quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dois, alias tres primeiros testes para a presidenta: Cuba, Iran e China

Bem, vamos ver como se responderá a essas demandas contraditórias, uma pela abertura e democracia, outra pelo apoio nas suas virtudes, digamos, autoritárias, de não querer sequer discutir política cambial no G20. Bem, se o G20 não serve para isso, serve para quê, então: para tomar chá?
Duas correções de imediato a este despacho do correspondente do Estadão em Genebra:
1) Chamar ativistas pela democracia e pelos direitos humanos de "dissidentes" é um equívoco e uma indignidade, como se o Estado tivesse razão e os ativistas estivessem errados em fazer e demandar o que fazem e pedem. Se Cuba assinou protocolos em defesa dos direitos humanos, a começar pela Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, então é o Estado cubano que é dissidente, não o ativista. É o Estado que atua ilegalmente, de maneira criminosa e celerada.
2) Um erro monumental incorreu aqui o jornalista: "A [última] viagem [de Lula a Cuba], porém, ficou marcada pela morte do dissidente, Orlando Zapata. Lula preferiu não comentar a situação durante sua visita."
Não é verdade isso; Lula comentou, sim, e para horror nosso e de todos os que defendem os direitos humanos, criticou o uso da greve de fome como instrumento político, quando ele mesmo usou dessa "arma" no passado (embora burlada por ele mesmo, como já confessou, sem qualquer dignidade). Ele não só comentou, como criticou o prisioneiro, que se "deixou morrer", por certo por culpa dele mesmo. E comparou a situação dos prisioneiros de consciência em Cuba, na verdade condenados políticos, em total abuso da própria legislação cubana, a prisioneiros de direito comum, criminosos e assassinos da pior espécie. Uma ofensa indigna de alguém que preza mais a ditadura cubana que os direitos humanos.
Paulo Roberto de Almeida
Addendum: Em tempo: nossos amigos iranianos não poderiam ficar de fora, claro, dessa deixa. Já que o presidente "sainte" tinha um carinho especial por Ahmadinejad, quem sabe sua sucessora não poderá manter essas excelentes relações "anti-imperialistas"?

Dissidentes cubanos lançam apelo à Dilma

Jamil Chade, correspondente em Genebra
O Estado de S.Paulo, 2 de novembro de 2010

Objetivo é pressionar para que questão dos direitos humanos entre na agenda diplomática

 GENEBRA - Dissidentes cubanos pedem que a presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, modifique a forma pela qual o governo brasileiro tem lidado com o regime de Raul Castro e pressionam para que a questão dos direitos humanos entre na agenda entre Brasília e Havana.
"Não queremos nada de extraordinário. Apenas que a nova presidente do Brasil defenda ao povo cubano as mesmas liberdade que ela defenderia para sua própria população", afirmou Dagoberto Valdés, um dos dissidentes ainda mantido em liberdade em Cuba.
O dissidente é um dos responsáveis pelo movimento Convivência e foi em nome do grupo que fez a declaração à Dilma. Sem liberdade para publicar seu comunicado em Havana, o dissidente foi obrigado a usar "contatos" que tem na Espanha para tornar pública sua declaração.
"Em Cuba, a liberdade é um ingrediente raro", disse o dissidente ao Estado por telefone. "Felicitamos a nova presidente por sua eleição e queremos que o Brasil continue a manter sua relação com Havana. Mas insisto que temos esperanças de que suas relações com Cuba trabalhem pelos mesmos direitos que ela (Dilma) quer para os brasileiros", afirmou.
Durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil se transformou no segundo maior parceiro econômico e comercial de Cuba no Hemisfério Ocidental, superado apenas pela Venezuela. Entre 2003 e 2009, o comércio bilateral triplicou, chegando a quase US$ 600 milhões no ano passado.
Em sua última visita à ilha, Lula assinou dez acordos de cooperação e prometeu investimentos de US$ 300 milhões na ampliação do Porto de Mariel. A viagem, porém, ficou marcada pela morte do dissidente, Orlando Zapata. Lula preferiu não comentar a situação durante sua visita.
Na segunda-feira, o governo cubano havia já feito declarações de apoio à Dilma. "As relações com o Brasil são muito boas, tanto no aspecto político como econômico. Esperamos que essas relações continuem a se desenvolver com a presidente Dilma", afirmou o ministro de Comércio Exterior, Rodrigo Malmierca, que lembrou a presença do "capital brasileiro" na ilha.
Excluída
Nos últimos meses, Cuba tentou dar sinais de que poderia estar aceitando uma revisão de sua repressão e negociou com o Vaticano e com a Espanha a liberação de presos políticos. Mas, na ONU, as suspeitas em relação à Cuba são cada vez maiores. Em seu novo índice de desenvolvimento humano, a ONU optou neste ano por simplesmente excluir Cuba do ranking. O motivo: não tinha como confirmar se os dados enviados pelo governo de Havana sobre saúde, educação e outros índices sociais tinham alguma relação com a realidade.

