más agresiva, en Siria, Ucrania o contra el Estado Islámico le ha valido severas críticas. Su fracaso a la hora de lograr el apoyo del Congreso para aprobar leyes indispensables ha expandido la idea de que Obama es un novato que no sabe manejar el poder o que EE UU ya no es una superpotencia, o no sabe actuar como tal.
Esta afirmación se debe a que se tiende a sobreestimar el poder de EE UU. Y a la creencia de que basta con que la Casa Blanca decida intervenir para que los problemas se arreglen o se mitiguen. Esto nunca fue cierto, aunque antes el presidente norteamericano gozaba de un mayor grado de libertad que ahora. Pero el mundo ha cambiado, y el poder ya no es lo que era. Incluso el presidente de EE UU tiene menos poder que el que tenían sus predecesores. Desde esta perspectiva, Obama se ha manejado mucho mejor de lo que le conceden quienes creen que su cargo confiere poderes casi sobrehumanos.
3. China es la próxima superpotencia del planeta. Es inevitable que dentro de unos años China tenga la economía más grande del mundo. Sus fuerzas armadas también están creciendo rápidamente, así como su protagonismo internacional. Su influencia en África, América Latina y sus vecinos asiáticos es indudable. La capacidad del Gobierno chino para construir grandes infraestructuras es también incuestionable y su éxito económico y social es fenomenal. Esto hace que muchos supongan que China será la nueva potencia hegemónica del siglo XXI. Yo no lo creo. Sabemos que existen dos Chinas: una industrializada, moderna, la de los rascacielos, la globalización y gran dinamismo económico. Pero también sabemos que hay una China muy pobre y con enormes necesidades insatisfechas de vivienda, salud, educación, agua, electricidad, etc. El ingreso del 48% de la población que vive en esta China más pobre y rural es un tercio de lo que ganan sus compatriotas en las ciudades. Sorprende, además, que, a pesar de sus éxitos, el Gobierno muestre gran inseguridad. Gasta más en seguridad interna que en defensa externa, por ejemplo. Un tercio del territorio chino, Tíbet y Xinjiang, vive en una crónica ebullición política a la que Pekín responde con fuerte represión y permanente intervención militar. Y los esfuerzos gubernamentales por controlar la información, censurar Internet y limitar el intercambio de ideas son legendarios. Este ambiente inhibe la innovación, ingrediente indispensable para que un país tenga éxito.
Es obvio que China tendrá cada vez más peso en la economía y la política del mundo. Pero no será la potencia dominante.
En el siglo XXI ningún país podrá desempeñar ese papel.

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Across the Empire, 2014 (23): de Detroit a Toronto, só turismo e gastronomia



Across the Empire, 2014 (23): de Detroit a Toronto, só turismo e gastronomia

Paulo Roberto de Almeida

Sábado, 20/09: depois de dois dias em Toronto, uma bela cidade falida, mas dotada de um museu excepcional, voltamos ao menu costumeiro, estradas, no caso só uma, a 401, de Windsor, na fronteira, até Toronto, onde chegamos pouco antes das 18hs, depois de alguma gastronomia pelo caminho.
Como tínhamos saído tarde de Detroit, e ainda desviados do roteiro normal por causa de uma jornada bicicleteira na cidade, que bloqueou várias ruas, acabamos parando logo depois de atravessar a Ambassador Bridge, para almoçar num restaurante italiano de Windsor: Armando’s. Eu, com mais fome do que Carmen Lícia (mas sempre é assim), comecei com uma salada Caprese (tamanho família) e depois desisti do vitelo a parmegiana, para não ficar comida demais, pois todos os pratos eram enormes. Comi apenas uma pizza Margheritta, e ainda assim sem as bordas. Carmen Lícia ficou com seus calamari fritti, que sempre apreciou. Ambos com uma taça de Valpolicella, mas eu sempre acabo tomando metade do dela.
Conclusão: vim meio sonado na estrada para Toronto, o que nunca é recomendável... Mas viajamos bem, com alguns pontos de engarrafamento aqui e ali.
Fomo diretos ao Museu Aga Khan, nosso objetivo principal na cidade, pois ele acabava de ser inaugurado (na quinta, 18/09). Não para visitar, pois já era tarde, mas para comprar os tickets de ingresso, para garantir a visita neste domingo (aliás hoje). Acabei fazendo algumas fotos do museu, entre elas estas duas.


