Nota liminar: um alerta de um ano atrás, que permanece inteiramente atual.
Um aumento muito grande da dívida externa se dá quando existem abundantes capitais sendo oferecidos no mundo, as taxas de juros são reduzidas e as facilidades aparentes são muito grandes.
Assistimos isso nos anos 1970 e novamente nos anos 1990: nas duas vezes o cenário final não foi exatamente positivo. E quando a tendência se inverter, e a moeda nacional se desvalorizar?
Estaremos incorrendo nos mesmos pecados do passado?
Paulo Roberto de Almeida
Dívida externa do país aumenta 43% desde fim da crise
Gustavo Pau e Eduardo Cucolo
Folha de S.Paulo, 03/07/2011
Passado o impacto mais agudo da crise internacional, a recuperação da economia brasileira provocou um efeito colateral ainda pouco comentado e compreendido: a alta mais acelerada da dívida externa desde o Plano Real. Ou, mais exatamente, desde que, em 1994, às vésperas do lançamento da atual moeda, foi fechado o acordo com os credores para normalizar os pagamentos e reabrir o mercado global de crédito para o governo brasileiro e para as empresas do país. Do final do ano retrasado para cá, a dívida externa conjunta de empresas, administrações públicas e famílias cresceu 43%. A taxa supera a expansão ao longo dos 15 anos anteriores, de 34%. Se as consequências dessa escalada ainda não estão claras, as causas são fáceis de explicar: no mundo desenvolvido, as taxas de juros despencaram para reativar a produção e o consumo; no Brasil, os investimentos públicos e privados tiveram uma forte retomada.
JUROS ALTOS
O cenário criado após o terremoto financeiro de 2008-2009 estimulou bancos e empresas do setor produtivo a buscar empréstimos e financiamentos no mercado internacional para aplicar e investir no mercado doméstico -no qual a oferta de recursos é escassa e os juros são os mais altos do planeta. A dívida externa, que era de pouco menos de R$ 200 bilhões no final de 2009, chegou a R$ 284 bilhões em maio. A parcela privada da dívida, hoje equivalente a três quartos do total, cresceu R$ 87 bilhões, enquanto a parcela pública da dívida encolheu R$ 1 bilhão. Autor de um trabalho recente sobre o tema, o economista Julio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma que, embora não haja risco imediato, o salto da dívida ameaça a sustentabilidade do crescimento econômico.
RISCOS
“Esse é um processo insustentável a longo prazo e arriscado do ponto de vista empresarial”, diz Almeida. O perigo mais óbvio da dependência crescente de capital externo é a eventual reversão do quadro favorável atual. A alta dos juros externos ou das cotações do dólar pode tanto criar dívidas impagáveis quanto derrubar a produção nacional. O próprio governo já manifestou preocupação com o crescimento da dívida do setor privado. Em março, para conter esse movimento, houve aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para dívidas com prazo inferior a dois anos. Nos dois meses seguintes, as dívidas continuam crescendo, mas com prazos mais longos.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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2 comentários:
interessante você colocar esse artigo aqui. O autor do referido estudo é professor da Unicamp, o antro dos atrasados, não é mesmo? Enquanto isso, os iluminados da PUC-RJ acham ótimo esse endividamento, pois ajuda a cobrir o hiato de poupança.
Um Anônimo (talvez) unicampista vem prostestar contra o que ele acha uma crítica constante deste blog contra os economistas unicampistas, avessos ao capital estrangeiro por princípio, não necessariamente por virtude.
Enfim, anônimos são sempre temerosos que possamos fragilizar seus argumentos.
No caso, eu não conheço iluminados econômicos, da PUC-Rio ou não, que preguem o endividamento ilimitado, e nenhum economista sensato faria isso.
Economistas liberais não têm preconceito contra capitais estrangeiros, como grande parte dos unicampistas têm, apenas por princípio, sem fazer nenhuma análise mais profunda.
Qualquer economista mais atilado sabe fazer conta, mas sabemos também que economia matemática não é o forte da Unicamp, preferindo eles os meandros da "economia política" estilo Conceição, que termina sendo apenas política da pior espécie.
No caso aqui, não precisa de muita matemática, pois qualquer não economista de bom senso sabe que alto endividamento é ruim.
Curiosamente, os economistas da UniCamp não são muito fortes na crítica ao alto endividamento interno, e alguns chegam mesmo a pregar o calote, achando que dívida é lucro de banqueiro.
Primitivismo é forte em alguns arraiais...
Paulo Roberto de Almeida
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