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Dilma fortalece bloco antiamericano, diz Irã

Jamil Chade
O Estado de S.Paulo, 2 de novembro de 2010

País vê vitória da petista como ‘vistoso progresso’ nos laços de amizade e afirma que América Latina entrou em corrente de oposição aos EUA

GENEBRA - O Irã comemorou a vitória de Dilma Rousseff nas eleições no Brasil e destacou que o resultado "fortalece o bloco antiamericano". Ontem, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deixou claro sua satisfação com a vitória da sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na esperança de que sua política externa siga os mesmos passos da diplomacia do governo que terminará no final de dezembro.
Na ONU, países africanos e algumas das ditaduras mais criticadas do mundo também não disfarçaram a satisfação com o resultado das eleições.
Acusado de manter um sistema perverso de violações aos direitos das mulheres e de ainda manter leis como a do apedrejamento de adúlteras, Ahmadinejad fez questão de elogiar o fato de o Brasil ter escolhido sua primeira mulher presidente. Segundo o líder, isso vai impulsionar o "vistoso progresso" nos laços entre os dois países. Lula chegou a intervir no caso de uma iraniana condenada à pena de morte, sob a acusação de adultério.
"As relações entre Irã e Brasil se desenvolveram nos últimos anos e estou convencido de que sob vossa presidência estas relações continuarão se aprofundando", afirma Ahmadinejad em mensagem enviada a Dilma. "A relação entre o Irã e o Brasil continuará e será consolidada sob a liderança de Dilma", disse Ahmadinejad à agência de notícias estatal Irna.
Nos últimos anos, o governo Lula fez questão de se opor às sanções impostas contra o Irã e tentou intermediar um acordo para solucionar a questão nuclear em Teerã. O processo fracassou e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, chegou a alertar o Brasil de que estava sendo usado por Ahmadinejad.
Uma nova negociação começa a ser organizada. Mas Teerã insiste que o Brasil deve fazer parte do processo. A Casa Branca não vê isso com bons olhos. "A cooperação entre a República Islâmica do Irã e o Brasil foi muito boa sob a presidência de Lula e trouxe benefícios apreciáveis a nível bilateral, regional e internacional", destacou Ahmadinejad.
O presidente da Comissão de Segurança Nacional e Relações Exteriores do Parlamento Iraniano, Alaedin Boroujerdi, foi além. "A vitória de Dilma Rousseff é uma boa notícia para o Iraque [SIC!; deve ter sido engano do debiloide do tradutor], já que fortalece o bloco antiamericano", disse. "A América Latina entrou em uma corrente de oposição aos Estados Unidos", afirmou à agência Irna. "O mundo será testemunha, em breve, de uma ampliação e expansão das relações entre o Irã e os estados da América Latina", disse.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem ampliado sua estratégia de impedir que países sejam isolados da comunidade internacional por conta de acusações de violações de direitos humanos.
Na ONU, delegações de países africanos e de outros em desenvolvimento não escondem o alívio com a vitória de Dilma. "A África está aberta a investimentos de todo o mundo. Mas a realidade é que o Brasil entende melhor como funciona nossa cultura, nossas realidades", afirmou ao Estado a ministra de Justiça da Libéria, Christiana Tah.
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Governo chinês espera que ‘parceria estratégica’ com o Brasil continue no governo Dilma

Cláudia Trevisan, correspondente do Estadão em Pequim
02.novembro.2010 14:19:52


O governo chinês afirmou ontem esperar que a “parceria estratégica” com o Brasil continue a se desenvolver sob o governo de Dilma Rousseff, a quem o presidente Hu Jintao cumprimentou pela eleição de domingo. “Atualmente, as relações sino-brasileiras mantêm uma boa dinâmica”, declarou ontem o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hong Lei, em briefing regular com a imprensa em Pequim. O cumprimento de Hu Jintao foi transmitido a Dilma por meio da embaixada chinesa em Brasília.
A China se transformou neste ano no principal parceiro comercial do Brasil, à frente dos Estados Unidos, e caminha para se tornar um dos principais investidores estrangeiros no país. Mas o maior peso econômico é acompanhado da preocupação de parte da indústria nacional, que vê no câmbio desvalorizado da China uma vantagem desleal na competição por mercados dentro e fora do Brasil.
A questão cambial ganhou peso adicional com a recente desvalorização do dólar, ao qual a moeda chinesa está atrelada. Depois de dois anos de “congelamento”, Pequim voltou a permitir a apreciação do yuan em junho, mas desde então o ganho foi inferior a 3%. Muitos economistas sustentam que seria necessária uma valorização de pelo menos 20% para levar a moeda chinesa ao patamar que deveria alcançar caso seu valor fosse definido por forças de mercado e não pela intervenção do banco central.
Dilma assumirá a Presidência em um momento de fortalecimento institucional da relação entre os dois países, que passou a ser moldada pelo Plano de Ação Conjunto assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao em abril.
O documento traça as metas e princípios que vão reger a relação bilateral pelo período de 2010 a 2014. Entre os itens do programa está a necessidade de diversificação das exportações do Brasil para a China, formadas hoje principalmente por produtos primários – 80% das vendas são de soja, minério de ferro e petróleo. Porém não está claro no plano como esse objetivo poderá ser alcançado.

Um comentário:

  1. Caro Dr. P.R.A.,

    Sugerimos artigo do Financial Times online "Rising Brazil must explain what it wants" no link http://www.ft.com/cms/s/0/2093c874-daa8-11df-81b00144feabdc0.html

    "(...)For Brazil remains a diplomatic enigma. Keeping others guessing may have short-term benefits, but it also risks a long-term trust deficit. Policymakers around the world struggle to understand Brazil's foreign policy and the dynamics behind it.(...)"

    Vale!

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