Depois fomos à inglória tarefa de encontrar um hotel na cidade, num fim de semana de festas em Toronto, com todos os hotéis lotados. Depois de passar por dois ou três, encontramos, a preços extorsivos, no Ramada, da Jarvis Street, não muito longe do centro, com a vantagem de ter garagem fechada. Tive de pagar um apartamento de dois quartos, com duas imensas camas tamanho king size, pelo direito de dormir, pois do contrário talvez tivéssemos de sair da cidade. Deixamos os pertences no quarto e saímos novamente pela cidade.
A razão da lotação dos hotéis se prende à festa comemorativa da guerra de 1813, contra os americanos, que por uma vez os canadenses ganharam, garantido a posse de alguns territórios em torno dos grandes lagos (mas alguns principais ficaram com os imperialistas desde criancinhas, como escreveria Moniz Bandeira. Fort York e Toronto estarão em festas neste fim de semana, e isso vai atrapalhar um pouco a circulação do que pretendemos fazer no domingo, que é visitar museus, e flanar pela cidade.
Antes de voltar ao Hotel, compramos queijo de cabra, torradas, duas garrafas de vinho (das pequenas, ou seja, meia garrafa) e mais duas cervejas para mim. Nosso jantar, pois, foi queijo e vinho, e confesso que liquidei todo o queijo (CL ficou com uma parte de Asterix, eu fiquei com a do Obelix) e toda a meia garrafa de Cabernet Sauvignon chileno, deixando o italiano para amanhã (ou hoje, domingo).
Nada mais tendo a declarar, mas tendo dois jornais para ler, o Wall Street, velho jornal que os companheiros definiriam como sendo do capital financeiro monopolista e dos especuladores de Wall Street, e um jornal local, The National Post, ambos com matérias interessantes, sobre Escócia, Estado Islâmico, Ucrânia, aquecimento global, enfim, essas coisas sem importância que só existem para atrapalhar grandes reflexões intelectuais, e perturbar nossa paz cotidiana.
Amanhã temos muita coisa para fazer, aliás até segunda-feira, quando pensamos iniciar o roteiro de volta, mas passando em Corning, NY, onde está o maior museu do vidro do mundo, sem brincadeira. Já tínhamos visitado no ano passado, mas esse vale uma nova visita.

Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 21 de setembro de 2014

Eleicoes 2014: as mistificacoes, as mentiras, as falcatruas companheiras - Demetrio Magnoli

Basta uma palavra: delinquência política. Aliás, não só politica, criminosa também, pois misturada ao conjunto de maracutaias corruptas praticadas pelos marginais políticos.
Paulo Roberto de Almeida

Os perdedores
Demétrio Magnoli
Folha de S. Paulo, sábado, 20 de setembro de 2014

• O PT investe na indignidade e na difamação. Por isso, perdendo ou ganhando, já perdeu

A semente transgênica e o Código Florestal; a hidrelétrica e a licença ambiental; os evangélicos e os jovens libertários; o Estado e as ONGs; os serviços públicos e os tributos; a "nova política" e o Congresso; a política e os partidos; o PSB e a Rede. Na candidatura de Marina Silva, não é difícil traçar círculos de giz em torno de ângulos agudos, superfícies de tensão, contradições represadas. O PT preferiu investir na indignidade, na mentira, na difamação. Por isso, perdendo ou ganhando, já perdeu.

As peças incendiárias de marketing, referenciadas no pré-sal e na independência do Banco Central, inscrevem-se na esfera da delinquência eleitoral. A primeira organiza-se em torno de uma mentira (a suposta recusa de explorar o pré-sal), de cujo seio emana um corolário onírico (a "retirada" de centenas de bilhões de reais supostos e futuros da Educação). A segunda converte em escândalo um modelo que pode ser legitimamente combatido, mas está em vigor nos EUA, no Canadá, no Japão, na União Europeia, na Grã-Bretanha e no Chile --e que, no Brasil, surgiu embrionariamente sob Lula, durante a gestão de Henrique Meirelles.

Na TV, o partido do governo acusa a candidata desafiante de conspirar com banqueiros para lançar os pobres no abismo da miséria. O fenômeno vexaminoso não chega a causar comoção, pois tem precedentes. Contra Alckmin (2006) e Serra (2010), o PT difundiu as torpezas de que pretendiam privatizar a Petrobras e cortar os benefícios do Bolsa Família, ambas já reprisadas para atingir Marina. A diferença, significativa apenas no plano eleitoral, está na circunstância de que, agora, a ignomínia entrou no jogo antes do primeiro turno. A semelhança, por outro lado, evidencia que o PT aposta na ignorância, na desinformação, na pobreza intelectual --enfim, no fracasso do país.

Algo se rompeu quando eclodiu o escândalo do mensalão. Naquela hora, os intelectuais do PT depredaram a praça do debate político, ensinando ao partido que a saída era qualificar a imprensa como "mídia golpista" e descer às trincheiras de uma guerra contra a opinião pública. A lição deu frutos envenenados. O STF converteu-se em "tribunal de exceção", e os políticos corruptos, em "presos políticos". Os críticos passaram a ser classificados como representantes da "elite branca paulista" (se apontam as incongruências da "nova matriz econômica"), "fascistas" (se nomeiam como ditadura todas as ditaduras, inclusive as "de esquerda") ou "racistas" (se objetam às leis de preferências raciais).

O projeto de um partido moderno de esquerda dissolveu-se num pote de ácido que corrói a convivência com a opinião dissonante. Do antigo PT, partido da mudança, resta uma sombra esmaecida. As estatísticas desagregadas das sondagens eleitorais revelam o sentido da regressão histórica. A presidente-candidata tem suas fortalezas no Nordeste e no Norte, nas cidades pequenas e entre os menos escolarizados, mas enfrenta forte rejeição no Centro-Sul, nas metrópoles e entre os jovens. Não é um "voto de classe", como interpretam cientistas políticos embriagados com um economicismo primário que confundem com marxismo. É um voto do país que, ainda muito pobre, depende essencialmente do Estado. A antiga Arena vencia assim, espelhando um atraso social persistente.

Obviamente, a regressão tem causas múltiplas, ligadas à experiência de 12 anos de governos lulopetistas que estimularam o consumo de bens privados, mas não produziram bens públicos adequados a um país de renda média. A linguagem, contudo, ocupa um lugar significativo. O país moderno, cujos contornos atravessam todas as regiões, sabe identificar a empulhação, a mistificação e a truculência.

Na sua fúria destrutiva, a campanha de Dilma explode pontes, queima arquivos. O PT pode até triunfar nas eleições presidenciais, mas já perdeu o futuro.

Fascismo tributario tem pequeno contratempo, em funcao do direito e do absurdo surrealista...

O Correio do Brasil é um jornal mentiroso. Aliás não só isso: é um jornal stalinista, que está a serviço do chefe da quadrilha, aquele que funcionou durante anos como homem de confiança da ditadura castrista no Brasil, e no partido totalitário, e também (e isso é importante) como manipulador de um aparelho secreto dentro do aparelho clandestino stalinista que ele criou dentro do partido totalitário, para fazer todas as suas falcatruas, patifarias, manipulações, tudo isso envolto em várias camadas, com muitos laranjas inocentes, mas ainda mais agentes seus, mercenários a soldo, homens de confiança, tipo Ramón Mercader (vocês sabem de quem estou falando), pessoas dispostas a tudo para a causa, ou seja, para o poder do agente stalinista do partido totalitário, o próprio Stalin sem Gulag, o homem que fez da cadeia um resort de luxo, e continuou a mandar, com base no dinheiro, nas ameaças, no seu charme discreto de mafioso sem glamour, só poder e só ameaças. Acho que me fiz entender.
Pois o jornaleco do Stalin Sem Gulag, o pasquim mentiroso que responde pelo nome de Correio do Brasil, publica, neste sábado, uma matéria que não vi refletida na grande imprensa, naqueles jornalões que fazem parte do PIG, o Partido da Mídia Golpista, vocês sabem de quem estou falando, dos inimigos dos companheiros, aqueles que impedem que eles implantem o bolivarianismo no Brasil.
Todas as matérias desse jornaleco são mentirosas, mas de vez em quando eles se permitem apenas prestar uma informação, geralmente sobre decisões da Justiça que contrariem os desejos e a vontade dos companheiros totalitários, sempre ligado a dinheiro, de uma ou outra forma. Eles, que são a burguesia do capital alheio, como já disse um jornalista, detestam ficar sem uma fonte de arrecadação, detestam extorquir menos dinheiro da sociedade, dos burgueses e capitalistas, dizem eles, esquecendo que quem paga tudo, ao final, é mesmo o cidadão comum, os milhões de trabalhadores brasileiros, que sustentam os vagabundos parasitários que assaltaram o poder no Brasil.
Pois não é que eles estão tristinhos porque o STF simplesmente aplicou a lei, e os princípios do direito, acabando com um dos maiores absurdos anticonstitucionais do Brasil?
Vejamos: ICMS, como todo mundo sabe é um imposto sobre o consumo, nominalmente chamado de imposto sobre a circulação de mercadorias. Normalmente, ele deveria incidir apenas sobre os bens produzidos no Brasil e vendidos aqui, devendo idealmente ser isento na produção para a exportação, o que nunca é feito devidamente pelo ogro famélico que representa o Estado extrator no Brasil, e seu órgão fascista por excelência, a Receita Federal.
O ICMS se aplica igualmente às importações, o que me parece um absurdo, mas pode ser justificado pelo conceito de "circulação de mercadorias", muito embora esse imposto tenha sido concebido como sendo uma espécie de TVA, ou VAT, ou seja, um imposto sobre o valor agregado, que existe em toda a União Europeia, e que no Brasil ficou sob competência dos estados. A União, esse ogro famélico, para não perder receita, instituiu o IPI, que é portante reincidente, e em cascata, pois taxa mais ou menos a mesma coisa. O Brasil é obviamente um absurdo tributário.
Acima disso, o governo Lula, sempre voraz em matéria de imposto, instituiu, em 2003, o PIS-COFINS sobre as importações, o absurdo dos absurdos, e por isso explico. Quando a nossa Constituição esquizofrênica criou todos os direitos possíveis, e fez todas as bondades a todos e a cada um, o Estado federal não teve outra maneira senão buscar no bolso dos brasileiros, e no caixa das empresas, os recursos para pagar todas as prestações sociais que estavam sendo criadas ou reforçadas pela esquizofrenia econômica da Constituição. O PIS já existia, e vinha da ditadura militar: era mais uma forma de aumentar a carga fiscal, dando um fim aparentemente nobre, o tal programa de integração social, ou seja, o governo cobra das empresas, e supostamente repassa aos trabalhos uns trocadinhos todo ano, numa das maiores mistificações a que já assistimos, e que continuo existindo.
Pois bem, quando a Constituição criou todas aquelas maravilhas, inclusive aposentadoria garantida a todos, contribuintes ou não do INSS, o governo se viu obrigado a introduzir um novo imposto. Para não ter de dividir com os estados, chamou de Contribuição, que supostamente seria para o Financiamento da Seguridade Social (como também tinha sido para a saúde a tal CPMF, que depois virou para qualquer coisa). Pois bem, juntaram os dois, e virou o PIS-Cofins, cobrados de todas as empresas, sem distinção (depois criaram o Super Simples, para micro e pequena empresa, que é outra empulhação).
Agora me pergunto: o que os produtos importados têm a ver com o financiamento da seguridade social? Absolutamente nada, obviamente, o que não impediu esse governo maluco de introduzir um imposto abertamente inconstitucional, pois é evidente que produtos importados não foram feitos por trabalhadores brasileiros, e portanto não tem que financiar nenhuma seguridade social. Como é que esse Congresso castrado foi aprovar um absurdo desses eu não sei, e por que o STF -- ou algum órgão ou comissão que deveria controlar a constitucionalidade das leis malucas que são aprovados pelo Congresso e sancionadas pela PR -- deixou passar esse absurdo, eu também não sei. E por que os capitalistas castrados do Brasil não introduziram imediatamente uma medida tipo ADIN, eu também não sei. Foi preciso que alguns importadores frustrados com esse absurdo entrassem com uma ação -- julgada quase DEZ ANOS depois -- para que o STF, esse bando de tiranetes togados, que estão sempre tungando os brasileiros, finalmente se decidisse a declarar o que era evidente desde o primeiro momento: PIS-Cofins sobre importações é ilegal.
Mas o absurdo no Brasil não termina aí: a Receita Federal, esse órgão facista mais fascistóide que existe, costuma cobrar em cascata e de forma reincidente. Ou seja, ela começa a cobrar os muitos impostos sobre os produtos importados, mas não o faz sobre a fatura de compra, ou seja, o bill of landing, a declaração de importação, com o preço líquido. Não, isso não. Ela pega a fatura e começa a aplicar um a um todos os impostos, e os impostos são aplicados sobre outros impostos: tarifa de importação (que deveria ser a única sobre produtos importados), ICMS, PIS-Cofins, taxas disso e daquilo, contribuições disso e mais aquilo, de repente, um produto que custava 10 dólares a preço CIF (cost, insurance e freight) passa a valer 20 dólares, ou mais, com todos os impostos. No final, se paga um absurdo, ao ogro famélico.
Pois é isso que esse jornaleco stalinista está reclamando que ocorreu no Brasil: ou seja, o STF acabou com um, dentre muitos, dos imensos absurdos tributários desse Brasil varonil (e extorquido pelo fascismo tributário); mas ele o fez unicamente ao vetar o ICMS na base de cálculo do PIS-Cofins, que continua a ser cobrado nas importações .
Vejam o que escreve esse jornaleco, se contradizendo ele mesmo:
"Por incidir sobre o faturamento das empresas, o PIS e a Cofins estão diretamente relacionados ao consumo."
 Ou seja, se é sobre o consumo, ele deve incidir sobre os fatores de produção que contribuiram para esse consumo, o que implica eletricidade, infraestrutura, comunicações, regulação, enfim, todas as coisas que o Estado benefactor faz de bondades para permitir a produção e o consumo de produtos made in Brazil. Sendo um produto importado, ele normalmente não exige quase nada, ou pouco desses serviços, e se tiver de pagar algo ele já paga tarifa de importação -- que é um imposto contra o cidadão consumidor, pois ele não é pago pelo exportador, certo? -- e paga o ICMS, o que já acho um absurdo. Mas seria uma irracionalidade completa o produto importado pagar por PIS-Cofins, concordam?
O que diz ainda o jornaleco stalinista?: "Conforme a Receita, ao considerar apenas as mercadorias importadas, a arrecadação do PIS e da Cofins apenas das mercadorias importadas caiu R$ 5,5 bilhões neste ano, descontado o IPCA."
Ou seja, eles estão reclamando que o STF acabou com a festa deles, fascistas tributários que são.
O Brasil vive um manicômio tributário poucas vezes visto em qualquer outro país do mundo.
Como os capitalistas, e os congressistas permitem esses absurdos, e até o Judiciário -- quando não provocado pelos prejudicados -- é um mistério que eu não consigo desvendar.
O Brasil é o país mais irracional em termos tributários que eu consigo imaginar.
Quando isso vai acabar? No que depender dos fascistas no poder (e todos eles são em se tratando de arrecadação) nunca.
É por isso que eu vivo preconizando uma fronda empresarial: os empresários precisam, em primeiro lugar, deixar de dar dinheiro para políticos irracionais, e para partidos totalitários. Depois, precisam se revoltar contra o manicômio tributário, simplesmente ingressando com ações na justiça para barrar a voracidade tributário do ogro famélico que se chama Estado brasileiro.
Quando isso vai acontecer? Pelo que observo, vai demorar um bocado, pois as pessoas são incapazes até de fazer um julgamento de mérito sobre os absurdos que ocorrem no Brasil.
Por essas e outras eu não acredito em reforma tributária...
Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 21 de setembro de 2014

Decisão do STF afeta arrecadação do PIS e da Cofins
Correio do Brasil, 20/9/2014
Por Redação, com ABr - de Brasília
O julgamento do Mensalão no STF o transformou
O STF votou pela retirada do ICMS da base de cálculo do PIS

Uma decisão judicial do ano passado está trazendo impacto sobre o caixa federal em 2014. A retirada do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da base de cálculo do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) está reduzindo a arrecadação dos dois tributos neste ano.
A sentença do Supremo Tribunal Federal (STF), de março do ano passado, vale apenas para as mercadorias importadas, mas beneficiava apenas as empresas que entraram na Justiça. Em outubro do ano passado, no entanto, o governo admitiu a derrota e estendeu a redução da base de cálculo aos demais bens e serviços importados, ampliando o impacto sobre a arrecadação.
Segundo os dados mais recentes da Receita Federal, a arrecadação do PIS e da Cofins caiu 3,35% de janeiro a julho, descontada a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em valores corrigidos pela inflação, a queda chega a R$ 4,9 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado. Os dois tributos foram os que registraram a maior perda real de receita em 2014.
Por incidir sobre o faturamento das empresas, o PIS e a Cofins estão diretamente relacionados ao consumo. Mesmo com o menor número de dias úteis durante a Copa do Mundo, o volume de vendas subiu 3,5% no acumulado de 2014, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a estabilidade no consumo não se refletiu em melhoria nas receitas dos dois tributos por causa da decisão judicial.
Conforme a Receita, ao considerar apenas as mercadorias importadas, a arrecadação do PIS e da Cofins apenas das mercadorias importadas caiu R$ 5,5 bilhões neste ano, descontado o IPCA. Se fossem levadas em conta apenas as mercadorias produzidas no país, a receita dos dois tributos teria subido R$ 2,45 bilhões em valores reais, alta de 2,19% acima da inflação oficial.
Também contribuiu para a queda na receita do PIS e da Cofins um depósito judicial extraordinário de R$ 1 bilhão feito por uma mineradora em maio de 2013. Como a operação não se repetiu em 2014, a arrecadação dos dois tributos relacionada a depósitos judiciais, administrativos e acréscimos legais caiu R$ 1,85 bilhão de um ano para outro, explicando a queda total de R$ 4,9 bilhões.
Até o ano passado, o ICMS das mercadorias importadas incidia na base de cálculo dos dois tributos. Sobre o preço final, no qual estava incluído o ICMS, era aplicada a alíquota de 9,25%. As importadoras, no entanto, alegaram na Justiça por décadas que esse modelo implicava bitributação – cobrança de imposto duas vezes. Somente no ano passado, o Supremo deu ganho de causa às empresas. Em relação às mercadorias produzidas no país, o ICMS, tributo de responsabilidade dos estados, continua a fazer parte da base de cálculo do PIS e da Cofins.